terça-feira, 12 de maio de 2009

.: Resenha crítica de "Zodíaco", com Jake Gyllenhaal e Mark Ruffalo

A história do assassino serial nunca identificado
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em maio de 2009


História de serial killer começa eletrizante e perde fôlego ao longo dos 185 minutos. Saiba mais de Zodíaco!


O longa começa da melhor maneira possível, apresenta-se de maneira empolgante, cai em um pequeno marasmo, daí quando você pensa que voltará a engrenar lá vem a indesejada calmaria mais uma vez. Sim. "Zodíaco", longa dirigido por David Fincher (Se7en) não é tão inquietante e inovador como parece ser, ou pelo menos deveria. 

O filme consegue perder o envolvimento do espectador, ao retratar as ações de um dos mais famosos serial killers dos Estados Unidos, que agiu durante anos na Califórnia, impunemente, escreveu cartas para jornais, desafiou e provocou a polícia. Então, surge a questão: Como desinteressar o público em um assunto tão relevante? Simples. O longa perde-se em cenas desnecessárias, minimamente detalhadas e assim, deixa o dinamismo de escanteio.

Na produção com roteiro de James Vanderbilt e Robert Graysmith (livro) conhecemos o assassino por meio de seu primeiro caso, o ataque ao casal Darlene e Mike. Em seguida, embarcamos em uma redação de jornal e encontramos Paul Avery (Robert Downey Jr), repórter policial e Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), um cartunista do San Francisco Chronicle. 

Devido ao seu trabalho na redação de um jornal, o qual também recebeu cartas do Zodíaco, Robert acaba deixando-se sugar pelo caso e o desejo de resolvê-lo. Desta forma ele começa a investigar -desesperadamente- por conta própria o mistério do assassino serial conhecido como Zodíaco, que aterrorizou São Francisco de 1966 a 1978. Sem desistir ele mantém suas pesquisas e consegue publicar um livro sobre o serial killer.

Interessante, não? Sim e não. Outro problema do filme é o fato dele perder o foco e contar muito da história da personagem que ajuda a história a andar. Há um momento em que você se pergunta: Afinal, quem é o protagonista da história? Um assassino serial nunca "identificado" ou o "contador" da história dele? No mais, para saber até que ponto a crueldade de um ser humano é capaz de chegar, Zodíaco é indicado. 

DVD: Menu interativo; Seleção de cenas; Aqui é o Zodíaco; Formato de Tela: Widescreen Anamórfico; Áudio: Dolby Digital 5.1 (Inglês e Português); Legendas: Português, Inglês.

Filme: Zodíaco (Zodiac, EUA)
Ano: 2007
Gênero: Policial/Suspense
Duração: 158 minutos
Direção: David Fincher
Roteiro: James Vanderbilt, Robert Graysmith (livro)
Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr. e Anthony Edwards
Site Oficial: www.br.warnerbros.com/zodiac/

sábado, 2 de maio de 2009

.: Resenha crítica de "X-Men Origens: Wolverine"

A essência de Wolverine cheinha de explicações
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em maio de 2009


Longa com muita pancadaria coloca Wolverine no meio do nada com lugar nenhum. Saiba mais de X-Men Origens: Wolverine!


Em geral, filmes de super-heróis já chegam nas telonas com 50% de aceitação do público. No entanto, quando trata-se dos X-Men a coisa muda totalmente de figura. Basta levar em consideração todas as três produções realizadas até 2006 que não resta se quer uma sombra de dúvida: não se deve perder a "nova" história destes mutantes. 

Contudo, as mudanças sofridas na adaptação deste último, X-Men Origens: Wolverine, é para pior. Na primeira metade do filme são raras as cenas interessantes que conseguem prender a atenção ou de tirar o fôlego alá X-Men, principalmente daqueles que estão cansados de um dia inteiro de trabalho. Outro ponto negativo e que, na minha opinião, colaborou para que este longa seja fraco é o roteiro desnorteado de David Benioff (do também fraquíssimo Tróia).

Logo no início o longa não consegue ser atrativo, seja pelas excessivas cenas escuras ou pelo ambiente árido e seco. É estranho ver os X-Men no meio do nada em lugar nenhum. Desta primeira parte o que se pode salvar é quando vemos o "triste destino" dos mutantes após abandonar "seus instintos". Contudo, o filme consegue dar uma engrenadinha lá pra segunda metade, quando tudo acontece na cidade, mas, ainda assim, a pancadaria sem motivo consegue aborrecer.


Embora tenha recorrido a nomes muito conhecidos como Hugh Jackman, Dominic Monaghan, Ryan Reynolds e o cantor Will i Am, o longa dirigido por Gavin Hood deixa muito a desejar. As lutas são desconexas e abarrotadas de efeitos especiais, a explicação dos porquês (criados na história) são inócuas e acontecem de modo tão didático que irritam. Mortos por todos os lados e mortes de todos os tipos.

Definitivamente, este não é um filme para assistir no cinema, ainda mais se levarmos em conta o alto valor dos ingressos. Seja mais paciente e veja no conforto de sua casa, acompanhado de um belo pote de pipoca e um copo com o seu refresco preferido. Em contrapartida, é preciso ressaltar que o longa agrada (e muito!) a maioria das mulheres e arranca inúmeros suspiros, principalmente nas cenas (que são muitas) em que o peitoral esculpido (e até todo o corpão!) de Hugh Jackman (Logan/Wolverine), totalmente nu, quase ocupa toda a tela do cinema.

Filme: X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, EUA)
Ano: 2009
Gênero: Aventura
Duração: 107 minutos
Direção: Gavin Hood
Roteiro: David Benioff e Skip Woods
Elenco: Hugh Jackman, Liev Schreiber, Danny Huston, Will i Am, Lynn Collins, Kevin Durand, Dominic Monaghan, Taylor Kitsch, Daniel Henney, Ryan Reynolds 
Site Oficial: http://www.x-menorigins.com/

.: Resenha crítica do filme "Intrigas", de Davis Guggenheim

O poder de uma fofoquinha
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em maio de 2009


As consequências de uma fofoca espalhada em um campus universitário. Saiba mais de Intrigas!


"Intrigas" (Gossip) não é um lançamento (de 2000) e muito menos um filme brilhante, mas tem lá seus méritos. Refiro-me não só pelo elenco de ponta, mas por ilustrar uma história totalmente verossímil. Até porque os fuxicos, por mais indesejados que sejam, sempre acontecem, em pequena ou estreita escala. Neste longa dirigido por Davis Guggenheim tudo começa com uma brincadeira "inocente" que no decorrer de 90 minutos acaba mostrando todo o seu potencial e sua verdadeira intenção.

Três amigos, Derrick Webb (James Marsden), Cathy Jones (Lena Headey) e Travis (Norman Reedus), estudantes de jornalismo, decidem ver até onde chegaria uma notícia falsa, inventada por eles. Lançada a idéia os três tomam como alvo do boato, o casal de namorados, Naomi Preston (Kate Hudson) e Beau Edson (Joshua Jackson). Por que eles? Simplesmente pelo fato de serem conhecidos em todo o campus por praticarem abstinência sexual.

Incentivada por Derrick, Cathy começa o seu "trabalho", com o auxílio de Travis. Desta forma o trio espalha o boato de o rapaz estuprou a namorada, na noite de festa, quando ela estava bêbada e desmaiou. Sem saber ao certo o que aconteceu e pelo fato de a fofoca ganhar proporções inesperadas, o relacionamento de Naomi e Beau chega ao fim. 

Eis que a notícia começa a ganhar várias e várias versões. Por ser conhecida e ter "poder financeiro", a "pobre rica" aciona a polícia para investigar o caso e Beau acaba na prisão sem ter feito nada de errado. É quando o cerco está a um passo de se fechar, pois com a polícia no caso, os "criadores" da fofoca precisam esclarecer o que sabem realmente sobre o acontecido.

Um suspense envolvente que merece ser visto. Até porque, já sabemos que a propaganda é a alma do negócio, mas que nenhum investimento é melhor do que o velho e conhecido telefone sem feio, isto é, quando o fato é repassado de boca em boca. Descubra até que ponto é capaz de chegar a maldade de um ser humano! Veja e fique atento com tudo e com todos, pois ninguém está ileso de ser vítima de uma terrível fofoca!

DVD: Informações especiais com Cenas Inéditas; Menu Interativo; Elenco e Produção; Trailer de Cinema; Escolha de Cena. Lançamento em 2001 pela Warner Home Video, o DVD Região 4, é colorido e recomendado para maiores de 18 anos.


Filme: Intrigas (Gossip, EUA)
Ano: 2000
Gênero: Intrigas (Gossip, EUA)
Duração: 91 minutos
Direção: Davis Guggenheim
Roteiro: Davis Guggenheim
Elenco: James Marsden, Lena Headey, Norman Reedus, Kate Hudson, Marisa Coughlan, Sharon Lawrence, Eric Bogosian, Edward James Olmos 

.: Resenha crítica de "O Labirinto do Fauno", de Guillermo del Toro

A magia da fantasia ao encontro da cruel realidade
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em maio de 2009


Realidade e fantasia misturam-se para contar a triste história de Ofelia. Saiba mais de O Labirinto do Fauno!


A fantasia e a crueldade entrelaçadas na trama de Guillermo del Toro. O Labirinto do Fauno, longa indicado para maiores de 16 anos é um conto de fadas às avessas. No entanto, é tão completo e bem elaborado que consegue alcançar integralmente o nível de satisfação naquele que o assiste.

A história de Ofelia (Ivana Baquero, que interpreta uma Alice no País das Desmaravilhas) não tem como guia um coelho branco, personagem que leva a protagonista de Alice no País das Maravilhas para um mundo cheio de encantos e novidades, mas sim um fauno (divindade campestre entre os antigos romanos), ser que oferece momentos mágicos para a protagonistas viver.

Ambientada em 1944, a história tem como pano de fundo sentimentos inquietantes como guerra, fome e muita revolta. Tudo começa quando a menina Ofelia viaja com a mãe Carmen (Ariadne Gil), grávida, para o norte rural da Espanha, ao encontro de seu padrasto, Vidal (Sergi Lopez). Há então uma repulsa do padrasto pela garota, porém tal sentimento é recíproco. 

Ao fugir da crueldade do capitão (das forças fascistas do general Franco, que governa a Espanha em favor dos ricos e poderosos com a aprovação da Igreja Católica), Ofelia mergulha em um mundo cheio de encantos por meio de um livro que "diz" o que está para acontecer. O presente do fauno pode ser aberto sempre que a garota puder, porém as tarefas devem ser realizadas seguindo, fielmente, as coordenadas dadas pela "divindade campestre".

Desta forma, a menina segue rumo ao desconhecido utilizando portas mágicas, personagens inimaginados, sapos gigantes, fadinhas ajudantes, raízes de árvores que vivem e fazem viver,  e um banquete de enlouquecer, mas que não pode ser tocado. Enquanto Ofelia "cria" seu paraíso encantado, o capitão Vidal mostra o seu lado negro ao torturar e matar camponeses e ativistas que são contra o general Franco. O capitão faz tudo sem esboçar qualquer sentimento de pena ou remorso. 

 Com efeitos surpreendentes e um drama fantástico tão bem elaborado, não há o que criticar na produção. Definitivamente este é um filme imperdível. Não deixe de conhecer o mundo real e o universo fantástico da pequena Ofelia em O Labirinto do Fauno!

DVD: Menu interativo; Seleção de cenas; Formato de tela: Widescreen; Áudio: Dolby Digital 5.1 (Espanhol); Legendas: Português, Espanhol.

Filme: O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, IMéxico/Espanha/EUA)
Ano: 2006
Gênero: Drama/ Fantasia
Duração: 117 minutos
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Elenco: Ivana Baquero, Sergi López e Maribel Verdú

.: Resenha crítica de "O Amante", com Lian Neeson

A obsessão de um homem traído
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em maio de 2009


O sentimento amargo da traição interpretado brilhantemente por Lian Neeson. Saiba mais de O Amante!


Peter (Lian Neeson) e Lisa (Laura Linney) formam um casal perfeito. Contudo, as aparências enganam, pois Lisa não é tão devota ao esposo. Aos poucos o espectador descobre que a artista plástica, em suas viagens de trabalho, encontra o amor nos braços de outro, o latin lover, Ralph (Antonio Banderas), chamado carinhosamente de Rafe. 

"O Amante" (The Other Man), dirigido por Richard Eyre, é baseado no livro de Bernhard Schlink (autor de O Leitor), e não na obra homônima de Marguerite Duras. Nesta história que se desenrola nos tempos atuais conhecemos um casal estabelecido financeiramente e a confirmação de seu laço matrimonial: uma linda filha já formada na universidade. Peter, diretor da própria companhia, é feliz com a esposa e tem orgulho em tê-la ao lado durante tantos anos de relacionamento.

Entretanto, é na noite da festa de lançamento da última coleção de Lisa que Peter conhece a outra face de sua companheira: uma Lisa evasiva e estranha. A desconfiança do marido é pontuada quando ela o questiona sobre o desejo de ficar com outra pessoa. Impregnado pela dúvida da traição, Peter embarca em uma louca caçada pelo homem que protagoniza cenas de amor (fotografadas), "guardadas a base de senha" no computador portátil da esposa.

Diante de tantas surpresas e questionamentos sobre o comportamento da Lisa, Peter segue rumo à Itália, ou melhor, ao encontro de Ralph. Lá conhece um homem, aparentemente distinto, cheio de artimanhas para encantar a todos com sua lábia. Eis que Peter, ao ganhar um companheiro no jogo de xadrez, descobre muitos dos segredos de Ralph.

De fato, "O Amante" conta com um bom enredo, porém peca ao revelar seus segredos antecipadamente. Embora deixe uma sensação de que algo ainda vá acontecer, é impossível negar a frustração ao ver que tudo acaba em "festa" e ponto final. No entanto, comparado com O Leitor, ainda sim, O Amante consegue, na tela, ser mil vezes mais dinâmico e manter alguns segundos de suspense. Passe o seu final de semana com três grandes nomes do cinema!

Sabendo a verdade, vale a pena viver na mentira?

DVD: Menu; Formato da Tela: Widescreen; Dublagem em Português e Legenda em Inglês, Português; Áudio: Dolby Digital 2.0. Faixa Etária: a partir de 16 anos 

Filme: O Amante (The Other Man, EUA)
Ano: 2008
Gênero: Drama
Duração: 87 minutos
Direção: Richard Eyre
Roteiro: James Vanderbilt, Robert Graysmith (livro)
Elenco: Lian Neeson, Antonio Banderas, Laura Linney, Romola Garai, Laurence Richardson, Amanda Drew, Abigail Canton, Kas Graham

sexta-feira, 1 de maio de 2009

.: Entrevista com Arnaldo Antunes, cantor e poeta

"Eu gosto e quero me manter inquieto até o fim". -  Arnaldo Antunes

Por Patrick Selvatti

Em maio de 2009


Os dons culturais daquele que busca definir sinteticamente as possibilidades da palavra. Confira a entrevista com Arnaldo Antunes!


O paulistano Arnaldo Antunes, 49 anos, ex-Titãs e ex-Tribalistas, estudou Letras na USP e teve como referência em seu trabalho a chamada poesia de vanguarda, nome genérico para uma gama de correntes e tendências poéticas surgidas notadamente a partir da década de 50, das quais sem dúvida, das mais importantes, pelo caráter original e instauradora de uma prática renovadora da produção poética, é a poesia concreta, que abriu um leque de possibilidades criativas que trouxe muita empolgação nos anos 60.

Com o conceito de verbivocovisualidade, Arnaldo, assim como os concretos, busca definir sinteticamente as possibilidades da palavra neste tipo de poesia. Além da palavra enquanto signo oral e escrito, cores, formas e o próprio espaço eram elementos de composição. 

Um bom exemplo é Augusto de Campos, cujo poema Acaso, de 1963, é fundamentado nas possíveis permutações de letras dessa palavra. Outro exemplo está no poema O pulsar, que Caetano Veloso musicou, cujos versos dizem o seguinte: “Onde quer que você esteja/ Em Marte ou Eldorado/ Abra a janela e veja/ O pulsar quase mudo/ Abraço de anos-luz/ Que nenhum sol aquece/ E o oco escuro esquece”. Leia a entrevista:



RESENHANDO – Como é essa história de se gravar ao vivo em estúdio?
ARNALDO ANTUNES - Quando fiz o disco Qualquer, queria que fosse um show ao vivo gravado, mas isso não deu para viabilizar na época, então a gente acabou fazendo um disco de estúdio. Mas eu ainda tinha o desejo de fazer um lance num lugar pequeno, que tivesse um ambiente íntimo, com as pessoas sentadas no chão bem pertinho. Daí, falei: "Vamos voltar pro estúdio. Já que a gente fez um ao vivo no estúdio, vamos fazer no estúdio ao vivo". Primeiro porque oferece uma situação de grande intimidade. Segundo, pelas condições de poder captar aquilo com a melhor qualidade de som e imagem. E ficou engraçado porque as pessoas ou fazem discos ao vivo ou fazem discos de estúdio. E a gente fez uma situação que é um híbrido: é um show, mas aparece o estúdio, a mesa de som... 


RESENHANDO – Você brinca muito com as palavras e talvez esteja aí o segredo do seu sucesso...
ARNALDO ANTUNES - O código verbal é como se fosse um porto seguro de onde eu parto pra visitar outros códigos. Eu faço música, faço canções, uso a palavra cantada. Faço trabalhos visuais, palavras para serem lidas e vistas ao mesmo tempo. Faço vídeo, a palavra falada em movimento... Eu faço canções que têm o uso da palavra associada a todo um universo musical.


RESENHANDO – Letra ou música: qual é a sua preferência? 
ARNALDO ANTUNES - São linguagens diferentes, veiculadas por meios diferentes, mas como as duas lidam com as palavras (escritas ou cantadas, lidas ou ouvidas), acabo fazendo pontes entre elas. Gravo discos e publico livros, e acho que o trânsito entre essas atividades vem se tornando vez mais fluente. Eu gosto de caligrafia, sou apaixonado por essa coisa da caligrafia desde muitos anos atrás. O meu primeiro livro era todo caligráfico, eu fiz uma exposição de caligrafia no começo dos anos 80... Aí sempre fui fascinado pela escrita antiga oriental, essa tradição milenar, árabe, chinesa, que é maravilhosa. Acabei sempre pensando essa coisa caligráfica como uma forma de entonação gráfica que sugere sentidos para além do que o discurso verbal está dizendo, você teria uma expressividade através da maneira como escreve, curvatura do traço, do tremor da mão...


RESENHANDO – Existe diferença no processo de criação de uma poesia e no de uma música?
ARNALDO ANTUNES - Não. Existe uma ponte entre as atividades. Geralmente, a produção já tem o seu destino meio certo. Já sei se é algo para ser cantado ou para ser publicado ou se é algo que traz junto uma idéia visual e pode se tornar algo gráfico. No entanto, há exceções. Pode haver contrabando de uma área para outra. Idéias que tive para um poema visual podem acabar como canção ou, até mesmo, animação. Há um território comum em todas os tipos de produção. Trabalho com a palavra em si e isto possibilita uma conversa entre as diferentes linguagens. Esta questão do trânsito de códigos entre diferentes linguagens é um terreno muito fértil. Paralelamente aos Titãs fiz livros. Participei de exposições e publiquei três livros enquanto estava na banda: o Psia, Tudos e As Coisas. No momento em que saí dos Titãs tudo se juntou mesmo projeto que foi O Nome. A poesia e a música se juntaram numa terceira linguagem: o vídeo. A partir de então esses diálogos entre diferentes linguagens começaram a ser a cada vez mais constantes.


RESENHANDO – O que você está ouvindo, lendo e assistindo ultimamente?
ARNALDO ANTUNES - Eu leio muita coisa diferente, eu não gosto muito de responder isso porque acabo tendo que eleger algumas pessoas em detrimento de outras. Eu não tenho um poeta preferido ou um escritor preferido. Eu gosto de muita coisa diferente, então, fica complicado eleger. Li recentemente e achei muito interessante o livro do Augusto de Campos. O Augusto talvez seja o poeta que mais me impressione atualmente, no Brasil. Talvez seja ele o mais completo. Acompanho com muito gosto tudo o que ele produz. No cinema, também encontro inspiração. Meus cineastas preferidos são os franceses Jean-Luc Godard e François Truffaut, o italiano Michelangelo Antonioni e os brasileiros Júlio Bressane e Glauber Rocha.


RESENHANDO – Qual sua relação com os Titãs hoje?
ARNALDO ANTUNES - Somos amigos e parceiros. Não mudou nada porque cada um seguiu seu próprio caminho.


RESENHANDO – Você tem fome de quê?
ARNALDO ANTUNES - Ah, de um monte de coisas... Eu gostaria de saltar de pára-quedas: tenho vontade e ainda vou fazer. Eu gosto e quero me manter inquieto até o fim. Talvez o mundo empresarial exija mais segurança, estabilidade e conforto, mas criatividade e inovação são fundamentais para o sucesso de qualquer empreendimento.


RESENHANDO – Sua parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown nos Tribalistas foi um estouro. Haverá, um dia, uma continuação?
ARNALDO ANTUNES - A repercussão dos Tribalistas foi surpreendente pra todos nós. Vendeu muito, tocou muito no rádio, teve uma penetração absurda. E isso foi maravilhoso. Há frutos disso que são colhidos por nós três. Mas ficou nisso. Nossa parceria prossegue até hoje, mas sem o rótulo popular de Tribalistas.


RESENHANDO – Qual a sua cor preferida?
ARNALDO ANTUNES - Quando eu era criança, verde. E eu me apeguei a isso e acho que continua sendo, mais por um apego com essa coisa da infância. 
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