sábado, 10 de maio de 2014

.: Resenha crítica do documentário "Berlim - Sinfonia da Metrópole"

“Berlim - Sinfonia da Metrópole”, o documentário alemão mudo
Por: Helder Miranda

Em maio de 2014


Película começa com os operários, que levantam cedo para o trabalho nas fábricas e termina com a agitada vida noturna berlinense dos anos 20.


Berlim – Sinfonia da Metrópole“ é o lendário documentário mudo de 1927, dirigido por Walter Ruttmann, sobre o dia-a-dia da Berlim de sua época. A versão do final dos anos 20 foi realizada com o compositor Edmund Meisel, que acabou por criar uma trilha sonora em perfeita sintonia com o filme.

A película começa com os operários, que levantam cedo para o trabalho nas fábricas e termina com a agitada vida noturna berlinense dos anos 20. No decorrer de um dia, temos uma visão multifacetada da sociedade da época, desde a pobreza e a vida de operário, até a riqueza e o luxo. A edição foi realizada juntamente com o compositor Edmund Meisel, permitindo o mesmo criar uma trilha sonora em perfeita sintonia com o filme. Esse verdadeiro poema musico-visual nos possibilita uma impressionante e inesquecível viagem no tempo à essa importante época da história de Berlim.

Em 2010, Hans Brandner preparou uma nova orquestração da obra original, por meio de uma encomenda em comemoração ao jubileu de 200 anos da Universidade Humboldt de Berlim, numa formação para orquestra de câmara. Esta nova versão foi lançada em 2011 pela editora especializada em cinema-mudo Ries & Erler e já foi apresentada com grande sucesso em cinemas da capital alemã, recebendo críticas positivas de, entre outros, Ian Wekwerth, pianista da Max Raabe Palast Orchester (famosa orquestra berlinense especializada no repertório dos anos 20 e 30). Em Berlim, Hans Brandner e o maestro brasileiro Marcelo Falcão se conheceram e tiveram juntos a idéia, de apresentar essa mesma versão numa série de concertos no Brasil.

Sobre os artistas
Hans Brander estudou piano com a Prof. Natalia Gussewa, recebendo seu diploma pela Associated Board of the Royal Schools of Music de Londres e é musicólogo pela Universidade Humboldt, em Berlim. Em 2010 realizou um novo arranjo da trilha do filme “Berlim – Sinfonia da Metrópole” em comemoração aos 200 anos da Universidade Humboldt de Berlim. Em 2012 apresentou esta nova versão em concertos na China. Uma suíte para piano solo desta mesma trilha foi lançada no mesmo ano. Além de sua relação com cinema-mudo, Hans Brandner dedica-se também à pedagogia do piano, lançando em 2012 o livro “Motion Lines of Music”, sobre a história da técnica pianística em sintonia com movimentos do corpo.

Já Marcelo Falcão estudou regência em Berlim, onde vive desde 2008. Em 2010, estreou no Brasil com a Camerata Independente do Rio de Janeiro em concerto no mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro e a gravação do mesmo transmitida pela Rádio Mec FM. Em Berlim foi assistente de Kristiina Poska e Catherine Larsen-Maguire. Já regeu também orquestras na Alemanha, Rússia, Itália, Geórgia, Suíça e Brasil. Marcelo Falcão é também compositor, tendo suas obras estreadas no Brasil, Espanha e Alemanha e é musicólogo pela Universidade Humboldt de Berlim. Em 2014, está em turnê no Brasil com o Ensemble de Solistas, apresentando a trilha original com exibição do filme-mudo “Berlim – Sinfonia da Metrópole”.

Filme: Berlim - Sinfonia da Metrópole
Ano: 1927
Gênero: Mudo

quarta-feira, 7 de maio de 2014

.: Entrevista com Mateus Solano, ator da Rede Globo

“Isso é a parte mais triste, essa visibilidade tão grande. É eu não poder ser eu. Eu tenho que montar algum personagem para viver a minha própria vida”. - Mateus Solano


Por: Marcelo Nogueira
Em maio de 2014


Mateus Solano, com saudade de Félix, tem que montar algum personagem para viver a própria vida.



Em entrevista ao programa “Arte do Artista”, a TV Brasil, o ator Mateus Solano, depois de viver um dos maiores vilões da teledramaturgia brasileira, Mateus Solano, reencontrou o apresentador Aderbal Freire-Filho, que já foi seu diretor na peça “Hamlet”, e relembrou outros trabalhos, cantou, interpretou e fez grandes revelações para o apresentador.

Mateus começou o programa numa cena em busca do Príncipe Hamlet. Passeou pelo cenário e declamou trechos da peça, que é relembrada com imagens dos personagens de Mateus Solano e Wagner Moura. Com essa interseção de imagens, o ator Mateus Solano surgiu no camarim mágico e iniciou o bate-papo falando sobre as muitas vidas de um ator, e o que aprendeu com cada uma dessas vivências, seja no teatro, no cinema ou na televisão.

“Hoje em dia está tudo muito efêmero. As pessoas esquecem as coisas muito rapidamente. A televisão e o cinema trouxeram uma perpetuação do trabalho da gente. O grande barato é visitar aquilo sempre, com um olhar diferente e com o público diferente. Mas, por mais efêmera que seja a nossa profissão, o importante é ficar perpetuado no coração de quem assiste. Isso é o que eu acho mágico e funcional da arte.”, explica Solano.

Aderbal aciona a “Máquina de Pensar/te” e apresentou o livro “O Mito de Sísifo, Ensaio Sobre o Absurdo”, do escritor francês Albert Camus. O apresentador traz uma epígrafe que cai como uma luva quando se trata do fazer artístico: “Ó, minha alma, não aspira à imortalidade, mas esgota o campo do possível”.

Aderbal Freire-Filho - Como ficou a vida fazendo este personagem, Félix, que fez tanto sucesso na televisão brasileira?
Mateus Solano – Você começa a viver dentro do que o outro espera que você seja. Isso é muito complicado, principalmente pra mim que gosta de gente. Eu gosto de gente. Eu gosto de ir aos lugares, ver as pessoas. Mas eu não vejo, eu não assisto, eu sou assistido em qualquer lugar que eu vá. Isso é a parte mais triste, essa visibilidade tão grande. É eu não poder ser eu. Eu tenho que montar algum personagem para viver a minha própria vida.

AFF – E como é o processo e voltar para o Mateus? Quando você pega a taça de vinho o teu gesto ainda é do personagem? O teu corpo ainda está regulado pelo personagem ou você já se livrou dele?
MS - Acho que não. Acho que isso faz parte até da profissão, esse entra e sai esquizofrênico. Na televisão, eu tive a oportunidade de fazer gêmeos. E, para fazer gêmeos na televisão, eu tinha que sair de um, trocar de roupa e entrar em outro, imediatamente porque os dois estavam gravando juntos na mesma cena. Eu lembro que eles brigavam. Era um trabalho esquizofrênico. E, se eu levasse o personagem para a cama, digamos assim, eu estaria numa suruba.



O ator também contou, entre tantas revelações, pérolas pessoais. “No último Carnaval, fui levar a minha filha ao bloco infantil. E aí me vem um animador anão, me reconhece e, lá do carro de som grita para todos no microfone: o ator Mateus Solano está aqui com a gente!. Resultado: saí de fininho”. E quando o papo vai para a música, Solano revela: “Eu voltei a estudar violino. Estou fascinado em voltar a estudar porque eu fiz um pouco quando eu tinha seis ou sete anos, mas fui massacrado pela repetição. Quando eu vi que o meu negócio não era a repetição, e sim o improviso, eu fui para o teatro”.

Na conversa com Aderbal Freire-Filho, Mateus Solano lembrou as sessões de análise que fez e diz que cada personagem é como se fosse um filho. Aderbal, então, perguntou sobre o personagem Félix, e Solano disparou: “Estou com saudades dele. Espero que ele esteja bem”.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

.: Resenha de "A Mentira", Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues, entre segredos e mentiras

Por: Helder Miranda
Em maio de 2014 


Para manter satisfatórias as relações, a mentira cumpre o seu papel, justifica o autor, sobre folhetim lançado pela Agir.


Nelson Rodrigues disse, em entrevista para a edição número 9 do “Flan - O Jornal da Semana”, que circulou de 7 a 13 de junho de 1953, que somos amados não pelo que somos, mas pelo que aparentamos ser. Caso contrário, seríamos rejeitados por nossas mães, irmãos, noivas ou esposas. 

Para ele, era preciso usar um disfarce – e, a partir desse acessório, de acordo com ele, para manter satisfatórias as relações, a mentira cumpre o seu papel. “Sejamos mentirosos”, sugeria Rodrigues, no texto assinado pelo repórter Hélio Pellegrino.

A entrevista foi republicada como um texto bônus na edição mais recente do folhetim “A Mentira”, lançada pela editora “Agir”, que supre o desejo de colecionadores em encontrar esta obra, publicada pela primeira vez há poucos anos, pela Companhia das Letras, e esgotadíssima, tendo sorte aqueles leitores que a encontrassem em sebos. 

Neste romance publicado em 18 capítulos no semanário “Flan”, a partir de junho de 53, estão todos os elementos que fazem o leitor mais desavisado se encontrar com o universo rodrigueano.Há mais que isso, há Lúcia: a maquiavélica – ou não? - adolescente que enlouquece os homens à sua volta. 

Criada dois anos antes da personagem Lolita, que seria um sucesso estrondoso – e um escândalo – do russo Vladimir Nabokov, ela é a irmã caçula de uma família com quatro mulheres criadas por um pai repressor do subúrbio do Rio de Janeiro no início da década de 50. 

Entre segredos e mentiras que vão se revelando aos poucos, a tragédia começa a ser tecida quando descobre-se que Lúcia está grávida. E os únicos suspeitos são os cunhados, maridos das irmãs mais velhas, que vivem sob a tutela do chefe de família, debaixo do mesmo teto. 

A história já foi explorada em outros textos do mesmo autor, ele próprio sabia e transformava o ato de se repetir como algo que não o desabonasse, pois os temas abordados por ele, a cada repetição, vinham carregados de novas nuances.

Mas no livro descoberto há pouco tempo pelas novas gerações, encontramos um Nelson Rodrigues mais vibrante do que nunca, e é adorável, pois ele é um autor que traz todo um sabor do passado, aquele que volta mais, repleto de mocinhas inatingíveis e nem tão inocentes, como foram nossas avós. Os livros de Nelson Rodrigues falam a linguagem do povo, trazem gírias antigas, mas chega a ser impressionante como ainda são atuais os temas que ele propôs décadas atrás. 

A impressão é que se lê algo empoeirado, mas novo, porque nunca foi realmente mexido ou aprofundado. Talvez os poucos debates que foram colocados na boca da sociedade – há mais atualidade do que a mulher ser culpada por um estupro, segundo a opinião pública, se o tamanho da roupa não for suficientemente grande? 

Os debates que Nelson propôs a partir de seus personagens sempre foram significativos demais para gerar algum debate que trouxesse um elemento a mais para que os assuntos evoluíssem ou, pelo menos, deixassem de ser tabu. Mas a unanimidade, como ele mesmo já disse, burra, não o acompanhou. É uma pena, mas o livro é excelente. Leia.

Livro: A Mentira
Autor: Nelson Rodrigues

.: Resenha crítica do filme "Praia do Futuro", de Karim Aïnouz

Um amor trazido pelo mar
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2014


História de amor sem amarras, que foge do estereótipo do relacionamento gay, recentemente, pregado nas telenovelas.


A forte afeição de Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick) é o elo de todas as ramificações do enredo do filme brasileiro, "Praia do Futuro". O novo longa com direção de Karim Aïnouz, que também dirigiu grandes sucessos do cinema nacional como "Abril Despedaçado" e "Madame Satã", divide em fases a história de Donato, mantendo focado os altos e baixos do romance gay.

"Praia do Futuro" apresenta Donato, um militar do corpo de bombeiros que atua como salva-vidas e trabalha na bela praia que dá o nome do filme, localizada no Ceará, Brasil. Lá, ao prestar o primeiro socorro em que perde uma vida, conhece o alemão de olhos azuis, Konrad. Com o turista salvo, as buscas pelo amigo aumenta a proximidade entre o salvador e o resgatado. Resultado: Konrad conhece melhor o salva-vidas e os dois se apaixonam.

Após tentar convencer o turista a viver no Brasil, Donato acaba partindo para Berlim com o seu verdadeiro amor. Assim, abandona a mãe e o irmão ainda caçula, Ayrton (Jesuita Barbosa, na fase adulta). Atitude que é uma grande decepção para o irmão mais novo, que tanto admirava aquele que se atirava nas águas do mar para salvar desconhecidos e chegava a ser visto como um super-herói. Em contrapartida, o menino, que se tornou um rapaz, segue para a fria Berlim, em busca de Donato.

O ponto mais interessante do filme está na força da figura masculina e seus vários aspectos conflituosos. Ou centrado no amor entre Donato e Konrad, ou no amor de Ayrton e Donato. De fato, a imagem da mulher tem apenas pequenas participações. Por outro lado, a narrativa mantém o público afastado, apenas como observador, pois ao longo de seus 106 minutos não defende qualquer rumo das personagens. Ali, tudo acontece e ponto. Logo, é função de quem assiste compreender e desenvolver seu próprio ponto de vista a respeito de cada personagem. 

Apesar da criatividade e da provocação em fazer com que o outro reflita e forme opiniões diante das sementinhas plantadas a cada conflito, há cenas em que a pouca edição anula o ritmo do longa. Sempre que a trama começa a engatilhar, uma cena longa e lenta, promove uma quebra. E a atuação do Wagner Moura? É indiscutivelmente excelente! 


Como o próprio diretor define, "Praia do Futuro" é um filme de partidas e possibilidades, de liberdade e amor. Apoiado nisso, o lançamento do cinema nacional exibe cenas de sexo entre Donato e Konrad e até nu frontal. Afinal, assim como os personagens da trama, ter identidade é encarar os problemas e resolver seus medos mais obscuros.

Filme: Praia do Futuro ( Praia do Futuro, Brasil / Alemanha)
Ano: 2014
Gênero: Drama
Duração: 106 minutos
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Felipe Bragança e Karim Aïnouz
Elenco:  Wagner Moura, Clemens Schick e Jesuíta Barbosa  


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