quarta-feira, 30 de setembro de 2015

.: Consequências de um impeachment, por Rogério Godinho

Por Rogério Godinho
Em setembro de 2015

Os argumentos a favor do impeachment se acumulam. A entrevista de Hélio Bicudo ontem foi apenas mais um pedrinha nessa avalanche que vem descendo. Nem o papo de trocar seis por meia dúzia me sensibiliza mais, talvez porque a opinião pública esteja entrando em um estado de espírito que pede um clímax, sob pena de abalar ainda mais a já combalida crença do brasileiro nas instituições.
E isso me apavora. 

PMDB na presidência durante 3 anos? Pior que isso.  Há outro dano, talvez maior. Certamente mais duradouro. Explico.

Motivos à parte, o que vai determinar o chute – com todo o respeito – na presidente é o contexto político. 

Repito: é a política, não as razões legais. Ou seja, a (in) capacidade de parte do PT de chegar a um acordo com o peemedebismo (que, lembrando Marcos Nobre, não é só o PMDB). 

Por enquanto, ainda não há votos pró-chute suficientes na Câmara, o que indica que as promessas de ministérios e quetais estão funcionando. Afinal, há menos votos hoje do que há um mês. "Política."
Mas, vamos supor que ocorra. 

Pulamos três anos (os quais ainda me dão calafrios).

Próxima eleição. Entra um novo presidente. Aécio, Serra, Alckmin, Lula, Marina, escolham o que agradar mais. 

Outras crises virão. Econômicas. Políticas. Em paralelo, enorme esforço para aprovar as reformas. O desgaste aumenta. 

E como chutar um presidente eleito se tornou duas vezes mais fácil, desde que se obtenha o necessário acordo político, então recomeçam os pedidos de impeachment. Como sempre existiram. Como o PT pediu para FHC. E O PSDB para Lula.

Só que agora o PMDB está forte e folgado.  "Te derrubo a hora que eu quiser" Que presidente terá força para fazer reformas? Lula? Enfraquecido. Não. Marina? Negando fisiologia ao PMDB. Não. Aécio? Faz-me rir. Óbvio que não. Esta é a razão pela qual nenhum deles é a favor do chute.

Impeachment² = presidência fraca. Recomendação: usar somente em último caso.


Sobre o autor
Rogério Godinho é escritor, especializado em biografias. Trabalhou em diversos veículos da grande imprensa, estudou história global e globalização em Harvard e frequentou o Massachusetts Institute of Technology (MIT) como aluno ­visitante de Filosofia. É autor dos ivross "O Filho da Crise", lançado em 2011, "Tente Outra Vez" e "Direitos Humanos ­ Nunca na Solidão", em 2014.
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