quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

.: "Dois Lados", uma crônica de João Tavares Neto

Por João Tavares Neto
Em dezembro de 2015


Fazer por onde merecer. Essa é a forma de justiça a qual estamos acostumados. Se eu trabalho, por exemplo, tenho direito a receber um valor, que alguns chamam de salário, para compensar o tempo e o esforço dedicado. 

Parece justo. E seria, se realmente fosse. É que essa equação não fecha na maioria das vezes. Quem paga acredita que o valor é alto, quando ele soma todos os tributos que incidem sobre a folha de pagamento. Por outro lado, o proletariado acha uma merreca o que recebe porque o valor não dá para suprir nem às suas necessidades básicas.

No trânsito, principalmente em transporte coletivo, também é complicado encontrar um meio termo, que seja bom para todos. O passageiro, que trabalha o dia inteiro, quando encontra um lugar vago para se sentar, o que mais deseja é que não suba, até o destino final, pessoas idosas, deficientes ou gestantes para que ele seja obrigado, mesmo estando em lugar reservado para estes, a praticar um gesto de gentileza.

Mesmo assim, esse cidadão que comete pequenos deslizes de conduta, exige do próximo um comportamento exemplar, civilizado, ético, regido pela lei da velha e boa educação, mas tenta burlar normas quando lhe convém.

E assim caminha a humanidade. Milhares de cidadãos à espera de dias melhores, apesar de praticar as mesmas ações. Aliás, desde que o mundo é mundo, o amanhã é a moeda de maior valor que temos em circulação.

- Amanhã será bem melhor;

- Amanhã é outro dia;

- Amanhã teremos nossa vez...


São muitas justificativas tentando garantir que o tempo cura quase todas as feridas. Depois do término de um relacionamento, por falta de coisa melhor para se dizer, abraçamos o nosso melhor amigo, abandonado, e dizemos assim:

- O tempo vai te ensinar a esquecer. Tenha paciência que o tempo muda um coração. Vai ver ela falou sem pensar, amigo, e amanhã ligará para dizer que está arrependida, que quer voltar...

Ainda no ombro do amigo, entre um copo e outro de cerveja, cercado de palavras de um futuro bom, ele nem se lembra mais do saldo negativo em sua conta afetiva, provocado por uma infinidade de beijos e abraços, perdidos, entre palavras e juras de amor.

E o vento leva quase tudo embora...

Por isso, mesmo quando ele fecha os olhos e vê que tudo terminou, não acredita.  Não acredita porque não é com uma medida exata que se calcula o amor. Sim, não é. Esse fogo que arde e dilacera de forma invisível tem suas próprias leis. E, por sua essência, quanto mais se doa, mais se recebe.

Enfim, seja no trabalho, no caminho de volta pra casa, no amor ou em qualquer outra forma de relacionamento, o senso de justiça passa longe porque todos os envolvidos têm suas próprias moedas para investimentos e todos têm suas próprias razões.

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