quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

.: Um reboot para o debate em 2016, por Rogério Godinho

Por Rogério Godinho
Em janeiro de 2016

Sugiro um reboot do debate para 2016. E uma maneira de fazer isso é identificar o irrelevante, pois ele polui o diálogo, nos faz andar para trás.

Como funciona hoje? Você vê alguém falando um absurdo em um comentário e o reproduz mais adiante, criticando. É o que os gringos chamam de non-issue ou "não-assunto".

Você sai dizendo "tem gente que ainda diz que". Tem gente. Quem? Quantas pessoas? Que percentual da população? 

E é irrelevante porque a maioria da população não está (ou não estava) falando aquele absurdo. Às vezes, somos enganados porque a rede social privilegia o esquisito e o polêmico, da mesma forma que a imprensa, mas só que automaticamente, por meio de um algoritmo.

Por outro lado, você faz isso porque ajuda a reforçar um argumento seu. É uma variação do que chamamos de falácia do espantalho. Atribuir um absurdo ao outro lado para ficar mais fácil bater nele. 

Grandes forças políticas também fazem isso. Mesmo a polarização se beneficia disso, inclusive aqueles que você e eu votamos e/ou até admiramos.

Quer dizer, não estou falando somente de PT e PSDB, mas também do embate PSOL/J. Wyllys X Família Fundamentalista (não escrevo nunca o nome destes últimos). Você que conhece a timeline de ambos, sabe que volta e meia eles fazem referências mútuas. Um gráfico da ascensão dos dois grupos mostraria que eles cresceram ao mesmo tempo. 

Não estou culpabilizando a esquerda ativista, eles sempre vão ser uma referência para mim. Mas há um mecanismo perverso aí que precisamos compreender e aprender a minimizar. Porque, acredite, a ascensão do fundamentalismo, do Xmitos, do reacionário, de tudo isso, se deve em parte a ficar o tempo todo falando do que era um "não-assunto". Eles sugam energia do debate decente. Eles falam absurdos para receberem atenção. Para a mídia publicar e você compartilhar loucamente. E continua o círculo vicioso de absurdo-mídia-mais público.

Portanto, vamos buscar um 2016 mais inteligente. Tentem evitar reproduzir comentários estúpidos. Matérias falando de gente estúpida. E políticos estúpidos, a não ser quando há evidências de que eles cometeram um crime e estão sendo investigados por isso. Aí é a festa! 

Vamos juntos!

Porque um 2016 melhor é possível!

Sobre o autor
Rogério Godinho é escritor, especializado em biografias. Trabalhou em diversos veículos da grande imprensa, estudou história global e globalização em Harvard e frequentou o Massachusetts Institute of Technology (MIT) como aluno ­visitante de Filosofia. É autor dos livros "O Filho da Crise", lançado em 2011, "Tente Outra Vez" e "Direitos Humanos ­Nunca na Solidão", em 2014.
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