quinta-feira, 3 de março de 2016

.: Resenha crítica de "A Bruxa", terror com pegada de clássico


"A Bruxa" resgata a essência dos filmes de terror clássicos
Por: Mary Ellen Farias dos Santos*
Em março de 2016



Não desacredite de "A Bruxa" ao ver o trailer e ter a sensação de ser semelhante ao fraco, "A Vila" (2004), longa metragem do mesmo gênero. A novidade do momento, com direção e roteiro do estreante Robert Eggers, usa o terror psicológico, sem exibir "seres medonhos". Ponto positivo que não fica somente neste quesito, pois a pegada dos clássicos de terror é evidente, seja na trilha sonora provocante -com pitadas de Kubrick- ou nas tomadas de câmera aberta exibindo todo o lugar desconhecido, envolvendo de vez o espectador para que o suspense apimente a trama. 

Atenção: "O mal assume várias formas". Logo, deixo a dica de prestar bastante atenção, ainda no início, quando a família agradece o lugar conquistado, entre as árvores ao longe. No alto das copas, algo mínimo, flutuando, já deixa uma pista do quebra-cabeça que envolverá a jovem Thomasin (Anya Taylor-Joy). Ela e a família, vivem numa nova casa, em 1630, na Nova Inglaterra, até que coisas estranhas acontecem: animais tornam-se malévolos, a plantação seca e o bebê da família desaparece aparentemente possuído por um espírito maligno. 



Com o sumiço de Sam, é dado o pontapé inicial para que a paranoia domine a mente de todos, principalmente da mãe. Mulher descontroladamente dedicada às práticas da igreja. Há uma rápida cena que provoca ao tratar o incesto, mas a fé é mais poderosa na mente dos membros desta família. O fanatismo religioso da mãe é tão gritante que o pecado da culpa está marcado em todos.

"A Bruxa" é um terror fora dos padrões assumido recentemente em filmes de terror feitos para lotar salas de cinema. O filme que é da RT Features, produtora brasileira comandada por Rodrigo Teixeira, é pura arte. Bem longe de qualquer besteirol do gênero, justificando que não foi à toa que o autor Stephen King elogiou a película. Até mesmo a crítica internacional classificou o longa como um dos mais perturbadores filmes de terror da atualidade. 

O suspense é tão bem trabalhado que tem direito a uma clássica e tenebrosa floresta cheia de segredos -maquiavélicos- remetendo aos contos de fadas -sem o toque mágico da Disney e autores que recontaram de modo fofo as histórias universais que, originalmente, eram terríveis. Entre os sinais está a cena em que a família se reúne em torno da fogueira. Sim! Os contos assustadores eram passados de geração em geração desta forma, tendo os pais, o propósito de manter o filhos por perto, sem se aventurarem sozinhos mata a dentro e vivarem comida de animais selvagens, por exemplo.

Mantendo o olhar de contos de fadas originais, basta observar o tratamento que a família dá à irmã mais velha, logo fica fácil identificar uma proximidade com a Gata Borralheira. Sim! Até a mãe da moça está mais para madrasta. Enquanto os gêmeos brincam, a mais velha é quem deve cuidar -e dar conta- dos afazeres da fazenda.

Já o pequeno Caleb, ao entrar na floresta -que simboliza o desconhecido-, sem a autorização dos pais chega a uma pequena casa, que não é de doces ou chocolate, mas faz lembrar "João e Maria", ainda mais considerando o título do filme escolhido para dedicar 1 hora e 33 minutos da sua vida. Inevitavelmente, a assimilação acontece.

Enfim, "A Bruxa" viaja ao passado para tratar o julgamento das bruxas de Salem em conjunto com a visão cega nas convicções religiosas. Detalhe: A lição é feita com louvor, desde o figurino ao inglês arcaico nos diálogos. Definitivamente, é um filme imperdível!! Que venham novas produções de Robert Eggers para inovar e tirar o gênero terror da "mesmice".
                 

Filme: A Bruxa (The Witch, EUA, Canadá)
Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw, Ellie Grainger, Lucas Dawson 
Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers
Duração: 1h 33 min.
Ano:  2015
Estreia em 3 de março no Brasil        



Trailer de "A Bruxa"

*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm




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