sexta-feira, 29 de abril de 2016

.: Há que se distinguir entre amor verdadeiro e padronização do amor

Por Helder Bentes*
Em abril de 2016

Ando cansado de hipocrisia! Esse modelo de relacionamento monogâmico regido por princípios de uma "fidelidade" (nome bonitinho dado à "EXCLUSIVIDADE" que garante o matrimônio que, por sua vez, garante o patrimônio) e que te obriga a ficar comendo uma única pessoa pro resto da vida e te condena à convivência com as mesmas qualidades E DEFEITOS dessa pessoa, "até que a morte os separe", não corresponde aos instintos e necessidades humanas. 

Há que se distinguir entre amor verdadeiro e padronização do amor. O poeta português Almeida Garrett, no poema "Não te amo", faz essa distinção entre o amor que é produto das nossas experiências genuínas de desejo e essas babaquices que nos são ensinadas sobre o amor desde e para sempre e que, sem dúvida nenhuma, são paradoxalmente responsáveis pelas traições e divórcios. 

Conheço poucas pessoas que se realizam em modelos próximos desse padrão. E esses poucos casais não vivem tentando se adequar. Apenas se amam conscientes de que ninguém é dono de ninguém, ninguém é 100% na vida de ninguém e se respeitam não como "um só corpo e uma só carne" (noção levada ao pé-da-letra, como quase tudo o que sai da bíblia), mas como dois INDIVÍDUOS cujas DIFERENÇAS completam-se e, quando se opõem, encontram no amor REALISTA os motivos pra continuarem dividindo suas vidas, descobrindo-se mutuamente e sem necessidade nenhuma de provar nada a ninguém, nem de "blindar" seu casamento, namoro, noivado, caso, rolo ou seja lá o rótulo que queiram dar pra isso. 

A maioria, porém, vive uma monogamia compulsória e hipócrita; distinguem pessoas "pra casar", "pra ficar", "pra transar", "pra explorar"... Numa falta absurda do tão propagado respeito de que tanto falam - e apenas falam - os cidadãos sempre tão politicamente corretos, para quem a corrupção é culpa "da Dilma". É incrível como as pessoas substantivam seus relacionamentos segundo um modelo e, em vez de deixarem as coisas acontecerem à mercê de uma vontade consciente, já vão logo tentando ARRUMAR um "namorado", um "marido", uma "esposa", sem nem conhecerem a si mesmas ou mutuamente. 

Graças a Deus, eu nasci livre disso!

Sobre o autor
Helder Bentes* é escritor, professor e jornalista. Formado em Letras e Comunicação Social na  UFPA - Universidade Federal do Pará. Sua escrita clama pela igualidade de direitos e pela inclusão das minorias. É um militante das causas que acredita mas, acima de tudo, da vida e dos temas que falam ao coração.


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