sábado, 14 de outubro de 2017

.: Historiador contesta versão oficial sobre assassinato dos Romanov

Em 1917, a Revolução Russa mudou a configuração do país – e depois, consequentemente, do mundo – ao derrubar a monarquia e alçar o partido bolchevique e seu regime socialista soviético ao poder. 

Durante pouco mais de um ano, o tsar deposto, Nicolau II, viveu em prisão domiciliar e posterior exílio com a família – a esposa e cinco filhos. Em julho de 1918, toda a família foi executada na cidade de Ecaterimbugo, num dos mais emblemáticos episódios da revolução. 

Embora essa seja a história oficial, sempre houve teorias de que alguns dos membros do clã Romanov pudessem ter, secretamente, escapado da morte. O historiador Marc Ferro é um dos que questiona esta narrativa, como mostra em “A Verdade Sobre a Tragédia dos Romanov”, que a Record lança em outubro.

Em intenso trabalho de pesquisa, Ferro consultou documentos, depoimentos e diários, analisou casos como os de juízes e testemunhas subitamente mortos ou executados, peças do dossiê de instrução subutilizadas e testes de DNA controversos. Por fim, chegou à conclusão de que a tsarina e suas filhas teriam sido salvas graças a um acordo secreto entre bolcheviques e alemães, a partir do qual – e para sempre – elas deveriam se calar sobre terem sobrevivido.

No livro, o especialista em história européia do início do século XX e em história da Rússia e da União Soviética constrói a sua tese: ele detalha seu processo de apuração, revisita as tensões da época e analisa a posterior investigação conduzida pela Rússia. O livro traz ainda um apêndice com a íntegra de alguns dos documentos citados por Ferro, uma cronologia dos acontecimentos e a genealogia da família Romanov, entre outros extras.

Trecho:

“Neste inverno, recebi o telefonema de uma colega americana que ainda não conhecia, Marie Stravlo. De um fôlego só, ela disse: ‘Olá, Marc Ferro, encontrei o rastro de Olga, filha do tsar. Os documentos estão no Vaticano. Você tinha razão em Nicolau II. Suas filhas não foram executadas.’
Há um mês, Marie Stravlo bateu à minha porta, orgulhosa e feliz por ter em mãos o diário de Olga Romanov, escrito nos anos 1950 e intitulado 'Io Vivo'... ['Eu Vivo']. ‘Como você conseguiu descobrir a verdade?’, perguntou ela.
Eu lhe respondo neste livro.
Para ser honesto, minha hipótese, formulada pela primeira vez em 1990 em uma biografia de Nicolau II, foi recebida na França com uma indiferença e um silêncio glaciais. ‘Uma farsa!’, escreveu um jornal londrino.
Como se poderia pôr em dúvida o que se sabia há muito tempo, ou seja, que em 16 de julho de 1918, na casa Ipatiev, em Ecaterimburgo, Nicolau II, sua esposa, seu filho e suas quatro filhas foram selvagemente executados pelos bolcheviques?”

Marc Ferro é historiador e diretor acadêmico da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, codiretor da revista Les Annales e coeditor do Journal of Contemporary History. É autor, entre outros, de “Cinema e História” e “Reviravolta da História: a queda do muro de Berlim e o fim do comunismo, ambos pela Paz & Terra.

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