sexta-feira, 17 de novembro de 2017

.: Quando Kid Vinil se encontrou com os Heróis do Brasil, por Luiz Gomes Otero


Por Luiz Gomes Otero*, em novembro de 2017.

No final da primeira metade dos anos 80, Kid Vinil havia deixado a banda Magazine e uma série de hits nas rádios, como "Sou Boy" e "Tic Tic Nervoso". Com vontade de desbravar novos horizontes musicais, uniu forças com o guitarrista André Christovam e um time afiado de músicos, montando a banda Heróis do Brasil, com a qual gravou um álbum antológico ("Kid Vinil e os Heróis do Brasil"), que até hoje é reverenciado com um de seus melhores momentos na música.

Além de Kid e Christovam, a banda contava com Kuky Stolarsky (bateria), Nilton Leonarde (baixo) e Ary Holland (teclados). A produção ficou a cargo de Roberto de Carvalho, o marido e fiel escudeiro musical de Rita Lee, que também se fez presente cantando backing vocals bem no seu estilo genial. A presença de Roberto, que também tocou guitarra e teclados, serviu para lapidar a sonoridade da banda, que era baseada no blues rock com toques pop.

Claro que Kid Vinil tinha o carisma e o pique de band leader. Mas a força criativa desse disco estava concentrada em André Christovam, que compôs quase todas as faixas, excetuando "Conta da Light", versão em português de Jeep Willis para "Everybody´s Moving", um clássico do rockabilly. Há outra canção de Jeep Willis, a ótima INP Blues, uma crítica bem humorada sobre as mazelas da nossa combalida Previdência Social.


As canções de Christovam caíram como uma luva no vocal irreverente e bem-humorado de Kid Vinil. As canções tinham temáticas provavelmente inspiradas no dia a dia de Christovam. A ótima "Sem Whisky" e "Sem My Baby", com solo de slide guitar no melhor estilo blues rock, abre o disco da forma correta, com alto astral e com muito humor (“...não nem vem que não tem/sem whisky e sem my baby/me atiro embaixo de um trem...”).

A receita se repete em "Trilha da Perdição" (versão em português para "Lost Highway"), "Se Liga Meu Chapa" (esta com solo de harmônica do experiente Tony Osanah) e "Independência ou Morte".

Se você conhece Christovam como um cantor e compositor mais ligado ao blues tradicional, vai se surpreender ao notar como ele conseguia escrever canções pop e fácil apelo comercial. Um exemplo é "Futil Rock´n Roll", com uma introdução maravilhosa de teclados feita por Roberto de Carvalho. E uma letra que sintetiza a tendência do som que eles produziam naquela época ("...minha conversa se perdeu/O meu bom senso se mudou/Original fora de moda/O tom em voga é fútil rock´n roll...").

A banda duraria pouco tempo. Christovam logo se aventuraria em uma carreira solo mais calcada no blues tradicional, enquanto que Kid Vinil se manteria como o personagem que ele mesmo criou, sempre antenado com o que de melhor havia na cena underground do pop rock. E cantando as canções que o consagraram ao longo dos anos. Mas a parceria de ambos na música ficaria eternizada neste excelente álbum, que bem que mereceria uma reedição em CD. Ou mesmo em vinil, que seria mais apropriada para homenagear o Kid por sinal.

"Fútil Rock´n Roll"

"Trilha da Perdição"

"Conta da Light"

*Luiz Gomes Otero é jornalista formado em 1987 pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Trabalhou no jornal A Tribuna de 1996 a 2011 e atualmente é assessor de imprensa e colaborador dos sites Juicy Santos, Lérias e Lixos e Resenhando.com. Criou a página "Musicalidades", que agrega os textos escritos por ele.

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