quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

.: Com primor, série alemã, "Dark" brinca no espaço e tempo

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em janeiro de 2018



Vez ou outra nos arrependemos por ter dito ou não algo em determinado momento. Assim, refletimos e concluímos que seria maravilhoso voltar no tempo. Eis que "Dark", de origem alemã, nova série de ficção científica e suspense -sem ser forçada- da Netflix, brinca com perfeição ao trazer, facilmente, personagens do futuro para o passado e vice-versa. 

A criação de Baran bo Odar e Jantje Friese é um misto de vários sucessos. "Stranger Things", por também usar e abusar da magia -e músicas- de 1986. De "Lost", carrega o suspense -inclusive na sonoplastia- e a brincadeira de que cada personagem tem dentro de si o bom e o ruim. O visual escurecido e o desejo de personagens em dar fim ao mal e seus monstros -humanos ou não- de "Supernatural". Ainda casa muito bem com a narrativa que, por vezes, lembra a série antológica "American Horror Story", fugindo bastante da escatologia.

Outro elemento que grita na lembrança é a capa de chuva amarela muito usada por Jonas, igual a da primeira vítima do palhaço Pennywise no filme "It: A Coisa". Outra similaridade ao sucesso de terror dos cinemas de 2017, é o desaparecimento misterioso de Eric e Mikkel. 



Em "Dark", há também um quarto excessivamente misterioso que, embora seja bem iluminado, de bonita aparência e pintado na cor verde, lembrando os cenários do seriado "Pushing Daisies - Um Toque de Vida", termina por remeter a dois filmes de terror. Ali, há uma cadeira fora do convencional, permitindo ligação aos filmes de terror "O Albergue" e "O Massacre da Serra Elétrica". Contudo, não é possível estabelecer grandes ligações da série alemã com os dois filmes ou a série americana encerrada em 2009.

É fato que quem conta um conto, aumenta um ponto. Entretanto, a estrutura narrativa de "Dark" não é uma cópia de sucessos de TV ou cinema e nem é mais do mesmo. É excelente, pois vai muito além. Não gira em torno apenas do sumiço de Eric ou Mikkel, que acontece em 2019, mas retoma a história de Mads, desaparecido em 1986.

Num emaranhado, quatro famílias distintas -mas com muito em comum-, vivem na "pacata" cidade de Winden. Na tentativa de desvendar o desaparecimento de Mads (1986) e Mikkel (2019), desenterram os segredos obscuros dos próprios ancestrais. Assim, percebe-se o quanto tudo está conectado, embora entregue muito do protagonismo aos personagens Ulrich e Jonas.

Em tamanha escuridão, a presença da floresta enobrece ainda mais a narrativa. Tendo em vista que na literatura, árvores e florestas representam a parte inconsciente da mente humana, permitindo que a alma adentre os perigos do desconhecido, assim como o reino da morte, os segredos da natureza, ou do mundo espiritual que o homem deve penetrar para encontrar o significado, a transformação.

Para perpetuar a jogada de mestre, é na floresta que existe uma "caverna", responsável por "esconder" caminhos que permitem fazer viagens em 33 anos, seja para o passado (1986, até para 1953) ou para o futuro (2052). Vale destacar a forma que os produtores brincam com as "viagens no tempo" realizando o encontro entre os próprios personagens durante diferentes idades. Incrível!



Qual é o simbolismo da caverna na literatura? Da contenção, da clausura e do submundo mitológico. Conforme o psiquiatra Carl Jung, em “Psicologia e Alquimia”, representa a segurança e impregnabilidade da inconsciência. Logo, o lugar secreto, de entrada escondida para um labirinto, exige força e oposição. Características exatas de Ulrich, o pai de Mikkel e Jonas, jovem que estava junto ao menino quando desapareceu.

Antigamente, a caverna era o berço para a magia. Desta forma, passar pela caverna representa uma mudança de estado, o que esbarra na teoria de Einstein: o buraco de minhoca, que é um “atalho” através do espaço e do tempo. Embora a caverna seja popular em histórias de aventura, em "Dark", a função é de dar sentido aos diversos acontecimentos misteriosos. Afinal, a localização desta é próxima a uma usina nuclear.

Em uma forte pegada de contos de fadas -na forma originalmente bruta e fantástica-, "Dark" consegue ser maravilhosamente provocante e instrutiva. 
Só erra feio pelo didatismo ao colocar lado a lado, os personagens no passado e futuro, o que não diminui a produção como um todo. A segunda temporada já foi confirmada pelo Netflix, em 20 de dezembro de 2017. Que venha a sequência logo, por favor!


Primeiro episódio: 1 de dezembro de 2017
Idioma: Língua alemã
Número de episódios: 10
Número de temporadas: 1

Gêneros: Mistério, Sobrenatural, Drama


* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com, jornalista, professora e roteirista, além de criadora do www.photonovelas.com.br. Twitter: @maryellenfsm 



Teaser de "Dark"





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