sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

.: Crítica: "Agora e na Hora" brinca com o sagrado e o profano para falar de fé


Por Helder Moraes Miranda, em janeiro de 2018.

O caixão é o principal objeto cênico. Três atores. Ironia, dúvidas e vida após a morte. Será que existe? É com todos esses elementos que "Agora e na Hora" brinca com o sagrado e o profano ao abordar a fé. Mas, ao mesmo tempo em que aborda a morte terminal de um personagem, não deixa de ser um texto otimista em relação aos dramas da vida real. 

Católicos, protestantes, umbandistas e representantes de outras religiões estão na peça de alguma maneira, com a vantagem de não serem retratados de forma preconceituosa, mas sob a ótica de uma crítica bem-humorada que não ofende. O autor da peça é o jornalista Luis Erlanger, e seus questionamentos, nitidamente, partem de quem já testemunhou muita coisa, até pelo que a profissão dele exige. Logo, o que se vê na peça, são pensamentos de quem não vê o cotidiano com os olhos vedados. 

Em cena, o ator André Gonçalves, o único que faz apenas um personagem na peça - nem poderia ser diferente, já que tudo gira em torno do padre que descobre que está morrendo e começa a experimentar coisas que nunca fez - e, com essa premissa, ele faz sexo, cheira cocaína e outras coisas que podem chocar com a imagem de um religioso imaculado. Uma abordagem corajosa, principalmente nos tempos politicamente corretos de hoje.

As desventuras do padre interpretado por André Gonçalves podem até parecer tétricas, mas fazem refletir sobre a existência humana e suas hipocrisias. Os outros dois atores, Amandha Lee (que protagoniza cenas quentes com Gonçalves) e Rodolfo Mesquita dão vida a outros 12 personagens. Ela, correta em suas interpretações de beata, secretária, garota de programa, mãe-de-santo, mãe  e médium. Ele, um destaque em todos os personagens - sacristão, oncologista, pastor, traficante, daimista e padre - por vezes, é possível esquecer que é o mesmo ator em cena, demonstrando um talento especial que transita sem dificuldade do drama à comédia.

Ao contrário do que o tema indica, o texto está longe de ser um dramalhão piegas em torno da morte e das lamúrias do que não foi vivido por quem está morrendo, já que a ironia está presente em todas as cenas e André Gonçalves revela-se extremamente engraçado e carismático. A voz de Othon Bastos é a perfeita representação do que seria um diálogo com Deus. Cabe ao espectador aproveitar-se desse olhar apresentado pelo teatro e sair melhor do que entrou antes de assistir ao espetáculo.



Sinopse de "Agora e na Hora"
Com status de celebridade em sua paróquia, o jovem padre Emanuel (André Gonçalves) de apenas 30 anos, é diagnosticado com câncer em estado avançado após sofrer um desmaio durante a missa. Com pouco tempo de vida e inconformado com a inesperada notícia, abandona a batina e parte em busca de respostas em outros credos. Pregações evangélicas, Santo Daime, sessões espíritas e consultas a uma mãe de santo norteiam a sua busca, ao longo da qual descobre as drogas e o sexo, além das  discussões filosóficas que faz com um amigo de infância que se tornou traficante. A direção é do cineasta Walter Lima Junior, figurinos de Inês Salgado e cenário de Fernando Mello da Costa. A temporada acontece até 25 de fevereiro, em sessões de sexta-feira a domingo, no Teatro Folha.

Serviço: 
"Agora e na Hora"
Temporada: até 25 de fevereiro de 2018
Apresentações: sexta-feira, 21h30; sábado, 20h e 22h; e domingo, 20h
Ingresso: R$40 (setor 2) e R$ 70 (setor 1) às sextas-feiras; R$50 (setor 2) e R$80 (setor 1) aos sábados e domingos
*Valores referentes a ingressos inteiros. Meia-entrada disponível em todas as sessões e setores de acordo com a legislação.
*Clientes Petrobras PREMMIA e Funcionários da Petrobras têm 50% de desconto na compra de dois ingressos, apresentando documentos que comprovem seus direitos. Desconto não cumulativo com outras promoções.
Duração: 80 minutos
Classificação etária: 14 anos

Teatro Folha
Shopping Pátio Higienópolis - Av. Higienópolis, 618 / Terraço / Telefone: (11) 3823-2323 - Televendas: (11) / 3823 2423 / 3823 2737 / 3823 2323 / Site:www.teatrofolha.com.br.


*Helder Moraes Miranda escreve desde os seis anos e publicou um livro de poemas, "Fuga", aos 17. É bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.


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2 comentários:

  1. Belas palavras sobre, eu também vi e ri.

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  2. Excelente!
    Recomendo.
    As dúvidas ver todos nós estão lá, no quesito Fé!!

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