segunda-feira, 2 de abril de 2018

.: Entrevista com Tatá Werneck, a princesa Lucrécia de "Deus Salve o Rei"

"Sempre fui militante", Tatá Werneck.

Quem fala o que quer nem sempre escuta o que não quer. No caso da Tatá, não ter papas na língua a ajuda a quebrar preconceitos, ser a apresentadora do talk show mais comentado da TV, fazer novela, abraçar o amor e inspirar uma geração. 

Sabe quando você está escrevendo um e-mail e abre uma aba do Spotify, depois vai para o Facebook, em seguida dá uma espiada no portal de notícias e, quando vê, está morrendo de rir de um vídeo de gatinhos no YouTube? Falar com Tatá Werneck, carioca, 34 anos de pura energia, é meio isso. 

Ela emenda assuntos, vai abrindo janelas, conta do namorado, da mãe, dos onze gatos e seis cachorros... Aí, do nada, faz você gargalhar. Tatá Werneck é uma das três capas da revista Glamour de abril, que liberou esse trecho da entrevista e ainda traz Carol Duarte e Tábata Amaral com MC Soffia nas outras duas opções de capa.


É mesmo bacana ser a Tatá? Estar sempre criando e ter esse pensamento rápido cansa em algum momento? 
Eu sou muito feliz de me ser! É estranho falar isso? Parece que me acho? Mas tenho uma autoestima boa, que não passa pela aparência, mas por estar bem comigo, me preencher, ver que as pessoas gostam de estar perto. Desde que entendi que não tem como passar por essa vida tentando viver outra, ficou mais fácil. Fui uma criança questionadora. Aos três anos, perguntava o porquê de precisar aceitar tal coisa. Sempre fui militante, representante de turma. Acabei expulsa da escola duas vezes por ser bagunceira e ter o mesmo comportamento de colegas meninos, mas que era inaceitável para uma menina.


Uma visão machista que deve ter surgido em vários outros momentos da sua vida, né? 
Sim. As pessoas questionavam tudo, até a minha sexualidade. Se eu fosse lésbica também não seria um problema... Mas por que essa necessidade de catalogar as pessoas? Por que precisamos ser colocadas em nichos? Por que se você é bonita não pode ser inteligente? Se é engraçada não pode ser vaidosa? No começo, quando ia participar de campeonatos de improviso e de rima, eu quase me anulava para provar meu talento. Colocava uma calça largona, um moletom e só faltava falar: “Ó, galera, esqueça que eu sou mulher!”. Hoje jamais faria isso.


Relutar em ficar com o Rafa [Tatá demorou dois meses para aceitar o pedido de namoro] é um reflexo disso?
Nunca me interessei por homens mais novos. Ficava pensando por que dar uma chance se sabia que estávamos em momentos diferentes. Mas já estava acontecendo... O Rafa é um homem maduro, fora da curva, de uma família muito legal. Essa geração dele é livre de todas as formas e não tem uma série de preconceitos que a gente fala que não tem e continua tendo. Contei para minha mãe [a jornalista Claudia Werneck], que falou: “Não criei a minha filha para ser uma mulher tão preconceituosa”. Amoleci e, quando vi, fazíamos tudo juntos. Que bom!


Como lida com esse preconceito?
Acreditando no amor. Nunca um homem que é visto com uma mulher mais nova é questionado. É quase um troféu. Agora, quando um cara está com uma mulher mais velha, as pessoas ficam se perguntando o porquê. E tem mil motivos, né? Nunca é o amor. As pessoas já querem colocar um prazo de validade. Parece que, se algum dia – Deus me livre, em nome de Jesus! –, a gente não estiver junto, vai ser porque sou mais velha.


Sua mãe é a sua inspiração? 
Ela e minha avó materna, Vera, que me ensinou a ter fé. Minha mãe começou a se dedicar à questão da deficiência muito antes de se falar disso [autora de 13 livros sobre inclusão, Claudia é fundadora da ONG Gente do Bem]. Eu a admiro profissionalmente e como mãe. Essa é uma questão que ainda vivemos e na qual penso muito. Acharia o máximo gravar o "Lady Night" grávida, amamentaria no palco se precisasse. Outro dia vi uma parlamentar na TV, não lembro de qual país, amamentando no congresso. É isso. Não são vidas paralelas. Somos criadas com uma culpa tão grande, como se fosse errado ter tudo. Não é! Está tudo bem em ser muito feliz.


Essa culpa é cultural... 
Total. Os caras falam que gostam de mulheres fortes, mas poucos sabem lidar com isso. Eu já me sabotei muito por causa de relacionamentos. Já fiquei com homens que me impediram de pegar prêmios, por exemplo, que tentavam me rebaixar para se sentir melhor, que competiam comigo. Hoje vejo que o companheiro incrível é aquele que se fortalece com a sua força.




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Um comentário:

  1. Maravilhosa!! Admiro muito o trabalho dela... Acompanho desde que a vi na, antiga e boa, MTV Brasil!! Saudade daquela época!!

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