domingo, 5 de agosto de 2018

.: Caco Ciocler explica processo de criação de "Zeide", livro de estreia

Caco Ciocler participa de bate-papo na Bienal do Livro. Foto: Mary Ellen Miranda

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em agosto de 2018


No domingo, dia 5 de agosto, durante a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o ator e o escritor Caco Ciocler esteve ao lado do também escritor Marcelo Maluf, na Praça da Palavra, espaço organizado pelo Sesc. A conversa que aconteceu de modo aberto ao público, com mediação de Zinho Trindade, neto de Solano Trindade, foi pautada nas histórias passadas de pai para filho e de avô para neto.

Marcelo Maluf que fez uma leitura do início do livro "A imensidão íntima dos carneiros", enquanto que Ciocler optou pela leitura do texto da orelha de sua publicação de estreia "Zeide", refletiram sobre a importância das histórias de família, sendo estas vividas por eles ou contadas por seus familiares.

No romance "Zeide", Caco Ciocler relata de modo bem-humorado e emocionante sobre a trajetória de uma família judaica no Brasil, declarando o amor ao avô. Durante o bate-papo, ele deixou claro que usou como base eventos vividos, mesclados com outros criados por meio do que lhe foi contado, inclusive pelo próprio personagem. "Eu não sabia como o meu tio era quando criança, mas eu precisava contar a história dele", comentou. 

Já Marcelo Maluf revelou que a criação dele foi além, ao contar histórias de seu avô no romance publicado pela Editora Reformatório. "Eu não conheci o meu avô, tive que recriá-lo". O autor também destacou o lado interessante de como um personagem se desenha, da mente até nascer dentro de um enredo.

Não tão disciplinado quanto o já escritor Marcelo Maluf, Caco Ciocler revelou que iniciou a escrita de "Zeide" a partir do texto da orelho do livro, pois ao ser questionado pela Editora Planeta sobre o andamento do texto, disse já ter 20 páginas, enquanto nada tinha. "Aquele dia, eu ia sair com amigos. Fiquei em casa. Acreditei que faria as 20 páginas em apenas uma noite", lembrou. Ciocler ainda comentou que com o excesso de trabalho, uma peça teatral, novela em gravação, escrever o livro quase o matou. "Tive um piripaque mesmo!"


Após ler o texto que foi o ponta-pé inicial de sua obra, Ciocler detalhou o caso do armário que foi descoberto após a morte do avô. "Quando o meu avô morreu, tinha um armário que ninguém conseguia abrir na casa dele. A gente achou que tivesse fortunas, né! Sei lá! Quando ele morreu, meu pai foi lá abrir e encontrou dezenas de sabonetes vencidos. Ele acumulava sabonetes. Depois eu descobri, alguém fugindo da guerra, sem nada, passou três anos num porão de um navio, não podia armazenar outra coisa que não sabonetes".

Ao ser questionado por uma jovem da plateia, a respeito dos valores que pretende passar a netinha de 2 anos, Ciocler disse: "Toda quinta-feira meu avô ia na minha casa. Chegava sempre no mesmo horário, colocava o chapéu exatamente no mesmo lugar e sentava exatamente no mesmo lugar do sofá. Eu me escondia e eu precisava dar uma volta pelos móveis da sala, sem ele me ver, até chegar atrás, no sofá e dar um beijo na careca dele. Toda quinta-feira. Óbvio que hoje eu sei que ele devia me ver, mas eu esperava a semana inteira por esse momento. Não era um cara com quem eu conversava, trocava confidências, mas era a maior referência afetiva. Essa seria a prova disso. A maior alegria da minha vida era beijar a careca dele, toda quinta-feira. Então, eu pretendo ser uma referência afetiva para a minha neta com um 'plus', como eu sou novo, de poder também ser um confidente, um amigo, alguém mais próximo dela do que foi o meu avô, embora ele tenha sido muito próximo, mas no lugar só da afetividade carinhosa e não da conversa".

A conversa sobre gerações continua no dia 12 de agosto, domingo do Dia dos Pais, na Praça da Palavra, espaço do Sesc, BiblioSesc (rua K, 020), às 15 horas.


Marcelo Maluf lendo o início de "A Imensidão Íntima dos Carneiros". Foto: Mary Ellen Miranda


Serviço
25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
03 a 12 de agosto de 2018
Pavilhão de Exposições do Anhembi                            
Av. Olavo Fontoura, 1.209 – Santana / 02012-021 São Paulo – SP
www.bienaldolivrosp.com.br



*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm
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