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sexta-feira, 19 de abril de 2024

.: Dori Caymmi – 80 anos com Prosa e Papo, por Luiz Otero

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


Não são muito músicos que chegam aos 80 anos ainda em plena forma, produzindo novas canções com a maestria de sempre. Dori Caymmi com certeza está inserido nesse seleto grupo, com seu mais recente lançamento, o álbum Prosa e Papo, que contou com participações de vários convidados especiais.

Das 11 canções do álbum, oito são inéditas: além do poeta e compositor Paulo César Pinheiro, Roberto Didio divide com Dori a autoria de duas canções.

Todas as músicas do disco são letras que Dori musicou de forma brilhante. O MPB4 surge na música título e também em “Um Carioca Vive Morrendo de Amor”, da safra recente de parcerias com Paulo César Pinheiro. A canção exalta o sentimento do cidadão carioca, amenizando um pouco as notícias que chocam os leitores de jornais e noticiários sobre o Rio de Janeiro. Nesta faixa participam ainda Joyce Moreno e Zé Renato (do Boca Livre).

Foto: Nana Moraes

Falando em Joyce Moreno, a cantora e compositora brilha ainda em “Evoé, Nação!”, faixa na qual divide os vocais com Mônica Salmaso. Duas vozes femininas que sempre abrilhantam as canções que ambas interpretam. Joyce e Mônica aliás já haviam participado juntas de um disco lançado em 2015, com textos de Mario Lago musicados por Dori.

O cantor Renato Braz dá voz a “Canto para Mercedes Sosa”, uma bela homenagem a cantora que foi uma das maiores intérpretes da América Latina. E o mais jovem dos convidados é o cantor e compositor João Cavalcanti, na bem humorada “Chato”. A gravação de “Canção Partida” conta com as participações de Ana Rabello no cavaquinho e Julião Pinheiro no violão 7 cordas.

O disco traz lembranças do pai de Dori, Dorival Caymmi, ao utilizar expressões que o velho mestre da MPB usava nas conversas. A sua voz grave e suave segue impecável, assim como o som inconfundível de seu violão. Prosa e Papo é um daqueles lançamentos para ser apreciado por todos que curtem uma MPB de qualidade.


Um carioca vive morrendo de amor


Prosa e Papo


Evoé Nação



sexta-feira, 12 de abril de 2024

.: André Morais chega ao terceiro disco com “Voragem”, por Luiz Otero

André Morais. Foto: divulgação

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


Com 20 anos de carreira, o multiartista paraibano André Morais (ator, diretor, cantor e compositor) está divulgando seu terceiro álbum autoral, intitulado Voragem. As dez canções do disco apresentam o olhar do artista sobre o mundo, contando com as participações de Ney Matogrosso e Fabiana Cozza.

Nesse trabalho, André Morais reafirma sua parceria com a compositora Lucina e abre parcerias com a cantora e compositora paraibana Socorro Lira e com a potiguar Valéria Oliveira, construindo um universo criativo em que a presença do feminino é essencial.

Ney Matogrosso participa de “Cantar e Sangrar”, primeiro single lançado do álbum e um dos destaques desse trabalho. E Fabiana Cozza participa na canção “Pátria” (parceria dele com Valéria Oliveira), proporcionando outro momento interessante.

“Voragem” é um álbum de sonoridade acústica, construído com um olhar da Paraíba e do Nordeste, mas de braços abertos para o mundo. Com produção musical de Helinho Medeiros, pianista e acordeonista paraibano, em parceria com o violonista e professor Pedro Medeiros, “Voragem” tem arranjos construídos de forma coletiva, com a liderança e execução de Helinho (piano acústico e acordeom), Pedro Medeiros (violão, violão de 7 cordas, violão de aço e viola caipira), João Cassiano (Percussões) e Victor Mesquita (baixo acústico).

André Morais e Ney Matogrosso . Foto: divulgação

As canções seguem aquele padrão interessante da nossa MPB, com alguns arranjos inspirados nos ritmos nordestinos. André não tem uma extensão vocal muito grande, mas compensa isso utilizando um tipo de interpretação que intensifica a mensagem das canções. A sua escola como ator deve ter sido fundamental para moldar o cantor, pois ele consegue transmitir a emoção na dose certa, auxiliado pelos ótimos arranjos coletivos feitos pelos músicos da banda de apoio. 

André Morais é um artista com trajetória pavimentada por três pilares fundamentais: a música, o teatro e o cinema. Nascido na cidade de João Pessoa, Paraíba, é autor de canções em parceria com nobres nomes da música popular brasileira como Chico César, Carlos Lyra, Ná Ozzetti, Sueli Costa, Ceumar, Milton Dornellas, Socorro Lira e Seu Pereira. Já cantou e gravou ao lado de nomes como Elza Soares, Ney Matogrosso, Mônica Salmaso, Naná Vasconcelos e Tetê Espíndola. Lançou o seu primeiro álbum, Bruta Flor, em 2011, sendo vencedor do Prêmio Nacional Grão de Música. Seu segundo álbum, Dilacerado, foi eleito um dos 100 melhores lançamentos nacionais de 2015.

No teatro, viajou pelas cinco regiões do país, em mais de 60 cidades, como ator e criador do monólogo “Diário de um Louco”, baseado no conto russo de Nicolai Gogol. No cinema, é diretor e roteirista. Seu primeiro filme, o curta-metragem “Alma”, participou de mais de 20 festivais no Brasil e no exterior. Recebeu o prêmio de Melhor Curta do Festival Latino-Americano de Toronto no Canadá. Seu primeiro longa-metragem como autor e diretor, “Rebento”, estreou em janeiro de 2018 na seleção oficial da Mostra de Cinema de Tiradentes e foi vencedor de 27 prêmios nacionais e internacionais.


Cantar e Sangrar


A Lira Nua


Maré Alta


sexta-feira, 5 de abril de 2024

.: Entrevista: Zé Geraldo, o menestrel folk da MPB

Zé Geraldo. Foto: Paulo Higa/Divulgação

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.


Mineiro da Zona da Mata e radicado em São Paulo há vários anos, Zé Geraldo construiu uma carreira que sempre se manteve bem próxima do público.  Mesmo longe da grande mídia, seus shows sempre foram procurados tanto pelos admiradores de seu trabalho como pelos que curtem uma música com mensagens reflexivas e interessantes. Com forte influência da música folk representada principalmente por Bob Dylan, ele conseguiu produzir um repertório que se tornou atemporal, cada vez mais atual. Ele se apresentará com sua banda neste sábado (6) a partir das 20h30 no Sesc Belenzinho, da Capital Paulista. Em entrevista para o Resenhando, Zé Geraldo conta detalhes de sua carreira e como desenvolve sua produção musical. “Minha música é feita com liberdade total”.


Resenhando - Seu estilo de compor é frequentemente associado ao rock rural, mas percebe-se outras influências em seus trabalhos. Quais foram suas referências na música?

Zé Geraldo – A minha primeira influência veio da música caipira tradicional, bem simples em termos de harmonia. Quando cheguei em São Paulo, percebi que essa música tinha algumas semelhanças com o rock. Então, quando comecei a compor e cantar, o saudoso Zé Rodrix falava que eu fazia rock rural. Já o Renato Teixeira dizia que minha música era folk. Aí então assumi essas características da influência do rock dos anos 60 e 70 e do blues, mesclando com a música caipira e, claro, tendo Bob Dylan como referência também.


Resenhando - Seus três primeiros discos contém canções que se tornaram clássicos (Como Diria Dylan, Milho Aos Pombos, etc.) de seu repertório. Essa produção autoral surgiu a cada disco mesmo ou você já tinha esse material produzido antes de grava-lo?

Zé Geraldo – Quando eu lancei meus três primeiros discos pela CBS, eu tinha uma quantidade boa de músicas. Daria até para gravar mais dois discos naquela época. Uma ou outra foi composta naquele momento, mas a maioria eu já tinha realmente pronta na minha sacola de versos.


Resenhando - A indústria da música vem mudando nos últimos anos. Como você analisa o quadro atual para o músico?

Zé Geraldo – Depois dos discos na CBS e dos dois da gravadora Copacabana, em me tornei um artista independente, apesar de ter discos distribuídos pela Gravadora Eldorado, por exemplo. A partir do momento que eu descobri que eu tinha uma legião de admiradores, isso salvou a minha carreira. Eu estava pensando seriamente em parar, depois que as gravadoras passaram a investir para tocar seus lançamentos. Nessa época eu fui deixado de lado. Então, quando percebi que tinha admiradores, virei as costas para o mercado e cai na estrada para levar minha música para o público.


Resenhando - Como funciona o seu processo criativo? O que vem primeiro, melodia ou letra? Ou vem os dois simultaneamente?

Zé Geraldo – Eu não tenho um modelo definido. Às Vezes vem um pedaço de letra que cantarolo ao violão. Na maioria das vezes eu escrevo a letra primeiro. Mas já tive momentos em que a melodia veio antes da letra. Na verdade, não tenho um esquema definido. Minha produção é com liberdade total.


Resenhando - Você também participou de festivais nos anos 70. Ainda há espaço para novos festivais na atualidade?

Zé Geraldo – Sim. Eu acredito que há espaço. Lembro dos festivais das emissoras de TV que foram importantes em suas épocas. Eu sempre aconselho os músicos iniciantes a tocar nos festivais, que ainda são um veículo eficaz de divulgação. Eu sempre procuro tocar em festivais, porque gosto muito daquele ambiente que se cria nesses eventos.


Resenhando - Em um de seus trabalhos tem parceria com o Zeca Baleiro. Fale sobre essa parceria e cite outros parceiros também

Zé Geraldo – O Zeca Baleiro era meu vizinho na Vila Madalena. Minha filha uma vez me disse que eu tinha que conhecer um músico, que veio do Maranhão. Um belo dia ele convidou minha filha para almoçar em casa e disse para me levar junto. Daí nasceu nossa primeira parceria. E já tem uma segunda pronta que lançarei em breve. Ele é um grande amigo e um talento raro na música. Mas tive outros parceiros, como o Mario Marcos, irmão do saudoso Antonio Marcos, o Antonio Porto, músico do Mato Grosso do Sul. Não são muitos parceiros, mas todos eles são muito especiais.


Milho aos Pombos


Como Diria Dylan


Cidadão



sexta-feira, 29 de março de 2024

.: Box resgata discos do Black Sabbath com Tony Martin no vocal


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Um relançamento aguardado há anos finalmente vai acontecer. Trata-se do box "Anno Domini – 1989-1995", da banda de rock Black Sabbath, que resgata o período em que contava com Tony Martin no vocal.

É preciso lembrar aquele momento da banda, que atravessava uma série de problemas com as mudanças constantes de formação após a saída de Ozzy Osbourne e, posteriormente, Ronnie James Dio. O guitarrista Tommy Iommi foi o único da formação original que permaneceu em todos os discos, firme no propósito de levar adiante sua música. No final dos anos 80 encontra o cantor Tony Martin que assume os vocais da banda, com Cozy Powell na bateria e Geoff Nichols nos teclados.

Se por um lado a sonoridade difere bastante do período inicial (da era Ozzy), a era Tony Martin teve o mérito de ajudar a manter acesa a chama do grupo, com um som bem próximo do estilo heavy metal. Provavelmente influenciado pelo estilo do então novo vocalista e pelo fato do estilo na época estar em alta com o público.

A colaboração de Martin resultou no lançamento dos discos inclusos no box: "Headless Cross", "Tyr", "Cross Purposes" e "Forbidden". Iommi incluiu algumas faixas bônus que despertarão os fãs da banda. E remixou as faixas de Forbidden especialmente para esse relançamento. Só ficou de fora o álbum "Eternal Idol", que na prática é o primeiro da fase com o Tony Martin.

O box inclui um livreto com fotos, obras de arte e notas de capa de Hugh Gilmour. A coleção também contém um pôster de "Headless Cross" e uma réplica do livro de concertos da turnê do disco. Com essa iniciativa, Iommi consegue manter viva a história do grupo. Ainda que seja um período inferior em comparação com o inicial, vale a pena conhecer mais detalhes dessa fase da banda.

"Headless Cross"

"Feels Good To Me"

sexta-feira, 22 de março de 2024

.: Entrevista: Chico e João Faria, do duo Mano a Mano, unidos pela música


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Filhos de dois ícones da MPB – Cynara (Quarteto em Cy) e Ruy Faria (MPB-4) – os irmãos Chico e João Faria decidiram unir forças em um projeto musical destinado a preservar o legado de seus pais. Batizado de Mano a Mano, o duo pretende explorar um repertório vasto e rico de nossa música. Canções que foram cantadas por seus pais e outras que marcaram épocas nas vozes de outros artistas consagrados. Inicialmente o duo investirá em interpretações, mas no futuro nada impede de investir também em um material autoral.

Os irmãos Faria não são iniciantes. Chico, por exemplo, já gravou um disco com canções de um certo xará famoso (Chico Buarque). E João Faria é um músico requisitado para gravações e apresentações ao vivo, sendo um habilidoso baixista e que também possui um material autoral interessante. Em entrevista para o Resenhando, a dupla conta como foi possível viabilizar a iniciativa do projeto Mano a Mano e comenta o panorama atual da MPB. “O Brasil é um País muito rico musicalmente”, afirmam.


Resenhando.com – Vocês já atuam na música há alguns anos e até já tocaram juntos em vários momentos. Qual será a novidade em relação ao projeto atual, o Mano a Mano?
Chico e João Faria –
Pois é, já temos uma carreira sólida como músicos. Realmente tocamos juntos no Quarteto. Em Cy e com Dudu Nobre, Diogo Nogueira, e em muitas gravações com outros artistas. A grande novidade é que estamos cantando juntos agora. Estamos trazendo um repertório baseado na nossa vivência musical e juntando a linda história dos nossos pais. Um repertório de muita qualidade e que representa tudo que aprendemos e vivemos nesses anos de música.

Resenhando.com – Seus pais exploraram um repertório incrivelmente vasto em seus respectivos grupos vocais. Como vocês pretendem mostrar esse material?
Chico e João Faria –
Esse repertório dos nossos pais é mesmo muito rico. Temos selecionado inicialmente músicas emblemáticas e que contam histórias importantes para nós. Mas como a quantidade é enorme, temos variações para construir um roteiro bonito. E, modéstia à parte, está lindo.


Resenhando.com – Como vocês pretendem mostrar esse trabalho ao vivo? Apenas em dupla ou com mais músicos acompanhando?
Chico e João Faria –
Já temos uma banda praticamente definida, com grandes músicos. Os shows ao vivo podem variar, devido a demanda e palcos. Tanto podemos fazer em dupla, com Chico ao violão, no formato pocket show, ou explorar formações variadas com até cinco músicos.

Resenhando.com – Há planos para produzir material autoral no futuro?
Chico e João Faria –
Sempre temos ideias de composição autoral. Mas nesse início, por enquanto, vamos atacar de intérpretes mesmo, criando arranjos e também aproveitando arranjos originais que são sucessos.


Resenhando.com – Como vocês analisam o atual panorama da MPB?
Chico e João Faria –
Nós ouvimos de tudo.  Estamos atentos para as novidades. Gostamos dos compositores que estão surgindo. A música brasileira está se renovando. Somos otimistas. Mas reverenciamos e temos com a gente no nosso convívio os grandes mestres que se consolidaram durante esse tempo todo. São nossos ídolos. Gostamos dessa diversidade que o Brasil tem.

"Argumento"

"Pecado Capital"

sexta-feira, 15 de março de 2024

.: A infinitude do tempo e do mar no disco de estreia de Carlos Cavallini


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Radicado há alguns anos em Portugal, o cantor e compositor Carlos Cavallini está lançando o seu primeiro disco autoral, intitulado "O Tamanho do Tempo". Uma iniciativa na qual buscou sintetizar suas influências em um trabalho de extremo bom gosto, que aponta para novos caminhos na MPB utilizando o seu cotidiano como principal fonte de inspiração.

Dono de uma voz suave e afinada, Cavallini mostra um tipo de interpretação no estilo cool, em que a mensagem transmitida nas letras oferece momentos de reflexão para o ouvinte. A faixa "Nem Todo Mundo" exemplifica o tipo de mensagem que ele deseja passar: “...Nem todo mundo acredita/ No mesmo Deus que você/Nem todo mundo precisa acreditar...”.

Na faixa "Natureza" se destacam os sopros suaves nos arranjos de trompete e flugelhorn de Aquiles Moraes. E uma letra com mensagem simples e pertinente, lembrando que todos nós fazemos parte da natureza. Na faixa "Sempre Mar", Cavallini procurar ilustrar para o ouvinte o que representa o mar em sua poesia, de uma forma conectada com a paisagem da natureza que ele observa atualmente em terras portuguesas. O resultado ficou acima da média.

O álbum foi produzido por Domenico Lancellotti e Ricardo Dias Gomes, que também fizeram arranjos e contribuíram instrumentalmente no projeto. Além disso, conta com colaborações de músicos de destaque como Pedro Sá, João Erbetta, Davi Moraes, Aquiles Moraes e Jonas Sá. A acordeonista, cantora e compositora Celina da Piedade, participa de uma das faixas do disco.

Cavallini estuda Etnomusicologia na Universidade Nova de Lisboa e prepara-se agora para a sua estreia no panorama musical. "O Tamanho do Tempo" é um mergulho na riqueza da música brasileira, refletindo uma diversidade de influências musicais. Um começo e tanto para um iniciante.

"Nem Todo Mundo"

"Sempre Mar"

"Natureza"

sábado, 9 de março de 2024

.: Integrantes da Banda Front falam sobre viagem musical em nome da arte


“A Front é uma manifestação artística com muitas ramificações”
.

Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Fundada em 1983, no início do movimento do Rock Brasil, a banda Front acabou não seguindo adiante naquela ocasião. Isso porque todos seus integrantes originais – Nani Dias, Ricardo Palmeira e Rodrigo Santos - acabaram sendo escalados pela nata do pop rock para integrarem suas respectivas bandas. 

Com isso, eles acabaram tocando com nomes como Cazuza, Blitz, Leo Jaime, Kid Abelha, Lobão, Barão Vermelho, só pra citar alguns exemplos. E agora, depois de 40 anos, o trio da formação original se reuniu para reativar o antigo projeto, que consistia em gravar canções autorais com foco na música eletrônica e na sonoridade pop dos anos 80. Em um curto espaço de tempo, já lançaram três álbuns e estão em fase de produção do quarto disco! Em entrevista para o Resenhando, os músicos Nani Dias, Rodrigo Santos e Ricardo Palmeira contam como se deu o retorno da banda e a elaboração do processo criativo do grupo. 

Resenhando – Como foi que surgiu a oportunidade de reunir os integrantes da banda Front?
Rodrigo Santos -
Estávamos já tocando uns com os outros em projetos diferentes, quando veio a ideia da volta do Front. Não exatamente como uma banda tradicional dos 80, buscando um lugar ao sol. Esse lugar já conquistamos. Queríamos uma nova forma de ver a arte e a vida como um todo. Um manifesto em movimento, sair da mesmice que vemos por aí. Gostamos de coisas bem plurais e flertamos com a música eletrônica dessa vez. Porém, o Front não tem fronteiras. Tanto não tem, que começamos a gravar álbuns pelo mundo todo, com músicas em estilos variados. Começamos a compor muito em agosto de 2023. O que já daria para fazer uns 10 álbuns. O que resolvemos fazer é viver de arte, de uma forma inusitada. Todos temos milhares de projetos. Somos compositores, produtores etc. E nos conhecemos há 40 anos. Tinha de ter desafio. E o desafio foi começar a gravar, filmar e misturar cultura, turismo, história, música, artes plásticas viajando pelo mundo. Os dois primeiros discos foram gravados no Brasil e lançados em outubro do ano passado. Aí, partimos pra Berlim em novembro para gravar no Hansa Studio, o mesmo de Bowie, U2, REM, Bjork, Depeche Mode e muitos outros. O berço da música eletrônica. Com nossa experiência de décadas, sabemos o que queremos, porque queremos e o que fazer na pré e pós-produção e gravação dos álbuns. Dois meses depois - lançamos em janeiro de 2024 o terceiro álbum - já estávamos em Amsterdam e Hilversum na Holanda, pra gravar o quarto álbum no mesmo estúdio que gravaram The Police, Elton John, Mick Jagger, etc : o Wisseloord Studios. Mais um local maravilhoso, icônico.


Resenhando - Por que no início, em 1983, a banda não seguiu o mesmo curso das outras que fizeram sucesso naquele período? Faltou mais divulgação naquela ocasião?
Nani Dias –
Na verdade, nós estávamos seguindo o curso natural das bandas, tocando nas danceterias, festivais e buscando as gravadoras. Gravamos pela CBS um single pra coletânea Os Intocáveis e um compacto que também entrou na trilha e álbum do filme Rock Estrela. Daí fomos chamados prá banda do Leo Jaime e pulamos pra etapa dos shows top do mercado. O Leo tinha 10 hits nas paradas, circuito primeira linha ... daí seguimos "bem acostumados",  tocando com outros artistas top: Cazuza, Lobão , Kid Abelha , Paulo Ricardo,  Blitz... Rodrigo como músico fixo no Barão...E agora, passados 40 anos , aproveitamos bem toda nossa história pra continuar a escrever novas canções e desfrutar da liberdade que a nossa história nos deu, abrindo caminhos e grandes experiências.


Resenhando – Cada integrante da Front tem um currículo bem significativo na música. Como isso contribuiu para vocês nesse momento atual?
Ricardo Palmeira -
Nos reencontramos no auge artístico de nossas carreiras. Está sendo muito gratificante. Ainda temos a mesma afinidade musical e o resultado está sendo ótimo.


Resenhando  – Como funciona o processo criativo da banda? Todos compõem?
Rodrigo Santos -
Todos compõem, todos participam juntos dos arranjos, a afinidade e amizade são tão grandes, que tentamos desde o início convergir no que os três curtem. Só assim dá certo. As ideias podem vir de várias maneiras. Um som. Uma letra. Ambos ao mesmo tempo. Depois, claro, vamos mexendo até chegar ao ponto certo para os três. Seja na letra, seja na melodia, mixagem etc. É muito unido esse processo. Aliás tudo. Tudo é muito leve e unido.

Resenhando – De 83 para cá, muita coisa mudou na indústria da música. Como você encaram esse momento atual?
Ricardo Palmeira -
O momento atual da música pop está extremamente propício para os músicos da nossa geração, pois artistas de ponta como Harry Styles, The Weekend, Coldplay e Ariana Grande estão usando e abusando da estética musical dos anos 80, combinando com a linguagem eletrônica atual. Como já estávamos mergulhando naturalmente nessa onda, nos sentimos completamente à vontade para participar do cenário contemporâneo e ainda por cima trazer elementos rítmicos brasileiros e de outras culturas consideradas exóticas, pra enriquecer essa mistura.

Resenhando – Como ficam as carreiras solo dos integrantes? Seguem em paralelo?
Rodrigo Santos -
Sim, faremos tudo que quisermos o tempo todo. Tem espaço para tudo. Arte não tem limites ou limitações. O que interessa é a vontade de ficar junto e fazer coisas juntos. Exclusividade não combina com a proposta do Front. E sim a mistura de tudo um pouco! Há espaço e tempo pra tudo. O que importa é estar de bem com a vida e fazer com dedicação, feliz, focado. E isso nós temos de sobra. Então na minha opinião nada briga com nada, tudo se completa e quero viver junto tocando com esses caras pra sempre! Exatamente porque não tem amarras ou fronteiras. Isso chama-se maturidade. Emocional e musical. Quanto mais coisas fizermos, melhor como pessoas ficamos. Serve prá vida o exemplo do Front. Por isso essa “volta” faz tanto sentido. Porque não é uma volta. É uma ida! Um trem para as estrelas. It’s a Long Way Now.

Resenhando – Como está a gravação do quarto disco?
Rodrigo Santos -
Já estamos na mixagem do quarto álbum, gravado na Holanda em fevereiro de 2024. Os três primeiros ("Tempo/Espazo", "Espazo/Tempo" e "The Hansa Album") já podem ser ouvidos nas plataformas de streaming

Resenhando – Há planos para shows neste ano?
Rodrigo Santos -
Sim, claro! Mas não um show qualquer. Estamos criando conteúdo primeiro, fazendo parceria com uma rádio e TV e depois vamos chegar com o show. Estamos preparando algo diferente para o público.


"A Tempestade"

"Sem Você"


"Valeu"

sexta-feira, 1 de março de 2024

.: Disqueria: o fim de uma era e o início de outra


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

Fundada em 1986, a Disqueria anunciou o fechamento de suas portas no final de fevereiro. Vai deixar de ser uma loja física para desbravar o ambiente virtual, ainda oferecendo uma série de discos de vinil, CDs e livros, além de outros tipos de produtos procurados por colecionadores.

Apesar da novidade da loja virtual ser um alento, é impossível deixar de sentir uma ponta de saudade desse local, que marcou época comandado pelo saudoso DJ Wagner Parra, que cuidava das seleções musicais que tocavam no Bar da Praia e do Bar do Torto, no qual criou os eventos denominados Vitroladas, levando sempre uma seleção de músicas sempre com o foco na produção latino-americana e nacional.

Lembro que a loja chegou a funcionar na Rua Goias, quase esquina com o Canal 3, no Gonzaga, antes de se mudar para a Avenida Conselheiro Nébias, 850, no Boqueirão. E foi na Disqueria, entre um papo e outro, que o Parra me falava os nomes dos cantores e cantoras latinos mais significativos. Nomes como Willie Colon, Celia Cruz, Tito Puente, Ruben Blades e Hector Lavoe chegaram até mim por intermédio de Parra. Se hoje eu passei a conhecer um pouco mais sobre as canções latino-americanas, devo isso ao Parra e seu inesgotável arsenal sonoro.

Numa dessas visitas, ele me mostrou um disco do percussionista Chico Batera, de 1979, que tinha uma canção chamada "La Rumba", que depois me lembrei que ouvi na época em que ele discotecava no Bar da Praia. Ele ficou surpreso quando reconheci a canção, cujo arranjo era baseado na conhecida salsa cubana.

Ali, na loja física, adquiri uma série de discos de vinil e CDs que hoje compõem a minha modesta coleção. Desde jazz (Duke Ellington, Miles Davis, etc.), passando pelas orquestras tipo Easy Listening e alguns clássicos da MPB (Lo Borges, Chico Buarque, etc). E, claro, rock clássico (Jethro Tull, Led Zeppelin, entre outros). São tantas passagens marcantes na Disqueria, que seria impossível resumi-las em um único texto.

Mas é compreensível a decisão da companheira de Parra, Claudia Chelotti, que após o falecimento dele, em 2015, conseguiu prosseguir firme com a loja funcionando. Com o passar dos anos, é natural que o dono ou dona do estabelecimento queiram ter uma qualidade de vida melhor, de acordo com o momento que eles vivem. Por tudo que a Disqueria nos proporcionou ao longo de todos esses anos, só temos que agradecer a Claudia Chelotti. E iremos conferir com certeza o ambiente virtual da loja, que pode ser acessado pelo link https://disqueria.mercadoshops.com.br.

"La Rumba" (Chico Batera)

"Quimbara" - Celia Cruz e Tito Puente

"Che Che Cole" - Willie Colon e Hector Lavoe"

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

.: "A Noite que Mudou o Pop": Netflix e o documentário do projeto USA for Africa



Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

A Netflix disponibilizou o documentário "A Noite que Mudou o Pop", que mostra os bastidores da gravação da canção "We Are The World" para o projeto USA for Africa. A produção desvenda a incrível odisseia que foi reunir um time de cerca de 50 artistas em pleno auge de suas carreiras para participar da histórica gravação.

A proposta se baseava em gravar uma canção para arrecadar dinheiro para a Etiópia, que na época atravessava uma grave crise humanitária, com um grande número de crianças e famílias morrendo de fome. O cantor Harry Belafonte foi um dos mentores da ideia, que se inspirou em no projeto do britânico Bob Geldof, que havia feito algo parecido meses antes.

O documentário se concentra nas memórias de Lionel Richie, autor da canção em parceria com Michael Jackson. E há alguns momentos bem divertidos, como o que Lionel conta quando foi na casa do então Rei do Pop e se deparou com uma cobra e outros animais exóticos. É difícil imaginar como conseguiram conciliar, naquela ocasião, 50 agendas de artistas com a gravação da canção, que ainda foi feita numa única noite, iniciando no dia 28 de janeiro de 1985 e terminando somente na manhã do dia seguinte. Quase doze horas de gravação ininterruptas.

A reunião foi viabilizada no estúdio da AM Records, logo depois da premiação do American Awards. Tudo feito de forma milagrosamente sigilosa. Mas é preciso ressaltar que em 1985 ainda não havia celulares e a internet ainda engatinhava, bem distante de sua força globalizadora e imediatista atual. Talvez hoje isso fosse impossível realizar. Alguns artistas como Bob Dylan e Bruce Springsteen se juntaram ao grupo no estúdio na data combinada.

Cada artista que solou na canção aprendeu praticamente na hora a sua parte, como é mostrado no documentário. Houve exaustivos ensaios até atingirem o efeito desejado. O grande mérito da gravação é atribuído ao produtor Quincy Jones, que além de comandar com pulso firme o grupo, ainda regeu o coro e cuidou da mixagem e produção final.

Há muitos momentos interessantes dos bastidores, como a presença da cantora Sheila E, que confessa ter se sentido usada como isca para atrair o cantor Prince. Mas o fato é que Prince se ofereceu para apenas tocar um solo de guitarra, longe do grupo.  A proposta foi recusada por Quincy Jones. O solo vocal de Huey Lewis, aliás, era originalmente previsto para Prince.

O mais incrível foi notar que todos os artistas ali presentes, sem exceção, deixaram de lado o estrelismo e se comportaram como pessoas comuns. Alguns até aproveitaram a ocasião para pegar autógrafos de seus ídolos ou simplesmente trocar algumas palavras com eles. É possível notar que alguns pontos poderiam ser mais explorados, como o critério da escolha dos solistas. Alguns artistas questionaram na época o fato de só cantarem no coro ao invés de terem alguns minutos de destaque nos solos. Mesmo assim, vale a pena conferir a verdadeira epopeia que foi essa gravação.

Clip de "We Are the World"

Trailer de "A Noite que Mudou o Pop"

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

.: Crítica musical: Caio mostra todo o seu balanço no CD "Passageiro"


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Tinho Souza.

O cantor e compositor mineiro Caio está lançando o seu primeiro álbum autoral. Intitulado "Passageiro", o trabalho funciona como um passeio musicado pelas suas vivências familiares, espirituais e afetivas, além de ser um balanço sobre o que aprendeu ao longo de seus 33 anos de vida.

O ponto de partida para o disco foi o samba. Caio cresceu ouvindo esse ritmo em casa, nos churrascos de família. Seu pai tocava percussão como músico amador em pizzarias, num grupo de pagode de amigos. A produção do disco funde o samba com outros ritmos brasileiros, somando batidas eletrônicas numa simbiose de tradição e vanguarda. Os produtores do álbum (Douglas Moda e Nave) conseguiram captar muito bem essa atmosfera.

A voz forte e afinada de Caio é outro ponto forte. Ele consegue interpretar com maestria vários ritmos, mas é no samba que ele se sente mais à vontade, como se percebe na faixa título ("Passageiro") e em "Despachei Você". Duas canções que ajudam a entender o caminho escolhido por Caio para ilustrar a sua musicalidade.

Junto com Iza, Felipe Sassi e Nídia Aranha, Caio ganhou o Prêmio Multishow de 2023, na categoria “Melhor Capa”, pela direção criativa de “Afrodhit”. A escolha do nome "Passageiro" teve muito a ver com a visão do artista sobre esse trabalho. “Eu acredito que o álbum cumprirá o papel dele, acessará quem está predestinado a ouvi-lo e, fechado esse ciclo, tudo segue. A vida caminha. Meus objetivos mudam. Não quero estabelecer um ponto de vista fixo sobre chegar a algum lugar. Quero ecoar essa mensagem durante o tempo em que ela fizer sentido. Nós somos passageiros nesse plano terrestre. Tudo é. Por que esse trabalho não seria?”, assinala o cantor.

Recentemente Caio lançou o single "Sente o Tambor", cantado em dueto com Daniela Mercury. Trata-se de uma canção que mescla elementos de samba-reggae e pop. A produção do single também foi de Douglas Moda, apresentando uma batida bem dançante, partindo dos arranjos da primeira versão de 2019. O CD "Passageiro" e o single "Sente o Tambor" já estão disponíveis nas principais plataformas de streaming. E quem quiser conhecer mais sobre o trabalho do artista mineiro pode acessar seu canal no YouTube (@CaioOficial).


"Passageiro"

"Despachei Você"

"Sente o Tambor"

sábado, 10 de fevereiro de 2024

.: Crítica musical: Luarada Brasileira resgata o autêntico forró pé de serra


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O músico Cicinho Silva se uniu a outros músicos talentosos para fundar o grupo Luarada Brasileira, um projeto que busca resgatar o som do autêntico forró, transitando entre o tradicional pé de serra e o contemporâneo. Eles preparam um EP autoral intitulado "Três É Demais" que estará disponível nas plataformas em breve e já vem divulgando o trabalho em apresentações ao vivo.

O grupo é formado por Cicinho Silva (sanfona), Ivan Rodrigo (zabumba), Clebinho Santos (voz e triângulo) e Antonio Batista (guitarra, recém-integrado ao trio original). Todos artistas de carreira consolidada na música brasileira. A trajetória do Luarada, apesar de recente, já soma mais de 60 apresentações, além do lançamento do primeiro EP, Três É Demais (2024), que chega para consolidar o trabalho.

O grupo foi batizado de Luarada Brasileira pelo poeta cordelista Cacá Lopes como uma homenagem ao rei do baião, Luiz Gonzaga, que recebeu o apelido carinhoso de Mestre Lua. Também é uma referência a um dos clássicos da música brasileira, a toada “Luar do Sertão”, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense, que o próprio Gonzagão regravou, em 1981.

O forró e suas vertentes, assim como a música nordestina, estão presentes em cada um dos componentes do grupo. Todos têm raízes familiares nordestinas fortalecidas com forró pé de serra. “O forró acolhe as novas tendências musicais, reinventa-se fortalecendo a cultura popular que continua existindo e resistindo. O forró é nosso Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, reconhecido pelo IPHAN, em 2021”, assinala o sanfoneiro Cicinho Silva.

Quem quiser conhecer o trabalho do Luarada Brasileira pode acessar os perfis do grupo nas redes sociais: Instagram: @luaradabrasileira | Facebook - Luarada Forró e YouTube  - @LuaradaBrasileira.

"Longe ou Perto de Mim"

"Nilopolitano"

sábado, 3 de fevereiro de 2024

.: Crítica musical: Danilo Caymmi recria clássicos da MPB em disco


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 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O cantor, compositor e músico Danilo Caymmi lançou o álbum “Danilo Caymmi Andança 5.5”, uma referência ao clássico eternizado por Beth Carvalho na época dos festivais. E resgata canções desse fértil período de nossa música, em releituras que ficaram acima da média.

O repertório é fruto de uma pesquisa do músico e produtor Flávio Mendes, que já havia produzido o projeto "Danilo Caymmi Canta Tom Jobim". Ele trouxe uma lista de músicas lançadas no entorno de “Andança” e dos Festivais da Canção, do final dos anos 60. A partir desta seleção, chegaram a um consenso sobre o que entraria no disco.

“Danilo Caymmi Andança 5.5” é um álbum de intérprete, uma espécie de trilha sonora da sua trajetória musical. Mesmo reunindo clássicos como “Sabiá”, “Pra Não Dizer que Não Falei de Flores”, “Travessia”, “Pra Dizer Adeus”, “Eu a Brisa”, “Viola Enluarada” e “Andança”, entre outros, não tem caráter saudosista, como explica Danilo: “A ideia foi gravar essas canções à minha maneira, dar novas versões para elas. Eu sinto que estou no meu melhor momento como intérprete e o disco traduz muito bem esse momento”.

A capa do álbum reproduz um dos quadros pintados por Danilo Caymmi  durante a pandemia. Estudante de arquitetura, Danilo herdou do pai Dorival não só a veia musical, mas também o talento para a pintura. Difícil apontar uma faixa como destaque. Todas estão muito bem produzidas e a voz de Danilo está cada vez melhor. Assim como seus irmãos (Nana e Dori Caymmi), ele mostra ser um excelente intérprete, capaz de trazer as canções para o seu estilo suave de cantar.

"Viola Enluarada"

"Andança"

 
"Travessia"

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

.: Graziela Medori resgata a obra de Marcos Valle em disco


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 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Alexandre Vianna

Com 13 anos de carreira, Graziela Medori coleciona projetos musicais bem interessantes. Agora ela apresenta um novo disco, o quinto de sua discografia, colocando luz em canções menos conhecidas do consagrado compositor Marcos Valle, que completou 80 anos recentemente. Um tributo mais do que oportuno, que comprova a riqueza da obra do autor carioca.

O disco conta com arranjos de Alexandre Viana, que toca teclados, além de João Benjamim no baixo e Rafael Lourenço na bateria. Os arranjos em formato de trio acabaram por valorizar a bela voz de Graziela e as canções do mestre carioca. Como as faixas escolhidas são desconhecidas pela maior parte do público, o trabalho soa como se fosse algo inédito para o ouvinte.

A relação musical de Graziela com Marcos Valle já vem de longa data. Sua mãe, a cantora Claudya, gravou várias canções dele nos anos 70. E a própria Graziela interpretou algumas composições do autor carioca em sua discografia.

O disco foi lançado pela gravadora Joia Moderna.  O repertório foi selecionado pelo DJ Zé Pedro, idealizador do disco, que acabou por fazer uma viagem pela obra do consagrado músico. Tem canções mais recentes como Vamos Sambar (de 2010., parceria de Valle com Marcelo Camelo), Curvas do Tempo (de 2009, parceria de Valle com Celso Fonseca), América Latina (de 1972, parceria com o irmão Paulo Sérgio) , entre outras pérolas musicais.

Foto: Alexandre Vianna

Difícil escolher uma faixa como a melhor. Todas contam com arranjos que lembram os bons momentos dos anos 60 e 70.  Gosto muito de “Qual é?”, que daria para imaginar também Elis Regina cantando com toda sua sua malemolência e graça. Aliás, se Elis tinha Cesar Camargo Mariano, Graziela conta com Alexandre Viana, que também mostra ser um músico de primeira linha, seja nos teclados, seja nos arranjos luxuosos e discretos.

Graziela entrou de cabeça no balanço inconfundível de Marcos Valle. E é uma satisfação ouvir sua voz tão segura de si, sabendo a direção a ser dada em sua carreira. E que ela continue nos brindando com lançamentos de extremo bom gosto musical como esse.


America Latina


Qual é?


Curvas do tempo




sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

.: Crítica musical: Linda Ramalho presta tributo ao pai em disco


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 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Leo Aversa.

“Linda Ramalho canta Zé Ramalho” (Avôhai/Discobertas), primeiro álbum da filha caçula do célebre compositor paraibano, já pode ser ouvido nas plataformas de streaming. Para produzir o álbum, ela convidou o músico, arranjador e produtor Robertinho de Recife, que também assina mixagem e masterização do projeto.

As dez músicas foram escolhidas a partir de uma lista dos principais sucessos, mas também levando em conta as que mais se identificavam com a voz de Linda. “A vida, enquanto ritual, existe para celebrar, e aqui estamos para celebrar a entidade Zé Ramalho que existe dentro de cada um de nós”, assinala Linda Ramalho.

No repertório estão clássicos como “Chão de Giz", “Eternas Ondas", "Admirável Gado Novo” e “Vila do Sossego", em arranjos que traduzem a veia roqueira de Linda Ramalho. Ora mais pop, ora com pitadas de hardcore. No final das contas, é o rock que prevalece.

O entrosamento com o seu trio, com o qual Linda pretende ir para estrada com o novo show, também foi fundamental para trazer o rock para o universo de Zé Ramalho: o power trio é formado por João Guilherme Ferreira no baixo, Jeffersom Cardim na guitarra (o China) e Caco Braga na bateria. A capa do disco foi inspirada na capa de "A Terceira Lâmina", álbum que Zé Ramalho lançou em 1981.

Graduada em artes cênicas, a estreia de Linda Ramalho na música foi como vocalista e líder da banda de covers Linda and the Spacehearts. No início de 2023, lançou um EP autoral produzido por Zé Ramalho chamado “Adrenalina”, e agora apresenta o primeiro álbum de sua carreira.

A ideia de trazer o universo poético de Zé Ramalho para o rock parece até natural. Afinal, o compositor paraibano flertou com o estilo musical rebelde em várias ocasiões. Mas as versões de Linda soam desafiadoras, não só pelo fato do autor ser seu pai. Mas pelo simples desejo de tornar suas releituras convincentes para o público. Pelo menos para mim, ela conseguiu atingir o seu objetivo.

"Vila do Sossego"


"Chão de Giz"

"Admirável Gado Novo"

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

.: CD "Muita Lindeza" traz composições de Carlos Rennó e parceiros


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. 

Já chegou nas plataformas de streaming o projeto que apresenta dez canções do compositor Carlos Rennó com diversos parceiros, em um repertório pop com letras que falam de amor. Parceiros e convidados se dividem nos vocais do álbum, que conta com Apollo Nove na produção e divulgado pela gravadora Biscoito Fino.

"Muita Lindeza - Letras de Amor de Carlos Rennó e Músicas de Parceiros" é um álbum de letrista. Segundo o autor, o projeto representa uma grande realização artística. “Pois pela segunda vez, traz uma reunião de canções minhas, nas vozes de vários parceiros e artistas”.

O álbum conta com as participações de Paulinho Moska, Samuel Rosa e Juliano Rosa, Moreno Veloso, Gilsons e Cortejo Afro, José Gil e Mariá Pinkusfeld, Preta Ferreira, Moraes Moreira e Davi Moraes, Marcelo Jeneci, Felipe Cordeiro e o uruguaio Jorge Drexler. Nove faixas foram lançadas no formato de singles ao longo dos últimos meses pela Biscoito Fino, com exceção de “Sá”, parceria de Rennó com Drexler.

Foi do produtor paulistano Apollo Nove (que já produziu Rita Lee, Marcelo D2, Seu Jorge) a ideia de fazer um álbum composto somente por canções pop de Carlos Rennó. Apollo vislumbrou uma obra pondo em destaque o outro lado do trabalho do letrista, que nos últimos quinze anos tem se notabilizado por canções de teor político, servindo a causas socioambientais e de direitos humanos.

Algumas faixas, mesmo sem deixarem de ser canções de amor, demonstram um conteúdo com fundo político, como por exemplo a que Rennó fez com Moreno Veloso (”A Sua Vida, Preta, Importa pra Mim”). “É antirracista, política e romântica, ao mesmo tempo”, pontua Carlos Rennó. Outro exemplo de canção romântica “atípica”, na visão do letrista, é “O Laço que Une Eu Você”, feita com Paulinho Moska, um dos parceiros frequentes de Rennó.

O disco inaugura a parceria de Rennó com Samuel Rosa na canção "Declaração", que também tem a participação do filho de Samuel, Juliano Rosa, como autor e intérprete.  Aliás, um outro dueto reúne pai e filho: Moraes Moreira e Davi Moraes, juntos em “Baião pra Uma Baiana em São Caetano” (de 2012). Esta foi a primeira música de Moraes a ser lançada depois do falecimento do eterno Novo-Baiano, uma grande influência musical de Rennó.

A produção de Apollo Nove conseguiu dar um colorido interessante para a obra de Carlos Rennó. E o resultado ficou acima da média, como aliás costuma acontecer nos lançamentos da Gravadora Biscoito Fino. Vale muito a pena a audição.

"Declaração" (com Juliano e Samuel Rosa)


"Sá" (com Jorge Drexler)

"A Rima Perfeita" (com Marcelo Jeneci)

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

.: "Portas Ao Vivo": Marisa e um Monte de hits ao vivo


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 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Leo Aversa.

Ao sair em turnê para divulgar seu mais recente álbum de estúdio, Marisa Monte pôde vivenciar o calor humano que as plateias dos shows proporcionavam, depois de um período de hiato forçado em função da pandemia. E foi pensando nisso que ela acabou decidindo registrar essas apresentações em um disco intitulado "Portas Ao Vivo", para que os fãs pudessem ter uma amostra de seu momento atual e de sua ótima performance ao vivo.

Foram 150 shows em 80 cidades para mais de 500 mil pessoas, passando pela Europa, Estados Unidos e América Latina, além da imensidão do Brasil.  O show do CD foi gravado no Rio de Janeiro, na Arena Jockey, em outubro de 2022.

A excelente banda de apoio contou com Dadi Carvalho (baixo, guitarra e piano), Davi Moraes (guitarra), Pupillo (bateria), Pretinho da Serrinha (percussão e vocais), Chico Brown (teclados e guitarra), Antonio Neves (trombone e arranjo de metais), Eduardo Santanna (trompete e flugelhorn) e Oswaldo Lessa (sax e flauta).

A adição dos metais na banda deu um colorido interessante para as canções, mesmo nas mais conhecidas de seu repertório, como "Maria de Verdade", "Na Estrada" e "Ainda Lembro". De uma certa forma, os arranjos ficaram mais encorpados, preenchendo os espaços vazios. Da produção mais recente, Marisa canta "Portas", 'Quanto Tempo" e "A Língua dos Animais". Tem ainda a participação especial de Jorge Drexler que canta com Marisa a balada "Vento Sardo".

Marisa também resgata algumas canções conhecidas como "Doce Vampiro" (em homenagem a Rita Lee), "A Lua e Eu" (de Cassiano), "Lamento Sertanejo" (de Gilberto Gil e Dominguinhos, cantada em dueto com Waldonys), "A Vida de Viajante" (de Gonzaguinha, que gravou originalmente com seu pai, Luiz Gonzaga) e "Felicidade" (de Lupicínio Rodrigues).

Olhando com atenção a sua discografia, percebemos que Marisa Monte nem precisava lançar novo álbum ao vivo. Mas podemos dizer que esse CD "Portas ao Vivo" corresponderá aos anseios dos fãs, especialmente aqueles que não conseguiram estar presentes nos shows. Vale muito a pena a audição.

 "Portas"

"Maria de Verdade"

"Doce Vampiro"

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

.: "Rockstar": Dolly Parton também é do rock com o 49º álbum da discografia


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 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. 

Ao ser indicada para o Hall Of Fame do Rock, a cantora Dolly Parton chegou a pensar em declinar da homenagem, por conta de sua forte identificação com a música folk. Ela achou que seria mais digno receber o prêmio lançando um disco de rock. E a ideia se concretizou com o álbum "Rockstar", o 49º de sua discografia, que conta com participações de nomes como Paul McCartney, Ringo Starr, Sting, Peter Frampton, Steve Perry e Debbie Harry, entre outros. E acredite: o resultado ficou acima da média.

Não que seja uma surpresa tão grande assim ouvir Dolly Parton cantando rock. É possível lembrar dela em algum momento interpretando canções mais calcadas no pop rock. Uma das mais conhecidas é "9 to 5", tema do filme “Como Eliminar seu Chefe”, que ela também estrelou como atriz. Mas dessa vez ela resolveu levar a sério. Elevou o seu tom roqueiro para níveis que jamais conseguiríamos imaginar nos seus 77 anos de idade e 56 anos de carreira.

Nesse álbum ela resgata de forma competente algumas canções consagradas, como "Every Breath You Take" (com Sting), "Baby I Love Your Away" (com Peter Frampton), "Magic Man" (com Ann Wilson), "Long As I Can See The Light" (com John  Fogerty), "Don't Let The Sun Go Down On Me" (com Elton John), entre outros. E ainda conseguiu a proeza de reunir Paul McCartney e Ringo Starr na releitura de "Let It Be", dos Beatles.

Gostei muito de "You-re No Good", hit resgatado do repertório de sua amiga Linda Ronstadt. Nessa faixa ela divide os vocais com Emmylou Harris e Sheryl Crow, que abrilhantaram ainda mais a canção. A sua versão de "We Are The Champions", do Queen, deixaria Freddie Mercury orgulhoso, assim com a releitura de Purple Rain, de Prince, que também certamente aprovaria a gravação. Ela também surpreende com o resultado do dueto com Rob Halford, da banda Judas Priest, na faixa "Bygones". Uma prova concreta de que os estilos opostos podem se unir perfeitamente na música.

Dolly só exagerou ao incluir "Stairway To Heaven", do Led Zeppelin. A gravação dela não ficou abaixo da média, mas soa um pouco deslocada em relação às demais que compõem o repertório. Se fosse parte de um tributo específico ao Led Zeppelin, até se encaixaria no set list. As duas faixas inéditas ("Rockstar" e "World On Fire") seguem o espírito roqueiro das canções mais conhecidas. Mas é preciso destacar o lado intérprete de Dolly Parton. Sua voz segue limpa e cristalina, se moldando com perfeição em todas as canções, seja nas mais agitadas, seja nas baladas.

"Rockstar" é uma agradável surpresa para quem acompanha o trabalho de Dolly Parton. Mostra que os seus horizontes musicais podem ir muito além da música folk. Ela acabou provando que também é do rock, com certeza.

"We Are the Champions/We Will Rock You"

"What-s Up"

"Let It Be"

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

.: Entrevista com Vico Iasi: Carbono 5 divulga 1° álbum, "Pedra Sobre Pedra"


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 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. 

A banda paulistana Carbono 5 está divulgando seu primeiro álbum, intitulado "Pedra Sobre Pedra". São dez canções autorais na linha do pop rock, mas com influências de elementos da MPB. O grupo conta com Vico Iasi (vocal e guitarra base), Mauricio Barros (guitarra solo), Alexandre Hashimoto (baixo) e Marcelo Viterite (bateria) Vico Iasi e Maurício Barros são jornalistas e agora decidiram investir firme no projeto da banda, que apresenta um som interessante, com letras e mensagens diretas para o público. Em entrevista para o Resenhando, Vico explica como foi a decisão de seguir carreira na música e acredita que ainda há espaço para novas bandas. “O público que curte o rock é fiel ao estilo”.

Resenhando.com - Você tinha mais de 20 anos de carreira no Globo Rural. Como foi essa decisão de seguir na música?
Vico Iasi -
Para o público do programa "Globo Rural" foi um choque e tanto. Eu tinha chegado ao posto de chefe de redação do Globo Rural, além de apresenta-lo eventualmente. Mas para mim foi muito simples e fácil seguir esse caminho. A música sempre esteve presente de alguma forma. E senti que poderia ampliar mais esse sonho. Conheço o Mauricio (Barros) desde os tempos da Faculdade. Há uma interação que funcionou ainda melhor com os demais integrantes (Alexandre Hashimoto e Marcelo Viterite). O Maurício segue no canal BandSports e em paralelo mostra seu talento na guitarra e como compositor.


Resenhando.com - Como funciona o processo criativo da banda?
Vico Iasi -
Eu e o Maurício formamos o núcleo de composição. Temos algumas canções em parceria e outras assinadas individualmente. A concepção dos arranjos é discutida por todos os integrantes.


Resenhando.com - Quais são suas principais influências musicais?
Vico Iasi -
O rock clássico, representado por bandas como Beatles, Rolling Stones e Deep Purple. No Brasil, posso citar Mutantes, Rita Lee, Secos e Molhados, Novos Baianos, Barão Vermelho entre outros. O Carbono 5 funciona como um caldeirão de influências. Esse nosso primeiro álbum tem uma pegada pop rock, mas tem também alguns elementos de MPB.


Resenhando.com - De uma certa forma, vocês parecem trazer aquele pique do rock nacional dos anos 80. Vocês se identificam com esse movimento?
Vico Iasi -
Totalmente. E é interessante essa pergunta. Veja só: os Titãs lotaram o Allianz Pàrque em três noites, tocando suas canções consagradas. Ao contrário do que alguns dizem, o que percebo é o público do rock querendo ouvir bandas desse estilo. Estamos procurando ocupar esse espaço, mas de uma forma consciente e profissional.


Resenhando.com - E como vocês vêm trabalhando nessa divulgação?
Vico Iasi -
Um dos pontos que diferem nosso trabalho de outras bandas é que eu e o Maurício estamos com mais de 50 anos de idade. No caso do Carbono 5, todos os passos são dados de forma consciente, porque temos um objetivo e sabemos como alcança-lo. Os vídeos no YouTube mostram o nosso dia a dia e nos aproximam do público que acessa a internet. Disponibilizamos o disco nas plataformas de streaming, que é uma outra tendência atual.


Resenhando.com - E os planos para shows?
Vico Iasi -
Temos avaliado a condição para realizar uma turnê em 2024. Estamos vendo a melhor alternativa para cair na estrada e mostrar nossa música para o público. Quem quiser conhecer melhor nosso trabalho pode conferir nosso canal no YouTube (@CARBONO5_BANDA) ou acessar nosso perfil no Instagram (carbono_5) e no Facebook (bandacarbono5). Nós gostamos muito de interagir com o público que curte nosso som.

"Olhos no Mar"

 "Espalhando Flores"

"Paredes de Isopor"

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

.: Entrevista: Frejat, entre o som elétrico e o acústico


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Leo Aversa

Desenvolvendo carreira solo, Roberto Frejat decidiu realizar um projeto que visava trazer suas canções para arranjos mais acústicos, mas sem se afastar por completo do chamado som elétrico. Unindo forças com o filho Rafael e o músico Maurício Almeida, ele fundou o Frejat Trio Eletroiacústico, com o qual vem se apresentando pelo país. E esse registro ao vivo já pode ser conferido nas plataformas de streaming.. Em entrevista para o Resenhando.com, Frejat conta como foi que surgiu a ideia e fala sobre seus planos para o futuro, incluindo um novo CD autoral. “Era um desejo antigo criar novas texturas musicais”.


Resenhando.com - Por que decidiu apresentar um repertório mais intimista ao invés de uma banda completa?
Frejat -
Eu vejo este show como uma versão aumentada do meu show de voz e violão, que eu vinha fazendo antes da pandemia. O projeto Frejat Trio Eletroacústico surgiu de um desejo antigo que eu tinha de criar novas texturas musicais para algumas das minhas músicas. Então, ele tem composições desses meus 40 anos de carreira, mas foram o Rafael Frejat e o Maurício Almeida que criaram, em grande parte, essas novas possibilidades. A sonoridade é acústica, mas também elétrica, como o nome indica.


Resenhando.com - Com esse projeto do trio, você pretende apresentar algo autoral novo ou apenas recriar canções já existentes?
Frejat - O Frejat Teio já está na estrada com esse repertório, que levamos algum tempo preparando e ensaiando. Já fizemos em várias cidades, mas queremos continuar levando o show Eletroacústico para muitos lugares no formato atual, que tem tido excelente repercussão. Mas nada impede que o repertório ganhe novas canções, futuramente.


Resenhando - Fale sobre a experiência de tocar com o filho. Como tem sido a convivência?
Frejat - Nós desenvolvemos uma relação muito gostosa de tocar com muita concentração, mas com muita alegria, e isso transparece para o público, dá um clima muito gostoso pro show. Rafael é muito talentoso: ele tem uma visão, uma capacidade enorme de prestar atenção em todos os detalhes. O talento do Rafael é indiscutível e as pessoas que assistem ao show percebem tudo isso, explicitamente.


Resenhando.com - Como estão os planos para novas apresentações?
Frejat - O Frejat Trio tem se apresentado em vários teatros: a sonoridade do show foi pensada para esse tipo de local, não para grandes espaços, como acontece com o Frejat ao Vivo, que faço com a minha banda. Esse EP, que já está nas plataformas, traduz muito bem a sonoridade do show.


Resenhando - Você tem planos para lançar mais um CD solo no futuro?
Frejat - Acabei de estrear um novo projeto, que é o Frejat em Blues, no PRIO Blues & Jazz Festival, aqui no Rio. Fizemos apenas uma apresentação do show, que reúne blues de compositores brasileiros: de Luiz Melodia e Angela RoRo a Djavan, passando por parcerias minhas com Cazuza. O próximo passo é levar esse show para outras praças da forma como ele foi feito, com uma super banda, vocais, naipe de metais, etc....



"Segredos"

"Meus Bons Amigos"

"Todo Amor que Houver Nessa Vida"

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

.: Entrevista: Rodrigo Faour resgata em livro a história da cantora Leny Eversong


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural.

O jornalista Rodrigo Faour conseguiu concretizar um sonho antigo: editar em livro pelo Sesc Editora a história da cantora Leny Eversong (1920-1984), que nos anos 50 chegou a se apresentar com sucesso no exterior, inclusive nos Estados Unidos. Mas acabou sendo esquecida pelo público nas décadas de 70 e 80.

O livro foi o resultado de uma tese de mestrado do jornalista na PUC-Rio, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), uma fundação do Ministério da Educação (MEC). Além de um minucioso trabalho de pesquisa que desenvolveu ao longo dos anos sobre a trajetória incrível da cantora. Em entrevista para o Resenhando, Faour conta como foi o processo de elaboração e explica os objetivos de seu trabalho de resgate da memória da nossa autêntica música popular. “Temos uma história muito rica na nossa música”. Compre o livro "A Incrível História de Leny Eversong ou A Cantora que o Brasil Esqueceu", escrito por Rodrigo Faour, neste link.

Resenhando.com - Como foi que surgiu a oportunidade para lançar esse livro sobre a Leny Eversong?
Rodrigo Faour - Quando eu tinha 19 anos, defendi uma tese de mestrado justamente sobre a Leny Eversong. Eu me encantei com a história dela. Não entendia o porque dela ter sido relegada ao esquecimento depois de ter tido uma carreira de sucesso no Brasil e no Exterior. Ela se apresentou no programa de televisão do Ed Sullivan, nos Estados Unidos, que era um marco para a carreira de qualquer artista. Ao longo dos anos fui conhecendo melhor a sua obra musical e tive a oportunidade de relançar algumas coletâneas dela. E isso incentivou o filho dela a me procurar para agradecer o meu interesse pela obra dela. Ele me apresentou uma série de fotos e alguns troféus que a Leny tinha ganhado, como o prêmio Roquete Pinto. Mais tarde conheci o pessoal da Sesc Editora, que se interessou em lançar o livro. Foi a concretização de um sonho.


Resenhando.com - A que você atribui o esquecimento dela pelo público?
Rodrigo Faour - Eu atribuo isso a dois fatores principais: o nacionalismo que imperou inclusive com mais força no período do Governo Militar. E o fato dela ser uma figura fora dos padrões de beleza do meio artístico, acima do peso. Ela sofreu gordofobia de uma forma muito cruel. A imprensa era impiedosa em relação ao sobrepeso dela. No livro tem vários exemplos desses ataques relacionados ao sobrepeso. E é preciso lembrar que quando fez sucesso ela já tinha uma idade um pouco mais avançada. Gravou o primeiro LP em 1955, com 35 anos.

Resenhando.com - Ela ficava chateada com esses comentários gordofóbicos?
Rodrigo Faour - Ela nunca ligou para isso. Até brincava com a situação. Teve uma vez que pediram para ela fazer uma foto na balança. E ela foi. Na verdade, os comentários contribuíam para diminuir o brilho de suas interpretações, que traziam momentos antológicos.Ela tinha uma voz poderosa, capaz de cantar qualquer estilo com perfeição. E isso era pouco lembrado pela mídia no Brasil 

Resenhando.com - Ela teve uma ascensão rápida na música?
Rodrigo Faour - Quando surgiu, em Santos, ainda pré-adolescente, ela se apresentava nas rádios locais. Veio de uma família humilde e batalhou muito para seguir carreira na música. Tudo começou a mudar quando foi descoberta pelo Assis Chateaubriand, que a levou para o Rio de Janeiro. A partir daí sua carreira decolou literalmente. Ela foi logo levada para o Exterior, chegando a apresentar em Las Vegas nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Chegou a ser elogiada pelo compositor Augustin Lara pela sua interpretação da canção Granada. Mas a que destacou mesmo ela foi Jezebel. E é incrível notar que ela cantava em vários idiomas sem conhecer as línguas. Foi um talento fora do comum.  Ela fez mais de 700 shows no exterior.


Resenhando.com - O que houve com ela no final?
Rodrigo Faour - Nos anos 70 ela ainda se apresentava na televisão e fazia shows. Mas em 1973 o marido dela desapareceu. Saiu para pescar e nunca mais foi encontrado. Como era ele quem controlava as finanças, ela ficou sem ter acesso ao dinheiro no banco, pois não tinha o atestado de óbito. Acabou falecendo em uma condição mais pobre em 1984, sem saber o paradeiro do marido.


Resenhando.com - Além desse livro, você já escreveu biografias de outras figuras marcantes, como Dolores Duran, Cauby Peixoto e Angela Maria. De onde vem essa vontade de contar a história da música?
Rodrigo Faour - Eu entendo ser necessário trabalhar para preservar a memória de nossa cultura popular. A nossa música tem uma história muito rica, que precisa ser conhecida pelo público em geral. E quem quiser conhecer o meu trabalho pode acessar o meu canal no YouTube (@rodrigofaouroficial) e no instagram (rodrigo.faour).


"Canta Brasil/Aquqrela do Brasil"

 
"Jezebel"

"Summertime"

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