segunda-feira, 23 de junho de 2014

.: Breve análise estilística da canção Sapato Velho"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos* e Jéssyka Alves da Silva
Em junho de 2014


Uma relação da vida humana com um objeto de uso que está em condição final de uso. Confira o estudo sobre a letra da música interpretada pelo grupo Roupa Nova. 


Em sua estrutura textual “Sapato Velho”, a letra da música que é interpretada pelo grupo Roupa Nova, apresenta ritmo, o uso de figuras de linguagem, repetição de palavras, metáforas, hipérbole e comparação, que imprime uma declaração de amor, ou seja, possui uma estrutura poética. Nesta canção, o eu-lírico expressa grande desejo de permanecer ao lado de sua amada, o que remete às promessas/juramento dos noivos na cerimônia de casamento: “Prometo-te ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida”. No trecho “É! Talvez eu seja/ Simplesmente/Como um sapato velho/ Mas ainda sirvo/ Se você quiser”, embora o eu-lírico se menospreze, ele ainda evidência seu forte amor.

Considerando que a metáfora tem um caráter subjetivo e momentâneo, para intensificar o seu amor, o eu-lírico faz uso de metáforas. No terceiro verso da primeira estrofe ele diz que “tinha estrelas nos olhos”, ou seja, seus olhos brilhavam tanto quanto as estrelas do céu. Outro exemplo está no sexto verso da quarta estrofe em que o eu-lírico diz “basta você me calçar”, ora, não é possível calçar (no sentido literal da palavra) um ser humano, ele quer dizer que ele, embora ainda esteja velho, ainda pode servir para aquecê-la.

O autor cria uma relação da vida humana com um simples objeto, o sapato, que no caso, está em sua condição final de uso. Neste jogo, ele utiliza-se de comparações, que nos conduz a possibilidade de identificar que o eu-lírico já estava em idade avançada, senil. Tal afirmação está implícita na quinta estrofe em que diz: “Água da fonte/ Cansei de beber/ Prá não envelhecer/ Como quisesse/ Roubar da manhã/ Um lindo pôr-de-sol/ Hoje não colho mais/ As flores-de-maio/ Nem sou mais veloz/ Como os heróis...”. Neste trecho é possível identificar que o eu-lírico já havia sido jovem, porém, com a idade avançada está limitado, ou seja, já não é “mais veloz como os heróis”.

A música “Sapato Velho”, de 1979 (lançada no LP "A história se repete"), pode ser definida como um poema, pois apresenta ritmo, métrica, metáforas e exprime um desejo profundo do eu-lírico de continuar sendo útil, mesmo sendo senil.
Ao lembrar dos seus tempos dourados de jovialidade o eu-lírico faz uso da comparação para demonstrar o seu atual estágio de vida. Por esse motivo, é possível dizer que a música funciona como um grande pedido de companheirismo do eu-lírico para a sua amada. Ao colocar-se como um sapato velho que ainda consegue aquecer o frio, este, utiliza-se da antítese, pois uma palavra é contrária a outra.


*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

sábado, 7 de junho de 2014

.: Resenha crítica de "O lobo atrás da porta"

Quem realmente é o lobo atrás da porta?
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em junho de 2014


Primeiro longa de Fernando Coimbra retrata um desejo carnal que vai além de qualquer limite.


Romance mesclado com suspense e um toque de comédia. Assim pode ser resumida a trama de "O lobo atrás da porta", dirigido por Fernando Coimbra. Longa inspirado em um crime passional que chamou a atenção da imprensa brasileira nos anos 60, conhecido como “A Fera da Penha“, caso em que uma jovem apaixonada por seu amante, comete um ato que ultrapassa o humano e o racional.

Diante do sequestro de uma menininha, a principal acusada por Bernardo (Milhem Cortaz), é a senhorita Rosa Maria Correia (Leandra Leal), que aparece na delegacia pela primeira vez. Embora a situação seja de completa tensão, a moça de semblante sereno e postura angelical, afirma não saber do que se trata. Após convincentes argumentações do delegado desbocado (Juliano Cazarré), ela confessa ter se passado por uma amiga da família e retirado a garotinha da escola, sem levantar suspeitas. Até porque, o fato só chega na polícia quando Silvia, a mãe, constata que a professora entregou a filha para uma outra mulher.

Na maluca adrenalina de "caça ao rato" -ou ao lobo?- é que se entende todo o envolvimento perigoso de Rosa e seu amante Bernardo. Enquanto que a bela moça assume o posto de amante, a esposa (Fabiula Nascimento) é a personificação do drama matrimonial. Ali, na delegacia, diante de cada interrogatório, o enredo avança e cada peça vai completando o quebra-cabeça da narrativa. No entanto, há pistas falsas que embaralham o que, em algum momento, parecia claro.

Com um desfecho marcante, o longa não beira ao mau gosto, pois preserva o público de cenas chocantes, embora deixe tudo subentendido. O que é estampado no filme, claramente, é o questionamento de quem é o verdadeiro lobo atrás da porta. Pode ser a esposa mal amada, a amante que nunca assumirá a posição de esposa ou o homem que não respeita a família.

A verdade é que "O Lobo Atrás da Porta" envolve a cada minuto, devido a edição de som e imagem apresentarem enquadramentos perfeitamente alinhados. Nas cenas mais fechadas em cenários internos, é possível sentir-se como um lobo à espreita. Assim, a brilhante atuação do elenco salta aos olhos. Seja a incrível versatilidade de Leandra Leal, que como Rosa pode ser a mocinha ou a vilã; a brutalidade de Milhem Cortaz na pele de Bernardo ou a passividade e inocência de Fabiula Nascimento, como Silvia. Enfim, foi merecido o longa de Coimbra ser contemplado, ano passado, com o prêmio Horizontes Latinos na 61ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebatián, na Espanha. Não deixe de saber quem é "O lobo atrás da porta"!




Filme: O Lobo Atrás da Porta ( O Lobo Atrás da Porta, Brasil)
Ano: 2013
Gênero: Drama / Policial / Suspense
Duração: 100 minutos
Direção: Fernando Coimbra
Roteiro: Fernando Coimbra
Elenco: Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabiula Nascimento, Tamara Taxman, Juliano Cazarré, Paulo Tiefenthaler, Thalita Carauta, Isabelle Ribas  




sábado, 10 de maio de 2014

.: Resenha crítica do documentário "Berlim - Sinfonia da Metrópole"

“Berlim - Sinfonia da Metrópole”, o documentário alemão mudo
Por: Helder Miranda

Em maio de 2014


Película começa com os operários, que levantam cedo para o trabalho nas fábricas e termina com a agitada vida noturna berlinense dos anos 20.


Berlim – Sinfonia da Metrópole“ é o lendário documentário mudo de 1927, dirigido por Walter Ruttmann, sobre o dia-a-dia da Berlim de sua época. A versão do final dos anos 20 foi realizada com o compositor Edmund Meisel, que acabou por criar uma trilha sonora em perfeita sintonia com o filme.

A película começa com os operários, que levantam cedo para o trabalho nas fábricas e termina com a agitada vida noturna berlinense dos anos 20. No decorrer de um dia, temos uma visão multifacetada da sociedade da época, desde a pobreza e a vida de operário, até a riqueza e o luxo. A edição foi realizada juntamente com o compositor Edmund Meisel, permitindo o mesmo criar uma trilha sonora em perfeita sintonia com o filme. Esse verdadeiro poema musico-visual nos possibilita uma impressionante e inesquecível viagem no tempo à essa importante época da história de Berlim.

Em 2010, Hans Brandner preparou uma nova orquestração da obra original, por meio de uma encomenda em comemoração ao jubileu de 200 anos da Universidade Humboldt de Berlim, numa formação para orquestra de câmara. Esta nova versão foi lançada em 2011 pela editora especializada em cinema-mudo Ries & Erler e já foi apresentada com grande sucesso em cinemas da capital alemã, recebendo críticas positivas de, entre outros, Ian Wekwerth, pianista da Max Raabe Palast Orchester (famosa orquestra berlinense especializada no repertório dos anos 20 e 30). Em Berlim, Hans Brandner e o maestro brasileiro Marcelo Falcão se conheceram e tiveram juntos a idéia, de apresentar essa mesma versão numa série de concertos no Brasil.

Sobre os artistas
Hans Brander estudou piano com a Prof. Natalia Gussewa, recebendo seu diploma pela Associated Board of the Royal Schools of Music de Londres e é musicólogo pela Universidade Humboldt, em Berlim. Em 2010 realizou um novo arranjo da trilha do filme “Berlim – Sinfonia da Metrópole” em comemoração aos 200 anos da Universidade Humboldt de Berlim. Em 2012 apresentou esta nova versão em concertos na China. Uma suíte para piano solo desta mesma trilha foi lançada no mesmo ano. Além de sua relação com cinema-mudo, Hans Brandner dedica-se também à pedagogia do piano, lançando em 2012 o livro “Motion Lines of Music”, sobre a história da técnica pianística em sintonia com movimentos do corpo.

Já Marcelo Falcão estudou regência em Berlim, onde vive desde 2008. Em 2010, estreou no Brasil com a Camerata Independente do Rio de Janeiro em concerto no mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro e a gravação do mesmo transmitida pela Rádio Mec FM. Em Berlim foi assistente de Kristiina Poska e Catherine Larsen-Maguire. Já regeu também orquestras na Alemanha, Rússia, Itália, Geórgia, Suíça e Brasil. Marcelo Falcão é também compositor, tendo suas obras estreadas no Brasil, Espanha e Alemanha e é musicólogo pela Universidade Humboldt de Berlim. Em 2014, está em turnê no Brasil com o Ensemble de Solistas, apresentando a trilha original com exibição do filme-mudo “Berlim – Sinfonia da Metrópole”.

Filme: Berlim - Sinfonia da Metrópole
Ano: 1927
Gênero: Mudo

quarta-feira, 7 de maio de 2014

.: Entrevista com Mateus Solano, ator da Rede Globo

“Isso é a parte mais triste, essa visibilidade tão grande. É eu não poder ser eu. Eu tenho que montar algum personagem para viver a minha própria vida”. - Mateus Solano


Por: Marcelo Nogueira
Em maio de 2014


Mateus Solano, com saudade de Félix, tem que montar algum personagem para viver a própria vida.



Em entrevista ao programa “Arte do Artista”, a TV Brasil, o ator Mateus Solano, depois de viver um dos maiores vilões da teledramaturgia brasileira, Mateus Solano, reencontrou o apresentador Aderbal Freire-Filho, que já foi seu diretor na peça “Hamlet”, e relembrou outros trabalhos, cantou, interpretou e fez grandes revelações para o apresentador.

Mateus começou o programa numa cena em busca do Príncipe Hamlet. Passeou pelo cenário e declamou trechos da peça, que é relembrada com imagens dos personagens de Mateus Solano e Wagner Moura. Com essa interseção de imagens, o ator Mateus Solano surgiu no camarim mágico e iniciou o bate-papo falando sobre as muitas vidas de um ator, e o que aprendeu com cada uma dessas vivências, seja no teatro, no cinema ou na televisão.

“Hoje em dia está tudo muito efêmero. As pessoas esquecem as coisas muito rapidamente. A televisão e o cinema trouxeram uma perpetuação do trabalho da gente. O grande barato é visitar aquilo sempre, com um olhar diferente e com o público diferente. Mas, por mais efêmera que seja a nossa profissão, o importante é ficar perpetuado no coração de quem assiste. Isso é o que eu acho mágico e funcional da arte.”, explica Solano.

Aderbal aciona a “Máquina de Pensar/te” e apresentou o livro “O Mito de Sísifo, Ensaio Sobre o Absurdo”, do escritor francês Albert Camus. O apresentador traz uma epígrafe que cai como uma luva quando se trata do fazer artístico: “Ó, minha alma, não aspira à imortalidade, mas esgota o campo do possível”.

Aderbal Freire-Filho - Como ficou a vida fazendo este personagem, Félix, que fez tanto sucesso na televisão brasileira?
Mateus Solano – Você começa a viver dentro do que o outro espera que você seja. Isso é muito complicado, principalmente pra mim que gosta de gente. Eu gosto de gente. Eu gosto de ir aos lugares, ver as pessoas. Mas eu não vejo, eu não assisto, eu sou assistido em qualquer lugar que eu vá. Isso é a parte mais triste, essa visibilidade tão grande. É eu não poder ser eu. Eu tenho que montar algum personagem para viver a minha própria vida.

AFF – E como é o processo e voltar para o Mateus? Quando você pega a taça de vinho o teu gesto ainda é do personagem? O teu corpo ainda está regulado pelo personagem ou você já se livrou dele?
MS - Acho que não. Acho que isso faz parte até da profissão, esse entra e sai esquizofrênico. Na televisão, eu tive a oportunidade de fazer gêmeos. E, para fazer gêmeos na televisão, eu tinha que sair de um, trocar de roupa e entrar em outro, imediatamente porque os dois estavam gravando juntos na mesma cena. Eu lembro que eles brigavam. Era um trabalho esquizofrênico. E, se eu levasse o personagem para a cama, digamos assim, eu estaria numa suruba.



O ator também contou, entre tantas revelações, pérolas pessoais. “No último Carnaval, fui levar a minha filha ao bloco infantil. E aí me vem um animador anão, me reconhece e, lá do carro de som grita para todos no microfone: o ator Mateus Solano está aqui com a gente!. Resultado: saí de fininho”. E quando o papo vai para a música, Solano revela: “Eu voltei a estudar violino. Estou fascinado em voltar a estudar porque eu fiz um pouco quando eu tinha seis ou sete anos, mas fui massacrado pela repetição. Quando eu vi que o meu negócio não era a repetição, e sim o improviso, eu fui para o teatro”.

Na conversa com Aderbal Freire-Filho, Mateus Solano lembrou as sessões de análise que fez e diz que cada personagem é como se fosse um filho. Aderbal, então, perguntou sobre o personagem Félix, e Solano disparou: “Estou com saudades dele. Espero que ele esteja bem”.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

.: Resenha de "A Mentira", Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues, entre segredos e mentiras

Por: Helder Miranda
Em maio de 2014 


Para manter satisfatórias as relações, a mentira cumpre o seu papel, justifica o autor, sobre folhetim lançado pela Agir.


Nelson Rodrigues disse, em entrevista para a edição número 9 do “Flan - O Jornal da Semana”, que circulou de 7 a 13 de junho de 1953, que somos amados não pelo que somos, mas pelo que aparentamos ser. Caso contrário, seríamos rejeitados por nossas mães, irmãos, noivas ou esposas. 

Para ele, era preciso usar um disfarce – e, a partir desse acessório, de acordo com ele, para manter satisfatórias as relações, a mentira cumpre o seu papel. “Sejamos mentirosos”, sugeria Rodrigues, no texto assinado pelo repórter Hélio Pellegrino.

A entrevista foi republicada como um texto bônus na edição mais recente do folhetim “A Mentira”, lançada pela editora “Agir”, que supre o desejo de colecionadores em encontrar esta obra, publicada pela primeira vez há poucos anos, pela Companhia das Letras, e esgotadíssima, tendo sorte aqueles leitores que a encontrassem em sebos. 

Neste romance publicado em 18 capítulos no semanário “Flan”, a partir de junho de 53, estão todos os elementos que fazem o leitor mais desavisado se encontrar com o universo rodrigueano.Há mais que isso, há Lúcia: a maquiavélica – ou não? - adolescente que enlouquece os homens à sua volta. 

Criada dois anos antes da personagem Lolita, que seria um sucesso estrondoso – e um escândalo – do russo Vladimir Nabokov, ela é a irmã caçula de uma família com quatro mulheres criadas por um pai repressor do subúrbio do Rio de Janeiro no início da década de 50. 

Entre segredos e mentiras que vão se revelando aos poucos, a tragédia começa a ser tecida quando descobre-se que Lúcia está grávida. E os únicos suspeitos são os cunhados, maridos das irmãs mais velhas, que vivem sob a tutela do chefe de família, debaixo do mesmo teto. 

A história já foi explorada em outros textos do mesmo autor, ele próprio sabia e transformava o ato de se repetir como algo que não o desabonasse, pois os temas abordados por ele, a cada repetição, vinham carregados de novas nuances.

Mas no livro descoberto há pouco tempo pelas novas gerações, encontramos um Nelson Rodrigues mais vibrante do que nunca, e é adorável, pois ele é um autor que traz todo um sabor do passado, aquele que volta mais, repleto de mocinhas inatingíveis e nem tão inocentes, como foram nossas avós. Os livros de Nelson Rodrigues falam a linguagem do povo, trazem gírias antigas, mas chega a ser impressionante como ainda são atuais os temas que ele propôs décadas atrás. 

A impressão é que se lê algo empoeirado, mas novo, porque nunca foi realmente mexido ou aprofundado. Talvez os poucos debates que foram colocados na boca da sociedade – há mais atualidade do que a mulher ser culpada por um estupro, segundo a opinião pública, se o tamanho da roupa não for suficientemente grande? 

Os debates que Nelson propôs a partir de seus personagens sempre foram significativos demais para gerar algum debate que trouxesse um elemento a mais para que os assuntos evoluíssem ou, pelo menos, deixassem de ser tabu. Mas a unanimidade, como ele mesmo já disse, burra, não o acompanhou. É uma pena, mas o livro é excelente. Leia.

Livro: A Mentira
Autor: Nelson Rodrigues

.: Resenha crítica do filme "Praia do Futuro", de Karim Aïnouz

Um amor trazido pelo mar
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2014


História de amor sem amarras, que foge do estereótipo do relacionamento gay, recentemente, pregado nas telenovelas.


A forte afeição de Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick) é o elo de todas as ramificações do enredo do filme brasileiro, "Praia do Futuro". O novo longa com direção de Karim Aïnouz, que também dirigiu grandes sucessos do cinema nacional como "Abril Despedaçado" e "Madame Satã", divide em fases a história de Donato, mantendo focado os altos e baixos do romance gay.

"Praia do Futuro" apresenta Donato, um militar do corpo de bombeiros que atua como salva-vidas e trabalha na bela praia que dá o nome do filme, localizada no Ceará, Brasil. Lá, ao prestar o primeiro socorro em que perde uma vida, conhece o alemão de olhos azuis, Konrad. Com o turista salvo, as buscas pelo amigo aumenta a proximidade entre o salvador e o resgatado. Resultado: Konrad conhece melhor o salva-vidas e os dois se apaixonam.

Após tentar convencer o turista a viver no Brasil, Donato acaba partindo para Berlim com o seu verdadeiro amor. Assim, abandona a mãe e o irmão ainda caçula, Ayrton (Jesuita Barbosa, na fase adulta). Atitude que é uma grande decepção para o irmão mais novo, que tanto admirava aquele que se atirava nas águas do mar para salvar desconhecidos e chegava a ser visto como um super-herói. Em contrapartida, o menino, que se tornou um rapaz, segue para a fria Berlim, em busca de Donato.

O ponto mais interessante do filme está na força da figura masculina e seus vários aspectos conflituosos. Ou centrado no amor entre Donato e Konrad, ou no amor de Ayrton e Donato. De fato, a imagem da mulher tem apenas pequenas participações. Por outro lado, a narrativa mantém o público afastado, apenas como observador, pois ao longo de seus 106 minutos não defende qualquer rumo das personagens. Ali, tudo acontece e ponto. Logo, é função de quem assiste compreender e desenvolver seu próprio ponto de vista a respeito de cada personagem. 

Apesar da criatividade e da provocação em fazer com que o outro reflita e forme opiniões diante das sementinhas plantadas a cada conflito, há cenas em que a pouca edição anula o ritmo do longa. Sempre que a trama começa a engatilhar, uma cena longa e lenta, promove uma quebra. E a atuação do Wagner Moura? É indiscutivelmente excelente! 


Como o próprio diretor define, "Praia do Futuro" é um filme de partidas e possibilidades, de liberdade e amor. Apoiado nisso, o lançamento do cinema nacional exibe cenas de sexo entre Donato e Konrad e até nu frontal. Afinal, assim como os personagens da trama, ter identidade é encarar os problemas e resolver seus medos mais obscuros.

Filme: Praia do Futuro ( Praia do Futuro, Brasil / Alemanha)
Ano: 2014
Gênero: Drama
Duração: 106 minutos
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Felipe Bragança e Karim Aïnouz
Elenco:  Wagner Moura, Clemens Schick e Jesuíta Barbosa  


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