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sábado, 7 de junho de 2025

.: Inspirada em filósofo queer, espetáculo "Interruptor" tem novas apresentações


A ideia do conceito de "Interruptor" é uma metáfora para possíveis ações que possam produzir uma espécie de curto-circuito no que já está estabelecido pela comunidade LGBTQ. Foto: Rafa Tayslan

Propondo uma provocação ao espectador, "Interruptor: dispositivos para Desligar a Corrente", com dramaturgia e direção de Ronaldo Serruya (indicado ao Prêmio Shell 2023 de melhor dramaturgia por "A Doença do Outro"), foi inspirada no livro "Ética Bixa", do filósofo queer espanhol Paco Vidarte. De caráter performativo, o espetáculo será apresentado até este domingo, dia 8 de junho, na Sede de A Próxima Companhia, nos Campos Elíseos, em São Paulo. O espetáculo integra um projeto de circulação do Grupo XIX de Teatro, marcado pela investigação cênica e pelo diálogo com espaços não convencionais, contemplado pelo Prêmio Zé Renato. Neste sábado, dia 7 de junho, após a sessão, haverá um bate-papo com o professor e crítico teatral Ferdinando Martins. A sessão de domingo, dia 8 de junho, terá tradução em libras.

O grupo ainda irá apresentar outras duas peças decorrente dos Núcleos de Pesquisa do grupo em 2024: "Vitaminas" (de Rodolfo Amorim) e "Quando Um Dia" (de Juliana Sanches), com sessões previstas para o mês de junho, na Sala Muiti-uso do Teatro Arthur Azevedo. "Interruptor: dispositivos para Desligar a Corrente", mescla trechos do livro do filósofo Paco Vidarte com relatos autobiográficos dos sete intérpretes das mais variadas identidades, como uma provocação e um desafio para estabelecer não apenas os entraves, mas os pontos de conexão entre a comunidade LGBTQIAPN+. No palco, artistas bixas, lésbicas, trans/travestis e não-binários tentam “contar” o livro ao mesmo tempo que “se contam”, em cenas estabelecidas como tomadas.

A ideia do conceito de "Interruptor" presente no livro, e que dá nome ao trabalho, é uma metáfora para possíveis ações que possam produzir uma espécie de curto-circuito no que já está estabelecido pela comunidade LGBTQ. “Desde que eu li o 'Ética Bixa” pela primeira vez, ele se tornou uma obsessão pra mim, porque apesar do livro ser uma obra teórica, existe ali uma espécie de palavra corporificada, pronta para ser dita, cheia de indignação e revolta, cheia de contradição, mas também de deboche”, diz o dramaturgo e autor Ronaldo Serruya. 

O deboche, aliás, é uma das apostas do trabalho, aliado a um diálogo proposital com o conceito de “baixa cultura”. Na peça, assim como no livro, os intérpretes vão apresentando outras estratégias possíveis para as lutas LGBTQ que são pensadas pelo filósofo numa crítica ao excessivo flerte que o movimento faz hoje com o neoliberalismo meritocrático. Ao longo das cenas, que se apresentam como mosaico, conceitos como “política cadela”, “política do buraco negro”, “gravidade” e “os frangos sem cabeça” vão sendo tirados do livro e apresentados num jogo interativo e presentificado entre os artistas e a plateia, e que flerta, entre outros, com o clima cafona dos programas de auditório, com seus quizzs e quadros.

“O deboche, para mim, tem sido uma forma de sobrevivência possível. Poder rir de si mesmo, das nossas contradições, é a única forma de escapar da armadilha de uma militância narcísica que está sempre pronta para apontar o dedo para o outro, mas nunca para si mesma. O desafio nesse processo foi possibilitar que os artistas trouxessem suas vivências para a cena exatamente nessa perspectiva da contradição. Colocar também as suas sombras, aquilo que nessas identidades, mesmo que dissidentes, reproduzem e compactuam com uma ética normativa”, diz Ronaldo. A iniciativa integra o projeto Zé Renato, que visa apoiar a produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo, vinculado à Secretaria Municipal de Cultura.

Ficha técnica
Espetáculo "Interruptor: dispositivos para Desligar a Corrente".
Concepção e Direção: Ronaldo Serruya. Dramaturgia: Ronaldo Serruya, em colaboração com os intérpretes. Intérpretes: Andrezza Czech, Alv Lara, Diego Lima, Igor Mo, Pedro Ribeiro, Rudá e Rodolpho Côrrea. Assistente de direção: Matilde Menezes. Balaclavas e adereços: Felipe Cruz. Figurinos: Ailton Barros. Audiovisual: Givva. Desenho de Luz: Hart Bergman e Felipe Tchaça. Técnico de palco: Roberto Oliveira. Trilha sonora original: Camila Couto. Fotos: Jonatas Marques. Produção: Andréa Marques e grupo XIX de teatro. Este projeto foi contemplado pela 19ª Edição do Prêmio Zé Renato. Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa


Serviço
Espetáculo "Interruptor: dispositivos para Desligar a Corrente". 
Até dia 8 de junho de 2025 - Sábado, às 20h00, e domingo, às 19h00.
Neste sábado, dia 7 de junho, após a sessão, haverá um bate-papo com o professor e crítico teatral Ferdinando Martins. A sessão de domingo, dia 8 de junho, terá tradução em libras.
Teatro A Próxima Companhia - R. Barão de Campinas, 529 - Campos Elíseos / São Paulo.
Duração: 80 minutos. Indicação: Maiores de 16 anos. Capacidade: 40 espectadores por sessão.
Ingressos: grátis - Retirada pelo Sympla
https://www.sympla.com.br/eventos?s=interruptor

terça-feira, 3 de junho de 2025

.: Nathalia Timberg será "A Mulher da Van" no Teatro Bravos a partir de julho


Com direção de Ricardo Grasson, espetáculo atraz no elenco Nathalia Timberg, Caco Ciocler, Nilton Bicudo, Duda Mamberti, Roberto Arduin, Lilian Blanc, Noemi Marinho Cléo De Páris e Lara Córdulla. Foto: Priscila Prade


As complexas relações humanas, a tolerância e o etarismo são grandes temas de "A Mulher da Van", do autor inglês Alan Bennett. O texto já foi adaptado ao cinema e agora ganha uma montagem brasileira dirigida por Ricardo Grasson e estrelada pela multifacetada Nathalia Timberg, que completa 96 anos neste ano. A montagem volta em cartaz no dia 4 de julho no Teatro Bravos, onde segue até o dia 3 de agosto. A tradução da peça é assinada por Clara Carvalho. E o elenco se completa com Caco Ciocler, Nilton Bicudo, Duda Mamberti, Roberto Arduin, Lilian Blanc, Noemi Marinho, Cléo De Páris e Lara Córdulla.

A peça conta a história real de Mary Shepherd, uma senhora inglesa acumuladora que, na década de 1970, morava dentro de uma van no subúrbio de Londres. Com um passado misterioso e problemático de tempos em tempos, ela estaciona na frente das residências. Inicialmente relutante em interagir com "a Mulher da Van", Alan gradualmente desenvolve uma relação de amizade e compreensão com ela. Ao longo da história, Alan tenta conciliar sua própria vida pessoal e profissional com a presença de Shepherd na rua, ele se torna cada vez mais envolvido em sua vida, oferecendo-lhe assistência prática e apoio emocional. A relação entre os dois personagens principais é marcada por humor, compaixão e reflexões sobre solidão, humanidade, envelhecimento e os desafios da convivência.

Sobre a escolha deste grande elenco, Ricardo Grasson diz: “Todos eles são atores de transfiguração, de composição, porque eles têm muita facilidade de se transformar no próprio personagem, mudando o jeito de andar, de falar, a voz, o corpo e expressões. Esse tipo de ator é muito raro e, na montagem, eu tenho certeza de que formamos um time muito poderoso”. O diretor ainda conta que a ideia de montar o espetáculo é um sonho antigo de Nathalia Timberg. “Ela tinha esse texto há mais de 15 anos e, quando nós fazíamos a peça “33 Variações”, em 2016, me contou sobre a vontade de montá-la. Com a pandemia de Covid-19, ela ficou cinco anos longe do palco e, então, me ligou dizendo que gostaria de finalmente retomar o projeto – possivelmente seu último trabalho”, revela.

“Paralelamente a essa história, a peça conta que o escritor, apesar de ter uma relação muito boa com a própria mãe idosa, que morava em outra cidade, precisou interná-la em uma casa de repouso, pois não tinha como cuidar dela. É muito interessante, pois o texto fala um pouco sobre essas relações humanas e do cuidado que, às vezes, não conseguimos ter com uma pessoa da própria família, mas acabamos tendo por um desconhecido. Mas acho que também estamos fazendo esse bem para o mundo, sabe?”, explica Grasson.

Sobre a encenação, o diretor revela que não tentou atualizar o texto para os nossos dias, mas procurou fazer um paralelo com o realismo fantástico, seu trabalho de pesquisa. “Toda a encenação, a parte plástica do espetáculo, tem a influência dessa estética, que é muito mais comumente vista na literatura e no cinema. E o realismo fantástico nada mais é do que o realismo distorcido, que é um pouco como a nossa vida”, acrescenta.

O espetáculo ainda conta na equipe criativa com Cesar Costa, na cenografia; Cesar Pivetti, no desenho de luz; LP Daniel, na trilha sonora e desenho de som; Marichilene Artichevics, nos figurinos; e Simone Momo, no visagismo. A produção geral é de Marco Griesi da Palco 7 Produções.


Ficha técnica
Espetáculo "A Mulher da Van"
Texto: Alan Bennett
Tradução: Clara Carvalho
Idealização: Nosso Cultural
Direção geral: Ricardo Grasson
Assistente de direção: Heitor Garcia
Elenco: Nathalia Timberg, Caco Ciocler, Nilton Bicudo, Noemi Marinho, Duda Mamberti, Lilian Blanc, Roberto Arduin, Cléo De Páris e Lara Córdulla.
Cenário: Cesar Costa
Desenho de luz: Cesar Pivetti
Trilha sonora e desenho de som: LP Daniel
Figurino: Marichilene Artisevskis
Visagismo: Simone Momo
Assistente de cena: Ligia Fonseca
Camareira: Beth Chagas
Diretor de palco: Victor Ribeiro
Contrarregra: JP Franco
Coordenação de comunicação: André Massa
Comunicação visual e animação: Kelson Spalato
Redes sociais: Gatu Filmes / Gabriel Metzner e Arthur Bronzatto
Estratégia digital: Motisuki PR / Régis Motisuki e Matheus Resende
Fotografia: Priscila Prade
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Direção de produção: Marco Griesi
Coordenação de produção: Bia Izar
Produção executiva: Diogo Pasquim e Tame Louise
Produção geral: Palco7 Produções


Serviço
Espetáculo "A Mulher da Van"
De 4 de julho a 3 de agosto de 2025
Sextas, às 21h00. Sábados, das 17h00 e 21h00. Domingos, às 18h00.
Teatro Bravos - Rua Coropé, 88 - Pinheiros / São Paulo
Ingressos: Plateia Premium - R$ 200,00 (inteira) I R$ 100,00 (meia). Plateia Inferior - R$ 160,00 (inteira) I R$ 80,00 (meia). Mezanino - R$ 120,00 (inteira) i R$ 60,00 (meia). Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/106647.
Classificação: 12 anos.
Duração: 100 minutos.
Capacidade: 611 lugares.
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

.: Eliane Giardini e Marcos Caruso voltam a São Paulo com "Intimidade Indecente"


A peça conta a história de um casal que se separa aos 60 anos, mas segue se reencontrando vida afora, e ainda reconhecendo um no outro o seu maior cúmplice. Foto: Eduardo Chamon


Em cartaz há três anos com grande sucesso desde a estreia em Portugal, o espetáculo "Intimidade Indecente" volta ao Teatro Renaissance no dia 11 de julho para a última temporada, que segue até dia 28 de setembro. Com Eliane Giardini e Marcos Caruso, direção de Guilherme Leme Garcia e texto de Leilah Assumpção, a peça  conta a história de um casal que se separa aos 60 anos, mas segue se reencontrando vida afora, e ainda reconhecendo um no outro o seu maior cúmplice.

Eliane Giardini acaba de viver Berta na novela “Mania de Você” e Marcos Caruso regressa de recente temporada em Portugal, onde esteve em cartaz numa produção portuguesa, a comédia "Cheque-Mate". A química vitoriosa da dupla já é festejada desde 2012, quando deram vida ao impagável casal Leleco e Muricy da novela "Avenida Brasil", de João Emanuel Carneiro, que até hoje é lembrada pelo público. Na contramão das comédias românticas mais tradicionais, o espetáculo começa com o episódio da separação de um casal por volta dos 60 anos de idade. 

“A peça fala sobre quatro momentos muito emblemáticos da vida desse casal. Nosso primeiro movimento é apresentar esse casal na faixa dos 60 anos terminando um grande casamento, uma grande relação. E aí eles se reencontram durante as próximas décadas. É um casamento que não termina, uma separação que não dá certo. É sobre esse casal que tem uma afinidade tão grande que continua junto pro resto da vida, independente do estado civil ou da condição geográfica”, conta Eliane Giardini.


Separados, mas juntos
No espetáculo, Roberta (Eliane Giardini) e Mariano (Marcos Caruso) formam um casal sessentão desgastado pela mesmice da rotina. O desejo esfriou, o sexo falta e a implicância mútua sobra. Ávidos por novas experiências, entendem que não há mais porque ficar juntos. Acontece que, como num efeito bumerangue, a vida insiste em devolver um ao outro. E é nessas idas e vindas que, aos poucos, os dois descobrem-se os maiores cúmplices. O sentimento, ainda vivo e sólido, faz com que se entendam mais do que com qualquer outra pessoa de fora. Assim, conforme os anos vão passando, resistem cada vez menos à presença do outro em sua vida novamente.

Em cena, apenas um grande sofá ocupa o palco. Não há trocas de roupa ou cenário. Dispensando artifícios, os dois atores constroem o envelhecimento de seus personagens se valendo basicamente do seu trabalho de interpretação. “O envelhecimento dos 60 aos 90 anos sem utilizarmos maquiagem, troca de figurino e sem saírmos de cena, essa passagem do tempo à vista do público, com mudança física e vocal, é o que mais fascina o espectador”, conta Marcos Caruso.


Ficha técnica
Espetáculo "Intimidade Indecente"
Texto: Leilah Assumpção
Direção: Guilherme Leme Garcia
Elenco: Eliane Giardini e Marcos Caruso
Direção de movimento: Toni Rodrigues
Cenografia: Aurora dos Campos
Luz: Tomás Ribas
Direção Musical: Aline Meyer
Fotos: Eduardo Chamon e Ricardo Brajterman
Vídeos: Eduardo Chamon
Mídias sociais: Agencia Toloá
Produção: Plano 6 e Bem Legal Produções
Assessoria de imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany


Serviço
Espetáculo "Intimidade Indecente"
Reestreia: sexta-feira, 11 de julho, às 21h00
Teatro Renaissance – Al. Santos, 2233, Jardim Paulista / São Paulo - Telefone: (11) 3069-2286 Horários: sextas-feiras, às 21h00. Sábados, às 19h00. Domingos, às 17h00. Ingressos: R$ 160,00 e R$ 80,00 (meia-entrada).
Ingressos: https://www.sampaingressos.com.br/intimidade+indecente+teatro+renaissance?search=intimidade+indecente ou na bilheteria do teatro. Gênero: comédia romântica. Duração: 90 minutos. Capacidade: 448 espectadores. Classificação indicativa: 14 anos. Temporada: até 28 de setembro.

.: "Ânima", com Beth Zalcman, é o novo texto da filósofa Lúcia Helena Galvão


Após o sucesso de "Helena Blavatsky, A Voz do Silêncio", o espetáculo "Ânima", com o novo texto da filósofa Lúcia Helena Galvão, é prorrogado até 21 junho no Teatro B32. Foto: Flavia Canavarra


“Desde sempre e para sempre toda mulher tem parentesco com a primeira estrela brilhante que levou luz ao azul profundo do céu”. Esta citação da filósofa Delia Steinberg Guzmán inspirou a autora Lúcia Helena Galvão, em sua terceira obra para teatro: "Ânima". A peça foi especialmente criada para a atriz Beth Zalcman, retomando a parceria de sucesso iniciada com "Helena Blavatsky, A Voz do Silêncio", visto por cerca de 70 mil pessoas e que rendeu a Beth Zalcman o Prêmio Cenym de Melhor Atriz em 2023. Luiz Antônio Rocha, que assina a encenação de "Helena Blavatsky", repete a parceria com a autora e a atriz.

O texto traz o desafio de reunir seis mulheres místicas, pensadoras, idealistas e heroínas como Joana Darc, Simone Weil, Helena Blavatsky, Harriet Tubman, Marguerrit Porret e Hipatia de Alexandria. Para unir as personagens uma tecelã ocupa o palco tecendo histórias que deixaram uma marca indelével no curso da humanidade. A ancestralidade da fala se contrapõe ao presente e ao futuro representado pelo uso da tecnologia, inovando com a relação entre a atriz e drone em cena.

A sinergia entre texto, encenação e atuação converge de maneira magistral, proporcionando ao público uma experiência que transcende o ordinário e o transporta para um instante verdadeiramente inesquecível.“Quando Lúcia me entregou o texto 'Ânima', ela me disse: 'nele estão seis mulheres que marcaram a minha vida'. Fiquei curiosa, emocionada, ansiosa, e na primeira leitura compreendi que eu viveria uma experiência profunda e bela. Mulheres distintas vindas de tempos e espaços distantes, mas conectadas pelo desejo de fazer a vida valer a pena para todos.  Para descobri-las tive que mais uma vez mergulhar no meu silêncio, como aprendi com Blavatsky”, diz a atriz Beth Zalcman.

"A coragem e a resistência à adversidade são características inerentes a muitas mulheres, especialmente quando o amor e a compaixão estão em jogo”, afirma a autora Lucia Helena Galvão. “Este é um belo 'arsenal' de habilidades femininas. Embora não pretendamos esgotar todo o potencial feminino com essa breve reflexão, queremos destacar o poder transformador que as mulheres trazem consigo. Elas preenchem muitos dos 'vazios' que tanto afligem a humanidade, e é fundamental reconhecer e valorizar suas contribuições”, completa.

A primeira personagem é a corajosa e autêntica filósofa francesa Simone Weil, séc. XIX, dotada de uma capacidade ímpar de ver simbolicamente a vida e aprofundar-se em seus segredos mais íntimos. Segue com a inesquecível heroína e Joana D’Arc, séc. XIV, condenada à fogueira pela igreja católica e canonizada pela mesma igreja. “Em comum entre nós somente essas estreitas cordas tão visíveis em mim, lacerando-me a pele, e as que trazeis dentro de vós sutis ocultas, mas que vos laceram a alma com muito maior intensidade”.

A peça segue com a escritora Helena Blavatsky, séc XIX, que influenciou grandes pensadores do século XX, admirada e criticada por sua irreverência e determinação. Ela traz ao mundo a sabedoria antiga e atemporal; também entra em cena a brilhante Harriet Tubman, sec XVIII, mulher escravizada foragida que libertou muitos outros companheiros da escravidão, se tornou símbolo da luta contra o trabalho escravo nos EUA. Ficamos de frente com Marguerite Poret, a grande pensadora e mística do séc. XIII, que nos legou a reconhecida obra “Espelho das Almas Simples...”, que lhe rendeu uma condenação à morte na fogueira: “... compreenda aquele que me ouve que eu já não sou a mística que honra o bem, eu sou o próprio bem...e levo para a fogueira as minhas convicções...pois compreendo profundamente que amar é servir...”.

Ao final dessa jornada, encontramos, no séc. IV, Hipátia de Alexandria, uma incansável investigadora, que foi vítima do fanatismo de seu tempo, conhecida como a primeira matemática documentada na história. "Ânima" é uma peça que fala da alma feminina. Beth é uma atriz extraordinária que mergulha e responde às propostas com muita rapidez. O texto da Lúcia vem imbuído de provocações e possibilidades. Me sinto um diretor de alma feminina, trabalhando com duas supermulheres, festejando minha terceira parceria com Beth e Lúcia”, completa o diretor.

Após três temporadas de sucesso no Rio de Janeiro, apresentação em Goiás e uma temporada em Belo Horizonte, todas em 2024, ÂNIMA estreia a temporada 2025 em São Paulo, no dia 12 de abril, sábado, no Teatro B32. ÂNIMA é uma criação que ilumina o palco com reflexões profundas e ressonâncias emocionais. 

Ficha técnica
Espetáculo "Ânima"
Argumento e texto original: Lúcia Helena Galvão
Interpretação: Beth Zalcman
Encenação: Luiz Antônio Rocha
Projeto de luz: Ricardo Fujii
Figurino: Thanara Shornadie
Cenário: Luiz Antônio Rocha e Toninho Lobo
Trilha sonora: Beth Zalcman e Luiz Antônio Rocha
Sonoplastia: Anderson de Almeida / TAKE
Preparação corporal: Miriam Weitzman
Visagismo: Neandro
Assessoria de Imprensa: Flavia Fusco Comunicação
Gestão redes sociais: CulturaLab, do grupo Top Na Mídia
Gestão e elaboração leis de incentivo: Lilian maia
Direção de produção: Luiz Antônio Rocha
Realização: Espaço Cênico, Mímica em Trânsito e Teatro em Conserva

Serviço 
Espetáculo "Ânima"
Argumento e texto original: Lúcia Helena Galvão
Interpretação: Beth Zalcman
Encenação: Luiz Antônio Rocha
Duração: 75 minutos.
Classificação: 12 anos
Temporada: de 12 de abril a 21 de junho, sexta e sábados, às 20h, e domingos, às 18h.
Ingressos: entre R$ 50,00 e R$ 170,00
Vendas antecipadas: https://teatrob32.byinti.com/
Bilheteria:  segunda a sexta, das 14h às 18h, e 1 hora antes de cada evento
Teatro B32 | 490 lugares
Endereço: Av. Brig. Faria Lima, 3732. Itaim Bibi, São Paulo
Acessibilidade: sim

.:Sucesso, "Aluga-se Um Namorado" faz temporada no teatro paulistano


O espetáculo é uma nova montagem da peça que estreou em 1992, com o próprio Eri Johnson no elenco. Entre 2004 e 2008, a comédia percorreu o Brasil com temporadas de sucesso. Foto: divulgação


Sucesso de público nas décadas de 1990 e 2000, com sessões lotadas em diversas cidades brasileiras, a comédia "Aluga-se Um Namorado", escrita originalmente pelo inglês James Scherman e adaptada por Gustavo Klein, chega ao Teatro Multiplan MorumbiShopping para temporada a partir de 13 de junho, sexta-feira, às 20h00. A direção é de Eri Johnson, que também integra o elenco ao lado de Ju Knust, Myrian Rios, Raymundo de Souza, João Lima Junior e Marcondes Oliveira.

"Aluga-se Um Namorado" é uma comédia que explora com humor e leveza as relações familiares, estabelecendo uma forte conexão entre o público e o personagem interpretado por Eri Johnson. Para o ator, a peça é uma de suas preferidas. O espetáculo aborda os vínculos familiares de forma divertida e respeitosa, destacando a importância da convivência e da valorização da família.

Há 33 anos em circulação pelos palcos brasileiros, "Aluga-se Um Namorado" já foi assistida por mais de 3,5 milhões de espectadores. A estreia aconteceu em 1992, no Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro. Desde então, Eri Johnson permanece no elenco, dando vida ao mesmo personagem em uma das montagens mais longevas do teatro nacional com o mesmo ator protagonista.

O espetáculo conta a história de Alex Schneider (Eri Johnson), um ator bem-humorado contratado por Sara (Ju Knust) para interpretar o papel de seu namorado, judeu e médico, diante de sua família, que segue rigorosamente as tradições judaicas. A farsa é armada porque, na verdade, o verdadeiro namorado de Sara não é judeu. A partir daí, desenrola-se uma comédia marcada por mal-entendidos e situações inesperadas. Será que os pais de Sara (Myrian Rios e Raymundo de Souza) e seu irmão Joel (João Lima Junior), um psicanalista atento, vão descobrir a verdade? E o verdadeiro namorado (Marcondes Oliveira), será revelado? Sara acabará se apaixonando pelo ator? O enredo gira em torno dessas perguntas, com doses de humor e reviravoltas.

Segundo Eri Johnson, "Aluga-se Um Namorado" é sua comédia predileta entre todas as que já atuou. “Além de provocar muitas risadas, a peça leva o público a refletir sobre um valor fundamental do ser humano: a família”, afirma o ator. “É uma comédia muito querida pelo público. É comum encontrarmos na plateia pessoas que já assistiram mais de uma vez.”


Ficha técnica
Espetáculo "Aluga-se Um Namorado"
Texto: James Scherman
Adaptação: Gustavo Klein
Direção: Eri Johnson
Assistente de direção: Thati Manzan
Elenco: Eri Johnson, Ju Knust, Myrian Rios, Raymundo de Souza, João Lima Junior e Marcondes Oliveira
Produção executiva: Thati Manzan
Realização: Chaim Produções e Eri Johnson Associados
Assessoria de imprensa: Angelina Colicchio e Diogo Locci - Pevi 56 


Serviço
Espetáculo "Aluga-se Um Namorado"
De 13 de junho a 9 de novembro de 2025 | Sextas, às 20h; sábados, às 18h e 20h; e domingos, às 17h30 e 19h30.
Local: Teatro Multiplan MorumbiShopping
Endereço: Avenida Roque Petroni Júnior, 1089 Piso G2 do MorumbiShopping - Jardim das Acacias, São Paulo - SP, 04707-900
Ingressos:  R$ 160,00 / R$ 80,00 (setor 1) | R$ 120,00 / R$ 60,00 (setor 2)
Vendas: Sympla
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 12 anos

domingo, 1 de junho de 2025

.: Mulheres brasileiras inspiram a peça infantil “Conta a Minha História?”


Com estreia no dia 4 de junho na zona sul de São Paulo, espetáculo aborda ancestralidade por meio de fábulas inspiradas na trajetória de grandes artistas do país


Inspirar novas possibilidades de existência, recriar imaginários, plantar sementes para o futuro. Baseado na trajetória de oito notáveis mulheres brasileiras nas artes, o espetáculo para crianças “Conta a Minha História?” estreia na quarta-feira, dia 4 de junho, no Centro Cultural Grajaú, na zona sul de São Paulo, e fará apresentações em escolas públicas e centros culturais até o final de julho deste ano.

As histórias de Elza Soares, Ruth de Souza, Fernanda Montenegro, Ingrid Silva, Carolina Maria de Jesus, Tarsila do Amaral, Cora Coralina e Rita Lee permeiam fábulas encenadas e cantadas ao vivo pelas multiartistas Jhonnã Báo, Lê Nor e Mel Duarte. “A ideia do espetáculo é trazer o tema da ancestralidade enquanto uma voz que não se cala, justamente porque é ouvida", explica a diretora e poeta Luz Ribeiro, vencedora de diversas competições de slams.

Encenado para crianças e jovens, “Conta a Minha História?” pretende fomentar nesse público um olhar mais atento a temas como igualdade de gênero, inclusão, empatia, e, principalmente, encorajar a autonomia e a autoconfiança para que essas meninas e meninos acreditem em seus sonhos. “Nós lembramos que essas mulheres que cantam, dançam, pintam, atuam são nomes que ajudam a construir a estrutura do país, independentemente da cor, de suas idades, do território em que nasceram. Elas são vozes-sementes que frutificam gerações", fala Luz Ribeiro. “É importante trazer para o imaginário da menina preta periférica que é possível ser uma bailarina como a Ingrid Silva, hoje um grande nome da dança mundial", completa a diretora.

Oito canções compostas por ela e pelo diretor musical Felipe Parra norteiam o espetáculo e tornam a experiência da plateia envolvente e divertida. “A gente consegue dizer com a música coisas que nem sempre conseguimos com palavras. Mesmo que nem todas essas mulheres sejam cantoras, a própria história delas inspira essa musicalidade", afirma Parra. Após a estreia no Centro Cultural Grajaú , “Conta a Minha História?” ainda irá passar pelos centros culturais Tiradentes (5 de julho) e Olido (12 de julho) e pelo Museu Catavento (27 de julho), sempre com apresentações gratuitas.


Ficha técnica
Espetáculo “Conta a Minha História?”
Direção e dramaturgia: Luz Ribeiro
Direção musical: Felipe Parra
Elenco: Jhonña Báo, Lê Nor, Mel Duarte
Produção executiva: Camila De Castro
Coordenação de produção: Arlete Cardoso e Ive Caceres
Patrocínio: Grupo GPS
Realização: Nós, Arte Cultura (@nosartecultura)
Assessoria de imprensa: Katia Calsavara
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, por meio do Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais (PROMAC).

Serviço (apresentações gratuitas):
Espetáculo “Conta a Minha História?”

4 de junho
14h00 - Centro Cultural Grajaú - sessão com audiodescrição e LIBRAS
R. Prof. Oscar Barreto Filho, 252

5 de julho
14h00 - Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes - sessão com audiodescrição e LIBRAS
R. Inácio Monteiro, 6900 

12 de julho
15h00- Centro Cultural Olido - sessão com audiodescrição e LIBRAS
Av. São João, 473 

27 de julho
14h00- Museu Catavento -  sessão com audiodescrição e LIBRAS
15h00- Museu Catavento
Avenida Mercúrio, Parque Dom Pedro II, s/n.°

sexta-feira, 30 de maio de 2025

.: “Essa injustiça tem que ser reparada!”: Anna Toledo e a revolução do palco


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Foto: Ale Catan.

Anna Toledo é muito mais do que a dramaturga por trás do espetáculo “Cenas da Menopausa” - ela é uma artista multifacetada, cujo talento transborda dos palcos para as letras e das canções para as emoções humanas. Com uma carreira que atravessa três décadas, ela construiu uma trajetória rara, que une a força do teatro, a delicadeza da música e o olhar sensível sobre temas muitas vezes negligenciados, como a maturidade feminina. Com únicas apresentações em Curitiba, nos dias 6, 7 e 8 de junho no Teatro Guaíra, “Cenas da Menopausa” segue para São Paulo, onde fica em cartaz de 12 de junho a 17 de agosto no Teatro Claro.

Nascida em Curitiba, Anna já brilhou como atriz, cantora lírica, compositora e como autora que tem o dom de transformar experiências pessoais e sociais em narrativas que comovem. O trabalho dela é marcado por um compromisso honesto e humor inteligente, capaz de confrontar tabus sem perder a leveza.

“A menopausa - essa fase tão pouco falada - não é um fim, mas um renascimento”, costuma dizer Anna, cuja parceria com Claudia Raia, com quem já trabalhou no musical sobre Tarsila do Amaral, já rendeu peças que desafiam estigmas e celebram a vida. Em “Cenas da Menopausa”, ela não apenas escreve. Também convida o público a rir, refletir e, acima de tudo, a se reconhecer. Anna Toledo é uma voz essencial do teatro contemporâneo brasileiro, que utiliza sua arte para abrir diálogos necessários e provocar transformações reais, dentro e fora dos palcos.


Resenhando.com - Anna, se a menopausa fosse uma personagem de teatro, que arquétipo ela representaria?
Anna Toledo -
Até hoje, a menopausa foi representada no nosso imaginário pela figura das bruxas e madrastas, mulheres amarguradas pela perda da juventude, que descontam sua frustração em jovens princesas ou pobres filhotinhos de dálmatas (risos) - ou então por aquela figura da mulher surtada se abanando freneticamente. Só que na vida real, quando a menopausa acontece, a gente se sente o próprio cachorrinho perdido e indefeso, sem saber o que está acontecendo! Essa injustiça tem que ser reparada! (Risos)


Resenhando.com - Como você, enquanto autora de "Cenas da Menopausa", percebeu que o humor poderia ser uma arma poderosa contra o estigma social?
Anna Toledo - 
A menopausa pode ser um momento muito solitário. Por sentir vergonha e confusão sobre os sintomas, muitas mulheres afastam as pessoas próximas de si. Mas quando essas dores são compartilhadas, elas se tornam mais leves e podem, inclusive, virar algo para rir junto. É aquilo que o Suassuna já dizia: “o que é ruim de viver é bom de contar”.


Resenhando.com - Você já pensou em transformar as fases do luto, que estruturam a peça, em uma trilha sonora original? Como cada fase poderia soar, se pensássemos nessas fases como estações do ano?
Anna Toledo - Gente, que viagem (risos). Taí uma boa ideia para um spin-off da peça!


Resenhando.com - Seu trabalho transita entre a dramaturgia e a música. Como a sua formação em canto lírico e jazz influencia a forma como você constrói os diálogos e o ritmo das suas peças?
Anna Toledo - 
É uma pergunta interessante. A minha trajetória deu muitas voltas, né? Acredito que a maior influência dessa formação musical na minha dramaturgia se aplica à escrita para musicais, porque eu penso a música sempre como parte da narrativa. Mas o jazz treina a escuta, o que talvez seja bom para a vida, de modo geral.


Resenhando.com - Em uma sociedade que ainda silencia temas como a menopausa, qual você acredita ser o impacto de expor esse tema no palco em termos de transformação social e pessoal?
Anna Toledo - 
Na temporada da peça em Portugal, eu pude ver que as mulheres iam assistir com as amigas e depois voltavam com os maridos. Um destes maridos falou comigo, depois da peça: “agora eu entendi que não era nada pessoal!” A peça tem essa ambição de abrir uma gaveta de assuntos guardados e arejar a comunicação, além de compartilhar informações sobre sintomas que muitas vezes são confundidos com outras doenças, como depressão e ansiedade.


Resenhando.com - Se "Cenas da Menopausa" fosse adaptada para uma linguagem não-verbal, como dança ou pantomima, quais elementos essenciais da experiência feminina você tentaria preservar? Por quê?
Anna Toledo - 
No ano passado tive a oportunidade de roteirizar um espetáculo de teatro-dança (ou dança-teatro) sobre a idade na dança, chamado "A Última das Bailarinas". Eram três bailarinas de diferentes idades dançando a mesma música. Era muito bonito, porque a gente falava de qualidade de movimento como uma metáfora para a qualidade da experiência de vida, em todas as idades. E esta busca pela qualidade da experiência também é o que emerge no "Cenas da Menopausa".


Resenhando.com - Você se vê, como autora, mais como uma cronista do tempo e das transformações sociais, ou como uma provocadora que desafia tabus com sua arte?
Anna Toledo - 
Eu bem que queria ser uma provocadora que desafia tabus, mas minha maior habilidade é enxergar as histórias que surgem na minha frente e imaginar um jeito legal de contá-las.

Resenhando.com - Qual personagem de "Cenas da Menopausa" mais a surpreendeu durante a criação? 
Anna Toledo - 
A Laurinha foi a primeira personagem que escrevi. Ela é uma mulher que está em negação absoluta em relação à menopausa e tudo que envolve o seu próprio envelhecimento e isso pode ser muito engraçado quando você vê de fora. No processo de criação, a personagem foi se revelando e me dando munição para escrever uma cena hilária, que virou uma das minhas favoritas na peça.


Resenhando.com - Na sua trajetória, qual foi o papel mais desafiador que você já interpretou - no palco ou como dramaturga - e como ele dialoga com a maturidade que a menopausa simboliza?
Anna Toledo - 
Tive alguns papéis muito especiais, que guardo com carinho imenso e saudade. A Fraulein Schneider, de "Cabaret", ou a Luzita, de "Vingança", a Mãe de "Lembro Todo Dia de Você", a cantora Alice Rae em "Chet Baker, Apenas Um Sopro"… Mas não sei dizer qual foi o mais desafiador, porque cada um trouxe um desafio diferente. Todas são mulheres maduras, complexas, interessantes, com um lado sombrio tão grande quanto a sua luz. Fui muito feliz vivendo estas personagens.


Se você pudesse escrever um espetáculo sobre um tema inesperado que ainda não explorou, mas sente que tem uma urgência pessoal, qual seria?
Anna Toledo - 
Tenho muita vontade de falar sobre o tempo e as múltiplas percepções a seu respeito. Se o Tempo me permitir, o farei.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

.: "Closer" mostra os impasses do amor moderno no Teatro Vivo


Dirigido por Kiko Rieser, espetáculo estreia em 15 de junho com José Loreto, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi e Rafael Lozano. Foto: Heloísa Bortz

Longe dos clichês das comédias românticas, o espetáculo "Closer" mergulha na complexidade dos relacionamentos contemporâneos com um olhar nu e direto. A peça, escrita por Patrick Marber, oferece um retrato honesto e intenso sobre amor, traição, desejo, ciúmes e a fragilidade dos laços humanos. A montagem brasileira, com direção de Kiko Rieser, estreia no Teatro Vivo no dia 15 de junho, e segue em temporada até 27 de julho, com sessões às quintas, sextas e sábados, às 20h00, e domingos, às 18h00. A estreia para convidados no dia 14 de junho. O elenco reúne José Loreto, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi e Rafael Lozano em uma coreografia emocional entre quatro personagens cujas relações são marcadas por encontros e desencontros, jogos de poder, manipulação e busca por afeto. 

Na trama, Dan, um escritor iniciante, conhece Alice, uma jovem misteriosa, após um atr. A conexão entre os dois é imediata. Ao longo dos anos, seus caminhos se cruzam com os de Anna, uma fotógrafa de sucesso, e Larry, um dermatologista. O quarteto se envolve em uma rede de desejos, traições, mentiras e jogos emocionais. Em uma narrativa cheia de reviravoltas, Closer revela as contradições do amor e os limites da intimidade.

A peça deu origem ao premiado filme homônimo lançado em 2004, dirigido por Mike Nichols e estrelado por Julia Roberts, Natalie Portman, Jude Law e Clive Owen. A adaptação cinematográfica ampliou o alcance da obra e rendeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro, consolidando Closer como um dos retratos mais contundentes sobre amor, desejo e desilusão no início do século 21. 

Para o diretor Kiko Rieser, a peça soa ainda mais atual agora do que quando foi escrita, mais de duas décadas atrás. “Hoje vivemos o imediatismo dos meios de comunicação. Tudo é para ontem, e isso se reflete diretamente nas relações amorosas. As pessoas não querem mais pensar a longo prazo, e o resultado é que as relações duram menos e raramente são trabalhadas com profundidade. Closer mostra o momento em que a paixão dá lugar ao companheirismo e à carência — e como isso acaba revelando jogos de dominação, projeções e vaidades.”

A encenação aposta em uma estética contemporânea e simbólica. O cenário, assinado por Bruno Anselmo, é um ambiente abstrato, de inspiração brutalista, com volumes e estruturas que se transformam ao longo do espetáculo. São espaços que se revelam à medida que as personagens se encontram, formando quase um labirinto que, visualmente, traduz a complexidade das relações ali estabelecidas. “São 12 ambientes diferentes representados em cena, e usamos câmeras ao vivo mescladas com projeções pré-gravadas. Isso cria uma camada entre o real e o ficcional, entre o que os personagens mostram e o que escondem — um jogo de voyeurismo e exibicionismo que conversa com os próprios temas da peça”, comenta Kiko.

A direção também exigiu intensa entrega do elenco, já que Closer coloca seus personagens em situações extremas. “É um vespeiro mexer com esse texto, ainda mais para quem está em uma relação estável. É quase um processo terapêutico. A gente entende os personagens a partir da gente — e se entende também a partir deles”, completa o diretor. 

“O que eu faria no lugar deles?” — é essa a inquietação que Kiko gostaria que o público levasse para casa. “A peça começa como um jogo de amor e se transforma num grande ringue de boxe. Os personagens vão abrindo mão da ética para tentar vencer. E é aí que está o incômodo, a identificação, a reflexão.” A solidão, a liquidez das relações e os vínculos frágeis da era contemporânea compõem o pano de fundo dessa obra que provoca o espectador a questionar até que ponto conseguimos ser honestos — com os outros e com nós mesmos.

Ficha técnica
Espetáculo: "Closer". Texto: Patrick Marber.  Tradução: Rachel Ripani.  Direção: Kiko Rieser.  Elenco: José Loreto, Larissa Ferrara, Marjorie Gerardi, Rafael Lozano.  Cenário: Bruno Anselmo.  Videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo). Música original: Mau Machado.  Desenho de luz: Gabriele Souza. Visagismo: Eliseu Cabral.  Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Direção de produção: Edinho Rodrigues.


Serviço
Espetáculo "Closer"
Estreia dia 13 de junho, quinta, às 20h, no Teatro Vivo.
Temporada: De 15 de junho a 27 de julho.
Quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h.
Duração: 100 minutos. Classificação: 16 anos.
Ingressos: Quintas e sextas: R$100 e R$50 Sábados e domingos: R$120 e R$60.
Promocional: R$45 - Preço Popular conforme determinação da Lei Rouanet, havendo um limite de ingressos por sessão.
Teatro Vivo - Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460 – Morumbi. Telefone: 11 3430-1524.
Bilheteria: funcionamento somente nos dias de peça, 2h antes da apresentação.
Ponto de Venda Sem Taxa de Conveniência: Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 (antigo 860) – Morumbi
Estacionamento no local: Valor R$30 - Funcionamento: 2h antes da sessão até 30 minutos após o término da apresentação.

domingo, 25 de maio de 2025

.: Sucesso de "Raul Seixas - O Musical" prorroga temporada em São Paulo


Sucesso de público e crítica no Rio de Janeiro, musical estreou em 10 de abril e vem encantando o público. Foto: Dalton Valério


Raul Seixas completaria 80 anos em 28 de junho próximo, e homenageando o cantor, o original musical com dramaturgia e direção de Leonardo da Selva e Bruce Gomlevsky como protagonista prorroga temporada até dia 29 de junho. Raul Seixas, o pai do rock nacional, foi um artista que transcendeu sua época, desafiou normas sociais e culturais e cravou sua marca na história com composições inesquecíveis. Trinta e cinco anos após sua morte, sua obra segue atual e inspiradora, provando que sua filosofia e suas músicas resistem ao tempo e continuam a ecoar em diferentes gerações. A metamorfose ambulante que marcou para sempre a música brasileira está de volta ao palco do Teatro-D-Jaraguá com o espetáaculo "Raul Seixas - O Musical"

O musical arrebatou mais de 15 mil espectadores em temporadas no Rio de Janeiro, e desde que estreou em 10 de abril no Teatro-D-Jaraguá vem lotando as sessões. Com absoluta fidelidade ao artista, a peça é estrelada por Bruce Gomlevsky. Como destacou Claudia Chaves, do jornal Correio da Manhã, o musical é "de absoluta fidelidade à alma do músico".

Com um roteiro baseado em manuscritos originais do cantor, cedidos pela família, a dramaturgia assinada por Leonardo da Selva traz um olhar único e pessoal sobre a vida e a obra do gênio do rock brasileiro. Como definiu Pedro Bial, "um espetáculo que nos deixa inspirados para encarar o Brasil."


Sinopse de "Raul Seixas - O Musical"
"Raul Seixas - O Musical" mergulha na essência de um dos artistas mais autênticos da nossa música, e se desenrola durante uma noite insone, onde Raul revisita sua história, compõe, reflete sobre sua arte e questiona os rumos do Brasil. Num tom confessional e emocionalmente intenso, o espectador é conduzido pelos bastidores da mente inquieta de Raul, sobre a liberdade, a arte e a sociedade por meio de 21 canções, como os clássicos "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás", "Maluco Beleza", "Tente Outra Vez" e "Gita".

Em um contexto social ainda marcado por polarizações, o espetáculo resgata a essência da "Sociedade Alternativa" de Raul Seixas, onde liberdade e autenticidade são valores fundamentais. Para os mais jovens, é uma oportunidade de conhecer um ícone que continua extremamente atual. Para aqueles que viveram a época de Raul, é um reencontro emocionante com um legado que segue pulsante. Mais do que uma homenagem, o musical é um convite à reflexão e um manifesto sobre a força transformadora da arte. Afinal, como Raul nos ensinou, a verdadeira revolução começa dentro de cada um de nós.


Ficha técnica
"Raul Seixas - O Musical" | 
Com Bruce Gomlevsky | Direção, Dramaturgia e Produção Leonardo da Selva | Direção Musical Gabriel Gabriel | Assistência de direção Tassia Leite | Cenário Nello Marrese | Figurino Maria Calou | Iluminação Gabriel Prieto | Realização Teatro-D-Jaraguá


Serviço
"Raul Seixas - O Musical"
De 30 de maio a 29 de junho de 2025 | Sextas e Sábados, às 20h00, e domingos, às 19h00
Duração: 90 minutos | Gênero: musical | Classificação Indicativa: 12anos
Local: Teatro-D-Jaraguá Rua Martins Fontes, 71, Centro Histórico (metrô Anhangabaú)
Fone: 11-2802-7075 @teatrodjaragua | Capacidade: 260 lugares | Bilheteria: quinta a domingo a partir das 17h ou diretamente no link Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/103689 | Ingressos: sextas e domingos R$ 100,00 (inteira) e R$ 50,00 (meia), sábados R$ 150,00 (inteira) e R$ 75,00 (meia) | Estacionamento: ESTAPAR na entrada principal do hotel com valor reduzido ao teatro de R$ 20,00 (vinte   reais) por até 4h (quatro horas), valorizando a experiência do Bar do Clóvis+teatro+restaurante do hotel nacional inn jaraguá

sábado, 24 de maio de 2025

.: “O Amor que Sinto”, com direção de Elias Andreato, volta em sessão única


Peça inspirada em cartas de amor reais dos anos 1990 traz o ator Mário Goes de volta ao papel. Foto>: divulgação


Após temporada de estreia em 2023, o monólogo “O Amor que Sinto” retorna para uma apresentação única no dia 29 de maio de 2025, às 20h, no Teatro D-Jaraguá, em São Paulo. Protagonizado pelo premiado ator Mário Goes e dirigido por Elias Andreato, o espetáculo oferece uma delicada e intensa viagem pelo tempo e pelas emoções do amor.

Baseado em cartas de amor reais, escritas ao longo de cinco anos nos anos 1990 e jamais entregues ao destinatário, o texto do autor Egbert Mesquita foi adaptado para monólogo a partir de uma versão inicial para três atores. Em cena, o homem confronta seu passado e presente, dialogando com a pessoa amada que ora se manifesta, ora se ausenta - um verdadeiro “respiro” para o amor sentido.

“Tudo é eterno enquanto dura, e nós permanecemos sempre sonhando. A vida gira em torno do amor e isto basta”, afirma o diretor Elias Andreato, ressaltando a profundidade e a urgência do tema. A ideia de montar a peça nasceu durante a pandemia, quando Mário Goes se apresentava em sua varanda para os vizinhos no projeto “Arte na Varanda”. A experiência inspirou a adaptação do texto para um monólogo, revelando uma obra sensível e universal. “Eu gosto de falar de amor! Além de universal, é urgente e base para qualquer outra luta”, comenta Mário Goes.


Ficha técnica
Espetáculo "O Amor que Sinto"
Texto: Egbert Mesquita
Elenco: Mário Góes
Direção: Elias Andreato
Desenho de luz: Kleber Montanheiro
Figurinos: Rosângela Ribeiro
Trilha sonora: Rafael Thomazini
Direção: Palco Agnes Bordin
Produção: Cia Paradóxos E Neila Camargo
Realização: Teatro-D-Jaraguá


Serviço
Espetáculo "O Amor que Sinto"
Dia 29 de maio de 2025, quinta-feira, às 20h
Duração: 60 minutos | Classificação Indicativa: 12anos
Local: Teatro D-Jaraguá – Rua Martins Fontes, 71, Centro Histórico, São Paulo (Metrô Anhangabaú)
Capacidade: 260 lugares
Fone: 11-2802-7075 @teatrodjaragua
Bilheteria: quinta a domingo a partir das 15h ou diretamente no link SYMPLA: https://bileto.sympla.com.br/event/106341
Ingressos: R$ 100 (inteira) / R$ 50 (meia)
Estacionamento: Estapar na entrada principal do hotel, com preço especial para o teatro — R$ 20 por até 4 horas, valorizando a experiência teatro + restaurantes do hotel.

.: Os impasses das migrações expostos na peça "eXílio", do Coletivo Comum


Trabalho documental, com direção de Fernando Kinas, faz temporadas no Teatro de Paulo Eiró e no Galpão do Folias. O espetáculo tem canções em vários idiomas, incluindo purepecha e tamazight, línguas do atual México e do norte da África, respectivamente, além de músicas brasileiras. Foto: Fernando Reis

Para o Coletivo Comum, os deslocamentos forçados de pessoas por conta de guerras, violações de direitos humanos, condições climáticas e perseguições de qualquer tipo são um dos principais temas da atualidade, envolvendo questões individuais e coletivas, políticas e subjetivas. O grupo decidiu, então, fazer desses deslocamentos o seu material de pesquisa para construir o espetáculo "eXílio", que fica em temporada no Teatro Paulo Eiró entre 30 de maio a 15 de junho de 2025, com sessões de quinta a sábado, às 20h30, e, aos domingos, às 18h.

Na sequência, a peça segue para o Galpão do Folias, entre 19 e 30 de junho, com apresentações de quinta a sábado, às 20h30, domingos, às 18h e, segunda-feira, dia 30 de junho, às 20h30. Mantendo a tradição de fazer teatro documental, o Coletivo Comum estruturou 30 cenas para dar conta da multiplicidade de abordagens referentes ao tema do exílio. São quadros independentes, nos quais o elenco formado por Fernanda Azevedo, Maria Carolina Dressler, Ícaro Rodrigues, Renata Soul e Roberto Moura narra diferentes dimensões que envolvem migração, refúgio e exílio. 

"Optamos por deixar o 'X' em caixa alta no nome do espetáculo para reforçar o tema da encruzilhada, do conflito e das oposições", afirma o diretor Fernando Kinas, acrescentando a relevância dos debates diante dos conflitos na Palestina e na Ucrânia, e da posse de Trump nos Estados Unidos. Assim, a obra "eXílio" é mais um capítulo na ampla investigação do grupo sobre os desafios civilizacionais contemporâneos.

Ao se debruçar sobre a temática das migrações, a companhia decidiu ampliar a discussão, incluindo exílios dentro do próprio país, descrito pelo crítico literário Antonio Candido como o sentimento que algumas pessoas têm de não se sentirem representadas pelo seu país ou regime político, como no caso das ditaduras militares.  Outro tema abordado é o exílio interno, já destacado por Ovídio no primeiro século da era cristã.

"Estamos discutindo também o sentimento de não pertencimento a uma comunidade, mesmo dentro da sua própria cidade ou país. Há pessoas que se sentem exiladas de seu próprio corpo. Neste sentido procuramos fazer uma discussão ampla, incluindo questões que envolvem, por exemplo, a população LGBTQIAP+, que sofre todo o tipo de preconceito e violências", completa Kinas. 


Sobre a encenação
Para a construção da dramaturgia, foram utilizados muitos materiais, como o livro "Conversas de Refugiados", escrito por Bertolt Brecht durante seu exílio na Finlândia e nos Estados Unidos nos anos 1940 por conta do nazismo. O livro foi traduzido e comentado por Tercio Redondo, professor da USP que participa como consultor do projeto. Também são utilizadas notícias veiculadas na imprensa, cartas de migrantes, documentos de órgãos oficiais, entre outros materiais. 

De acordo com o ACNUR (Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), atualmente, mais de 110 milhões de pessoas estão vivendo, de forma não voluntária, fora dos seus locais de origem. Nesse contexto, elas estão sujeitas a violências anti-imigração, como estupro, discriminação e humilhação. 

E, em meio a tantas informações, o grupo se inspirou em algumas personagens reais para criar as cenas, como o imigrante congolês Moïse Kabagambe, espancado e morto do Rio de Janeiro após cobrar duas diárias de trabalho atrasadas; a militante brasileira Dorinha, exilada durante a ditadura militar no Brasil que acabou tirando sua própria vida no exílio; e o crítico literário palestino Edward Said, que aborda o conceito de orientalismo como criação do ocidente. 

O trabalho busca o compartilhamento entre atores, atrizes e público. Por isso, o coletivo apostou em um dispositivo cênico circular, apoiado pelo uso de barreiras, evocando campos de refugiados e de deportação. "Estamos chamando nosso espaço cênico de campo, já que essa expressão está intimamente ligada ao refúgio. Campo de averiguação, de concentração, de triagem... No nosso caso, é também um campo de batalha, em que a memória e a resistência também estão presentes. E, de certa forma, quando o elenco está mais perto do público, ele está exilado da cena", conta Beatriz Calló, que assina a assistência de direção e colaborou no roteiro ao lado de Fernando e do grupo. 

A trilha sonora ganhou muita importância na encenação. Tanto que duas pessoas da área musical fazem parte do elenco, Renata Soul e Roberto Moura, este último também assina a direção vocal. Além das canções executadas pelo elenco, uma cuidadosa trilha sonora evoca os temas da migração. 


Sinopse de "eXílio"
Atualmente, mais de 110 milhões de pessoas no mundo, segundo dados oficiais, foram obrigadas a se deslocar por causa de guerras, violações de direitos humanos, condições climáticas e perseguições de todo tipo (políticas, religiosas, étnicas, por orientação sexual). Elas estão sujeitas a violências anti-imigração, como estupro, discriminação, humilhação. Muitas perderam suas vidas. A experiência do exílio também pode ser vivida dentro do próprio país, como no caso das ditaduras e nos processos de desumanização. eXílio é um trabalho teatral, proposto pelo Coletivo Comum, que parte desta atualidade brutal, mas também da perspectiva de que as fronteiras são criações históricas e que, portanto, podem ser alteradas e suprimidas.


Ficha técnica
Espetáculo "eXílio"
Roteiro: Fernando Kinas, com a colaboração de Beatriz Calló e elenco
Direção: Fernando Kinas
Elenco: Fernanda Azevedo, Maria Carolina Dressler, Renata Soul, Ícaro Rodrigues e Roberto Moura
Assistência direção: Beatriz Calló
Cenografia: Julio Dojcsar
Iluminação e operação de luz: Dedê Ferreira
Figurino: Beatriz Calló, com a participação do Coletivo Comum e pessoas em condição de migração e refúgio
Treinamento e direção vocais: Roberto Moura
Pesquisa musical e trilha: Fernando Kinas, com a colaboração de Eduardo Contrera
Assessoria dramatúrgica: Tercio Redondo (Bertolt Brecht e o exílio)
Interlocução crítica: Clóvis Inocêncio (Berna), Beatriz Whitaker, Leneide Duarte-Plon, Dominique Durand e Cimade (Paris), Organon Art Cie (Marseille), Jean-Michel Dolivo (Lausanne), Rabii Houmazen (Marrocos e São Paulo), Museu da Imigração do Estado de São Paulo, Arro (Afeganistão e São Paulo), Padre Assis (Cabo Verde e São Paulo)
Desenho e operação de som: Lienio Medeiros
Programação visual: Casa 36|Camila Lisboa
Fotografia: Fernando Reis
Serralheiro: Fernando Lemos (Zito)
Assessoria de imprensa: Canal Aberto|Márcia Marques, Daniele Valério e Carol Zeferino
Produção: Patricia Borin
Realização: Coletivo Comum


Serviço
Espetáculo "eXílio"
Duração: aproximadamente 140 minutos
Classificação indicativa: 14 anos 


Teatro Paulo Eiró
Temporada: 30 de maio a 15 de junho de 2025, de quinta a sábado, às 20h30, e, aos domingos, às 18h00.
Endereço: Av. Adolfo Pinheiro, 765 - Santo Amaro, São Paulo - SP
Ingresso: gratuito
Sessão com intérprete de libras: 13 de junho


Galpão do Folias
Temporada: 19 a 30 de junho de 2025, de quinta a sábado, às 20h30, domingos, às 18h00, e, segunda-feira, dia 30 de junho, às 20h30
Endereço: R. Ana Cintra, 213 - Campos Elíseos, São Paulo - SP
Ingresso: gratuito
Sessão com intérprete de libras: 27 de junho
Reservas: circulacaoexilio@gmail.com / IG: @coletivocomum 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

.: "Esboço": da obra de Hilda Hilst, retrato da loucura como extrema lucidez

Idealizado pelo ator e psicanalista Rafael Costa e dirigido por Donizeti Mazonas, o trabalho estreia no Sesc Ipiranga, no dia 16 de maio, mês da Luta Antimanicomial. Esboço. Fotos: Keiny Andrade


O ator e psicanalista Rafael Costa, idealizador da 3C - Plataforma de Pesquisa, Criação e Produção Cultural Antimanicomial, tem uma longa pesquisa na interface Arte, Loucura e Psicanálise. Em seu novo espetáculo, "Esboço", a investigação tem como premissa o não enclausuramento cênico da Loucura e a desconstrução de estereótipos. A obra é construída a partir de dois textos da escritora brasileira Hilda Hilst e faz sua estreia no projeto Teatro Mínimo, do Sesc Ipiranga, no dia 16 de maio, às 21h30. A temporada segue até 8 de junho, com sessões às sextas, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30. A apresentação do dia 24 de maio fará parte da VIRADA CULTURAL de São Paulo.

A partir dos textos ‘Esboço’ e ‘Com os meus olhos de cão’, a trama apresenta ao público um professor de matemática pura que conclui que tudo à sua volta e todo o seu entendimento sobre a vida é apenas um esboço. Por isso, “esboço” passa a ser a única palavra que media a sua comunicação com o mundo.

O solo tem direção e dramaturgismo de Donizeti Mazonas, que investiga a obra dessa autora há quase duas décadas. “Por ser uma prosa poética, torna-se um desafio levar seus textos para a cena. O fluxo de consciência é um recurso bastante presente na escrita da autora,  numa polifonia de vozes que torna, às vezes, difícil saber exatamente quem está falando”, comenta o diretor.

"Esboço" estreia no Mês da Luta Antimanicomial no Brasil, comemorado especialmente no dia 18 de maio, que marca o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. A data celebra a Reforma Psiquiátrica e a criação de uma sociedade sem manicômios, isto é, a luta por um sistema de cuidado em saúde mental que priorize a liberdade e o tratamento em comunidade.


SOBRE A ENCENAÇÃO

Infância, família, trabalho e a sua relação com Deus estão em chamas, é dentro deste fogo que Riolo, protagonista desta jornada, recebe a constante exigência externa para esboçar o que ele quer dizer com a palavra “esboço”. Para construir cenicamente a experiência de um fluxo de pensamento, a encenação parte da proposta radical de uma ação ininterrupta, paradoxalmente, uma caminhada sem fim e sem sair do lugar.

A equipe de criação formada por Renan Marcondes, Vic von Poser, Dimitri Luppi e Pedro Canales criam um ambiente sinestésico para adentrar no pensamento e nos afetos desse “acrobata sobre os fios do tempo”. O palco é atravessado por sons, cores, texturas e textos que pluralizam as vias de recepção do espetáculo.

“Eu gostaria que as pessoas saíssem do espetáculo com a infamiliar sensação de estranhamento. Isso porque, quando se fala em saúde mental, penso que as concepções de harmonia e equilíbrio acabam por nos aprisionar em um ideal que humanamente não nos contempla. Precisamos lidar com as nossas experiências de transbordamento, são nesses momentos, por vezes difíceis, que somos mais gente”, defende o ator e idealizador do trabalho. 

"Esboço" é um convite para o público vivenciar os caminhos do enlouquecimento para além da replicação de estereótipos e de tipos de cuidados já amplamente conhecidos. Rafael acredita que, tanto no campo artístico quanto na vida, o encontro com a Loucura proporciona o abalo das certezas e  revela os modos que se instauram como padrão. A peça é também um dispositivo para celebrar e reforçar a importância do 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial.   

“A obra de Hilda Hilst serve perfeitamente a esse propósito já que nela a suposta loucura das personagens é nada mais que um excesso de lucidez”, diz Donizeti. “Todos os personagens dela deram um passo além da realidade, mas, por outro lado, atingem um outro nível de compreensão da existência. Na verdade, é como se essas pessoas conseguissem extrapolar o senso comum enxergando além. E isso não é algo negativo”, completa.   

Por meio da 3C - Plataforma de Pesquisa, Criação e Produção Cultural Antimanicomial, Rafael Costa pesquisa a partir dos pressupostos éticos da luta antimanicomial brasileira, a analogia entre o fazer clínico psicanalítico e o fazer artístico. A plataforma tem se destacado dentro e fora do país  como um polo de criação no campo das artes, no qual a loucura não fica restrita à condição temática, mas também se afirma como instauradora de novos regimes estéticos.


TEATRO MÍNIMO

Importante espaço de experimentação da cidade de São Paulo e criado em 2011 pela equipe de programação do Sesc Ipiranga, o Projeto ‘Teatro Mínimo’ foi concebido com o objetivo de apresentar temporadas de espetáculos teatrais que discutem a experimentação das linguagens cênicas, por meio de encenações focadas no trabalho de atuação, em proximidade e na relação direta com a plateia.

SINOPSE

A loucura desenhada como extrema lucidez é a chave poética de ESBOÇO, espetáculo com foco na atuação e no caráter transformador das criações antimanicomiais. Fruto das investigações sobre a potência dramatúrgica presente nas obras ‘Esboço’ e ‘Com os meus olhos de cão’, de Hilda Hilst, o solo apresenta Riolo, um professor de matemática pura que, após expelir a constatação de que tudo em sua vida é apenas um esboço, passa a conviver diariamente com esta condição. Diante de tudo e todos, a única palavra possível é “esboço”.


FICHA TÉCNICA

Idealização: Rafael Costa e 3C - Plataforma de Pesquisa, Criação e Produção Cultural Antimanicomial

Textos: Hilda Hilst

Direção e dramaturgismo: Donizeti Mazonas

Atuação: Rafael Costa

Produção: Plataforma Estúdio de Produção Cultural

Desenho de Som e operação: Pedro Canales

Videografia: Vic von Poser

Operação de Vídeo: Vic von Poser e Júlia Favero

Design e Operação de Luz: Dimitri Luppi

Assistente de Iluminação: Léo Sousa

Cenário e Figurino: Renan Marcondes

Direção de produção: Fernando Gimenes

Produção executiva: Bruno Ribeiro

Fotos: Keiny Andrade

Redes Sociais: Jorge Ferreira

Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Flávia Fontes e Dani Valério

Apoio e Sala de ensaio: Cia do Pássaro - Voo e Teatro


SERVIÇO

"Esboço"

Data: 16 de maio a 08 de junho, às sextas, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30*

* A apresentação do dia 24 de maio fará parte da programação da VIRADA CULTURAL. A sessão será gratuita e estará disponível para retirada online de ingressos a partir das 12h00 do mesmo dia.

Local: Projeto Teatro Mínimo - Auditório - Sesc Ipiranga - Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo, SP

Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (credencial plena)

Ingressos disponíveis a partir de 6 de maio no aplicativo Credencial Sesc SP, site centralrelacionamento.sescsp.org.br e a partir de 7 de maio presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc SP.

Classificação: 14 anos Duração: 50 minutos


domingo, 11 de maio de 2025

.: Crítica: "Rita Lee: Uma Autobiografia Musical" é um acontecimento histórico


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Foto: João Caldas F.º

Há espetáculos bons. Há espetáculos necessários. E há aqueles que, como um disco voador, tornam-se acontecimentos culturais inesquecíveis. "Rita Lee - Uma Autobiografia Musical", em cartaz até 15 de junho no Teatro Porto, é tudo isso e mais um pouco: é o melhor musical brasileiro em cartaz atualmente. Com direção precisa de Marcio Macena e Débora Dubois, roteiro de Guilherme Samora e direção musical de Marco França e Marcio Guimarães, o espetáculo transcende a homenagem biográfica e se transforma em um verdadeiro ritual de celebração da liberdade, da arte e da resistência. A vida de Rita Lee, tão rica em camadas, escândalos, poemas e ousadias, é contada com a mesma honestidade escancarada que fez do livro autobiográfico da cantora um marco editorial.

No centro disso tudo está Mel Lisboa, em um desempenho arrebatador que já lhe valeu o Prêmio Shell de Melhor Atriz - reconhecimento merecido e insuficiente diante da imensidão do que ela entrega no palco. Por vezes, o que se vê é tão potente que esquecemos que Mel Lisboa é Mel Lisboa. Ela se dilui completamente na persona de Rita Lee, tornando-se um big bang cênico: mística, explosiva, hecatômbica, avassaladora. A atriz, que já foi uma fã obsessiva em "Misery", esotérica em Helena Blavatsky e trágica em "Dogville", mais uma vez se reinventa - talvez como nunca - ao dar corpo, alma e voz a Rita Lee. Mais do que desfiar hits, ela encarna o espírito de uma época, passando o Brasil a limpo, especialmente em um momento em que o conservadorismo e os fantasmas da repressão parecem rondar novamente.

A montagem não poupa o espectador de emoção nem de crítica - Rita Lee não é retratada como santa, algo que nem ela gostaria. O texto resgata momentos cruciais da trajetória da artista que vão desde a infância ao Mutantes, do romance com Roberto de Carvalho à prisão durante a ditadura, do ativismo pelos animais à consagração como a maior vendedora de discos do país. Tudo é contado com irreverência e afeto, em um ritmo que costura música, memória e política com rara inteligência - e que não deixa o espectador perceber que o tempo está passando.

Outro destaque nesse mar de cultura é Fabiano Augusto, que surpreende o público ao se despir completamente da imagem de garoto-propaganda para entregar um Ney Matogrosso visceral, sensível e perfeitamente crível. É um momento de redenção artística que precisa ser aplaudido de pé - como tantas vezes acontece durante o espetáculo.

O elenco de apoio brilha em conjunto, trazendo à cena nomes marcantes da cultura nacional como Elis Regina, Gal Costa, Raul Seixas e Hebe Camargo com dignidade e presença cênica. Mas tudo orbita em torno da força gravitacional de Rita Lee - e de Mel Lisboa, que se consagra de vez como o nome artístico de sua geração. Como a própria Rita disse, e é repetido no espetáculo em alto e bom som, "seu maior feito foi fazer as pessoas felizes". E é isso que "Rita Lee - Uma Autobiografia Musical" faz: coloca o público para sorrir, cantar, chorar e dançar, como em um show de rock'n roll, mas também para pensar e se lembrar que liberdade, arte e coragem ainda são atos revolucionários.

"Rita Lee - Uma Autobiografia Musical" não é apenas um espetáculo. É um espelho do Brasil que fomos, somos e ainda podemos ser. Vá enquanto há tempo - e leve sua "ovelha negra" interior com você para que ela, para não ficar por baixo, "coloque as asas para fora".

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sábado, 10 de maio de 2025

.: Teatro: "Trilogia Kafka" reflete sobre os sistemas de violência e desumanização


Montagem do Grupo Garagem 21 mistura referências do teatro de Tadeusz Kantor, das HQs e dos desenhos animados para contar a história dos textos "Um Artista da Fome", "Comunicado a uma Academia" e "Carta ao Pai" do autor tcheco. Foto: João Caldas

Buscando ampliar o debate sobre violência estrutural que leva à alienação, o diretor Cesar Ribeiro estreia seu novo trabalho, "Trilogia Kafka". O espetáculo faz sua temporada de estreia no Teatro do Núcleo Experimental entre os dias 23 de maio e 30 de junho, com sessões às sextas, aos sábados e às segundas, às 20h00; e, aos domingos, às 19h00, totalizando 24 sessões. No elenco estão Helio Cicero, André Capuano e Pedro Conrado.

A peça apresenta três textos curtos do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924): "Um Artista da Fome", que conta a história de um artista cujo trabalho é passar fome publicamente e que se sente excluído da sociedade após uma mudança cultural que desvalorizou seu ofício; "Comunicado a uma Academia", sobre um macaco falante que relata a diversos intelectuais sua transição de animal para quase humano e como se tornou um artista de renome no teatro musical; e "Carta ao Pai", em que Kafka escreve ao pai para expor a mágoa diante de seu autoritarismo. A montagem ainda conta com outro escrito na abertura. "Diante da Lei" revela ao público um homem que vai até a porta da lei pedindo acesso à Justiça, sempre negado. 

Entre as referências teóricas do projeto estão obras da socióloga brasileira Maria Cecília de Souza Minayo, que define a violência estrutural como aquela "gerada por estruturas organizadas e institucionalizadas, naturalizada e oculta em estruturas sociais, que se expressa na injustiça e na exploração e que conduz à opressão dos indivíduos", e do jornalista e ativista indiano Pothik Gosh, que destaca o tema da justiça na obra kafkiana, entendida como uma esfera em que há completa ausência de sentido que não seja pelo fato de ser uma pura força de dominação, por meio de uma dialética em que a lei inclui ao excluir e exclui ao incluir, refletindo uma realidade em que as pessoas são excluídas hierarquicamente e incluídas produtivamente. 

Esse conceito remete à noção de corpos produtivos e corpos matáveis, abordando as políticas de morte e segregação presentes na sociedade contemporânea – assim como, na sociopolítica, abrange os movimentos de luta por soberania e direitos, em que os oprimidos podem escapar da opressão em certo momento temporal, mas os sistemas de opressão persistem.Apoie o Resenhando.com e compre os livros de Franz Kafka neste link.

Sobre a encenação
Dando sequência ao trabalho realizado pelo grupo Garagem 21 em Dias Felizes, O Arquiteto e o Imperador da Assíria e Esperando Godot, a montagem de Trilogia Kafka propõe uma visão das diversas faces dos sistemas de violência, observando, quase com uma lente de aumento, a relação entre opressores e oprimidos. Por meio dessas narrativas, a peça levanta questionamentos sobre temas como justiça, liberdade, censura, repressão, direito e democracia. 

"Debater esses conceitos é muito importante neste momento em que os fascistas propositadamente e estrategicamente buscam uma confusão desses termos, que abrangem até a tentativa de vitimização de bandidos que tentaram um golpe de estado", defende Cesar. Para dar conta da dualidade liberdade-dominação, tão presente na obra de Kafka, o cenógrafo J. C. Serroni propôs uma instalação que remete a um grande presídio. O chão preto está cheio de marcas de sangue, como se o local tivesse enfrentado uma chacina recente, simbolizando as vozes dos grupos silenciados ao longo das violências históricas. 

"Há uma grade cercando o fundo da plateia, uma grade dividindo público e plateia, que é removida depois da primeira cena, e diversas celas similares a jaulas em que ocorrem partes das narrativas. Os espaços se multiplicam conforme a narrativa por meio do desenho de luz e dessas variações cenográficas, colocando o público também dentro dessa dualidade perpetrador-vítima", detalha o diretor. 

Ao mesmo tempo, a composição das cenas foi inspirada na gestualidade do teatro de Tadeusz Kantor e na linguagem das HQs e dos desenhos animados. "Quisemos representar o humano e a humanidade sem dar a aparência de realidade. Por isso, partimos para referências que nos ajudassem a construir nosso próprio universo estético", comenta Cesar. Assim, a montagem foi tomando forma quadro a quadro, a partir de uma visão sobre direção de arte, formação da imagem e formação do olhar que incluem partituras gestuais, desenhos de luz, visagismo e figurinos. 

"Em 'Carta ao Pai', por exemplo, há um momento em que o escritor se lembra de sua infância e da vergonha ao ver seu corpo ainda pouco formado ao lado de seu pai forte quando vão nadar. Ele fala como se estivesse falando com o pai, mas na visão da criança o pai é um gigante, então ele olha muito para o alto, ficando nessa imagem durante esse tempo da narrativa. A montagem é decodificada sempre dentro desse campo simbólico, e não de tentativa de reprodução da aparência da realidade, o que não deixa de ser quase uma exigência quando você tem em uma narrativa um macaco falante", acrescenta.

Para o figurino, assinado por Telumi Hellen, existe a mistura de visual futurista com a moda elisabetana. Isso porque os artistas querem transmitir a noção de que, embora existam avanços em relação aos direitos humanos e progressos tecnológicos, a realidade apresenta um constante estado de guerra de grupos humanos privilegiados contra outros grupos humanos. "Em última instância, enquanto houver capitalismo haverá a construção de ossadas", pontua Cesar.

Em decorrência disso, as narrativas variam a voz central. "No primeiro texto há a voz de um antigo opressor que se tornou oprimido em um novo tempo histórico; no segundo, um ser aculturado pela violência torna-se um opressor e agente do sistema; no terceiro texto, o oprimido ganha voz e apresenta uma espécie de teologia da libertação", conclui o diretor. Apoie o Resenhando.com e compre os livros de Franz Kafka neste link.


Sinopse
A montagem reúne três textos curtos de Franz Kafka: em Um Artista da Fome é narrada a trajetória de um artista cujo trabalho é passar fome publicamente e que se sente excluído da sociedade após uma mudança cultural que desvalorizou seu ofício; Comunicado a uma Academia apresenta a história de um macaco falante que relata aos membros de uma academia sua transição de animal para quase humano; já em Carta ao Pai, Kafka escreve ao pai uma carta em que expõe a mágoa diante de seu autoritarismo. Abrindo a montagem ainda está o breve texto Diante da Lei, em que um homem vai até a porta da lei pedindo acesso, sempre negado. Com uma linguagem influenciada pelo teatro de Tadeusz Kantor e a linguagem de HQs e desenhos animados, o espetáculo aborda os modos com que os sistemas de violência conduzem à alienação.


Ficha técnica
Espetáculo "Trilogia Kafka"
Texto: Franz Kafka
Adaptação, direção e trilha sonora: Cesar Ribeiro
Atuação: Helio Cicero, André Capuano e Pedro Conrado
Cenografia: J. C. Serroni
Figurinos: Telumi Hellen
Iluminação: Rodrigo Palmieri
Produção: Marisa Medeiros
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
Coordenação de projeto: Edinho Rodrigues

Serviço
Espetáculo "Trilogia Kafka"
Temporada: 23 de maio a 30 de junho, às sextas, aos sábados e às segundas, às 20h; e, aos domingos, às 19h
Teatro do Núcleo Experimental – Rua Barra Funda, 637 – São Paulo
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada)
Venda online em https://www.sympla.com.br/
Bilheteria física (sem taxa de conveniência): Teatro do Núcleo Experimental
Horário de funcionamento: em dias de espetáculos, a bilheteria abre 1h antes do início da apresentação.
Duração: 100 minutos
Classificação: 12 anos
Capacidade: 65 pessoas

sexta-feira, 9 de maio de 2025

.: Espetáculo "Um Grito Parado no Ar" em cartaz no Teatro Itália


"Um Grito Parado no Ar", montagem do Teatro do Osso para o clássico de Guarnieri, volta em nova temporada no Teatro Itália. Com direção de Rogério Tarifa, o ato-espetáculo musical celebra os 52 anos da obra de Gianfrancesco Guarnieri. Foto: Cacá Bernardes


A nova versão de "Um Grito Parado no Ar", clássico de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), volta na sua segunda temporada, no Teatro Itália. Sob a direção de Rogério Tarifa e montagem do grupo Teatro do Osso, a obra revisita a icônica peça que reflete sobre os desafios da criação artística em tempos de censura e repressão. A dramaturgia, atualizada por Jonathan Silva, Rogério Tarifa e o Teatro do Osso, dialoga com o contexto contemporâneo, enquanto a encenação preserva o caráter crítico e metateatral que marcou a história do teatro brasileiro. A temporada segue até 28 de maio, com sessões às quartas, às 19h30.

Gianfrancesco Guarnieri foi ator, diretor, dramaturgo e poeta italiano naturalizado brasileiro. Figura central do Teatro de Arena de São Paulo, Guarnieri marcou a dramaturgia nacional com textos que abordavam questões sociais e políticas. Entre suas obras mais significativas está Eles Não Usam Black-Tie, reconhecida como um marco do teatro brasileiro.

Escrito em 1973, durante a ditadura militar brasileira, Um Grito Parado no Ar se destacou por expor os desafios de se fazer arte em um contexto de repressão. Na adaptação de Tarifa, a obra preserva sua essência crítica e amplia o diálogo com o presente, conectando as questões sociais da época em que foi escrita, aos desafios culturais contemporâneos.

A narrativa acompanha um grupo de artistas que ensaia uma peça a dez dias de sua estreia. Enquanto pressões externas, como dívidas e restrições financeiras, ameaçam o andamento da produção, a trama reflete a precariedade e a persistência da arte em tempos complexos. Com improvisações baseadas em relatos reais de moradores da cidade, o espetáculo revela as tensões sociais e econômicas que permeiam o cotidiano, reafirmando o teatro como espaço de resistência e transformação. 

O ato-espetáculo musical conta com a participação da atriz convidada Dulce Muniz, que interpreta a personagem Flora. O diretor Rogério Tarifa destaca que Dulce fez parte do Teatro Arena e da história do teatro brasileiro. O grupo costuma trabalhar com depoimentos de pessoas, e Dulce traz um olhar especial por ter vivenciado as duas épocas, 1973 e a atual.

“O espetáculo surgiu da colaboração entre meu trabalho e o Teatro do Osso, a partir de uma pesquisa sobre o Teatro Épico no Brasil, inspirada nas obras de Guarnieri. Realizamos um estudo aprofundado sobre esse período, coletando referências e realizando entrevistas com artistas da época. Fomos ao Rio de Janeiro e conversamos com Othon Bastos e Sonia Loureiro. Assim, a montagem representa um encontro entre a companhia Teatro do Osso e um Grito Parado no Ar, unindo características de 1973 e da atualidade, estabelecendo diálogos entre esses dois momentos”, comenta Tarifa.

A direção musical de William Guedes conta com músicas originais compostas por Jonathan Silva criadas especialmente para o espetáculo, enriquecendo a experiência e a conexão com o público. “Essa abordagem envolve algumas características essenciais, como a dramaturgia coletiva, a música ao vivo e as composições criadas especialmente para o espetáculo. Na nossa montagem, embora o texto tenha origem na dramaturgia de Guarnieri, incorporamos também toda a pesquisa necessária para a construção do espetáculo e desses elementos”, explica Tarifa.

Uma exposição virtual, "Do Canto ao Grito - Um Estudo sobre o Teatro Épico no Brasil", reúne músicas, vídeos, documentos históricos e materiais desenvolvidos ao longo do processo criativo. A mostra enriquece a experiência do espetáculo ao ampliar debates sobre temas como censura, violência e desigualdade, reafirmando a relevância da obra de Guarnieri no diálogo entre passado e presente da sociedade brasileira. A exposição pode ser visitada no site www.teatrodoosso.com.br.

“As pesquisas duraram 6 anos, buscando compreender a prática artística contemporânea em relação à montagem de 1973. Quando ouvimos pela primeira vez o nome 'Um Grito Parado no Ar', isso nos provocou uma reflexão profunda. Quais gritos estão parados no ar? Seriam gritos negativos ou violentos? O título criado por Guarnieri, é muito preciso e realmente convida à reflexão”, reflete Tarifa.

Junto ao elenco atua um coro, formado por oito integrantes, reunidos em cena como personificação da multiplicidade de experiências pessoais, éticas, estéticas e políticas. A proposta é trazer a pluralidade de vozes e experiências para contar o que é fazer teatro em 2025, numa convivência entre atrizes, atores e não atores, diferentes gerações, classes sociais, imigrantes, pessoas cis e pessoas trans.

A obra estreou há 52 anos, em um período de forte repressão política, e tornou-se um símbolo da resistência cultural. A frase “Nós vamos estrear nem que seja na marra!”, dita pelo personagem Fernando, ecoava como um manifesto dos artistas contra a censura. Hoje, o Teatro do Osso traz essa força para os palcos, reafirmando a importância do teatro como ferramenta de questionamento e crítica social. 


Ficha técnica do espetáculo

Espetáculo "Um Grito Parado No Ar". Direção: Rogério Tarifa. Dramaturgia: Jonathan Silva, Rogério Tarifa e Teatro do Osso. Direção de Atores: Luis André Cherubim e Rogério Tarifa. Texto original: “Um Grito Parado no Ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. Elenco: Guilherme Carrasco, Isadora Títto, Maria Loverra, Oswaldo Ribeiro Acalêo e Rubens Consulini. Atriz convidada: Dulce Muniz. Coro: Dan Nonato, Thiego Torres, Ísis Gonçalves, Marcela Reis, Nduduzo Siba, Rommaní Carvalho, Sofia Lemos e Wilma Elena. Iluminação: Marisa Bentivegna. Direção musical e treinamento vocal: William Guedes.Composições originais: Jonathan Silva. Músicos: Gabriel Moreira, Felipe Chacon e Ju Vieira. Direção de movimento e treinamento: Marilda Alface. Direção de Arte: Rogério Tarifa. Cenário: Diego Dac e Rogério Tarifa. Figurino: Juliana Bertolini. Desenho de som: Duda Gomes. Produção Executiva: Carolina Henriques. Diretor de palco: Diego Dac.Assistentes de Palco: Clara Boucher e Mayhara Ribeiro. Técnica de Luz: Gabi Ciancio.  Técnico de som: Duda Gomes. VJ: Lui Cavalcante. Assistente de Produção: Julia Terron. Assistente figurino: VI Silva. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Fotos: Mauricio Bertolin e Cacá Bernardes. Designer gráfico: Fábio Vieira. Ilustração: Elifas Andreato. Realização: Teatro do Osso. Produção: Jessica Rodrigues Produções Artísticas. Direção de Produção: Jessica Rodrigues.


Serviço
Espetáculo "Um Grito Parado No Ar"
Direção: Rogério Tarifa
Reestreia dia 7 de maio, quarta, às 19h30. Temporada até 28/05.
Todas as quartas, às 19h30
Teatro Itália (278 lugares). 14 anos. Duração: 2h45m sem intervalo.
Valores: R$40 (Meia) e R$80 (Inteira).
Ingresso promocional: R$60 - com 1kg de alimento, na bilheteria
https://bileto.sympla.com.br/event/105367

quinta-feira, 1 de maio de 2025

.: " Vitaminas" estreia nesta sexta-feira, dia 2, no auditório do Sesc Pinheiros


Com direção de Rodolfo Amorim e Clayton Mariano, a peça aborda a depressão e outros transtornos psíquicos que se tornaram epidêmicos a partir da década de 80. Na imagem, as atrizes Lígia Fonseca e Jessica Mancini. Foto: Jonatas Marques

Quatro trajetórias se cruzam em um panorama da sociedade americana da década de 80. São histórias privadas, em que a intimidade dos relacionamentos amorosos parece não se encaixar à promessa de sucesso pessoal. Com texto de Clayton Mariano, que também assina a direção ao lado de Rodolfo Amorim, o espetáculo adulto Vitaminas estreia nesta sexta-feira, dia 2 de maio, no Auditório do Sesc Pinheiros. No elenco estão Ericka Leal, Fani Feldman, Igor Mo, Jessica Mancini, Jonathan Moreira, Lígia Fonseca e Victor Bittow.

O espetáculo aborda a depressão e outros transtornos psíquicos que se tornaram epidêmicos a partir da década de oitenta, confrontando o Realismo da literatura norte-americana, ao atual conceito de Realismo Capitalista, defendido por Mark Fisher. A peça enxerga na “falta de alternativa” neo-liberal o crescimento da indústria cultural de Hollywood que coloniza o imaginário brasileiro pós-ditadura.

Uma paródia crítica do "American way of life" que, ao mesmo tempo em que vigora enquanto ideologia dominante em nossa sociedade, naufraga enquanto projeto estético e político. Uma peça que enxerga o fracasso como alternativa para uma sociedade onde só os vencedores têm vez.

A peça explora um realismo sujo e minimalista, que impõe um humor que não cai em um sarcasmo desalmado e com um calor que emana do próprio desfrute de narrar, estruturam essa dramaturgia baseada nos limites da intimidade e da vida privada. Investigando pequenos eventos do cotidiano, muitas vezes banais, mas que de tão íntimos parecem inacessíveis ao voyeurismo latente da sociedade atual.

“A intimidade que abordamos é em tudo oposta ao gesto da superexposição tão corrente em nossa sociedade atual. Está mais para o negativo dessa falsa felicidade que se propagandeia e se expõe através das redes com uma urgência inexplicável sem sentido. Olhamos para os recalques, para aquilo que não se vende. Nos debruçamos nesses pequenos e poderosos afetos que insistem em contrariar a ordem fetichista do capital: o luto, o trauma, a vergonha, a angústia, a inveja, entre tantos outros considerados impróprios ao sistema, para, basicamente, encarar tudo aquilo que em silêncio nos relembra que ainda somos humanos”, contam os diretores Clayton e Rodolfo.

“Trabalhamos com referências das centenas de 'filmes-da-sessão-da-tarde' e das 'séries-enlatadas' que povoam nosso imaginário, que continuam até hoje fazendo sucesso nas novas plataformas streamings. Podemos dizer que eles constituem uma espécie de passado comum, que nenhum de nós viveu. Um passado fabricado em Hollywood. Para nós é como se fosse possível escovar a contrapelo (lembrando a famosa imagem de W. Benjamin), esse imenso imaginário de melodramas familiares que tanto fizeram parte de nossas vidas e talvez arrancar deles aquilo que há ainda de potente, ou seja, aquilo que ele esconde, o seu fracasso e sobretudo tudo aquilo que nos torna, brasileiros, e ocidentais em geral, parte dessa mesma cultura colonizada”, completam.


Sinopse de "Vitaminas"
Em "Vitaminas", quatro trajetórias se cruzam em um panorama da sociedade americana da década de 80. São histórias privadas, em que a intimidade dos relacionamentos amorosos parece não se encaixar à promessa de sucesso pessoal. O fracasso como sintoma e resistência ao neo-liberalismo.


Sobre Núcleos de Pesquisa do Grupo XIX de Teatro
"Vitaminas" tem origem nos Núcleos de Pesquisa do Grupo XIX de Teatro, que passaram de uma ação paralela às suas atividades artísticas (com caráter de uma pedagogia livre) para o centro da criação do XIX, culminando na sua última edição, com a criação de 4 espetáculos, em que cada artista do grupo assina uma direção.

Os resultados desses Núcleos deixaram de ser apenas “aberturas de processo” para se transformarem em peças inéditas que ganham força e relevância para além d sede do grupo. Cada um dos trabalhos produzidos acabaram se tornando um referência aguda de questões urgentes da cena, tanto no conteúdo quanto na forma. Ganharam vida própria, ocupando festivais, sendo contemplados em importantes editais, estreando e cumprindo temporadas em instituições relevantes.

"Vitaminas" estreia agora no Sesc Pinheiros, inaugurando uma nova fase do Grupo XIX de Teatro, que passa a pensar formas de criar e ocupar a cidade, para além da Vila Maria Zélia, onde ficou sediado por cerca de vinte anos e, agora, se vê obrigado a desocupar seu armazém.


Ficha técnica
Espetáculo: "Vitaminas"
Direção: Rodolfo Amorim e Clayton Mariano
Elenco: Ericka Leal, Fani Feldman, Igor Mo, Jessica Mancini, Jonathan Moreira, Lígia Fonseca e Victor Bittow
Dramaturgia: Clayton Mariano
Cenário: Rodolfo Amorim
Objetos de cena: Jessica Mancini
Figurino: Lígia Fonseca
Iluminação: Daniel Gonzalez
Contrarregra: Roberto Oliveira
Produção: grupo XIX de teatro e Andréa Marques 

Serviço
Espetáculo "Vitaminas", de Clayton Mariano
Auditório do Sesc Pinheiros: R. Pais Leme, 195 - Pinheiros
De 2 a 23 de maio de 2025
Quinta a sábado, às 20h
85 minutos
14 anos
Ingressos: R$ 15,00 a R$ 50,00
Link: https://www.sescsp.org.br/programacao/vitaminas/

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