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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

.: "As Últimas Crianças de Tóquio" conta uma história onírica de amor familiar


Da autora de "Memórias de Um Urso-polar", uma distopia em que a família e o mundo natural são repensados a cada página. Lançado pela editora Todavia, o romance "As Últimas Crianças de Tóquio" conta uma história onírica de amor familiar e esperança cintilante em meio ao apocalipse do mundo natural. Este romance de Yoko Tawada é um vislumbre delicado do nosso futuro nas palavras de uma das autoras contemporâneas mais celebradas do Japão. A tradução é de Satomi Takano Kitahara e a capa, de Maria Carolina Sampaio.

No livro, Yoshirô já completou oitenta anos, mas todas as manhãs, muito cedo, ainda vai correr no parque com um cachorro de aluguel. Ele é um dos muitos idosos no Japão e pode, imagina, viver para sempre. A vida para Yoshirô não é tão simples quanto costumava ser. Poluição e desastres naturais marcam a face da Terra, e mesmo alimentos até então comuns são difíceis de encontrar. Quanto ao Japão, o país se isolou do resto do mundo. Os únicos seres vivos selvagens que restam são aranhas e corvos. A linguagem também começou lentamente a desaparecer. A vida útil das palavras parece ter diminuído: elas saem de moda depressa e não são substituídas. Os homens agora passam pela menopausa. As crianças ficam tão debilitadas que os pediatras, tomados de desalento e exaustão, começam a se matar.

Ainda assim, a única preocupação real de Yoshirô é o futuro de seu bisneto Mumei, que, como outras crianças de sua geração, nasceu frágil e grisalho, muito velho antes de sequer experimentar a juventude. À medida que a vida cotidiana em Tóquio fica mais e mais difícil, uma organização secreta começa um plano audacioso para encontrar a cura para as crianças japonesas — e será que o bisneto de Yoshirô pode ser a chave? Compre o livro "As Últimas Crianças de Tóquio", escrito por Yoko Tawada, neste link.


O que disseram sobre o livro
As últimas crianças de Tóquio tem uma beleza lunar (...) arrebatadora.”  The New York Times


Trecho do livro
Houve uma época em que, para fazer o bisneto absorver o máximo de cálcio, Yoshirô obrigava o menino a beber meio copo de leite todas as manhãs. Com tal dieta, no entanto, só conseguiu provocar no bisneto uma diarreia. O dentista explicou que a diarreia é um mecanismo de defesa do corpo, que expulsa rapidamente aquilo que os órgãos internos identificam como tóxico. É fato bem conhecido que, além do cérebro que fica dentro da cabeça, há também, na parte inferior do corpo, um outro cérebro chamado intestino. Parece que, em caso de divergência entre esses dois cérebros, a opinião do intestino é priorizada. Por isso, o cérebro era às vezes chamado de “Senado Federal”, e, o intestino, de “Câmara dos Deputados”. Como as eleições para a Câmara dos Deputados acontecem mais amiúde, acredita-se de modo geral que esta reflete mais fielmente a opinião do povo. De maneira análoga, como o fluxo do intestino é mais rápido, acredita-se que ele reflete o estado atual do indivíduo mais precisamente do que o cérebro.

Quando ia ao dentista, Mumei não conseguia abrir bem a boca. E sempre que o dentista pedia para escancará-la, ele abria a boca e esbugalhava os olhos ao mesmo tempo. Uma vez, ao abrir a boca, sentindo que a mandíbula se desencaixaria, ele entrou em pânico e, ao fechá-la, cerrou também os olhos, dizendo:

No fundo da minha garganta tem o planeta Terra — Mumei reclamou, abrindo bem os olhos e a boca logo em seguida. O planeta tinha aparecido certa vez em um exame de rotina com o pediatra. Ao enrolar a camisa para cima, estufando o peito, que de tão magro permitia ver as costelas, Mumei dissera com voz calma: 

Dentro do meu peito tem o planeta Terra.

Na ocasião, para disfarçar sua surpresa, Yoshirô virou o rosto, levantando o nariz e apertando os olhos, como se tentasse apreciar as árvores do jardim através da vidraça.

Pelo fato de a palavra “exame” evocar também as provas escolares, em algum momento a expressão “exame de rotina” deixou de ser usada, sendo substituída por “diagnóstico mensal”. O pediatra, durante essa visita regular, examinava primeiro a língua e a garganta minuciosamente, e também os olhos, virando as pálpebras do avesso. Depois disso, observava com cuidado a pele da palma das mãos, do rosto, do pescoço e das costas. Por fim, cortava um fio de cabelo para análise e investigava com uma lanterna o interior dos ouvidos e do nariz.

Certa vez, incapaz de controlar a própria ansiedade, Yoshirô perguntou:

O senhor está buscando alguma alteração celular? Com um leve sorriso, o médico respondeu:

Isso mesmo. Mas é impossível pôr as células em uma máquina para medir isso com exatidão. Se algum médico fizer essa promessa, desconfie, é provável que ele seja um charlatão. O que devemos realmente examinar é o corpo como um todo.

O pediatra se chamava dr. Satori. Ao que parece, era um parente distante do oncologista Dr. Satori, que havia muito tempo tinha cuidado da mãe de Yoshirô. No entanto, apesar do sobrenome em comum, os médicos não se pareciam nem um pouco, nem na voz, nem na expressão facial. O Satori oncologista tratava os pacientes como crianças. Se um paciente lhe perguntasse algo, ele erguia a sobrancelha como se tivesse sido criticado e respondia de forma brusca e mal-humorada:

Se você não parar de duvidar de mim e de me desobedecer, jamais ficará curado.

Já o pediatra de Mumei compartilhava generosamente seu vasto conhecimento com o menino e seu bisavô enquanto respondia às suas perguntas. Em sua linguagem não havia qualquer sinal de superioridade. Claramente ele não tinha medo das perguntas e nem mesmo de ser criticado. Embora Yoshirô soubesse disso, não fazia muitas perguntas. Até mesmo em relação ao estado de saúde de Mumei, registrado em sua ficha médica, Yoshirô apenas assentia sem fazer pergunta alguma. Caso perguntasse o significado oculto dos valores e números aferidos pelos exames, o bisavô temia descobrir que sob o nove havia sofrimento, e morte por trás do quatro.

O resultado dos check-ups mensais era copiado à mão por assistentes e levado por mensageiros que se dirigiam a pé ao escritório central do Instituto de Pesquisa Médica Novo Japão. Após o sucesso de um mangá chamado Correspondência da Brisa Marinha, cujo protagonista era um mensageiro com patas de antílope que tinha o mapa de cada cidade guardado na memória, esse tipo de trabalho cativava cada vez mais o público infantil. No entanto, com a atual deterioração da força física dos jovens, esse serviço se tornava mais e mais penoso. Em um futuro próximo, provavelmente todos os jovens fariam trabalhos de escritório, e o trabalho físico seria exercido pelos velhos.

Os formulários originais sobre o estado de saúde das crianças eram manuscritos, e cada médico os escondia em algum lugar à sua escolha. O jornal às vezes publicava tirinhas que mostravam os médicos escondendo esses documentos no fundo da casinha do cachorro, ou na cozinha, dentro de uma grande panela. Ao lê-las, Yoshirô ria, mas depois começou a pensar que talvez não fossem sátira, talvez se baseassem em fatos verídicos.

Como o que cada clínica entregava ao Instituto de Pesquisa Médica eram cópias de originais manuscritos, qualquer tentativa de apagar ou adulterar grandes quantidades de dados levaria muito tempo. Nesse sentido, o sistema atual era mais seguro do que os anteriores, criados pelos melhores programadores, em que a informação era digitalizada.

Agora que o adjetivo “saudável” já não se aplicava a nenhuma criança, os pediatras tiveram suas jornadas de trabalho aumentadas, tendo de enfrentar não somente a raiva e a tristeza dos pais, mas também a repressão, caso fornecessem informações a jornais ou a outros veículos de informação. Muitos padeciam de insônia e eram levados ao suicídio. Até que os pediatras decidiram primeiro criar um sindicato, reduzindo audaciosamente sua jornada laboral, recusando-se a entregar os relatórios exigidos pelo Ministério da Previdência e cortando todos os laços com os grandes laboratórios farmacêuticos.

Sobre a autora
Yoko Tawada, de quem a Todavia já publicou Memórias de um urso-polar, nasceu em Tóquio, em 1960, mudou-se para Hamburgo, na Alemanha, aos 22 anos, e hoje vive em Berlim. Escrevendo em japonês e alemão, publicou diversos livros — romances, poemas, peças teatrais e ensaios. Recebeu distinções importantes, como o Prêmio Akutagawa, o Prêmio Adelbert von Chamisso, o Prêmio Tanizaki, o Prêmio Kleist e a Medalha Goethe. Garanta o seu exemplar de "As Últimas Crianças de Tóquio", de Yoko Tawada, neste link. 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

.: Livro de Henfil é relançado 30 anos após primeira edição

Considerado o mais brilhante cartunista de sua geração, Henfil (1944-1988) tem seu último livro – “Como se faz humor político” - relançado pela Editora Kuarup, 30 anos depois da primeira edição. A obra é uma entrevista de Henrique de Souza Filho, o Henfil, concedida ao jornalista e crítico musical Tárik de Souza, que continua pertinente ao momento político atual.

O livro revela os detalhes do ofício desse craque do humor político brasileiro que criou personagens clássicos, como os Fradinhos e a Graúna. Seu relançamento coincide com o aniversário de 70 anos de nascimento do humorista e traz prefácio assinado pelo jornalista e escritor Sérgio Augusto.

Em 1984, a Editora Vozes, em parceria com o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), encomendou a Henfil um livro com o título “Como se faz humor político”, para integrar a Coleção Fazer. Sempre muito atarefado, ao invés de redigir o texto, convidou o jornalista e amigo Tárik de Souza para entrevistá-lo sobre o assunto em questão. Tárik conta que já havia entrevistado o cartunista várias vezes, sendo “quase um especialista na função”.

“Gravador ligado, o que rola neste livro é quase um improviso jazzístico. Não houve pauta, nem quaisquer perguntas combinadas previamente. Saímos tabelando sem deixar a bola cair até o final - que aconteceu exatamente como está no texto. O trabalho de edição foi mínimo: o que saiu do gravador já era o livro. Não fiquei surpreso ao reler “Como se faz humor político” 30 anos depois, e encontrá-lo ainda denso e pertinente. Em parte, porque mudam os nomes, circunstâncias e as mazelas continuam suplantando as virtudes humanas. Mas na maior parte, porque o Henfil é craque. E sua arte - e o modo de fazê-la - atemporal.” Escreveu Tárik na apresentação do livro.

Título: “Como se faz humor político”
Autor: Henfil
Depoimento a Tárik de Souza
Editora: Kuarup - www.kuarup.com.br
Número de páginas: 128. Tamanho: 15 x 23 cm . Peso: 185 g
Edição: 1ª (reedição). Ano: 2014



O MOLEQUE ENGAJADO – prefácio, por Sérgio Augusto

Já me perguntei mais de uma vez e não me canso de repetir: o que estaria fazendo hoje o inquieto Henrique de Souza Filho? Se em pleno gozo de suas faculdades físicas e mentais, o setentão Henfil — o mais singular, brilhante, moleque e engajado cartunista de sua geração —, provavelmente estaria atirando em todas as direções, testando as mídias disponíveis; quem sabe confinado a um site na internet onde pudesse dar vazão ao seu humor malicioso, anárquico, raivoso, grotesco – e politicamente incorreto pelos padrões de hoje?

Infelizmente, não podemos senão imaginar o tratamento que suas charges, seus cartuns e quadrinhos teriam dado à eleição direta para presidente no Brasil (pela qual tanto lutou), à Guerra do Golfo, à invasão do Iraque e demais desatinos cometidos pelos dois Bush, ao desgoverno Collor, à queda do Muro de Berlim, à ascensão de Lula e Obama à Presidência, à histeria em torno do bug do milênio, à montante evangélica, à praga do celular, ao processo do mensalão, ao desperdício de dinheiro público para atender ao “padrão Fifa”, à instalação das upps nas favelas cariocas, ao estrago causado pelos vazamentos do WikiLeaks, aos protestos de rua de 2013 – eventos, fenômenos e epifenômenos que ele, morto há 25 anos, não pôde acompanhar, celebrar ou, como era mais do seu feitio, escrachar.

Que novos personagens teria criado? E quais dos antigos teria abandonado? Os Fradinhos? A Graúna? (Esta, jamais. Prodígio de design minimalista, pouco mais que um ponto de exclamação, nenhuma outra figura criada por ele superou-a em argúcia, empatia e popularidade.) Desconfio que ele, só de molecagem, teria rebatizado O Preto que Ri de O Afrodescendente que Ri e arrumado outro tipo de paranoico para pôr no lugar do Ubaldo – um petista envergonhado com o partido que ajudara a fundar, por exemplo. Desconfio também que, apesar de mineiro e decepcionado com o PT, Henfil não teria votado em Aécio.

De todas as suas criações, nenhuma, a meu ver, superou a turma da caatinga, formada por um cangaceiro beberrão e machista (Zeferino), um bode intelectual (Orelana), uma graúna (ou melhor, a Graúna) e uma onça anarquista (Glorinha). Num árido cenário de Glauber Rocha - solo crestado pelo sol inclemente, vez por outra adornado por um cacto solitário e o resto de uma ossada - Henfil montou um cordel gráfico astuciosamente subversivo sobre as mazelas do Brasil: a indústria da seca, a desigualdade social, o mandonismo latifundiário, o fundo falso do milagre econômico patrocinado pela ditadura, a censura, a opressão masculina, o crescimento parasitário do Sul Maravilha, e o que mais se prestasse à sátira, à paródia, à alegoria.

Sua criação mais polêmica, porém, foi o metropolitano Cabôco Mamadô. Misto de exu e babalorixá, ele comandava o Cemitério dos Mortos-Vivos, onde só enterrava pessoas que a imprevidência divina ainda mantinha vivas. Impedido de confrontar diretamente os donos do poder concentrou sua ira naqueles que de algum modo serviam ou haviam servido ao regime militar. Antes de enterrar seus mortos-vivos, entregava-os à sanha de um Tamanduá (“a besta do apocalipse que assola nosso torrão”), que se alimentava de cérebros humanos, chupando-os implacavelmente: “Xuip!”. O cantor Wilson Simonal inaugurou a mórbida e pândega sucção. Outras vítimas: Nelson Rodrigues, Gustavo Corção, o animador de TV Flávio Cavalcanti. Até Roberto Carlos teve o miolo chupado.

Para Caetano Veloso sobrou a Patrulha Odara. Contraponto às patrulhas ideológicas, não deixava em paz quem fechasse os olhos ou desse mole para os abusos da ditadura, quem, enfim, ficasse “odara”, neologismo inventado por Caetano Veloso, que Henfil entendia como um convite à abstinência política, para ele, não o maior, mas o único pecado.

HENFIL – perfil, por Tárik de Souza

Mesmo sob a artilharia pesada da ditadura, foi o indômito mineiro Henrique de Souza Filho, o Henfil (1944-1988) o desenhista que mais dialogou politicamente com as massas, a ponto de transformar-se num raro popstar, num ramo onde poucos sobressaem por trás das pranchetas e (hoje) computadores. No tempo em que os estádios, a preços razoáveis, superlotavam e as torcidas ainda digladiavam-se dentro de limites civilizados, seus personagens futebolísticos como o Urubu (Flamengo), Bacalhau (Vasco), Cri-Cri (Botafogo) Pó-pó (Fluminense) foram adotados em substituição aos Popeyes e outros símbolos importados anteriores.

No jornal carioca O Dia, Henfil lançou o personagem Orelhão, que além de servir-se do aparelho de rua mais acessível na era pré-celular, operava como uma espécie de ouvidor das causas populares. Egresso da Juventude Católica e um dos fundadores do PT, Henfil também colaborou intensamente (e de graça, claro) em publicações sindicais. Mas sua projeção nacional ocorreu através do estouro do semanário Pasquim, onde se tornou um dos principais impulsionadores de vendas com sua galeria de personagens agressivos, politizados, humanistas e iconoclastas.

A dupla dialética de Fradins, o “Cumprido” (baseado em seu amigo, o jornalista mineiro Humberto Pereira) reprimido e conservador e “Baixinho” (um indisfarçável auto-retrato), um sádico libertário, nasceram ainda na Belo Horizonte, onde se formou emigrado da periférica Ribeirão das Neves. Na revista Alterosas, o desenhista de bonequinhos pornográficos da oficina, foi compelido a criar personagens, já que o diretor achava seu traço parecido com o do francês Bosc. Mais tarde, o comparariam ao ativista Wolinski, mas o fato é que Henfil desenvolveu um percurso único. Limitado fisicamente pela hemofilia, como seus irmãos, o sociólogo Betinho (imortalizado em “O bêbado e a equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc), que o influenciou politicamente, e o violonista e compositor Francisco Mário (“Terra”, “Revolta dos palhaços”, “Pijama de seda”), que realizava seu lado musical, ele lutava contra dores diárias. E fazia periódicas transfusões de sangue, que acabariam custando-lhe a vida. O início da epidemia de AIDS desnudou mais uma tragédia da péssima administração da medicina no país, a falta de fiscalização da qualidade do sangue, que acabaria decretando a sentença de morte dos irmãos Souza.

Além dos Fradinhos, protagonistas de uma revista periódica independente de larga tiragem, Henfil criou o cangaceiro Zeferino (publicado inicialmente no Jornal do Brasil), moldado na figura bonachona e um tanto coronelesca do pai, um livre atirador que ocupou diversos cargos, de diretor de penitenciária a agente funerário. Havia ainda o Bode Orellana, o intelectual da tira, que ele ironizava sem dó, inspirado no arisco cantador erudito baiano Elomar. A Graúna, era a personagem feminina da trama, que oscilava entre a submissão e o ativismo. Graficamente, talvez fosse sua mais genial e sucinta criação: o corpo da ave era pouco mais que um ponto de exclamação. Ainda no Pasquim, Henfil disparava sua máquina inventiva sem cessar. Ilustrava uma tira de crítica musical e paria personagens que operavam como uma espécie de termômetro do momento político, à medida que a ditadura avançava. Do didático Caboco Mamadô, que no cemitério dos mortos-vivos enterrava os colaboracionistas, ao Tamanduá Chupador de Cérebros, a Patrulha Odara (em contraponto às patrulhas ideológicas) e o espinhoso Ubaldo, o Paranóico. Bolado com o redator destas linhas, que o nomeou num final de semana, em Arraial do Cabo , ele surgia em sincronia com o assassinato de nosso amigo e colega jornalista Wladimir Herzog, o Wlado, nos porões do DOI-CODI paulistano. A paranóia grassava. E, infelizmente, não era imaginária.

O enorme sucesso de Henfil também estava associado à sua absurda capacidade de trabalho. E para cada nova frente aberta ele criava uma linguagem, como ao preencher a página final da revista Isto É com as “Cartas da Mãe”. Utilizando a foto da própria D. Maria Souza como uma espécie de escudo, ele desafiava os poderosos da vez, incluindo o então presidente-general, João Batista Figueiredo, a quem chamava de primo por conta de um longínquo parentesco. Criou a anárquica TV-Homem, dentro da TV Mulher, apresentada pela jornalista Marília Gabriela, em plena onipotente Globo. No teatro, escreveu a “Revista do Henfil”, em parceria com Oswaldo Mendes , musical com alguns de seus personagens. O ator Paulo César Pereio ficou com o papel de Bode Orelana, Sonia Mamede encarnou a Graúna, Rafael de Carvalho , Zeferino, e Sergio Ropperto, Ubaldo, o paranóico. Entre a chanchada e o protesto, a peça teria a trilha lançada em disco. No cinema, dirigiu o não menos inconformista “Tanga _ Deu no New York Times”, a partir da experiência de tentar publicar seus quadrinhos nos EUA. Aceitos, a princípio, pelos sindicatos que os distribuíram para dezenas de jornais, os Fradinhos (The Mad Monks) logo foram rechaçados pelo conservadorismo da pátria da (estátua da) liberdade, sob a pecha de “sicks” (doentios).

Mas, de certa forma, anteciparam os corrosivos e hoje abençoados Simpsons. Das cartas que enviava para os amigos a partir da matriz, escreveu o livro “Diário de um Cucaracha” (Editora Record, 1983), do ponto de vista de um subdesenvolvido no chamado Primeiro Mundo. Da mesma forma, uma viagem à China, ainda comunista e excomungada pelo regime militar, rendeu outro “best-seller” literário, o histórico “Henfil na China (antes da Coca-Cola)”. O livro saiu em 1980 pela Codecri (Comando de Defesa do Crioléu), editora que fundou dentro do Pasquim, e se tornou propulsora das finanças do jornal. Mais que uma sigla, que os políticamente corretos poderiam hoje interpretar mal, ao pé da letra, o título era uma espécie de divisa de quem deu a vida em defesa dos oprimidos - crioléus de todas as cores, gêneros e credos.

KUARUP MÚSICA: Criada em 1977, no Rio de Janeiro , a Kuarup é considerada uma das principais gravadoras independentes do Brasil e acumulou diversas premiações, incluindo dois Grammy Awards. Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral. A Kuarup passa a fazer parte do mercado editorial com o lançamento do livro Os Outubros de Taiguara, obra dedicada ao cantor mais censurado da MPB.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

.: Cineflix Cinemas Santos estreia "Renfield", "O Chamado 4" e "O Colibri"


Cineflix Santos apresenta na telona três estreias para agradar os mais diversos gostos dos cinéfilos da Baixada Santista: a comédia "Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe", o terror "O Chamado 4: Samara Ressurge" e o drama "O Colibri"

O divertido "Renfield: Dando O Sangue Pelo Chefe" faz rir com a história de Renfield, o sofrido ajudante do chefe mais narcisista da história: Drácula. Enquanto que "O Chamado 4: Samara Ressurge" leva o público ao Japão, quando pessoas que assistem a um vídeo amaldiçoado subitamente morrem, mas uma estudante tenta revelar o mistério que envolve o tal vídeo.

"O Colibri", drama italiano, dirigido por Francesca Archibugi, é uma adaptação do romance homônimo de 2019 de Sandro Veronesi. O longa estreou no Festival de Cinema de Roma em 13 de outubro de 2022 e foi lançado nos cinemas na Itália no dia seguinte. 

Segue em cartaz a animação"Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan", nova versão cinematográfica mais fiel para o clássico livro de Alexandre Dumas, com  Eva Green, François Civil, Vincent Cassel, Jacob Fortune-Lloyd, Louis Garrel, Lyna Khoudri, Pio Marmaï, Ralph Amoussou, Vicky Krieps.

A trama de terror "A Morte do Demônio: A Ascensão" apresenta a história de uma mulher que luta pela sobrevivência quando um livro antigo dá à luz demônios sedentos por sangue. Eles se tornam cada vez mais agressivos em um prédio em Los Angeles.

O nacional "Ninguém é de ninguém", com Carol Castro, Danton Mello, Rocco Pitanga e Paloma Bernardi, baseado no romance de Zíbia Gasparetto, conta uma história das vidas de dois casais se entrelaçam por ciúmes e desespero quando Gabriela, esposa de Roberto, é chamada para se associar ao escritório de advocacia do bem-sucedido Renato, marido de Gioconda. 

"Super Mario Bros.: O Filme" ("Super Mario Bros.: The Movie"), com vozes originais de Chris Pratt (Mario), Anya Taylor-Joy (Princesa Peach) e Charlie Day (Luigi), sucesso entre os adultos saudosistas e crianças.

A equipe do Resenhando.com assiste as estreias dos filmes no Cineflix Santos, que fica Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, Gonzaga, em Santos, no litoral de São Paulo. Confira os dias, horários e sinopses dos filmes para você ficar por dentro de tudo o que acontece no mundo do cinema. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.


Estreias da semana no Cineflix Santos


"Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe" ("Renfield")Ingressos on-line neste link.
Gênero: comédia. Classificação: 18 anos (Drogas, Linguagem Imprópria, Violência Extrema)Duração: 01h33. Ano: 2023. Idioma: inglês. 
Distribuidora: Universal Filmes. Direção: Chris Mckay. Roteiro: Yuya Takahashi. Elenco: Nicolas Cage, Ben Schwartz, Nicholas HoultSinopse: Renfield é o sofrido ajudante do chefe mais narcisista da história: Drácula.

Sala 2 (dublado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 16h30
28/4/2023 - Sexta-feira: 16h30
29/4/2023 - Sábado: 16h30
30/4/2023 - Domingo: 16h30
1/5/2023 - Segunda-Feira: 16h30
2/5/2023 - Terça-Feira: 16h30
3/5/2023 - Quarta-Feira: 16h30

Sala 2 (legendado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 20h50
28/4/2023 - Sexta-feira: 20h50
29/4/2023 - Sábado: 20h50
30/4/2023 - Domingo: 20h50
1/5/2023 - Segunda-Feira: 20h50
2/5/2023 - Terça-Feira: 20h50
3/5/2023 - Quarta-Feira: 20h50

"Renfield: Dando O Sangue Pelo Chefe (Renfield)" - Trailer



O Chamado 4: Samara Ressurge (Sadako Dx)Ingressos on-line neste link.
Gênero: terror. Classificação: 16 anos. Duração: 01h41. Ano: 2023. Idioma: japonês. 
Distribuidora: Paris Filmes. Direção: Hisashi Kimura. Roteiro: Yuya Takahashi. Elenco: Fuka Koshiba, Kazuma Kawamura, Mario KurobaSinopse: Pessoas que assistem a um vídeo amaldiçoado subitamente morrem. Essas mortes ocorrem em todo o Japão, e uma estudante tenta revelar o mistério que envolve o tal vídeo.

Sala 4 (dublado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 18h40
28/4/2023 - Sexta-feira: 18h40
29/4/2023 - Sábado: 18h40
30/4/2023 - Domingo: 18h40
1/5/2023 - Segunda-Feira: 18h40
2/5/2023 - Terça-Feira: 18h40
3/5/2023 - Quarta-Feira: 18h40

Sala 4 (legendado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 21h00
28/4/2023 - Sexta-feira: 21h00
29/4/2023 - Sábado: 21h00
30/4/2023 - Domingo: 21h00
1/5/2023 - Segunda-Feira: 21h00
2/5/2023 - Terça-Feira: 21h00
3/5/2023 - Quarta-Feira: 21h00

"O Chamado 4: Samara Ressurge" - Trailer

O Colibri (Il Colibri)Ingressos on-line neste link.
Gênero: drama. Classificação: 14 anos (Drogas Lícitas, Linguagem Imprópria, Temas Sensíveis). Duração: 02h06. Ano: 2023. Idioma: francês e italiano. 
Distribuidora: Pandora Filmes. Direção: Francesca Archibugi. Roteiro: Francesca Archibugi, Laura Paolucci e Francesco Piccolo. Elenco: Pierfrancesco Favino, Kasia Smutniak, Bérénice BejoSinopse: O Colibri é um filme de drama italiano de 2022 dirigido por Francesca Archibugi. O filme é uma adaptação do romance homônimo de 2019 de Sandro Veronesi. Ele estreou no Festival de Cinema de Roma em 13 de outubro de 2022. Foi lançado nos cinemas na Itália no dia seguinte. 

Sala 4 (legendado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 20h30
28/4/2023 - Sexta-feira: 20h30
29/4/2023 - Sábado: 20h30
30/4/2023 - Domingo: 20h30
1/5/2023 - Segunda-Feira: 20h30
2/5/2023 - Terça-Feira: 20h30
3/5/2023 - Quarta-Feira: 20h30

"O Colibri" - Trailer

Seguem em cartaz no Cineflix Santos

A Morte do Demônio: A AscensãoIngressos on-line neste link.
Gênero: terror, fantasia. Classificação: 18 anos. Duração: 120m. Ano: 2023. Idioma: inglês. 
Distribuidora: Warner Bros. Direção: Lee Cronin. Roteiro: Lee Cronin. Elenco: Alyssa Sutherland, Lily Sullivan, Morgan Davies, Nell Fisher, Jayden Daniels, Gabrielle EcholsSinopse: Uma mulher se encontra em uma luta por sua vida quando um livro antigo dá à luz demônios sedentos por sangue. Eles se tornam cada vez mais agressivos em um prédio em Los Angeles.


Sala 4 (dublado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 18h20
28/4/2023 - Sexta-feira: 18h20
29/4/2023 - Sábado: 18h20
30/4/2023 - Domingo: 18h20
1/5/2023 - Segunda-Feira: 18h20
2/5/2023 - Terça-Feira: 18h20
3/5/2023 - Quarta-Feira: 18h20

Sala 4 (legendado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 20h30
28/4/2023 - Sexta-feira: 20h30
29/4/2023 - Sábado: 20h30
30/4/2023 - Domingo: 20h30
1/5/2023 - Segunda-Feira: 20h30
2/5/2023 - Terça-Feira: 20h30
3/5/2023 - Quarta-Feira: 20h30

"A Morte do Demônio: A Ascensão" - Trailer


Ninguém é de ninguémIngressos on-line neste link.
Gênero: drama, ficção religiosa. Classificação: 16 anos. Duração: 107m. Ano: 2023. Idioma: português. 
Distribuidora: Sony Pictures. Direção: Wagner de Assis. Roteiro: Wagner de Assis. Elenco: Carol Castro (Gabriela), Danton Mello (Roberto), Rocco Pitanga (Dr. Renato), Paloma Bernardi (Gioconda). Sinopse: As vidas de dois casais se entrelaçam quando Gabriela, esposa de Roberto, é chamada para se associar ao escritório de advocacia do bem-sucedido Renato, marido de Gioconda. O ciúme, o desespero e a falta de confiança faz com que o quarteto tenha seu destino atravessado por mentiras, relacionamentos desgastantes e tragédias.

Sala 1
27/4/2023 - Quinta-feira: 15h30
28/4/2023 - Sexta-feira: 15h30
29/4/2023 - Sábado: 15h30
30/4/2023 - Domingo: 15h30
1/5/2023 - Segunda-Feira: 15h30
2/5/2023 - Terça-Feira: 15h30
3/5/2023 - Quarta-Feira: 15h30

"Ninguém é de ninguém" - Trailer


Os Três Mosqueteiros: D'ArtagnanIngressos on-line neste link.
Gênero: aventura. Classificação: 14 anos. Duração: 125m. Ano: 2023. Idioma: inglês. 
Distribuidora: Paris Filmes. Direção: Martin Bourboulon. Roteiro: Martin Bourboulon. Elenco: Eva Green, François Civil, Vincent Cassel, Jacob Fortune-Lloyd, Louis Garrel, Lyna Khoudri, Pio Marmaï, Ralph Amoussou, Vicky Krieps. Sinopse: Uma nova versão cinematográfica mais fiel do clássico livro de Alexandre Dumas, em que o jovem D'Artagnan sonha em se tornar um mosqueteiro. 


Sala 1 (legendado) 
27/4/2023 - Quinta-feira: 18h00
28/4/2023 - Sexta-feira: 18h00
29/4/2023 - Sábado: 18h00
30/4/2023 - Domingo: 18h00
1/5/2023 - Segunda-Feira: 18h00
2/5/2023 - Terça-Feira: 18h00
3/5/2023 - Quarta-Feira: 18h00

"Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan" - Trailer



"Super Mario Bros.: O Filme" ("Super Mario Bros.: The Movie"). Ingressos on-line neste link.
Gênero: animação. Classificação: livre. Duração: 1h 32m. Ano: 2023. Idioma: inglês. Distribuição: Universal Studios. Direção: Aaron Horvath, Michael Jelenic. Roteiro: Matthew Fogel. Vozes originais: Chris Pratt (Mario), Anya Taylor-Joy  (Princesa Peach), Charlie Day (Luigi), Charles Martinet, Jack Black (Bowser), Keegan-Michael Key (Toad), Seth Rogen (Donkey Kong), Fred Armisen (Cranky Kongs). Sinopse: os irmãos Mario e Luigi são encanadores. Um dia, eles vão parar no Reino dos Cogumelos, governado pela Princesa Peach, mas ameaçado pelo rei dos Koopas, que faz de tudo para conseguir reinar em todos os lugares.


Sala 3,4 (dublado)
27/4/2023 - Quinta-feira: 15h00 - 16h00 - 17h00 - 19h00
28/4/2023 - Sexta-feira: 15h00 - 16h00 - 17h00 - 19h00
29/4/2023 - Sábado: 15h00 - 16h00 - 17h00 - 19h00
30/4/2023 - Domingo: 15h00 - 16h00 - 17h00 - 19h00
1/5/2023 - Segunda-Feira: 15h00 - 16h00 - 17h00 - 19h00
2/5/2023 - Terça-Feira: 15h00 - 16h00 - 17h00 - 19h00
3/5/2023 - Quarta-Feira: 15h00 - 16h00 - 17h00 - 19h00

Trailer - "Super Mario Bros: O Filme"

segunda-feira, 2 de maio de 2005

.: Entrevista com Rodrigo Capella, escritor

"O cão tem uma capacidade incrível de mudar as pessoas e de torná-las mais humanas" - Rodrigo Capella

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2005



Rodrigo Capella, autor de Como Mimar seu Cão, iniciou na carreira editorial ainda em 1997, com contos e poesias. Em 1997, lançou o primeiro livro, Enigmas & Passaportes, cuja tiragem rapidamente se esgotou. 

Após dez anos procurando um tema de interesse público, o escritor, produziu Como Mimar Seu Cão, que apresenta 50 dicas importantes para o dono transformar seu pet num grande companheiro. 



RESENHANDO - Quanto tempo levou para produzir Como Minar o Seu Cão?
Rodrigo Capella - Cerca de dois anos e meio, levando em conta todas as fases de escrita e de publicação. O livro traz informações essenciais para o amadurecimento físico e psicológico do seu cão. Ele conta com 72 páginas e está recheado de ilustrações e dicas. A linguagem é leve e divertida! Vale a pena conferir. Estreite o relacionamento com seu cão e leia Como mimar seu cão. Ele está á venda nas melhores livrarias e pet shops. 


RESENHANDO - Por que escrever um livro sobre o universo canino?
R.C. - O cão tem uma capacidade incrível de mudar as pessoas e de torná-las mais humanas. O mundo precisa de pessoas assim. Vamos mudar, antes que seja tarde! Como Mimar seu Cão apresenta 50 dicas importantes para transformar seu animal de estimação num grande companheiro. A cada caminho percorrido, o leitor é conduzido para uma nova etapa até conquistar o chamado Grande Prêmio. Dividido em cinco estágios, o livro tem uma linguagem leve e divertida, mesclando acontecimentos do cotidiano com histórias fantásticas.


RESENHANDO -  Há de fato uma brincadeira sobre o tema do livro?
R.C. - O livro traz histórias fantásticas, mas também cotidianas e busca discutir os relacionamento humanos, seja entre homens e cães ou entre homens e homens. Precisamos ser mais sociáveis com o próximo. Vamos mudar antes que seja tarde! 


RESENHANDO -  Vender seu livro em Pet Shops, é uma saída para aumentar a venda de Como Minar o Seu Cão?
R.C. - O livro já está à venda nas melhores livrarias e pet shops. Além disso, pode ser comprado pela internet, no site da Livraria Cultura: www.livrariacultura.com.br. Estou realmente surpreso com a vendagem do livro. Outro dia, conversei com o editor e ele me informou que o número de livros vendidos já superou a expectativa. Isso é ótimo! Acho que o público está gostando da obra e está recomendando para amigos e conhecidos. Vendê-los em pet shop tem sido muito interessante, pois o livro fica em contato direto com o leitor. E o principal objetivo do livro é justamente mostrar que os cães devem ser mais valorizados e que a relação deles com os donos precisam de mais destaque dentro de uma sociedade cada vez mais individualista e conservadora. 


RESENHANDO -  Como surgiu a idéia de escrever este livro?
R.C. - Durante quase dois anos eu acompanhei o relacionamento do Brutus, um mini-yorkshire de três anos, com minha mãe, meu irmão e eu. Em certo momento, acreditei que essa relação daria uma boa história e comecei a fazer anotações, num pequeno caderninho que eu levava a todo lugar. O resultado disso foi a publicação de Como mimar seu cão. Antes, eu não gostava de cães, mas a convivência com o Brutus mudou a minha percepção e eu conto um pouco disso no livro. Ao me aproximar de Brutus, mudei profundamente e hoje sou uma outra pessoa. O livro fala um pouco sobre isso, de maneira mais geral, mas sempre focando o cão como protagonista. Afinal, quem tem um pet o considera como um filho e o ama como tal. Isso precisava ser dito no livro.


RESENHANDO -  Descreva a emoção de ter um livro publicado.
R.C. - Foi muito enriquecedor. Toda obra teve o seu momento marcante e me ensinou muito, com esse livro aconteceu o mesmo. Quero continuar aprendendo cada vez mais. Gosto de ter um relacionamento muito próximo com o leitor e descobrir o tema que realmente ele gosta. Acho que essa é a principal função do escritor. Eu insisto: “Temos que estar a serviço do leitor e escrever sobre o que ele gosta!”



RESENHANDO -  Qual o seu estilo literário preferido? Por quê?
R.C. - Gosto de misturar gêneros e traçar linhas que, ao mesmo tempo, mostrem momentos de mistério, romance, humor e alegria. Essa mistura é uma característica minha. Utilizando essa técnica, consigo imprimir momentos de ação e pausas na hora necessária, demarcando o tempo certo de cada cena, momento, acontecimento. 


RESENHANDO -  Quais os seus escritores preferidos? Por que?
R.C. -Agatha Christie, pela ousadia e pelas histórias sempre criativas, e Sir Arthur Conan Doyle, pela inteligência ao criar e dar vida ao Sr. Holmes. No Brasil, admiro Pedro Bandeira, um escritor que
consegue imprimir um bom texto em suas histórias, convidando o leitor para virar a página e descobrir um outro mundo, totalmente diferente do anterior. Ele é fantástico!


RESENHANDO -  Há quanto tempo está inserido no mercado editorial?
R.C. - No começo, eu escrevia contos e poesias, depois, em 1997, lancei o primeiro livro, chamado Enigmas & Passaportes, cuja tiragem rapidamente se esgotou. Fiquei quase dez anos procurando um tema que realmente interessasse ao público e esse ano chegou. Chegou o momento de Como Mimar Seu Cão, que apresenta 50 dicas importantes para o dono transformar seu pet num grande companheiro. O livro é prefaciado pelo consagrado cineasta Carlos Reichenbach, diretor de importantes obras como Dois Córregos e Garotas do ABC. Nesse ano, eu estarei lançado Transroca, o navio proibido. O livro conta a história de Kall, um detetive altamente qualificado, que, em sua lua-de-mel, tem que desvendar um mistério. A obra é prefaciada por Ricardo Zimmer, um cineasta ousado, conhecedor da sétima arte e diretor do ótimo Catarina, que com certeza irá comover muitos brasileiros. Ainda esse ano, vou lançar o livro Rir ou Chorar: o cinema sentimental, uma biografia sobre o cineasta Ricardo Pinto e Silva, que trabalhou em mais de vinte filmes. A obra faz parte da Coleção Aplauso, coordenada pelo mestre Rubens Ewald Filho. Além disso, terminei recentemente mais um livro, o meu quinto, cujo projeto está guardado a sete chaves, mas posso adiantar que será o meu primeiro trabalho em co-autoria.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

.: Entrevista com Alexandre Guarnieri, poeta



"A serenidade que busco na vida já não quero no texto".
Alexandre Guarnieri

Por Helder Miranda
Em agosto de 2016

Nascido no Rio de Janeiro em 10 de maio de 1974, Alexandre Guarnieri  é historiador da arte e mestre em tecnologia da imagem. Começou, em 1993, a participar de eventos de poesia falada no Rio de Janeiro. Em 2011, publicou pela Editora da Palavra o seu primeiro livro, "Casa das Máquinas". Com o livro "Corpo de Festim", lançado pela editora "Confraria do Vento", conquistou o primeiro Prêmio Jabuti de Literatura na categoria "Poesia". O livro ganha agora uma segunda edição, pela editora "Penalux".

A obra pretende acostumar o leitor à sua biologia, às suas entranhas e fazer com que estas lhe entreguem a verdade sobre o mundo, a vida e sua história, descobrindo e redescobrindo o novo e o antigo dentro da anatomia, da matéria orgânica e também das palavras.

Aos 42 anos, mora no Centro do Rio de Janeiro e trabalha com burocracia estatal. Está entre os editores da revista eletrônica "Mallarmargens".  Além do Jabuti, no ano passado, ele conquistou em 2003 os prêmios "Yêda Schmaltz", oferecido pela "União Brasileira de Escritores, Seção Goiás", e "Marco Lucchesi", oferecido pelo jornal carioca "Panorama da Palavra", pelo poema que está no "Casa das Máquinas", chamado "pedra fundamental". 


Reeditado recentemente, o livro "Corpo de Festim" tem o intuito de explicar a maravilhosa criação do corpo humano em forma de poesia. O autor brinca com as palavras para descrever a criação e a evolução dos seres por meio da biologia, com a proposta levar o leitor às infinitas descobertas sobre o início de nós mesmos e a continuidade da nossa história.

De acordo com o escritor Furio Lonza, autor do prefácio, a obra reúne poesias em torno de um tema, concentradas obsessivamente na materialidade da palavra, na dissecação, na anatomia, no “voyver biológico”"A repetição sobre seu objeto, o corpo, leva-nos a infinitas descobertas sobre o início de nós mesmos e a continuidade da nossa história, chegando perto das nossas interpretações de nossas verdades e mentiras", relata.

Para os editores Tonho França e Wilson Gorj, Guarnieri se enquadra nos pódios da poesia brasileira contemporânea, por sua linguagem inovadora e única. Com tema impressionantemente modernos, seu peso materialista é familiar devido à cultura ocidental do século XXI, que precisa do material bruto para crer.


RESENHANDO - O sobrenome "Guarnieri" é parentesco ou coincidência com o ator/escritor?
ALEXANDRE GUARNIERI - Temos ancestrais comuns, na Itália, mas nunca convivemos.

RESENHANDO - Qual é a sensação de ganhar um "Prêmio Jabuti" com um livro de poesias?
A.G. - Uma satisfação sem tamanho, uma sensação de trabalho de casa bem feito. Um reconhecimento.  

RESENHANDO - Por que o título “Corpo de Festim"?
A.G. - Quis um título curto e de alto impacto, como no "Casa das Máquinas". Da "Casa" para o "Corpo" me pareceu um salto coerente. 

RESENHANDO - Como surgiu a oportunidade de reeditar, dois anos depois, o livro? 
A.G. - A primeira editora, com a qual ganhei o prêmio Jabuti, não mostrou interesse em reimprimir ou reeditar o livro, apesar do prêmio.
Conheci o trabalho da Penalux e decidi apostar. Tonho França e Wilson Gorj são sérios e afetuosos. É o que um autor espera de seus editores, além do profissionalismo.


RESENHANDO - Como a poesia pode se relacionar com a criação e a evolução dos seres por meio da biologia?
A.G. - O mundo é experimentado a partir dos cinco sentidos, mas só a linguagem pode compartilhar a experiência. A linguagem pode interpretar tudo ou, pelo menos, tentar, tentar, tentar. A arte é uma espécie de ciência.

RESENHANDO - O livro tem a proposta de conduzir o leitor às infinitas descobertas sobre o início de nós mesmos e a continuidade da nossa história. O que você próprio descobriu com esse trabalho?
A.G. - O valor do acaso... que todo livro é um monstro de "Frankenstein" e nos desafia, que pode nos consumir... que os temas também estão sujeitos à entropia... que o ego planta armadilhas, um campo minado de problemas e saídas estratégicas... que o poema é meu bote salva-vidas... 

RESENHANDO - Como é, para você, descobrir e redescobrir o novo e o antigo dentro da anatomia, da matéria orgânica e também das palavras?
A.G. - Eu me sinto um cientista louco, imune à disciplina... Ao mesmo tempo, dedicado, abraçado à própria obsessão, numa relação apaixonada... Os temas me tomam, se apossam de mim... Cada livro que escrevo me oferece o mapa para uma nova viagem, aberta ao improviso, mas trabalhosa e cheia de perigos... Neste livro, quis converter a matéria orgânica em linguagem, como se pudéssemos criar uma máquina para isso... Persegui uma poética genética...   

RESENHANDO - Nesse livro, você também fez a capa e o projeto gráfico. Como foi esse trabalho, na própria obra?
A.G. - Desde meu primeiro livro, sempre estive ligado à todos as etapas do processo do livro... Minha poesia está intimamente ligada à forma, eu não poderia terceirizar isso. É algo que nasceu com a minha poesia.


RESENHANDO - A poesia é um segmento valorizado na literatura? 
A.G. - Muito valorizado. E menos lido do que gostaríamos. A poesia é o laboratório alquímico da linguagem por excelência. É onde o chumbo pode virar ouro. É o campo experimental onde velhas coisas podem ser descritas de novas formas, possibilitando novas sensações sobre elas. Gosto muito dessa poesia que emana das coisas. A poesia é uma espécie de farol da sensorialidade. Por dizer o velho como novo, permite que este seja sentido de outro modo. 

RESENHANDO - Como um historiador da arte e mestre em tecnologia da imagem enveredou para a poesia?
A.G. - Para alguém que busca a arte experimentando linguagens, um meio sempre acaba fisgando a sensibilidade em detrimento dos outros, no meu caso, foi o da palavra escrita. Os poemas são esculturas ou pinturas ou vídeos ou performances... verbi-voco-visuais. Toda arte é tradução e fundação.

RESENHANDO - Desde 93, você participa de eventos de poesia falada no Rio de Janeiro. A oralidade na poesia é algo que está se perdendo?
A.G. - Pelo contrário, os saraus estão mais em pauta do que nunca. Muito embora, eu julgue haver poemas que funcionem na voz, mas não na página. E vice-versa. Mas tudo é uma questão de juízo e não deve haver ditadura estética.

RESENHANDO - Dentro desse assunto, como faz para enxergar a poesia no dia a dia?
A.G. - É uma questão de treino, de exercício do olhar e da escuta do mundo. Um tipo de meditação. Convidar o fora a entrar, depois tentar isolá-lo. Ficar em roda com ele. Conviver com o fora, dentro. Depois expulsá-lo com palavras. O poema pode ser uma tradução de sensações.  


RESENHANDO - O primeiro livro, “Casa das Máquinas”, foi elaborado em que contexto, e a partir de que inspiração?
A.G. - Uma energia muito parecida com a do "Corpo de festim", acho que esses livros conversam muito. Fiquei 15 anos trabalhando nele. Publicar não era prioritário. Simplesmente me permiti conviver tanto tempo com uma família de poemas que eles foram se ramificando, dando filhotes, só então entendi que o conjunto era um livro. E os aprisionei nele. Meus livros são zoológicos, há um raciocínio por trás da reunião, mais do que simplesmente um recorte temporal.

RESENHANDO - Qual a diferença entre o primeiro “Casa das Máquinas” e o que será reeditado ainda este ano?
A.G. - Pretendo limpar os exageros (este livro exige muito fôlego). Retirar alguns poemas, inserir outros, além de mostrar uma pequena fortuna crítica. 

RESENHANDO - Como é o seu trabalho como editor da revista eletrônica "Mallarmargens"?
A.G. - É a minha cachaça. Tomar contato com novos trabalhos e novas visões da poesia é de uma satisfação sem tamanho. Há tanto talento por aí, quase sempre inédito em livro. 

RESENHANDO - As premiações servem como incentivo aos escritores? Isso, de alguma maneira, interfere no ego do artista?
A.G. - As premiações deveriam servir como incentivo, inclusive financeiro, jamais ar quente para o balão do ego.  

RESENHANDO - O que há de autobiográfico nas suas poesias?
A.G. - As minhas sensações do mundo, quase sempre alimentadas por obras de arte de terceiros é certo. A arte é o combustível. Minha poesia é essencialmente biográfica porque parte de minhas sensações. 

RESENHANDO - O que a poesia representa para você?
A.G. - Uma forma de estar no mundo, num eterno jogo de estabilidade e transformação. No final, não há como vencer a entropia. Então é possível cantá-la.


RESENHANDO - Quais os autores mais influenciaram a sua carreira como poeta e por que?
A.G. - Pode parecer absurdo, mas num mesmo período fui capaz de me sentir simultaneamente tão entusiasta dos beatniks quanto dos concretos paulistas. Nunca fui preconceituoso com as experimentações nos limites das linguagens. Nas zonas de fronteira onde as linguagens se encontram há terreno fértil para renovações estéticas. Nos anos 90, ao mesmo tempo em que militava na poesia falada carioca, fazia experiências com poemas-objeto que não compartilhava com ninguém. Colava textos em pequenos espelhos, que refletiam uns aos outros. Eu fiz muitos poemas-objeto de cartolina recortada e dobrada. Misturei muito Amilcar de Castro com Lygia Clark. Tinha minha oficina particular de poesia concreta! Sempre fui fã dos construtivos, proto, pré, strictu sensu, neo, pós. O livro “A Ave” do Wlademir Dias-Pino me impressionou bastante (Álvaro de Sá tinha uma cópia, há pouquíssimas no mundo)! Produzi um poema cinético, o "CiClotron", e o poema interativo "Cristal-Prisma-Fractal" (inédito). Mas a materialidade do impresso sempre me venceu. O livro como uma fantástica máquina, ao mesmo tempo tão simples. Percebi que o software era mais interessante que o hardware e resolvi investir mais nele, ou seja, no texto em si. Muitos autores fizeram a minha cabeça ao longo dos anos; para citar alguns: Gullar, JCMN, CDA, Manoel de Barros, Ledo Ivo, Augusto dos Anjos, O grupo Noigandres, os beatniks, Francis Ponge, Gottfried Benn, Trakl, cummings, Ezra, Pessoa, Sá-Carneiro, Mauro Gama, Álvaro Mendes, Helena Ortiz, Astrid Cabral, Rosa Ramos, etc. Não conseguiria citar todos.

RESENHANDO - O que o inspira e o que o desestimula a escrever?
A.G. - Uma relação difícil de pretensa intimidade com o texto me estimula, mas familiaridade e facilidade demais me fazem perder o tesão.  

RESENHANDO - Diferenças e semelhanças entre o poeta e o homem Alexandre Guarnieri.
A.G. - O que escrevi acima já não vale pra vida, ou pelo menos não deveria, gosto de acreditar que estou apto a buscar relações saudáveis com pessoas e lugares. A serenidade que busco na vida já não quero no texto. No texto, quero a guerra, a fricção, o risco, o perigo.

RESENHANDO - A poesia pode morrer?
A.G. - A poesia morre e renasce todo dia, no seio da nossa relação com a linguagem. Peço permissão para citar o poeta amigo Mauro Gama, por sua vez citando Cioran, no posfácio do meu primeiro livro, "Casa das Máquinas": "o consagrado, numa língua, como lembra o romeno Cioran, constitui sua morte: uma palavra prevista é uma palavra defunta; só seu emprego artificial lhe insufla um novo rigor (...)”. E o rigor, com relação à palavra, é o próprio ofício do poeta". Quando nosso olhar sobre algo embaça, a poesia morre. O olhar faz as coisas viverem e morrerem. Faz parte do ciclo de renovação, permitir que algo morra, para que possa se renovar. Vida e morte são o eterno jogo necessário à criação. 

Sobre o entrevistador
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
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