Três textos nunca publicados em seus livros estão disponíveis na curadoria digital do projeto. Foto: Camila Guedes / UPF
O Acervo Literário de Josué Guimarães (Aljog), localizado na Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul, encontrou três contos inéditos do escritor gaúcho, além de dez textos pouco conhecidos, durante a organização de seus manuscritos. A descoberta foi feita pelo doutorando Israel Portela de Farias, bolsista do Aljog e integrante do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL), no trabalho de pesquisa e catalogação do material.
Escritos entre as décadas de 1970 e 1980, os textos estão disponíveis no site da curadoria digital do projeto (curadoriadigitaljosueguimaraes.org). Dois contos já estão completos, e o terceiro deve ser finalizado até o fim de 2025, segundo o coordenador do Acervo, professor Miguel Rettenmaier da Silva. “Alguns textos não conseguimos localizar em nenhuma publicação do Josué Guimarães. É difícil trabalhar com a questão do inédito, porque muitas revistas da época já não existem. Por isso, chamamos de ‘prováveis inéditos’”, explica Israel.
Cada conto é disponibilizado na curadoria digital em quatro camadas: a primeira é o texto-base, ou seja, como foi inicialmente escrito por Josué; a segunda traz as correções feitas pelo próprio autor, geralmente com canetas vermelha e verde; a terceira inclui os retoques finais a lápis; e a última é a versão final. Essas camadas revelam diferentes estágios do processo criativo do autor, possibilitando também a análise de possíveis versões alternativas das histórias. A curadoria digital permite à população a leitura e a interpretação de obras selecionadas do escritor. “Realizamos esse trabalho para que os leitores possam acompanhar as obras e não fiquem somente no acervo, preservando a memória do Josué Guimarães com esses textos inéditos”, afirma o doutorando.
O primeiro conto, intitulado "A Dramática História de Uma Dama", chamou a atenção do Aljog por não ser encontrado em nenhuma publicação conhecida do autor. O texto foi editado durante a dissertação de mestrado de Israel. Uma carta enviada por Josué à revista Status, na qual ele solicita a possível publicação do conto, reforça a hipótese de que a obra era inédita e pensada com uma abordagem mais erótica, característica da linha editorial da revista.
Provavelmente esse material não foi publicado. Como era na década de 1970, o conto envolvia questões sobre a dominância do homem com a mulher e questões de agressões. “Josué Guimarães chegou a trocar algumas palavras também, como, por exemplo, sexo por jogo de damas”, revela Israel.
O segundo conto, intitulado "O Mágico", foi encontrado entre os manuscritos de um dos cadernos de anotações do escritor. Com oito páginas escritas frente e verso, o texto apresenta uma narrativa irônica e carregada de crítica social: um mágico preso provoca desordem entre os detentos com truques que fazem aparecer comida, sendo punido com isolamento na solitária, onde morre de fome.
O terceiro e último conto, "A Árvore de Natal", está 90% editado. Com tom irônico e cômico, o texto satiriza um homem que monta a sua árvore de Natal e não consegue mais se desfazer dela. Ele briga com o síndico do prédio por causa da árvore e acaba a jogando pela janela. “Já estou trabalhando há três anos nesse documento, mas depois que é finalizado fica muito bonito”, resume o bolsista. O site da curadoria digital também disponibiliza correspondências de Guimarães com outros escritores, como Mario Quintana e Erico Verissimo, e o jornalista e humorista Millôr Fernandes. Compre os livros de Josué Guimarães neste link.
Sobre o acervo
O Acervo Literário de Josué Guimarães está sob guarda da Universidade de Passo Fundo desde 2007. O espaço reúne mais de 8 mil itens, como objetos pessoais, máquinas de datilografia, originais de obras, exemplares de correspondência, entre outros, doados pela família do escritor.
Josué Guimarães nasceu em 7 de janeiro de 1921, na cidade gaúcha de São Jerônimo. Antes de se tornar escritor de romances, foi jornalista. Ainda jovem, mudou-se para São Paulo à procura de emprego – e foi lá que começou a trabalhar como redator e ilustrador. Ao longo da vida, também foi repórter, cronista, comentarista e diagramador. O professor Miguel Rettenmaier destaca que Guimarães viveu intensamente a vida política e foi militante da redemocratização.
O autor era conhecido por suas crônicas de cunho político. Suas obras foram publicadas entre 1970 e 1987. Ele faleceu em 23 de março de 1986, em Porto Alegre. Entre seus principais escritos estão: "A Ferro e Fogo" (1972), "Depois do Último Trem" (1973), "É Tarde para Saber" (1977), "Os Tambores Silenciosos" (1977), "Dona Anja" (1978) e "Camilo Mortágua" (1980).
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