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quarta-feira, 11 de junho de 2025

.: Entrevista com Paulo Scott: o poeta entre o desconforto e a estética


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com.. Foto: Morgana Kretzmann

Não é poesia para agradar: é para fisgar. Com essa energia crua e combativa, o escritor Paulo Scott lança pela editora Alfaguara o livro de poemas "Sanduíche de Anzóis". Ao revisitar 25 anos de produção poética, o autor do romance "Marrom e Amarelo" não só costura versos antigos - ele os rasga, remonta, corta fora o que já não sangra. O resultado? Um corpo novo, feito de amores esfolados, revoltas sem anestesia e loucura como linguagem-mãe.

Neste livro-reinvenção, Scott transforma o tempo em lâmina e a memória em anzol. Esqueça o lirismo gourmet de redes sociais: a poesia dele é músculo em espasmo, verbo que lateja, um soco lírico na caretice dos algoritmos. Entre versos indomáveis e um manifesto contra o novo fascismo, Scott reafirma que escrever no Brasil é - ainda - uma forma de risco, de raiva, de ternura. Nesta entrevista exclusiva ao portal Resenhando.com, o autor fala sobre o prazer de cuspir versos que não servem mais, a recusa às anestesias do mercado e por que prefere o desconforto à doçura. Prepare-se: esta conversa não é para os que esperam vinho chileno - aqui, a poesia vem quente e crua para fisgar. Apoie o Resenhando.com e compre a coletânea "Sanduíche de Anzóis", de Paulo Scott, neste link.


Resenhando.com - Você revisitou, reescreveu e reinventou poemas seus com mais de 25 anos. O que Paulo Scott cortou de si ao cortar os próprios versos? O que ficou indigesto nesse "Sanduíche de Anzóis" que você precisou cuspir fora?
Paulo Scott - 
Todo processo de releitura implica reinvenção. Essa reinvenção demanda riscos. Penso que admitir a possibilidade desse risco, considerando que talvez eu tenha me tornado um leitor melhor, mais acurado, mais sereno, é estabelecer uma tentativa de nova busca pelo simples, pela simplicidade, que é tão determinante na literatura e na arte em geral. Há uma acomodação de ritmo, um adensamento, um assentamento, que só a distância do tempo (o passar do tempo) poderia trazer. A supressão dos títulos, inclusive dos poemas inéditos, fez parte desse processo de corte – acredito na afetividade e na eficácia do cortar em relação ao texto, o tal lapidar, é diferente em relação à minha pessoa (e à minha persona de poeta também), com relação a ela há soma, sobretudo em relação à consciência do tempo que passou.


Resenhando.com - Em tempos de algoritmos suaves e poesia pasteurizada no Instagram, sua linguagem parece um soco de verbos crus. É possível fisgar leitores de hoje sem sedá-los primeiro com doçura?
Paulo Scott - A doçura traz a vertigem de curta duração, depois ela calcifica (é como um enigma que se resolve com facilidade). O que desacomoda está sempre em movimento; mesmo que diminua em grau de desconforto, está sempre acenando para a possibilidade de desafio. Penso que no “Luz dos Monstros” (Editora Aboio, 2023) cheguei a um lugar, a uma radicalidade, da qual não posso recuar. Mesmo que se reconheça no primeiro livro deste “Sanduíche de Anzóis”, o do amor, alguma acessibilidade maior, agrado, eu imagino que a estranheza, o martelar e o ruído estão sempre lá. Se eu abrir mão dessa dicção para me tornar mais palatável, mais, digamos, “vinho chileno” (aquele que nunca decepciona), estarei abrindo mão da própria poesia (da forma como leio e aprendo com a poesia buscando sempre sua incerteza). A liberdade que a poesia traz é imensa porque ela não demanda compreensão, ela demanda invenção, demanda leitura criativa (muito mais do que escrita criativa), penso que aí está a magia, aí está a potência, aí está o segredo. Faço como faço porque é o modo que possibilita o meu fazer, é como sei fazer; contornar a doçura fugir das referências, inclusive de mim, do verso que antecedeu o verso que está sendo escrito dentro próprio poema, é minha maneira de respirar, minha singularidade, minha voz única. Com o tempo a gente percebe que essa voz única é só o que podemos ambicionar, ela é um lugar, ele significa, mas, além de ser mais um grão de areia na imensa linha da tradição literária, não há nada de especial nele.


Resenhando.com - Você fala de amor, loucura e revolta como se fossem irmãs siamesas. Qual dessas três, se tivesse que amputar, deixaria você artisticamente amputado?
Paulo Scott - A loucura. Ela é o útero da minha linguagem, ela é a fonte, o duvidar que faz com que tudo se mova.


Resenhando.com - Em “Marrom e Amarelo”, você expõe feridas raciais do Brasil sem anestesia. Na sua poesia, que anestesia você deliberadamente se recusa a usar - mesmo sabendo que poderia facilitar a publicação ou aceitação?
Paulo Scott - Desprezar a inteligência e a criatividade de quem está lendo é formular anestesias que podem produzir resultados diferentes afetando, inclusive, a aceitabilidade comercial do livro (embora, como sabemos, não haja fórmula garantida). Tento não pegar (não ambicionar) esse atalho - meus romances não abrem mão do oculto, da entrelinha, da inquietude porque é minha forma de conseguir narrar. O que posso dizer é: minha prosa é assim porque minha poesia (minha respiração na poesia) é assim. Minha coragem de prosador vem da minha persona poeta, da sua loucura (do seu caos) que, embora menos prolifica, só aumenta em intensidade, vem da minha respiração de poeta, da segurança que, por sorte, consigo encontrar nela. Respondendo à pergunta de maneira mais objetiva: minha poesia é uma fuga, uma construção de exílio, de estrangeiridade e, nesse processo, há um atrito essencial e uma aspereza essencial que ditam o próprio fazer; manter esse movimento talvez seja meu modo de não ceder à tentação das anestesias.


Resenhando.com - Reescrever poemas antigos é como rever fotos ou reabrir cartas antigas? Você teve medo de reencontrar um Paulo Scott que já não é mais você?
Paulo Scott - Não tive medo. Sinto-me o mesmo adolescente tímido e gago buscando mais consistência nesta vida que se faz pela linguagem (e pela leitura dessa linguagem). Fotos e cartas são diferentes, poesia para mim é sempre aflição da busca, ela não cessa, encadeia e me faz, sem hiatos, perceber aqueles que já fui, dependo deles para ser o que sou hoje.


Resenhando.com - Se sua poesia é uma luta corpo a corpo com a linguagem, quem geralmente vence: o Paulo que escreve ou o verso que escapa?
Paulo Scott - Ótima pergunta. O verso que escapa sempre vence. Nele está a luz que instiga o meu perseguir.


Resenhando.com - Você já recebeu conselhos para “suavizar a escrita” ou “alinhar o tom ao mercado”? E, se sim, o que você respondeu - mentalmente ou em voz alta?
Paulo Scott - Sim, muitas vezes. Respondo em voz alta: é só assim que eu sei fazer.


Resenhando.com - Há um manifesto contra o novo fascismo dentro do livro. Como poeta, qual o risco maior: ser panfletário demais ou cúmplice por omissão?
Paulo Scott - Tentar ou arriscar, mesmo que haja falha, é o que importa. O engajamento está na leitura (ela determinará a importância de um texto literário). Não acredito em quem produz escoltado pela jura do engajamento, já justificando e explicando a própria relevância. Dizer que é um manifesto não me extrai da insignificância, não é mais do que uma simples nomeação. Registro que é manifesto porque um determinado tempo e um determinado Paulo Scott nos solicitou. Achei que valia a pena constar como um esforço nascido em um tempo de desespero (tendo por cenário a pandemia e sua incontornável ambiência apocalíptica) parte do grande desespero geral que é, em si, a existência.


Resenhando.com - Você se considera um poeta militante, um militante poeta ou um cara que escreve poesia tentando sobreviver ao país - e a si mesmo?
Paulo Scott - Sou poeta para abraçar da melhor maneira possível a solidão. Não penso em sobrevivência, penso em me aperceber da vida, penso, como já disse, em leitura, em ler mais e melhor o que nos determina e por vezes, nos permite alguma felicidade.


Resenhando.com - Se “Sanduíche de Anzóis” fisga, qual tipo de leitor você mais deseja capturar: o distraído, o indignado ou o que nunca se deixou morder por verso algum?
Paulo Scott - Não penso em quem me encontrará, penso em inscrever, do meu jeito, o que encontrei e repassar. E, nesse sentido, somar-me a uma ética que ainda não conseguimos definir, precisar.


Resenhando.com - O Paulo Scott dos versos é o mesmo que o da prosa e o do dia a dia? O que os aproxima e o que os diferencia?
Paulo Scott - Bom isso de focar nos versos. Mais do que os poemas, penso que existo nos versos, cada um deles é uma companhia irreplicada, um assentamento, um espelho que me dirá, sobretudo, para mim mesmo. Neles sou o tempo, o meu tempo, que não submete ao tempo cristão, ao tempo mercantil, ao tempo das expectativas, dos julgamentos (e, nos julgamentos, das condenações que na nossa maneira de viver o supremo deus capitalismo e suas eternas enfermidades, a atualidade de sua luz dos monstros, nos impõe).

.: IMS lança curta sobre arquivo de Dalton Trevisan, com registro raro


Frame do curta-metragem sobre o arquivo de Dalton Trevisan. Imagem: Instituto Moreira Salles

Na próxima sexta-feira, dia 13 de junho, o Instituto Moreira Salles lança um curta-metragem sobre o escritor Dalton Trevisan (1925-2024), em celebração ao centenário do autor paranaense, completado no dia seguinte, dia 14 de junho. O curta-metragem, que estará disponível no canal de YouTube do IMS, gira em torno do arquivo de Trevisan, doado ao IMS em 2024. Filmado na residência do autor em Curitiba, o filme traz uma raridade: um breve registro de Trevisan, conhecido pelas poucas aparições públicas, trabalhando em frente ao seu computador, aos 99 anos.

Com cerca de 10 minutos, o curta é narrado por sua agente literária e amiga Fabiana Faversani, que mostra materiais do arquivo do escritor, naquele momento armazenados no apartamento onde ele morava. São livros, fotografias, correspondências, recortes de jornais e diários, entre outros itens. Segundo Faversani, Trevisan doou seu arquivo ao IMS “por ter plena ciência da importância do material estar disponível para pesquisa e provocar uma série de novas discussões sobre a obra”.

O filme dialoga com uma série de iniciativas realizadas em celebração ao centenário do escritor. A editora Todavia, por exemplo, que representa o autor desde 2024, publicará os primeiros seis de um conjunto de 37 livros de Trevisan, mais uma antologia inédita organizada por Caetano W. Galindo e Felipe Hirsch. As demais obras ganharão novas edições ao longo dos anos.


Sobre o arquivo
Doado pelo escritor ao IMS em 2024, o arquivo de Dalton Trevisan inclui cadernetas, diários, fotografias, cartas, recortes de jornais e livros. A doação concluiu um ato iniciado em outubro de 2020, quando o IMS recebeu do autor a extensa correspondência trocada com Otto Lara Resende (1922-1992). Entre os destaques, estão pastas com recortes de jornais e revistas, incluindo desde crônicas suas publicadas na imprensa, grande quantidade de resenhas e reportagens sobre seus livros, como também material reunido por temas específicos: crimes, cinema, "Star Trek", saga da qual era fã, e escândalos políticos, entre outros.

O arquivo traz ainda dezenas de gravuras e ilustrações de Poty Lazzarotto (1924-1998), amigo desde a juventude e ilustrador de suas obras, e correspondências trocadas com nomes como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava. Com a chegada ao IMS, o arquivo de Trevisan passará por etapas de conservação, catalogação e digitalização, para então começar a ser disponibilizado para pesquisas, de modo que o público tenha acesso ao material.


Sobre o autor
Dalton Trevisan nasceu em Curitiba em 14 de junho de 1925 e faleceu no dia 9 de dezembro de 2024, aos 99 anos. Formou-se em direito pela Universidade Federal do Paraná e chegou a exercer a advocacia durante alguns anos, tendo atuado também como crítico de cinema e repórter policial. Em 1946, aos 21 anos, com amigos como Erasmo Pilotto e Poty Lazzarotto, criou a revista literária Joaquim, da qual era editor e onde publicou seus primeiros contos.

Seu primeiro livro, Novelas nada exemplares, o tornou nacionalmente conhecido - a reunião de contos ganhou o Prêmio Jabuti, primeiro dos quatro que colecionou ao longo da carreira, consagrada ainda com os prêmios Ministério da Cultura de Literatura (1996), Portugal Telecom de Literatura Brasileira, atual Oceanos, dividido com Bernardo Carvalho (2003), Camões (2012) e Machado de Assis, da ABL (2012).

Entre os livros dele, destacam-se ainda "Cemitério de Elefantes" (1964), "O Vampiro de Curitiba" (1965), do qual herdou a alcunha "Vampiro de Curitiba, Contos Eróticos" (1984), "A Guerra Conjugal" (1975), "Macho Não Ganha Flor" (2006) e o único romance, "A Polaquinha" (2013). A partir deste ano, a obra completa do autor será relançada pela editora Todavia.


Ficha técnica do curta-metragem
Direção e montagem: Matheus Balbino
Assistente de direção: Matheus Nogueira
Operação de câmera: Matheus Balbino, Matheus Nogueira
Color grading: João Felipe Moreira
Pesquisa literária e roteiro e narração: Fabiana Faversani
Acessibilidade: AHU - Acessibilidade Humanista Ltda

.: Espaço Rebentos n'A Feira do Livro: confira a programação oficial infantil


O festival literário paulistano inaugura o Espaço Rebentos, dedicado ao público infantil, com nomes como Bela Gil, Paulo Henriques Britto, Pedro Bandeira, Ruth Rocha, entre outros. Foto: divulgação


Uma das principais novidades da edição de 2025 d’A Feira do Livro é a estreia da programação oficial voltada para crianças no Espaço Rebentos, montado em frente ao estádio, em meio às tendas dos expositores. Nas edições anteriores, as atividades para crianças eram organizadas por parceiros e expositores.

Com entrada gratuita, o novo palco infantil deve receber cerca de 60 convidados em 33 atividades que incluem bate-papos, contações de histórias, oficinas e apresentações musicais com grandes autores, ilustradores e artistas do livro para as infâncias no Brasil. Não é necessário retirar senha ou ingresso. Após as atividades os autores vão assinar seus livros no mesmo local.

A curadoria do Espaço Rebentos, a cargo da jornalista e produtora cultural Juliana Vettore e da jornalista Jaqueline Silva, responsável pela cobertura infantojuvenil da revista Quatro Cinco Um, é uma versão para crianças do que se vê nos palcos voltados para o público adulto d’A Feira do Livro, com a literatura como eixo principal e temas em pauta na educação e no debate público, como cultura indígena, política, meio ambiente, cultura afro-brasileira, entre outros.

“A programação do Espaço Rebentos dialoga com os temas contemporâneos debatidos nos demais palcos d’A Feira do Livro, mas também abre espaço para a imaginação e a fantasia, com a presença de autores que escrevem e ilustram para contar histórias que vão desde um elefante fora de ritmo, passando por um cupcake aventureiro, até um grupo de gatos voadores em meio à cidade grande”, explica Jaqueline Silva.

Entre os confirmados estão a apresentadora e chef de cozinha Bela Gil; estrelas da literatura infantojuvenil, como Ruth Rocha - que tem um estande dedicado à sua obra n’A Feira do Livro - e Pedro Bandeira; o babalorixá e escritor Sidnei Nogueira; a escritora Andréa del Fuego; o ilustrador Daniel Kondo; a poeta e cordelista Auritha Tabajara; o poeta Edimilson de Almeida Pereira; a professora e escritora Lavínia Rocha; e um pocket show da banda Barbatuques.

Voltado principalmente para crianças de 4 a 9 anos - mas sem deixar outras faixas etárias de fora - o espaço foi projetado para acolher pequenos leitores e seus acompanhantes, com palco, área de leitura, bancadas de editoras voltadas para as infâncias e mesa de autógrafos. No interior da tenda, serão distribuídas credenciais especialmente feitas para as crianças - além da brincadeira de dar credenciais semelhantes às dos autores convidados, a iniciativa ajuda a identificar as crianças com o nome e o contato dos acompanhantes.

“A cenografia, que leva a identidade visual d’A Feira do Livro, cria um ambiente lúdico e acolhedor, pensado para atrair leitores de todas as idades”, conta Álvaro Razuk, diretor-geral e de arte e arquitetura do festival literário.

“O espírito d’A Feira do Livro, ao trazer a bibliodiversidade para o espaço público, a céu aberto, sem cobrança de entrada, é expandido nesse novo espaço, que amplia a circulação de livros para os pequenos”, reflete Juliana Vettore.

Nos fins de semana e no feriado serão quatro atividades ao longo do dia, às 11h00, 13h00, 15h00 e 17h00. De segunda, dia 16, a quarta, 18 de junho, serão três atividades, às 12h30, às 15h00 e às 17h00. O Espaço Rebentos tem parceria da Associação Vaga Lume, organização que promove acesso à leitura na região amazônica e participa do festival literário paulistano desde 2022. A Vaga Lume realiza n’A Feira do Livro 2025 um ciclo de debates voltados para educadores, professores e pesquisadores da educação sobre incentivo à leitura, tratando da formação de leitores nas periferias, mediação literária, as infâncias negras e indígenas, edição, acervos e bibliotecas comunitárias.


Patrocínios, apoios e parcerias
Realizada pela Associação Quatro Cinco Um e pela Maré Produções por meio da Lei Rouanet, A Feira do Livro reafirma sua relevância no cenário dos eventos literários do país com o apoio e o patrocínio de importantes instituições brasileiras.

A Petrobras é a apresentadora exclusiva desta edição, por meio da Seleção Petrobras Cultural – Novos Eixos, reforçando seu compromisso com o acesso à cultura, à leitura e à democratização do conhecimento. A Feira do Livro conta ainda com patrocínio da Prefeitura de São Paulo e da Motiva, por meio do seu Instituto, na categoria Prata; do Itaú, pelo terceiro ano consecutivo, e da laranjinha do Itaú, na categoria Bronze.

O Instituto Ibirapitanga pela terceira vez apoia o projeto, ao lado de Pinheiro Neto Advogados, que estreia como parceiro em 2025. O enjoei também renova seu apoio pelo segundo ano. A edição de 2025 conta ainda com o apoio institucional da Mercado Livre Arena Pacaembu, do Museu do Futebol junto à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, da Biblioteca Mário de Andrade e da Livraria da Travessa.

O evento também conta com apoiadores institucionais: Embaixada da França no Brasil, Camões – Instituto da Cooperação e da Língua de Portugal, Instituto Cervantes, Canada Council for the Arts, Ernesto Tzirulnik Advocacia (ETAD), Vaga Lume, Ecooar, Kiro, INNSiDE by Meliá São Paulo Higienópolis, Bubu Restaurante e ,Ovo.

A visibilidade e a difusão d’A Feira do Livro 2025 têm o apoio de veículos e plataformas que acompanham, registram e amplificam o alcance do evento, com parcerias de mídia que incluem TV Brasil, Rádio Nacional, Folha de S.Paulo, UOL, JCDecaux, piauí, PublishNews e Quatro Cinco Um.


Programação do Espaço Rebentos

Sábado, 14 de junho
11h00, no Espaço Rebentos:
pocket show da banda Barbatuques.
13h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Silvana Rando, mediação de Maria Cristina Perez Vila.
15h00, no Espaço Rebentos: oficina "Como Montar Seu Gato Alado”, baseada nos livros da série "Gatos Alados" (Glida, 2024), de Ursula K. Le Guin, com Camila Sardinha.
17h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com o poeta mineiro Edimilson de Almeida Pereira sobre a poesia produzida para crianças, mediação de Tatiana Nascimento.


Domingo, 15 de junho
11h00, no Espaço Rebentos:
pocket show da banda Fera Neném, com Gustavo Ramus de Aquino, Lia Elazari Biserra e Marcos Eduardo Dávila.
13h00, no Espaço Rebentos: "Preto é Lindo!" (Baião), oficina de desenho e impressão com carimbos, com Gabriel Furmiga.
15h00, no Espaço Rebentos: lançamento Ruth Rocha e Anna Flora (Moderna/Santillana).
17h00, no Espaço Rebentos: "Fabulações Cantadas" (Solisluna, 2024), contação de histórias cantada com Zélia Vitória Cavalcanti e Péricles Cavalcanti.


Segunda, 16 de junho
12h30, no Espaço Rebentos:
 bate-papo sobre poesia indígena voltada para a infância com a poeta Auritha Tabajara, mediação de Rita Carelli.
15h00, no Espaço Rebentos: bate-papo sobre a importância da bibliodiversidade na infância com Alexandre Coimbra Amaral e Renata Nakano.
Apoio: Clube de Leitura Quindim.
17h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Augusto Massi e Daniel Kondo sobre o livro infantojuvenil "Eletricista" (Elo), mediação de Rita M. da Costa Aguiar.


Terça, 17 de junho
12h30, no Espaço Rebentos:
contação de história com Sophia Pinheiro e Zenaide Denardi do livro A jabota poliglota (Boitatá, 2024), seguida de oficina de confecção de máscaras.
15h00, no Espaço Rebentos: leitura compartilhada do livro "Leotolda" (Boitatá), da artista espanhola Olga de Díos, e oficina de desenhos com Renata Nakano. Apoio: Clube de Leitura Quindim.
17h00, no Espaço Rebentos: contação de histórias do livro "Eu Sou Ioga" (Glida, 2024), de Susan Verde, pela atriz Zenaide Denardi e prática de ioga para pais e crianças com o professor de ioga Pedro Figueiredo.


Quarta, 18 de junho
12h30, no Espaço Rebentos:
bate-papo com a professora e escritora mineira Lavínia Rocha sobre o livro "O que Você Pensa Quando Falo África?" (Yellowfante, 2025), práticas antirracistas em sala de aula, e uma pequena atividade com a plateia sobre o que eles pensam quando escutam “África”, mediação de Gabriela Romeu.
15h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Isabel Malzoni e Ananda Luz, organizadoras do livro "Eu Devia Estar na Escola" (Caixote, 2024), escrito por muitas crianças moradoras de favelas da Maré, sobre a violência das operações policiais na favela, mediação de Renata Rossi.
17h00, no Espaço Rebentos: oficina de desenhos feios com a autora Caró Lago.


Quinta, 19 de junho
11h00, no Espaço Rebentos:
bate-papo com Antonio Prata sobre a escrita que utiliza do humor e das observações do cotidiano para acessar as infâncias, a partir dos livros "Jacaré, Não!" (Ubu, 2016), "A Menina que Morava no Chuveiro" (Ubu, 2019) e "Esconde-esconde" (Ubu, 2021), mediação de Marilia Neustein.
13h00, no Espaço Rebentos: bate-papo sobre a contação de histórias indígenas e a criação do podcast "Pavulagem", com Maickson Serrão e Ciça Pinto (Documenta Pantanal), mediação de Rita Carelli.
15h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Paulo Henriques Britto, Caco Galhardo e Fabrício Corsaletti, mediação de Sofia Mariutti.
17h00, no Espaço Rebentos: bate-papo sobre meio ambiente nos livros atuais com Estevão Azevedo e Vitor Bellicanta, autores de "Submersos" (Caixote, 2025), mediação de Gabriela Romeu.


Sexta, 20 de junho
11h00, no Espaço Rebentos:
roda de leitura para bebês com Rafaela Deiab e Tieza Tissi, a partir do livro "Berço, Balanço, Colinho, Neném" (Brinque-Book, 2025).
13h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Renato Moriconi, Rodrigo Andrade, Vítor Rocha e Eva Furnari sobre a criação das ilustrações e a construção de narrativas que aliem o texto com a parte gráfica, mediação de Luis Filipe Pôrto.
15h00, no Espaço Rebentos: leitura encenada de "Sabor Paciência" (Baião, 2025), de Mariana Salomão Carrara, com Julia Corrêa e Mayara Constantino.
17h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Sidnei Nogueira e Luciana Itanifé sobre religiões de matriz africana, intolerância religiosa e autoestima na infância, e contação de história do livro "A Menina dos Cabelos D'água" (Baião, 2023), mediação de Juliana Vettore.


Sábado, 21 de junho
11h00, no Espaço Rebentos:
bate-papo entre a escritora Cidinha da Silva e Marcelo D'Salete e contação de história do livro "O Mar de Manu" (Yellowfante, 2021), mediação de Léo de Paula.
13h00, no Espaço Rebentos: "Pterossauros do Brasil" (Peirópolis), apresentação do paleontólogo Luiz Eduardo Anelli.
15h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Andréa Del Fuego e Pedro Bandeira, mediação de Jaqueline Silva.
17h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com as autoras Janaina Tokitaka e Lúcia Hiratsuka sobre literatura japonesa para pequenos e oficina de tsurus customizados.


Domingo, 22 de junho
11h00, no Espaço Rebentos:
bate-papo com a dupla premiada Lalau e Laurabeatriz sobre os 30 anos de parceria e a preocupação constante de abordar a preservação da fauna brasileira com as crianças, mediação de Cris Tavares.
13h00, no Espaço Rebentos: contação de história e pocket show do escritor e músico Cristiano Gouveia.
15h00, no Espaço Rebentos: contação de história e apresentação musical da escritora Mafuane Oliveira e dos músicos Loiá Fernandes e Rafael Galante sobre a obra Cinderela do rio (Peirópolis, 2024).
17h00, no Espaço Rebentos: bate-papo com Bela Gil e Daniel Kondo sobre o livro Florisbela: receitas de amizade (WMF Martins Fontes, 2024) e atividade culinária com Bela Gil, mediação de Luiza Fecarotta.


A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, da Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, e da Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais. 


Serviço
A Feira do Livro
Local: Praça Charles Miller - Pacaembu / São Paulo

Sábado, 14 de junho
Abertura d’A Feira do Livro 2025 para o público: 10h00.
Funcionamento: das 10h00 às 21h00.

Domingo, 15 de junho
Funcionamento: das 10h00 às 21h00.

De segunda a quarta-feira, 16 a 18 de junho
Funcionamento: das 12h00 às 21h00.

Quinta, sexta-feira e sábado.  de 19 a 21 de junho - feriado e emenda
Funcionamento: das 10h00 às 21h00.

Domingo, dia 22 de junho
Funcionamento: das 10h00 às 19h00.


Espaço Rebentos n’A Feira do Livro 2025
De 14 a 22 de junho de 2025. Atividades às 11h00, 13h00, 15h00 e 17h00. Dias de semana: atividades às 12h30, 15h00 e 17h00.

.: Ziraldo será homenageado em A Feira do Livro com lançamento de biografia


A Feira do Livro 2025 presta homenagem a um dos grandes nomes da cultura e das artes gráficas no Brasil. O lançamento de “Peixe Grande - Inzpirado em Fatoz Reaiz”, publicado pela Global Editora, será um dos destaques da quarta edição da feira, celebrando a contribuição de Ziraldo à educação e à formação de leitores. O livro reúne texto de Guto Lins e imagens selecionadas do acervo do Instituto Ziraldo. Aqui, Guto escreve uma biografia metafórica do amigo e ídolo, voltada para crianças de todas as idades. Ele relata a história de um pequeno peixe de água doce que, com coragem, talento e bom humor, nada a caminho do mar em uma trajetória que começa no Rio Doce e termina no Rio de Janeiro.

“Peixe Grande narra a história de um menino que se imaginou desenhista e se transformou em referência para a imaginação de todos os meninos, um ícone para a cultura brasileira. Um menino que cresceu e continuou menino para sempre”, revela Guto Lins, que já havia assinado o texto de “Entre Cobras e Lagartos” (2024), dando continuidade à coleção literária com ilustrações garimpadas no acervo do Instituto Ziraldo.

No próximo sábado, dia 14, às 17h00, o livro será tema do encontro "Ziraldo Eterno", no Tablado Literário da Feira do Livro. Com mediação do ilustrador Maurício Negro, o bate-papo reunirá o designer e autor Guto Lins, responsável pelo texto do livro e que já colaborou com Ziraldo em diversas publicações. A conversa será repleta de memórias, destacando a influência duradoura de Ziraldo na literatura, nas artes visuais e no imaginário de diferentes gerações.

Ao final da atividade, o público poderá participar de uma sessão de autógrafos na tenda da Global Editora, que assina a publicação do título. A atividade integra a programação gratuita da Feira do Livro 2025, que acontece de 14 a 22 de junho, na Praça Charles Miller, em São Paulo, reunindo autores consagrados do Brasil e do exterior em mais de 250 eventos abertos ao público. Apoie o Resenhando.com e compre o livro “Peixe Grande - Inzpirado em Fatoz Reaiz” neste link.


Livro relata a travessia de um pequeno peixe de água doce rumo ao mar
O lançamento representa um novo capítulo editorial: é o primeiro livro tanto de Ziraldo quanto de Guto Lins pela Global Editora. Lúdico e colorido, ele surpreende ao contar a história de um peixinho que ria e fazia rir como ninguém. Repleto de alusões às consagradas criações de Ziraldo, o peixinho “fabricante de sorrisos” cresce e conquista o mundo com seu talento. A metáfora do Peixe Grande sugere não só a grandiosidade do autor como artista, mas também sua leveza e fluidez única.

“Receber Ziraldo em nosso catálogo é uma honra e uma responsabilidade que nos enche de orgulho. Sua obra é um patrimônio cultural do Brasil, que inspira gerações com leveza, humor e sensibilidade. Peixe Grande simboliza essa chegada de forma poética e afetiva, reforçando nosso compromisso de preservar e valorizar a literatura brasileira em toda a sua diversidade e riqueza”, ressalta Richard Alves, CEO da Global Editora.

"Para o Instituto Ziraldo, Peixe Grande é a materialização do que nomeamos aqui como Acervo Vivo! Colocar em prática o potencial da obra e da linguagem de Ziraldo e difundir esse conteúdo para as novas gerações é a principal missão do IZ”, revela Adriana Lins, diretora artística da instituição.


Ziraldo deixa um legado duradouro na literatura e nas artes visuais
A obra de Ziraldo - pai da Turma do Pererê, Flicts, Menino Maluquinho e de tantas criações que atravessam gerações - segue viva e pulsante. Hoje, está representada pela Ziraldo Artes Produções (ZAP), responsável pelo licenciamento e novos negócios, e pelo Instituto Ziraldo (IZ), que cuida da preservação, difusão e desenvolvimento de projetos com seu acervo e memória.

A conservação do Acervo do IZ é viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet – tem patrocínio da PRIO e é realizada pelo Instituto Ziraldo e Ministério da Cultura / Governo Federal - União e Reconstrução.


O artista Ziraldo
Ziraldo nasceu artista, em 1932, no interior de Minas Gerais, curioso por informação e apaixonado por livros, esporte e amigos. Observador das fraquezas e grandezas humanas, era um comunicador ávido. Artista autodidata, atuante nos mais variados campos da cultura, Ziraldo foi um desbravador, pioneiro no design brasileiro, revolucionário na literatura infantojuvenil, sempre com ideias inovadoras e traços vigorosos.

Dono de um olhar apurado e um enorme talento para dar formas aparentemente simples a temas complexos, Ziraldo abriu caminhos para toda uma geração de fãs, artistas e intelectuais, sendo um verdadeiro ativista cultural em constante diálogo com a sociedade. Sua assinatura inconfundível na imprensa brasileira e o humor como forma de resistência foram marcantes em momentos importantes de nossa história. Suas obras literárias trouxeram uma nova escuta para a infância. Ziraldo é um artista atemporal e universal, referência na defesa da liberdade de expressão.


Sobre o Instituto Ziraldo
Instituição cultural que preserva e difunde o acervo visual e intelectual do multiartista Ziraldo, o IZ é responsável pelo desenvolvimento de projetos a partir deste acervo relevante e representativo de sete décadas de nossa recente história. A instituição já digitalizou e inventariou, até o momento, cerca de 30 mil itens que incluem ilustrações, esboços e ideias. É a guardiã de objetos e materiais de trabalho do artista, além da vasta coleção de coletes, uma das marcas registradas de Ziraldo. Parte desse acervo está disponível na plataforma www.institutoziraldo.art.br

O acervo inclui, além das artes, inúmeros troféus, encadernações das publicações da Revista Pererê, do periódico O Pasquim, miniaturas dos personagens de Ziraldo, edições do livro “O Menino Maluquinho” em todos os idiomas publicados, a biblioteca de consulta do artista, a biblioteca de suas obras, sendo ainda o organizador de um imenso material biográfico com fatos e curiosidades sobre o artista e sobre os contextos social e político das suas obras.

Dentro da política de difusão do Instituto Ziraldo, além das recentes realizações com exposições, projetos editoriais, audiovisuais, ações educativas e sociais de incentivo à leitura, consta o intercâmbio cultural e artístico entre instituições, escolas e pesquisadores em âmbito nacional e internacional. Ler para ir além da leitura é a missão do Instituto Ziraldo. Apoie o Resenhando.com e compre o livro “Peixe Grande - Inzpirado em Fatoz Reaiz” neste link.

terça-feira, 10 de junho de 2025

.: Literatura no volume zero: o universo íntimo de Bruno Inácio em entrevista


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação.

No livro de contos "De Repente Nenhum Som", o escritor Bruno Inácio transforma o silêncio em linguagem, em narrativa, em personagens. Colaborador de veículos literários importantes, como o Jornal Rascunho e o site São Paulo Review, o autor recorre ao não dito, à pausa, à ausência – e justamente aí encontra matéria-prima para narrativas que ecoam no lado mais profundo de algum leitor atento. Como ele mesmo diz: “Tem tudo aquilo que só cabe no silêncio” . Nesta entrevista exclusiva concedida ao portal Resenhando.com, Bruno revela como descobriu, quase sem perceber, que o silêncio era seu tema mais íntimo e recorrente - nos papéis de leitor e de escritor.

Com uma escrita concisa e emocionalmente densa, Bruno Inácio compartilha o processo de lapidar frases como quem escolhe palavras para preencher vazios. “Quando compreendi que prefiro escrever frases curtas, foi libertador”, afirma. E é nesse equilíbrio entre delicadeza e brutalidade, cotidiano e introspecção, que ele constrói personagens que, embora comuns, “dialogam com o silêncio” e tornam-se espelhos de quem o lê. Esta conversa é um convite para mergulhar não só na obra de Bruno Inácio, mas também na poética silenciosa que pulsa nas entrelinhas de um texto bem escrito.  Compre "De Repente Nenhum Som" neste link.


"De Repente Nenhum Som" apresenta o silêncio não como ausência, mas como protagonista. Em que momento da sua trajetória como escritor você percebeu que o silêncio podia ser um elemento narrativo tão potente?
Bruno Inácio - Isso aconteceu de forma bastante natural, na verdade. Escrevi um dos contos do livro, “Céu de Ninguém”, em 2018. Mais tarde, em 2022, durante uma oficina de criação literária com o escritor Carlos Eduardo Pereira, surgiram outras duas narrativas: “Alô, Alô, Freguesia” e “Seis Minutos de Análise no Novo Divã”. Percebi, então, que os três contos dialogavam entre si, já que abordavam o silêncio e as relações familiares. Foi quando me dei conta que aqueles eram os temas que mais me interessavam no momento - e não só como escritor, mas também como leitor. Sem perceber isso de forma consciente, eu já estava mergulhado em leituras que abordavam o silêncio há algum tempo.

"De Repente Nenhum Som" mergulha na solidão, nas pausas da vida e no que não é dito. Como você equilibra a escrita econômica com a profundidade emocional que seus contos transmitem?
Bruno Inácio - Quando compreendi que prefiro escrever frases curtas, foi libertador. Como se, enfim, eu estivesse mais próximo de encontrar o meu estilo literário e meus temas. No entanto, ao mesmo tempo descobri que uma palavra mal escolhida pode destruir um parágrafo inteiro. A partir daí, passei a procurar as palavras certas para cada cena, sentimento, ação e, principalmente, para cada silêncio. Não digo palavra perfeita, porque sei que ainda sou alguém que está começando sua jornada na literatura, em meio a erros e acertos. Mas confesso que gastei um bom tempo reescrevendo os contos de “De Repente Nenhum Som” para chegar a esse resultado que você apontou: o equilíbrio entre a escrita econômica e a profundidade emocional.


Você escolheu personagens comuns, mas com dilemas complexos e profundos. Como foi o processo de criação dessas figuras? Houve alguma preocupação em torná-las espelhos do leitor?
Bruno Inácio - Gosto muito do drama presente no cotidiano, dos dilemas e anseios das pessoas comuns. Algumas dessas personagens se baseiam em familiares, outras são projeções de traumas e desejos. A minha maior preocupação no momento de pensar sobre essas pessoas foi tentar entender como cada uma se relacionava com o silêncio. Torná-las espelhos do leitor não foi algo exatamente planejado, mas a literatura tende a se encarregar disso, de uma forma ou de outra.

Um dos contos mais marcantes, "Céu de Ninguém", tem origem em uma experiência real. Como a vivência pessoal impacta sua ficção? Existe um limite entre o vivido e o inventado para você?Bruno Inácio - Uma vez minha psicanalista disse algo que nunca esqueci: toda memória é ficcional. Nesse sentido, sei que os acontecimentos reais que inspiraram alguns dos contos de “De Repente Nenhum Som” já passaram por certos filtros, uma vez que correspondem às minhas versões dos fatos e, consequentemente, à maneira que essas memórias foram construídas e reconstruídas ao longo dos anos. Ainda assim, gosto de explorar experiências autobiográficas na ficção, porque é um jeito de olhar para o passado com novos olhos e, de certa forma, criar novas lembranças.


O livro alterna momentos de brutalidade e de delicadeza com naturalidade. Essa dualidade surgiu de forma intuitiva ou foi construída intencionalmente ao longo dos contos?
Bruno Inácio - Acredito que isso tenha relação com meu interesse pelo cotidiano. O dia a dia é repleto de delicadeza e brutalidade, ainda que não pensemos tanto sobre isso. Eu me considero uma pessoa muito sensível, atenta aos detalhes que justificam a existência. Mas, ao mesmo tempo, sou um pessimista e às vezes me vejo sem grandes perspectivas. Como esse é meu trabalho mais pessoal até agora, essa dicotomia apareceu nos contos de forma bem intuitiva.

A estrutura minimalista dos contos chama atenção: poucas palavras, mas muito significado. Como você chegou a essa forma de escrever? Foi uma escolha estética, técnica ou emocional?
Bruno Inácio - Devo muito ao escritor Marcelino Freire. Antes de fazer sua oficina de criação literária, eu tentava me forçar a escrever frases longas e transitar por diversos gêneros literários. No decorrer das aulas, percebi que era muito mais lógico tentar aprimorar o que eu já sabia minimante fazer, ao invés de tentar “fazer tudo”’. Depois que reconheci minha escrita como concisa, escrever se tornou algo muito mais natural.


A solidão, em suas várias formas, é um tema central no livro. Você acredita que o silêncio e o isolamento dizem mais sobre o nosso tempo do que as falas e os ruídos diários?
Bruno Inácio - Há uma pressa em nossos tempos que me angustia. Tudo é urgente no trabalho, nas redes sociais e nas nossas relações. Isso leva ao isolamento e à interpretação superficial de fatos complexos. Às vezes, isso vem acompanhado de silêncio. Mas o silêncio também pode ser afeto, aconchego e conforto. Seja como for, acredito que ruídos e silêncios nos afetam de formas diferentes e ambos dizem muito sobre os nossos tempos.


A recepção crítica foi bastante positiva, com elogios de nomes importantes da literatura brasileira. Como você lida com esse reconhecimento e que responsabilidade sente ao ser apontado como uma das vozes promissoras da nova literatura?
Bruno Inácio - Ainda parece surreal tudo isso que tem acontecido com o livro. É uma obra de uma editora independente, escrita por um autor iniciante e publicada fora do eixo Rio-São Paulo. Então, sinceramente, não esperava que “De Repente Nenhum Som” chegaria a ser elogiado pelos principais veículos literários do país e por alguns dos mais importantes nomes da literatura brasileira contemporânea. Ser lido por pessoas que são referências para mim é algo com que sempre sonhei. Confesso que ainda não aprendi a lidar com naturalidade com isso de ser apontado como um novo talento da literatura brasileira. Sempre que leio algum comentário nesse sentido, volto a ser aquela criança tímida que não sabia o que responder quando recebia parabéns no seu aniversário.


Como colaborador de veículos como o Jornal Rascunho e a São Paulo Review, você acompanha a cena literária de perto. Onde você posicionaria sua obra dentro do panorama atual da literatura brasileira?
Bruno Inácio - A literatura brasileira vive um ótimo momento, tanto em forma como em conteúdo. Todos os dias conheço autores e autoras que têm feito um trabalho de qualidade junto a grandes, médias e pequenas editoras, além dos que optam pela autopublicação. Estar no meio de tanta gente talentosa e fazer parte de uma geração que tem ficcionistas como Jarid Arraes, Monique Malcher, Andreas Chamorro, Carina Bacelar, Bethânia Pires Amaro, Vanessa Passos, Julia Barandier, Giovana Proença, Mateus Baldi, Paulo Henrique Passos, Marcela Fassy, Camila Maccari, Pedro Jucá, Mariana Basílio e Febraro de Oliveira é um privilégio e uma alegria.


Para quem ainda não leu "De Repente Nenhum Som", que tipo de experiência você espera provocar? O que gostaria que ficasse ecoando no leitor depois da última página?
Bruno Inácio - Tenho usado uma frase do livro nas dedicatórias desde que a obra foi lançada: tem tudo aquilo que só cabe no silêncio. Acho que é o que resume bem o tipo de experiência que quero provocar em leitores e leitoras. Essa percepção de que o silêncio é complexo, repleto de nuances e, às vezes, a síntese de toda uma dinâmica familiar.

.: A Feira do Livro, que começa sábado, celebra 40 anos de democracia


Em 2025, o Brasil celebra 40 anos do retorno à vida democrática, com a posse, em 1985, de um civil na presidência da República, o fim da censura e a realização de eleições livres, sem a tutela militar. Se em 2024 A Feira do Livro rememorou os 6o anos do Golpe de 64, em 2025 o evento a céu aberto - realizado entre os dias 14 a 22 de junho no bairro paulistano do Pacaembu - irá  repassar com os convidados, no local onde ocorreram algumas das manifestações pelas Diretas, essas quatro décadas de democracia.

Além dos indispensáveis historiadores e jornalistas, essa história também é contada por ficcionistas, poetas, economistas, filósofos, artistas, tradutores, ilustradores, editores, cientistas e professores que se reúnem na programação oficial do evento literário. As populações negra e indígena, que seguem sofrendo a violência de Estado mesmo após a redemocratização, acrescentam seu imprescindível ponto de vista.

A programação oficial tem a literatura (poesia e ficção) como núcleo central, com a presença tanto de nomes consagrados, acostumados a frequentar as listas de mais vendidos e as principais premiações literárias do país, quanto dos estreantes e dos representantes das novas gerações. O jornalismo, a filosofia, a crítica literária, as artes visuais, a tradução literária, a edição de livros, a história, o teatro, a canção popular estão entre os saberes e artes que dialogam com a literatura nas mesas da programação e conferem à Feira do Livro 2025 um perfil plural e conectado com o debate público.

“A Feira do Livro acontece no meio da rua e por isso traz o espírito de mistura, de múltiplas vozes e pessoas que se cruzam numa praça”, diz Paulo Werneck, diretor geral do festival. A curadoria é feita a partir de sugestões dos expositores, da equipe da Quatro Cinco Um e dos colunistas da revista como Paulo Roberto Pires, Juliana Borges, Renan Quinalha, Bruna Beber e Fernando Luna, que fazem a mediação de alguns dos debates. “Na programação deste ano os autores consagrados se misturam aos underground, o pop encontra o erudito, o periférico encontra o estrangeiro”, afirma Werneck.

A Feira do Livro tem como preocupação central a bibliodiversidade, isto é, a presença de editores e autores de perfis diversos, trazendo diferentes pontos de vista para o debate. Como forma de garantir esse aspecto fundamental da circulação de ideias, o festival literário paulistano mantém pelo terceiro ano seguido uma iniciativa em parceria com o Instituto Ibirapitanga para isentar das taxas cobradas dos expositores as editoras e livrarias negras, periféricas e sem fins lucrativos, facilitando a sua participação. Em 2025, serão nove os expositores beneficiados.


Serviço

A Feira do Livro
Local: Praça Charles Miller - Pacaembu / São Paulo

Sábado, 14 de junho
Abertura d’A Feira do Livro 2025 para o público: 10h00
Funcionamento das 10h00 às 21h00

Domingo, 15 de junho
Funcionamento das 10h00 às 21h00

De segunda a quarta-feira, 16 a 18 de junho
Funcionamento das 12h00 às 21h00

Quinta, sexta-feira e sábado.  de 19 a 21 de junho - feriado e emenda
Funcionamento das 10h00 às 21h00

Domingo, dia 22 de junho
Funcionamento das 10h00 às 19h00


Espaço Rebentos n’A Feira do Livro 2025
De 14 a 22 de junho de 2025. Atividades às 11h00, 13h00, 15h00 e 17h00. Dias de semana: atividades às 12h30, 15h00 e 17h00.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

.: Todas as novidades sobre A Feira do Livro 2025, que começa neste sábado


O festival literário paulistano inaugura o Espaço Rebentos, dedicado ao público infantil, e traz mais de 200 convidados para a praça Charles Miller, entre os dias 14 e 22 de junho. Foto: Filipe Redondo

A quarta edição d’A Feira do Livro, festival literário gratuito e realizado a céu aberto entre 14 e 22 de junho, leva para o bairro paulistano do Pacaembu nove dias de debates, oficinas, contações de história e outras atividades totalmente gratuitas em torno do livro e da leitura. Os 150 editores e livreiros participantes vão trazer sua produção para a praça pública e promover diálogos entre os autores das mais diversas tendências, origens e sensibilidades.

São esperadas pelo menos 110 mil pessoas na praça Charles Miller durante esta edição d’A Feira do Livro, que é uma realização da Associação Quatro Cinco Um, organização voltada para a difusão do livro no Brasil, da Maré Produções, empresa especializada em exposições de arte, e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais. Tem apresentação exclusiva da Petrobras, por meio da Seleção Petrobras Cultural – Novos Eixos, patrocínio Prata da Prefeitura de São Paulo e da Motiva, patrocínio Bronze do Itaú e da laranjinha do Itaú, e apoio do Instituto Ibirapitanga, Pinheiro Neto Advogados e Enjoei.


As novidades da edição 2025
A Feira do Livro 2025 acontece nas condições mais favoráveis desde a primeira edição, em 2022. Entre as novidades, está a inauguração de um novo palco infantil na programação oficial, o Espaço Rebentos, com curadoria das jornalistas Juliana Vettore e Jaqueline Silva, além de novas estruturas e serviços voltados para o conforto de todos os participantes.

Traz na programação oficial mais de 200 autores de todas as regiões do país, e convidados estrangeiros, que levam para o Pacaembu as principais tradições literárias em diálogo com a cultura brasileira. Amplia tanto o número de eventos na programação quanto a estrutura dos Tablados Literários — pequenos palcos destinados à programação paralela —, que têm curadoria dos expositores;

Acontece no feriadão de Corpus Christi, proporcionando seis dias livres para o paulistano e para quem vem de fora curtirem o festival literário. Realiza-se plenamente integrada a outras atrações culturais do território, como o Museu do Futebol, que renovou sua exposição permanente, e a Mercado Livre Arena Pacaembu, pela primeira vez aberta ao público durante uma edição d’A Feira do Livro - um programa cultural completo.

Além de literatura - em especial a poesia e a crônica -, os eixos temáticos da programação incluem os 40 anos da redemocratização, tema geral que perpassa os demais debates, focados em meio ambiente, história, divulgação científica, cultura afro-brasileira, cultura indígena, alimentação, cultura do livro, teologia, jornalismo, educação, luta antirracista, relações afetivas, empreendedorismo social, cultura pop, cultura paulistana, relações internacionais, entre outros assuntos.

Em 2025, com o novo espaço para a programação infantil e a ampliação dos debates nos três Tablados Literários, estão previstos 250 eventos no total. Em 2024, o festival reuniu um público de 64 mil pessoas, com um total de 164 eventos.

Serviço
A Feira do Livro
Local: Praça Charles Miller - Pacaembu / São Paulo

Sábado, 14 de junho
Abertura d’A Feira do Livro 2025 para o público: 10h00
Funcionamento das 10h00 às 21h00

Domingo, 15 de junho
Funcionamento das 10h00 às 21h00

De segunda a quarta-feira, 16 a 18 de junho
Funcionamento das 12h00 às 21h00

Quinta, sexta-feira e sábado.  de 19 a 21 de junho - feriado e emenda
Funcionamento das 10h00 às 21h00

Domingo, dia 22 de junho
Funcionamento das 10h00 às 19h00


Espaço Rebentos n’A Feira do Livro 2025
De 14 a 22 de junho de 2025. Atividades às 11h00, 13h00, 15h00 e 17h00. Dias de semana: atividades às 12h30, 15h00 e 17h00.

domingo, 8 de junho de 2025

.: Autor português, Hugo Gonçalves participa de clube de leitura on-line


O escritor conversa com leitores de Brasil e Portugal no Encontro de Leituras deste mês, uma iniciativa da revista literária brasileira Quatro Cinco Um e do jornal português Público


O escritor português Hugo Gonçalves é o convidado do próximo "Encontro de Leituras", que acontece no dia 10 de junho, às 18h do Brasil (horário de Brasília) e 22h de Portugal. O autor e os participantes discutirão a obra "Mãe", publicada no Brasil em 2021 e em Portugal em 2019, onde recebeu o título "Filho da Mãe". Ambas as edições são da Companhia das Letras. 

Nesta obra, Gonçalves conduz uma investigação profunda e sincera sobre como a perda da mãe influenciou sua identidade e seu caráter. O livro, que se apresenta como um relato biográfico sobre laços afetivos, raízes familiares e os desafios do amadurecimento, transforma-se também em uma homenagem à figura materna, cuja presença — ou ausência — marca profundamente a vida dos filhos.

A narrativa começa aos quase quarenta anos do autor, quando recebe o testamento de seu avô materno dentro de um saco plástico. O evento dá início a uma jornada que mistura deslocamento físico e revisitação de memórias há muito adiadas, a partir da tarde de 1985 em que, ao voltar da escola primária, soube da morte da mãe. 

Por mais de um ano, o escritor buscou pessoas e lugares, tentando recuperar fragmentos que o tempo e o afastamento haviam obscurecido, além de revelações sobre sua mãe que nunca soube. Das férias da infância aos desgovernados anos em Nova York, o autor foi recolhendo os estilhaços do luto: os corredores do hospital, o colégio de padres, uma cicatriz na perna, o escape do amor romântico, do sexo e das drogas ou uma road trip com o pai e o irmão. Os melhores momentos da conversa são publicados no podcast Encontro de Leituras, disponível no Spotify, Apple Podcasts, SoundCloud e outros aplicativos de áudio. Apoie o Resenhando.com e compre o livro "Mãe", de Hugo Gonçalves, neste link.

Sobre o Encontro de Leituras
O Encontro reúne leitores de língua portuguesa dos dois lados do Atlântico e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. Os encontros são gratuitos e acontecem sempre nas segundas terças-feiras de cada mês, às 18h do Brasil e 22h de Portugal. O evento não é transmitido nas redes sociais, nem disponibilizado depois, mas os melhores momentos são publicados no podcast Encontro de Leituras, disponível no Spotify, Apple Podcasts, SoundCloud ou outros tocadores. 

A parceria entre a Quatro Cinco Um e o Público conta com um espaço editorial fixo nos dois veículos e uma newsletter mensal sobre o trânsito literário e editorial entre os países de língua portuguesa. A editoria especial publica materiais jornalísticos sobre autores do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e Timor que tenham sido lançados dos dois lados do oceano. A newsletter mensal traz notas, curiosidades, imagens e informações sobre as novidades das livrarias e os eventos literários em Lisboa, São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades onde se fala português. De vez em quando, na programação de festivais e em outras ocasiões, eventos presenciais são realizados.

Sobre a Revista Quatro Cinco Um
Publicada em edição impressa, site, newsletters, podcasts e clubes de leitura, a revista dos livros seleciona e divulga mensalmente cerca de duzentos lançamentos em mais de vinte áreas da produção editorial brasileira. 

Em linguagem clara, sem jargões nem hermetismo, os textos são assinados por nomes de destaque da crítica e da cultura. Tendo o pluralismo e a bibliodiversidade como nortes editoriais, a Quatro Cinco Um busca misturar em sua pauta diferentes gerações, sensibilidades e pontos de vista. Projetos editoriais especiais focalizam temas relevantes, tais como cidades, democracia e justiça, literatura infantojuvenil, literatura japonesa, literatura francesa e livros LGBTQIA+. 

Desde 2019, a revista publica o 451 MHz, primeiro podcast da imprensa profissional dedicado exclusivamente a livros. A Quatro Cinco Um acredita no livro como objeto de transformação individual e coletiva, com base no princípio de que não há sociedade democrática sem ampla circulação de livros.


Serviço
Convidado: Hugo Gonçalves
Data: terça-feira, 10/06
Horário: 18h do Brasil (horário de Brasília) e 22h de Portugal.
Modalidade: on-line e gratuito, via Zoom
Participe: https://app.zoom.us/wc/82166068914/join?_x_zm_rtaid=w9nsil4fR6qBWlBmaYrEfw.1748896933494.342c1c96a96a1e8fab20bd3ea119738e&_x_zm_rhtaid=771&wpk=wcpk%7B0%7D%26%26%26%26wcpk3d9aa2cca5ad3f97e31d1638da9d338a 
ID: 821 6606 8914
Senha de acesso: 088951

sábado, 7 de junho de 2025

.: Série "Harry Potter" define elenco para papéis de Harry Potter, Hermione e Ron


Dominic McLaughlin interpretará Harry Potter, Arabella Stanton dará vida a Hermione Granger, e Alastair Stout assumirá o papel de Ron Weasley

A série original da HBO, baseada no universo de "Harry Potter", acaba de anunciar o tão aguardado elenco principal: Dominic McLaughlin interpretará Harry Potter, Arabella Stanton dará vida a Hermione Granger, e Alastair Stout assumirá o papel de Ron Weasley. 

“Após uma grande busca, liderada pelas diretoras de casting Lucy Bevan e Emily Brockmann, temos o prazer de anunciar que encontramos nosso Harry, Hermione e Ron. O talento desses três jovens atores é realmente encantador, e mal podemos esperar para que o mundo testemunhe a magia deles juntos na tela. Agradecemos às dezenas de milhares de crianças que participaram das audições. Foi um verdadeiro prazer descobrir a imensa riqueza de jovens talentos que temos no Reino Unido”, afirmam Francesca Gardiner (showrunner e produtora executiva) e Mark Mylod (diretor de múltiplos episódios e produtor executivo). 

A produção será uma adaptação fiel da consagrada saga de livros "Harry Potter", escrita por J.K. Rowling, que também é produtora executiva. Cada temporada apresentará Harry Potter em aventuras incríveis para novos e antigos fãs, e estará disponível com exclusividade na HBO Max. Os filmes clássicos originais continuarão disponíveis para assistir em todo o mundo. A série, gravada nos estúdios Warner Bros. Studios Leavesden, é escrita e produzida por Francesca Gardiner. Mark Mylod será produtor executivo e dirigirá múltiplos episódios para a HBO, em associação com Brontë Film and TV e Warner Bros. Television. Também são produtores executivos J.K. Rowling, Neil Blair e Ruth Kenley-Letts, da Brontë Film and TV, e David Heyman, da Heyday Films.

domingo, 1 de junho de 2025

.: "Os jovens estão esperando escritores", diz Rodrigo Lacerda no "Provoca"


No programa, ele fala o que pensa sobre o desinteresse dos jovens pela leitura, relembra histórias de seu avô Carlos Lacerda e muito mais. Foto: Marina Buozzi

Na próxima terça-feira, dia 3 de junho, Marcelo Tas recebe no "Provoca" o editor, escritor e historiador Rodrigo Lacerda. No programa, ele fala o que pensa sobre o desinteresse dos jovens pela leitura, relembra histórias de seu avô Carlos Lacerda e muito mais. Vai ao ar a partir das 22h00, na TV Cultura. Como um grande conhecedor do meio editorial, Rodrigo se posiciona no programa sobre a atual crise de interessados pela literatura no país: “a gente está perdendo leitores. Como já há muito tempo, o que acontece é que as crianças leem até 12, 13 anos. E aí tem um abismo, e uma pequena parcela volta a ler depois”.

Sobre a razão desse afastamento, que ele destaca acontecer durante a adolescência, ele explica: “a minha sensação é que os jovens estão esperando escritores que falem com eles de igual para igual. Que não subestimem a capacidade deles de processar histórias; que mexam com valores, que mexam com crenças, que mexam com a emoção profunda, com as situações que eles vivem na vida”.

Tas também conversa com Rodrigo sobre uma figura importante de sua família, seu avô Carlos Lacerda, conhecido como um dos políticos brasileiros mais influentes do século XX. Entre outros feitos, Lacerda é lembrado pela sua reação ao Regime Militar instituído em 1964, o qual apoiou num primeiro momento, mas posteriormente se opôs. Rodrigo conta que, de acordo com os militares, seu avô “não participou da conspiração, por um motivo muito simples. Porque quando o Jânio (Quadros) tentou dar o golpe, em 1961, antes de renunciar, o meu avô foi às rádios e denunciou a tentativa de golpe. Então os militares falaram: ‘não, com esse aí a gente só fala depois que já tiver acontecido, porque ele vai dar com a língua nos dentes’”Apoie o Resenhando.com e compre os livros de Rodrigo Lacerda neste link.


Sobre Rodrigo Lacerda
Rodrigo Lacerda, nascido no Rio de Janeiro em 1969, é escritor, editor, tradutor e historiador brasileiro. Ingressou no universo literário como revisor na editora Nova Fronteira, fundada pelo avô, Carlos Lacerda, e comandada pelo pai, Sebastião Lacerda. Após estudar História na USP, estreou na literatura em 1995 com "O Mistério do Leão Rampante", livro que lhe rendeu seu primeiro Jabuti. Rodrigo voltou a vencer o prêmio em 2008, por "O Fazedor de Velhos”, e em 2013, publicou "República das Abelhas”. O romance narra a história de sua própria família e suas conexões com a política brasileira. Além da escrita, atuou como editor-executivo da editora Record de 2021 até fevereiro de 2025. Apoie o Resenhando.com e compre os livros de Rodrigo Lacerda neste link.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

.: Leandro Marçal e o litoral profundo, aquele que não aparece no cartão-postal


No livro, 14 contos são ambientados em ruas, praças e avenidas reconhecíveis de São Vicente e arredores - espaços onde a violência, a desigualdade e a masculinidade tóxica não apenas existem, mas moldam o cotidiano de homens comuns. Foto: divulgação

Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com

Nem todo litoral é feito somente de sol, mar, calor e cartões-postais. Na contramão do imaginário turístico que costuma pintar a Baixada Santista com tons de paraíso, o escritor vicentino Leandro Marçal lança um olhar direto, incômodo e necessário para o lado mais áspero da região. Em "Me Vê Dez Médias", quinto livro dele, há 14 contos ambientados em ruas, praças e avenidas reconhecíveis de São Vicente e arredores - espaços onde a violência, a desigualdade e a masculinidade tóxica não apenas existem, mas moldam o cotidiano de homens comuns. Longe de estereótipos idealizados, Marçal apresenta narrativas que dialogam com o que há de mais contraditório no comportamento masculino e na urbanidade periférica, revelando uma Baixada Santista que nem sempre ganha voz na literatura.

Viabilizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, o livro é - também - um ato de resistência cultural e uma aposta na potência da escrita independente. Com narradores em primeira pessoa, sem nome, Marçal convida o leitor a caminhar pela mente de personagens cheios de conflitos e vícios sociais, em histórias que misturam incômodo, identificação e reflexão. “Esse livro tem mais o cinza das ruas do que as cores da areia e do mar”, explica o autor - uma frase que poderia, por si só, servir de epígrafe para toda uma literatura que se recusa a dar as costas à favela. O valor de cada exemplar é de R$ 30,00 e os pedidos podem ser feitos no site do autor: www.tireidagaveta.com.br.

Resenhando.com - Seu novo livro, "Me Vê Dez Médias", traz a violência e a brutalidade masculina como fio condutor. Como esse tema emergiu durante o processo de escrita e de que forma ele se entrelaça com o cotidiano da Baixada Santista?
Leandro Marçal - 
É muito comum ver homens médios tentando se provar o tempo todo: "o mais forte", "o mais bravo", "o mais temido", "o mais macho", "o mais pegador". Quem foge desse perfil parece ser visto com um olhar meio torto, de esquisito, de "ihhhh, a lá o cara...". E acho que desde o meu segundo livro tenho trabalhado um pouco essa questão, de homens comuns com comportamentos bem problemáticos, mas naturalizados não só por eles quanto por todo o entorno. Cada vez mais se pensa e se fala nisso, me parece. Mas é como instalassem na gente um software para replicar esses comportamentos, sem parar para pensar nisso, é difícil ser diferente. Neste livro, escolhi narradores homens, sem nome, em primeira pessoa, como se desse a mão ao leitor e à leitora, dizendo: vem cá, vamos passear na cabeça desse cara tão cheio de conflitos e contradições, tão viciado num jeito de ver um mundo, tão cheio de erros e acertos. Em alguns contos, espero que isso cause alguns incômodos. Dito isso: a epígrafe do livro é um trecho da música "Zerovinteum", do Planet Hemp: "É muito fácil falar de coisas tão belas / De frente pro mar, mas de costas pra favela". Essa frase me marca há muito tempo e tem tudo a ver com a nossa região. Tem muita gente escrevendo sobre como a praia é linda, sobre como temos paisagens bonitas. Não tenho muita certeza se há tanta gente escrevendo sobre a hostilidade dessa nossa província, cheia de tantas desigualdades e injustiças quanto todo o Brasil. 

Resenhando.com - A expressão popular que dá título ao livro evoca algo trivial do dia a dia, mas os contos trazem realidades duras. O contraste foi intencional? O que há de simbólico nesse título? 
Leandro Marçal  - 
Escolhi como título uma frase que remete à linguagem da Grande São Vicente (se santistas podem ser bairristas, eu também posso). Essa fala também está em um dos contos, quando um personagem pede seus pães antes de uma cena com alguns tiros. Parece uma frase banal, como a ilustração é bem bonita e traz pãezinhos, mas é como se eu fizesse uma armadilha para colocar os leitores e leitoras dentro de uma gaiola com 14 contos que não são "bonitinhos", mas duros. Como é a Grande São Vicente. 

Resenhando.com - Você menciona que a região não é apenas cenário, mas também protagonista. Como foi o processo de transformar a Baixada Santista em um personagem com voz própria?
Leandro Marçal - 
Quando comecei na literatura, tinha certa resistência a ambientar minhas ficções aqui na província. Achava que pessoas de outros lugares não captariam, não entenderiam, que os nomes de ruas ficariam meio sem sentido. Besteira! Ambientei todas as histórias em locais pelos quais passei, cheguei a fazer pesquisas e checagem de nomes de ruas, praças e avenidas. Não há um único conto sem descrição geográfica conhecida por quem insiste em morar aqui. 

Resenhando.com - Há um certo desencanto nas suas palavras ao falar da Baixada - o “cinza das ruas” parece se sobrepor às “cores da areia e do mar”. Como você acredita que a literatura pode romper com estereótipos turísticos de uma região como a sua?
Leandro Marçal - 
Não sei se é bem um desencanto ou se é uma tentativa de escancarar as desigualdades. Conheço gente que mora na orla de Santos e enxerga a Zona Noroeste, os morros e aquela região da Alemoa como pertencente a outro lugar, a outra cidade. Conheço gente de São Vicente que sente arrepios ao ouvir falar em Vila Margarida ou Área Continental. Não sei se a literatura consegue romper esses estereótipos de "o que vale é a praia", mas se um único leitor entender que o lado da praia não deveria dar as costas ao resto do município, já vai ter valido a pena. 


Resenhando.com - Nos contos, você fala da tentativa constante do homem de se provar, de impor sua força. Como você enxerga essa masculinidade tóxica no contexto das periferias urbanas, especialmente no litoral paulista?
Leandro Marçal - 
Em alguns grupos de amigos, parece que a quinta série nunca acabou. Eu ficaria feliz se essa afirmação fosse referente apenas a piadas e trocadilhos ruins (eu gosto). Nunca morei longe daqui e penso que a nossa região não foge tanto da realidade de outros lugares, onde os caras tentam se provar de diversas formas. Eu acho isso muito ruim porque faz a gente carregar um peso desnecessário. Homem se emociona, tem fraquezas e não tem todas as respostas do mundo. Admitir isso é um bom passo para ser melhor, para mudar nem que seja seu entorno. Só não vale se dizer "desconstruidão" apenas para se promover. Tento ficar longe disso e alerto para que nunca criem expectativas sobre mim, porque nem eu crio. Para quem acha que estou "militando" (para certa gente, esse verbo só não é usado no sentido pejorativo quando se trata da tara por gente fardada, né?), sugiro dar uma olhada nos índices de suicídios entre homens, na expectativa de vida masculina inferior à feminina e nos casos de violências causadas por homens contra mulheres e populações minorizadas diversas. Também sugiro se informar mais. 


Resenhando.com - O livro foi viabilizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc. Qual a importância do incentivo público à cultura, especialmente para escritores independentes que retratam realidades marginalizadas?
Leandro Marçal - 
Sem esse incentivo, eu não teria como publicar o meu livro. Volta e meia, tem alguém reclamando da falta de incentivo à cultura e aos livros no Brasil. Não raro, esse mesmo alguém está nas redes sociais vomitando contra leis como a Rouanet. O setor cultural precisa de políticas públicas de incentivo para ser viabilizado e para os trabalhadores exercerem seu ofício com mais dignidade. Se você acha que falo besteira, lembre-se de que áreas como a automobilística, o agronegócio e indústrias num geral recebem incentivos fiscais inúmeros para se manter em atividade. Como não estou debaixo do guarda-chuva de nenhuma grande editora, esse incentivo me permite publicar um livro sem tirar de onde nem tenho para o meu livro ganhar as ruas. Por meio dele, consegui remunerar dignamente a preparadora Camila Ferreira, o ilustrador Carlos Roque, o diagramador Vinicius Carlos Vieira, o revisor Marcos Teixeira e a gráfica. 

Resenhando.com - Você já transitou por diferentes gêneros - crônicas, ensaios autobiográficos, romance e contos. O que motivou a escolha pelos contos neste projeto específico? Eles ofereceram alguma liberdade narrativa particular?
Leandro Marçal - 
Nesse caso específico, eu escrevi os contos todos para o projeto, eles não estavam escritos anteriormente. Pensei que as histórias variadas me permitiriam abordar temáticas e lugares variados, de um jeito que um romance, por ser uma só história, não daria o espaço para expor tantos lugares. Também a escolha de colocar protagonistas homens, mas sem nome, ajuda colocar os leitores e leitoras em uma sensação de "qualquer cara pode ser esse cara". 


Resenhando.com - Sendo alguém que mora na região a vida toda, como foi o equilíbrio entre a escrita ficcional e a vivência real nas ruas e espaços retratados no livro? Há personagens ou cenas diretamente inspirados em pessoas que conheceu? E o que há de autobiográfico nisso?
Leandro Marçal - 
Dois ou três contos foram baseados em situações acontecidas com pessoas próximas. Mas só baseados mesmo, a faísca da realidade causou o incêndio da ficção. Comecei na literatura como cronista e a crônica exige do escritor um olhar atento para o dia a dia, para o banal, para as pequenas coisas capazes de virarem grandes textos. Como a minha literatura acontece nas ruas, não perder isso de vista é algo que está comigo, até por não ser autor de uma literatura que precisa de grandes acontecimentos, de grandes universos. 


Resenhando.com - Seu livro anterior explorava o futebol como pano de fundo. Há alguma conexão entre aquele universo e os personagens de "Me Vê Dez Médias", ou você vê essa nova obra como um ponto de ruptura?
Leandro Marçal - 
Acredito que há uma conexão entre os livros no sentido de haver personagens masculinos expondo as entranhas e contradições do ser masculino. Mas no livro anterior, há uma variação de gêneros, linguagens e narrações entre os contos; nesse atual, os contos têm uma linguagem mais parecida entre si, eles se conectam mais. 

Resenhando.com - Que tipo de leitura você espera provocar? Qual é o sentimento que você gostaria que o leitor carregasse ao fechar a última página?
Leandro Marçal - 
Acho que a minha literatura causa uma mistura de sentimentos. Nos contos, tem um pouco de incômodo e de identificação. Assim, desse jeito, contraditório. Sinceramente, se o livro servir apenas como entretenimento de algumas horas para os leitores, está tudo bem. Mas se um único leitor parar para pensar em como a gente naturaliza a brutalidade, a violência e a hostilidade, vai valer muito mais!

Nas histórias de “Me Vê Dez Médias”, a violência e a brutalidade masculina guiam e atormentam os protagonistas criados por Leandro Marçal

domingo, 11 de maio de 2025

.: Lista: as dez mães mais importantes da literatura brasileira no Brasil de hoje


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com.

Da mãe amorosa à ausente, da protetora à transgressora, da silenciosa à revoltada. A literatura brasileira, em suas várias fases e escolas, construiu imagens complexas e simbólicas da figura materna - da mãe abnegada  à mulher que rejeita ou abandona a maternidade. Nesse vasto acervo, algumas personagens se destacam pela intensidade emocional, pela centralidade na trama ou pela originalidade com que encarnam o papel de mãe em seus contextos sociais, históricos ou simbólicos.

Listamos as dez mães mais importantes da ficção brasileira, elencadas em três critérios principais: o primeiro deles é o impacto narrativo - o quanto essa mãe/personagem influencia diretamente os acontecimentos da obra ou a trajetória dos protagonistas. Também consideramos a intensidade emocional, o grau de comoção, dor ou conflito que essa mãe desperta, tanto nos personagens, quanto nos leitores. 

Há, também, a relevância simbólica: o peso que a personagem carrega enquanto representação de tipos sociais, dilemas morais ou rupturas culturais, influenciando o imaginário coletivo ou a crítica literária. A classificação a seguir não pretende ser definitiva, mas oferece um panorama sobre as diferentes formas de maternar na literatura brasileira e no século 21 - com mães silenciosas, feridas, revolucionárias ou até ausentes. Cada uma, à sua maneira, marca o leitor e deixa uma marca na história da ficção brasileira.

10.° A ausência da mãe de Macabéa - "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector
Embora a mãe de Macabéa apareça apenas de forma indireta no romance "A Hora da Estrela", escrito por Clarice Lispector, a ausência dela é marcante. Macabéa é uma jovem órfã, criada por uma tia autoritária, e a personalidade apagada e submissa da personagem pode ser vista como resultado de carência de afeto materno. A autora inverte a lógica tradicional: ao invés de exaltar a presença da mãe, mostra como sua ausência molda uma existência vazia. A figura materna no romance é a ausência dolorosa do cuidado, da voz e da identidade. Na história, a mãe de Macabéa é uma jovem alagoana que escolheu o nome "Macabéa" por promessa à Nossa Senhora da Boa Morte. A mãe de Macabéa não criou a filha porque faleceu quando a protagonista do romance era muito pequena. O nome "Macabéa" tem origem judaica e remete à história do povo judeu e à resistência à ocupação grega de Jerusalém. A mãe de Macabéa é uma figura apenas sugerida e rapidamente descartada. Sua ausência é significativa, mas não atua diretamente na narrativa. Está mais como sombra do que como personagem. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link. 

9.° Vedina - "Véspera", de Carla Madeira
Vedina é uma mãe marcada pelo colapso emocional e pela culpa. Em um momento de desespero causado por um casamento violento e uma vida de traumas familiares, ela abandona o filho pequeno na rua. Ao voltar para buscá-lo, a criança já desapareceu. Esse ato dá início a uma narrativa profunda sobre dor, arrependimento e os efeitos da desestruturação familiar. Contada em dois tempos - o dia do abandono e os dias que o antecederam - a história revela como a violência doméstica, os traumas de infância e a solidão empurram Vedina para o limite no romance "Véspera", escrito por Carla Madeira. Ela não é uma vilã, mas o retrato de uma mulher vencida pelas circunstâncias. Vedina é uma mãe marcante porque rompe com o ideal da mãe abnegada e representa a maternidade atravessada pelo trauma e pela falência emocional. A história da personagem provoca desconforto e empatia, sendo uma das mães mais complexas da ficção recente.Revoluciona a representação da maternidade. O abandono do filho é uma das maiores quebras de tabu da literatura brasileira recente, com forte impacto emocional e ético. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

8.° Dona Antônia - "Casa Velha" (Machado de Assis)
Por muito tempo, "Casa Velha", o livro quase perdido de Machado de Assis, foi considerada uma obra "menor", mas hoje tem sido revisitada por críticos interessados nas estruturas familiares e nas personagens femininas machadianas. Nela está o retrato de uma mãe aristocrática e controladora do século XIX, Dona Antônia, figura marcante pela autoridade moral e por exercer domínio psicológico sobre os membros da casa. Religiosa e tradicional, ela vive em função das convenções da época e tenta manipular o destino do filho, Félix, para que siga a carreira eclesiástica. A influência dela é forte, silenciosa e estratégica - e representa um modelo de maternidade ligado à manutenção da honra, da tradição familiar e do status social. É uma mãe de grande relevância dentro da obra por encarnar o poder matriarcal velado que rege as casas patriarcais. Ela é a guardiã do passado e da reputação - não por meio da violência, mas pelo medo da desaprovação. Representa a tensão entre o afeto materno e os interesses sociais. É um exemplo refinado da crítica machadiana à hipocrisia e à rigidez da moral burguesa. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

7.° Sinhá Vitória - "Vidas Secas", de Graciliano Ramos
Um dos retratos mais comoventes da maternidade na literatura nacional, Sinhá Vitória é uma personagem marcante em "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. Ela é a mãe que sonha, que resiste e que carrega a dignidade no meio da miséria. Enquanto o marido, Fabiano, é quase mudo e bruto, ela articula pensamentos, desejos e esperanças, principalmente em relação aos filhos, para quem deseja um futuro menos cruel. A figura dela é um elo entre a sobrevivência física e o desejo de ascensão simbólica. Sinhá Vitória representa a mulher sertaneja que, mesmo no silêncio da opressão, consegue manter aceso o desejo de mudança.Símbolo universal da resistência materna diante da miséria e do abandono social. A força silenciosa desta personagem moldou gerações de leitores e se tornou símbolo da mulher sertaneja. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.


6.° Engraçadinha - "Asfalto Selvagem - Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados", de Nelson Rodrigues
No romance-folhetim "Asfalto Selvagem - Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados", o polêmico escritor Nelson Rodrigues constrói uma das figuras maternas mais trágicas e ambíguas da literatura brasileira: Engraçadinha, que após uma juventude entregue aos prazeres do sexo torna-se uma fanática religiosa e se volta para a criação da filha, Cilene, como se tentasse expiar os pecados do passado. Atormentada pela história de incesto e desejo que marcou sua juventude, essa mãe tenta proteger Cilene de um destino que considera inevitável, investindo num cuidado rígido, repressivo e, por vezes, cruel. O amor dela é distorcido por valores morais e culpa, mas ainda assim reconhecível como uma tentativa desesperada de proteger a filha. A maternidade aqui se revela não como fonte de redenção, mas como campo de conflito entre o desejo de liberdade e o peso da tradição. É uma maternidade feita de silêncios, omissões e pânico moral - e, justamente por isso, profundamente humana. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

5.° Dona Glória, mãe de Bentinho - "Dom Casmurro", de Machado de Assis
Em "Dom Casmurro", escrito por Machado de Assis, Dona Glória é a mãe que ama demais e que decide o futuro do filho por promessa religiosa. Ela força Bentinho ao seminário para cumprir uma promessa feita antes do nascimento dele, interferindo diretamente em sua formação emocional. A personagem representa a mãe religiosa, autoritária, mas amorosa - e também a mãe que, sem perceber, gera fraturas no desenvolvimento emocional do filho. A interferência dela é uma das causas do desequilíbrio psicológico do narrador, contribuindo para o tom trágico e ambíguo da obra.Ela influencia o destino psicológico e amoroso do narrador. Sem sua promessa e decisões, a história de Bentinho e Capitu seria outra. Uma mãe simbólica do controle afetivo. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

4.° Cecília - "A Pediatra", de Andréa Del Fuego (Companhia das Letras)
No provocador romance "A Pediatra", e escritora Andréa Del Fuego apresenta Cecília, uma neonatologista que rompe com todas as expectativas sociais sobre a maternidade. Embora trabalhe diretamente com recém-nascidos, Cecília se mostra emocionalmente distante dos bebês e dos pais, desconfiando da idealização do instinto materno. Fria, solitária e crítica, ela é uma personagem que se recusa a performar a doçura que se espera de uma mulher ligada ao cuidado infantil. No entanto, ao se envolver afetivamente com uma criança, ela se vê confrontada com um mundo emocional que havia evitado. A narrativa, conduzida com humor ácido e aguda sensibilidade, mergulha nas ambiguidades da maternidade e mostra que nem toda mulher nasce para ser mãe - e que isso também precisa ser dito e respeitado. Cecília é uma personagem necessária porque escancara o peso das normas sociais e desafia os clichês da figura materna idealizada na literatura e na vida. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

3.° Salustiana e Donana - "Torto Arado", de Itamar Vieira Junior (Editora Todavia)
No romance "Torto Arado", de Itamar Vieira Junior, as personagens Salustiana e Donana são figuras maternas que transcendem a família biológica e assumem papéis fundamentais na sustentação espiritual, emocional e social da comunidade rural de Água Negra. Salustiana, mãe de Bibiana e Belonísia, é parteira, curandeira e referência de força e dignidade. A maternidade dela é representada pela resistência às marcas da escravidão e pela transmissão de saberes tradicionais. Já Donana, avó das meninas, é uma figura ancestral, profundamente ligada à terra, aos ritos e à espiritualidade de matriz africana. Como mãe e avó, ela representa a continuidade do conhecimento, da fé e da luta por justiça. Ambas são mulheres que cuidam, acolhem e ensinam - não apenas suas filhas e netas, mas toda uma comunidade. Com elas, a maternidade se mostra como elo entre gerações e como prática coletiva de resistência, cura e memória. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

2.° Dalva - "Tudo É Rio", de Carla Madeira (Editora Record)
A Dalva de "Tudo É Rio", escrito por Carla Madeira, está entre as mães mais impactantes da literatura brasileira contemporânea. O drama da personagem começa a partir de uma violência com ela e o filho recém-nascido, o que a lança em um luto permanente. Tomada por sentimentos contraditórios - dor, ódio, culpa, amor e desejo de vingança — ela representa a mãe que enlouquece em silêncio e faz do algoz uma vítima, em um jogo de gato e rato. A trajetória de Dalva mostra como o instinto materno pode ser ao mesmo tempo sagrado, violento e profano. Carla Madeira constrói uma personagem intensa, que carrega a maternidade como ferida aberta e, de quebra, mostra a maternidade como maneira de redenção a partir da prostituta Lucy. Figura visceral da dor materna contemporânea. Sua tragédia íntima impacta toda a narrativa. É uma das personagens mais discutidas da nova literatura brasileira. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

1.° Ana e Madalena -"Não Fossem as Sílabas do Sábado", de Mariana Salomão Carrara (Editora Todavia)
Em "Não Fossem as Sílabas do Sábado", a escritora Mariana Salomão Carrara apresenta duas mulheres marcadas pela tragédia: Ana e Madalena, ambas viúvas após um acontecimento que matou seus respectivos maridos. A maternidade de Ana é atravessada pelo luto, pela solidão e pela necessidade de reconstruir a vida sem o pai da filha. Madalena, por sua vez, torna-se uma figura materna complementar, unindo-se a Ana em uma relação de amizade profunda e parceria. Juntas, elas formam uma nova configuração familiar, baseada no afeto, no cuidado mútuo e na ressignificação dos papéis femininos. A obra amplia a noção de maternidade ao mostrar que ela pode ser construída coletivamente, fora dos moldes tradicionais. Ana e Madalena são exemplos de como o amor e o apoio entre mulheres podem criar espaços seguros e afetivos para o crescimento de uma criança - e para a cura de quem cuida. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

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