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terça-feira, 19 de outubro de 2021

.: Capítulo 10: "As Winsherburgs" em "Cega, surda e muda"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


No escritório das Winsherburgs adentra Petra, desafeto das meninas desde o jardim de infância do antigo Colégio Santa Helena. Petra sabia identificar todo erro e converter em acerto. Quando a professora se aproximava para resolver as desavenças da menina com as gêmeas, sempre dava um jeito, rapidinho, de reverter toda a história e fazia a culpa do desentendimento recair nas costas das irmãs. Claro! Eram duas contra uma. Quem mais poderia ser a vítima ali?!

Tudo  começou quando se cruzaram na vida pela primeira vez, as gêmeas tinham um pirulito colorido cada nas mãos. Petra quis tomar ambos de Lola e Sam. Por um doce, Petra passou a ser um ticket sem volta com direito a Coca-Cola quente descendo bem pelas gargantas de Lolita e Samantha. Assim foi por anos, até que o destino deu um jeitinho de afastá-las. 

Alguns encontros aconteceram por puro deslize das Winsherburgs. Na verdade, Samantha era a mais distraída, enquanto que Lola identificava o perigo com muita distância, com tempo suficiente de mudar a rota antecipadamente.

Contudo, agora, ali, no escritório, não havia outra opção. 

Ao menos estavam juntas e assim iriam enfrentar esse fantasma do passado. Fora que o primo Apollo também seria um anjo protetor. As irmãs se olharam, passando coragem, mas, simultaneamente engoliram em seco, quando direcionaram toda a atenção para Petra.

Com aquele ar de quem sempre se alimenta de pretextos, Petra passou os olhos por todo o escritório como que se aquilo fosse um monte de lixo e começou:

- Fiz questão de dar uma passada aqui nesse lugarzinho...

No estilo máximo de bruxa má e mergulhada no sarcasmo, Petra abriu um sorriso claramente diabólico e ainda bateu o indicador suavemente nas pontas dos narizes de Lola e Sam.

- Saibam que irei fiscalizar o trabalho de vocês. Meu noivo Helder Lee me designou a fazer esse meio de campo. Contei a ele o quão amigas de infância somos. Afinal, vocês me trataram tão bem aqui, da última vez, né?!, aproveitou para provocar as gêmeas.

Enquanto as Winsherburgs seguiam em total silêncio e com um sorriso amarelo estampado, Petra sentenciou:

- A partir de agora, receberei toda sexta-feira a programação de trabalho para a semana seguinte. Quem se habilita a cumprir esse primeiro trato?!

Apollo que pretendia mostrar a forma que trabalhavam ali, levantou a mão esquerda e antes que falasse qualquer coisa, foi interrompido pela nova chefe.

- Ah! Você. Combinado. Aqui está o meu cartão!, falou deixando o pedaço de papel sob a mesa enquanto dirigia-se até a porta. Mantinha a mão esquerda erguida na altura dos ombros e balançava os dedos sinalizando um adeus.

Assim que Petra sumiu por completo, Apollo suspirou e disse:

- É! Temos uma Miranda de “O Diabo Veste Prada” para chamar de nossa!

*  *  *

Lá fora a chuva caia forte. Cega, surda e muda. No quarto, sob a cama, Mary seguia inconsciente. 

Ao abrir os olhos lentamente, notou a figura de uma linda mulher de voz suave que cantarolava uma canção de ninar quando acariciava seu rosto com muita delicadeza. Não era a mãe dela ou as irmãs mais velhas.

Serena, a mulher apenas sinalizou que estava tudo bem, sorriu e ergueu o dedo indicador em direção a testa da menina que começou a recobrar a memória. 

- Temos que conversar! –falou baixinho a mulher misteriosa. 

Confusa, Mary quis saber quem ela era.

- Sou Evangeline. Um anjo do Senhor. Fui enviada para proteger você de Azazel. 

Mary não se contém e começa a rir enquanto responde:

- Que história é essa? Anjos só existem nos filmes e seriados. E eu lá conheço esse “Aza” alguma coisa aí?!

Sentando-se à beira da cama, Evangeline respira fundo e complementa em poucas palavras:

- Conhece e esteve com ele. 

Mary ri novamente e dispara:

- Fala logo! Quem é você? Pensa que eu não sei o que quer de mim?

Evangeline segue suave na fala:

- Estou aqui porque a ordem celestial me ordenou. Você fez o ritual de invocação do prisma. Tentei alertar suas irmãs várias vezes para impedir que se colocasse em perigo, mas ninguém me deu ouvidos. Usei até uma blogueira de quem você é fã. Todas as três irmãs sempre perdidas em problemas pessoais, sem permitir que a sensibilidade aflorasse um pouquinho somente. Assumi essa forma em nome de cumprir essa missão e retornar ao meu verdadeiro propósito.

*  *  *

Quando o relógio marcava 17:57, na cozinha, Ellen começava a preparar a janta, pois Bernardo iria chegar. Tinham combinado de ter sorvete de passas ao rum e pistache de sobremesa.

*  *  *

Antes de anoitecer, Lola e Sam chegaram em casa. Como de costume foram ao quarto de Mary para dar um beijo na irmã mais nova. Somente após se aproximarem bem que notaram Evangeline. Era a mulher atropelada no dia do cinema, no hospital. 

Lolita ficou incrédula a ponto de levar as mãos até a boca que estava aberta, enquanto que Samantha, cheia de atitude e grande jornalista investigativa, pergunta:

- Vocês se conhecem?! O que está acontecendo aqui?! Quem é você?

Erguendo o indicador em direção à testa de Lolita e depois de Samantha, Evangeline começa a repetir, calmamente, tudo o que disse a Mary.

Lolita, ainda sem acreditar no que acontecia ali, encheu Evangeline de perguntas novamente:

- Você tentou falar conosco pelo aparelho de som e celulares?! Depois assumiu essa forma, mas quando eu lhe atropelei, você simplesmente sumiu no hospital...  Olha isso é muito papo-furado. De onde tirou essa história surreal?! Acha mesmo que vou acreditar...

A revolta de Lolita é bloqueada por um novo clarão e zunido alto que ecoou no quarto. Era Azazel.

- Olá, anjinha!, fala Azazel diretamente para Evangeline. E complementa tendo as mãos juntas:

- Que momento oportuno! Essas Winsherburgs e você, todas juntinhas. Sabe que não me importo se tiver que ser drástico, né, mensageira de boas notícias?!

Evangeline não responde, apenas se coloca diante das três Winsherburgs assumindo a posição de protetora. 

- Você sabe que só tenho interesse nessa pequenininha, aí! Por que assume a guarda das outras?! Desnecessário, anjinha. Cedo ou tarde elas terão um destino trágico...

Escondida atrás da mensageira celestial, Mary segura firme a pedra, relembra tudo o que lhe foi dito pela protetora e toca nela para que inicie as orações em hebraico. 

Azazel sorri e mostra ter o corpo fechado com o sinal da forma do Sol.

Sem cogitar qualquer reação, Azazel deu as costas, foi quando Mary encontrou coragem e força. Saiu muito rápido de trás de Evangeline e encostou o prisma no símbolo tatuado. Pequena e leve, o movimento da jovem foi tão ágil que ninguém foi capaz de entender o que acontecia. Assim, o encarregado de contar o número de faltas humanas foi enviado para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

*  *  *

Naquela noite, Mary, Lolita, Samantha e Ellen assistiram juntinhas, no sofá grande da sala, os três primeiros episódios do seriado “The Big Leap”, enquanto que Bernardo assistia no quarto do casal “Batatinha-frita 1, 2, 3” de “Round 6”. É como diz a Dorothy: “Não há lugar igual a nossa casa!”.


Si pudiera exorcizarme de tu voz

Si pudiera escaparme de tu nombre

Si pudiera arrancarme el corazón

Y esconderme para no sentirme

Nuevamente

Ciega, Sordomuda, Shakira


.: Confira todos aqui o primeiro capítulo de "As Winsherburgs"!


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm 


Assista em vídeo como história ilustrada


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

.: Capítulo 9: "As Winsherburgs" em "Acenando Através de uma Janela"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos

 

Mary sentia muita fome, queria até correr para almoçar com a mãe, mas estava intrigada no nível mais alto da curiosidade que um ser humano pode suportar. Enquanto que a mãe não perdia a paciência e soltava um berro ecoante bem no corredor da casa, a jovem Winsherburg tentou ligar os pontos soltos para entender como que a blogueira descobriu o nome verdadeiro dela uma vez que tinha se identificado como Celeste. Sem contar que tinha entrado em contato por mensagem no blog.

- Como ela descobriu o meu WhatsApp?, perguntou Mary em pensamento.

Não tinha mais como se demorar ou iria ver uma Ellen muito brava na porta do quarto também.

Devorando a refeição como se não houvesse amanhã, Mary fingiu estar bem em relação ao tapa que levou de Ellen, por dentro era consumida pela dupla loucura que acontecera com ela minutos antes. O que era um tapa dado por reflexo perto de uma blogueira saber o nome e o número de telefone dela?

Sorrindo para disfarçar o vulcão em erupção interna, fez a refeição com Ellen como se nada tivesse acontecido. As duas conversaram sobre amenidades e uma pauta que ganhou força foi o seriado “The Big Leap”.

- Não, mãe! Você não pode desligar a TV depois de assistir “9-1-1”. Desde o dia 20 de setembro está rolando a nova série “The Big Leap” que é muito parecida com “Glee” só que não é de canto, mas dança. Tem os desajustados, mas eles requebram para participar do reality show que é o nome da série.

Ellen faz cara de pensativa até que comenta desabafando:

- Fizeram tantas série parecidas... Não sei se estou preparada para me apegar a outras histórias com o segmento similar.

Antes que soltasse mais uma nova desculpa Mary complementa.

- Mãe, sei que a senhora é Ryan Murphete desde o ventre materno e mesmo quase sempre reclamando dos finais decepcionantes das temporadas, mantém total fidelidade a ele. Só acho que vai gostar. E muito. Basta só dar uma chance. Podemos assistir juntas?!

Ellen tombou a cabeça para o lado como quem tinha se dado por vencida na batalha até que disse:

- Ok. Combinado. Podemos ver na sala e faço pipoca!

*  *  *

Samantha e Lolita trabalhavam concentradas na revisão do próximo roteiro para o canal “Mentes em Fuga” quando ouviram alguém reclamando do tapetinho.

Sim! As duas sabiam bem que era Apolo.

Samantha não pensou duas vezes, correu para abrir a porta, mas com o cuidado de antes confirmar se era mesmo o primo, focou no olho mágico e, para surpresa da gêmea, que já estava assustada com as histórias de Lolita, não viu ninguém para entrar. Aterrorizada, não sabia se contava para a irmã que o primo não estava lá ou se tornava a olhar. Sam morria de medo de corredores de prédios, pois nunca tirou a má impressão após assistir “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado”.

*  *  *

Mary não queria envolver Tarissa nessa história da blogueira. Logo ela que era a mais best das best friends. Quanto mais o tempo ia virando passado e o Sol do dia já não brilhava em reflexo no chão de seu quarto, ela não encontrava outra opção. Precisava falar com Tarissa.

Por um segundo, Mary imaginou Melinda como uma agente secreta, não sendo um membro das “Três Espiãs Demais”, mas como uma autêntica James Bond Woman. Seria ela um personagem misterioso de “007: Sem Tempo para Morrer”?

Ao bater a cabeça de lado, na quina da cômoda para pegar o brinco de deixara cair, Mary parou de divagar. Nem tempo de resmungar um “ai” de dor foi capaz. Tinha ido longe demais. Pegou o celular e quando ia selecionar a foto da amiga para contar tudo e ter uma ideia de como lidar com essa nova situação, recebeu uma ligação pelo zap: era Melinda.

Atendeu com a voz trêmula:

- Melinda?!

Do outro lado da linha ela respondeu:

Oi! Sim! Você mandou uma mensagem para mim e eu...

Mary teve a única reação improvável: desligou o aparelho e o jogou na cama.

*  *  *

De costas para a entrada, Samantha procurava uma forma melhor de dizer o que havia acontecido quando foram dadas as típicas batidas na porta por Apollo. Não era algo no estilo Sheldon Cooper, mas a exata marca do primo das Winsherburgs dizer que estava ali e tinha esquecido as chaves.

 Lolita levanta a cabeça para tentar entender como que Samantha ainda não havia deixado ele entrar, mas tudo foi respondido pelo próprio Apollo:

- Bom dia, minhas lindas!, entoou o cumprimento numa grande alegria enquanto beijou a testa de Sam.

- Caraca! Já estava aqui quase batendo à porta, quando ouvi o porteiro me chamando na escadaria. Tem correspondência e não parece ser conta para pagar.

Apollo dá uma risada e coloca o papel em cima da mesa, ao lado do computador. Atento, ele percebe que Lola está revisando um roteiro e rapidamente puxa a cadeira para pertinho dela.

Apollo disfarçava muito bem, mas era apaixonado por Lola. Sempre foi. Parecia coisa de menino, mas aquele sentimento nunca foi passageiro. Ellen e Eva, as mães dos primos sempre diziam para ele, por ser mais velho e entendia, que não podia. E assim, ele foi reprimindo o verdadeiro amor que sentia por Lola e tentava transformar em carinho de irmão mais velho. Contudo, doía em Apollo ver Lola com namorados que sequer a valorizavam. Como era o caso de Leo, com quem Lola estava ainda na parte do flerte e mensagens carinhosas.

Sam volta com uma bandeja de chá preparado com folhas de pitanga colhidas da árvore no quintal de casa e quando, Lola menos espera, a irmã começa a falar sobre a mulher atropelada que sumiu do hospital.

Lolita fica brava a ponto de arquear severamente as sobrancelhas, pois por algum tempo havia esquecido esse ocorrido.

- Não me venha lembrar dessa bizarrice, não!, resmungou Lola.

Contudo, os celulares dos três primos tocam simultaneamente com o seguinte lembrete: “NOVO RECADO! Alguém deixou uma mensagem para você. Para resgatar, ligue *1001 ou responda OK e receba seus recados por SMS! Apenas R$ 1,29/semana.”

Susto? Nada. A surpresa maior ainda estava por vir via interfone quando o porteiro chamou e o primo atendeu.

- Olá, Apollo! Aqui é o Kaliel, da portaria. Tem uma senhora querendo subir. O nome dela é Petra.

*  *  *

No quarto de Mary um clarão toma conta do lugar e a silhueta de uma mulher ganha forma junto de um forte estrondo. Ela cai e tenta fazer um mínimo aceno, grita por socorro, mas ninguém a ouve. Nem mesmo Ellen que está na sala, ali, próximo.

 

I'm waving through a window

I try to speak, but nobody can hear

So I wait around for an answer to appear

While I'm watch, watch, watching people pass

I'm waving through a window, oh

Can anybody see, is anybody waving back at me?

Waving through a window, trilha sonora do musical da Broadway “Dear Evan Hansen”



.: Perdeu algum capítulo? Confira todos aqui!


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm 


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quarta-feira, 22 de setembro de 2021

.: Capítulo 8: "As Winsherburgs" em "Doce Fantasia"


Por: Mary Ellen Farias dos Santos

 

Com o carro parado, ao se dar conta de que atropelou alguém, Lolita, permaneceu sem se mover, em estado de choque, quando deixou escorrer uma lágrima pelo olho esquerdo. Samantha, decidida e prática, rapidamente abriu a porta do carro e correu até a mulher.

Aparentemente, a jovem que Lolita acertou com o carro não se feriu em nada, apenas deixou um dos calçados voar longe e nada falava. Enquanto uma e outra perguntavam se ela estava bem, as irmãs não pensaram muito e resolveram colocar a mulher no carro até o hospital Santa Clara. E no trajeto o silêncio fez o momento ser de total apreensão.

As gêmeas, nervosas, acabaram tropeçando nas palavras ao tentar explicar o que acontecera para a recepcionista. Quando Lolita foi apontar para a mulher, logo cutuca Samantha que também se vira, e é iniciada busca pela jovem atropelada, mas a mulher havia simplesmente desaparecido.

Seria impossível ter entrado direto para atendimento, uma vez que naquela noite o plantão estava tranquilo e a situação da quase paciente não era grave -aparentemente.

 

*  *  *

Ellen e Mary já tinham voltado para a casa dos Winsherburgs após passar a manhã no Colégio Santa Helena. Mary e Tarissa conversavam por chamada de vídeo longe da mãe, professora, que aproveitava o tempo de o arroz ficar pronto para o almoço entre mãe e filha, assim começou a separar o material que iria usar no dia seguinte de aula.

Folheou um livro em busca de rever o conteúdo a ser trabalhado e, com os estalos da geladeira ecoando pelo corredor, nem percebeu quando Mary chegou sorrateiramente atrás dela, ergueu o celular com a câmera filmando tudo, em alto e bom som e colocou para tocar a introdução de três segundos do clássico “I feel good”, na voz de James Brown.

Ao contrário do que esperava, Ellen não jogou algo para o alto ou gritou de susto como nos vários vídeos que rolam pelas redes sociais. A dona Winsherburg foi certeira. Com a mão fechada, deu um tapão na face de Mary, numa resposta rápida e impensada por qualquer um que quer se defender do perigo.

Com o coração acelerado, Ellen simplesmente perguntou o que fora aquilo. Mary permaneceu sem reação a ponto de nem ter voz suficiente para responder.

A filha se encheu de vergonha, primeiro pela audácia da brincadeira e depois por ter ficado com uma das bochechas mais vermelhas do que um morangão. Como resultado, somente colocou as mãos no rosto, pousando uma delas diretamente na área que estava quente igual ao sertão nordestino.

Definitivamente, Mary não esperava uma reação forte e precisa de Ellen. Na verdade, ficou arrasada com aquele tapão. Sem saber lidar com a situação, abaixou a cabeça e foi para o quarto, segurando firmemente a pedra misteriosa, quando alertou a mãe que iria usar o notebook enquanto a comida não ficava pronta.

O pior é que o arroz daquele almoço queimou.

Sete minutos depois, recomposta, Ellen arrumou a louça na mesa para o almoço com a filha, sem gritar, o que Bernardo achava muito feio. Então, para avisar Mary que estava tudo pronto, mandou uma mensagem pelo WhatsApp.

Melhor escolha.

A filha tinha começado a assistir o documentário “Mamãe morta e querida” que retrata o caso macabro entre mãe e filha, Gypsy Rose e Clauddine Blanchard. Mary havia assistido a série “The Act” e ficara estarrecida com a atitude macabra da jovem. Acreditava que iria diminuir a raiva que ficou de Gyspy e seu plano perverso. Sem contar que aquela história era 100% real.

Imagine se Ellen entrasse no quarto e entendesse tudo errado?! Afinal, Ellen era o tipo de mãe pra lá de dramática. Certamente chamaria o detetive Bira do canal Fatos Desconhecidos.

*  *  *

No dia seguinte, as gêmeas, numa pausa no trabalho, saboreavam umas delícias na Cafeteria Dollywood. Enquanto Samantha não parava de mastigar, Lolita pesquisava na internet. Como aquela mulher sumiu? Naquele momento, ela se sentiu igual a um personagem na série “Supernatural”, sendo que ela assumiu o papel do irmão mais novo, o Sam, enquanto que Samantha era perfeitamente o Dean.

Eis que Lolita encontra uma notinha jornalística a respeito de um atropelamento, de ontem, mas há quatro quadras de distância.

- Samantha, olha isso!

Distraída e mais envolvida com os lambiscos matinais, a irmã somente olhou, sem dar a mínima atenção. Estava interessada em se dedicar ao pecado da gula.

- Samantha! Presta atenção!, ralhou Lola com a irmã.

- A foto da câmera de segurança... Dá para ver que é a mulher do acidente comigo, mas não é no mesmo lugar!

Involuntariamente, Sam arregalou os olhos e deixou um donut que levaria a primeira mordida cair virado na mesa.

- Mana! Não é possível isso!!

Lolita sente um forte arrepio na espinha, mas é no olhar de Samantha que o medo maior é representado. Quem levava tudo na brincadeira simplesmente chorou ao se dar conta da situação:

- Será que era uma bruxa?! Por que assim, surge do nada, é atropelada, colocamos no nosso carro e daí evapora. Aliás, leu o livro “HEX”, de Thomas Olde Heuvelt?! Samantha se embanana toda para falar o sobrenome até que esbraveja um “Ah!”.

Lola fecha a cara e pede para a irmã levar a situação a sério.

- Você e a Mary só ficam assistindo essas séries cheias de coisas do outro mundo, com espiritinho. Mana, isso é realidade. Já não basta o som da agência funcionar quando desligado?! E até me chamou...

Samantha fica boquiaberta e logo retruca:

- Som ligando sozinho?! Ah, não! Ainda chamou você?! Isso aí não é série de terror, mas de “WandaVision”!

Irritada, Lola ameaça ir embora e fala:

- A vida não é fantasia!

*  *  *

Antes de se juntar à mãe para almoçar, Mary recebe mensagens no WhatsApp.

 

Olá, Mary!? Aqui é a Melinda! Podemos conversar?!

 

 

 

Feels like I'm dreaming, but I'm not sleeping

(sweet, sweet fantasy)

Fantasy

Sweet fantasy

You're my fantasy

Sweet fantasy

Sweet, sweet fantasy

 

Fantasy, Mariah Carey



*~~~~ Capítulo 9: "As Winsherburgs" em "Acenando Através de Uma Janela" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm 


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terça-feira, 7 de setembro de 2021

.: Capítulo 7: "As Winsherburgs" em "Não é o fim do mundo"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos


- Não peguei nada!, grita Ellen tomada de uma fúria ainda desconhecida pelos Winsherburgs. E como há uma primeira vez para tudo, Bernardo, que se preparava para tomar banho, chega a se assustar, mas cansado do dia de trabalho, prefere esperar a poeira baixar entre Mary e Ellen. Sabia bem que manter a distância ideal da mulherada com os nervos em chamas era a melhor escolha.

Com resmungos indecifráveis, Mary retrucava as sucessivas negativas da mãe sobre ter mexido na mochila dela. Assim, mãe e filha foram se afastando e a altura da discussão diminuiu um pouco de volume. Não o suficiente a ponto de fazer com que Lolita e Samantha que chegavam, não ouvissem.

- Gente! Sem mais B.O.! Passamos por uma agora na agência. Coisa do arco-da-velha. Estou querendo chorar por ter reencontrado uma víbora do passado, falou Samantha em um tom mais alto, enquanto unia as mãos como que pedindo por trégua.

Mas foi Lolita quem amenizou tudo: - Hoje não é o fim do mundo! Trouxemos pizza!!

 

*  *  *

 

Para Mary, tudo ocorreu numa velocidade assustadora. Ela deixou a mochila escolar debaixo da cama, fechada, foi ao encontro das amigas e quando voltou para casa, a pedra misteriosa a que era devota, havia sumido.

Ninguém, além da própria Mary, sabia onde estava o objeto brilhante.

Sem a pedra para idolatrar, a jovem foi invadida por uma sensação de profundo vazio e desamparo. Trancada no quarto, agarrou o ursinho Teddy enquanto deixava lágrimas escorrerem, o que a fez adormecer ao som de “Anytime you need a friend”, de Mariah Carey.

Com uma sede intensa, no meio da noite, acordou e precisou beber um copo e meio d´água com direito ao som de satisfação, igual ao dos comerciais de bebidas e também muito usado numa propaganda de pasta dental.

Ao retornar para o quarto, usando a lanterna do celular como guia, um grande susto. A cama estava com os lençóis esticadinhos e o ursinho posicionado milimetricamente ao centro.

Mary arregalou os olhos e logo os esfregou. Resolveu se esforçar ao máximo para entender o que acontecera ali. Não queria procurar a mãe no quarto com o pai para confirmar se ela havia arrumado a cama. Naquele dia, as duas estavam falando somente o necessário. Não iria procurar socorro para tirar tal dúvida, ainda mais que era madrugada.

Mesmo desconfiada, deitou-se e decidiu manter a lanterna do celular acessa. Na esperança de se aquietar, pesquisou no YouTube vídeos aleatórios para rir um pouco. Foi quando chegou num shorts do ator Tom Holland e o vídeo entrou em modo repetição, seus olhos estavam fechando involuntariamente. Então, Mary sentiu uma mão empurrar o celular para bem longe. Com o coração acelerado, abriu os olhos e viu o aparelho ricochetear na parede, até chegar no chão. Boquiaberta e apavorada, percebeu que a lanterna iluminava o cantinho da cômoda com a parede.

Lá estava a pedra.

 

*  *  *

 

No Colégio Santa Helena, Mary e Tarissa voltavam da biblioteca cinco minutos após a quarta aula começar. E, por puro azar, as duas foram flagradas pela diretora.

Elas trocaram olhares e fizeram cara de anjinhas arrependidas. Bem gatinho do Shrek. Claro! Não queriam que o desvio no horário de aula chegasse aos ouvidos de seus pais.

A duplinha ficou em silêncio e de mãos para atrás, enquanto que a diretora lhes dava um sermão. Tanto Mary quanto Tarissa não prestaram um pingo de atenção no que fora dito. Nana tinha feito sobrancelhas pigmentadas. O procedimento ficara extremamente mal feito e roubava toda a atenção do que ela falava.

 

*  *  *

 

Longe de São Francisco de Assis, a exatos mil quilômetros de distância, a blogueira Melinda relia a lenda muito conhecida pelos moradores do litoral de Santa Bakhita que acabara de transcrever e iria publicar para os seus seguidores. A lenda da musgravite branca.

 

De geração para geração, conta-se que diante da igreja matriz, onde hoje é uma praça, em 1.801, os índios Potimbás encontraram uma pedra branca, do tamanho de um punho masculino que foi mantida sob os cuidados do cacique Anhanguera.

Certa noite, enquanto o pajé Toriba fazia os preparativos para o ritual secreto, tendo a pedra firme nas mãos do cacique Anhanguera, garimpeiros iniciaram um incêndio no povoado a fim de tomar a preciosidade que era única em todo o globo terrestre.

Exterminados, os nativos das bordas litorâneas de Santa Bakhita seguiram vivos somente na boca do povo, assim como a tal musgravite branca. Reza a lenda de que o mineral se espatifou em meio à confusão. No entanto, mesmo com o fogo consumindo o povoado, muitas partes da pedra não se perderam, embora ninguém tenha conhecimento de tal raridade.

 

Melinda levantou-se e foi beliscar um docinho na bomboniere que mantinha abastecida no móvel da sala. Nem mesmo se passaram 20 minutos de texto publicado, deu F5 no computador e, dos comentários enviados, um lhe chamou bastante atenção.

 

Linda Melinda, tudo bem?

Sou sua fã, admiradora e conheci o seu blog no início da pandemia. Não preciso dizer, mas, é que eu virei sua fã Nº1. Acho até que vou ser jornalista, igual a você e as minhas irmãs. Fiquei curiosa por essa história, mas sabe me dizer se esse cristal tem algum poder?

Beijinhos mil,

Celeste

 

*  *  *

No céu já se via o crepúsculo quando os primos Lolita, Samantha e Apollo encerraram o expediente e correram de carro até o Cineflix do shopping da cidade para assistir "Free Guy: Assumindo o Controle".

Animados pela sessão pipoca com lanche no fast-food após, Apollo foi levado em casa pelas gêmeas que seguiam a viagem tranquilamente. Faltavam dois quarteirões para chegarem em casa.

- Somos tão diferentes, mas não sei como viveria sem você, comenta Lolita enquanto Samantha estoura a bola de chiclete que mastigava. Com uma troca de olhar, as duas caem na risada.

- Mana, como vamos lidar com a Petra pegando nos nossos pés?!, continuou Lolita.

Samantha que tinha começado a cantar “Livin´ on prayer” a plenos pulmões, parou e disse:

- Mais um obstáculo que enfrentaremos juntos. Foco na história do Guy, lá no filme. Vamos todos nós três correr naquela ponte. Juntos. Temos o Apollo para nos dar um apoio. Então...

Antes que Lolita respondesse, as duas trocaram um novo olhar de cumplicidade. Com o som do carro muito alto, as irmãs não se dão conta de quando uma mulher cruza o meio da rua.

Lolita freia bruscamente, mas o veículo derrapa.

 

*  *  *

It's not the end of the world

No, not the end of the world

Throw on your fancy attire, fears in the fire

Don't lose hope

It's no funeral we're attending

Actually, just the beginning

 

Not the end of the world, Katy Perry



*~~~~ Capítulo 8: "As Winsherburgs" em "Doce Fantasia" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm


Assista em vídeo como história ilustrada



terça-feira, 24 de agosto de 2021

.: Capítulo 6: "As Winsherburgs" em "Isso é tudo o que sei até agora"


Por: Mary Ellen Farias dos Santos


O incidente com Mary no banheiro do Colégio Santa Helena virou um segredo da jovem Winsherburg que foi guardado a sete chaves com Tarissa.

Em casa, com Ellen, mãe de Mary, as garotas almoçaram as sobras do churrasco de domingo que ganhou um molho extra especial acrescido a um arroz clarinho, mas salpicado de orégano, que ainda fumegava enquanto a mãe soltava os grãos da panela e colocava no prato das meninas. De barriguinha cheia, a dupla que era carne e unha, deixou o material escolar para encontrar com Juliette e Íris na lanchonete.

No trajeto, caminhando tranquilamente pelas ruas arborizadas de São Francisco de Assis, Mary e Tarissa aproveitaram a chance para cochichar “o tal segredinho”.

A verdade é que Mary estava muito preocupada com a possibilidade mínima do susto seguido de desmaio virar um gigantesco boato protagonizado por ela. Não saberia lidar com as meninas bestinhas do 2º e 3º ano do Ensino Médio. Isso a preocupava, não as marcas arroxeadas que tinha ganhado nos cotovelos pela queda. Se virasse alvo de fofoca, como iria encarar todos na escola?

- Será que tem câmeras naquele banheiro?! Amiga, não quero ser chamada de “Carrie, a Estranha”!, confessou Mary.

- Calma! Não estudamos em um reality show. Como teria câmera no banheiro?! Acho que nem pode. E, a propósito, você não tem o poder da telecinesia. Ou tem?, questionou Tarissa virando-se preocupada para Mary.

Num tom indignado, a pequena Winsherburg retrucou imediatamente:

- É claro que não! Adoraria ter o poder da invisibilidade ou a capa mágica do Harry Potter. Acho que iria me cair bem... Agora, sem brincadeirinha, Tari, aquele rosto... Tudo o que sei até agora é que aquilo não era humano.

- Ai, pode parar com isso, Mary!, repreendeu Tarissa que logo lembrou que elas madrugaram na live da escola quando as duas e mais nove alunos da turma assistiram a versão estendida do clássico “O Exorcista”.

- Hum. Sabe o que você teve? Uma resposta pela privação do sono. Eu dormi um monte, mesmo naquela gritaria do filme. Os pulmões do padre estavam em dia, né?! A propósito, não entendi nada. Acredita que eu acordei quando aquela menina estava vomitando verde?! Que nojo! Fiquei pensando, colocaram em dúvida a ingestão de vegetais. Eu acho. E você, minha amiga, relaxa!

- Será, Tatá?! Pode ser. Vi essas coisas e dormi pouco. Ah! Sabe o que eu assisti antes? O sexto episódio de “American Horror Stories”, Feral. Levei cada susto. E o fim da história?!

Tarissa manteve a carinha de confusa e preferiu silenciar para que a conversa não evoluísse para o lado assustador da força, a ponto de garantir um pesadelo naquela noite. Ainda mais que Mary era craque na descrição e contação de histórias de terror. Em nome de preservar a própria paz de espírito, Tarissa comentou:

- Opa! Não venha me contar nada do que viu nesse seriado aí. Não que eu vá assistir. Sabe que eu não sou fã dessas histórias com coisas nojentas. Nem pense em começar a me contar os detalhes asquerosos. Da última vez que você me contou sobre o episódio “Baal”... #peloamor. Stop!

*  *  *

Não tão distante do Colégio Santa Helena, Lolita estava sem palavras diante do roteirista Helder Lee. Ali, em carne e osso. Era grande admiradora. Aliás, Lee sempre foi a maior fonte de inspiração para ela que sonhava um dia roteirizar um filme famoso. E, claro, ganhar o Oscar.

Com o ídolo da escrita sorrindo, Lolita deixou o lado “admiradora secreta” e o cumprimentou, tentando controlar a euforia da situação inusitada. Não que o roteirista quisesse cerimônia, afinal era amigo de Apollo, mas Lolita ficou impactada pela situação a ponto de não saber o que dizer. E, principalmente, o que fazer.

Samantha desinibida, serviu um donut a Lee enquanto Apollo esclareceu tudo.

- Signo do destino, meu parça. Como iria imaginar que encontraria você na fila da cafeteria daqui? Justo de São Francisco de Assis?!, questionou Apollo quebrando o breve silêncio no ambiente.

Com uma risada um pouco solta, Lee respondeu:

- Vim visitar a família da minha noiva. Precisei fazer hora no Centro da cidade, de carro. Ela está no salão de beleza. Dei uma voltinha no quarteirão e quando vi a vitrine de guloseimas daquela loja. Não resisti.

- Olha, eu entendo perfeitamente, comentou Samantha enquanto soltava leves risadinhas de felicidade. Posso estar sem fome, mas se eu olhar o que a Berenice acabou de fazer, fresquinho, exposto na vitrine... Ah! Eu automaticamente quero comer, nem que seja um pedacinho.

Um pouco mais calma, mas como uma sensação de medo e não receio, talvez por saber exatamente o que estava vivendo naquele momento, Lolita propôs:

- Que tal aproveitar a oportunidade e conhecer a agência?!

Helder Lee assentiu com a cabeça, pois terminara de degustar o donut e estava com o copo de refrigerante completamente vazio.

*  *  *

Mesmo longe, Mary e Tarissa avistaram Juliette e Íris, no balcão do fast-food. Deram uma corridinha para antecipar o reencontro. O quarteto era dividido em duas escolas: Mary e Tarissa no Colégio Santa Helena enquanto que Juliette e Íris estudavam no Colégio São Bento. Elas não se viam pessoalmente desde o ano passado, mas agora, já vacinadas e com o fim da pandemia, puderam ser livres novamente. A conversa iria rolar mais solta sem a tela do celular ou do computador para separar a turminha.

Após muitos abraços e beijos, Mary, uma matraqueira que só, jogou Íris na roda.

- Amiga, como anda de papo com o Caio?

Íris, com uma carinha triste, respondeu:

- Sabe... Ele era mais velho e devia estar com segundas intenções, enquanto que eu estou nas primeiras. Fora que ele está caindo de amores mesmo é pela moto que comprou com ajuda do paizinho dele. O Caio até me levou na garupa, parou no estacionamento do supermercado que é super arborizado e fiquei sem entender. Eu quase perguntei se iríamos fazer as compras do mês. E aconteceu algo bizarro: ele mandou eu ficar ao lado dele, segurando um rebatedor de luz que ele sacou não sei de onde. Começou a fotografar a motoca e ainda disse que seria o wallpaper dele. Não tinha como ser diferente, todo o romance subiu no telhado.

Tarissa fez cara de surpresa e exclamou: - Que babaca!

Mary ficou sem reação, foi surpreendida com o rumo dessa “quase” história de amor.

Juliette, a brincalhona do grupo, logo soltou uma pérola:

- Ok! Aceitem! A Íris não vai mais ser a primeira daqui a se casar, ter filhos, ser uma jovem, recatada e do lar.

Foi automático. As meninas trocaram olhares e gargalharam.

E assim aconteceu na próxima uma hora e meia daquele dia histórico que marcou o reencontro do quarteto. Ao vivo e a cores. Sem WhatsApp ou por lives.

 

*  *  *

Enquanto conhecia o espaço, Helder Lee soube da situação da agência, mas o que mais o intrigou foi algo na parede, o famoso quadro do menino chorando, de Bruno Amadio. Prestes a perguntar se fora presente, o telefone dele sinalizou uma ligação. O rostinho no aparelho era conhecido: Petra.

- Com licença! É a minha noiva!, exclamou enquanto se afastava dos primos. Helder conversava com alguém que demonstrava bastante empolgação com a ideia de se encontrar com ele ali.

Lolita tentou disfarçar, inventando uma ocupação com os livros da prateleira e ouviu ele dizer:

- Pê, tem certeza?!

Após uma pausa na fala do roteirista, combinou:

- Sim, gata! Espero você!

Na sequência, Helder quis saber onde era o banheiro da agência. Planejava avisar a todos que Petra estava a caminho dali ao sair, mas não deu tempo. Em menos de 7 minutos, Apollo abriu a porta e lá estava ela:

- Oi! Você..., disse Apollo.

Petra respondeu a saudação entrando como um furacão até soltar um sorrisinho de lado para as gêmeas Samantha e Lolita. Antes que as duas entendessem toda a situação, Helder falou:

- Como foi rápida. Amor, vou apresentar você aos meus futuros sócios!

No entanto, os primos conheciam Petra de outros Carnavais... As gêmeas que o digam!

 

And when the storms out

You run in the rain

Put your sword down

Dive right into the pain

Stay unfiltered and loud

You be proud of that skin full of scars

That's all I know so far

 

All I know so far, Pink 



*~~~~ Capítulo 7: "As Winsherburgs" em "Não é fim do mundo" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm


Assista em vídeo como história ilustrada





terça-feira, 10 de agosto de 2021

.: Capítulo 5: "As Winsherburgs" em "Elétrico"

 

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
 

No cair da noite, Bernardo voltou para casa, após um dia de muito trabalho. Como era dia de pagamento, trouxe uma surpresinha para Mary –o que já era um costume de há pelo menos uns três anos.

O que estava dentro do embrulho? Uma nova presilha de cabelos. Pai e filha conversaram sobre o videoclipe de Katy Perry: Electric. Pois é... Papai Winsherburg é fã número um de Pokemón. No entanto, o assunto terminou quando Ellen os chamou para que jantassem. Lolita e Samantha estavam também em casa.

De volta ao quarto, quando o relógio marcava além do horário de dormir, a jovem Winsherburg ainda ria dos vídeos cômicos que Juliette fazia especialmente para o grupo das amigas no WhatsApp. Depois das dicas e aprovação das outras três meninas é que Juju publicava nas redes sociais. E não é que com aquelas bobeiras ela estava ficando famosinha?!

Entre um vídeo e outro ou uma risada aqui e outra acolá, Mary ouviu sussurros ao pé do ouvido. Curvou as sobrancelhas e sem se dar conta, passou a mão esquerda pelo ouvido, como que para afastar o que a incomodava. Nada.

Estava com a nítida sensação da presença de outra pessoa extremamente perto. Para Mary era certeza que Lolita estava escondida debaixo da cama dela para fazer uma pegadinha.

Foi certeira. Olhou debaixo da cama como quem pega alguém com a boca na botija. Nada.

Chamou pelo pai. Sem resposta.

Respirou fundo e sentou-se na beirada da cama, olhou detalhadamente ao redor. Nada.

Involuntariamente resmungou um “Credo”.

Deixou o celular na manta macia para pegar a bolsa da escola que guardava debaixo da cama. Vasculhou entre o material escolar e agarrou a pedra misteriosa numa mão. Acariciou o material brilhante até adormecer.

Espalhada pela cama grande, tranquila, Mary sonhava com um lindo carrossel. Estava no extinto Playcenter, lugar em que amava passar o dia com a família. Reencontrou atrações e gargalhou com as irmãs, quando toda aquela felicidade virou medo absoluto. Sozinha, no parque já de noite, ela gritou desesperadamente, mas a voz não saia. Uma figura sombria estaciona diante dela e com rapidez a encobre com um grande manto preto.

Mary ouve gritos ao longe. A jovem acorda. Era Ellen quem a chamava para levantar logo da cama e irem juntas à escola.

*  *  *

Com o término da aula do professor Cláudio, Mary e Tarissa foram ao banheiro do térreo, da escola de três andares, para dar uma arrumadinha nos cabelos, já que maquiagem ali era terminantemente proibida. No caminho, a mais nova Winsherburg foi direta e reta com a amiga.

- Tari, Tarissinha, confessa para mim. Tu tem um crush no profe Cláudio, né? Aquele corte de cabelo cai super bem nele. Bom gosto o seu. Ele é lindão, amiga!

A amiga da Winsherburg fechou a cara e lançou um olhar ameaçador que se assemelhava ao da Feiticeira Escarlate diante de Agatha Harkness e não soltou um “A” que fosse. Tarissa  tentou ao máximo manter o silêncio, mas não foi capaz de segurar a compostura com a amiga tagarela e muito barulhenta.

- Mary, pare com isso!, gritou.

- Calma! Não é uma relação séria. É só ter um crush!, replicou a jovem Winsherburg.

Tarissa continuou calada até empurrar a porta do banheiro da escola. Entrou e se posicionou no habitual cantinho da pia, em que na parede ficava o rolo de papel toalha. Mary veio na sequência e, antes de se posicionar ao lado, diante do espelho com a amiga, como sempre fazia, olhou para o final do corredor com blocos de vidro.

Ficou estática.

Ao ver a falta de atitude da amiga, mesmo tendo parte da cena refletida no espelho do banheiro, Tarissa parou de escovar os cabelos.

Mary permaneceu sem se mover.

Desesperada, Tarissa jogou a escova na pia e virou-se para a amiga. Respirou fundo, olhou para a mesma direção. Nada viu.

Assustada com aquilo, chamou a amiga pelo nome incessantemente e ao sacudi-la, o estado de transe se findou.

Mary olhou fixamente para Tarissa e somente pode deixar algumas lágrimas escorrerem, quentes, pelo rosto. Com um fim de voz ainda conseguiu perguntar:

- Você viu também?

Confusa e sem a chance de uma mínima reação, Tarissa viu Mary escorrer de suas mãos, desmaiada.

*  *  *

Na agência de roteiros, Lolita estava sozinha, pois Apollo e Samantha tinham ido buscar donuts e refrigerante na nova Cafeteria Felicidade. Ela, empenhada em dar o toque final no texto encomendado pelo site “Sim, Não, Quem Sabe”, sobre as relações em tempos de redes sociais, ouviu uma voz feminina chamar seu nome.

Era de um modo rápido e passava certo desespero.

De pronto, ela concluiu ser alguma amiga de Mary. E pensou:

- Lá vem a Mary com as amiguinhas para nos pregar uma peça. Já passamos da idade. Será que não percebem que temos que trabalhar?!

No entanto, a existência de qualquer dúvida a respeito de uma pegadinha foi extinta. O chamamento vinha do aparelho:

- Lolita! Lolita! Lolita!

Apavorada, ela puxou o aparelho da tomada, o que não adiantou muito.

- Lolita! Lolita! Lolita!

Lola aproximou um ouvido do som e tudo cessou.

- Lola, você está maluca! Maluquinha..., disse baixo para si.

Foi quando a voz completou:

- Eu preciso falar...

A sequência veio com um silêncio absoluto e um toque do celular.

Era Ellen!

Assombrada, mas sem tremer a voz, Lola atendeu a chamada de vídeo. Parecia que nada tinha acontecido.

- Fala, mãe! Tudo bem por aí?

- Sim, minha Lolinha! É que estou com vontade de comer pizza. O que acha de encomendar daquela à moda da casa, de lá do Valcides?

- Adoro a ideia, mãe! Já encomendou? Quer que eu busque quando fizer o caminho para casa?

Com um sorriso de orelha a orelha, Ellen respondeu:

- Era exatamente isso o que eu iria lhe pedir, anjinho!

- Dona Ellen eu lhe conheço muito bem, embora seja mais nova do que a senhora.

As duas riram, mas um som estridente cortou a ligação. Vinha do aparelho. Ellen, como toda mãe zelosa, ainda que a distância, chamou por Lola.

- Calma, mãe! É que parece ter um alien preso nesse som da vovó. Vou resolver esse probleminha e busco as pizzas. Sozinha e levemente transtornada, Lola é surpreendida por Apollo e Samantha que adentram a agência com guloseimas escolhidas a dedo por Samantha, quem amava passar o dia comendo besteiras.

- Olha só o que e quem trouxemos, maninha!

Lola disparou:

- Helder Lee?!

*  *  *

Com o rosto molhado por Tarissa, Mary despertou com a respiração agitada e disse: - Eu vi a verdadeira face do mal!

*  *  *

In the dark when you feel lost

Wanna be the best but at what cost?

If you're gonna stay here

Nothing's ever changing, no

Big world, gotta see it all

Gotta get up even when you fall

There's no point in waiting, no

Eletric, Katy Perry



*~~~~ Capítulo 5: "As Winsherburgs" em "Isso é tudo que eu sei até agora" ~~~~*


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm


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