domingo, 13 de outubro de 2019

.: "Música e Lápide (Emergência Melódica)", um poema erótico


Por Helder Moraes Miranda, em outubro de 2019.

Meu corpo está em festa: descobriu novos discos.
É templo de acasos, afetos, vísceras e blasfêmias, 
esse menu de carne e osso que serve amor, almoço e janta 
- nunca café da manhã, porque estou transando com o meu sono.
E eu quero remelexo enquanto o mundo se acaba por dentro: 
mais da vida e menos das pessoas, pretendo.
Porque são falsas, tristes, ociosas e, 
o pior de tudo: 
modernas demais sem serem 
em um mundo de botas, caps, fios-dentais e algemas imaginárias 
nessa ditadura de ser o mais livre possível: 
limites são demodê, mistérios e sugestões, obsoletos, zás-trás, ploc, bum.
Na valsa dos modernos, 
só há espaço para três e, 
se as cabeças de hoje só entendem o explícito, então...
Meu corpo é sexo e foda-se,
é delusional e borderline,
é quero-quero e "não é não".
Também é requebrada nos quadris: 
quadriláteros sentidos 
que levam meus passos à pista de dança, 
melado de esperma por todos os poros, 
recatadíssimo.
Meu corpo, meu ato político: 
meu pinto é militância,
meu cu é minhas regras,
meu vaginismo imaginário 
é lugar de fala de um homem de falo 
no meu id de mulher macho...
E tudo desemboca na estrada das minhas curvas, 
onde dançam mãos, 
dedadas 
e oralidade 
na dança dos sonhos perdidos, 
no salão da última chance, 
quando é tão lindo viver e morrer 
de...

*Helder Moraes Miranda é bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.

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