sexta-feira, 9 de maio de 2025

.: Espetáculo "Um Grito Parado no Ar" em cartaz no Teatro Itália


"Um Grito Parado no Ar", montagem do Teatro do Osso para o clássico de Guarnieri, volta em nova temporada no Teatro Itália. Com direção de Rogério Tarifa, o ato-espetáculo musical celebra os 52 anos da obra de Gianfrancesco Guarnieri. Foto: Cacá Bernardes


A nova versão de "Um Grito Parado no Ar", clássico de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), volta na sua segunda temporada, no Teatro Itália. Sob a direção de Rogério Tarifa e montagem do grupo Teatro do Osso, a obra revisita a icônica peça que reflete sobre os desafios da criação artística em tempos de censura e repressão. A dramaturgia, atualizada por Jonathan Silva, Rogério Tarifa e o Teatro do Osso, dialoga com o contexto contemporâneo, enquanto a encenação preserva o caráter crítico e metateatral que marcou a história do teatro brasileiro. A temporada segue até 28 de maio, com sessões às quartas, às 19h30.

Gianfrancesco Guarnieri foi ator, diretor, dramaturgo e poeta italiano naturalizado brasileiro. Figura central do Teatro de Arena de São Paulo, Guarnieri marcou a dramaturgia nacional com textos que abordavam questões sociais e políticas. Entre suas obras mais significativas está Eles Não Usam Black-Tie, reconhecida como um marco do teatro brasileiro.

Escrito em 1973, durante a ditadura militar brasileira, Um Grito Parado no Ar se destacou por expor os desafios de se fazer arte em um contexto de repressão. Na adaptação de Tarifa, a obra preserva sua essência crítica e amplia o diálogo com o presente, conectando as questões sociais da época em que foi escrita, aos desafios culturais contemporâneos.

A narrativa acompanha um grupo de artistas que ensaia uma peça a dez dias de sua estreia. Enquanto pressões externas, como dívidas e restrições financeiras, ameaçam o andamento da produção, a trama reflete a precariedade e a persistência da arte em tempos complexos. Com improvisações baseadas em relatos reais de moradores da cidade, o espetáculo revela as tensões sociais e econômicas que permeiam o cotidiano, reafirmando o teatro como espaço de resistência e transformação. 

O ato-espetáculo musical conta com a participação da atriz convidada Dulce Muniz, que interpreta a personagem Flora. O diretor Rogério Tarifa destaca que Dulce fez parte do Teatro Arena e da história do teatro brasileiro. O grupo costuma trabalhar com depoimentos de pessoas, e Dulce traz um olhar especial por ter vivenciado as duas épocas, 1973 e a atual.

“O espetáculo surgiu da colaboração entre meu trabalho e o Teatro do Osso, a partir de uma pesquisa sobre o Teatro Épico no Brasil, inspirada nas obras de Guarnieri. Realizamos um estudo aprofundado sobre esse período, coletando referências e realizando entrevistas com artistas da época. Fomos ao Rio de Janeiro e conversamos com Othon Bastos e Sonia Loureiro. Assim, a montagem representa um encontro entre a companhia Teatro do Osso e um Grito Parado no Ar, unindo características de 1973 e da atualidade, estabelecendo diálogos entre esses dois momentos”, comenta Tarifa.

A direção musical de William Guedes conta com músicas originais compostas por Jonathan Silva criadas especialmente para o espetáculo, enriquecendo a experiência e a conexão com o público. “Essa abordagem envolve algumas características essenciais, como a dramaturgia coletiva, a música ao vivo e as composições criadas especialmente para o espetáculo. Na nossa montagem, embora o texto tenha origem na dramaturgia de Guarnieri, incorporamos também toda a pesquisa necessária para a construção do espetáculo e desses elementos”, explica Tarifa.

Uma exposição virtual, "Do Canto ao Grito - Um Estudo sobre o Teatro Épico no Brasil", reúne músicas, vídeos, documentos históricos e materiais desenvolvidos ao longo do processo criativo. A mostra enriquece a experiência do espetáculo ao ampliar debates sobre temas como censura, violência e desigualdade, reafirmando a relevância da obra de Guarnieri no diálogo entre passado e presente da sociedade brasileira. A exposição pode ser visitada no site www.teatrodoosso.com.br.

“As pesquisas duraram 6 anos, buscando compreender a prática artística contemporânea em relação à montagem de 1973. Quando ouvimos pela primeira vez o nome 'Um Grito Parado no Ar', isso nos provocou uma reflexão profunda. Quais gritos estão parados no ar? Seriam gritos negativos ou violentos? O título criado por Guarnieri, é muito preciso e realmente convida à reflexão”, reflete Tarifa.

Junto ao elenco atua um coro, formado por oito integrantes, reunidos em cena como personificação da multiplicidade de experiências pessoais, éticas, estéticas e políticas. A proposta é trazer a pluralidade de vozes e experiências para contar o que é fazer teatro em 2025, numa convivência entre atrizes, atores e não atores, diferentes gerações, classes sociais, imigrantes, pessoas cis e pessoas trans.

A obra estreou há 52 anos, em um período de forte repressão política, e tornou-se um símbolo da resistência cultural. A frase “Nós vamos estrear nem que seja na marra!”, dita pelo personagem Fernando, ecoava como um manifesto dos artistas contra a censura. Hoje, o Teatro do Osso traz essa força para os palcos, reafirmando a importância do teatro como ferramenta de questionamento e crítica social. 


Ficha técnica do espetáculo

Espetáculo "Um Grito Parado No Ar". Direção: Rogério Tarifa. Dramaturgia: Jonathan Silva, Rogério Tarifa e Teatro do Osso. Direção de Atores: Luis André Cherubim e Rogério Tarifa. Texto original: “Um Grito Parado no Ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. Elenco: Guilherme Carrasco, Isadora Títto, Maria Loverra, Oswaldo Ribeiro Acalêo e Rubens Consulini. Atriz convidada: Dulce Muniz. Coro: Dan Nonato, Thiego Torres, Ísis Gonçalves, Marcela Reis, Nduduzo Siba, Rommaní Carvalho, Sofia Lemos e Wilma Elena. Iluminação: Marisa Bentivegna. Direção musical e treinamento vocal: William Guedes.Composições originais: Jonathan Silva. Músicos: Gabriel Moreira, Felipe Chacon e Ju Vieira. Direção de movimento e treinamento: Marilda Alface. Direção de Arte: Rogério Tarifa. Cenário: Diego Dac e Rogério Tarifa. Figurino: Juliana Bertolini. Desenho de som: Duda Gomes. Produção Executiva: Carolina Henriques. Diretor de palco: Diego Dac.Assistentes de Palco: Clara Boucher e Mayhara Ribeiro. Técnica de Luz: Gabi Ciancio.  Técnico de som: Duda Gomes. VJ: Lui Cavalcante. Assistente de Produção: Julia Terron. Assistente figurino: VI Silva. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Fotos: Mauricio Bertolin e Cacá Bernardes. Designer gráfico: Fábio Vieira. Ilustração: Elifas Andreato. Realização: Teatro do Osso. Produção: Jessica Rodrigues Produções Artísticas. Direção de Produção: Jessica Rodrigues.


Serviço
Espetáculo "Um Grito Parado No Ar"
Direção: Rogério Tarifa
Reestreia dia 7 de maio, quarta, às 19h30. Temporada até 28/05.
Todas as quartas, às 19h30
Teatro Itália (278 lugares). 14 anos. Duração: 2h45m sem intervalo.
Valores: R$40 (Meia) e R$80 (Inteira).
Ingresso promocional: R$60 - com 1kg de alimento, na bilheteria
https://bileto.sympla.com.br/event/105367

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