Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Claudia Ribeiro
Filha de Jovelina Pérola Negra, Cassiana Belfort, mais conhecida como Cassiana Pérola Negra, poderia ter sido apenas “a continuação” ou a sombra respeitosa de um mito. Preferiu o risco: tirou a sandália, botou o pé no chão e fez da rua o próprio batismo artístico. Vinte anos depois daquele primeiro tributo inocente no Espírito Santo, ela grava a segunda parte de um registro audiovisual repleto de autenticidade.
Definitivamente, ela não é a cópia da mãe, mas como intérprete de si mesma - com banjo, suor, partido alto e um público que responde no estalo da palma. Cassiana não canta por protocolo. No palco, ela mistura raiz e reinvenção, tradição e desobediência, abrindo espaço para perguntas que incomodam: o samba sobrevive ao algoritmo? Qual o limite entre herança e autonomia? Quem dita o ritmo: o tamborim ou o streaming?
Recentemente, ela gravou na quadra do Império Serrano, em cuja ala das baianas Jovelina desfilava, a segunda parte do audiovisual "Cassiana 20 Anos”, projeto contemplado no edital Fluxos Fluminense, da Secretaria do de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. No repertório, além do repertório da própria mãe, obras de Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz e Almir Guineto. Também foi oferecida uma oficina de banjo com o músico e Luthier Márcio Vandelei, Em entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com, a cantora falou com a objetividade de quem canta entre o peso do nome e a leveza de ser o que se é.
Resenhando.com - Cassiana, sua carreira começou meio que sem intenção de seguir os passos de sua mãe, Jovelina Pérola Negra. Hoje, como você lida com o peso dessa herança tão forte?
Cassiana Pérola Negra - É uma benção! Uma herança única, algo inexplicável. Lido muito bem, hoje está mais tranquilo.
Resenhando.com - Você já declarou que “quem faz o artista é a rua”. Em tempos digitais, com lives e redes sociais dominando, como você vê a importância da rua e da presença física no samba e no seu trabalho?
Cassiana Pérola Negra - Eu vejo isso como algo importante, pois a presença na rede social é agregador para o nosso trabalho. Porém, para mim a rua continua sendo extremamente essencial. Na rua, você está cara a cara com o público, é mais quente. As redes sociais são um veículo de extensão.
Resenhando.com - O samba partido alto tem uma tradição oral e coletiva muito forte. Como você enxerga o desafio de preservar essa essência em um mundo cada vez mais individualista e digitalizado?
Cassiana Pérola Negra - O desafio é grande, porém, precisamos preservar essa cultura que é do nosso povo preto, que tanto luta para manter esse vertente.
Resenhando.com - A gravação da segunda parte do audiovisual aconteceu na quadra do Império Serrano, local onde sua mãe desfilava. Como é para você transitar entre esses dois espaços - o palco e o universo da escola de samba?
Cassiana Pérola Negra - Para mim é ótimo, pois posso eternizar os caminhos que minha mãe trilhou!
Resenhando.com - A oficina de banjo ministrada por Márcio Vandelei reforça a importância dos instrumentos tradicionais. Como você avalia o papel do instrumental no samba hoje, especialmente para artistas jovens que talvez nunca tenham visto um banjo de perto?
Cassiana Pérola Negra - Essa oficina é essencial e importante para abrir caminhos para jovens e adolescentes conhecerem, aprofundarem e sentirem esse instrumento com som tão único e ensinado por um grande mestre e referência do ramo, chamado Márcio Vanderlei.
Resenhando.com - Existe um estigma ou resistência em torno do samba partido alto por não ser “comercial” o suficiente? Como você encara essa percepção e o que gostaria de mudar no cenário da música popular brasileira?
Cassiana Pérola Negra - Na Música Popular Brasileira, não mudaria nada. Porém, nós trabalhamos para que o partido alto seja reconhecido como merece ser conhecido.
Resenhando.com - Em 20 anos de carreira, qual foi o momento mais difícil de se manter fiel à sua arte e às suas raízes, mesmo diante das pressões do mercado ou da indústria?
Cassiana Pérola Negra - Nenhum, a fidelidade foi do início até hoje. É isso que eu gosto.
Resenhando.com - Se pudesse dar um conselho para sua Cassiana de 20 anos atrás, no começo da carreira, o que seria? E qual conselho daria para os jovens sambistas que hoje começam a trilhar seu caminho?
Cassiana Pérola Negra - O conselho que eu me daria é: continue que vai valer a pena. O que eu falaria para os jovens é: estude, ame o que você faz e dedique-se!
Resenhando.com - Olhando para o futuro, quais novos territórios musicais ou artísticos você gostaria de explorar - e o que ainda resta para ser desbravado dentro do samba para você?
Cassiana Pérola Negra - Sinto-me bem confortável onde estou. Amo o que faço.
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