Thiago Sobral é escritor. Também publica semanalmente no site Minha Arca Literária e no Instagram @thiago.sobral_. Na imagem, representações das personagens machadianas Helena, Capitu e Marcela
"Oh, captain, my captain", as notícias que trago hoje não são nada alvissareiras. O mundo, que sempre foi perigoso, anda perigoso e meio. Para as mulheres, perigoso à décima quinta potência. Andar por este vale de lágrimas, para elas, é cair no olho do furacão. Onde vamos parar? "Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis." Lembra-se, capitão? Pois é… Marcela teve sorte (e, cá entre nós, foi muito esperta). Brás Cubas não era flor que se cheire e, com certeza, não perderia a chance de se tornar um risco iminente para a espanhola. Ela, nada boba, botou prazo de validade e valor de custo.
O Bruxo do Cosme Velho não dava ponto sem nó. Disse o que disse já sabendo o tipo de homem que o defunto viria a ser. Brás desesperou-se enquanto cruzava o Atlântico e, já do outro lado, lançou-se em novas vivências. De volta ao RJ, foi cruel com Eugênia e aproveitador com Virgília. Ainda falando do velho Machado, Capitu é que era das boas! Não deu asas ao lunático Casmurro. Com seus olhos de ressaca, partiu para longe do marido e se salvou. Quem garante que ela continuaria segura? “Por que essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?”, perguntava-se ela. Na prática, não é a divindade que dá golpes, meu capitão…
E ainda tem a Helena. Ah, que menina! Não teve medo dos julgamentos e se lançou à vida. Em meio a homens, se impôs e decidiu o próprio destino. Ignorou o patriarcado oitocentista. “E meu espírito gosta, às vezes, de trotar livremente na solidão." Não foi à toa que ela disse isso. Uma mulher dessa, capitão! Com um nome desse! O passado não deu trégua para as mulheres. O presente, não dá tempo. Ele ceifa vidas femininas com crueldade sem limites. E a palavra? A palavra, às vezes falta, não dá conta, mas se sustenta. Não dá para fazer literatura branda.
O que fazer, então, meu capitão? As respostas não chegam de imediato. Braços, para que vos quero, se não para apedrejar a mão vil que finge afagar os lábios de quem a beija? É isso: tirar as pedras do caminho delas e fazer da palavra uma pedra contra quem mata. Antes, esses detratores tivessem sido os filhos que Brás Cubas não teve. Não teriam materializado o legado de nossa miséria. Machado sabia, meu capitão, sabia muito…








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