sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

.: #VivoLendo: “Ascensões e Descensos”, de Marcelo Tápia


Por Vieira Vivo, escritor e ativista cultural.

o ser é o que transita
nos limites do elástico

A leitura apurada de “Ascensões e Descensos” de Marcelo Tápia, publicado pela Editora Madamu, nos revela um aprimorado equilíbrio entre inúmeras vertentes literárias. Os versos traduzem, a cada página, toda a cultura poética do autor, trafegando entre versos livres e métricas concisas a desnudar suas memórias, reminiscências, experiências e fábulas e nos remetem aos escribas da Grécia clássica ao modernismo e aos meandros da metalinguagem. 

O aprimoramento técnico em redondilhas, terças rimas e decassílabos nos conduz a um bailado rítmico de tambores, compassadamente hipnóticos, a realçar os íctos fixos das sílabas métricas a direcionar o âmago das emoções e à dramaticidade contida pela respiração, a nos transportar aos primórdios da poesia falada na literatura teatral da antiguidade.

Entre a sabedoria exposta pelos saberes e sabores, nota-se na construção dos versos a vivência observadora e reflexiva do ser humano atento aos aromas, aos paladares, à passagem do tempo, aos frutos e alimentos e à presença dos desafortunados que transitam anônimos ao redor do escriba. Nos textos fabulares vemos os elementos da natureza, os animais, os rios e as plantas esbanjarem ensinamentos e ética e percebemos, ainda, as glórias homéricas dos vencedores e a capitulação fatal dos derrotados: "... as vozes ressurgindo dos silêncios".

O livro traz posfácio de Leonardo Antunes a nos orientar, em uma dissecação segura e precisa, dos pendores técnicos de Marcelo Tápia e sua marcante trajetória na literatura contemporânea e, ainda, a orelha escrita pelos editores Marcelo e Valéria Toledo. E mesmo após nos encantarmos com a grandeza e o teor poético e vivencial de “Ascensões e Descensos” percebemos implícito em cada poema a fragilidade fugaz de nossa existência e a consistência fugidia de nosso legado sob a contínua concepção dos tempos: "por que esperar ser algo além do nada?".

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