Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação
Resenhando.com - Rafael, a semelhança vocal com Elton John é impressionante, mas como você trabalha para ir além da imitação e trazer sua própria identidade artística para o palco?
Rafael Dentini - A minha voz natural, tanto falando quanto cantando outras músicas, normalmente não se assemelha à do Elton John. Mas para fazer esse tributo, estudei bastante. Foi um longo processo até entender a dinâmica e o jeito dele de cantar e falar. Por ser britânico, ele tem particularidades no inglês que são diferentes do inglês americano, o que influencia muito a forma de pronunciar as palavras. Ainda hoje continuo estudando bastante, e conforme avanço, descobri novas nuances e formas de cantar, ajustando minha voz para me aproximar mais do timbre dele. Tudo isso, somado ao figurino, ao visual do show e à produção como um todo, contribui para criar essa semelhança - fruto de muito estudo. A voz do Elton John também mudou bastante ao longo da carreira, então procurei focar no período em que ela mais se parecia com a minha, que foi nos anos 70 e início dos 80. Esse recorte me permitiu chegar mais próximo da essência dele. Foi um processo longo, mas muito divertido.
Resenhando.com - Em meio a figurinos e performances que marcaram gerações, qual foi o maior desafio que você encontrou para equilibrar espetáculo visual e autenticidade musical?
Rafael Dentini - O maior desafio foi, além de cantar e tocar músicas com alto grau de dificuldade técnica, incorporar a performance visual. Reproduzir os figurinos, os gestos e o comportamento de palco do Elton John - especialmente nos anos 70 - exigiu bastante. Ele era extremamente performático: subia no piano, corria pelo palco, interagia o tempo todo, tudo isso sem perder a qualidade musical. Para mim, o mais desafiador foi unir todos esses elementos de forma natural, reproduzindo cada performance com intensidade e fidelidade.
Resenhando.com - Elton John é conhecido por sua vulnerabilidade e personalidade multifacetada. Como você incorpora essa complexidade emocional na sua performance, especialmente para um público que já conhece tão bem o original?
Rafael Dentini - Desde o início, fiz questão de deixar claro que o show é de fã para fã. Eu não sou o Elton John, nem quero ser ele. O que busco é homenageá-lo da melhor forma possível. Me colocar no lugar do fã, ao lado de quem está assistindo, cria uma conexão muito especial. Todos ali reconhecem a importância e a relevância que Elton John tem em suas vidas. As músicas falam diretamente ao coração das pessoas, despertam lembranças e emoções. Isso tudo constrói um ambiente muito emocionante e cria uma conexão verdadeira entre a banda e o público.
Resenhando.com - A música de Elton John atravessa gerações. Qual história pessoal ou reação do público mais te marcou em algum show seu?
Rafael Dentini - Um momento que me marcou profundamente foi em um show, ao final, quando fui tirar fotos com o público. Uma senhora estava muito emocionada. Chorando bastante, ela se apresentou e disse que tinha 92 anos e quase não saía mais de casa, mas que o grande sonho da vida dela era ver um show do Elton John - algo que nunca conseguiu realizar. Quando soube do nosso show, decidiu ir. E para ela, aquela experiência foi tão significativa que disse que, a partir daquele momento, poderia morrer feliz. Histórias como essa nos tocam profundamente e dão ainda mais sentido a tudo o que fazemos.
Resenhando.com - O tributo é “feito por fãs e para fãs”. Como você lida com as expectativas do público mais tradicional versus os novos fãs que talvez conheçam Elton John apenas por memes ou redes sociais?
Rafael Dentini - O Elton John tem um público muito amplo e diverso, porque ele também é um artista que está sempre se renovando. É o único que conseguiu emplacar sucessos no topo das paradas por cinco décadas consecutivas. Fazer um show de no máximo duas horas tentando representar toda essa carreira é um grande desafio. Por isso, montamos o repertório com base no público que estará presente, escolhendo as músicas que acreditamos que irão tocar mais as pessoas naquele momento. O público costuma se entregar muito, canta, dança e se emociona... A conexão acontece de forma muito natural e espontânea, impulsionada pelos grandes hits e pelas músicas que marcaram a trajetória do Elton John.
Resenhando.com - Você acredita que um tributo pode ser considerado uma forma legítima de arte, ou ele está sempre à sombra do artista original?
Rafael Dentini - Acredito que um tributo pode levar a mensagem e a música de um artista para lugares e pessoas que nunca tiveram a oportunidade de vê-lo ao vivo. Encaro o tributo como um grande espetáculo musical, quase como uma peça de teatro, como acontece na Broadway, onde se reproduzem obras de outros autores. Orquestas tocam sinfonías de Beethoven, de Bach... E eu estou ali, fazendo a minha representação de um artista que considero um dos maiores músicos que já existiram.
Resenhando.com - Qual o seu papel nesse diálogo entre homenagem e criação?
Rafael Dentini - Continuar o legado de Elton John, especialmente agora que ele encerrou as turnês, é uma forma de manter viva sua música e levá-la ao maior número possível de pessoas.
Resenhando.com - Em um mundo cada vez mais digital e efêmero, que papel você acha que a música ao vivo, especialmente tributos como o seu, tem para manter viva a memória de artistas lendários?
Rafael Dentini - Estar presente em um show, vivenciar a experiência ao vivo, muda completamente a forma como sentimos a música. Música é sentimento. E ali, além da música, há o visual, a iluminação, os detalhes pensados para emocionar e transmitir a essência do show original. Essa troca entre o público e a banda eleva a experiência a um nível que nenhuma gravação consegue alcançar. Isso é fundamental para manter viva a chama, especialmente porque o Elton John sempre transmitiu essa energia contagiante aos fãs.
Resenhando.com - Se pudesse sentar para uma conversa franca com Elton John, o que você gostaria de perguntar ou dizer para ele sobre o que representa seu trabalho como tributo?
Rafael Dentini - Se eu tivesse a chance de estar frente a frente com o Elton John, a primeira coisa que faria seria agradecer por tudo que ele representa para mim e pela influência que teve na minha vida. Também mostraria o trabalho que faço no Brasil em homenagem a ele. De resto, não teria nada muito programado... deixaria o momento guiar a conversa, falaria o que sentisse vontade ali na hora. Acho que seria algo muito natural e espontâneo.
Resenhando.com - Seu repertório inclui os clássicos que todos amam, mas há alguma música menos conhecida de Elton que você sente que deveria ganhar mais destaque nos shows?
Rafael Dentini - Nosso repertório é baseado nas músicas mais famosas do Elton John no Brasil, especialmente aquelas que tocaram em novelas e fizeram muito sucesso por aqui. São canções que marcaram épocas e momentos importantes na vida de quem vai ao show. Sempre incluímos alguma surpresa também - uma música menos conhecida, seja por satisfação pessoal ou para apresentar ao público outras obras do Elton que talvez ainda não conheçam. Escolher uma agora seria difícil, porque sempre trazemos algo diferente para renovar a energia do espetáculo.
Resenhando.com - Pensando na sua trajetória, qual foi o momento em que você percebeu que não estava apenas reproduzindo uma voz, mas contando uma história, uma vida, através da música de Elton John?
Rafael Dentini - Acredito que percebi o verdadeiro impacto do show já na estreia. Quando acabou, vi a reação do público, os comentários, os abraços sinceros. Muitos fãs de Elton John vieram falar comigo, dizendo o quanto acharam bonito e emocionante o tributo. A aceitação ali, no momento do show, e a repercussão on-line me trouxeram uma paz muito grande. Eu tinha muito receio de não estar à altura do que o Elton John representa. Mas perceber que consegui transmitir ao menos um pouco da sua essência ao público foi o que me deu a motivação e a certeza de que estou no caminho certo - e que devo continuar levando essa homenagem adiante.