Montagem com dramaturgia de Victor Nóvoa e direção de Luiz Fernando Marques (Lubi) aborda questão climática e ancestralidade a partir da jornada de um entregador que retorna à ilha onde nasceu. Foto: Noelia Nájera
Memória, ancestralidade e resistência conduzem a trama de Macuco, espetáculo que está em cartaz no auditório do Sesc Pinheiros. Com dramaturgia de Victor Nóvoa e direção e cenografia de Luiz Fernando Marques (Lubi), a montagem é protagonizada por Edgar Castro e Vitor Britto, e conta com a participação especial da atriz Cleide Queiroz em vídeos e direção de produção de Helena Cardoso. A temporada segue até 30 de agosto com sessões às quintas, sextas e sábados, às 20h00.
Na peça, Sebastião é um entregador de aplicativo que se aproxima da velhice enquanto carrega memórias que insistem em reaparecer. Um incêndio criminoso ocorrido há mais de 50 anos o forçou a deixar a vila de pescadores onde nasceu. Em sonho, uma revoada de macucos - pássaros da Mata Atlântica ameaçados de extinção - anuncia que sua mãe, Cleide do Ilhote, está em risco por causa de um novo incêndio. A partir daí, ele inicia uma jornada de retorno à ilha onde cresceu, confrontando o apagamento de sua ancestralidade, a destruição de sua comunidade tradicional e as marcas da repressão sofrida na infância, incluindo sua relação homoafetiva com Bernardo.
Com forte preocupação socioambiental, a montagem também se destaca por reunir em sua equipe criativa artistas oriundos de diversas partes do litoral brasileiro, territórios diretamente atravessados pelas questões retratadas em cena. “Das inúmeras urgências do nosso tempo, penso que o teatro precisa refletir os problemas socioambientais - e Macuco discute isso a partir da destruição da Mata Atlântica e das comunidades tradicionais que ali vivem”, afirma o dramaturgo Victor Nóvoa, descendente do bairro Macuco, em Santos, que ficcionaliza memórias de seus familiares caiçaras. “A personagem central é atravessada por camadas de violência, identidade, desejo e pertencimento. É um retorno ao território e à memória afetiva — e também uma crítica à transformação da ilha em um resort.”
A cenografia, também assinada por Lubi, é marcada por um grande mastro com uma vela de barco que gira 360 graus e serve de suporte para projeções. “Essa vela que se movimenta o tempo todo é como o próprio tempo da peça - contínuo, incontrolável, e que nos lembra que precisamos agir antes de sermos levados pela correnteza”, comenta Helena Cardoso, diretora de produção e assistente de direção do espetáculo. A trilha, os sons do mar e o canto do macuco compõem uma ambiência sensorial que dissolve as fronteiras entre sonho e realidade. O desenho de luz é de Matheus Brant; figurinos de Rogério Romualdo; adereços de Beatriz Mendes; e automação de cenário de Djair Guilherme. A filmagem fica a cargo de Paulo Celestino.
Macuco reúne elementos do teatro narrativo e da experimentação audiovisual para construir uma encenação contemporânea composta por memórias pessoais e coletivas, ancestralidade e fabulação. Para Lubi, a proposta estética também é um gesto político. “O cinema nasceu do teatro. Hoje, ele virou símbolo da era das telas - passiva, individual. Quando misturo os dois, crio atrito, falha, espaço para o público se reposicionar e reconstruir a experiência. Não quero só a atenção de quem assiste, quero a participação”, explica o diretor. Essa fricção entre linguagens serve como metáfora para o convite coletivo que o espetáculo propõe. “A questão climática é uma tirania do homem sobre a natureza que volta contra nós. O teatro nos permite provocar o ‘ai de mim’ coletivo, que leva à ação: quem colocamos no poder, o que valorizamos, como reagimos. Só o coletivo nos tira desse sufocamento”.
Ficha técnica
Espetáculo "Macuco"
Idealização e dramaturgia: Victor Nóvoa
Direção e cenografia: Luiz Fernando Marques (Lubi)
Direção de produção e assistência de direção: Helena Cardoso
Elenco: Edgar Castro e Vitor Britto
Atriz convidada (em vídeo): Cleide Queiroz
Figurinos: Rogério Romualdo
Aderecista: Beatriz Mendes
Cenotécnica: Ronaldo Gonçalves Alves (Colab Ateliê)
Automação de cenário: Djair Guilherme
Desenho de luz: Matheus Brant
Assistência de iluminação: Letícia Nanni
Música instrumental: Marcos Coin
Colaboração de movimento: Ana Vitória Bella
Imagens projetadas: excertos das obras "Homenagem a Turner" (2002), "Herança" (2007) e "Ocean/Atlas" (2014) de Thiago Rocha Pitta
Registros na Ilha Diana: filmagem de Paulo Celestino e montagem de Luiz Fernando Marques (Lubi)
Assistente de produção - Filmagem: Giuliana Maria
Fotos: Noelia Nájera
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli
Redes sociais: Jorge Ferreira
Espaço de ensaio: Vila Ouro Preto
Serviço
Espetáculo "Macuco"
De 17 de julho a 30 de agosto, de quinta a sábado, às 20h00.
Duração: 70 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos: R$ 50,00 (inteira); R$ 25,00 (meia) e R$ 15,00 (credencial plena)
Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195
Estacionamento com manobrista: Terça a sexta, das 10h00 às 21h30; sábados das 10h00 às 21h00; domingos e feriados das 10h00 às 18h00. Mais informações: www.sescsp.org.br
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