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terça-feira, 28 de outubro de 2025

.: Romance que resgata a ascensão da Aids no Brasil vence o Prêmio Jabuti


Entre figuras da noite, remédios contrabandeados, lares suburbanos e quartos de hospital, "Sangue Neon" tece mosaico da epidemia que redefiniu uma era

A epidemia da Aids não começou com estardalhaço, mas com sussurros: homens jovens e saudáveis, de repente, condenados à morte. "Sangue Neon", romance histórico do médico Marcelo Henrique Silva, joga o leitor de cabeça nesse cenário em que figuras da noite, travestis destemidas, profissionais de medicina recém-formados e comissários de bordo se unem em uma luta contra a doença e a indiferença. Entre contrabando de medicamentos e massacres ignorados, a narrativa ilumina vidas marginalizadas que desafiaram o sistema e moldaram a saúde pública brasileira.

A obra, publicada pela pela Editora Faria e Silva, do Grupo Alta Books, foi a grande vencedora do 67º Prêmio Jabuti, na categoria "Escritor Estreante: Romance" do eixo Inovação. A consagração aconteceu em cerimônia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite da última segunda-feira, dia 27 de outubro. Marcado por celebrações à literatura brasileira e conduzida por Marisa Orth e Silvio Guindane, o prêmio é o mais tradicional do país e reconhece o talento de novos e consagrados escritores, reafirmando a força criativa da literatura contemporânea.

Para construir a narrativa, Marcelo se baseia em fatos, não apenas para recriar a dramática ascensão da Aids no Brasil nos anos de 1980 e 1990, mas também como forma de desvelar as camadas de preconceito, desinformação e lutas que marcaram o período. Por meio de uma prosa potente, ele entrelaça personagens ficcionais e eventos históricos, e tece um mosaico de relatos verossímeis sobre coragem, solidariedade e abnegação. Episódios que aconteceram diante de um cenário nefasto de negligência e desigualdade social.

Entre as vozes, destacam-se Vera Lynn, inspirada em Brenda Lee, uma travesti nordestina que transforma dor em acolhimento ao fundar o primeiro abrigo para pessoas com HIV, e Sara, médica residente que enfrenta o peso de ser chamada “a doutora dos viados” enquanto luta para salvar vidas em meio à falta de recursos. Há também um grupo de comissários de bordo da Varig, que traziam os medicamentos do exterior, enquanto médicos idealistas, como o jovem infectologista Itamar, sonhavam com a construção de um novo sistema de saúde.

O surto de vício em heroína e a ausência de testes nas doações de sangue agravaram a propagação do vírus. Além de enfrentar a doença, esses profissionais tinham que combater a desinformação: grande parte da população acreditava na falsa ideia de que heterossexuais eram imunes.  A maneira atabalhoada com que a sociedade enfrentou o que rotulavam como “peste gay” é retratada com intensidade por Marcelo, que expõe, com igual veemência, a ineficiência do poder público.

“O Inamps, responsável por grande parte dos serviços de saúde, atendia apenas trabalhadores com carteira assinada, focando no retorno rápido ao trabalho, enquanto o Ministério da Saúde transferia a responsabilidade para as secretarias estaduais”, expõe. Meses após a criação do SUS, um contrato decisivo entre o Estado de São Paulo e o "Palácio das Princesas" foi concretizado pelo peso jurídico da nova Constituição Federal, o que consolidou a luta contra a doença - e tornou o Brasil referência mundial no controle da Aids.

Carregada de emoções intensas, personagens complexos e questões sociais e humanas profundas, a narrativa desperta uma reflexão inevitável e, muitas vezes, desconfortável: epidemias afetam a todos, mas atingem mais os vulneráveis. Em "Sangue Neon", o autor não permite ao leitor se manter indiferente ou ileso, ele confronta, arrebata e faz questionar.


Sobre o autor
Marcelo Henrique Silva
nasceu em Passos, no interior de Minas Gerais, mas hoje mora em Belo Horizonte. É médico e atuou na linha de frente durante a pandemia de Covid-19. Tem como foco o cuidado de grupos vulneráveis, minorias e pacientes oncológicos. "Sangue Neon" é seu romance de estreia e vencedor da categoria autor estreante do Prêmio Alta Literatura. Compre o livro "Sangue Neon", de Marcelo Henrique Silva, neste link.

.: Antonio Arruda usa a palavra como lâmina e transforma dor em linguagem


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com
Foto: divulgação

Premiado roteirista, jornalista e mestre em Teoria Literária, Antonio Arruda estreia na literatura com "O Corte que Desafia a Lâmina", publicado pela Editora Cachalote. O livro, que cruza autobiografia e ficção, nasce do confronto entre dor e linguagem. A obra mergulha nas zonas de tensão entre vida e morte, fé e erotismo, desejo e repressão, revelando um autor que transforma o trauma em matéria poética.

Essa relação entre ferida e palavra também atravessa sua trajetória no audiovisual - da série "Cidade Invisível" (Netflix) ao infantil "Era Uma Vez no Quintal" (TV Cultura). Com formação em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, Arruda propõe o que chama de “estética da cicatriz”: um modo de lidar com o real a partir da dor, mas sem vitimização. 

Nesta entrevista exclusiva ao Resenhando.com, ele fala sobre a voz do pai que ecoa em sua escrita, o perigo e a beleza de escrever a partir da lâmina e o corpo como território de revelação e enfrentamento - quando cada texto é uma tentativa de lidar com o que fere, mas também com o que cura. Compre o livro "O Corte que Desafia a Lâmina", de Antonio Arruda, neste link.


Resenhando.com - O seu livro começa a ser elaborado a partir da ausência da voz do pai. Você acredita que toda obra literária é uma tentativa de devolver a voz a alguém, mesmo que esse alguém seja um fantasma dentro de nós?
Antonio Arruda - Creio que o primeiro movimento seja o de ouvir essa voz. Seja ela interna, pessoal, ou de outros. Uma voz individual ou coletiva, social, política, existencial. Uma voz que tem algo a dizer. Que necessita ora gritar, ora sussurrar o não dito. E o escritor é aquele que se abre à escuta dessa voz. No meu caso, voltar ao trauma vivido quando tinha 12, 13, 14 anos e presenciei o adoecimento e a morte de meu pai, vítima de um câncer que lhe extirpou alguns órgãos e, consequentemente, a fala, me abriu um rasgo na realidade.E eu olhei através dele. Nesse sentido, a partir da não voz do pai, como eu digo no livro, nasceu a voz poética do filho. Então, sim, de certo modo eu dei voz a um fantasma que me assombrou durante muitos anos. Porque quando visitei meu pai no hospital e ele, já mudo, me entregou um pedaço de papel onde estava escrito: “está tudo bem, meu filho”, eu passei muito tempo refletindo sobre esse “está tudo bem”. Hoje, entendo que meu pai não se referia a ele - que obviamente não estava bem -, mas a mim, ao que ele desejava para mim, como se dissesse: “está tudo bem você ser feliz, apesar de; está tudo bem você viver a sua sexualidade, apesar de; está tudo bem você seguir o caminho que quiser em sua vida, apesar de este momento de perda ser muito doloroso”. Eu transformei o trauma em linguagem e ressignifiquei meus fantasmas internos.E, a partir daí, comecei a acessar dores, violências e traumas, como eu disse, existenciais, coletivos. Esse processo, creio, pode ser lido como uma forma de devolver a voz a alguém, de se apropriar do real em sua terrível crueza e, ao tentar perceber e sentir o que esse real pode revelar, valer-se da matéria-prima da escrita, que é a palavra, a linguagem, para verbalizar o que está nas entranhas, nos escombros desse real.


Resenhando.com - Em algum momento, escrever o salvou da própria lâmina, ou apenas ensinou você a manuseá-la melhor?
Antonio Arruda Se eu me salvasse da lâmina, não haveria escrita. Talvez tenha me ensinado, ou, melhor dizendo, me convocado a enfrentar a lâmina da realidade e transformá-la em lâmina-palavra. Ao assumir a palavra como lâmina que corta o corpo-livro e dá vida a ele, me vi mergulhado em um tensionamento constante entre experiência de vida e experiência literária. Não consigo conceber uma literatura que não nasça da experiência, seja ela, como eu mencionei, pessoal ou coletiva, histórica. Um dos meus livros de cabeceira é “O Arco e a Lira”, de Octávio Paz. Há um trecho do qual eu gosto muito: “A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são a nossa única realidade ou, pelo menos, o único testemunho de nossa realidade”. Escrever, nesse sentido, é testemunhar a realidade - no caso do meu livro, cortante, violenta, dilaceradora - para, assim, conferir-lhe um sentido outro, construído por meio de símbolos, metáforas, imagens poéticas, criando um espaço-tempo que passa a ser o literário, não mais o da vida, ainda que tão vivo e pulsante quanto ela própria.


Resenhando.com - No livro, o corpo é texto e o texto é corpo. Se a sua escrita tivesse um cheiro, uma textura e uma temperatura, como ela seria?
Antonio Arruda Teria o cheiro de um corpo que sangra, mas que também goza; o cheiro do suor que exala no momento do estertor, mas que também irrompe da pele no instante do orgasmo; o cheiro da natureza, muito presente no meu livro, a floresta, o mar, a terra, a brisa, que ora leva o leitor a sentir o terrível e o cruel, ora o epifânico, o etéreo, o impalpável espectral.Teria a textura do ferimento em carne viva e da cicatriz que o constitui como memória nesse corpo atravessado pela experiência da dor e de sua possível transmutação. Teria a temperatura quente, quase escaldante do sol que assola o velho do conto “O Devir”, por exemplo, e também o frio do cadáver do adolescente do conto “A Queda da Estrela”; ou, ainda, a temperatura morna e úmida dos musgos da árvore sobre os quais o personagem do conto “Nu” se senta e vive sua experiência de desejo e temor. Teria esses cheiros, essas texturas e essas temperaturas pois minha escrita nasce da ambivalência, das contradições, do tensionamento constante e inevitável entre pulsão de vida e de morte.


Resenhando.com - Você vem de uma trajetória sólida no audiovisual, na televisão, na Netflix. O que a literatura o permitiu dizer que a câmera jamais permitiria captar?
Antonio Arruda Vou responder seguindo por outro caminho: o que a literatura me permitiu fazer, que é, fundamentalmente, o trabalho, a experimentação com a linguagem. Por mais que na escrita de um roteiro a descrição dos cenários, o tom das cenas, a criação das falas dos personagens passem, obviamente, pela escolha das palavras, com a literatura é diferente. A literatura permite uma elaboração mais complexa. A busca pela palavra que melhor diz, que melhor revela o sentimento do personagem, a atmosfera desejada. A literatura possibilita - não que o audiovisual também não o faça, mas em outra medida, de outra maneira - a sugestão, o mistério que habita as entrelinhas do texto, e que só será revelado - e ressignificado - pelo leitor. Cabe a ele, e apenas a ele, no fim das contas, experienciar o que o livro expressa. E talvez seja essa a grande beleza do fazer literário.


Resenhando.com - A obra é atravessada por erotismo, dor, fé e homoafetividade, temas muitas vezes tratados como “demais” por uma sociedade ainda careta. Quando você escreve, sente que está exorcizando o medo alheio ou desnudando o seu?
Antonio Arruda As duas coisas, e não somente elas, e sem que haja uma distinção pragmática entre o que é meu e o que é alheio a mim. Interessa-me mais o borrão, a mancha que atravessa escritor e leitor. O quanto meu livro pode também desnudá-lo de seus medos? O quanto eu posso exorcizar os meus? O quanto, ainda, para além de um possível exorcismo, se faz necessária a convivência com os demônios, olhá-los de frente, tê-los ao lado? No livro, erotismo, dor, fé e homoafetividade estão emaranhados, são temas que se entrecruzam. Então, acredito, ou pelo menos desejo, que o livro gere no leitor mais encruzilhadas do que estradas retas.


Resenhando.com - A estética da cicatriz que você propõe tem algo de ritual. O que há de oferenda e o que há de profanação no ato de escrever?
Antonio Arruda Você tocou em um ponto bem importante, foi bem agudo em sua colocação. Há, de fato, algo de ritual. Ofertar-se à escrita é o ofício do escritor. Entregar-se ao texto. Como diz a poeta Isadora Krieger, “escrever é desaparecer no texto”. Nesse sentido, há muito de oferenda no processo de escrita. É uma doação intensa, um sacrifício, há algo de litúrgico, mítico, místico. Algo se desvela e se descortina quando escrevo, algo muitas vezes maior do que eu, que existe para além de mim. Ao mesmo tempo, meu processo de escrita e meu texto neste livro carregam uma corporeidade densa. “O Corte que Desafia a Lâmina” trabalha o tempo todo com a dualidade entre sagrado e profano. Profanar a carne para ofertá-la em sacrifício ao espírito. Acessar o espírito para que ele unja a carne e seus cortes, suas feridas. É esse o paradoxo que me interessa. E a minha proposta com a estética da cicatriz é justamente essa: criar um livro-corpo que, ao ser atravessado pela lâmina-palavra, inevitavelmente faça da escrita uma forma de ritualizar as experiências - de vida e literária.


Resenhando.com - No livro, há um homem que carrega uma carcaça de tartaruga até o mar e afunda com ela. Qual seria a sua carcaça hoje, e o que ainda o impede de soltá-la?
Antonio Arruda Vou pensar sobre essa pergunta e levá-la para a minha próxima sessão de análise para elaborar uma possível resposta (risos). Talvez a gente passe a vida toda acessando carcaças que acreditamos já ter soltado. Mergulhar nas dores e nos traumas me parece ser um exercício constante. Não sei especificar qual a carcaça de hoje com a qual ainda não me afoguei no mar. Mas, fazendo uma ligação com a pergunta anterior, talvez seja esse o ritual que mais me constitui como sujeito inquieto e complexo: tatear o inconsceano (para utilizar um dos neologismos do livro) e, assim, quem sabe, acessar as profundezas de ser.


Resenhando.com - Você é roteirista, professor, pesquisador, sacerdote e agora escritor publicado. Qual dessas vozes mais o contradiz, e qual delas você tenta silenciar quando escreve?
Antonio Arruda Talvez a mais contraditória delas seja a do escritor. Justamente por abarcar as demais? Não sei. Respondo em forma de pergunta, pois a assertividade, aqui, mataria, justamente, a contradição. Nunca tinha parado para pensar sobre isso. Mas sinto que a voz do professor, por ser carregada de um inevitável didatismo, seja aquela que, ainda que inconscientemente, eu tente silenciar. Minha escrita é altamente simbólica, imagética, alegórica. Acredito que não haja nela espaço para didatismos.


Resenhando.com - A dor é matéria-prima da arte, mas também um mercado. Você teme que o leitor leia suas feridas como espetáculo, e não como identificação?
Antonio Arruda Não. A dor como espetáculo está na mídia, nas notícias que transformam corpos violentados, agredidos, estraçalhados em números, em estatística. Está nas redes sociais. Está, infelizmente e cada vez mais, nos algoritmos. Sua pergunta me fez pensar que talvez o leitor não leia minhas feridas (que já nem são mais minhas, na verdade, uma vez que, depois de terem sido matéria-prima para a escrita, viraram ficção; são, portanto, as feridas dos narradores, dos personagens, do livro-corpo) como espetáculo, mas, se não como identificação, talvez como estranhamento, repulsa? Acredito que a literatura, ao se valer de elementos que atravessam, transgridem, subvertem o real, leva os leitores a processos complexos de investigação sobre si. Pelo menos é o que desejo que eles sintam ao acessar os cortes e as cicatrizes que eu transformei em experimentação estética.


Resenhando.com - Se o corte é inevitável, o que você ainda não teve coragem de transformar em lâmina?
Antonio Arruda Não sei… Às vezes eu sinto um pouco de medo da falta de medo que eu sinto (risos). Talvez quando descobrir qual a carcaça de hoje que ainda não carreguei para o mar eu consiga responder a essa pergunta. Como algumas pessoas que leram meu livro enquanto eu o escrevia e antes de enviá-lo à editora me disseram: “seu livro é fruto de muita coragem”. E eu senti mesmo isso ao escrevê-lo. Foi muito intenso e profundo mergulhar nas dores, nos traumas, nos cortes. E foi libertador. E estou disposto a continuar encarando as lâminas, a fazer delas o elemento mefistofélico que me aguilhoa a existência.



.: "Piscinas Russas", de Renata Belmonte, é lançado no Festival da Degustadora


Autora participa de bate-papo com leitores de Ribeirão Preto e região nesta quarta-feira, dia 29 de outubro, às 19h00. Programação do festival segue até o próximo domingo. Foto: divulgação


O Festival Literário de Primavera da Degustadora de Histórias recebe nesta quarta-feira, dia 29 de outubro, às 19h00, a escritora Renata Belmonte, autora do aclamado romance "Piscinas Russas", publicado pela editora Tusquets/Planeta. O encontro com os leitores, que terá mediação de Lucas Lotério, acontece na livraria A Degustadora de Histórias, no Centro de Ribeirão Preto, e integra a programação do festival, que segue até o dia 2 de novembro com bate-papos, lançamentos, oficinas e clubes de leitura.

Doutora em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Renata Belmonte tem se consolidado como uma das vozes mais consistentes da ficção brasileira contemporânea. É autora de livros de contos: "Femininamente" (Prêmio Braskem de Literatura, 2003), "O que Não Pode Ser" (Prêmio Arte e Cultura Banco Capital, 2006), "Vestígios da Senhorita B" (2009); e do romance "Mundos de Uma Noite Só" (finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2020 e semifinalista do Prêmio Oceanos 2021).

Com "Piscinas Russas", publicado em 2024, a autora aprofunda sua investigação sobre as complexidades da experiência humana, especialmente as relações entre corpo, memória e afeto. O livro vem recebendo destaque da crítica literária e grande atenção dos leitores.

“A repercussão tem sido bárbara. Recebo mensagens de leitores impactados ao longo da leitura, não apenas ao final. Foi uma obra que levou sete anos para ser escrita, e perceber que ela agora reverbera na vida de quem lê é a maior realização que um escritor pode ter”, afirma Renata. O lançamento em Ribeirão é um dos últimos compromissos da autora com o livro, que já percorreu diversas cidades do país.

“O Festival da Degustadora será o penúltimo lançamento de Piscinas Russas, depois sigo para Campinas. Cada conversa tem sido única, é lindo perceber a multiplicidade de interpretações e como cada leitor constrói a sua própria leitura a partir das subjetividades que o livro desperta”, comenta a autora. Sobre a continuidade da trilogia iniciada com Mundos de uma noite só, Renata diz que ainda precisa de um tempo: “Ainda não comecei o terceiro livro, porque preciso de um momento de respiro. Escrever, para mim, é um processo muito visceral, quase um transe, e isso me toma completamente. Quero voltar a ele quando estiver pronta”. Compre o livro "Piscinas Russas", de Renata Belmonte, neste link.


Programação segue até 2 de novembro
O Festival Literário de Primavera é uma realização da Degustadora de Histórias Livraria e Editora, em parceria com o Instituto Agir Ambiental, e conta com apoio cultural de 60 Minutos Escape (Shopping Santa Úrsula) e Amo Pet Ribeirão. Após o bate-papo com Renata Belmonte, o evento segue com atividades até o dia 2 de novembro, encerrando com a participação de Luiz Puntel, autor de livros da coleção Vaga-Lume.


Serviço
Festival Literário de Primavera da Degustadora de Histórias 2025
Até 2 de novembro de 2025
Livraria A Degustadora de Histórias - Rua Garibaldi, 485, Centro - Ribeirão Preto/SP
Mais informações e inscrições: (16) 99799-0839
Programação até domingo

29 de outubro - Quarta-feira
19h00 - Bate-papo com a autora Renata Belmonte (mediação de Lucas Lotério)


31 de outubro - Sexta-feira
17h00 - Happy hour da Degustadora Editora, com bate-papo sobre edição de livros e divulgação da obra vencedora do Concurso Literário 2025
19h00 - Clube de leitura Gaia – Encontro sobre o livro Essa coisa viva, de Maria Esther Maciel


1° de novembro - Sábado
10h00 - Lançamento do livro Enfim a liberdade, de Menalton Braff, e bate-papo com o autor
13h00 - Bate-papo com Marco Aurelio Lucchetti sobre a obra de seu pai, Rubens Lucchetti
14h00 - Clube de leitura sobre o livro Drácula, de Bram Stoker, com mediação de Marco Aurelio Lucchetti
15h30 - Oficina de carimbo ex-libris com Dandara Martins
16h00 - Oficina de Cordel com Elaine Christina Mota


2 de novembro - Domingo

10h00 - Bate-papo com Luiz Puntel sobre as suas obras na Coleção Vaga-lume



domingo, 26 de outubro de 2025

.: Lançamento de livro abre espaço para reflexões sobre o poder da escrita


Literatura como crítica, reflexão e resistência: essa é a proposta de "Práticas de Leitura e Análise de Textos Literários", livro que será lançado na próxima sexta-feira, dia 31 de outubro, em São Paulo. Organizado por Jarbas Vargas Nascimento, pós-doutor em Letras, e Célia Regina Rodrigues Gusmão, mestre em Estudos da Linguagem, o volume reúne pesquisas sobre as múltiplas relações entre o fazer literário e as experiências humanas, atravessadas por questões de gênero, raça, classe, identidade e memória.

Durante o evento, que acontece a partir das 19h00, na Livraria das Perdizes, o público poderá conhecer os organizadores e autores que assinam capítulos dedicados a nomes como Geni Guimarães, Jarid Arraes, Liliana Laganá e Clarice Lispector, vozes que resgatam histórias invisibilizadas. Publicação da Editora Sabiá com apoio da CAPES, a obra é um convite à reflexão sobre o poder transformador do texto literário, sua função crítica e seu papel essencial na construção de uma sociedade mais justa e consciente.

Serviço
Lançamento de “Práticas de Leitura e Análise de Textos Literários”
Data: sexta-feira, dia 31 de outubro de 2025, às 19h00
Livraria das Perdizes  - Rua Bartira, 317 - Perdizes/São Paulo 
Entrada: franca – estacionamento no local

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

.: Entrevista: Malu Garcia transforma o confinamento em viagem interior


Por Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com

Malu Garcia viajou para enfrentar a realidade. Em "Indomável", livro de estreia escrito por ela, a autora transforma quatro meses de confinamento em Cuba durante a pandemia em um exercício radical de liberdade e lucidez. O resultado é um relato que mistura crônica, memória e reflexão sobre o olhar estrangeiro, que ora vigia, ora liberta. 

Jornalista, radialista e apresentadora, Malu carrega na palavra o peso e o alívio das metamorfoses. Nas páginas do livro, Cuba não é o cartão-postal congelado no imaginário turístico, mas um território pulsante de contradições, onde a escassez revela a criatividade e o afeto se impõe na realidade do país. Escrever sobre a ilha é também escrever sobre o Brasil  e sobre a mulher que se reinventou ao ultrapassar as próprias fronteiras. 

Nesta entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com, Malu fala da solidão feminina como potência, dos riscos ideológicos de narrar um país sob permanente observação, do poder político da ternura e do espelho incômodo que a ilha lhe devolveu. Entre a vigilância e a rebeldia, a autora descobre que a literatura é o único passaporte que realmente atravessa. Compre o livro "Indomável", de Malu Garcia, neste link.


Resenhando.com -⁠ Você transformou a experiência de “turista controlada” em literatura. No fundo, a sua escrita nasce da vigilância ou da rebeldia?

Malu Garcia - Penso que minha escrita nasceu do atrito entre as duas coisas. Eu não esperava me encontrar naquela situação de “controlada”, e isso me causou pânico. Sentia um medo absurdo e nem sabia muito bem o por quê. Num primeiro momento me ocorreu que talvez eu não pudesse voltar outra vez a Cuba. E também no contexto da pandemia, por óbvio, perder as minhas  pessoas no Brasil era um medo real e diário. Foi tenso. Os motivos do “controlada” estão no livro, e posso dizer que desobedecer certas regras, primeiro, me manteve viva; depois me impulsionou na escrita, sim. O que vivi lá nunca coube em roteiros prontos. Então, na hora de escrever as minhas vivências foi como fazer um balanço de uma rebeldia que não sabia que tinha vivido. A vigilância me ensinou a prestar atenção, a observar minúcias. Já a rebeldia me deu coragem para escrever a partir das brechas, para atravessar o que era imposto num tempo raro, aquele da pandemia. A experiência de “controlada” acabou se revelando uma proteção. Hoje penso que minha escrita é filha desse embate: nasce da vigilância, porque dela vem a consciência aguda do olhar sobre mim quase aos 50, mas floresce na rebeldia, porque só desobedecendo ao viajar num momento sanitariamente delicado pude encontrar a Cuba real e, mais ainda, a mim mesma.

Resenhando.com -⁠ ⁠Em suas crônicas, Cuba não aparece como cartão-postal. O que descobriu de si mesma ao enxergar a ilha como espelho e não apenas cenário?
Malu Garcia - Já na minha primeira viagem, em 2005, deixei de olhar Cuba como um cartão-postal e passei a encará-la como espelho. As conexões que fiz lá me levaram de volta à minha infância e foi aí que descobri aspectos de mim mesma que no cotidiano corrido talvez eu não tivesse chance. A ilha me confrontou com contradições: a beleza e a dureza, a alegria e a falta, a liberdade que pulsa apesar das amarras. Percebi que eu também sou feita dessas tensões - do desejo de ir além das limitações e da força para encontrar sentido mesmo em contextos difíceis. Ao escrever, vi que Cuba não era apenas cenário para minhas viagens, mas um reflexo das minhas próprias inquietações e da necessidade de me reinventar. No fundo, ao ficar presa na ilha, enxerguei também minhas fronteiras internas - e a coragem de atravessá-las. Aí entram as pessoas e os encontros que vão mudando minha vida e inauguram minha escrita.

Resenhando.com -⁠ ⁠Você diz que “viajar sozinha é a maior expressão de liberdade que uma mulher pode experimentar”. Mas, na prática, essa solidão já lhe foi cruel em algum momento?
Malu Garcia - Sim, já foi cruel - e é justamente por isso que também é tão libertadora. Toda liberdade pressupõe uma quota de sacrifício primeiro. Depois, o prazer! Viajar sozinha deixa de ser apenas sobre paisagens e descobertas externas, é também sobre encarar a si mesma sem distrações. É estar como inteira, sem a distração que outra presença proporciona e limita. Tem o fator de você não ter que convencer ninguém que está com fome de almoço às onze horas da manhã ou que quer ficar no museu da hora que abre até fechar, por exemplo. Viajando sozinha me obrigou a ser minha própria companhia, a sustentar meus medos e minhas escolhas. No começo eu pensava “o que as pessoas estavam pensando ao me virem sozinha”; sentiam pena? Depois tudo se transformou em potência: percebi que estar só significava estar fazendo aquilo que escolhi, totalmente inteira.

Resenhando.com -⁠ ⁠Onze viagens para Cuba em tempos de desencanto global parecem um mergulho obsessivo. O que a ilha tem que o Brasil insiste em lhe negar?
Malu Garcia - Eu viajo a Cuba desde de 2005. São vinte anos acompanhando as mudanças que ocorrem internamente muito mais como reflexo das agressões externas que o país sofre, do que qualquer outra coisa. Para entender isso é conveniente estudar a História. Mas Cuba me oferece uma intensidade que muitas vezes sinto faltar no Brasil. Lá, a vida pulsa sem pressa. Penso que como se trata de um lugar relativamente pequeno, tem-se muita cultura sem ter que atravessar grandes distâncias. Havana é como uma espécie de showroom de cultura. E tem o lado da escassez que revela a criatividade, e cada encontro é vivido como se fosse único. É um lugar que não me permite ser espectadora - me chama para dentro da experiência. O Brasil, com toda sua grandeza e riqueza cultural, muitas vezes me nega esse mergulho profundo porque se perde no excesso, no barulho, na pressa. Em Cuba, o tempo desacelera e me obriga a olhar nos olhos, a ouvir histórias inteiras, a participar de uma vida menos mediada por filtros. Talvez por isso eu tenha voltado tantas vezes: porque a ilha me oferece uma radicalidade de experiência que me revela não apenas um outro país, mas uma outra versão de mim mesma - aquela que o Brasil, na correria e na abundância, e no medo da violência, insiste em calar.

Resenhando.com -⁠ ⁠Há algo de político em cada escolha estética do seu livro. Escrever sobre Cuba, hoje, não é também assumir um risco ideológico?
Malu Garcia - Escrever sobre Cuba é, sim, assumir um risco - porque qualquer narrativa sobre a ilha costuma ser lida através de lentes ideológicas já polarizadas. Mas eu não poderia escrever de outro modo. Minha relação com Cuba não é panfletária, é existencial. Foi lá que fiz um balanço da minha vida chegando aos 50. Vivemos tempos de excesso de informação e sobre tudo temos que ter uma posição, uma opinião, um sentimento. Mas conhecimento mesmo não há. Sobre Cuba isso ainda vem carregado de desinformação. Se eu tivesse escrito minhas vivências passadas em qualquer outra ilha do mundo, Maldivas por exemplo, não suscitaria esse juízo do bem e do mal. Cuba tem uma História e muitas narrativas que interessam à manutenção de agressões externas. O povo está cansado mas não tem outra alternativa a não ser resistir. Daí o meu título Indomável. As minhas histórias lá não são nada de panfletárias a favor de uma ideologia. São as minhas vivências de lá, espelhadas numa vida nas daqui. As pessoas conhecem Cuba pelas notícias, a favor e contra, mas o meu livro é mais uma abordagem amorosa acerca da realidade cotidiana, das coisas simples e grandes que também dão a singularidade de um país. A bandeira impressa na parte interna da capa do livro não é um manifesto, é um símbolo de respeito à intensidade do país que tanto me transformou. Por outro lado tenho comigo uma vida inteira de expectativa por justiça social no meu próprio país. Talvez por isso Cuba me convoque tanto: porque, ao mesmo tempo em que revela suas contradições e falhas, expõe também o desejo coletivo de dignidade, de partilha, de sobrevivência com criatividade. O risco ideológico existe, mas para mim escrever é escolher não se esconder. E se minha literatura carrega política, é porque acredito que toda experiência humana - sobretudo a viagem - está atravessada por questões de liberdade, de desigualdade e de esperança. Em Cuba, nos quesitos segurança, solidariedade, educação e saúde, encontrei o espelho que me ajudou a refletir sobre o Brasil que ainda sonho viver.

Resenhando.com -⁠ ⁠Você conheceu a ex-mulher de Glauber Rocha e a mãe de Leonardo Padura. Mas qual foi o encontro mais íntimo, aquele que não coube no livro porque ainda é ferida aberta ou segredo guardado?
Malu Garcia - Tive muitos encontros profundos que não estão notoriamente no livro. Essa pergunta, nesse contexto mundial que vivemos hoje, me leva a refletir sobre um em especial: certa manhã fui apresentada a um senhor de um metro e meio, e 85 anos. Ele tinha acabado de escrever um livro e me presenteou com um exemplar, autografado para mim no parapeito da sua janela, de onde víamos o Malecon. Conversamos um pouco e nos despedimos já que eu seguiria direto para o aeroporto, de volta ao Brasil. No voo li o livro. Era a história vivida por ele enquanto chefe diplomático da embaixada de Cuba no Panamá, em 1989. Pude entender que aquela história era menos sobre geopolítica e mais sobre as coisas que acontecem na vida das pessoas e são imparáveis. Particularmente, guardo um grande medo desses grandes acontecimentos que viram vidas de cabeça para  baixo. O livro do Lázaro Mora conta a invasão do Panamá. Ele passou por tudo aquilo como personagem. O livro agora está editado no Brasil e chama “Não Temos o Direito de Esquecer”. E ainda hoje olhando o noticiário penso que a qualquer momento podemos ter a repetição disso, aqui, ou em países vizinhos. Mas essa sua pergunta me leva a refletir que gosto da minha vida sem grandes sobressaltos, grandes acontecimentos. Gosto da minha vida como maré, vezes alta, vezes baixa, mas nunca um furacão que descontrola tudo. Digo sempre às minhas amigas quando estamos em “café terapia” que tenho medo das cambalhotas que a vida dá: uma doença grave, uma perda, um revés. Aqueles acontecimentos que tiram a vida do prumo. Quando fiquei presa em Cuba por quatro meses eu só pensava nisso. Mas com a escrita me dei conta que todos os acontecimentos ruins da minha vida só me jogaram para o alto. Aquele encontro com Lázaro continua comigo, inteiro, e me ensinou que literatura é escuta antes de ser voz.

Resenhando.com -⁠ ⁠Suas crônicas são atravessadas por afetos, memórias e descobertas. Em algum momento, teve medo de que a literatura romantizasse demais um país onde a sobrevivência diária é, muitas vezes, luta bruta?
Malu Garcia - Sim, esse medo sempre me acompanhou, principalmente, pelo fato de que sobre Cuba todo mundo pensa que sabe tudo… e tenho consciência que meu livro por óbvio não esgota assunto algum, ainda mais um tema que sofre polarização, propaganda e o instinto já conduz à política. Tinha medo dos julgamentos, dos preconceitos que a simples menção ao nome da ilha já causam. Mas é necessário frisar que o meu livro são as minhas vivências. E, por óbvio, escrevo carregada das minhas próprias bagagens, de criação, sonhos e conquistas. A literatura tem uma força de encantamento, e Cuba, tem a sua crueza, que é vista por nós, brasileiros, com lupa, sem que enxerguemos ao nosso redor, nossas próprias crueldades, como pessoas morando nas ruas que nem nos impactam ou apiedam mais. Cuba hoje está diferente da Cuba que conheci nos últimos vinte anos. Mas meu livro é um testemunho desse tempo, visto por uma sempre estrangeira, está claro. A Ilha toda, com sua música, luz e intensidade humana, convida facilmente à idealização, contra ou a favor. Mas eu vivi o melhor que eu poderia ter vivido nesse tempo. Sem esquecer que por trás do riso generoso existia a dureza da fila, da falta, do improviso diário para garantir o básico. O risco de romantizar está em transformar a falta em espetáculo. Eu não queria cair nessa armadilha. Por isso escrevi tentando equilibrar afeto e lucidez: reconhecendo a beleza do que vivi, mas sem negar a luta. Minha intenção nunca foi pintar Cuba como um paraíso, mas como uma ilha de contradições que também revela minhas próprias contradições como uma brasileira do meu tempo e do meu lugar. Sim, porque ao meu redor também há pobreza ainda maior do que a que existe em Cuba, acrescida de uma violência e medo,  únicos também no mundo. A literatura, nesse sentido, não é romantização, mas tentativa de testemunho. E se existe idealização no que escrevo, ela não está em suavizar a realidade, mas em dar voz à dignidade com que o povo cubano atravessa suas batalhas cotidianas, reflexo de agressões externas históricas.

Resenhando.com -⁠ Ao narrar uma brasileira em Cuba, você inevitavelmente fala da identidade brasileira. O que descobriu sobre o Brasil estando longe dele?
Malu Garcia - Estar em Cuba me obrigou a enxergar o Brasil sem os filtros que a minha bolha de privilégios me oferece. De longe, percebi o quanto carregamos uma desigualdade naturalizada, quase anestesiada, como se fosse destino. Em Cuba, a escassez é explícita, mas existe também um senso de coletividade que amortece isso. No Brasil, temos abundância em alguns pontos, mas ela convive com um abismo social gritante — e muitas vezes escolhemos não ver. Descobri que a identidade brasileira é feita de contradições tão radicais quanto as cubanas, mas nós aprendemos a disfarçá-las. Distante, percebi o silêncio que me atravessa quando volto para o meu país e reconheço que o acesso à educação, à saúde, à segurança e até ao ato de viajar sozinha são privilégios. Escrever sobre Cuba foi, no fundo, escrever sobre o Brasil que me habita e sobre a culpa e a responsabilidade que carrego como mulher brasileira consciente dos meus privilégios. A ilha me mostrou um espelho menos confortável, mas mais verdadeiro. E talvez por isso eu volte sempre: para não esquecer que a identidade também se constrói no confronto com aquilo que preferiríamos não enxergar.

Resenhando.com -⁠ Você foi radialista, repórter, apresentadora de TV e agora escritora. Essa metamorfose da palavra em sua vida tem mais de cura ou de provocação?
Malu Garcia - Olha, para além dessas funções que exerci, eu acho que antes eu fui a primeira neta da dona Maria e sobrinha de uma freira, dona de uma mala cheirosa. Essa mala da minha tia teve um grande impacto nos meus sonhos de infância. Já minha avó era analfabeta, mas foi junto dela que a palavra ganhou o território da minha inquietação. No livro eu decifro um pouco dessas duas relações de afeto que mais tarde são decisivas para eu ganhar o mundo. Daí, a palavra passa a ser uma espécie de fio condutor na minha vida. No rádio, era rápida, quase um sopro; na TV, precisava estar enquadrada, bem medida; e na escrita… na escrita ela ganhou silêncio, pausa, ganhou corpo. Quando escrevi "Indomável", percebi que não era só sobre Cuba. Era sobre mim também. E aí entrou a cura - porque escrever me fez revisitar memórias, lacunas e contradições que na correria do dia a dia a gente não encara. Mas entrou também a provocação - porque, ao me ver fora do meu país, fora da minha bolha de privilégios, eu fui obrigada a me perguntar: quem eu sou nesse novo cenário, fazendo outras descobertas, ganhando referências, com outras verdades? Ao narrar minhas descobertas em Cuba, precisei revisitar memórias, deslocamentos e afetos que eu mesma não entendia completamente. Assim, a  palavra, funcionou como um espelho que obrigou a me encarar quase numa linha do tempo, sem possibilidade de volta, já que estou aos 50. Mas também foi provocação - para mim e para o leitor - porque expôs contradições de uma brasileira que vive em sua bolha de privilégios e, de repente, se vê diante de uma realidade que subverte certezas. Para mim até está engraçado. Depois da escrita eu passei a ter uma relação diferente, mais saudável com a minha própria casa. Domesticamente, virei uma pessoa mais organizada. Outra cura é que dias nublados ou chuvosos não me oprimem mais; e perdi a pressa para muitas coisas também. Penso que a escrita cicatrizou coisas que eu nem sabia que doíam. Então, quando terminei de escrever Indomável, percebi que não havia feito narrações apenas sobre minhas idas e vindas de Cuba, mas sim atravessado a mim mesma. De fato, essa metamorfose da palavra, em mim, não é escolha entre remédio e inquietação. Penso que seja muito mais um movimento que costura as duas coisas. E talvez seja isso que me põe em movimento até hoje: habitar esse espaço onde a palavra tanto acalenta quanto cutuca.

Resenhando.com - ⁠Se tivesse que resumir Cuba em uma única cena que dissolvesse política, poesia e contradição, qual seria?
Malu Garcia - Olha, se eu tivesse que resumir Cuba em uma cena só, eu escolheria um final de tarde no Malecón, em Havana. Você vê aqueles carros antigos passando, soltando fumaça e ao mesmo tempo ali perto as crianças saem da escola com um uniforme lindo e com uma alegria marcante, como se não houvesse falta nenhuma. Sentado, um casal apaixonado, mas ele com vontade de deixar o país e ela ligada a mil coisas da ilha; mais ao lado, um senhor com um violão gasto, tirando música da precariedade. Tudo isso sendo tomado pelo alaranjado do pôr do sol. Essa cena carrega tudo o que Cuba me revelou: a beleza que se entrelaça a dureza, a vida que pulsa apesar das faltas. É política porque a sobrevivência diária é, em si, um ato político; é poesia porque o povo cubano tem a capacidade quase mágica de extrair alegria do improvável; e é contradição porque nada ali é simples, tudo é atravessado por camadas de histórias, separações e resistências. Escolho essa cena porque foi num pôr de sol que entendi que Cuba não cabe numa frase pronta ou numa ideologia. Ela se encarna nas pessoas, nos gestos pequenos, no som do mar batendo contra o muro e devolvendo, de alguma forma, a força de quem nunca deixou de resistir. O Malecón é bem a expressão disso: a água bate forte, por vezes o encobre, e ele persevera, gigante. Foi numa tarde assim que me dei conta que tudo o que havia descoberto e vivido por ali era grandioso demais e eu precisava organizar dentro de mim, sobretudo. E foi assim que  nasceu Indomável.


.: Crítica: "Casa, Beija ou Mata", de Kate Posey, equilibra o riso e o risco


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com

Romance de estreia da canadense Kate Posey, "Casa, Beija ou Mata", lançado pela Verus Editora, diverte com o próprio absurdo. Com uma escrita que mistura o suspense dos podcasts de true crime com o charme ligeiramente debochado das comédias românticas contemporâneas, a autora constrói uma narrativa que é, ao mesmo tempo, afiada e espirituosa, como se "Killing Eve" e "Um Lugar Chamado Notting Hill" tivessem se encontrado em um happy hour literário.

A protagonista, Dolores dela Cruz, é uma mulher obcecada por crimes reais, o tipo de pessoa que sabe diferenciar um estrangulador de um esfaqueador apenas pelo padrão de comportamento da vítima. Quando o novo colega de trabalho, Jake Ripper, aparece usando luvas suspeitas e um charme que poderia matar (literalmente), Dolores decide investigar e, quem sabe, flertar com o perigo. O resultado é uma relação de gato e rato temperada com humor sombrio, tensão sexual e um timing narrativo preciso.

O que torna "Casa, Beija ou Mata" especial é o equilíbrio improvável entre o riso e o risco. Kate Posey não escreve uma sátira, tampouco um thriller convencional: ela cria um “Thromance” (mistura de thriller e romance), um gênero híbrido que brinca com o imaginário pop e desafia as fronteiras do bom comportamento literário. É uma autora que sabe rir das próprias obsessões culturais - as séries de investigação, os relacionamentos desastrosos, a ironia dos tempos digitais - sem cair na paródia fácil.

A escrita de Posey é surpreendentemente leve. O diálogo entre Dolores e Jake é o tipo de troca que faz o leitor rir, corar e desconfiar, às vezes na mesma frase. A tradução de Carolina Candido acerta o tom exato do humor, entregando uma versão em português que preserva o ritmo e o veneno da narrativa original, sem “domesticar” a voz da autora - o que é raro em um texto que depende tanto da ironia e da cadência verbal. Além do enredo engenhoso, há uma sensação de frescor, uma quebra das expectativas que se espera de um romance de estreia. Posey escreve para uma geração que consome true crime no café da manhã e acredita que o amor é uma armadilha estatística. Seu texto é pop, inteligente e perigosamente divertido.

"Casa, Beija ou Mata" é uma leitura que conquista por sua originalidade: um romance que beija o perigo, casa com o humor e mata o tédio. Kate Posey inaugura sua carreira com um livro que parece um jogo, mas é uma experiência narrativa completa - um lembrete de que, mesmo nas histórias mais sombrias, ainda há espaço para rir do que assusta. Compre o livro "Casa, Beija ou Mata", de Kate Posey, neste link.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

.: Entrevista: Marcelo Viana e a poesia escondida nos números


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Bel Pedrosa

Há algo de poético em ver um matemático virar texto de vestibular. Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e um dos maiores nomes da ciência brasileira, acordou um dia e descobriu que suas palavras estavam sendo “avaliadas” por milhares de jovens na UERJ (Unoiversidade do Estado do Rio de Janeiro). Justo ele, que há anos tenta mostrar que a matemática é mais humana do que parece - feita de dúvida, descoberta e espanto.

Autor de "Histórias da Matemática: da Contagem nos Dedos à Inteligência Artificial", publicado pela editora Tinta-da-China Brasil, Viana acaba de ser lido por um público que talvez ainda não saiba que também faz parte dessa história. Ele agora está de volta às livrarias com "A Descoberta dos Números", um livro ilustrado que transforma a curiosidade em caminho.

Nesta entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com, Marcelo Viana fala sobre o medo que a escola criou da matemática, a beleza escondida nas equações, o papel da inteligência artificial e as surpresas de quem vive entre o caos e a ordem, tanto na teoria quanto na vida cotidiana. Leia a crítica do livro - Antes do “pix” e da fatura do cartão, havia uma ovelha e Marcelo Viana conta - neste link.

Resenhando.com - Seu livro "Histórias da Matemática" virou texto de vestibular e agora “examinou” milhares de estudantes. O que é mais assustador: estar diante de uma banca de especialistas ou ver seu próprio texto servir de filtro para futuros universitários?
Marcelo Viana - De repente me ver no lugar dos autores daqueles textos que estudei na escola. Por alguma razão, lembro particularmente de Érico Veríssimo... Foi um pouco assustador: lisonjeiro, claro, mas um pouco intimidador. Mas o mais assustador foi o pensamento: “Será que eu sei responder as perguntas sobre o meu texto?”.

Resenhando.com - O senhor transita entre a teoria do caos e a contagem nos dedos. No fundo, a matemática é mais sobre ordem ou sobre desordem?
Marcelo Viana - A matemática é sobre o universo, sobre tudo o que nos rodeia. Tanto a ordem quanto o caos estão incluídos. Como seres pensantes, nós precisamos estruturar as nossas percepções, organizar para compreender. Passei boa parte da minha vida como matemático identificando padrões, organizando o caos.


Resenhando.com - Muitos têm medo da matemática como se fosse um monstro inatingível. Na sua opinião, a escola mata mais sonhos matemáticos do que estimula?
Marcelo Viana - Eu acredito que o gosto pela matemática é inato a (praticamente) todos nós. Em seguida, as experiências dos primeiros anos moldam o modo como realmente nos relacionamos com a disciplina. Primeiro no seio da família, logo nos bancos escolares. É bem cedo, na primeira infância que o que vivenciamos determina se a matemática vai ser um pesadelo ou uma fonte de prazer.


Resenhando.com - O livro "A Descoberta dos Números", é ilustrado e acessível. Isso é uma estratégia de “popularizar” ou, secretamente, de mostrar que até os grandes teoremas cabem num traço de desenho?
Marcelo Viana - Esse livro nasceu sozinho: ele já existia, do jeito que ele é, bem antes de eu tomar consciência disso. Foi durante uma conversa com a editora, a Sofia Mariutti, que eu me apercebi: “Peraí, isso que vem passando pela minha cabeça constitui um pequeno livro sobre um tema fascinante”. Estou exagerando, claro. Durante a escrita eu conversei com colegas que me inspiraram a ir mais além, o próprio pessoal da Tinta-da- China Brasil contribuiu com várias ideias ótimas, e o belo traço do Rafael Sica transformou as ilustrações em algo diferente. Mas o conceito de um livrinho que conta a todo mundo o fascínio da aventura dos números, sem fugir nunca da verdade matemática, lançando mão de diferentes recursos para falar com diferentes pessoas ao mesmo tempo, esse a Musa trouxe prontinho da caverna de Platão.


Resenhando.com - Se o senhor pudesse escolher uma única equação para ser lida em voz alta todos os dias pelas pessoas, como um mantra, qual seria?
Marcelo Viana - “Muitas eras devem ter passado antes que alguém se apercebesse de que um par de dias é um casal de pássaros são, ambos, manifestações do número dois”, frase de Bertrand Russel. Pode não parecer uma fórmula como as pessoas entendem fórmulas, mas isso é intencional. Uma fórmula é apenas uma forma compacta (e muito útil) de expressar uma ideia. Infelizmente, muitas vezes ficamos com a fórmula e ignoramos a ideia. Mas a ideia é tudo. E nessa frase Russel descreve, melhor do que ninguém, uma das grandes façanhas do intelecto humano: a descoberta do número.


Resenhando.com - O senhor já ganhou prêmios importantes, como o Louis D. na França. Mas no Brasil, onde a ciência é sempre disputada com a precariedade, qual é o verdadeiro prêmio: o reconhecimento externo ou a resistência diária para manter a pesquisa viva?
Marcelo Viana - O apoio à ciência no Brasil hoje é precário e amplamente insuficiente. Quando eu era recém doutor e decidi ficar no país e me tornar pesquisador, ele era essencialmente inexistente. Então precisamos reconhecer os avanços e ir à luta por cada vez mais apoio e melhores condições para a pesquisa científica. Para mim, o prêmio maior é ajudar a construir o futuro, sobretudo a satisfação de formar jovens pesquisadores talentosos. A satisfação de ver seu orientando ter suas primeiras ideias originais não é muito diferente do que sentimos quando um filho bebê dá os primeiros passos.


Resenhando.com - O senhor acredita que os números são descobertos ou inventados? E o que essa resposta revela sobre como vemos a realidade?
Marcelo Viana - (Risos) Eu sou platônico, tal como a maioria dos matemáticos: acredito que as ideias matemáticas fazem parte do tecido da realidade e que a nossa tarefa é descobri-las. Euler observou que se contarmos o número de faces (F), de arestas (A) e de vértices (V) de qualquer poliedro, o valor de F-V+A é sempre 2. O que tem de inventado nisso? É uma lei do universo, tanto quanto a lei da gravitação de Newton ou as leis do eletromagnetismo de Maxwell.


Resenhando.com - A inteligência artificial, tema abordado em "Histórias da Matemática", já começa a resolver problemas que antes eram exclusivos de matemáticos. Há um risco real de a IA tornar o matemático obsoleto - ou a máquina ainda precisa aprender a errar com criatividade?
Marcelo Viana - Algumas décadas atrás acreditávamos que a máquina nunca poderia jogar xadrez melhor do que nós, porque ela seria ensinada por humanos e portanto não poderia nos ultrapassar. Então Deep Blue venceu o campeão do mundo, Gary Kasparov. E hoje em dia as máquinas nem precisam ser ensinadas por humanos para jogarem de um modo que nós nunca conseguiremos. Mas isso não tornou o xadrez obsoleto, nem diminuiu o prazer em jogá-lo. Eu acredito que não está longe o dia em que algoritmos resolverão problemas matemáticos e provarão teoremas importantes e, portanto, nos ajudarão a fazer avançar o conhecimento. Mas não acredito que isso torne o matemático humano obsoleto.


Resenhando.com - Como diretor do IMPA, o senhor lidera um espaço de elite da ciência brasileira. Mas se tivesse que ensinar matemática para uma turma de alunos do ensino médio de periferia, por onde começaria?
Marcelo Viana - Esse é um enorme desafio, provavelmente o maior na minha área de atuação. Acho que eu começaria tentando buscar um tema do interesse dos alunos e levar a turma a se debruçar sobre esse tema para entendê-lo e identificar um conceito matemático nele. Não sei qual tema, mas acho que teria que ter a forma de um desafio, com um resultado concreto em vista. Provavelmente eu falharia na primeira tentativa rsrsrs Mas sei muito bem o que eu não faria: “Hoje vamos estudar a fórmula de Baskhara”


Resenhando.com - O senhor vive imerso em sistemas dinâmicos e caos. Mas, no plano pessoal, o que mais bagunça sua própria rotina: números, política científica ou o inesperado da vida cotidiana?
Marcelo Viana - Eu sou bastante organizado, o meu instinto é planejar as coisas tanto quanto possível. Mas do jeito como as coisas funcionam no Brasil isso não é nada fácil. Os meus colegas do exterior se surpreendem que a minha agenda para daqui 1 ano parece totalmente livre, quando a deles já está bem lotada. Eles nem imaginam como a minha agenda para mês que vem está, menos ainda as mudanças que estão acontecendo neste exato momento na agenda da semana que vem (risos).

.: Milton Hatoum participa de encontro gratuito em São Paulo e apresenta livro


O escritor Milton Hatoum, recém-eleito para a Academia Brasileira de Letras e cotado como um dos possíveis indicados ao Prêmio Nobel de Literatura de 2025, participa de um encontro gratuito no dia 22 de outubro, em São Paulo. O evento, promovido pela Editora Unesp e pela Universidade do Livro, marca o lançamento de "Dança de Enganos", volume final da Trilogia "O Lugar Mais Sombrio". A conversa com o público será mediada pelo jornalista literário Manuel da Costa Pinto e acontece das 19h00 às 21h00, no Auditório da Biblioteca Mário de Andrade, no centro da capital paulista. Após o bate-papo, Hatoum autografa exemplares da nova obra.

Em Dança de enganos, o autor retoma os fios narrativos de A noite da espera e Pontos de fuga para concluir uma das trilogias mais ambiciosas da literatura brasileira contemporânea. A narrativa, contada agora a partir da perspectiva de Lina, mãe de Martim, revisita as marcas deixadas pela ditadura militar, a herança da memória e os dilemas de uma família dilacerada pelo tempo e pelas escolhas.

Com uma escrita precisa e poética, Hatoum - vencedor de prêmios como o Jabuti e o Portugal Telecom - volta a explorar temas centrais de sua obra, como identidade, exílio e a formação humana sob o peso da história. A entrada é gratuita, mas as vagas são limitadas. As inscrições podem ser feitas neste link.

Serviço
Encontro com os Escritores - Milton Hatoum
Apresentação de "Dança de Enganos" e bate-papo com mediação de Manuel da Costa Pinto, seguido de sessão de autógrafos. Quarta-feira, dia 22 de outubro de 2025, das 19h00 às 21h00. Auditório da Biblioteca Mário de Andrade - Rua da Consolação, 94, Centro/São Paulo, próximo à Estação Anhangabaú do Metrô. Entrada: gratuita, mediante inscrição prévia. Compre o livro "Dança de Enganos", de Milton Hatoum, neste link.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

.: Paula Valéria Andrade lança "AWARE" e celebra 20 anos de trajetória literária


Último volume da Trilogia POP Poesia, com projeto gráfico de Guto Lacaz, homenageia os 130 anos de amizade Brasil-Japão e dialoga com a estética japonesa do Mono-no-Aware


A poeta Paula Valéria Andrade lança seu terceiro livro da Trilogia POP Poesia – "AWARE, da Sensibilidade às Coisas Efêmeras" – com projeto gráfico de Guto Lacaz. A obra também homenageia os 130 anos de amizade entre Brasil e Japão, estabelecendo um diálogo entre culturas por meio da poesia. Antes dele, a autora publicou "Amores Líquidos & Cenas" (2017) e "O Novo no Ovo" (2021) - uma parceria de oito anos com Guto - que agora se reúne neste novo e último lançamento, consolidando sua pesquisa estética e poética. Paula celebra ainda 20 anos de trajetória literária desde seu livro de estreia, "Iris Digital" (2005).

O livro será lançado nesta quinta-feira, dia 9 de outubro de 2025, das 17h00 às 20h30, no espaço BaFu – Barra Funda Autoral - Rua Barão de Tatuí, 240 - Vila Buarque. O lançamento contará com as presenças de Guto Lacaz, Ana Paula Prado Teeple e as leituras poéticas dos artistas: Gustavo Machado (ator e poeta), Laize Câmara (atriz e videomaker), Davi Kinski (poeta e cineasta), Tielo Iri (escritora e artista plástica), Fernando Alves Pinto (ator) e Paula Valéria Andrade (poeta). E o músico Yuzo Akahori fará uma apresentação musical com o raro instrumento japonês Shamisen, acompanhando as leituras.


"AWARE, da Sensibilidade às Coisas Efêmeras"
A obra se inspira na tradição japonesa de versos interligados. Tal inspiração vem de Mono-no-Aware (物の哀れ), um conceito estético e filosófico japonês referente à sensibilidade para com a transitoriedade de todas as coisas. Evoca um sentimento profundo e comovente que combina a tristeza pela passagem do tempo e pela perda do que é belo, mas traz uma apreciação da beleza que surge, justamente dessa impermanência. Mas eterno ali, no segundo vivido. 

O páthos das coisas é realçado no instante pela consciência de sua brevidade: surge da percepção de que tudo - a natureza, estações do ano, sentimentos e vida humana - é temporário. E revela um equilíbrio entre o doce da experiência e o amargo de sua inevitável passagem. A partir dessa dinâmica, os poemas se abrem à reflexão sobre a efemeridade da vida, explorando conexões entre Brasil, Japão e Estados Unidos, com palavras, fragmentos e imagens que expressam e registram a vivência da poeta entre a delicadeza do passageiro e a fricção abrupta do cotidiano e do concreto das esquinas.

Segundo o pesquisador Jorge Luiz Antonio, Paula Valéria Andrade é uma poeta que usa a parataxe, justaposição de palavras e frases sem sequência lógica (sintaxe), algumas vezes em orações coordenativas, ideia defendida por Décio Pignatari (1927–2012), um dos pioneiros da Poesia Concreta. Essa parataxe, que é uma espécie de palavra-chave que se torna palavra-mundo, oferece inúmeras leituras e plurissignificações que seduzem e encantam o leitor de poesia.

No livro, Paula e o professor-tradutor Patrick Ward exploram as linguagens dos idiomas para atravessar a ponte dos significados e significantes num jogo poético de pertencimento de imagens e paisagens entre três cenários: Brasil, em São Paulo; Japão, em Fukushima; e Estados Unidos, em San Francisco, na Califórnia.

Tal como as flores de cerejeira surgem belas e logo se esvanecem na primavera, os poemas revelam tanto o milagroso quanto o mundano, refletem limitações e flutuações, Imprevisibilidades, a efemeridade dos desejos e amores, perdas inusitadas, descobertas, os caminhos urbanos das grandes metrópoles, a imigração japonesa percebida nas cidades por onde viveu, os fenômenos sutis, a natureza, o imponderável, o tempo, novos ciclos e o acaso do equilíbrio perfeito. As dualidades se apresentam: as pétalas cairão inevitavelmente, mas o florescimento sempre retornará.

Em japonês, há uma ênfase maior no não dito - os espaços entre as palavras - e no Hibiki, reverberações. Hibiki ressoa as sutilezas da natureza infundidas pelas 24 estações do calendário tradicional do Japão. O delicado equilíbrio de ritmo, som e imagens visuais nos poemas de Paula é reimaginado por meio de uma lente diferente, onde uma palavra pode ter mais peso ou uma frase ser reorganizada para evocar a mesma profundidade emocional. Algo não dito, mas ali, no sutil das entrelinhas. A poesia expandida, com fotografias das paisagens vividas e registradas pelos olhares da autora e de artistas amigos convidados, somadas, traz a verve poética verbivocovisual, à flor da pele, convidando à leitura do mundo, em múltiplas camadas de sentidos. Coletivamente, um olhar colecionado.

O livro reúne uma equipe de artistas e colaboradores de diferentes áreas e lugares. Visões de mundo. O projeto gráfico e design é assinado por Guto Lacaz, que fez todos os livros da Trilogia POP Poesia, desde 2017. O prefácio, a versão para o japonês e as fotografias do Japão são de Patrick Ward, com registros de Fukushima entre 2023 e 2024. As fotografias de São Francisco têm os cenários de Japan Town, Union Square e Bay Área, na Califórnia (EUA), e são de Ana Paula Prado Teeple, 2025. As pinturas são da artista plástica Tieko Iri, em São Paulo. Já as fotografias no bairro da Liberdade, em São Paulo, são registros de 2024 e 2025, no olhar da própria Paula Valéria Andrade. A arte final é de Edson Kumasaka e o tratamento fotográfico foi realizado por Patrícia Scavone, São Paulo. A quarta capa traz a assinatura de Jorge Luiz Antonio, professor universitário, pós-doutorado em Teoria Literária (IEL-UNICAMP), pesquisador de poesia digital e escritor. AWARE foi apresentado em Portugal em dois eventos que aconteceram em setembro de 2025: no Porto (Livraria Exclamação) e em Lisboa (Festival de Poesia de Lisboa).


Serviço
Livro: Trilogia POP Poesia - "AWARE, da Sensibilidade às Coisas Efêmeras"
Autora: Paula Valéria Andrade
Ano: 2025
Páginas: 144
Formato: 21x25 | Fotos coloridas
Lançamento: poesia brasileira trilíngue: português/inglês/japonês
Edição: 1ª | SPVI Books
Venda: Livrarias on-line da Livraria da Travessa (Ipanema, Pinheiros e Leblon) e da Livraria Drummond (Av. Paulista - Conjunto Nacional), além das lojas físicas Livraria Ria (Vila Madalena) e BaFu- espaço de arte (Santa Cecília) e Amazon neste link.


Evento de lançamento
Data: 9 de outubro – quinta-feira
Horário: 17h00 às 20h30
Local: BaFu – Barra Funda Autoral - galeria de arte | espaço multiuso
Endereço: Rua Barão de Tatuí, 240 – Vila Buarque / São Paulo

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

.: Clássico de García Márquez, "Cem Anos de Solidão" ganha edição ilustrada


Romance fundamental na história da literatura, "Cem Anos de Solidão" ganha edição primorosa em capa dura, com ilustrações inéditas da artista chilena Luisa Rivera. O romance é a obra-prima de Gabriel García Márquez, mestre do realismo mágico latino-americano, um dos autores mais importantes do século XX, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. As obras dele já venderam quase 3 milhões de exemplares só no Brasil e foram adaptadas para filmes e minisséries. A tradução é de Eric Nepomuceno e as lustrações são de Luisa Rivera

"Cem Anos de Solidão", um dos maiores clássicos da literatura latino-americana e mundial, narra a incrível e triste história dos Buendía - a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” - e apresenta o maravilhoso universo da fictícia Macondo, onde se passa o romance. É lá que acompanhamos diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo. Para além dos artifícios técnicos e das influências literárias que transbordam do livro, ainda vemos em suas páginas o que por muitos é considerada uma autêntica enciclopédia do imaginário, num estilo que consagrou Gabriel García Márquez como um dos maiores escritores do século XX.

Em nenhum outro livro o autor colombiano empenhou-se tanto para alcançar o tom com que sua avó materna lhe contava os episódios mais fantásticos sem alterar um só traço do rosto. Assim, ao mesmo tempo que a incrível e triste história dos Buendía pode ser entendida como uma enciclopédia do imaginário, ela é narrada de modo a parecer que tudo faz parte da mais banal das realidades.

Gabo, apelido de Gabriel García Márquez, costumava dizer que todo grande escritor está sempre escrevendo o mesmo livro. “E qual seria o seu?”, perguntaram-lhe. “O livro da solidão”, foi a resposta. Apesar disso, ele não considerava "Cem Anos..." sua melhor obra (gostava demais de "O Outono do Patriarca"). O que importa? O certo é que nenhum outro romance resume tão bem o formidável talento desse contador de histórias de solitários - que se espalham e se espalharão por muito mais de cem anos pelas Macondos do mundo inteiro.

Os milhões de exemplares vendidos de uma obra que abriu caminho no “boca a boca”, como gostava de dizer Gabo, são a mais palpável demonstração de que a aventura fabulosa da família Buendía-Iguarán, com milagres, fantasias, obsessões, tragédias, incestos, adultérios, rebeldias, descobertas e condenações, representa ao mesmo tempo o mito e a história, o drama e o amor de um mundo inteiro. E a melhor homenagem que se pode fazer a García Márquez é lê-la. Compre o livro "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez. neste link.


O que disseram sobre o autor

“Nenhum escritor desde Dickens foi tão lido e tão amado quanto Gabriel García Márquez.” – Salman Rushdie

“Pode-se dizer que poucos autores escreveram livros que mudaram todo o curso da literatura. Gabriel García Márquez fez exatamente isso.” – Guardian

“Um dos autores mais visionários – e um dos meus favoritos de quando eu era jovem.” – Barack Obama


Sobre o autor
Gabriel García Márquez
nasceu em 1927 na aldeia de Aracataca, nas imediações de Barranquilla, Colômbia. Autor de alguns dos maiores romances do século XX e mestre do realismo mágico latino-americano, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Entre suas principais obras estão "Cem Anos de Solidão", "O Amor nos Tempos do Cólera", "Crônica de Uma Morte Anunciada", "Doze Contos Peregrinos", "Ninguém Escreve ao Coronel" e "Memória de Minhas Putas Tristes". Compre os livros de Gabriel García Márquez neste link.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

.: Antes do “pix” e da fatura do cartão, havia uma ovelha e Marcelo Viana conta


Por 
Helder Moraes Miranda, jornalista e crítico de cultura, especial para o portal Resenhando.com.

Antes de existir “pix”, senha de cartão ou aplicativo bancário, havia uma ovelha. Ou duas. Ou 20. E alguém precisava ter certeza de que nenhuma delas se perderia pelo caminho. Foi nesse instante primitivo, diante da fome e da urgência de sobreviver, que a humanidade inventou o gesto de contar. Não havia equações nem fórmulas, apenas riscos em ossos, marcas em pedras, pedaços de madeira talhados como lembretes desesperados. Cada risco não era apenas um número: era a garantia de que haveria alimento, de que a vida não se perderia no esquecimento.

É dessa cena inaugural - quase uma fábula de sobrevivência - que parte Marcelo Viana em "A Descoberta dos Números", livro lançado pela editora Tinta da China Brasil. O diretor do IMPA não se contenta em revisitar a matemática como disciplina escolar: ele a apresenta como epopeia humana, como uma invenção tão decisiva quanto o fogo ou a linguagem. A narrativa de Viana é a de que os números nasceram antes como necessidade visceral do que como abstração genial. Não havia “teorema” antes de haver fome; não havia “axioma” antes de haver inimigos a serem medidos.

E é essa perspectiva que torna o livro explosivo. Ao longo das páginas, o leitor é arrastado para uma viagem em que a matemática deixa de ser trauma escolar e passa a ser sangue correndo na veia da civilização. Se hoje é possível digitar um valor no aplicativo do banco e receber uma notificação instantânea, é porque em um dia remoto alguém, diante de um rebanho, decidiu criar uma técnica para não se perder. O “pix” que se usa em segundos carrega na origem as mesmas marcas rudimentares feitas por povos que precisavam controlar colheitas, dividir territórios ou organizar trocas.

Ousado, rigoroso e ao mesmo tempo acessível, "A Descoberta dos Números" desmonta a ideia ingênua de que a matemática é fria, neutra e sem drama. Muito pelo contrário: ela é uma narrativa de poder, de imaginação e de ousadia. Os números permitiram que impérios se erguessem, que guerras fossem planejadas, que religiões calculassem calendários sagrados. Contar não foi um gesto inocente, mas um ato político, cultural e até filosófico. Quem dominou os números sempre dominou mais do que cálculos: dominou destinos.

A escrita de Viana tem a clareza rara de quem sabe que contar uma história vale tanto quanto demonstrar uma fórmula. Ele abre alçapões no chão da história, revela conexões inesperadas e lembra o leitor de que os números são monumentos erguidos pelo homem diante do caos. Cada algarismo que hoje é usado de maneira automática é, na verdade, uma conquista, uma invenção, um salto civilizatório. O “2” nunca foi apenas o “2”: ele carrega a memória de dedos, de gado, de mercadorias, de vidas contadas e preservadas.

No final, quem está lendo percebe que os números não foram inventados para complicar boletins escolares ou castigar adolescentes em provas, mas para que a humanidade pudesse existir enquanto humanidade. Contar não é apenas somar quantidades, mas afirmar presença, reivindicar memória e planejar futuros. Essa é a grandeza do livro de Marcelo Viana: mostrar que a matemática não está isolada em torres de marfim, mas pulsa em tudo. Está no extrato bancário e na senha do streaming, no cronômetro do metrô e na fatura do cartão, no cálculo da inflação e na previsão do tempo. Ela governa silenciosamente o cotidiano, mas carrega em si o eco daquela primeira ovelha, contada com medo de se perder.

Ao terminar a leitura, o leitor descobre que não olha mais para os números da mesma maneira. O que antes parecia abstrato e distante se revela íntimo, visceral, histórico. "A Descoberta dos Números" é, em última instância, um lembrete poderoso: antes do “pix”, havia uma ovelha. E é nessa continuidade, entre a marca na pedra e a notificação no celular que a humanidade se reconhece. Compre o livro "A Descoberta dos Números", de Marcelo Viana, neste link.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

.: Arte, crime e destino se entrelaçam em novo romance de Edney Silvestre


Um dos nomes mais consagrados da literatura brasileira contemporânea, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance e com obras traduzidas em sete países europeus, Edney Silvestre retorna às livrarias com "O Último Van Gogh". Neste novo romance, o autor conduz o leitor por uma narrativa eletrizante que atravessa séculos e fronteiras, aproximando o gênio atormentado da realidade brasileira.

No final do século XIX, Vincent van Gogh travava sua batalha mais intensa: contra a rejeição a sua obra revolucionária, a pobreza extrema e os fantasmas que o levariam ao trágico fim em Auvers-sur-Oise. Entre pinceladas febris e noites de tormento, Van Gogh jamais poderia imaginar que uma de suas últimas telas, dada como perdida, atravessaria o tempo para mudar o destino de um jovem em busca de sobrevivência no Brasil.

 “Minha visão sobre quem Vincent realmente foi mudou radicalmente quando vi, em 2014, a exposição Van Gogh – o suicidado pela sociedade, no Museu d’Orsay, em Paris”, lembra Edney Silvestre. “Ali percebi o gigantesco equívoco de tratar sua arte e sua morte como fruto apenas de depressão. Vincent foi ridicularizado, rejeitado, empurrado ao suicídio por uma sociedade incapaz de compreender sua sensibilidade. Ele era, antes de tudo, um ‘invisível’.”

 Esse olhar atravessa o enredo contemporâneo de "O Último Van Gogh". O jovem Igor Brown, que vive no Rio de Janeiro de 2024, sobrevive entre relações passageiras e trabalhos sexuais, sustentado pela fachada de tradutor de Libras. Sua vida se transforma quando é envolvido em uma trama perigosa: o roubo de um quadro de Van Gogh desaparecido durante a Segunda Guerra. Escondida em um apartamento de luxo no Leblon, a pintura reacende conspirações, perseguições e escolhas de vida ou morte.

A gênese desse personagem também vem de experiências pessoais do autor. “Conforme comecei a imaginar a tela desaparecida, lembrei de outros ‘invisíveis’ que conheci fazendo reportagem, por volta de 2004/2005, nas cercanias da Central do Brasil. Crianças abandonadas, perseguidas, violentadas, esquecidas, como aquelas que, tempos atrás, foram massacradas na Candelária. A partir da história desses meninos nasceu Igor Brown - o michê de Copacabana, capaz de qualquer recurso para sobreviver”, revela Silvestre.

 Ao entrelaçar as vozes de Igor e Vincent, Edney cria uma narrativa que rompe as fronteiras do tempo e do espaço. “Juntos, nessa tessitura entre marginais de séculos diferentes, surgem os dois narradores do meu novo romance”. Com sua escrita envolvente e marcada pelo olhar sensível às contradições humanas, Edney Silvestre convida os leitores a mergulhar em uma história arrebatadora que une passado e presente, arte e crime, dor e redenção." O Último Van Gogh" chega às livrarias no final de setembro e terá noite de lançamento no Rio de Janeiro.


Sobre o autor
Edney Silvestre
 nasceu em Valença, no estado do Rio de Janeiro. Jornalista de longa carreira, se destacou na cobertura dos ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, para a Rede Globo quando era correspondente em Nova York. É vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura e do Jabuti. Seus livros já foram publicados em oito países. Dele, a Globo Livros publicou "Amores Improváveis", "Vidas Provisórias" e "Pequenas Vinganças".


Serviço
Lançamento do livro "O Último Van Gogh"
Terça-feira, dia 30 de setembro de 2025, às 19h00
Livraria da Travessa - Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Store 205 A - Shopping Leblon - Rio de Janeiro)

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

.: Michele Bouvier Sollack apresenta o livro “Rica de Propósito”


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação

Depois do evento realizado no Rio de Janeiro, onde reuniu políticos, empresários e personalidades da alta sociedade carioca, Michele Bouvier Sollack leva agora para São Paulo o lançamento de sua primeira obra, “Rica de Propósito” (Literare Books International, 168 páginas). O encontro na Livraria Travessa do Shopping Iguatemi, no dia, 17 de setembro, a partir das 19h00.

“Meu objetivo é mostrar que riqueza não se resume ao saldo bancário. Ela está ligada à clareza emocional, ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional e à capacidade de fazer escolhas que sustentem um propósito verdadeiro”, afirma Michele, que também é fundadora do grupo C7 Educação e Saúde. A obra chega em um momento crucial: segundo o IBGE, as mulheres já representam 34% das donas de negócios no Brasil, mas ainda enfrentam obstáculos estruturais, como acesso a crédito e conciliação entre maternidade, carreira e empreendedorismo. 

Michele propõe um caminho que integra autoconhecimento, produtividade assertiva e inteligência emocional como pilares de resultados financeiros sólidos e sustentáveis. “Este livro é como um mapa. Ele guia a leitora a transformar inseguranças em confiança, decisões em lucros reais, sempre conectando resultados financeiros com valores humanos”, completa a autora. Agora, em São Paulo, a expectativa é que “Rica de Propósito” inspire novas trajetórias e conquiste mais mulheres empreendedoras em busca de independência, equilíbrio e prosperidade. Outros estados estão sendo agendados, como Brasília, Salvador e Fortaleza.


Serviço
Lançamento do livro “Rica de Propósito” de Michele Bouvier Sollack
Dia 17 de setembro / 4ª feira
Às 19h
Livraria Travessa - do Shopping Iguatemi -São Paulo
Av. Brig. Faria Lima, 2232 - Piso Superior - Jardim Paulistano, São Paulo -
Venda on-line: Literare Books
Valor: R$ 79,90
Editora Literare Books International
168 páginas

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

.: "Sodomita", de Alexandre Vidal Porto, é tema de encontro on-line e gratuito


Autor participará do Encontro de Leituras de setembro, projeto que nasce da colaboração editorial entre o jornal português Público e a revista Quatro Cinco Um. Foto: divulgação


O escritor Alexandre Vidal Porto é o convidado do próximo Encontro de Leituras de setembro, na terça-feira, dia 9 de setembro, às 18h00 no Brasil (horário de Brasília) e 22h00 em Portugal. A conversa gira em torno do livro "Sodomita", publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2023 e pela Tinta da China em Portugal em 2024.  Para participar, basta acessar a plataforma Zoom no dia e horário do evento através do ID 821 6606 8914 e da senha de acesso 088951, ou clicar neste link.

O romance é baseado na história do violeiro Luiz Delgado, que foi exilado de Portugal para o Brasil em 1669 acusado do crime de sodomia, termo usado para homossexualidade à época. A partir daí, Vidal Porto explora temas complexos da sexualidade e identidade, abordando questões de diversidade sexual e preconceito por meio de uma perspectiva histórica. 

A narrativa acompanha como Delgado se reinventa e se estabelece como comerciante de tabaco na Bahia no século XVII, construindo uma obra que questiona normas sociais e religiosas. O livro recebeu o Prêmio Biblioteca Nacional 2024 na categoria romance. Vidal Porto é reconhecido por sua prosa incisiva e capacidade de abordar temas polêmicos com sensibilidade literária. Sua trajetória inclui diversas obras que investigam as complexidades das relações humanas e os conflitos entre tradição e modernidade.

Vencedor do Prêmio Paraná de Literatura com Sérgio Y. vai à América (Companhia das Letras, 2014) e do Prêmio Mix Literário 2023 com Sodomita, Vidal Porto publicou também Matias da Cidade (Record, 2005; Companhia das Letras, 2023) e Cloro (Companhia das Letras, 2018), finalista do Prêmio Jabuti. O evento não é transmitido nas redes nem disponibilizado depois. É uma experiência para ser vivida por aqueles que se juntam à sessão. Os melhores momentos são publicados no podcast Encontro de Leituras, disponível no Spotify, Apple Podcasts, SoundCloud e outros aplicativos de áudio. Compre o livro "Sodomita", de Alexandre Vidal Porto, neste link.


Sobre o Encontro de Leituras
O Encontro de Leituras resulta da colaboração editorial entre o jornal português PÚBLICO e a revista Quatro Cinco Um, focando em obras literárias disponibilizadas em ambos os países. Reunindo leitores de língua portuguesa, o Encontro discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. 

Os encontros são gratuitos e acontecem sempre nas segundas terças-feiras de cada mês, às 18h do Brasil e 22h de Portugal. O evento não é transmitido nas redes sociais, nem disponibilizado depois. É uma experiência para ser vivida por aqueles que se juntam à sessão. Os melhores momentos são depois publicados no podcast Encontro de Leituras, disponível no Spotify, Apple Podcasts, SoundCloud ou outros aplicativos habituais. 

A parceria entre a Quatro Cinco Um e o Público conta com um espaço editorial fixo nos dois veículos e uma newsletter mensal sobre o trânsito literário e editorial entre os países de língua portuguesa. A editoria especial publica materiais jornalísticos sobre autores do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e Timor que tenham sido lançados dos dois lados do oceano. A newsletter mensal traz notas, curiosidades, imagens e informações sobre as novidades das livrarias e os eventos literários em Lisboa, São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades onde se fala português. De vez em quando, na programação de festivais e em outras ocasiões, eventos presenciais são realizados. Compre os livros de Alexandre Vidal Porto neste link.

Sobre a Revista Quatro Cinco Um
Publicada em edição impressa, site, newsletters, podcasts e clubes de leitura, a revista dos livros seleciona e divulga mensalmente cerca de duzentos lançamentos em mais de vinte áreas da produção editorial brasileira. 

Em linguagem clara, sem jargões nem hermetismo, os textos são assinados por nomes de destaque da crítica e da cultura. Tendo o pluralismo e a bibliodiversidade como nortes editoriais, a Quatro Cinco Um busca misturar em sua pauta diferentes gerações, sensibilidades e pontos de vista. Projetos editoriais especiais focalizam temas relevantes, tais como cidades, democracia e justiça, literatura infantojuvenil, literatura japonesa, literatura francesa, literatura israelense e livros LGBTQIA+. 

Desde 2019, a revista publica o 451 MHz, primeiro podcast da imprensa profissional dedicado exclusivamente a livros. Acreditamos no livro como objeto de transformação individual e coletiva, com base no princípio de que não há sociedade democrática sem ampla circulação de livros.


Serviço
Encontro de Leitores com Alexandre Vidal Porto
Terça-feira, dia 9 de setembro
Horários: 18h00 do Brasil e 22h00 de Portugal
Modalidade: on-line e gratuito, via Zoom
Participe: https://us06web.zoom.us/j/82166068914?pwd=tRf7ZQFEmF6b7hF8b6wzLQz2fbMJ9Q.1 
ID: 821 6606 8914
Senha de acesso: 088951

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