Ficha técnica
"Buraco Quente - Antologia de Literatura Erótica Feminina"
Serviço
Compre o livro "Buraco Quente - Antologia de Literatura Erótica Feminina" neste link.
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Escrever a partir da primeira pessoa, as chamadas “escritas de si”, enseja paixões de especialistas e do público em geral. O debate, no entanto, usualmente se estabelece na dimensão afetiva, dos gostos pessoais. Para fugir da banalização do termo, que desponta como a marca da escrita do início do século, as organizadoras compilam alguns pontos para uma discussão mais proveitosa. No livro, estão reunidos grandes nomes que despontam no cenário literário brasileiro, escritoras e escritores, críticas e críticos interessados nos temas da autoficção, do relato, da escrevivência, da memória, entre outros. Na primeira parte desta coletânea, “Eu e Nós: gêneros Instáveis”, estão reunidos ensaios que revisam e testam a instabilidade das classificações. A segunda, “Eu Disputa: conceitos em Debate”, apresenta textos que tensionam a calcificação dos termos críticos. E, por fim, “Eu Escrevo: a Própria Voz” aproxima sujeito e verbo no enunciado para narrar à luz da própria experiência.
O livro apresenta uma diversidade de escritas, com ensaios mais acadêmicos, outros mais poéticos, outros mais jornalísticos, todos contundentes, sobre os limites entre ficção e realidade, explorando os vários jeitos e conceitos de narrar centrados no "eu". Além das organizadoras, "Eu Escreve" traz ensaios de Adriano Schwartz, Amara Moira, Andrea Saad Hossne, Anna Faedrich, Bianca Santana, Bruna Mitrano, Camilo Gomide, Diana Klinger, Felipe Charbel, Ieda Magri, Isabela C. Lopes, Joselia Aguiar, Julián Fuks, Julio Pimentel Pinto, Lubi Prates, Luciene Azevedo, Mariana Delfini, Samara Lima, Tatiana Salem Levy, Trudruá Dorrico e Yasmin Santos.
"Eu Escreve: dilemas das Escritas de Si" não traz respostas absolutas; em troca, oferece possibilidades para a compreensão de uma questão antiga, mas que, com especificidades contemporâneas, exige novas abordagens. Este é um convite para expandir as fronteiras da nossa observação e esgarçar os limites entre fato e ficção, para então refletir sobre quem, como, onde, por que e o que se escreve neste início de século. Compre o livro "Eu Escreve: dilemas das Escritas de Si" neste link.
Sobre as organizadoras
Gabriela Aguerre é escritora, jornalista e professora de escrita criativa. Graduou-se em comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, cursou linguística na Universidade de São Paulo, trabalhou por duas décadas na Editora Abril (foi diretora da revista Viagem e Turismo) e fez a pós-graduação de formação de escritores no Instituto Vera Cruz, onde atua como professora desde 2018. Em 2019 publicou seu primeiro romance, "O Quarto Branco" (Todavia), finalista do Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário e do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Romance de Ficção de Estreia, ambos em 2020.
Natalia Timerman é médica psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo, mestra em psicologia pela Universidade de São Paulo e doutoranda em teoria literária e literatura comparada da mesma universidade. É autora da não ficção "Desterros: histórias de Um Hospital-prisão" (Elefante, 2017; Todavia, 2025), da coletânea de contos "Rachaduras" (Quelônio, 2019), indicada ao Prêmio Jabuti, e dos romances "Copo Vazio" (Todavia, 2021) e "As Pequenas Chances" (Todavia, 2023). Foi selecionada para a Art Omi: Writers, residência literária em Ghent, Nova York, em 2025. Compre o livro "Eu Escreve: dilemas das Escritas de Si" neste link.
Além da autora, o lançamento tem a participação da escritora Ana Maria Gonçalves, da filósofa Sueli Carneiro e do músico Tiganá Santana, que integram o conselho do Ancestralidades, e mediação da escritora e jornalista Bianca Santana. O público presente no evento receberá um exemplar da publicação. A programação conta, ainda, com transmissão ao vivo pelo YouTube do Itaú Cultural www.youtube.com/itaucultural em duas modalidades: uma com tradução simultânea para o português e outra com o áudio original, em inglês.
Como todas as atividades do Itaú Cultural, os ingressos podem ser reservados pela plataforma INTI, com acesso pelo site www.itaucultural.org.br. Quem não conseguir fazer a reserva, pode comparecer no dia do evento e tentar adquirir um possível tíquete remanescente. Uma hora antes do início é formada uma fila de espera por ordem de chegada, para distribuir os ingressos que tiveram desistência.Compre o livro "Estudos Africanos de Gênero" neste link.
Base continental
O livro "Estudos Africanos de Gênero" é uma coletânea na qual Oyèrónké Oyewùmí reúne textos sobre a temática de gênero, assinados por autores e autoras africanos, vindos de diferentes etnias, nacionalidades, perspectivas teóricas e idiomas.
Esse panorama mostra diversas reflexões sobre o tema, que vêm sendo feitas no continente africano. As temáticas estão divididas por capítulos, cujas abordagens vão de questões de gênero sob aspectos como corpo e espiritualidade até decolonialidade, pós-colonialidade, epistemologias, matriarcado, cosmologias, identidades, casamento, preconceitos, liderança, sexualidade, cultura impressa, desenvolvimento, teoria, produção acadêmica e as definições de mulher.
O livro teve tradução para o inglês em 2005 e agora ganha a primeira versão em português dentro da coleção Plataforma Ancestralidades. Um dos estímulos para esta iniciativa foi a recorrente citação à versão da obra em inglês nas referências bibliográficas dos projetos selecionados na primeira edição do edital Programa Ancestralidades de Valorização à Pesquisa, de 2022.
Sobre a autora
Oyèrónké Oyewùmíé cientista social, teórica e feminista. De importante linhagem iorubá, nasceu em 1957, na cidade de Ògbọ́mọ̀sọ́, no Estado de Oyó, na Nigéria. É também professora de Sociologia na Faculdade de Artes e Ciências na Stony Brook University, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Na academia, fez o curso superior de Ciência Política na University of Ibadan, na Nigéria. Concluiu o doutorado em Sociologia em 1993, na University of California, em Berkeley, defendendo a tese Mothers Not Women: Making an african sense of western gender discourses (Mães e Não Mulheres: Criando um sentido africano para os discursos de gênero ocidentais, em tradução livre do inglês), publicada como The invention of women: making an african sense of western gender discourses (A Invenção das Mulheres: Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero).
Sobre a Ancestralidades
A plataforma Ancestralidades foi criada em 2021 pelo Itaú Cultural e a Fundação Tide Setubal, com a proposta de difundir, gerar intercâmbios e potencializar diversos conteúdos sobre a temática que dá nome ao projeto. Ela é composta pelos eixos temáticos Arte e Cultura, Democracia e Direitos Humanos, Religiosidade e Espiritualidade e Ciência e Tecnologia, disponibilizando, ainda, verbetes sobre as raízes afro-brasileiras em um acervo que será atualizado ao longo do tempo.
Com o objetivo de formar e criar repertórios sobre o assunto, a plataforma apresenta biografias e trajetórias de personalidades negras e suas histórias. Também disponibiliza listagem de marcos históricos desde o início do século XVI e conceitos sobre o tema, como raça, gênero, quilombo e afrofuturismo, entre outros.
Serviço
Lançamento do livro "Estudos Africanos de Gênero" (WMF Martins Fontes)
Com participação da autora Oyèrónké Oyewùmí, e da escritora Ana Maria Gonçalves, a filósofa Sueli Carneiro e o músico Tiganá Santana. Mediação: Bianca Santana
Sala Itaú Cultural (piso térreo)
Classificação indicativa: livre
Transmissão ao vivo pelo YouTube do Itaú Cultural www.youtube.com/itaucultural
Entrada gratuita. Reservas de ingressos a partir do dia 15 de julho (terça-feira), a partir das 12h, na plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
Todos os presentes receberão gratuitamente um exemplar do livro.
Protocolos / Sala Itaú Cultural
- É necessário apresentar o QR Code do ingresso na entrada da atividade até 10 minutos antes do seu início. Após esse período, o ingresso será invalidado e disponibilizado na bilheteria.
- Se os ingressos estiverem esgotados, uma fila de espera presencial começará a ser formada 1 hora antes da atividade. Caso ocorra alguma desistência, os lugares vagos serão ocupados por ordem de chegada.
- O mezanino é liberado mediante ocupação total do piso térreo.
- A bilheteria presencial abre uma hora antes do evento começar.
Devolução de ingresso
Até duas horas antes do início da atividade, é possível cancelar o ingresso diretamente na página da INTI, assim outra pessoa poderá utilizá-lo. Na área do usuário, selecione a opção “Minhas compras” no menu lateral, escolha o evento e solicite o cancelamento no botão disponível.
Programação sujeita a cancelamento
O Itaú Cultural informa que sua programação poderá ser cancelada em virtude de questões extraordinárias. Nesse caso, os ingressos adquiridos perdem a validade. O público que reservou o ingresso será notificado por e-mail. Um eventual reagendamento da programação ficará a exclusivo critério do IC, de acordo com a disponibilidade de agendas, sem preferência para quem adquiriu os ingressos anteriormente.
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô
De terça-feira a sábado, das 11h00 às 20h00. Domingos e feriados, das 11h00 às 19h00.
Informações: pelo telefone (11) 2168.1777 e wapp (11) 9 6383 1663
E-mail: atendimento@itaucultural.org.br
Acesso para pessoas com deficiência física
Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
Werneck não só comenta Clarice Lispector, Rubem Braga e Fernando Sabino como se estivesse em um bate-papo informal - ele os costura com o cuidado de quem também é parte do tecido. Entre crônicas sobre uísque, chuva, fotografia e República, o jornalista transforma o gênero “maleável e indefinido” em mapa e espelho de um Brasil realista e fantástico, às vezes no mesmo parágrafo.
Nesta conversa exclusiva ao rés do chão com o Resenhando.com, Werneck fala do patinho feio da literatura, dos jogos de futebol com poetas e das dores e delícias de ser cronista em um país que parece sempre em véspera de alguma coisa. E prova, mais uma vez, que escrever bem é mais que talento: é saber escutar a rua com os ouvidos de quem consegue interpretar as entrelinhas da vida. Compre o livro "Viagem no País da Crônica" neste link.
Resenhando.com - Se a crônica é o patinho feio da literatura, quem seria o cisne da vez - o romance autoficcional ou o livro de autoajuda disfarçado de literatura?
Humberto Werneck - O cisne da vez pode ser um desses dois, ou ambos. O primeiro, tão em moda, me sugere anemia criadora. O segundo, nem isso.
Resenhando.com - Entre o meio-fio e a torre de marfim: como foi sobreviver a décadas de jornalismo sem ceder ao clichê do cronista que vira personagem de si mesmo?
Humberto Werneck - O jornalismo, ao contrário da literatura, busca ser objetivo e impessoal. Talvez isso explique que alguns jornalistas, na hora de serem cronistas, vão à forra, concentrando-se na observação do próprio umbigo.
Resenhando.com - Tem alguma crônica que você se arrepende de não ter escrito - ou pior, alguma que gostaria de ter assinado no lugar de Clarice Lispector, Rubem Braga ou Fernando Sabino?
Humberto Werneck - Arrependimento? Nenhum. Mas perdi a conta das crônicas alheias que me enchem de inveja benigna. “Viúva na Praia”, de Rubem Braga, por exemplo. “Esquina”, de Mário de Andrade. “O Amor Acaba”, de Paulo Mendes Campos. “O Inventor da Laranja”, de Fernando Sabino. “Canção de Homens e Mulheres Lamentáveis”, de Antônio Maria.
Resenhando.com - Ao organizar essa “viagem” literária de janeiro a dezembro, que estação do ano você acha que o Brasil definitivamente não sabe viver?
Humberto Werneck - O Brasil se dá bem com todas as estações do ano, até porque, na barafunda climática cada vez maior, as quatro têm estado muito parecidas.
Resenhando.com - Carnaval, uísque, fé e futebol: qual desses temas envelheceu melhor nas crônicas?
Humberto Werneck - Talvez o futebol tenha envelhecido melhor - embora não me pareça hoje nem remotamente merecedor de um Nelson Rodrigues.
Resenhando.com - Qual foi a maior mentira já contada sobre a crônica brasileira - e por que ela ainda sobrevive?
Humberto Werneck - A crônica sobrevive porque todos nós gostamos de uma conversa boa. Quanto às mentiras... bem, estou pensando aqui em Alceu Amoroso Lima, um crítico para quem “uma crônica, num livro, é como um passarinho afogado”. E tem o Ledo Ivo, que falou da crônica como sendo ”esse gênero anfíbio que, pertencendo simultaneamente ao jornalismo e à literatura, assegura notoriedade e garante o esquecimento”. A frase, aliás, está num livro dele que se chama "O Ajudante de Mentiroso".
Resenhando.com - No fim das contas, escrever sobre o cotidiano com humor é mais sobre rir do mundo - ou sobre disfarçar o próprio desespero?
Humberto Werneck - Talvez seja uma tentativa de consertar o mundo e as coisas.
Resenhando.com - O que dói mais: a pressa do deadline de um jornal ou a lentidão do reconhecimento da crônica como gênero literário legítimo?
Humberto Werneck - Cronistas como Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Antônio Maria passaram anos escrevendo para o jornal do dia seguinte, e nesse regime brabo produziram textos capazes de atravessar o tempo. Com isso, se deram melhor do que muito contista e romancista que visava a eternidade, e cuja obra acabou não tendo a sobrevida de alguns recortes de jornal ou revista. O reconhecimento está chegando, mas ainda tem muito nariz cronicamente torcido para a crônica...
Resenhando.com - Ao costurar crônicas sobre a Revolução de 30, o golpe de 64 e a construção de Brasília, não deu vontade de escrever também sobre o golpe do PIX, o Enem da redação nula e a CPI do fim do mundo? A crônica ainda dá conta do Brasil de hoje?
Humberto Werneck - Para o bom cronista não há assunto que não sirva. Até mesmo a falta de assunto rendeu pérolas de mestres como Rubem Braga, Drummond ou Vinicius de Moraes. Drummond, aliás, deliciou os leitores com uma crônica sobre o que fazer com os pelos das orelhas. Por que o golpe do PIX, o Enem da redação nula e a CPI do fim do mundo não renderiam coisa boa de ler? A dificuldade não está no tema, mas da capacidade de tratá-lo sem que daí venha, em vez de crônica, um artigo ou editorial.
Resenhando.com - Se a crônica é uma conversa no meio-fio, o que fazer quando o leitor está com fone de ouvido, olhando pro celular e atravessando a rua sem olhar? Ainda dá pra puxar papo?
Humberto Werneck - Assim como acontece com o autor, não é sempre que o leitor está brilhante. Mas pode se dar também uma coincidência feliz, aquela em que, numa ponta e na outra, haja quem adore uma conversa boa.
Mais do que um livro sobre o luto, "Educação da Tristeza" é uma reflexão poderosa sobre envelhecer e encarar a própria mortalidade. Ao relembrar Isabel e Eduardo, Valter fala sobre chegar aos 50 anos - o medo do fim e a urgência de celebrar o tempo que ainda resta. No livro, o cotidiano fragmenta-se em lembranças, confissões, epifanias, observações e diálogos imaginários com quem partiu. São páginas com cheiro de café, rumor de gatos vadios, calor de uma lareira improvisada - tudo se mistura ao tom confessional do autor, que se recusa a deixar que a morte roube a alegria de quem fica.
Entre cartas, sonhos e reflexões que misturam delicadeza e brutalidade, Educação da tristeza toca o essencial: o amor, a saudade e a arte de permanecer humano mesmo quando tudo parece ruir. Um livro que faz da tristeza uma escola - e da memória, um lugar de festa. O livro, que está em pré-venda, marca o retorno de Valter Hugo Mãe à FLIP — a Festa Literária Internacional de Paraty, 14 anos após a estreia histórica no evento. O autor participa de uma mesa mediada por Walter Porto (Folha de S.Paulo) no dia 1º de agosto, com apoio da Netflix, que também celebra a adaptação de "O Filho de Mil Homens". Em seguida, Valter fará um lançamento com sessão de autógrafos em São Paulo. Compre o livro "Educação da Tristeza", de Valter Hugo Mãe, neste link.
Serviço
FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty
Mesa extra "Escritor de Dois Mundos", com Valter Hugo Mãe. Mediação de Walter Porto, da Folha de S.Paulo
Sexta-feira, 1º de agosto, às 13h30 - Auditório da Matriz
Apoio: Netflix, com destaque para o filme inspirado em "O Filho de Mil Homens" (presença do diretor Daniel Rezende).
Ingressos à venda a partir de 17 de julho no site oficial da FLIP.
Lançamento em São Paulo
Segunda-feira, 4 de agosto, às 19h00
Livraria Martins Fontes Paulista - Av. Paulista, 509 - Bela Vista / São Paulo
Ripley não é exatamente um personagem, mas um sintoma. Patricia Highsmith, com prosa afiada, constrói um romance em que a identidade é uma performance calculada, e o desejo - de ser, de ter, de pertencer - é a verdadeira motivação do crime. Ao contrário do que se espera de um “romance policial”, não se busca justiça, mas um alívio que Highsmith não entrega. Ela quer o leitor como cúmplice.
Logo no início, o leitor é lançado em uma Nova York turva, paranoica, onde Tom já se vê perseguido. Mas não é paranoia gratuita - alguém de fato o segue. E assim começa o jogo de gato e rato em que o leitor jamais sabe ao certo quem é quem. Se Hitchcock tivesse adaptado Ripley (em vez de "Pacto Sinistro", também da autora), teria feito um thriller sobre espelhos, porque Ripley - ao contrário de tantos vilões - não quer destruir o outro. Ele quer ser o outro.
Dickie Greenleaf, a peça central desse desejo projetado, não é apenas uma vítima: é o bilhete dourado para uma vida idealizada que vem com prazo de validade. Highsmith é cruel, mas justa - faz com que Ripley seduza o leitor ao mesmo tempo em que mancha as mãos com sangue. E o mais inquietante? O leitor torce por ele.
A cada capítulo, Highsmith afasta do “quem matou?” e vai direto na pergunta que interessa: “por que nos sentimos tão fascinados por quem matou?”. Ripley, como Gatsby, é um construtor de ilusões; mas onde Fitzgerald deixou a ternura, Highsmith plantou o vazio - e esse abismo é a grandeza do livro. A edição da Intrínseca respeita o clima do texto, com projeto gráfico elegante e tradução competente de José Francisco Botelho. Mas a força continua sendo o texto original, que encara com o mesmo olhar inquisidor que Tom lança aos seus alvos. E, quem sabe, aos leitores.
"O Talentoso Ripley" é um convite para examinar as zonas cinzentas que existem em cada um. Não se trata de amar um anti-herói, mas de reconhecer que a linha entre o que as pessoas são e o que fingem ser é, muitas vezes, tênue como o rastro de um barco milionário no mar de San Remo. Patricia Highsmith, com este romance, escreveu um dos tratados mais perversos e sedutores sobre a identidade como um teatro, o crime como arte, e a moral como um luxo que só os ricos podem bancar - até serem assassinados. Compre o livro "O Talentoso Ripley" neste link.
Lançado pela editora Faria e Silva, do Grupo Editorial Alta Books, o livro tem uma história que leva o leitor ao Rio de Janeiro do Brasil Império e nos coloca diante de um encontro surpreendente entre os personagens machadianos e o demoníaco conde Drácula que se oculta no Paço Imperial. A crônica social de Machado se mistura com naturalidade ao terror epistolar de Bram Stoker. O leitor se diverte com as divertidas incursões de Brás Cubas pelas ruas do então elegante centro do Rio e nos aterrorizamos com as visitas de Drácula à frágil e impulsiva Capitu.
Inteligente, divertido e assustador, "Quincas Borba e o Nosferatu" reflete um longo trabalho de pesquisa de Edson Aran e evidencia sua paixão pela literatura, pelos romances clássicos e, acima de tudo, pela arte de escrever. Compre o livro "Quincas Borba e o Nosferatu" neste link.
Sobre o autor
Edson Aran é autor de 13 livros de ficção e não-ficção. Entre eles, estão o best-seller "Conspirações" - tudo o que não querem que você saiba, a sátira cyberpunk "Delacroix Escapa das Chamas" e "Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira", indicado ao Prêmio Jabuti na categoria Crônicas. Aran também atua como jornalista e comandou as principais revistas masculinas do país, incluindo Playboy e VIP. Desde 2013, se dedica aos roteiros de cinema e TV. Compre o livro "Quincas Borba e o Nosferatu" neste link.
O autor Adelmo Marcos Rossi começa, no dia 26 de julho, uma leitura coletiva e comentada do seu livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo", conduzida ao vivo pelo Google Meet, sempre aos sábados, das 19h às 21h. A proposta é analisar, parágrafo por parágrafo, como a obra revela uma psicologia conceitual presente em Machado de Assis - antecipando até mesmo descobertas que seriam atribuídas, décadas depois, a Freud.
Durante os encontros, o pesquisador abordará temas como o medo da castração, o riso enquanto defesa, o trágico imprevisível da vida (caiporismo), entre outros conceitos psicológicos. A leitura revela como o Bruxo do Cosme Velho se apoiava em estruturas simbólicas profundas da cultura humana, promovendo uma investigação literária que transcende o tempo e o gênero. Compre o livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo" neste link.
Sobre o autor
Engenheiro civil (UFES, 1980), mestre em Ciência de Sistemas (Tóquio, 1990), psicólogo (UFES, 2010), mestre em Filosofia (UFES, 2015) e microempresário, Adelmo Marcos Rossi dedica quase 15 anos aos estudos sobre psicanálise. Fundador do Grupo de Pesquisa do Narcisismo, também é autor do livro “A Cruel Filosofia do Narcisismo - Uma Interpretação do Sonho de Freud” (2021). Após um longo período de pesquisa acerca das relações entre as obras machadiana e freudiana, publicou "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo". Compre o livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo" neste link.
Serviço
Leitura comentada do livro "O Imortal Machado de Assis - Autor de Si Mesmo"
A partir de 26 de julho de 2025, aos sábados, das 19h00 às 21h00
Plataforma Google Meet
Duração: semanal, até a conclusão do livro
Inscrições e informações: Juliana Santa Clara Moreira – (27) 99767-6328
O Memorial da Resistência de São Paulo, com a Editora Vozes, realiza neste sábado, dia 12 de julho, a partir das 14h00, o evento “Brasil: Nunca Mais - 40 Anos”, em celebração às quatro décadas da publicação da obra que se tornou referência na luta pelos direitos humanos no Brasil. É a 43ª edição do livro e o primeiro lançamento público do livro em 40 anos, com presença de parte da equipe que driblou a ditadura em um trabalho realizado em sigilo absoluto que recebeu o codinome de “Projeto A”.
Entre as presenças confirmadas, estão Paulo Vannuchi - jornalista, ex-preso político, ex-ministro dos Direitos Humanos e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; Frei Betto - Frade Dominicano, jornalista, escritor brasileiro e ex-preso político; e Ricardo Kotscho - jornalista, escritor e secretário de imprensa no governo Lula 1. Conhecido como a mais ampla pesquisa já realizada pela sociedade civil sobre a tortura no Brasil durante a Ditadura Civil-Militar (1964–1985), o livro "Brasil: Nunca Mais", lançado em julho de 1985, ficou 92 semanas na lista dos livros mais vendidos de não ficção no Brasil.
Empreendido entre 1979 e 1985, o projeto "Brasil: Nunca Mais" é a mais ampla pesquisa já realizada pela sociedade civil sobre a tortura no Brasil durante a Ditadura Civil-Militar (1964–1985), o projeto foi conduzido sob sigilo por advogados, jornalistas e defensores de direitos humanos, que acessaram legalmente os arquivos do Superior Tribunal Militar (STM) e fez cópias de mais de 700 mil páginas de processos, nos quais vítimas e testemunhas relataram torturas, prisões arbitrárias e outros crimes cometidos por agentes do Estado.
Com base nesse vasto material documental, o livro revelou ao público nacional e internacional a dimensão das violações sistemáticas dos direitos humanos no Brasil, se tornando um marco na redemocratização e na construção de políticas de memória e justiça. A publicação teve repercussão imediata e "Brasil: Nunca Mais" ficou 92 semanas na lista dos livros mais vendidos de não-ficção no Brasil quando foi lançado, além de ter sido publicado simultaneamente no exterior como estratégia de proteção e visibilidade. A iniciativa inspirou projetos semelhantes em outros países da América Latina e ajudou a consolidar o debate sobre verdade, reparação e justiça de transição.
A programação do evento inicia-se com uma visita mediada pelo curador da exposição, Diego Matos, seguida de uma mesa com convidados que participaram da redação e coordenação editorial do livro, com mediação do jornalista Camilo Vannuchi, que também apresentará seu novo podcast sobre a memória do projeto "Brasil: Nunca Mais". O encerramento terá venda da edição comemorativa da obra (43ª edição) pela Editora Vozes, coquetel de confraternização e sessão de autógrafos do livro.
Curiosidades sobre o projeto
O trabalho foi realizado em sigilo absoluto e recebeu o codinome de “Projeto A”. Os documentos copiados foram enviados para fora do Brasil e microfilmados nos Estados Unidos, para garantir sua segurança. A produção contou com o apoio logístico da Arquidiocese de São Paulo, tornando-se um raro caso de cooperação entre igrejas cristãs e movimentos de direitos humanos durante a ditadura. A sistematização dos dados resultou em um dos primeiros grandes bancos de dados sobre violações de direitos humanos na América Latina. “Compre a edição comemorativa de 40 anos de "Brasil: Nunca Mais" neste link.
Equipe do projeto BNM, legenda da Esquerda para a direita: Dom Paulo Evaristo Arns, Reverendo Jaime Wright, Philipe Potter- secretário de Conselho Mundial de Igrejas, Charles Roy Harper Jr.- Pastor brasileiro e membro do Conselho Mundial de Igrejas em Genebra. Rabino Henry Sobel, o jurista Hélio Bicudo, Frei Betto, Paulo de Tarso Vannuchi, Luiz Eduardo Greenhalgh, Ricardo Kotscho, Eny Raimundo Moreira, Leda Corazza, Carlos Lichtsztejn, Anivaldo Padilha, Luis Carlos Sigmaringa Seixas, Marco Aurélio Garcia e Petrônio Pereira de Souza
Programação
Espaço expositivo - 3º andar
14h00 | Visita mediada à exposição temporária Uma Vertigem Visionária — Brasil: Nunca Mais, com o curador Diego Matos
Inscrições abertas: Visita mediada "Uma Vertigem Visionária - Brasil: Nunca Mais" (vagas limitadas)
Auditório - 5º andar
15h00 | Abertura oficial
Com Ana Pato, Diretora Técnica do Memorial da Resistência de São Paulo, e Thiago Alexandre Haykawa, diretor da Editora Vozes.
15h15 | Apresentação e lançamento da série em podcast "Nunca Mais"
Produção pela NAV Reportagens e narrado pelo jornalista e escritor Camilo Vannuchi.
15h30 | Mesa de debate “Brasil: Nunca Mais - 40 Anos”
Com a participação de Paulo Vannuchi, jornalista e cientista político; Ricardo Kotscho, jornalista e escritor; e Frei Betto, frade dominicano e escritor — ambos diretamente envolvidos na elaboração do projeto original. A mediação será conduzida pelo jornalista e escritor Camilo Vannuchi.
16h30 | Confraternização
Coquetel, venda de livros e sessão de autógrafos
16h30 | Coquetel e sessão de autógrafos
Memorial da Resistência de São Paulo
Largo General Osório, 66 – Santa Efigênia / São Paulo - SP
O romance acompanha Ana, uma escritora de meia-idade que, diante do fim de um casamento de 25 anos, mergulha em questões existenciais e afetivas. Ao buscar respostas fora da racionalidade com a ajuda de um místico, a protagonista embarca em uma jornada de reencontro consigo mesma, marcada por embates familiares, descobertas e transformações profundas.
Em "O Bruxo", publicação da editora Instante, a autora trata de temas como amor, envelhecimento, amizade, doença e renascimento, e lança um olhar agudo sobre as contradições humanas. A escrita precisa e sensível de Maria Adelaide Amaral conduz o leitor por uma trama que dialoga com a experiência feminina e os dilemas universais do viver. Com mais de 30 obras publicadas e uma trajetória premiada no teatro, literatura e televisão, a autora é uma das vozes mais potentes da cultura brasileira. Compre o livro "O Bruxo" neste link.
Serviço:
Lançamento do livro "O Bruxo", de Maria Adelaide Amaral
Sábado, dia 12 de julho
Das 15h00 às 18h00
Livraria das Perdizes
Rua Bartira, 317, Perdizes - São Paulo / SP
Entrada: franca – estacionamento no local
Em tempos de ruído, Ricardo Martins escolheu escutar. Ouviu a mata pulsando sob os pés, os xapiripë sussurrando entre galhos, e o chamado de um povo que ainda insiste em existir com dignidade onde quase tudo conspira contra. Consagrado por capturar a beleza bruta da natureza brasileira, o fotógrafo e documentarista se jogou em uma das mais radicais experiências da carreira: conviver com os Yanomami, um dos últimos povos originários isolados da floresta amazônica, e registrar a intimidade deles sem invadi-la.
Surgiram daí o livro “Os Últimos Filhos da Floresta” e a série “Aventura Fotográfica Yanomami”, que estrearam no MIS-SP como um chamado poético, político e urgente. Mas este não é apenas mais um projeto de imagens: é também um gesto de devolução. Parte da renda financia a construção de uma escola na aldeia Hemare Pi Wei, um pedido das lideranças indígenas e um símbolo da ponte possível entre mundos.
Nesta entrevista exclusiva ao Resenhando.com, Ricardo Martins conversa sobre fronteiras éticas, espiritualidade, colonialismo contemporâneo, fotografia como afeto - e sobre o que, mesmo depois de 15 livros, ele ainda não conseguiu traduzir com uma lente. Prepare-se para mergulhar em um território onde o retrato vira reza, a arte vira dívida, e a floresta, enfim, responde. Compre os livros de Ricardo Martins neste link.
Resenhando.com - Você já fotografou vales, serras, bichos e cidades. Mas e os silêncios dos Yanomami - você conseguiu capturar algum nas imagens? Justifique.
Ricardo Martins - Os silêncios dos Yanomami aparecem no gesto de uma criança que observa quieta, no olhar profundo de um ancião, no intervalo entre uma palavra e outra dita ao redor da fogueira. Eu tentei, com todo respeito, deixar espaço para que esses silêncios respirassem dentro das imagens — sem invadir, sem traduzir demais. Acho que quem vê as fotos com o coração aberto, talvez consiga ouvi-los também.
Resenhando.com - Ao ouvir de um líder indígena que seu nome “ecoou pela floresta”, o que ecoou em você naquele instante? Algum Ricardo ficou pra trás?
Ricardo Martins - Naquela hora, não ecoou só o meu nome — ecoou tudo o que eu vivi até chegar ali. Ecoaram as escolhas, as renúncias, as perguntas que me acompanham desde sempre. Um Ricardo mais apressado, mais urbano, mais ansioso ficou pra trás sim. Porque ali, na floresta, o tempo é outro. O ouvir é outro. E ser chamado de verdade por alguém que carrega a sabedoria do território me fez entender que eu estava sendo visto, mas também sendo acolhido.
Resenhando.com - “Os Últimos Filhos da Floresta” é um título quase apocalíptico. Você o escolheu com tristeza, urgência ou revolta?
Ricardo Martins - Eu escolhi com um pouco de tudo isso: tristeza, urgência e revolta. Mas acima de tudo, com amor. O título não é um fim — é um grito. Um aviso. Os Yanomami são guardiões de um mundo que está desaparecendo, e a gente precisa parar de fingir que isso não está acontecendo. O livro é um tributo, mas também é um alarme.
Resenhando.com - Documentar é escolher o que entra no enquadramento. Do que você teve que abrir mão para respeitar o invisível sagrado dos Yanomami?
Ricardo Martins - Abri mão da pressa. Abri mão da lógica do “conteúdo” que tudo quer mostrar. Não fotografei cerimônias que me pediram para não registrar. Não fiz perguntas que atravessassem barreiras sagradas. Eu estava ali como hóspede, e mais do que documentar, eu precisava escutar — mesmo quando a escuta era em silêncio.
Resenhando.com - Na hora de dormir na mata ou presenciar um ritual, em que momento o fotógrafo cedeu lugar ao homem?
Ricardo Martins - Quando escurece na floresta e o barulho do mundo de fora some, é o homem que sente medo, frio, beleza, presença. Nessas horas, a câmera até pode estar ao lado, mas ela perde força. Eu dormi em rede, me alimentei com eles, vivi o dia como eles vivem. E percebi que fotografar também é um gesto humano, mas ele precisa vir depois da escuta, depois do respeito.
Resenhando.com - Sua contrapartida foi a construção de uma escola. Você acredita que a câmera pode ser um tipo de ponte - ou também pode ser um invasor disfarçado?
Ricardo Martins - Ela pode ser os dois. Tudo depende de como se usa, de onde vem o olhar. Se você entra com a câmera como se ela fosse uma arma ou um troféu, ela vira invasora. Mas se ela vem junto com o coração, com o tempo, com o propósito verdadeiro — ela vira ponte. Minha intenção com o projeto sempre foi devolver algo real, algo que ficasse. A escola é essa devolução concreta. A fotografia, espero, seja também.
Resenhando.com - Os xapiripë, os espíritos brincalhões da floresta, aparecem nas fotos? Ou são justamente aquilo que escapa de toda lente?
Ricardo Martins - Eles escapam, claro. E ainda bem que escapam. A fotografia pode até registrar uma atmosfera, um brilho estranho na neblina, um movimento sutil… Mas os xapiripë vivem num plano que não se deixa capturar. Eles dançam no invisível. E talvez, quem olhar com atenção, sinta a presença deles - mesmo que não veja.
Resenhando.com - Se fosse possível mostrar apenas uma imagem desse projeto ao presidente da República, qual seria — e o que ela gritaria, em silêncio, para ele?
Ricardo Martins - Seria exatamente a fotografia da capa do livro: o retrato direto, firme e silencioso. O olhar dele atravessa quem vê, como se dissesse: “Nós estamos aqui. Seguimos de pé.” Essa imagem não precisa de legenda. Ela carrega dignidade, história e uma força ancestral que não se curva. A pintura no rosto, o cocar, a mão apoiada - tudo ali é resistência e sabedoria. Ela grita em silêncio: “Nos respeite. Nos proteja. Pare de fingir que não vê.” Mostrá-la ao presidente seria como obrigá-lo a encarar o que muitos ainda insistem em ignorar: que os povos originários não são passado. São presente. E precisam de políticas, não de promessas. Essa foto é um espelho. E quem a encara de verdade, precisa se perguntar: de que lado da história eu estou?
Resenhando.com - Você já retratou a Amazônia como paisagem. Agora, a retrata como corpo. Como isso transformou sua forma de existir no mundo?
Ricardo Martins - Antes, a floresta era horizonte. Agora, é pele. É carne. É o cheiro do urucum, o som dos passos leves, o gosto da mandioca. Conviver com os Yanomami me tirou da posição de observador e me colocou num lugar de troca. Hoje, carrego a floresta dentro — não como uma ideia bonita, mas como um compromisso.
Resenhando.com - Depois de 15 livros e tantas expedições, o que a floresta ainda te nega? E o que você ainda não teve coragem de perguntar a ela?
Ricardo Martins - A floresta ainda me nega todas as respostas prontas. E talvez esse seja o maior presente. Eu ainda não tive coragem de perguntar se estou pronto pra parar. Porque acho que no fundo, enquanto houver floresta viva e gente lutando por ela, meu caminho ainda é esse: contar, mostrar, devolver.
Quando Zuenir Ventura lançou "Cidade Partida" em 1994, o Brasil ainda não havia cicatrizado as feridas da chacina da Candelária e do massacre em Vigário Geral. O que o jornalista fez não foi apenas reportar: foi desvelar, palavra que, aliás, aparece com frequência nos depoimentos que compõem esta nova edição-homenagem, organizada por Elisa Ventura, Isabella Rosado Nunes e Mauro Ventura. Trinta anos depois, a expressão que Zuenir criou virou clichê e, pior, realidade permanente.
"Cidade Partida - 30 Anos Depois", publicado pela Pallas Editora, não é uma simples reedição com nova capa ou posfácio requentado. É um mergulho coletivo na ferida aberta por um dos livros-reportagem mais contundentes da história recente. É também um tributo ao ofício do jornalismo que ainda ousa ouvir vozes silenciadas, ao poder da escuta como gesto político e, sobretudo, a um homem de 93 anos que ainda sonha com uma cidade unida.
Com uma entrevista inédita de Zuenir realizada em 2024, e reflexões assinadas por nomes como Luiz Eduardo Soares, Tainá de Paula, Silvia Ramos e Eliana Sousa Silva, o livro atualiza a pergunta que jamais deveria ter sido esquecida: quantas cidades cabem dentro do Rio de Janeiro? Zuenir relata, com a simplicidade que só os grandes dominam, a incursão de dez meses em Vigário Geral após a chacina de 1993.
Como um homem branco da Zona Sul que ousou atravessar os túneis - físicos e simbólicos - que separam o “asfalto” da favela, ele oferece ao leitor, ainda hoje, uma lição de desconforto. Não o desconforto do medo, mas o do espanto ético: como pode um país suportar tanta desigualdade e ainda fingir normalidade? A crítica que se fazia em 1994 é dolorosamente atual.
Se antes se falava de uma “cidade partida”, hoje Zuenir admite: existe uma cidade “tripartida”, tomada por narcomilícias, milícias, Estado paralelo e um poder público ausente - ou, pior, conivente. Os textos que acompanham esta edição especial ampliam a obra original. São vozes que vivem e pensam o Rio de Janeiro das múltiplas violências e resistência e questionam o rótulo de “cidade partida” como um reducionismo perigoso.
Eliana Sousa Silva, por exemplo, afirma que não se trata de uma cidade cortada ao meio, mas de uma cidade estruturalmente desigual, onde o racismo, a exclusão e a hierarquização da vida moldam o espaço urbano. O livro acerta ao propor um contraponto geracional, ao mesclar especialistas, ativistas, artistas, educadores e moradores de favelas. A entrevista com DJ Marlboro - ao lado de Juju Rude e Anderson Sá - mostra que o funk, há décadas demonizado, foi e ainda é uma das linguagens que mais conecta as margens ao centro, embora siga sendo desmerecido por isso.
"Cidade Partida - 30 Anos Depois" é um livro necessário e que exige um posicionamento ético. Quem ainda se emociona com a beleza do Rio de Janeiro precisa, antes, encarar a feiura social. Quem sonha com um Brasil mais justo, deve ouvir os ecos entre os muros que separam os ricos dos pobres. O livro-reportagem virou um conceito, uma lente através da qual o Brasil passou a enxergar o Rio de Janeiro - e, por extensão, as próprias contradições.
O que se encontra neste volume é um testemunho coletivo sobre o espanto que persiste. O susto de perceber que a realidade pouco mudou desde as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, eventos que motivaram Zuenir a mergulhar por dez meses na favela de Vigário, acompanhado pelo sociólogo Caio Ferraz, na tentativa de entender o que há por trás da violência, da exclusão e da indiferença.
Mais do que denunciar, o livro propôs escuta. A nova edição reflete sobre os avanços, os retrocessos e as permanências da desigualdade urbana. A obra reúne também entrevistas com personagens emblemáticos como Rubem César Fernandes, Manoel Ribeiro, José Junior e João Roberto Ripper. A crítica social que antes soava como alerta agora ecoa como a crônica de uma tragédia anunciada, diante do fortalecimento de milícias e da ausência efetiva do Estado em territórios inteiros.
O mérito maior da publicação está em reconectar o jornalismo literário de Zuenir Ventura à realidade presente, sem perder de vista a complexidade da cidade. O relato do jornalista ao entrevistar o traficante Flávio Negão - com quem conversa tentando entender não apenas os crimes, mas as motivações, a lógica de sobrevivência e o senso de humanidade - continua sendo um dos pontos mais polêmicos e valiosos da obra. Não por glamurizar o criminoso, mas por se recusar a desumanizá-lo.
Trata-se de uma edição que também atualiza o debate sobre representatividade, políticas públicas, cultura periférica, direito à cidade e racismo estrutural. "Cidade Partida - 30 Anos Depois" é, portanto, um documento vivo, provocador e necessário. É o Brasil que se vê dividido e precisa, mais do que nunca, reagir. Talvez o momento mais comovente da obra esteja na voz do próprio autor.
Quando ele diz, com certa frustração, que ainda não conseguiu escrever o livro sobre a “cidade unida” que tanto sonhou, não se ouve a resignação de um jornalista veterano, mas a persistência de um ideal: o de que narrar o abismo é também uma forma de construir pontes. Compre o livro "Cidade Partida - 30 Anos Depois" neste link.