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sexta-feira, 2 de junho de 2023

.: #Resenhando20Anos: resenha de "Estrelas Tortas, de Walcyr Carrasco


No dia 4 de junho de 2023 o Resenhando.com completa 20 anos. Durante esse mês, matérias emblemáticas que foram destaque no portal editado pelos jornalistas Mary Ellen Farias dos Santos e Helder Moraes Miranda serão republicadas. Ao fazer essa visita ao passado, percebemos que os textos conseguem estar muito atuais. 

Algumas delas, republicadas na íntegra, embora extremamente relevantes, apresentam aspectos datados ou têm marcas de expressões, pensamentos e linguagens que podem estar ultrapassadas, mas são um registro da história deste veículo. A resenha crítica de "Estrelas Tortas", livro escrito pelo novelista Walcyr Carrasco, é uma das mais lidas nos 20 anos de Resenhando.com.


Livro narra a batalha de um  deficiente 
Por: Mary Ellen Farias dos Santos

Em maio de 2005.

A história de uma garota bonita, alta, jogadora de vôlei. Esta é a jovem Marcella. "Estrelas Tortas", de Walcyr Carrasco, narra a batalha de uma adolescente que após um acidente de carro fica paraplégica. A obra publicada em 1997, na Coleção Veredas, pela Editora Moderna, soma 96 páginas de pura emoção.

Contada na visão de vários personagens que convivem ou tentam conviver com a garota. Juntos, familiares e amigos, descobrem o quanto é difícil perder, e o quanto é precioso aprender a ganhar. "'Sua irmã nunca mais vai andar'. Foi assim que papai me deu a notícia. Quando ele falou, fiquei um tempão tentando entender o que queria dizer, exatamente". É desta forma que o irmão de Marcella, Guilherme, chamado carinhosamente de Gui, começa a contar a história.

A sequência da história fica por conta da sua melhor amiga, Mariana. Na terceira parte está a visão de Bira, o garoto mais bonito da escola e namoradinho da jovem. A mãe, Aída e o irmão, são os que falam da atenção e carinho que devem ser dados a um deficiente. A história ganha um toque especial quando Emílio revela como entrou na vida da personagem principal. No capítulo sétimo, o de Bruno, pai de Marcella, fica visível sua insatisfação ao desconfiar que sua filha está namorando Emílio. 

Detalhe: Bruno pensa que a filha tornou-se um vaso que poderia quebrar a qualquer momento e que necessita de de muito cuidado, isto é, Marcella havia tornado-se uma eterna dependente. No oitavo capítulo é que Marcella tem voz. Nele, a adolescente mostra-se capaz e quer vencer todas as barreiras.

No décimo capítulo é Gui quem finaliza a história de sua vida, vida que teve uma grande mudança ao precisar acompanhar a irmã em muitas coisas. "A gente é como um pedaço da noite. De longe, estrelas perfeitas. De perto, estrelas tortas".

"Estrelas Tortas" é um livro o qual mostra a dificuldade e o sofrimento de um deficiente e das pessoas que o rodeiam, ao menos, até acostumar com o problema. O escritor comenta que preferiu falar da vida de uma paraplégica, para mostrar, também, como todos nós somos livres para voar. "Só quem tem força interior supera as dificuldades do dia-a-dia e brilha, enfim, como estrela", diz. 

Você pode comprar "Estrelas Tortas" de Walcyr Carrasco aqui: Amazon neste link.

Livro: "Estrelas Tortas"
Autor: Walcyr Carrasco
96 páginas
Ano: 1997
Coleção: Veredas
Editora: Moderna
Link de venda: amzn.to/3bFCIve

*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

  

quinta-feira, 1 de junho de 2023

#Resenhando20Anos: "A literatura permeia tudo", diz Ana Miranda


No dia 4 de junho de 2023 o Resenhando.com completa 20 anos. Durante esse mês, matérias emblemáticas que foram destaque no portal editado pelos jornalistas Mary Ellen Farias dos Santos e Helder Moraes Miranda serão republicadas. Ao fazer essa visita ao passado, percebemos que os textos conseguem estar muito atuais. 

Algumas delas, republicadas na íntegra, embora extremamente relevantes, apresentam aspectos datados - como, no caso da entrevista com a escritora Ana Miranda, a pergunta à escritora em relação ao político Eduardo Suplicy que a imprensa, à época, noticiava - ou têm marcas de expressões, pensamentos e linguagens que podem estar ultrapassadas, mas são um registro da história deste veículo. Esta foi a primeira entrevista, feita por e-mail, concedida com exclusividade ao Resenhando.com.


Por Helder Moraes Miranda, e
m junho de 2004.

A escritora de romances e poesias, Ana Miranda, contemplada pela segunda vez com o prêmio jabuti e premiada pela Biblioteca Nacional é a autora de "Desmundo", romance recentemente adaptado para o cinema, "Boca do Inferno" e "Dias e Dias". Ana Miranda é colaboradora da revista "Caros Amigos", mas começou na literatura por meio de poemas e poesias, surgindo seus dois primeiros livros: "Anjos e Demônios" (editora José Olympio/INL, Rio de Janeiro, 1979) e "Celebrações do Outro" (editora Antares, Rio, 1983).

Em 1989, publica seu primeiro romance, "Boca do Inferno", uma visita literária ao passado colonial brasileiro pela recriação das vidas do poeta Gregório de Matos e do jesuíta Antonio Vieira. A obra foi bem recebida pelo público, pela crítica - recebeu o Prêmio Jabuti de 1990 - e por professores que a adotaram como fonte para estudos literários sobre o barroco brasileiro. O romance foi lançado também na França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Holanda e Alemanha.

Outro tema histórico é recriado em seu segundo romance, "O Retrato do Rei", de 1991. A seguir, "Sem Pecado", de 1993, traz a autora à ação contemporânea, mas em seu romance seguinte, "A Última Quimera", de 1995, a Belle Époque do Rio de Janeiro é o cenário em que outro poeta, Augusto dos Anjos, tem sua vida ficcionalizada. A obra rendeu à autora uma bolsa da Biblioteca Nacional.

"Desmundo" (livro que originou o filme dirigido por Alain Fresnot) , outra ficção histórica, é de 1996. Com uma linguagem do século XVI, conta a história de órfãs mandadas de Portugal ao Brasil para se casar com os colonos. Todos os romances acima foram publicados pela Companhia das Letras, em São Paulo. Outra figura sagrada da literatura brasileira, desta vez Clarice Lispector, é transformada em personagem. A novela "Clarice" é lançada em 1996 na Alemanha e no Brasil pela Fundação Rio.

A Companhia das Letras reeditou a obra em 1998. Ainda pela Companhia das Letras, é publicado em 1997 o romance "Amrik", passado no fim do século 19, sobre os imigrantes libaneses em São Paulo. Em 1999, são publicados os primeiros contos de Ana Miranda, reunidos no volume "Noturnos". Em 2002, outro poeta se transforma em personagem. Em "Dias e Dias", Gonçalves Dias é aproveitado pela autora para dar voz à linguagem do romantismo.


Além da produção literária, Ana Miranda escreve artigos, resenhas e ensaios para jornais e revistas, roteiros de cinema e trabalha na edição de originais, organizando obras de nomes como Vinícius de Morais e Otto Lara Resende. Em 1998, reuniu para a editora Dantes uma coletânea de poesias de amor conventual, "Que Seja em Segredo", e em 2000, uma antologia de sonhos intitulada "Caderno de Sonhos". Foi escritora visitante na Universidade de Stanford em 1996, e faz palestras e leituras em universidades e instituições culturais de diversos países. Desde 1999, Ana Miranda faz parte do grupo de escritores que concede anualmente, em Roma, o Prêmio União Latina de Romance.

Ana Miranda nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1951, e mudou-se para o Rio de Janeiro aos quatro anos de idade. Em 1959 foi para Brasília, ao encontro de seu pai, engenheiro, que trabalhava na construção da cidade. Em 1969 voltou para o Rio de Janeiro, a fim de prosseguir com seus estudos de artes. 

Vale lembrar que Ana Miranda tem uma longa história no cinema como atriz e roteirista. Foi uma índia em "Como Era Gostoso o Meu Francês" (1970/72) e protagonizou, com Jofre Soares, o longa-metragem "A Faca e o Rio", que o holandês George Sluizer realizou no Brasil em 1972. Desde 1999 Ana Miranda mora em São Paulo. 


Resenhando.com - O que representa a literatura em sua vida?
Ana Miranda - É o meu trabalho, é o meu alimento espiritual, é a minha vida, não poderia mais viver sem literatura, seja lendo, seja escrevendo. 


Resenhando.com - Você já escreveu "Boca do Inferno", sobre a vida de Gregório de Matos,  "A Última Quimera", sobre Augusto dos Anjos, "Clarice", sobre Clarice Lispector, e "Dias e Dias", sobre o poeta Gonçalves Dias. De onde vem sua paixão por biografias, por que só escritores, e até que ponto é possível romancear a vida de alguém?
Ana Miranda - Na verdade não escrevo biografias, são romances, em que poetas ou escritores são personagens, e o foco não é a biografia desses autores, mas o mundo em que eles viveram. Isso nasceu de meu amor pela poesia, e pela palavra, esses poetas que escolhi como tema são fontes literárias muito ricas. Meus personagens não são apenas escritores, são padres, prostitutas, governadores, índios, moças do interior, bandidos, etc, mas parece que o que tem marcado mais meu trabalho, para os leitores, é a presença dos personagens poetas e escritores. Falo sobre mundos em que a história literária é fundamental, sim, em alguns livros, mas há muito mais entre o céu e a terra... As biografias, em geral, mesmo quando objetivas, sempre têm um ar de romance, sempre que se usa a palavra para contar algo, a visão é muito subjetiva, porque a palavra é subjetiva. 


Resenhando.com - Em uma de suas entrevistas, você afirma que seu trabalho deve aparecer mais que sua vida pessoal. Em contrapartida, o fato de ganhar pela segunda vez o prêmio Jabuti de Literatura, e a adaptação de "Desmundo" para o cinema faz com que ganhe cada vez mais notoriedade. O que isso muda em sua carreira?
Ana Miranda - Minha vida continua a mesma de sempre, gosto de escrever, escrever, escrever, e ler, ler, ler, e ficar em casa quieta escrevendo e lendo. Nem os prêmios, nem o filme, mudam minha vida, sinto que estou ficando cada vez mais conhecida, pelo Brasil afora, mas a minha vida continua a mesma.


Resenhando.com - A maioria de suas protagonistas são mulheres vindas de outros continentes e o pano de fundo é quase sempre um momento histórico. Não teme ser considerada escritora de uma só história?
Ana Miranda - Não, acho que todos os escritores estão sempre escrevendo o mesmo livro, porque o livro é um retrato da alma de quem o escreveu, e a alma é sempre a mesma, ainda que mudem o cenário, a época, os personagens. Acho bom sentir uma certa unidade em meu trabalho, até busco essa unidade. 


Resenhando.com - Seus personagens são muito ardentes e sensuais. Há algum reflexo de personalidade entre eles e o temperamento da autora?
Ana Miranda - Não acho o Braço de Prata ardente ou sensual, nem o padre Vieira, nem a Bernardina Ravasco, nem a Feliciana, nem tantos outros. O que acontece é que o tema de "Boca do Inferno" é ardente e sensual, é a Bahia colonial, com muita devassidão, muitos pecados. Também a Amina, de "Amrik", é muito sensual, pois é uma dançarina libanesa e há a presença da literatura árabe, as Mil e uma noites, o Jardim das delícias, que são livros ardentes e sensuais. Claro que gosto de lidar com essa matéria, tenho um lado sensual e ardente, todos temos, alguns escondem, alguns ignoram, mas todo ser humano é dotado de sensualidade. 


Resenhando.com - Qual a sua opinião sobre a importância que, hoje em dia, o livro exerce sobre a população?
Ana Miranda - Não sei medir, sei que os livros são fundamentais, a literatura permeia tudo, desde sempre, e para sempre, não seríamos a humanidade que somos se não houvesse o livro. É uma peça de extraordinária profundidade na história da comunicação humana, um museu da alma, do intelecto, do espírito, do tempo, do sentimento, um museu da humanidade.


Resenhando.com - Quem você acha que são as pessoas que constituem seu público alvo? Por que?
Ana Miranda - Não tenho público alvo, escrevo para mim mesma. As pessoas que gostam dos meus livros são as pessoas que têm afinidade comigo, com o que eu escrevo, mas são as mais variadas, só têm em comum o fato de serem alfabetizadas. 


Resenhando.com - Para você, a evolução tecnológica está afastando as pessoas dos livros, da boa leitura?
Ana Miranda - Quem gosta de ler sempre vai gostar de ler, a tecnologia não tem nada a ver com isso, apenas ajuda a se escrever mais facilmente um livro, a se imprimir melhor os livros, a se comprar mais facilmente um livro. Mas não há nenhum plano no sentido de usar a tecnologia para aproximar as pessoas dos livros, ou da boa leitura, o que seria muito bom, se acontecesse.


Resenhando.com - O que você sente quando um livro seu é lançado? 
Ana Miranda - Sinto alívio quando termino um livro, sinto apreensão quanto ao que vai acontecer, ao que vão dizer, se vão compreender o livro. Mas, em geral, quando o livro é lançado, já estou escrevendo outro, e isso dilui um pouco a minha relação com o lançamento. 


Resenhando.com - Quem são seus ídolos na literatura? Sofreu ou sofre alguma influência deles?
Ana Miranda - Não tenho ídolos, nunca tive, vejo os escritores como seres humanos, com suas peculiaridades. Claro, admiro profundamente certos textos, como os de Shakespeare, Kafka, Proust, Borges, etc etc, uma infinidade de autores e livros me encantam. E todos eles me influenciam, sou muito permeável a influências. 


Resenhando.com - Na literatura, tem algum nome da nova safra de escritores que você destaca? Por quais motivos?
Ana Miranda - Você está falando da literatura brasileira, certamente. Acho que tenho mais afinidade com o Miltom Hatoum, acho-o maravilhoso, sério e profundo, mas gosto de muitos, muitos, o Cristóvão Tezza, o Bernardo Carvalho, a Patrícia Melo, o Carlos Sussekind, o Marçal Aquino, o Bernardo Ajzenberg, adoro a poesia de Marco Luchesi, acho-o surpreendente e elevado como o infinito, poderia fazer uma lista imensa, são muitos os escritores a destacar. 


Resenhando.com - Fale sobre seus poemas. Continua escrevendo-os? Existe alguma possibilidade de reeditá-los?
Ana Miranda - Continuo recebendo poesias em minha cabeça, e anoto, guardo, esqueço. Não penso em publicá-las, não sou boa em poesia. Não gostaria de reeditar meus livros de poesia, não são bons, e não quero ocupar o espaço dos poetas, que é tão restrito, poucas editoras se aventuram a publicar poesia de novos poetas. Louvo as que o fazem. 


Resenhando.com - Você prefere escrever romances, contos ou poemas? Por que? E para ler, prefere qual desses gêneros literários?
Ana Miranda - Prefiro escrever romances, sou romancista, sinto mais desenvoltura quando escrevo romance, sinto que estou fazendo o que gosto de fazer, o que aprendi a fazer, não sou boa contista, são coisas muito diferentes. Isso não significa que meus romances excluam os outros gêneros, hoje os limites são muito difusos. Para ler, gosto, primeiro, de poesia, depois de romance, depois de conto, geralmente é assim, mas tem épocas em que só leio contos, e outras em que só leio poesia, e outras em que só leio romances, isso depende de meu estado de espírito.


Resenhando.com - O que sente tendo seus livros publicados em outras línguas?
Ana Miranda - Acho horrível, arriscadíssimo, tenho a sensação de que não é mais o meu livro, não escrevi nada daquilo, gostaria que todos aprendessem português para ler os nossos livros no original. Mas sinto orgulho quando olho a minha estante de meus livros traduzidos, sei que isso é bom, mesmo com as deficiências inerentes à tradução. Tenho muita gratidão pelos tradutores, todavia, pois não falo nem árabe nem alemão nem grego nem russo, nem tantas outras línguas, e admiro demais os tradutores, há pessoas que fazem isso de forma genial.


Resenhando.com - Explique seu conceito de invisibilidade.
Ana Miranda - Não entendi essa pergunta. Há diversas invisibilidades. O Mandrake fica invisível, e eu adorava sonhar que eu também tinha esse poder, quando lia as suas histórias em quadrinhos. E às vezes quase consigo, gosto de uma posição discreta, de observadora. Mas há outras espécies de invisibilidade. 


Resenhando.com - Descreva todos os seus talentos na infância. Por que escolheu a literatura?
Ana Miranda - Nasci, como todas as crianças, com todas as aptidões da sensibilidade, para desenho, música, movimento, ritmo, cor, teatro, fantasia, sonho, mas tive a sorte de ver as minhas aptidões desenvolvidas, sou uma pessoa versátil, e isso sempre foi uma faca de dois gumes, atrapalhou e ajudou, mas consegui solucionar esse problema, hoje convivo melhor com isso. 


Resenhando.com - Como foi a sua experiência como atriz? Pretende voltar a atuar, por que?
Ana Miranda - Foi uma ótima experiência, aprendi muito, principalmente sobre o Brasil, pois pude viajar e penetrar muitas realidades de nosso país, conheci muitas pessoas inesquecíveis, adoro cinema. Mas não sei se posso chamar minha experiência de um trabalho de atriz, eu apenas estava por ali, e me convocavam a participar dos filmes, au gostava de viajar com as equipes de cinema, era um tempo em que se fazia cinema por amor, mas a minha compulsão sempre foi autoral, jamais soube interpretar, não gosto de ser olhada. 


Resenhando.com - Todo escritor escreve sobre relações humanas. Como você analisa o relacionamento das pessoas nos dias de hoje. Dá para comparar as relações atuais e as do passado?
Ana Miranda - Estão muito mais complexas, a sociedade está mais complexa. Antigamente você conhecia umas vinte, cinquenta, cem pessoas em sua vida, e se relacionava com poucas. Hoje conhecemos milhares de pessoas, de culturas diferentes, o mundo está pequenino, pega-se um avião e no dia seguinte tudo mudou, e os grupos familiares são os mais inesperados, e a vida íntima das pessoas hoje é pública, tudo isso complica as relações. Mas os seres humanos continuam os mesmos, com seus sentimentos, amor, ódio, ciúme, inveja, traição, desejo de poder, etc etc. 


Resenhando.com - Se pudesse voltar no tempo, reescreveria algo, achando que poderia ter feito melhor?
Ana Miranda - Tenho sempre reescrito meus livros, faço revisões em livros publicados, acabo de fazer uma revisão de "Boca do Inferno", tomada de uma visão mais ampla, sempre se pode fazer melhor, sempre. 


Resenhando.com - A mídia explorou bastante um suposto romance seu com o senador Eduardo Suplicy. O que acha sobre esse tipo de informação? Existe alguma verdade nestas notícias?
Ana Miranda - Sempre preservei a minha vida pessoal. Não gosto desse tipo de publicidade. O Eduardo e eu somos amigos, e nos gostamos muito. 


Resenhando.com- Comente essa frase, dita em uma entrevista para a revista Caros Amigos: "estou sempre a favor do mais fraco, mesmo que ele esteja errado".
Ana Miranda - Essa frase resume a minha atitude política, e ética. Tenho muito amor pelo pobre, pelo oprimido, por aquele que não tem oportunidade, pelo abandonado, pelo frágil, pelo fraco, um sentimento meio maternal. Não posso ver alguém em dificuldade, quero ajudar. Isso me faz sofrer muito. 


Resenhando.com - Para você, qual o real significado da palavra solidão?
Ana Miranda - Faz parte da condição humana, a solidão. Todos somos solitários, e vivemos em busca do outro, mas sempre somos apenas nós mesmos, e ninguém, jamais, tem o poder de compreender totalmente o outro, a compreensão, a afinidade, a conjunção, são apenas um desejo de fugir à solidão. A natureza de nosso trabalho, de escritores, nos põe em contato direto e constante com a solidão. Mas gosto de me iludir, achando que a solidão pode ser substituída pela comunhão, mas a comunhão se dá em momentos, momentos sublimes, mas fugazes.

domingo, 21 de maio de 2023

.: Dossiê: Anton Tchecov defendeu cunhada de comportamento abusivo


Anton Tchekhov
nasceu em 29 de janeiro de 1860, em Taganrog, um porto marítimo no Mar de Azov no sul da Rússia, sendo o terceiro de seis filhos. Seu pai, Pavel Iegorovi­tch Tchecov, filho de um ex-servo, cuidava de uma mercearia. Diretor do coro de uma paróquia, devoto cristão ortodoxo e pai que agredia fisicamente seu filho, Pavel Tchecov lhe deu uma educação rígida e muito religiosa, o que fez com que Tchekhov se tornasse um amante da liberdade e da independência, e foi visto por alguns historiadores como modelo para os muitos personagens hipócritas criados por seu filho.

Sua mãe, Ievguenia Iacovlevna Morozov, era uma excelente contadora de histórias que entretinha as crianças com histórias sobre suas viagens junto de seu pai (um comerciante de tecidos) por toda a Rússia. "Nossos talentos nós recebemos do nosso pai", Tchecov relembrou, "mas nossa alma recebemos de nossa mãe"

Quando adulto, Tchecov criticou o tratamento de seu irmão Aleksandr perante sua esposa e filhos, lembrando-lhe da tirania de Pavel. “Deixe-me perguntar-lhe se recorda que foi o despotismo e a mentira que arruinaram a juventude de sua mãe. Despotismo e a mentira mutilaram a nossa infância e é repugnante e assustador pensar sobre isso. Lembre-se do horror e da repulsa que nós sentimos naquele momento em que o pai se enraiveceu durante o jantar, porque havia muito sal na sopa e chamou a mãe de tola”. Compre os livros de Anton Tchekhov neste link.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

.: Séries sobre a Boate Kiss revisitam drama brasileiro traumatizante


Série Original "Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria" estreia hoje no Globoplay. O repórter Marcelo Canellas e equipe gravam em frente ao local onde funcionava a Boate Kiss. Foto: Globo/Divulgação


Em cinco episódios, a série documental Original "Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria" retrata a incansável luta por justiça dos sobreviventes e dos pais das vítimas do incêndio que matou 242 pessoas na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, na cidade universitária gaúcha. Dez anos depois, a docussérie traz depoimentos exclusivos de testemunhas que estavam dentro da boate e imagens inéditas da noite da tragédia.

O título refaz, passo a passo, a sucessão de acontecimentos que levaram à morte de tantos jovens e mostra as reviravoltas de um processo judicial cujo desfecho permanece imprevisível. ‘Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria’ tem direção de Marcelo Canellas, repórter da TV Globo que passou a infância e adolescência na cidade gaúcha, roteiro de Fernando Rinco e Gabriel Mitani, direção de produção de Clarissa Cavalcanti e produção de Andrey Frasson. A série foi feita em parceria com a TV OVO, coletivo de audiovisual de Santa Maria.

No ano em que o incêndio na boate Kiss, que deixou 242 mortos, completa dez anos, chega à Netflix uma minissérie de cinco episódios inspirada no livro-reportagem "Todo Dia a Mesma Noite", de Daniela Arbex, sobre a tragédia em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A produção homônima estreia nesta quarta-feira, dia 25 de janeiro, com Julia Rezende ("Um Namorado Para a Minha Mulher") na direção e roteiro de Gustavo Lipsztein ("Tensão em Alto Mar").

Trata-se de uma dramatização do trabalho de apuração da premiada jornalista, que atuou como consultora criativa da série. Paulo Gorgulho ("Pantanal", "Segunda chamada"), Debora Lamm ("Amor de Mãe") e Thelmo Fernandes ("Coisa Mais Linda") estão entre os nomes que compõem o elenco. 

Publicado pela Intrínseca em 2018, "Todo Dia a Mesma Noite" é resultado de dois anos de trabalho intenso. Para escrever a obra, Daniela Arbex analisou as 20 mil páginas que compõem o Caso Kiss na Justiça e fez entrevistas com mais de 100 pessoas de Santa Maria - ouvindo mães e pais de vítimas, sobreviventes, peritos, o ex-prefeito da cidade e até profissionais de saúde que falaram sobre o caso pela primeira vez.

Depois de transcritos, os depoimentos ocuparam cerca de 5 mil páginas no computador da autora. Com base nesse material, ela reconstrói cenas do dia do incêndio, mostra como o episódio abala ainda hoje a cidade e dá aos números e aos fatos a dimensão humana necessária.

Da chegada da primeira equipe de bombeiros ao local do desastre até as últimas reviravoltas do processo nos tribunais, passando pelo resgate dos sobreviventes, pela etapa de reconhecimento dos corpos, pelas histórias dos que perderam filhos, irmãos, amigos, namorados e namoradas e por muitos outros momentos cruciais, "Todo Dia a Mesma Noite" apresenta aos leitores o retrato de uma comunidade marcada pela perda.

Além disso, revela com ineditismo a frieza de algumas autoridades públicas diante da tragédia. Dolorosa porém indispensável, a obra conduz a uma compreensão ampla das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos, ajudando a erguer um memorial para que essa noite tenebrosa jamais caia no esquecimento.

Com prefácio de Marcelo Canellas, premiado repórter do Fantástico, quarta capa assinada por Marcelo Beraba, diretor do Estadão em Brasília e conselheiro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e imagens feitas pela fotojornalista Marizilda Cruppe, a obra de Daniela Arbex é uma impactante tomada de consciência, um despertar de empatia pelos jovens que tiveram o futuro barbaramente interrompido. Compre "Todo Dia a Mesma Noite" neste link. 

O que disseram sobre o livro
"Este livro é uma recusa ao esquecimento. Ao tomá-lo nas mãos, você estará participando do imenso esforço coletivo para fazer da memória um instrumento de conforto e de respeito à dor alheia." – Marcelo Canellas


Sobre a autora
Daniela Arbex é autora do best-seller "Holocausto Brasileiro", reconhecido como Melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (2013) e segundo melhor Livro-Reportagem no Prêmio Jabuti (2014). O livro foi adaptado para documentário pela HBO e inspirou a série de ficção "Colônia", exibida pela Globoplay.

Em 2015, Daniela lançou "Cova 312", vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Livro-Reportagem (2016). Em 2020, publicou "Os Dois Mundos de Isabel", primeira biografia escrita por Arbex, no mesmo ano em que ela foi eleita a melhor repórter investigativa do Brasil pelo Troféu Mulher Imprensa. Seu último lançamento, "Arrastados" (2022) narra em detalhes reveladores o rompimento da Barragem de Brumadinho, a maior tragédia humanitária do país, ocorrido em 2019.

Daniela Arbex tem ainda outros 20 prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três Esso e o americano Knight International Journalism Award. Foi repórter especial do jornal Tribuna de Minas por 23 anos e atualmente dedica-se à literatura. Foto: Carmelita Lavorato. Garanta o seu exemplar de "Todo Dia a Mesma Noite" neste link. 

sábado, 13 de maio de 2023

.: Poeta, contista e doceira, Cora Coralina inspira coleção de joias


Poeta e contista brasileira Cora Coralina inspirou uma coleção inteira de joias feita pela designer Carolina Neves. Símbolo de mulher forte, que lutou pelos direitos das mulheres e sonhos que pareciam impossíveis, e escritora deixou um legado.

Cora Coralina só pôde estudar até o terceiro ano, o que não a impediu de continuar escrevendo poemas enquanto trabalhava como doceira para sustentar os filhos, seis ao todo. Apenas em 1965, com 75 anos, teve seu primeiro livro publicado, intitulado "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". A coleção Cora traz anéis, pulseiras, brincos, piercings e colares cheios de significados, que contam com uma mistura de formatos, cores e tamanhos das gemas, além de combinar diamantes e turmalinas.

Aliás, todas as Turmalinas usadas na coleção são retiradas da Cruzeiro Mine, reconhecida como a maior produtora de turmalinas do mundo com cinco milhões de metros quadrados, localizada em São José da Safira, que realiza o processo de mineração sustentável chamado Fair Mining, sempre se preocupando com toda a cadeia, desde a extração, até a natureza no entorno e com todos os funcionários envolvidos.

Essa brasilidade, característica tradicional nas peças de Carolina Neves, pode ser vista nessa nova coleção. A coleção está disponível no site da marca e em todas as lojas próprias da rede. Carolina Neves é uma joalheria que vem ganhando destaque no mercado por conta de suas pedras preciosas cheias de significados. A marca busca contar histórias, a partir de peças produzidas com ouro 18k e combinações de gemas exclusivas, sendo as principais esmeraldas, rubis, diamantes e turmalinas. Compre os livros de Cora Coralina neste link.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

.: Listamos os dez livros mais significativos dos últimos dez anos


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Na imagem em domínio público, o escritor José de Alencar, que deu origem à homenagem ao Dia da Literatura Brasileira.


Você sabia que o feriado de 1º de maio, além de ser o Dia do Trabalhador, também é o Dia da Literatura Brasileira? Esta data é uma homenagem a José de Alencar, que deu os primeiros passos para a consolidação da escrita no país ainda no século XIX. Mas o legado deixado por ele pode ser encontrado de diversas formas na atualidade, inclusive na variedade de autores e gêneros literários do Brasil. 

Por isso, nesta data, listamos os dez livros nacionais mais significativos dos últimos dez anos, com títulos em ordem alfabética. A lista é subjetiva, arbitrária, e muito focada nos gostos de quem a escolheu. Por que um título de determinado autor e não outro, mais conhecido? Justamente pelo desafio de saborear obras um pouco menos conhecidas, fugir do óbvio, esconder-se do burburinho por trás das conversas literárias. Há um pouco de tudo nesta lista.  para conhecer e valorizar os livros de quem forma a nova literatura nacional - e conhecer, ou se apaixonar ainda mais, pelos autores.

"Anos de Chumbo e Outros Contos", de Chico Buarque (Companhia das Letras)
Recentemente contemplado com o Prêmio Camões, a maior honraria concedida aos autores lusófonos Chico Buarque lançou em 2021 o livro "Anos de Chumbo e Outros Contos", que marcou a estreia dele na forma breve. No livro, há várias histórias. Uma jovem e seu tio. Um grande artista sabotado. Um desatino familiar. Uma moradora de rua solitária. Um passeio por Copacabana. Um fã fervoroso de Clarice Lispector. Um casal em sua primeira viagem. Um lar em guerra. Entre o poético e o cômico, os oito contos que formam este volume conduzem o leitor pela sordidez e o patético da condição humana. Garanta o seu exemplar de "Anos de Chumbo e Outros Contos" neste link.

"Chuva de Papel", de Martha Batalha (Companhia das Letras)
"Chuva de Papel", terceiro romance de Martha Batalha, autora de "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" é intenso, tragicômico e sensível. No livro, os leitores podem acompanhar o repórter policial Joel Nascimento que, após uma peculiar tentativa de suicídio, é obrigado a morar de favor com a tia de um amigo. Glória é uma senhora energética, que exige mais interações e boas maneiras do que ele está disposto a dar. A esse arranjo junta-se a falante vizinha Aracy e seus dois chiuauas grisalhos. Da convivência inesperada e pontuada por atritos corriqueiros emerge um companheirismo que preencherá o vagar das horas. Garanta o seu exemplar de "Chuva de Papel", de Martha Batalha, neste link.


"Doramar ou A Odisseia: Histórias", de Itamar Vieira Junior (Todavia Livros)
Após o celebrado romance "Torto Arado" e muito antes do último romance, "Salvar o Fogo", o escritor Itamar Vieira Junior, hoje um dos nomes centrais da literatura brasileira contemporânea, retornou à cena literária com histórias envolventes e emocionantes de personagens que não aceitam as condições de um Brasil paralisado na história. No livro de contos "Doramar ou A Odisseia: Histórias" , há um conjunto de histórias a um só tempo atuais e calcadas na multiplicidade de culturas que formam o país: negros, indígenas, ribeirinhos, a força inesgotável das mulheres, as religiões de matriz afro, a sabedoria ancestral dos povos originais. Importante para consolidar um dos escritores mais importantes de todos os tempos. Garanta o seu exemplar de "Doramar ou A Odisseia: Histórias", de Itamar Vieira Junior, neste link.

"Estragos", de Fernanda Young (Globo Livros)
O livro de contos "Estragos", de Fernanda Young reúne as primeiras aventuras literárias da escritora, que faria 53 anos neste 1° de maio, Dia Nacional da Literatura. Os contos de Fernanda Young, uma faceta pouco conhecida desta, que foi uma das maiores escritoras de sua geração, abrangem o período entre 1987 e 1995, quando ela tinha entre 16 e vinte e 25 anos. Pela primeira vez publicados, os 18 contos deste livro revelam a personalidade de uma jovem buscando seu estilo, um prenúncio do trabalho que viria a desenvolver nos anos seguintes, em seus mais de dez livros publicados. Que venham outros textos inéditos! Garanta o seu exemplar de "Estragos", de Fernanda Yong, neste link.


"Melhores Crônicas", de Roberto Drummond (Global Editora)
Roberto Drummond é um dos melhores escritores que viveram em nosso tempo. Mas, em virtude das poucas edições de sua obra, corre o risco de cair no esquecimento. Relembrá-lo é preservar um pouco do melhor da nossa literatura. Neste compilado de crônicas lançado pela Global Editora, que conta com seleção e prefácio de Carlos Herculano Lopes, há o melhor dos textos breves do autor. Além de ser apenas o autor do célebre romance "Hilda Furacão", que virou seriado na TV Globo assinado por Gloria Perez, foi o cronista do cotidiano mineiro, banal ou inesperado, das paixões e desenganos do povo, do amor pelo futebol (sua crônica sobre o Atlético Mineiro é a mais bela declaração de amor que um time brasileiro já recebeu), traduzindo em suas crônicas o espírito contraditório, barroco e moderno ao mesmo tempo, das Minas Gerais. Um escritor que merece ser lembrado e homenageado para que chegue às futuras gerações. Garanta o seu exemplar de "Melhores Crônicas", de Roberto Drummond, neste link.



"Obra Completa", de Raduan Nassar (Companhia das Letras)

Raduan Nassar escreveu apenas dois livros e alguns contos, reunidos posteriormente, antes de abandonar a escrita há mais de 30 anos. Com esta breve porém decisiva obra, firmou-se como um dos maiores escritores de língua portuguesa e, mais de quatro décadas após sua estreia na literatura com "Lavoura Arcaica", romance publicado em 1975, continua sendo lido e estudado no Brasil e fora dele. Às edições nacionais seguiram-se estrangeiras e o reconhecimento da crítica internacional - recebeu o Prêmio Camões em 2016. Tendo a obra traduzida para dez idiomas, e adaptada para o cinema mais de uma vez, o autor foi nomeado para diversos prêmios. Esta edição de "Obra Completa", revisada pelo autor, traz, além de "Lavoura Arcaica", "Um Copo de Cólera" e "Menina a Caminho", dois contos e um ensaio inéditos no Brasil, e conta também com extensa fortuna crítica e outros aparatos textuais que cobrem a vasta recepção a estes clássicos da ficção contemporânea. Garanta o seu exemplar de "Obra Completa", de Raduan Nassar, neste link.

"Os Contos", de Lygia Fagundes Telles (Companhia das Letras)
Considerada pela crítica uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos e, sobretudo, uma contista extraordinária, Lygia Fagundes Telles lançou pela Companhia das Letras o livro "Os Contos". Pela primeira vez, o leitor tem acesso à mais completa antologia de contos da escritora, em uma edição especial que inclui, além de suas principais coletâneas, diversos escritos esparsos, há tempos fora de catálogo. Garanta o seu exemplar de "Os Contos", de Lygia Fagundes Telles, neste link.


"Poesia Completa", de Cacaso (Companhia das Letras)
Reunião de todos os poemas de um dos nomes mais marcantes da geração mimeógrafo, "Poesia Completa" de Cacaso é retrato de uma época e testamento literário dos anos 1970. Lançado pela Companhia das Letras, a obra 
reúne os seis livros publicados pelo poeta Cacaso - de “A Palavra Cerzida” (1967) a “Mar de Mineiro” (1982) - e uma farta seleção de poemas inéditos recolhidos pela editora Heloisa Jahn dos cadernos do autor, além de 60 letras de música. O volume traz ainda textos de Roberto Schwarz, Heloisa Buarque de Hollanda, Francisco Alvim, Vilma Arêas e Mariano Marovatto. Garanta o seu exemplar de "Poesia Completa", de Cacaso, neste link.

"Senhora", de José de Alencar (Via Leitura)
O homenageado - e a causa - do Dia Nacional da Literatura, não poderia ficar de fora. E uma das últimas edições de "Senhora" é a do selo Via Leitura, do Grupo Edipro. Um dos últimos romances escritos por José de Alencar, o livro foi publicado em 1874, em meio ao Romantismo do século XIX, e antecipa alguns aspectos do Realismo e do Naturalismo, que dominariam a literatura brasileira nas décadas seguintes. A senhora do título é Aurélia, moça rica da sociedade carioca, mas com um passado de orfandade, miséria e sofrimento. Embora rodeada por pretendentes, ela opta por um casamento arranjado. Por um grande dote, convence Seixas, que a desprezara quando era pobre, a casar-se com ela. Assim tem início seu plano de vingança e redenção. Garanta o seu exemplar de "Senhora", de José de Alencar, neste link.

"Véspera", de Carla Madeira (Editora Record)
Depois do arrebatador "Tudo É Rio", a escritora Carla Madeira escreveu "A Natureza da Mordida", publicado antes de "Véspera", o último romance pela ordem cronológica. Conta a história de  Vedina, uma mulher destroçada por um casamento marcado pelo desamor, em um momento de descontrole abandona seu filho e, imediatamente arrependida, volta para o lugar onde o deixou e não encontra quaisquer vestígio de sua presença. Desesperador. Essa autora consegue colocar o dedo na ferida de maneiras muito profundas. Garanta o seu exemplar de "Véspera", de Carla Madeira, neste link.


terça-feira, 18 de abril de 2023

.: Casa Museu Ema Klabin promove minicurso on-line de temática indígena


No mês em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas, veja abaixo um minicurso e uma mesa-redonda com especialistas como: Ailton Krenak; Rita Carelli e Vincent Carelli. Os eventos são gratuitos e abertos para todo o Brasil. Serão três encontros e as inscrições gratuitas já estão abertas Ilustração original de Carybé, gravura em água-forte, 1956-1957, livro “Macunaíma o Herói sem Nenhum Caráter”,  Mário de Andrade, Cem Bibliófilos, Coleção Ema Klabin.


Casa Museu Ema Klabin promove o minicurso "O Brasil Esquecido no Olhar de Grandes Escritores: Maxacalis, Guaranis, Tupis, Tupinambás". Serão três encontros virtuais, nos dias 19 e 26 de abril e 3 de maio, das 19h às 21h, pela plataforma zoom, as inscrições já estão abertas no site da instituição. 

Ministrado por Ana Beatriz Demarchi Barel, doutora em Letras pela Université Paris III Sorbonne Nouvelle, o minicurso tem como objetivo explicitar como o indígena, com sua cosmovisão, aparece no imaginário de artistas e escritores de origem europeia ou indígena. A pesquisadora lembra que a temática indígena percorre boa parte da produção literária brasileira, desde a carta de Pero Vaz de Caminha, primeiro texto a eleger o Brasil como personagem principal, passando por importantes relatos de viajantes sobre o seu encontro com os indígenas, autores românticos, modernos, pós-modernos e contemporâneos.

Nos encontros serão abordados textos que transitam entre a historiografia, a etnologia, o gênero epistolar e a ficção de autores como: Ferdinand Denis, Gonçalves Dias, Adèle Toussaint-Samson, Alfredo Taunay, Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Antonio Callado e Ailton Krenak, entre outros. 


Mesa-redonda
No dia 6 de maio de 2023, das 10h às 13h, a Casa Museu Ema Klabin também promove uma mesa-redonda presencial e com transmissão ao vivo, com as presenças de especialistas que, em suas áreas de atuação, refletem sobre as condições em que vivem os povos indígenas no Brasil.

A mesa-redonda "Vozes de Pindorama: Diferentes Olhares e Histórias Sobre os Povos Indígenas do Brasil" contará com as presenças do escritor e ativista indígena Ailton Krenak; da escritora, roteirista e atriz Rita Carelli; do cineasta e indigenista Vincent Carelli e a mediação de Ana Beatriz Demarchi Barel. Com intérpretes de Libras, o evento receberá a comunidade indígena Guarani da aldeia Kalipety a convite da casa museu. Esta iniciativa conta com o patrocínio da Klabin S.A.


Serviço
Minicurso: "O Brasil Esquecido no Olhar de Grandes Escritores: Maxacalis, Guaranis, Tupis, Tupinambás".
Quartas-feiras, 19 e 26 de abril e 3 de maio de 2023, das 19h às 21h. 95 vagas. Classificação: 16 anos Inscrições no site: https://emaklabin.org.br/cursos/o-brasil-esquecido-no-olhar-de-grandes-escritores. Mesa-redonda: Vozes de Pindorama: diferentes olhares e histórias sobre os povos indígenas do Brasil.  

Sábado, 6 de maio de 2023
Das 10h às 13h - 100 vagas presenciais e transmissão ao vivo pelo YouTube da Casa Museu Ema Klabin – classificação: 16 anos. Rua Portugal, 43 – Jardim Europa - São Paulo.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

.: Livro “Textos Cruéis Demais” ganha adaptação para o teatro em São Paulo


Após atravessarmos um período de retrocessos para a população LGBTQIAP+ no país, peça dirigida pelo diretor e roteirista Carlos Jardim joga luz sobre a importância de se contar nos palcos histórias de amor homossexual. Foto: Carlos Costa

"Textos Cruéis Demais - Quando o Amor te Vira pelo Avesso", adaptação para os palcos do livro fenômeno de vendas "Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente", estreia no Teatro Sérgio Cardoso, equipamento da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e gerido pela Amigos da Arte, em São Paulo, no dia 3 de março. 

Escrita e dirigida por Carlos Jardim, a peça conta a história de Pedro (Edmundo Vitor) que tenta se reerguer após o término de seu tórrido relacionamento com Fábio (Felipe Barreto). A peça, que fica em cartaz entre 3 e 26 de março, de sexta a domingo, também traz composições inéditas, criadas especialmente para o espetáculo por Carlos Jardim e Liliane Secco. 

A escrita de Igor Pires, autor do livro, está intimamente ligada ao mundo hiper conectado nas redes sociais. Seu livro de estreia,"Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente", vendeu meio milhão de exemplares e motivou o projeto TCD nas redes sociais, que tem quatro milhões de seguidores. Igor está lançando o quinto volume da série ao mesmo tempo em que sua primeira história chega aos palcos com "Textos Cruéis Demais - Quando o Amor te Vira pelo Avesso". 

"Li uma reportagem sobre o livro e achei muito interessante que um jovem de vinte e poucos anos tivesse escrito histórias de amor tão intensas e ainda em forma de poesia. Logo percebi a força daqueles sentimentos, e como isso poderia ficar forte no palco", relembra Carlos Jardim, que estreia na direção teatral após assinar roteiro e direção do bem-sucedido documentário "Maria - Ninguém Sabe Quem Sou Eu", sobre a cantora Maria Bethânia, cuja bilheteria acumula mais de 20 mil espectadores, tornando-se o documentário nacional mais assistido dos últimos quatro anos.

Ainda que a história contada na peça seja um retrato dos relacionamentos atuais da juventude, os sentimentos que movem Pedro (Edmundo Vitor) são absolutamente atemporais. Devastado com o término de um tórrido e turbulento relacionamento, ele relembra seus momentos com Fábio (Felipe Barreto) e compartilha uma série de confissões, dores, reflexões e lembranças com a plateia. Em alguns momentos, empunha o violão e também apresenta canções inéditas, compostas especialmente para o espetáculo.

Quando Jardim leu o livro, percebeu que o texto era muito sonoro, e logo veio a ideia de ter música na peça. As composições são uma parceria dele com Liliane Secco, conhecida musicista e também muito presente no universo teatral, que elaborou os arranjos e a direção musical da peça. Igor Pires entra como parceiro em duas músicas. Como frisa o diretor, a atual montagem não é um musical, mas uma peça com música, em que os números ajudam a contar mais sobre os personagens e suas emoções.

"Igor foi incrível, me deu total liberdade para adaptar a história", lembra Jardim. Uma das grandes diferenças será a presença do ex-namorado do personagem em cena. "O livro me pareceu um grande desabafo do Igor depois de ser deixado pelo namorado. Mas só o Igor tem voz na narrativa. Fiquei imaginando quem seria a pessoa que motivou tanta dor e tantos poemas lindos! Criei então o outro personagem, que não existe no livro", conta o diretor, que ressalta a importância de se contar uma história de amor homossexual depois de todo o período de avanço do conservadorismo no país. 

Igor Pires faz coro a Jardim: "Existe uma necessidade de que histórias de amor como esta sejam contadas, especialmente porque o público pode se relacionar em um lugar comum, e acredito que o livro e o espetáculo proporcionarão tamanha identificação".

Edmundo Vitor, que interpreta o protagonista Pedro, vai além: "Amar é um ato de coragem e entrega! Essa é uma história que mostra a vulnerabilidade de quem se entrega ao amor por completo. Ainda é, sim, importante falar de amor, principalmente nesses tempos tão obscuros e turbulentos com tanta homofobia, ódio e racismo, e essa é uma forma poética de trazer luz e reflexões sobre o turbilhão de emoções que o amor provoca". A celebração da diversidade estará presente também na sessão de estreia do espetáculo, no dia 03/03, quando o bloco Explode Coração fará uma apresentação especial no teatro. Compre o livro "Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente" neste link.


Ficha técnica
"Textos Cruéis Demais - Quando o Amor te Vira pelo Avesso"
Livremente inspirado no livro 
"Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente", de Igor Pires
Texto e direção: Carlos Jardim
Elenco: Edmundo Vitor e Felipe Barreto
Assistente de direção e direção de movimento: Flávia Rinaldi
Direção musical, trilha original e arranjos: Liliane Secco
Direção de produção: Gaby de Saboya
Cenografia e figurino: Marieta Spada
Iluminação: Paulo Denizot
Produção: Leila Alvarenga
Operador de som: Consuelo Barros
Assessoria de imprensa: Approach Comunicação 
Social Media: Clara Corrêa
Assessoria jurídica: Berenice Sofiete
Controller financeiro: Fernanda Lira
Fotógrafo: Carlos Costa


Serviço:
"Textos Cruéis Demais - Quando o Amor te Vira pelo Avesso"
Local:
Teatro Sérgio Cardoso. 
Data: de 3 a 26 de março.
Dias: 3, 4 e 5, 10, 11, 12, 17, 18, 19, 24, 25 e 26.
Horário: 19h. 
Ingressos: R$ 50 (inteira) | R$ 25 (meia-entrada). Ingressos pelo sistema Sympla.
Duração: 60 minutos.
Capacidade: 143 lugares + 6 espaços de cadeirantes.
Classificação: 16 anos.


sábado, 18 de fevereiro de 2023

.: TV Cultura estreia documentário sobre "Macunaíma" neste domingo


Neste domingo, dia 19, estreia na TV Cultura o documentário "Por Onde anda Makunaíma?". A partir das 22h, a produção faz um resgate histórico e cultural daquele que é o personagem ficcional mais identificado com um certo jeito de ser brasileiro.

Com depoimentos em português, alemão, espanhol, macuxi e taurepang, o filme retorna a esse personagem que já nasce múltiplo e segue contemporâneo. A obra é uma produção da Platô Filmes com coprodução da Boulevard Filmes.

Quem é Makunaíma?
Mito de origem de etnias da tríplice fronteira Brasil-Venezuela-Guiana, registrado em livro pela primeira vez no início do ano de 1910, pelo etnólogo alemão Koch-Grünberg. É ele quem faz a ponte entre o extremo norte da América do Sul com o Brasil não-indígena, por meio de Mário de Andrade, célebre autor da rapsódia "Macunaíma, O Herói Sem Nenhum Caráter", de 1926.

Em 1969, Joaquim Pedro de Andrade lança a sua versão dessa história, o filme mais censurado do Cinema Novo. Em 1978, Antunes Filho leva "Macunaíma" para o teatro. Em 1983, "Macunaíma" volta para o cinema como "Exu-Piá", de Paulo Veríssimo, filme selecionado para o Festival de Berlim em 1985, mas não exibido. Conpre o livro "Macunaíma" neste link.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

.: Da literatura para os jogos, “Hogwarts Legacy” chega primeiro na Paulista


Campanha domina a Avenida Paulista com um projeto icônico para o lançamento do game "Hogwarts Legacy"

O game "Hogwarts Legacy", inspirado no universo criado por J.K. Rowling, tomou a Avenida Paulista com uma ação desenvolvida pela Fbiz e a Eletromídia para a Warner Bros. As instalações já estão disponíveis em frente à Cásper Líbero e ficam lá durante todo o fim de semana. Além disso, tem esse destaque: os fãs podem até segunda-feira, dia 13 de fevereiro, ver e participar do desafio do "Chapéu Seletor", que dirá a casa que a pessoa seguirá: Grifinória, Corvinal, Lufa-Lufa ou Sonserina.

A ação foi desenvolvida pela Eletromidia, plataforma de mídia out of home, em parceria com a agência Fbiz, para a Warner Bros. A campanha é totalmente instagramável. Para chamar a atenção das pessoas para o Mundo Bruxo do universo de Harry Potter, um mobiliário urbano na Avenida Paulista, 900 foi customizado para a divulgação do game. O abrigo de ônibus contará com duas faces estáticas e uma gigantografia do Chapéu Seletor. 

Além disso, haverá uma face digital com um game interativo para que as pessoas possam “usar” o chapéu, saber para qual casa elas irão e compartilhar o resultado nas redes sociais – será Grifinória, Corvinal, Lufa-Lufa ou Sonserina? Você pode comprar o game "Hogwarts Legacy" neste link.

sábado, 28 de janeiro de 2023

.: "Todo Dia a Mesma Noite", a minissérie ficcional inspirada em história real

 


A importância do não esquecimento desta que foi uma das maiores tragédias do país. Este é o objetivo de "Todo Dia a Mesma Noite", produção baseada no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex, lançada pela editora Intrínseca, que estreou na Netflix. A luta por justiça travada até hoje pelas famílias das vítimas da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e a importância de se contar essa história são alguns dos temas abordados em vídeo inédito sobre a minissérie ficcional.

A minissérie de cinco episódios mostra as circunstâncias que levaram ao incêndio, a investigação policial sobre o caso e a incansável luta por justiça que segue até hoje, dez anos mais tarde. 

Produzida pela Morena Filmes para a Netflix, "Todo Dia a Mesma Noite" tem direção geral de Julia Rezende, direção de Carol Minêm, roteiro de Gustavo Lipsztein e consultoria criativa de Daniela Arbex. A produção executiva é de Mariza Leão, Tiago Rezende e Gustavo Lipsztein. Compre o livro "Todo Dia a Mesma Noite" neste link.


Sobre a Netflix
A Netflix é o principal serviço de entretenimento do mundo. São 231 milhões de assinaturas pagas em mais de 190 países com acesso a séries, documentários e filmes de diversos gêneros e idiomas, além de jogos para celulares e tablets. Assinantes podem assistir, pausar e voltar a assistir a um título quantas vezes quiserem em qualquer lugar e alterar o plano a qualquer momento.


Sobre a Morena Filmes
Com mais de 40 anos de atividade no setor audiovisual, a Morena Filmes tem se destacado por obras de grande sucesso no mercado e na crítica especializada. Mesclando obras populares como as franquias "De Pernas Pro Ar" e "Meu Passado me Condena" com filmes como "Eike - Tudo ou Nada" e obras com perfil autoral como "Ponte Aérea", "O Paciente", "Depois a Louca Sou Eu", "Guerra de Canudos", entre outros, a produtora que tem à frente Mariza Leão e Tiago Rezende busca temas relevantes para incluir em sua carteira de projetos. A meta é mesclar projetos com destinação inicial nas salas de cinema e obras originais no streaming. Garanta o seu exemplar do livro "Todo Dia a Mesma Noite" neste link.

domingo, 22 de janeiro de 2023

.: Entrevista: Camilla Loreta, escritora e poeta fala sobre o primeiro romance


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. 

“Sândalo Vermelho e os Gatunos Olhos Dela” marca a estreia da poeta Camilla Loreta como romancista. Lançamento da editora Urutau, o livro explora questões de ancestralidade e de linhagem materna. Por meio de uma linguagem que passeia entre os diários de viagem, o onírico e as conexões entre passado e presente, o romance gira em torno da travessia e do inconsciente da protagonista Léia Stachewski, que decide iniciar uma viagem de carro sozinha pelo Leste Europeu, rumo à Finlândia. Perdida em um território gelado, ela relembra momentos de sua formação no Brasil, origens familiares e motivações. Tem tudo para levar os leitores ao deleite estético e de inspiração. 

Camilla Loreta é formada em Audiovisual e História da Arte, em São Paulo. Pesquisa a escrita o corpo e a imagem através das artes gráficas e audiovisuais. Dirigiu dois curtas-metragens, “Clara” e “O Silêncio das Pedras”. Participou de diversas residências artísticas, entre elas: "The Artist Meeting", em Marianowo (Polônia). Atualmente cursa a pós-graduação do Instituto Vera Cruz para escritores de ficção. De vez em quando, surgem grandes artistas e grandes escritores. Camilla Loreta está entre esses e, nesta entrevista exclusiva, permite o leitor observar, mesmo que de longe, um pouco de sua alma criativa. Você pode comprar o livro “Sândalo Vermelho e os Gatunos Olhos Dela” neste link.


Resenhando.com -  O romance “Sândalo Vermelho e os Gatunos Olhos Dela” tem um título curioso. Pode explicar o porquê dele?
Camilla Loreta - O porquê talvez não possa explicar... Mas como foi a escolha: estava no ônibus, andando por São Paulo e o título brotou na minha cabeça, sem muito motivo. Ainda estava na metade da escrita do livro, não havia acabado, mantive o título. Fui entendendo se ficaria... e ficou. Apresentei o título para algumas pessoas e todas acharam que ele era forte e interessante, mais um motivo para manter. Obviamente ele tem conexões com a história, principalmente a parte que falamos sobre planetas, universo...marte e lua no céu! Acho que cada leitor pode tirar suas conclusões.

Resenhando.com - O livro explora questões de ancestralidade e de linhagem materna. O que a motivou a misturar esses dois assuntos?
Camilla Loreta - 
A viagem para Polônia que fiz foi a base da construção da narrativa. Tenho uma linhagem de ancestralidade, por parte da minha avó paterna, que tem suas raízes na Polônia pré-Segunda Guerra. Foi um caminho orgânico, não planejei que esses temas seriam centrais, apenas uma aceitação que era sobre isso que meu livro iria tratar. Acabou que pra personagem principal isso era um centro das transformações que ela estava passando com sua Avó e sua Mãe.

Resenhando.com - Como foi a transição entre poeta a romancista? 
Camilla Loreta - 
Não me parece que ouve transição, continuo sendo poeta, não parei de escrever poesia, e no romance eu exerci um caminho muito próximo do de quando escrevia poesia. A poesia toma tanto tempo, reescrita e releitura, quanto a prosa para mim.


O que difere, e o que se assemelha, entre uma e outra?
Camilla Loreta - 
Os processos não diferem tanto, é mais o resultado final que na página parece diferir. Eu costumo não separar os gêneros, e tem várias escritoras e escritores que pensam assim no contemporâneo.

Resenhando.com - O que é mais difícil para escrever: poesia ou prosa?
Camilla Loreta - 
Acho que os dois são igualmente difíceis, por motivos diferentes. Poesia tem um impacto gráfico, único, marcante, contínuo da palavra. A narrativa de prosa se infiltra no cotidiano, então precisa de toada, convencer o leitor a seguir. Para mim, escrever tem conexão direta com o inconsciente, na poesia essa conexão fique ainda mais explícita, pois meu processo inicial é num caminho do deixar aparecer, fluir, e depois trabalhar. Eu levei esse processo para a escrita de prosa, e acho que isso ajuda a manter uma certa linha estética do meu projeto de escrita.

Resenhando.com - A ideia inicial era fazer desse romance uma ficção científica. Por que a mudança?
Camilla Loreta - 
No começo eu ia escrever sobre Marte e Lua, mas ai as páginas começaram a fazer aniversário na minha gaveta de projetos, a história não continuava, parecia travada. Foi então que eu comecei a escrever sobre a Léia, e quando ela apareceu costurando as páginas que eu já tinha percebi que se tratava da história dela, e não de um mundo de ficção científica. Esse mundo mágico que circunda a história acabou por representar mais o interior da personagem do que o mundo fora dela.

Resenhando.com - Na sua própria literatura, em que você se expõe mais, e por outro lado, em que você mais se preserva, em seus textos?
Camilla Loreta - 
Não entendi muito bem a pergunta, mas acho vou responder pensando sobre autoficção. No caso desse livro não sinto que expus ou preservei nada, eu simplesmente escrevi algo ficcional, que tinha conexões com a minha vida, mas nada literal. No meu próximo projeto tenho um pouco mais de tensão nessas escolhas, deixei alguns fatos mais crus, mas mesmo assim acredito que tudo é ficção. Inclusive a realidade.

Resenhando.com - Quais livros foram fundamentais para a sua formação enquanto escritora e leitora?
Camilla Loreta - Tudo que li do Murakami. Acho que ele constrói bem personagens, e isso sempre me motivou. Assim como os livros do Paul Auster. Gosto muito do "Noite de Oráculo". Gosto muito de literatura asiática, "Kitchen", da Banana Yoshimoto, é meu livro favorito. Tudo que envolve comida me interessa. A poesia de Emily Dickinson é bem seminal para mim, assim como a Sophia de Mello Breyner Andersen. Aqui no Brasil, duas leituras me deixaram rastros internos que ainda analiso os caminhos até hoje, que foram "Um Defeito de Cor", da Ana Maria Gonçalves, e "Outros Cantos", da Maria Valéria Rezende.

Resenhando.com - Como e quando começou a escrever?
Camilla Loreta - 
Não lembro, tenho diários de criança, tenho poesias também, de criança. Sempre escrevi, acho que sempre foi um modo de lidar com as minhas tensões internas. Mas assumi que era escritora quando comecei a deixar essa face pública. Eu tinha um Tumblr, chamava "Tomar Um Sol C." e eu publicava poesias em conjunto com fotos. Eu gosto muito dele, ainda hoje, acho que tudo que sou mora naquele começo. Eu me sentia muito livre, isso é importante para a literatura. Hoje em dia penso muito no depois e isso me trava constantemente.

Resenhando.com - Quais escritores mais influenciaram a sua trajetória artística e pessoal?
Camilla Loreta - 
Carola Saavedra, sem dúvida, pois ela me mostrou que eu poderia ser escritora, mesmo sendo mulher, mesmo parecendo que não era possível. Nos conhecemos num curso que ela ministrou, depois nos tornamos amigas por conta de compartilhamentos de visão sobre o mundo espiritual. Natália Zucalla, pois iniciamos nossa trajetória como escritoras ao mesmo tempo (mais ou menos) e publicamos pela mesmo editora, e isso nos deu possibilidade de trocar e conversar sobre um momento que é bem delicado, agradeço muito por isso. E por fim Gabriela Aguerre, por ser a melhor leitora que conheço, sempre me direcionou com sinceridade e afetos acolhedores.

Resenhando.com - O quanto para você escrever é disciplina? É mais inspiração ou transpiração?
Camilla Loreta - 
É uma mistura, tem de tudo. Tem trabalho, tem insights, tem crise, tem procrastinação, tédio, amor, raiva. Tem de tudo. Quando lemos os diários de escritoras por ai temos a dimensão que escrever é como dar murros (parafraseando Susan Sontag) não é bonito, nem agradável, mas libera certas energias que são importantes para nossos processos enquanto seres humanos.

Resenhando.com - Quanto tempo por dia você reserva para escrever?
Camilla Loreta - 
Depende da época. Na época de "Sândalo", eu ficava no meu espaço de trabalho umas três horas por dia, escrevi com intervalos intermitentes. Foram cinco anos no total, então tive momentos de pausa longa. No caso desse novo romance que estou escrevendo, que ainda não sei dizer bem sobre, costumo ficar uma hora por dia, mas as vezes eu só encaro a parede.

Resenhando.com - Você tem um ritual para escrever?
Camilla Loreta - 
Nem sempre. Mas costumo tentar fazer algo com o corpo antes de sentar. Eu fiz algum tempo de aulas de corpo, dança, e isso costuma a me ajudar a liberar.

Resenhando.com - Qual o mote que faz você ficar mais confortável para escrever?
Camilla Loreta - 
Liberdade e companheirismo. Ter companhia é muito importante, não a todo momento, mas tenho muitas amigas que envio os textos de tempos em tempos para conversar, amigas escritoras. Isso muda bastante algumas coisas, principalmente a sensação que o texto tem um caminho público, que ele pode pertencer ao mundo.

Resenhando.com - Em um processo de criação, o silêncio e isolamento são primordiais para produzir conteúdo ou o barulho não lhe atrapalha?
Camilla Loreta - 
Não sou capaz de produzir com sons que me distraem, mas não são todos que me distraem. Sons de pássaros, água, tráfico longínquo são sons constantes, não me incomodam. Me parece que para alguma pessoas o barulho não é uma escolha, ou vai com barulho ou não se escreve nada, por isso eu diria, escreva mesmo assim, uma hora você alcança um espaço mais adequado, mas não pare de escrever por isso.

Resenhando.com - O que há de autobiográfico nos textos que escreve?
Camilla Loreta - 
Uma resposta sem muita resposta, tudo e nada. No fundo toda pessoa que cria usa o que tem para criar.

Resenhando.com - Hoje, quem é a Camilla Loreta por ela mesma?
Camilla Loreta - 
Uma jovem escritora, que ama a floresta, e espera um dia poder aproximar sua conexão com a escrita de forma tão livre como a água corre pelos rios.


domingo, 15 de janeiro de 2023

.: Entrevista: Alexandre Arbex fala sobre a normalidade narrativa


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. 

Alexandre Arbex é autor do livro de contos “Pessoas Desaparecidas, Lugares Desabitados”, lançado pela editora 7Letras, que reúne 30 contos curtos que mesclam uma pretensa normalidade narrativa com situações insólitas. Ele já foi finalista na categoria contos no Prêmio Jabuti com o livro "Da Utilidade das Coisas". Também foi finalista do Prêmio Off Flip duas vezes e levou o terceiro lugar no Prêmio Rubem Braga de Crônicas, do Sesc, em 2015.

Leitor de literatura latino-americana, do realismo mágico até os contemporâneos, ele nasceu em 1980, em Resende, no Rio de Janeiro, mas cresceu na capital, onde morou até 2009. Desde então, vive em Brasília. Tem contos publicados na revista Gueto e no projeto Máquina de Contos. Nesta entrevista exclusiva, Alexandre Arbex fala sobre a arte que produz e mostra a que veio. Você pode comprar  “Pessoas Desaparecidas, Lugares Desabitados” neste link. 

Resenhando.com - Dentro do contexto do livro, o que seriam “Pessoas Desaparecidas" e " Lugares Desabitados”? 
Alexandre Arbex - As histórias centradas em personagens têm a forma de verbetes biográficos que se dissolvem na morte ou na perda de paradeiro dos protagonistas, ao passo que as histórias sobre lugares – reinos, ilhas, casas – se descolam pouco a pouco da realidade até tornar puramente ficcionais os espaços físicos onde os acontecimentos se passam.

Resenhando.com - Por que um título tão curioso?
Alexandre Arbex - Acho que o título contempla a maioria dos personagens e dos cenários dos contos que integram o livro. 


Resenhando.com - O que o levou a misturar uma pretensa normalidade narrativa com situações insólitas?
Alexandre Arbex - Gosto do efeito de contraste resultante da conjunção entre, de um lado, um estilo desassombrado e cartorial, com pretensões explicativas, e, de outro, uma situação absurda, uma aberração lógica: o discurso pedagógico às vezes serve como instrumento de normalização do horror. Por mais delirante ou indigno que seja um fato descrito, basta atrelá-lo a uma explicação (ou a um discurso com a aparência formal de uma explicação, estabelecendo causas e efeitos) para torná-lo palatável, para satisfazer as exigências da razão. De modo geral, os nossos critérios de racionalidade se prendem muito mais à forma que ao conteúdo.

Resenhando.com - Você nasceu no Rio de Janeiro e hoje vive em Brasília. De que maneira esses dois ambientes, quase antagônicos, refletem na sua escrita?
Alexandre Arbex - Hoje, depois de 13 anos de Brasília, acho que minha escrita reflete muito mais a experiência de vida na capital federal que o Rio de Janeiro idealizado pelo meu saudosismo. Além disso, comecei a escrever ficção, para valer, aqui em Brasília. Acho que o ambiente burocrático, a geometria despovoada da cidade e a aridez do cerrado têm influído tanto sobre o estilo quanto sobre os temas dos meus contos.


Resenhando.com - O que representa a literatura em sua vida?
Alexandre Arbex - A literatura tornou-se, para mim, uma necessidade orgânica, impositiva, a tal ponto que, mesmo se minha escrita se revelar futuramente um fracasso absoluto, eu continuarei a escrever.

Resenhando.com - Na sua própria literatura, em que você se expõe mais, e por outro lado, em que você mais se preserva, em seus textos?
Alexandre Arbex - Acho que me exponho completamente no que escrevo, pelo pior lado possível, mas com uma discrição escrupulosa que me permite preservar alguma integridade. De todo modo, me parece que todos os escritores produzem ficção a partir de suas próprias vidas e criam personagens a partir de si mesmos: o que lhes permite preservar-se mais ou menos é o distanciamento artificial que o estilo e o “contrato” ficcional criam em torno da história contada.

Resenhando.com - Que conselhos você dá para as pessoas que pretendem enveredar pelos caminhos da escrita?
Alexandre Arbex - A gente sempre começa tarde demais.

Resenhando.com - Quais livros foram fundamentais para a sua formação enquanto escritor e leitor?
Alexandre Arbex - "Dom Quixote", "As Viagens de Gulliver" e "Cem Anos de Solidão".

Resenhando.com - Como e quando começou a escrever?
Alexandre Arbex - Comecei a escrever ficção, de modo mais assíduo e determinado, depois dos 30 anos de idade.

Resenhando.com - Quais escritores mais influenciaram a sua trajetória artística e pessoal? Alexandre Arbex - A literatura latino-americana do século XX: Borges, García Marquez, Silvina Ocampo, Alejo Carpentier e, mais recentemente, Roberto Bolaño e Mariana Enriquez. Em língua portuguesa, Machado de Assis, gênio absoluto, Eça de Queiroz, Guimarães Rosa, Saramago e Agustina Bessa-Luís, cuja prosa é insuperável. Entre os clássicos, Cervantes, Swift, Dickens, Tolstói, Kafka e Proust. E tudo de Primo Levi.

Resenhando.com - É difícil ser escritor no Brasil?
Alexandre Arbex - Depende de como se quer viver como escritor, mas, de modo geral, não é algo viável em nenhum lugar.


Resenhando.com - Dá pra viver de literatura no Brasil?
Alexandre Arbex - De novo: depende de como se quer viver. No Brasil, acho que a simples possibilidade de ter a atividade literária como horizonte de futuro exprime já (com raras exceções) uma inserção socioeconômica relativamente segura. A literatura não é, definitivamente, uma atividade marcada pela urgência material da sobrevivência: quando uma pessoa dispõe de tempo para escrever, provavelmente a questão da sobrevivência está resolvida para ela ou, ao menos, equacionada de modo estável no médio prazo. Dito isso: pelas características do mercado editorial brasileiro, acho difícil que um(a) escritor(a) possa, vivendo apenas de literatura, garantir as condições materiais necessárias (incluindo, aí, o “ócio”) ao desenvolvimento de uma atividade literária concebida como trabalho exclusivo. Quando se tem filhos, família ou outros compromissos sociais, além disso, o tempo encurta, os encargos materiais aumentam e as brechas para o exercício da escrita se tornam mais escassas e estreitas.

Resenhando.com - O quanto para você escrever é disciplina? É mais inspiração ou transpiração?
Alexandre Arbex - Em termos de tempo, é muito mais disciplina e transpiração. Mas a inspiração é essencial, muito embora também ela possa ser fabricada.

Resenhando.com - Quanto tempo por dia você reserva para escrever?
Alexandre Arbex - Tento escrever todos os dias, às vezes menos de uma hora, às vezes um pouco mais, mas não passa disso.

Resenhando.com - Você tem um ritual para escrever? 
Alexandre Arbex - Geralmente, leio algum romance ou conto que esteja me ajudando a sanar as dificuldades que encontro na produção de um texto específico – e faço um café. Às vezes, à noite, saio para caminhar.

Resenhando.com - Qual o mote que faz você ficar mais confortável para escrever?
Alexandre Arbex - Tendo a me sentir menos confortável ao escrever algo sentimental.

Resenhando.com - Em um processo de criação, o silêncio e isolamento são primordiais para produzir conteúdo ou o barulho não lhe atrapalha?
Alexandre Arbex - Quando se pode escolher, o silêncio e o isolamento são preferíveis ao barulho, porque a escrita exige uma capacidade de abstração da realidade que é precondição para a imersão ficcional. Mas às vezes uma boa ideia se impõe no meio da rua, e é preciso correr agarrado a ela até o papel, a tela ou o gravador mais próximo.

Resenhando.com - O que há de autobiográfico nos textos que escreve?
Alexandre Arbex - Não há nada deliberadamente autobiográfico, mas acho que tudo na escrita pertence de uma forma ou de outra à minha vida.

Resenhando.com - Por qual de seus livros - ou personagem - você sente mais carinho?
Alexandre Arbex - Do último livro, tenho carinho especial por todos os personagens que receberam um nome. Do anterior, por todos que conheci.

Resenhando.com - Hoje, quem é o Alexandre Arbex por ele mesmo?
Alexandre Arbex - Dostoievski disse, nas “Memórias do subsolo”, que nenhuma pessoa que se conhece bem pode ter estima por si mesma.


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