Físico e diplomata brasileiro-guineense conversa com José Henrique Bortoluci sobre seu livro de estreia, que entrelaça reflexões sobre identidade, racismo e a busca pelas raízes paternas. Foto: divulgação
O físico e diplomata Ernesto Mané lança nesta quarta-feira, 3 de setembro, às 18h30, na livraria e espaço cultural Tapera Taperá, "Antes do Início", seu livro de estreia publicado pela Tinta-da-China Brasil. O encontro será mediado pelo sociólogo, professor e escritor José Henrique Bortoluci, autor de "O Que É Meu". Os dois devem falar da figura do pai na literatura, ensaio autobiográfico, física, entre outros temas de interesse comum. Leia a entrevista com ele neste link> .: "Antes do Início": Ernesto Mané encara o passado com olhos de futuro.
Em "Antes do Início", Mané narra sua jornada pessoal em busca de suas raízes na Guiné-Bissau. A obra mescla diário de viagem e ensaio autobiográfico, enquanto narra a própria experiência ao visitar pela primeira vez a terra de seu pai em 2010. Nascido no Brasil, de mãe paraibana e pai guineense, Mané sempre teve uma inquietação profunda: conhecer o outro lado da kalunga - termo que designa a travessia atlântica que tantos africanos fizeram ao longo dos séculos.
Seu pai, da geração responsável pela independência da Guiné-Bissau, imigra para o Brasil nos anos 1970 graças a uma bolsa de estudos do Itamaraty, em busca de uma formação acadêmica internacional de alto nível. Em São Paulo, acaba sendo repelido pelo racismo nas salas de aula e corredores da universidade, e abandona o jovem Ernesto e a família. Constitui uma nova família em Cabo Verde, e novamente a abandona. Seria um “sacana”, como dizem alguns, ou apenas alguém que tentava salvar a própria pele em meio à barbárie das guerras coloniais portuguesas? O que têm a dizer os amigos e parentes que ficaram na Guiné-Bissau sobre este homem que parece ter abandonado a todos, mas que é lembrado e mencionado no tempo presente, como se sempre estivesse ali?
Para Mané, conhecer a realidade da Guiné e da família que vive ali traz desalento e dor, frustra expectativas, amplia os questionamentos e o faz revisitar memórias de infância. A paternidade e o divórcio recente o fazem olhar de outra maneira para o pai e para os enredos familiares.
Tendo sofrido racismo desde criança no Brasil, ele se choca ao ser chamado de “branco” nas ruas de Bissau, pelo modo de se vestir e se comportar. Aprende a comer com as mãos, da mesma tigela dos parentes reunidos à mesa. Conhece a bolanha, a plantação de arroz junto à qual vivem seus avós em condições extremamente precárias. Um dia ele se vê no transporte público carregando pelos pés um presente que ganhou: uma galinha viva, cena comum nas ruas de Bissau. As contradições e possibilidades da Guiné chamam a atenção do jovem cientista. Parece-lhe evidente o potencial cultural e político do crioulo, idioma que é falado por toda a população, mas que seu pai não lhe ensinou e não é sequer adotado como uma das línguas oficiais do país.
Entre as muitas decisões que Mané - sobrenome de origem balanta, uma das etnias que compõem a população da Guiné-Bissau - toma a partir da viagem está o pedido de um passaporte da Guiné-Bissau para ter dupla cidadania. Se a história e a política, conforme atestam as páginas de Antes do início, contribuíram para acentuar a distância entre África e Brasil, Mané nos mostra de forma notável que a literatura é uma linguagem privilegiada para nos trazer notícias do outro lado da kalunga.
O debate sobre ausência paterna, história e ancestralidade será aprofundado no encontro com Bortoluci, que também já explorou o tema em seu livro "O que É Meu" (Fósforo, 2023), no qual reconstitui a vida do pai caminhoneiro e, com isso, uma parte da história brasileira. A conversa abordará as trajetórias que conectam Brasil e Guiné-Bissau, explorando como ambos os autores revisitaram suas origens para construir narrativas literárias. Compre o livro "Antes do Início", de Ernesto Mané, neste link.
Sobre o autor
Ernesto Mané (João Pessoa, 1983) é brasileiro e guineense. Doutor em física nuclear pela Universidade de Manchester, no Reino Unido, realizou pós-doutorado no laboratório canadense Triumf. Ingressou na carreira diplomática em 2014, por meio do Programa de Ação Afirmativa para Afrodescendentes do Instituto Rio Branco. Foi pesquisador visitante na Universidade de Princeton, nos EUA, entre 2019 e 2020. Também em 2019, foi reconhecido pelo Mipad (Most Influential People of African Descent) como um dos cem afrodescendentes com menos de quarenta anos mais influentes do mundo na área de política e governança. Serviu na Embaixada do Brasil em Washington entre 2021 e 2025, e atualmente serve na Embaixada do Brasil em Buenos Aires. Antes do início é seu livro de estreia.
Sobre o mediador
José Henrique Bortoluci é escritor, doutor em sociologia pela Universidade de Michigan e professor da FGV. Ele é autor de "O Que É Meu" (Fósforo, 2023) e da série de ensaios Geração Democracia (revista piauí, 2025), entre outros.
Serviço
Lançamento do livro "Antes do Início" com Ernesto Mané
Mediação: José Henrique Bortoluci
Data: 3 de setembro, quarta-feira
Horário: 18h30
Local: Tapera Taperá – Av. São Luís, 187 – 2º andar, loja 29. República / São Paulo
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