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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

.: Podcast “A Coach”, de Chico Felitti, investiga o caso de Kat Torres


A Wondery, estúdio de podcasts da Amazon, lança o novo podcast original “A Coach”, apresentado pelo jornalista, escritor e roteirista Chico Felitti, conhecido pelos sucessos de “A Mulher da Casa Abandonada” e “O Ateliê”. Os dois primeiros episódios do programa estão disponíveis em todos os serviços de streaming de áudio, mas quem quiser também já pode ouvir o terceiro e quarto episódios de forma gratuita e exclusiva no Amazon Music, que trará os episódios sempre em primeira mão.

“A Coach” narra a ascensão e a queda de Kat Torres, modelo, influenciadora e atriz que atualmente aguarda julgamento no presídio de Bangu, no Rio de Janeiro, após ser acusada de tráfico humano. Ao longo de nove episódios, Felitti traz detalhes das várias vidas de Kat, desde sua infância pobre no Brasil, até seu suposto relacionamento com Leonardo DiCaprio e sua ascensão como guru espiritual nos Estados Unidos. O podcast investiga a fundo as escolhas que levaram Kat a se tornar um dos assuntos mais comentados em novembro de 2022, quando ela foi presa.

Em 2022, a internet brasileira presenciou um fenômeno. Milhares de pessoas tentaram investigar por conta própria um mistério. E os trending topics tinham todos uma personagem central: Kat Torres, também conhecida pela alcunha Kat A Luz. “A Coach” é um podcast narrativo da Wondery que documenta a inacreditável vida dessa brasileira que saiu da pobreza e conquistou a fama com sete carreiras diferentes, para depois ser acusada de um crime.

Em uma investigação inédita que percorre o Brasil e os EUA em busca de contar uma história surreal, mas 100% real. A trajetória de Kat Torres é um conto sobre busca por fama e sucesso, a qualquer custo. “A Coach” é apresentado por Chico Felitti, criador de “A Mulher da Casa Abandonada” e “O Ateliê”. “A Coach” é um podcast Wondery produzido pela Pachorra Felitti Áudios, Livros e Filmes. Compre os livros de Chico Felitti neste link.


Sobre Chico Felitti
Chico Felitti
é repórter, ganhador dos prêmios Petrobrás e Comunique-se de jornalismo. Escreveu os livros "Rainhas da Noite", "Elke: Mulher Maravilha" e "Ricardo & Vânia", finalista do prêmio Jabuti 2020. Criou os podcasts "Além do Meme", "O Ateliê" e "A Mulher da Casa Abandonada", que foi um dos mais ouvidos da história do país. Garanta os livros escritos por Chico Felitti neste link.


Sobre Pachorra Felitti Áudios, Livros e Filmes
Produtora focada em contar histórias únicas, como no podcast “O Ateliê”, em livros como “Rainhas da Noite” e em programas de TV como “Angélica - 50 e Tanto”, que estreia ainda neste ano. Batizada em homenagem a Pachorra Felitti, cadela vira-lata que cedeu seu teto para Chico Felitti.

domingo, 15 de outubro de 2023

.: Entrevista: Fábio BeGi afirma que jovens podem aprender com a literatura


Depois de ter um sonho mágico e digno de um enredo fantástico literário, o autor Fábio BeGi recorreu à escrita para dialogar com os jovens sobre princípios. Para ele, a literatura precisa ser um refúgio seguro para que jovens possam aprender em um cenário repleto de desinformação. Na entrevista abaixo, o autor conta como construiu os personagens para levar ao público juvenil noções de amizade, respeito, empatia e bondade. Além disso, ele compartilha mais detalhes sobre o processo criativo da obra.

No livro de estreia, Fábio BeGi embarca em uma fantasia para lembrar o público juvenil que a literatura é um refúgio seguro para aprender. Foi o mundo onírico que inspirou o autor a escrever "Os Números de Ághora: Seven". Ele foi rememorando o que surgiu no inconsciente, sem pressa, com carinho e atenção aos detalhes, e assim deu vida aos personagens baseados na literatura fantástica e em pessoas da sua vida, para dialogar com os jovens.

Na história, a protagonista vai precisar contar com as características de cada um de seus amigos, como apoio, motivação e companheirismo, para vencer suas batalhas. Segundo o escritor, “é apenas na cooperação entre esses três que a aventura se torna uma jornada fantástica”. Nesse sentido, o enredo reforça os valores que Fábio deseja transmitir: amizade, empatia, respeito e bondade, em uma realidade cercada pelo mundo virtual, repleto de informação, mas também desinformação. O seu intuito com a obra é lembrar que a literatura é um lugar seguro para aprender sobre princípios. Confira a entrevista com o autor e compre o livro "Os Números de Ághora: Seven" neste link.


“Os Números de Ághora: Seven” conta a história de uma menina comum, que inicia uma aventura em um mundo fantástico. Como foi o processo de criação deste novo universo?
Fábio BeGi
 - Por vezes a criação de uma história surge das próprias experiências humanas, porém quando lidamos com a fantasia o caminho é quase sempre mágico. A inspiração surgiu de um sonho e, passo a passo, relembrando tudo o que me foi mostrado, as peças foram se encaixando e nascia Ághora. Para moldar os personagens me inspirei na literatura fantástica e suas personalidades emprestei de pessoas que fazem parte da minha vida. Nada foi feito às pressas, e cada pedacinho do todo foi tratado com muito amor e cuidado.

Você trata sobre valores humanos universais, como amor, amizade, empatia, bondade, respeito... Por que você decidiu abordar estes temas em uma obra voltada para o público jovem?
Fábio BeGi - 
A tecnologia nos fornece avanços fundamentais em muitas áreas, porém também pode ser um desastre se apenas utilizada para futilidades. Os mais novos têm acesso a um mundo tão amplo na internet hoje que muito dos aprendizados que guiam suas condutas de vida acabam vindo, em grande parte, de pessoas que só fazem “bobagens” no meio virtual. A leitura ainda é um refúgio seguro e inspirador para levar a todos os valores que realmente nunca mudam e são tão importantes. Se uma história puder atingir o maior número de pessoas possíveis, ela tem muito a repassar sobre todos esses valores fundamentais para a vida em sociedade.


Para salvar um reino fantástico de seus problemas, a protagonista conta com a ajuda de Chien, um pequeno guerreiro, e Sheeva, uma gata alada. Qual o papel desses personagens para a trajetória da personagem principal e também para o desenrolar da história?
Fábio BeGi - 
Costumo dizer que não vivemos isolados, mesmo que possamos nos sentir assim no dia a dia. A convivência é que nos molda e também nos transforma no que podemos ser, mas por outro lado pode nos afastar daquilo que poderíamos ter sido. Elaine é corajosa e inteligente, mas há em seus amigos peças fundamentais além de características próprias de cada um que são: confiança, companheirismo, apoio, motivação e o amor que os une. É apenas na cooperação entre esses três que a aventura se torna uma jornada fantástica e cheia de significado.


Esta obra é uma fantasia, mas que mensagens os leitores podem levar para seus cotidianos após a leitura?
Fábio BeGi - 
Que não estamos sozinhos e que podemos aprender muito com as diferenças que temos entre nós. Muitas pessoas não carregam uma mesma visão de mundo por diversas razões, porém mesmo as mais diferentes entre si podem ter muito em comum quando se permitem conviver com respeito e cooperação. A também jamais desistir mesmo quando tudo parece querer que você desista, quando a pressão parece insuportável e isso pode ser o final, mas com as pessoas certas ao seu lado o que parece ser um final é apenas uma pequena parte de uma longa história à frente.


No livro, uma mãe conta as histórias de Seven para os filhos antes de eles dormirem. Por que você optou por esta voz narrativa?
Fábio BeGi - 
A narrativa se dá em terceira pessoa e escolher alguém que viveu a aventura para contá-la é essencial para passar ao leitor o fato de que não é algo que fora inventado meramente para distrair as crianças. Mas a principal razão para a mãe passar aos seus filhos toda essa aventura só pode ser compreendida no final e não queremos dar nenhum spoiler antes da hora! Garanta o seu exemplar de "Os Números de Ághora: Seven", escrito por Fábio BeGi, neste link.

.: Mito tupinambá recriado por Alberto Mussa inspira Carnaval da Grande Rio


Em "Meu Destino É Ser Onça", publicado pela editora Civilização Brasileira, o consagrado romancista Alberto Mussa dá vazão ao seu lado acadêmico e nos coloca em contato com uma cultura determinante para a formação do povo brasileiro. A nova edição atualizada pelo autor inclui um caderno de imagens e um passo a passo do ritual antropofágico dos tupinambá. O livro inspirou o enredo da tradicional escola de samba Grande Rio, de Duque de Caxias, “Nosso Destino É Ser Onça”.

“Há 15 mil anos somos brasileiros”, escreve Alberto Mussa. Em "Meu Destino É Ser Onça", ele nos transporta para um dos momentos mais decisivos da formação do Brasil, uma cultura que sofreu reveses incalculáveis, mas, mesmo martirizada, foi capaz de moldar a brasilidade de maneira incontornável. Como brasileiros, somos, inevitavelmente, descendentes desse povo guerreiro que lutou por liberdade e sobreviveu, contra todas as probabilidades, para seguir contando sua história e honrando seu legado.

Após estudar os fragmentos de registros sobre a cultura indígena da Baía de Guanabara, feitos pelo frade André Thevet, em 1550, e cotejá-los com as demais fontes dos séculos 16 e 17, Alberto Mussa reconstitui o que teria sido o texto original de uma narrativa tupinambá. Esses escritos decifram o mundo construído pelas divindades Maíra e Sumé, além de informar sobre o surgimento desse povo nativo que se estabeleceu no litoral.

Vindos da Amazônia, onde viviam há pelo menos 11 mil anos, os tupinambá se constituíam em grupos diversos e autônomos, falantes do tupi-guarani, que se espalharam pelo país. Eles acumularam um conhecimento tão precioso sobre o território que  se tornou base para o estabelecimento de nossos primeiros centros coloniais do século 16. Influenciaram, assim, a língua falada, as trocas comerciais, o nomes topográficos, as disputas territoriais, a administração de aldeamentos e feitorias, a alimentação, e demais costumes dos brasileiros, entre eles, o banho e a depilação.

Aqui, conhecemos como esses indígenas influentes conceberam a criação do mundo e quais foram os acontecimentos míticos decisivos que fundamentaram sua cosmovisão. Principalmente, entendemos por que os tupinambá eram antropófagos e quais deidades os orientavam sobre o consumo da carne humana dos vencidos na guerra, cumprindo seu destino de ser onça. Compre o livro "Meu Destino É Ser Onça", de Alberto Mussa, neste link.


Sobre o autor
Alberto Mussa nasceu no Rio de Janeiro, em 1961. Além de contos, romances, ensaios e traduções, é autor do Compêndio mítico do Rio de Janeiro, série de cinco novelas policiais, uma para cada século da história carioca. Entre outras distinções, ganhou os prêmios Casa de Las Américas, Academia Brasileira de Letras, Oceanos, Machado de Assis e APCA. Estudada na Europa, nos Estados Unidos e no mundo árabe, sua obra está publicada em dezenove países e dezesseis idiomas. Garanta o seu exemplar de "Meu Destino É Ser Onça", escrito por Alberto Mussa, neste link.



Conheça também

O "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro" reúne em um box a história do Rio de Janeiro em cinco romances policiais de Alberto Mussa, um para cada século desde a fundação da cidade, trazendo um recorte que expõe as entranhas e a poderosa mistura de culturas e povos da capital fluminense. Com texto de livreto de Hermano Vianna. Compre o box do "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro", escrito por Alberto Mussa, neste link.

sábado, 14 de outubro de 2023

.: Nova versão do livro emocionante que foi vencedor do prêmio SP de Literatura


O corajoso e emocionante "Rebentar", vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2016, ganha nova versão, com redução de trechos, inclusão de um capítulo inédito e novos desdobramentos da história de alguns personagens. O livro, que narra o momento de reconstrução de uma mãe que decide parar de buscar seu filho desaparecido, foi totalmente reescrito por Rafael Gallo. Dono de uma escrita sensível, comovente e para um público diverso, o autor também venceu os prêmios José Saramago 2022 e o Sesc de Literatura 2012. A nova edição de "Rebentar" tem texto de orelha do escritor João Anzanello Carrascoza.

"Rebentar" conta a história de Ângela, uma mãe cujo filho desapareceu aos cinco anos de idade e jamais foi encontrado. Desde então, ela passa a viver em função da procura por Felipe: parou de trabalhar, juntou-se a instituições de busca por crianças desaparecidas, rompeu relações, não teve outros filhos e viveu um luto particular - “alguém que não é reencontrado nunca se perde em definitivo”.

Depois de 30 anos sem resultado, Ângela renuncia à busca, e a narrativa parte do momento em que sua decisão é anunciada. A protagonista, convivendo com os sentimentos de culpa, desamparo e dor causados por essa ausência que, agora, é definitiva, precisará desintegrar a própria casa, literal e metafórica, para reconstruí-la por dentro. “Um filho desaparecido é um filho que morre todos os dias”, escreve.

Publicado pela primeira vez em 2016, "Rebentar" ganha agora uma nova versão. Não se trata apenas de uma nova edição. “Este é um novo tratamento da história. O que faz dela, em algum grau, uma nova história”, explica o autor. A escrita arrebatadora de Rafael Gallo se reencontra consigo mesma para entregar desfecho e descanso definitivos à dolorosa trajetória de Ângela. Compre o livro "Rebentar", de  Rafael Gallo, neste link.


Sobre o livro
“A vida, como o mar e suas ondas, vaza das margens de Rebentar – bela e dolorida história que rebate, em nós, as águas da compaixão.” - João Anzanello Carrascoza, escritor.


Sobre o autor
Rafael Gallo
nasceu em São Paulo em 1981. É autor dos romances "Dor Fantasma" (vencedor do Prêmio José Saramago 2022) e "Rebentar" (vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2016); e, também pela editora Record, do livro de contos "Réveillon e Outros Dias" (vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2012). Tem ainda diversos textos em antologias e coletâneas, incluindo publicações em países como França, Estados Unidos, Cuba, Equador e Moçambique. Garanta o seu exemplar de "Rebentar", escrito por Rafael Gallo, neste link.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

.: Entrevista: Rafael Martins fala sobre o segredo do thriller "Além das Lantanas"


Natural do interior de São Paulo, Rafael Martins lançou recentemente pela editora Patuá o romance “O Segredo das Lantanas”, que acompanha Humberto, um personagem que, por uma série de motivos, não consegue dormir. Partindo dessa premissa aparentemente banal, o autor, com uma linguagem crua e direta, busca chocar o leitor com acontecimentos inesperados e, ao mesmo tempo, provocá-lo a participar da construção da história, através de um mergulho em suas diversas camadas. O resultado: uma curiosa experiência de retrogosto na pós-leitura.

Rafael nasceu em Campinas, em 1982, no interior do estado, onde desde menino escrevia diários e contos em folhas de fichário. Hábito que permaneceu de alguma forma adormecido até a vida adulta. Já formado em direito e atuando como Procurador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resolveu se desafiar e entrar no mundo literário. O autor revela que em 2018 escreveu o romance “Água Turva”, porém não o submeteu a análise de nenhuma editora, pois reconheceu que sua escrita precisaria passar por um processo de maturação.

A partir daí, na busca de refinamento da própria escrita, estudou as obras de Assis Brasil, James Wood e Prose e incorporou à sua rotina de leitura um olhar mais atento às técnicas e construções narrativas. Amparado em um certo repertório, em poucos meses concluiu “O Segredo das Lantanas”, fruto de um progresso técnico e de um meticuloso planejamento prévio. Este processo deu ao autor um novo senso de si como escritor, que já planeja outras obras para um futuro próximo. Leia a entrevista completa com o autor Rafael Martins.


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam? 
Rafael Martins - É um livro com muitas camadas de interpretação. Não há só um tema: ele passa por ressentimento, trauma, repetição de comportamento, recalque, abuso sexual. Em suma, diria que toca na complexidade humana. Imaginei que fossem temas que tivessem potencial de chocar, causar desconforto. Era o que eu queria.

O que motivou a escrita do livro?
Rafael Martins - 
Quis, em alguma medida, surpreender e chocar o leitor. Chocar com os temas abordados em suas diversas camadas e surpreender com um final, que exige uma certa perspicácia do leitor. É um livro que foi concebido para desafiar. Já assistiram "Clube da Luta" e "O Sexto Sentido"? O final desses filmes, geralmente, surpreende as pessoas. Fiquei tão boquiaberto que reassisti e tudo fez mais sentido. Quis fazer algo assim: tentei passar a perna no leitor. Alguns relatam que “ruminaram” o livro por dias, outros dizem que fizeram releitura… Enfim, é um livro que deixa um “retrogosto”. Ele fica na cabeça porque eu não entrega tudo. Creio que, até por uma questão neurológica, sei lá, ele persiste porque o leitor fica tentando buscar sentido, ligar as coisas… 

Como foi o processo de escrita?
Rafael Martins - 
Este livro foi todo planejado. Não tem nada por acaso, não é fruto de escrita espontânea, muito pelo contrário: é todo deliberado. Exemplo: quando digo que uma determinada personagem se cortava, usava roupa comprida, parou de jogar vôlei, etc, não é por acaso, tem motivo. O leitor pode perceber ou não, pois não se trata de um livro didático. O livro tem uma linguagem simples e fluida, e foi constituído para que o leitor compreenda, com facilidade, o que foi dito, mas, também, para que ele perceba um certo “não dito”. Ou seja, para que se leia o que não está escrito. As respostas não são dadas, mas sugestionadas.


Quais são as suas principais influências literárias?
Rafael Martins - 
Um pouco de tudo. Gabriel Garcia Márquez, Franz Kafka, Dostoiévski. E de brasileiros, Milton Hatoum, Sérgio Sant’Anna, Machado de Assis, entre muitos outros. Machado que particularmente foi algo que estudei para a escrita de O segredo das Lantanas.

Que livros influenciaram diretamente a obra?
Rafael Martins - 
Nenhum diretamente. Trata-se de uma narrativa ficcional, com arrimo na crueza da vida e nas observações do cotidiano. Mas, na construção do narrador, pensei no Machado de Assis. Tanto é que, com o avançar da leitura, o leitor passa a desconfiar do narrador.

Escreve desde quando? Como começou a escrever?
Rafael Martins - Nem sei precisar desde quando. Fui um menino muito tímido, então a escrita foi uma forma de expressão. Fazia diário, escrevia contos em folhas de fichário, essas coisas… Porém, tinha o péssimo hábito de começar um texto e não terminar. Já deixei muita coisa inacabada. No âmbito profissional, a escrita se tornou minha ferramenta de trabalho. Contudo, a elaboração de peças jurídicas, ao meu ver, se distancia do trabalho com literatura, seja na linguagem, nos mecanismos, nos objetivos… Isso, inclusive, foi uma questão que precisei me atentar. Por volta de 2018/2019 fui perseguido por uma ideia. Comecei a escrever, sem técnica, sem planejamento, sem muito compromisso. Fui até o fim, pela primeira vez, e concluí um romance intitulado Água Turva. Não conhecia nada sobre o mundo literário/editorial, aí recomendaram-me submeter o livro a uma leitura crítica. Foi o que fiz. O leitor fez tantas críticas negativas - e com razão - que abandonei o projeto. Depois desta experiência, senti necessidade de estudar escrita. Não fiz oficina, pois, na época, não encontrei nenhuma em minha cidade, mas li muita coisa, dentre elas, cito Assis Brasil, James Wood, Prose. Assim, o Água Turva foi um livro de transição, diria: transição de um leitor para um escritor e de uma escrita amadora para uma mais técnica. A partir dos apontamentos do leitor crítico, do estudo sobre escrita e da mudança da minha própria leitura (agora mais atenta à construção), consegui desenvolver um trabalho mais técnico, com preocupação com linguagem, enredo e personagens. Assim, em poucos meses, nasceu O Segredo das Lantanas.


Como você definiria seu estilo de escrita?
Rafael Martins - 
Difícil dizer. Mas tento trabalhar com uma linguagem simples, seca, sem excessos e sem censura. É meio paradoxal, mas escrever fácil é muito difícil. Em minha primeira experiência com escrita literária (Água Turva) esse foi um ponto destacado pelo meu leitor crítico. Em alguns momentos o texto ficou rebuscado, complexo, fruto do meu contato diário com o “juridiquês”. Trabalhei bastante isso: desde a escolha semântica até a construção da frase. O resultado foi um livro (O Segredo das Lantanas) complexo, mas com linguagem fácil e corrente. Leitores relatam que leem com muita facilidade, avançam no enredo até com certo prazer, espero que proceda (risos).

Como é o seu processo de escrita?
Rafael Martins - 
Este processo ainda está em desenvolvimento, claro. Mas, após formular a ideia inicial, procuro estabelecer qual será o objetivo do livro: chocar, emocionar, fazer rir? No caso de O Segredo das Lantanas, foi chocar (tenho um original guardado que o objetivo é emocionar, causar reflexão, por exemplo). Tendo o objetivo definido, a construção deverá manter coerência com a finalidade. Passo a desenvolver a ideia ainda numa fase mental, até ter noção do desfecho. Atualmente, nem começo a escrever se não souber aonde quero chegar. Pois, tendo ideia do final, o caminho para se chegar ao resultado fica mais fácil e coerente. Este processo de maturação da ideia não tem prazo determinado. Só quando a ideia está madura, dou início ao processo de escrita. Diria que perco mais tempo no planejamento do que na execução propriamente. Claro que, neste interregno, faço muitas anotações e áudios no celular, para não esquecer. É até uma forma de deixar a ideia sempre viva. Terminada a primeira versão, guardo o arquivo e inicio outro projeto de escrita. Isso gera um distanciamento, quase um “detox”. Após meses sem contato com o texto inicial, faço uma releitura (que não estará mais viciada), realizo correções, ajustes, cortes de excessos… Após a revisão, submeto o texto a uma leitura crítica e a leitores próximos. Se fosse para fazer uma metáfora, diria que parece com o processo de fermentação de pão. Às vezes precisamos ter paciência e deixar a massa crescer, para conseguirmos um resultado satisfatório.

Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Rafael Martins - Sem ritual e sem meta. O que faço é manter a constância. Escrevo todas as manhãs. Acordo muito cedo, às 4h50, vou para a academia e corro. Durante a corrida já vou pensando sobre o que escreverei. Faço, praticamente, uma construção mental. Quando chego em casa, não é raro sentar em frente ao computador (todo suado) com um parágrafo já pronto na cabeça. Aí é só questão de digitar. Meu tempo é curto, algo em torno de 45 minutos, pois logo na sequência vou para o trabalho. À noite não consigo escrever e por uma série de motivos: chego com a cabeça cansada, preciso dar conta das demandas domésticas e familiares: banho nas crianças, jantar, colocar para dormir, são três filhos, a coisa aqui funciona na “força-tarefa” (risos). Então, só tenho a manhã. Tem dia que sai uma página, em outros saem um parágrafo, mas pode ocorrer de não sair nada, no máximo a revisão de parágrafo do dia anterior. E assim vou construindo, aos poucos, mas com constância. Consigno que, em geral, não tenho problema de inspiração: o problema é a falta de tempo mesmo. Porém, acredito que é justamente esta correria que me inspira, que me serve de matéria prima. Talvez se eu tivesse muito tempo disponível a página em branco poderia me assustar.

Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Rafael Martins - Tenho um romance engavetado (em processo de descanso e fermentação, aguardando releitura e ajustes), que tratará da relação complexa entre pai e filho. Atualmente, escrevo um livro de contos.

Adquira “O Segredo das Lantanas” através do site da Editora Patuá: https://www.editorapatua.com.br/o-segredo-das-lantanas-de-rafael-martins/p

.: "Salazar e os Fascismos": livro oferece três décadas de pesquisa sobre ditador


A editora Tinta-da-China Brasil apresenta o livro "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", do historiador português Fernando Rosas. O livro concentra três décadas de pesquisa sobre o ditador luso que estabeleceu a mais duradoura - e também a mais discreta - das ditaduras europeias, o Estado Novo português (1926-74). Salazar ainda é uma figura popular na memória portuguesa e permanece inspirando líderes autocráticos pelo mundo. Mapa do império português presente no livro “Salazar e os Fascismos” Foto: Divulgação


Todo ano chegam às prateleiras das livrarias brasileiras dezenas de obras sobre os regimes autoritários que mudaram a história do século 20. Afinal, é preciso lembrar para que o horror não se repita, e por isso pesquisadores e jornalistas se debruçam sobre o nazismo de Hitler, o fascismo de Mussolini e o franquismo. No entanto, a despeito da forte relação histórica e cultural entre o Brasil e seu antigo colonizador, ainda são poucos os livros publicados no país sobre a mais duradoura – e também a mais discreta – das ditaduras europeias, o Estado Novo português (1926-74).

Essa lacuna começa a ser preenchida com a primeira publicação no país de um dos principais especialistas no autocrata luso, o historiador Fernando Rosas, que escancarou para a população portuguesa os horrores da ditadura e do colonialismo no livro "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", lançada pela editora Tinta-da-China Brasil. Aguardado por estudantes, jornalistas e historiadores do fascismo, o livro concentra três décadas de estudos do professor da Universidade NOVA de Lisboa. Com seus livros, artigos na imprensa e intervenções na televisão, Rosas firmou-se como uma das principais vozes no debate público português sobre o pesado legado do salazarismo para o país. Em abril, Portugal começou a contagem regressiva de um ano para as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 2024.

Morto em 1970, em decorrência da queda de uma cadeira que o tornou inválido em 1968, Salazar ainda é uma figura popular na memória portuguesa e inspira líderes autocráticos nos dias de hoje. Ao receber o coração de d. Pedro I por ocasião da celebração dos 200 anos de Independência, em 2022, o então presidente Jair Bolsonaro evocou o lema cunhado pelo ditador português: “Deus, pátria e família”.

Mas de onde vêm os fascismos, e quais regimes podem ser corretamente qualificados como fascistas? Estas são as respostas que Rosas pretende responder, com clareza e rigor, em "Salazar e os Fascismos", de Fernando Rosas, lançado pela Tinta-da-China Brasil. Premiado pela Academia Portuguesa da História/prêmio Fundação Calouste Gulbenkian, Salazar e os fascismos consolida anos de pesquisa de Rosas, debruçando-se sobre a emergência e o estabelecimento dos governos de Adolf Hitler, Francisco Franco e Benito Mussolini durante o entreguerras.

Da comparação entre as diversas experiências europeias, Rosas extrai os elementos que permitem caracterizar um regime como fascista. Alguns exemplos desses traços são o mito de um “renascimento das cinzas”, associado a uma ideia mítica de raça ou ser nacional; a propaganda sustentada por ações no campo econômico e social, respondendo a crises do liberalismo. Violência, imperialismo e carisma por parte da autoridade são alguns dos elementos que podem caracterizar governos como fascistas.

Rosas demonstra que Salazar, ainda que discreto, foi o maior exemplo de um “fascismo conservador”. A arte suprema de Salazar a partir de 1928, diz o historiador, foi “saber durar”. Este é o tema de um outro ensaio de Rosas sobre o salazarismo, Salazar o poder: a arte de saber durar, a ser publicado em breve pela Tinta-da-China Brasil, no qual o historiador examina como o ditador viabilizou um governo tão longo.

António de Oliveira Salazar conduziu uma ditadura nacionalista e corporativista, antidemocrática, de partido único, apoiada em forças do sistema econômico, na fidelidade do Exército e da elite burocrática e na ação repressiva das polícias, com a bênção da Igreja Católica. Rosas sublinha a importância dos processos imperialistas e colonialistas. Ele demonstra que não é possível explicar o fenômeno da violência fascista no século 20 fora do contexto da violência ilimitada utilizada pelos colonizadores europeus contra os povos colonizados da África e da Ásia.

As guerras coloniais movidas pelo ditador em Angola, Moçambique e outros territórios colonizados por Portugal ajudaram a selar o fim do salazarismo e do Império de Portugal, que o ditador afirmava “não ser um país pequeno”. Uma das imagens reproduzidas no livro mostra a propaganda que o regime produzia: selos postais com mapas da Europa e dos Estados Unidos sobrepostos aos de Portugal, Angola, Moçambique e outras colônias, com os dizeres “Portugal is not a small country”.

Quem assina o texto da orelha do livro é Lira Neto, autor da celebrada trilogia sobre Getúlio Vargas e de biografias de outras importantes figuras da cultura nacional. “'Fascista' virou palavrão ideológico, para enxovalhar aquele com quem não concordamos? Faz sentido dizer que assistimos ao ressurgimento de novo tipo de fascismo? [...] Fernando Rosas, um dos principais historiadores portugueses contemporâneos, ajuda-nos a avançar na direção de possíveis respostas", escreve Lira Neto. A publicação de Salazar e os fascismos tem apoio do DGLab – Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas do Governo de Portugal.

António de Oliveira Salazar. Reprodução de acervo do Arquivo Nacional


Antifascismo e História
"Salazar e os Fascismos" vem se somar a outros títulos de diferentes gêneros literários da Tinta-da-China Brasil que mantêm aceso o debate sobre o fascismo, uma das questões políticas mais importantes da atualidade. A editora publicou uma coletânea de textos políticos de Fernando Pessoa, reunidos por José Barreto em "Sobre o Fascismo, a Ditadura Portuguesa" e "Salazar, os Diários da Prisão do Rapper Angolano Luaty Beirão (Sou mais eu aqui então)", as reportagens de "Racismo em Português", de Joana Gorjão Henriques, sobre o colonialismo luso na África, e a reunião de colunas "Diante do Fascismo", do jornalista Paulo Roberto Pires, sobre a ascensão da extrema direita no Brasil.


Em "O Caminho da Autocracia: Estratégias Atuais de Erosão Democrática", os pesquisadores do Centro de Análise do Autoritarismo e da LIberdade - LAUT Adriane Sanctis, Conrado Hübner Mendes, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto fazem um estudo comparativo sobre os regimes autocráticos no Brasil, na Turquia, na Índia, na Polônia e na Hungria.

Com o objetivo de atualizar a bibliografia brasileira sobre história de Portugal, a editora ainda vai publicar nos próximos meses outros ensaios e estudos de uma geração de autores ainda pouco publicados no Brasil: Morte e ficção do rei dom Sebastião, de André Belo, Assim nasceu uma língua, de Fernando Venâncio, e Agora, agora e mais agora, de Rui Tavares. Compre o livro "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", de Fernando Rosas, neste link.

Capa do livro "Salazar e os Fascismos", de Fernando Rosas. Imagem: divulgação.


Sobre Fernando Rosas
Um dos principais historiadores portugueses da atualidade, Fernando Rosas (Lisboa, 1946) não conheceu o salazarismo apenas na teoria. No volume Ensaios de abril, que acaba de sair em Portugal pela Tinta-da-china lisboeta, o historiador narra sua militância política a partir de fins dos anos 1960, às vésperas da Revolução dos Cravos, o 25 de Abril, que no ano que vem completa 50 anos.

“As cadeias políticas foram para mim uma experiência decisiva”, escreve ele. “Para um estudante oriundo da classe média lisboeta, movendo‑se basicamente na sua bolha social que o cortava das realidades que fora dela marcavam o Portugal do salazarismo, a prisão funcionou como um mergulho fecundo no país real”. Ele passou a conviver com operários de todas as regiões do país, com militantes de movimentos de libertação de Angola e Moçambique, perseguidos pela PIDE, a polícia política do regime.

Rosas é professor emérito da Universidade Nova de Lisboa. Fez seu doutorado em História Econômica e Social Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma universidade e lá é professor catedrático aposentado, do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. 

Foi membro do conselho de redação da revista Penélope - Fazer e Desfazer a História, e diretor da revista História. Entre as obras que publicou, estão: "Salazar e o Poder - A arte de Saber Durar" (Prémio PEN Ensaio 2012, será publicado no Brasil pela Tinta-da-China); "História a História - África; Lisboa Revolucionária"; "História e Memória"; "Estado Novo nos Anos Trinta"; coordenação de "Portugal e o Estado Novo (1930‑1960), vol. XII"; "Nova História de Portugal" (dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques); "Estado Novo (1926‑1974), vol. VII"; "História de Portugal" (dir. José Mattoso); "Portugal Século XX: 1890‑1976"; e "Pensamento e Acção Política". Tem livros e artigos publicados em Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos da América e Brasil. Em 2006, foi condecorado pelo presidente de Portugal com a Ordem da Liberdade. Garanta o seu exemplar de "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", escrito por Fernando Rosas, neste link.


Sobre a Tinta-da-China Brasil
A Tinta-da-China Brasil é uma editora de livros independente, que publica o melhor da literatura clássica e contemporânea, além de livros de história, jornalismo, humor, literatura de viagem, ensaios, fotografia, poesia, a edição em língua portuguesa da mais importante revista literária da era moderna — a britânica Granta — e a mais bonita coleção de Fernando Pessoa em qualquer língua.Fundada em 2005 em Portugal, a editora aportou no Brasil em 2012 e desde 2022 é controlada pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão da cultura do livro.

domingo, 17 de setembro de 2023

.: Entrevista: Alexandre Gil França fala sobre o impacto da invisibilidade social


Destacando-se por sua escrita experimental e híbrida, "Terebentina", lançamento da editora Urutau, é o novo livro de contos do escritor Alexandre Gil França. Trazendo a ótica de personagens socialmente invisibilizados, especialmente artistas pequenos ou de pouco reconhecimento, o autor explora suas narrativas, angústias e, principalmente, seus afetos. A obra tem orelha assinada pelo prestigiado poeta, tradutor e ensaísta Guilherme Gontijo Flores, vencedor do Prêmio APCA em 2018, e está à venda no site da editora. 

Os 12 contos que integram a obra são protagonizados por essas subjetividades particulares, como, por exemplo, um dançarino de Tiktok, uma cantora de boteco ou um ator de comerciais. Tratando-se também de histórias que evocam pequenos e anônimos artistas, que ainda se veem distantes do mainstream, as temáticas do apagamento e da invisibilidade em "Terebentina" são atravessadas pela dicotomia do sucesso e do fracasso. Nas histórias, esses conflitos impactam e são impactados pelas relações afetivas construídas pelos personagens. 

Nascido em Curitiba, no Paraná, em 1982, Alexandre Gil França já trabalhou com música, poesia e teatro. É mestre em Artes Cênicas pela USP e doutorando em Teoria e História Literária pela Unicamp. Estreou na literatura em 2015, com o romance "Arquitetura do Mofo", lançado pelo selo Encrenca/ Arte e Letra.  Atualmente, é editor da Mathilda Revista Literária, ao lado da poeta Iamni.  Também trabalha em um novo livro de contos e promete uma nova peça de teatro para 2024.


Quais são as suas principais influências?
Alexandre Gil França - Tive contato com "Ulysses", de James Joyce, muitos anos atrás, nos meus 18 pra 19 anos. Nessa época, esse livro era um vulto difícil de atravessar. Fui ler “entendendo” somente no começo do doutorado na Unicamp, em que me debrucei pra valer sobre ele. Uma obra que parece locupletar os recursos narrativos de inventividade: mistura de campos semânticos, de estilos, épocas, a dessacralização do espaço, as coincidências ultra arquitetadas, todo o espírito de ruínas da modernidade nessa figura sem pátria ou religião que é o Bloom. Isso tudo me impregnou definitivamente, e está presente, de uma forma ou de outra em “Terebentina”. Considero os contos de Jorge Luis Borges como pequenas catedrais de sabedoria. Precisão na maneira de contar e no conteúdo. Seus labirintos de sentido também fizeram parte da minha formação literária, e influenciaram também os jogos de linguagens utilizados em “Terebentina”. Já o Gilles Deleuze é sem dúvida o filósofo que mais estudei na vida. Sua ideia de diferença, de sentido, de acontecimento, fazem parte da minha rotina, da minha forma de pensar. Eu tento enxergar o mundo de uma maneira deleuziana, ou seja, para além das imagens do pensamento, do senso comum fabricado pela sociedade forjada no metal duro das identidades e das categorias: na maioria das vezes, eu fracasso. Penso que “Terebentina” é, um pouco, a dramatização desses fracassos e dos raros acertos. Além disso, cito os cineastas Charlie Kaufman e Eduardo Coutinho. Os dois trabalham com a ideia de “pessoa comum”. Kaufman, de uma maneira, digamos, mais borgeana; Coutinho, de uma maneira documentarista, tentando pegar a verdade do depoimento. A ideia de “comum” tanto de um, quanto do outro, está bem presente no meu livro. 


O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita?
Alexandre Gil França - O livro foi motivado pelo enclausuramento da pandemia. Como minhas atividades artísticas estavam suspensas (a música e o teatro), a escrita foi um refúgio e ao mesmo tempo um momento de imersão em mim mesmo. Acho que, de certa forma, todos nós “fracassamos” com essa pandemia, seja perdendo pessoas próximas, seja suspendendo nossas atividades. Terebentina reflete, em parte, esse espírito da época. 


Escreve desde quando? Como começou a escrever?
Alexandre Gil França - Escrevo desde a adolescência. Acho que comecei com uns 15 anos de idade. Se bem que desde pequeno me fascinei pela ideia de livro — sempre quis fazer um livro; esse tipo de porta-histórias, porta-vidas. Um episódio marcante da minha adolescência foi uma tentativa de livro que mostrei, um dia, na praia, para a filha de um amigo dos meus pais. Ela criticou duramente o que eu havia feito (disse que faltava enredo, personagens consistentes etc.). Olha, eu devia ter uns 12 pra 13 anos: não sabia de nada! Aquilo me marcou bastante - como se, de certa maneira, a cada novo conto, eu precisasse completar aquele primeiro livro que não havia dado certo. Mais pra frente, um professor da graduação em comunicação, o Caibar, foi fundamental para que eu não parasse de escrever. Eu mostrava os contos pra ele, e ele me devolvia com comentários precisos sobre o que eu estava fazendo, e o que eu poderia melhorar. 


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam? Por que escolher esses temas?
Alexandre Gil França - Como vivem esses artistas invisíveis que estão por aí, incrustados no ao redor que esquecemos às vezes de observar?  Penso que a descoberta do amor por essas pessoas invisíveis se configura como um território profundo de descobertas humanas. Minha intenção com o livro foi investigar justamente como o afeto pode circular por esses meios (como o set de filmagem de um comercial, o ensaio de uma coreografia viralizada no TikTok ou a apresentação de uma cantora de meia-idade em um botequim). É sobre isso, também, o título do livro – “Terebentina”: palavra usada para designar o solvente para pincéis, mas também um apelido popular para cachaça. Ou seja, apagamento e embriaguez andam juntas nessas histórias. 


“Terebentina” é estruturado como se fosse uma exposição artística. Poderia comentar um pouco sobre essa escolha e estilo de escrita? 
Alexandre Gil França - Acho que é um estilo múltiplo, que se utiliza de recursos diversos na construção de um cenário singular de leitura. A ideia é sempre dar a melhor possibilidade de imaginação e participação para o leitor. Vou utilizando recursos formais diferenciados, e, até mesmo, delirantes em alguns momentos. A linguagem dramatúrgica é misturada à poesia, à prosa e a um roteiro de cinema escrito por uma das personagens. Sobre a estrutura, remete à questão do artista e de sua exposição. Tem a abertura, o hall de entrada, o primeiro andar, onde são distribuídos alguns personagens, que seriam as “obras”. E esses personagens são indivíduos comuns e invisíveis que transitam, na minha opinião, em certos ambientes singulares onde podemos encontrar a maior concentração de humanidade possível. Acho que o livro vasculha justamente esses espaços e tenta dar carne e nervos para essas pessoas comuns. 


Como é o seu processo de escrita?
Alexandre Gil França - Geralmente, sento e escrevo até onde o fôlego aguentar. Não tenho uma preparação para a escrita. Mas, é um ato de recolhimento. Preciso estar sozinho para a coisa fluir bem. Para contos, a meta é sempre ir até a página dez, mais ou menos. Depois, vou cortando o que considero gordura. 


Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Alexandre Gil França - Não. Escrevo quando dá na telha. Geralmente, nos períodos sem muitas obrigações profissionais. 


Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí? 
Alexandre Gil França - Já estou escrevendo um novo, de contos. E, penso que para 2024, devo ter uma nova peça de teatro também escrita. São obras que estão ainda na primeira gestação: acho difícil detalhar sobre o que se trata, mas posso dizer que a temática do homem comum deverá estar presente nas duas. 

sábado, 16 de setembro de 2023

.: Espetáculo "A Rouxinol e a Rosa" em sessões nas madrugadas de São Paulo


O espetáculo, que traz de volta às agitadas sessões da madrugada em São Paulo, discute o amor, o sacrifício e preconceito contra o público LGBTQIA+ no Brasil. Com Glamour Garcia, Bárbara Bruno e Augusto Zacchi. Crédito: Barnabé Fotos


"A Rouxinol e a Rosa - Um Amor que Não Ousa Dizer Seu Nome" é um projeto teatral que promove, através da arte, a reflexão sobre o preconceito, a importância da liberdade de expressão e o direito a igualdade para a comunidade LGBTQIA+. Escrito e dirigido por Rony Guilherme Deus, o espetáculo é inspirado em conto do escritor, poeta e dramaturgo Oscar Wilde (Irlanda 1854 - Paris 1900), símbolo da luta pelos direitos homossexuais. No elenco estão Bárbara Bruno, Augusto Zacchi e Glamour Garcia, primeira artista Trans a vencer um prêmio revelação por sua atuação.

O espetáculo nos leva ao final do século 19, quando um jovem soldado declara o seu amor a um outro soldado. Sua coragem vai além:  ele declara que se reconhecia como mulher no corpo de um homem. Sua audácia lhe custa a vida e seu corpo é jogado em um poço seco, que logo passa a verter muita água e a realizar milagres.

A cada noite de lua cheia uma linda figura, que mescla a imagem de uma mulher transgênero e um rouxinol, sai do poço dando início a lenda de que aquele Ser, quase mitológico, é o guardião do amor e dos casais apaixonados. Certa noite um jovem aristocrata vai ao poço pedir ajuda para se declarar à sua amada Donzela com uma inexistente rosa-vermelha.

A paixão pelo jovem é imediata e, aconselhada por uma velha feiticeira, a bela figura decide arriscar sua própria vida encostando o peito nos espinhos de uma roseira, tentando dar vida, com o sangue de seu coração, a rosa-vermelha.


Sobre o projeto
“Como escritor e diretor teatral, busco histórias que provoquem uma mudança de pensamento e toquem o público de maneira significativa”, fala Rony Guilherme Deus sobre "A Rouxinol e a Rosa - Um amor que não ousa dizer seu nome". O cenário é minimalista, mas belo. Esta simplicidade é fundamental para transmitir a mensagem de forma impactante, concentrando a energia no desenvolvimento dos personagens e na força das palavras de Oscar Wilde e a urgência de combater as injustiças e preconceitos presentes em nossa sociedade. A equipe técnica reúne renomados profissionais ligados a arte: assina a direção de movimento Ciro Barcelos e Cláudio Tovar os figurinos. “Acredito que essa peça tem o poder de tocar as pessoas, despertar a discussão sobre a necessidade de mudança e motivar ações em prol de uma sociedade mais justa e inclusiva”, finaliza o diretor.


Sinopse
A Rouxinol (Glamour Garcia), uma figura mitológica e transgênero no corpo de homem, mulher e pássaro, vive intensa paixão por um Jovem Aristocrata (Augusto Zaccchi) mas, aconselhada por uma velha Feiticeira (Bárbara Bruno) abre mão de seus sentimentos e luta para conseguir uma rosa vermelha para que o jovem conquiste a sua amada.


Sobre Oscar Wilde
A vida e a obra de Oscar Wilde foram marcadas por sua identidade queer e seu confronto com as convenções sociais. Seu julgamento e prisão em virtude de sua homossexualidade despertaram debates sobre a injustiça das leis discriminatórias da época. Sua experiência pessoal refletiu a repressão e a perseguição enfrentadas pela comunidade LGBTQIA+ na sociedade vitoriana. Além disso, Wilde foi um dos primeiros escritores a abordar abertamente a homossexualidade em sua literatura, mesmo que de forma velada.

Escrito por ele, "O Retrato de Dorian Gray" é considerado um marco na representação da sexualidade não heterossexual na literatura inglesa. Através de personagens e temas que questionam a moralidade sexual, Wilde desafiou as normas e ofereceu uma visão alternativa da sexualidade humana. Oscar Wilde também deixou um legado duradouro como símbolo de resistência e orgulho para a comunidade LGBTQIA+. Sua coragem em viver autenticamente, apesar das consequências adversas, inspirou gerações posteriores de ativistas e escritores LGBTQIA+. Sua história é um lembrete do poder da arte e da literatura como meios de expressão e luta pelos direitos e pela igualdade.


Ficha técnica
Espetáculo "A Rouxinol e a Rosa - Um Amor que Não Ousa Dizer Seu Nome". Texto e direção: Rony Guilherme Deus. Inspirado na obra de Oscar Wilde. Figurino: Claudio Tovar . Direção de movimento: Ciro Barcelos. Visagismo: Anderson Bueno. Elenco: Glamour Garcia, Bárbara Bruno, Augusto Zacchi e Guilherme Conradi. Direção de produção: Fernanda Ferrari Produção executiva: Fabiana Franco. Administração: Luciene Cunha e Cristine Natale. Assessoria de imprensa: Flavia Fusco Comunicação. Produção: Estúdio Mágico. Assistente de direção: Josi Ventura. Assistentes de produção:Émile Dias e Isadora Strada. Assistente de coreografia: Fernando Callegaro. Fotografia e audiovisual: Maria Gabriella Ferrari. Design: Mariana Persi, Mariah Gabriella Ferrari e Fernanda Ferrari. Cenário: Pedro Gabriel Kaleniuk. Sonoplastia/DJ: Milton Lemos. Iluminação: Tiago Sanches e Fernando Braga. Direção musical e trilha sonora: Julio Cesar Silva. Trilha sonora: Music Solution. Cenotécnicos:  André da Hora e Ronaldo Pereira. Costura: Débora Muniz e Ateliê Valerie. Duração: 80 minutos. Recomendação 16 anos.


Serviço
Espetáculo "A Rouxinol e a Rosa - Um Amor que Não Ousa Dizer Seu Nome". Temporada: até dia 28 de outubro, sessões sextas e sábados, às 23h50. Ingressos: de R$ 60,00 a R$ 120,00. Ingressos on-line: https://teatrob32.byinti.com/#/event/a-rouxinol-e-a-rosa-um-amor-que-nao-ousa-dizer-o-nome. Bilheteria: das 14h às 18h. Local: Teatro B32. 478 Lugares. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3.732 - Itaim Bibi. Localizado no complexo multiuso B32 o teatro é considerado o mais moderno e tecnológico do país. Estacionamento valet no local.

.: "Não quero cumprir cota de indígena", diz Daniel Munduruku sobre ABL


Ao ser candidato para se tornar um “imortal” na Academia Brasileira de Letras e a ocupar a cadeira de número 5, após o falecimento do historiador José Murilo de Carvalho, o escritor e filósofo Daniel Munduruku, o pajé Jurecê da atual novela “Terra e Paixão”, da TV Globo, será o primeiro indígena na história da Academia a se tornar um membro, caso seja aprovado. “Não quero cumprir cota de escritor indígena, tenho condições absolutas para concorrer de forma igualitária com os outros candidatos”, destaca. 

Com 64 livros publicados, o escritor é especializado no público infanto-juvenil e já conta com cerca de 6 milhões de livros vendidos no Brasil, além de outros países como Estados Unidos, Canadá, Áustria, Coreia do Sul e México. Caso aprovado na ABL, Munduruku, por sua trajetória em produzir conteúdo a crianças e jovens, acredita que será um “choque de cultura, uma mudança de mentalidade”. O objetivo, segundo ele, é aproximar mais a Academia Brasileira de Letras da sociedade, além de reforçar a importância da literatura infanto-juvenil. 

Entre suas obras, destaque ao “Histórias de Índio” (Editora Companhia das Letras) com cerca de 300 mil livros comercializados em 25 edições. “Coisas de Índio" (Ed.Callis), que conquistou o prêmio Jabuti, além da obra internacionalmente premiada “Meu Avô Apolinário” (Editora Studio Nobel), são mais destaques. Durante a Bienal do Livro, em setembro, mais dois livros foram lançados: “Árvore Teia”, uma fábula sobre o envelhecimento, e “Redondeza”, destinado a crianças de até seis anos com conteúdo focado em imagens. 

“Daniel é um talento brasileiro admirável que eleva a arte e a cultura de nosso país incentivando milhares de crianças e jovens a ingressarem nesta jornada fascinante de apreciar a literatura e o conhecimento por meio de um conteúdo leve e ao mesmo tempo reflexivo. Temos o maior orgulho de prestar o nosso apoio, aqui em Santa Catarina”, destaca a diretora da “A Livraria”, Miriam Almeida que, por meio da loja localizada no BravaMall, na Praia Brava de Itajaí, em Santa Catarina, apoia a candidatura de Munduruku e reconhece a relevância de sua contribuição literária e cultural.

Daniel Munduruku, 59, é paraense, de povo indígena e, atualmente, reside no interior de São Paulo. Além de escritor, é formado em filosofia, psicologia e história. Tem mestrado e doutorado em educação pela USP, e pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

.: Televisão aberta propõe um mergulho na história de "Grande Sertão: Veredas"


Em dois programas especiais, "Globo Repórter" percorre os caminhos do sertão mineiro da obra de João Guimarães Rosa e traz revelações do mundo da ciência. Tony Ramos narra o personagem Riobaldo no programa sobre o clássico da literatura. Foto: Globo/Divulgação

Uma expedição ao lugar que inspirou uma das maiores obras da literatura brasileira. O "Globo Repórter" vai mergulhar nos sertões que João Guimarães Rosa revelou ao mundo em dois programas especiais que vão ao ar nos dias 15 e 22 de setembro. Durante 22 dias, a repórter Liliana Junger e equipe percorreram 3.500 quilômetros entre caminhadas, escaladas, estradas e rios para desvendar a terra que o escritor de "Grande Sertão: Veredas" dizia ser governada por Deus e o diabo. 

O primeiro programa apresenta a natureza retratada no romance de Guimarães Rosa e os vários formatos do sertão mineiro. Mostra imagens da minissérie "Grande Sertão: Veredas" produzida pela TV Globo e exibida em 1985, e conta com a narração do ator Tony Ramos no papel de Riobaldo, personagem principal da minissérie interpretado por ele.  

A equipe do "Globo Repórter" também explora o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, lugar de cenários cinematográficos e cânions que chegam a 200 metros de altura. O local tem 250 cavernas mapeadas. Na ficção, elas serviam de refúgio para Riobaldo e os jagunços. “Quando você está no lugar de onde Guimarães Rosa tirou todas aquelas ideias, você entende muito mais o que ele escreveu. Foi muito incrível ver todas aquelas belezas. As cavernas são muito impactantes, cheias de natureza dentro, árvores gigantescas, com esculturas naturais, rio passando no meio, parece que você está num lugar mágico”, destaca a repórter Liliana Junger. 

Com exclusividade, o programa também vai levar os telespectadores para uma viagem virtual pelo primeiro parque nacional digitalizado. Com ajuda da realidade virtual, um grupo de espeleólogos está reproduzindo as cavernas do Peruaçu em 3D. A exposição online deverá estar disponível para o público no próximo ano e será gratuita. O programa também traz em primeira mão o resultado de um estudo de quatro décadas. Francisco Cruz Júnior, geólogo da Universidade de São Paulo (USP), conta que o sertão tem sofrido com as mudanças climáticas. “Tem um aumento exacerbado de temperatura e o aquecimento do sertão está em torno de 2ºC, 2,5ºC, acima da média global, que é de 1,5ºC. As nascentes, que são as veredas, vão ficando cada vez mais secas e podem desaparecer”, alerta Francisco. O artigo completo desse estudo será divulgado no final do ano.  

"Globo Repórter" também percorre os rios que estão no romance de Guimarães Rosa e conhece um dos segredos do sertão: o Pantanal Mineiro. A equipe também visita o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, que vem sendo ameaçado pela queima de eucaliptos para a produção de carvão vegetal. O programa vai ao ar nesta sexta-feira, dia 15, logo após a novela "Todas as Flores". Compre a edição especial de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, neste link.



Uma das obras fundamentais da literatura brasileira, em nova edição
Publicado originalmente em 1956, "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, revolucionou o cânone brasileiro e segue despertando o interesse de renovadas gerações de leitores. Ao atribuir ao sertão mineiro sua dimensão universal, a obra é um mergulho profundo na alma humana, capaz de retratar o amor, o sofrimento, a força, a violência e a alegria.

Esta nova edição conta com novo estabelecimento de texto, cronologia ilustrada, indicações de leituras e célebres textos publicados sobre o romance, incluindo um breve recorte da correspondência entre Clarice Lispector e Fernando Sabino e escritos de Roberto Schwarz, Walnice Nogueira Galvão, Benedito Nunes, Davi Arrigucci Jr. e Silviano Santiago. Dispostos cronologicamente, os ensaios procuram dar a ver, ao menos em parte, como se constituiu essa trama de leituras.

A capa do volume é reprodução da adaptação em bordado do avesso do Manto da apresentação, do artista Arthur Bispo do Rosário, com nomes dos personagens de Grande sertão: veredas. O projeto gráfico conta ainda com desenhos originais de Poty Lazzarotto, que ilustrou as primeiras edições do livro. A edição limitada com tira de tecido esgotou. Os exemplares de Grande Sertão: veredas acompanham uma cinta vermelha de papel. A imagem do bordado na capa pode ter pequenas variações. Garanta a edição especial de "Grande Sertão: Veredas", escrito por João Guimarães Rosa, neste link.

domingo, 6 de agosto de 2023

.: Entrevista: Raquel Campos, neta de Augusto de Campos, fala sobre poesia


Neta de Augusto de Campos, a poeta, ensaísta e professora de literatura presta homenagens e dialoga com ele e outros concretistas históricos em sua obra de estreia.

A brasiliense Raquel Campos nasceu em 1988, é poeta, ensaísta e professora de literatura. Atualmente, trabalha como editora na Relatar-se. Foi professora de Teoria Literária da Unesp (2021-2022) e co-organizou o livro “HC 21: leituras de Haroldo de Campos” (7Letras, 2021). Acadêmica, tem pós-doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e doutorado em Literatura pela Universidade de Brasília (UNB).

“Sad Trip”(Corsário satã, 72 páginas) é o primeiro livro dela, que é neta do poeta Augusto de Campos. A obra mescla as atuais reflexões da vida adulta com uma linguagem divertida, repleta de construções poéticas, feitas com gírias e expressões coloquiais utilizadas por sua geração. A obra veio ao mundo por um convite de Natália Agra, poeta que junto Fabiano Calixto toca a editora independente Corsário Satã, e tem a orelha assinada pela tradutora, pesquisadora e também poeta Francesca Cricelli.

Alvaro Dutra, a quem o livro “Sad Trip” é dedicado, gravou um LP contendo cinco poemas de Raquel Campos musicados e o poeta, tradutor e crítico venezuelano Jesús Montoya traduziu onze poemas do livro de estreia de Raquel para a revista eletrônica de literatura "Círculo de Poesía". Confira abaixo a entrevista completa com Raquel Campos.

O que motivou a escrita do livro?
Raquel Campos -
A escrita do livro se iniciou durante a quarentena, num período bastante difícil e de muita desilusão. O livro, de alguma forma, reflete esse isolamento através de uma análise poética introspectiva sobre momentos importantes da minha própria vida, como a mudança de Brasília (a cidade que eu morei durante toda a minha vida) para São Paulo e a sensação de derrota imposta pela pandemia. 

Como foi o processo de escrita?
Raquel Campos - O processo de escrita se decorreu em aproximadamente um ano, quando senti que já havia selecionado os poemas para a publicação.

Quais são as suas principais influências literárias?
Raquel Campos - 
Minhas principais influências literárias são os poetas brasileiros, particularmente os concretistas de São Paulo, com quem convivi desde a minha infância através do contato pessoal e das leituras, sou neta do poeta Augusto de Campos. Além disso, desenvolvi durante a adolescência uma grande paixão pelo poeta Augusto dos Anjos e por outros como Fernando Pessoa e Cesário Verde. Atualmente, tenho estudado bastante poesia contemporânea, focando mais nas mulheres poetas, como Marília Garcia, Miriam Alves, Francesca Cricelli etc.

Que livros influenciaram diretamente a obra?
Raquel Campos - 
Acho que "Sad Trip" dialoga bastante com a obra poética do Paulo Leminski e da Hilda Hilst. São grandes influências que marcaram não só a escrita do livro, como também a minha produção como um todo. O livro "Sad Trip" é reflexo do seu tempo e inclui questões como a sexualidade feminina, a mudança de cidade e a frustração com os obstáculos mais dolorosos da vida, como a perda, o luto e a inadequação social.

Você escreve desde quando? 
Raquel Campos - 
Escrevo desde criança. Comento, na minha tese de doutorado, que um dos meus primeiros escritos foi um “poema concreto”, de 1994, quando eu tinha seis anos. Claro que ainda não havia nenhuma intenção formal no poema, apenas a sensação de liberdade de poder brincar com as palavras.


Como começou a escrever?
Raquel Campos - 
Experimentei muitas formas diferentes de escrita poética durante a minha adolescência e comecei a publicar poemas on-line, há aproximadamente uma década. Em 2020, publiquei uma plaquete com cinco poemas pela Galileu Edições e, mais recentemente, o livro "Sad Trip".

Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
Raquel Campos - 
A sensação de vivenciar derrotas e frustrações durante a vida. Algumas impressões pessoais sobre a vida em Brasília e a vida em São Paulo. Homenagens aos poetas que me influenciaram, tais como Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, além de alguns escritos sobre amor e sexualidade.

Por que escolher esses temas?
Raquel Campos - 
São temas que atravessam a minha vida adulta e que fazem parte da minha vida e poesia. São formas de enxergar o mundo poeticamente, com suas belezas e suas dores, tentando transformar isso em algo maior que eu e algo que possa dialogar com possíveis leitores, criando identificações com o outro a partir da minha própria experiência.


Como você definiria seu estilo de escrita?
Raquel Campos - Acredito que seja um estilo de escrita sintético, autobiográfico, misturando temas complexos com palavras simples, palavrões e gírias. Existe também uma complexidade e um trabalho com a linguagem poética, mas que procuro intercalar com momentos mais coloquiais. Talvez esta mistura seja o que mais caracterize o meu estilo de escrita.

Como é o seu processo de escrita?
Raquel Campos - 
Gosto de me dedicar com mais afinco à escrita de um livro, concentrando o máximo de esforço e tempo possível a essa atividade. No entanto, a escrita do "Sad Trip" ocorreu mais lentamente, durante o período de um ano, o que refletiu também a própria lentidão e a confusão temporal causadas pela longa quarentena que enfrentamos em 2020 e ainda em 2021.

Tem alguma meta diária de escrita?
Raquel Campos - 
Não tenho nenhuma meta diária, gosto de contar com a indisciplina e o caos para me ajudar no processo criativo (risos).

Como foi a sua aproximação com a editora? 
Raquel Campos - 
Já conhecia o trabalho dos poetas Fabiano Calixto e Natália Agra, donos da editora Corsário-Satã. No entanto, a oportunidade de publicação de um livro foi um convite da própria Natália, o que me deixou muito surpresa e contente com a confiança. Sou uma grande admiradora de sua obra e da de Fabiano.

Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Raquel Campos - 
Meu novo livro de poemas se chama “Meninas, Eu Vi”, publicado pela editora Relatar-se. O livro traz uma perspectiva feminista a respeito da sexualidade e prazer femininos.


quarta-feira, 2 de agosto de 2023

.: "451MHz" traz entrevista histórica de Clarice Lispector em qualidade inédita


Episódio "A Voz e o Silêncio de Clarice Lispector" veicula a histórica entrevista concedida pela autora em 1976 para os escritores Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant'Anna e João Salgueiro. As suas partes já estão disponíveis nas principais plataformas de áudio. Foto: Reprodução

Em outubro de 1976, Clarice Lispector conversou descontraidamente com os escritores Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna e João Salgueiro no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Agora, 47 anos depois, o bate-papo entre amigos é considerado uma entrevista histórica da autora e se torna o tema do episódio "A Voz e o Silêncio de Clarice Lispector", do podcast "451MHz". As duas partes já estão disponíveis aos ouvintes do podcast.

Ao divulgar esse material em uma qualidade inédita, o "451 MHz" ajuda colocar em circulação, de maneira gratuita e acessível ao público, um material fundamental para a literatura brasileira do século 20. A propriedade técnica do áudio permite que a audiência faça uma imersão na entrevista ouvindo a respiração dos escritores nas pausas entre perguntas e respostas e até mesmo ruídos que revelam todo o cenário que compõe a conversa, como um copo de água sendo deixado na mesa.

Na segunda metade dos episódios, as falas da autora são comentadas por Benjamin Moser, autor de "Clarice", biografia da autora lançada em 2009, e Mariana Delfini, editora da Tinta-da-China Brasil e uma grande admiradora de Lispector, que debatem com Paulo Werneck, apresentador do podcast "451MHz" e diretor-presidente da Associação Quatro Cinco Um.

Na segunda parte da entrevista, Clarisse comenta como o inconsciente adentrou sua escrita e sobre sua atividade como tradutora, da qual não gostava. Do mesmo modo, não lhe agradava a vida como mulher de diplomata, na qual tinha que organizar jantares e participar de outros eventos oficiais. Foi nesse ambiente que ela escreveu "A Maçã no Escuro", livro que era um dos seus preferidos no momento da entrevista.

Quando indagada sobre se ainda gostava de "Laços de Família", ela responde que está enjoada dele. Outra obra citada na conversa é o romance "Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres", que virou filme nas mãos de Marcela Lody. Sobre autores que a influenciaram, ela revelou que dois dos livros mais marcantes da sua vida foram "Crime e Castigo", de Dostoiévski, e "O Lobo da Estepe", de Hermann Hesse, cuja leitura a deixou febril.

São poucos os registros em áudio e vídeo de Clarice Lispector. Moser e Delfini comentam em "A Voz e o Silêncio de Clarice Lispector" que a escritora está mais solta, falante e relaxada, por estar em um momento mais favorável de sua condição física. Os convidados do podcast também abordam a relação de amizade entre Clarice e os escritores Marina Colasanti Affonso Romano de Sant’Anna, que pode ter influenciado o tom mais descontraído do bate-papo que ocorreu  no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

Benjamin Moser comenta ainda a importância desse áudio ter sido publicado na New Yorker (confira aqui), especialmente para a visibilidade internacional de um dos grandes nomes da literatura brasileira e reforçando que Clarice Lispector já entrou para o cânone literário mundial.

Mariana Delfini é uma grande leitora de Clarice Lispector, tanto que chegou a publicar dois textos sobre a autora na revista "Quatro Cinco Um". O primeiro sobre o livro "Todas as Cartas", lançado em 2020 e que abrange grande parte da correspondência da autora, e o segundo sobre o processo de criação de "A Hora da Estrela" a partir dos seus manuscritos.

A edição de agosto da "Quatro Cinco Um" trará um texto de Benjamin Moser sobre a entrevista e a transcrição da gravação, além de um relato de Paulo Valente Gurgel, filho de Clarice, e uma releitura da protagonista de "A Hora da Estrela" por Conceição Evaristo.


451 MHz
O podcast é uma co-produção da Associação Quatro Cinco Um e da Rádio Novelo publicado duas vezes por mês, às sextas-feiras, nas principais plataformas de áudio, como Spotify, Apple Podcasts, Deezer e outras, além do site da Quatro Cinco Um e canal de YouTube da revista. Primeiro podcast de livros da imprensa profissional brasileira, “o podcast para quem lê até com os ouvidos” foi lançado na Flip 2019 e publica entrevistas com os grandes autores brasileiros de diferentes gerações, perfis e sensibilidades..

Com apresentação de Paulo Werneck e da editora de podcast da revista, Paula Carvalho, o programa já publicou 92 episódios e chegou a mais de 1 milhão de downloads. Alguns trechos de um outro depoimento da série do MIS, o do escritor Nelson Rodrigues, já haviam sido publicados pelo podcast na série Narradores do Brasil, que traz episódios especiais roteirizados. 


Mais Clarice na Quatro Cinco Um
Lispector foi capa da edição 21 da revista dos livros com um ensaio fotográfico feito por Claudia Andujar e texto de Thyago Nogueira. Marise Hansen falou dos laços que unem Lispector a Carolina Maria de Jesus a partir dos vazios e as subjetividades de Laços de família e Quarto de despejo sessenta anos depois de seu lançamento.

A produção infantil de Clarice Lispector foi tema de dois textos publicados na revista: “Os relevos acidentados das emoções”, assinado por Moacyr Godoy Moreira, uma resenha do livro "As Crianças de Clarice", de Mell Brites; e "A Personalidade das Flores", em que Cristiane Tavares escreve sobre "De Natura Florum", que traz 24 verbetes nos quais Lispector descreve variadas espécies de flores.


Serviço:
Podcast 451 MHz - Episódio 92. "A Voz e o Silêncio de Clarice Lispector – Partes 1 e 2". Disponíveis no Spotify, Apple Podcasts, Deezer e Youtube da recista "Quatro Cinco Um". Classificação indicativa: livre.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

.: #Resenhando20Anos: 33 perguntas para Fernanda Young


No dia 4 de junho de 2023 o Resenhando.com completou 20 anos. Durante esse mês, matérias emblemáticas que foram destaque no portal editado pelos jornalistas Mary Ellen Farias dos Santos e Helder Moraes Miranda serão republicadas. Ao fazer essa visita ao passado, percebemos que os textos ainda estão atuais. 

Algumas delas, republicadas na íntegra, embora extremamente relevantes, apresentam aspectos datados ou têm marcas de expressões, pensamentos e linguagens que podem estar ultrapassadas, mas são um registro da história deste veículo. A entrevista "33 Perguntas para Fernanda Young" marcou as comemorações dos três anos Resenhando.com.


 33 perguntas para Fernanda Young - "Escrever me salva da esquizofrenia".  – Fernanda Young


Finalmente, a esfinge decifrada: a rainha da literatura brasileira atual fala sobre processo de criação, roteiros, críticos invejosos e porque troca de computador a cada livro que escreve. 

Por Helder Moraes Miranda.  Em junho de 2006. Atualizada em 25 de agosto de 2020.

Mais que ser a profissão do Super-Homem, ser repórter pode propiciar momentos agradáveis e de plena satisfação. Neste contexto, os três anos do Resenhando me fizeram realizar duas grandes ambições: entrevistar ídolos na literatura. A primeira foi Ana Miranda, logo depois de ser contemplada com o seu segundo prêmio Jabuti de literatura, pelo romance “Dias e Dias”, uma biografia romanceada do poeta Gonçalves Dias. Ana se mostrou extremamente doce, receptiva e atenciosa.

Três anos depois, o feito se repete com a escritora Fernanda Young, uma das escritoras mais vendidas e polêmicas do Brasil. Primeiro porque ela contraria toda idealização que se tem a respeito de um escritor –além de jovem, bonita e de se superexpor escrevendo livros, ela ainda protagoniza um programa de TV e é roteirista, juntamente com o marido, Alexandre Machado, do sitcom "Minha Nada Mole Vida" da TV Globo. Segundo porque a crítica é madrasta com seus livros, que nem por isto deixam de encantar os leitores e deixa-los de joelhos diante de seu brilhantismo.

A entrevista seria dada, em um primeiro momento, na ocasião do lançamento do novo livro “Aritmética”, que marcava sua ida para a Ediouro, época em que chegamos a entrar em contato com a assessoria de imprensa da editora. Mas Fernanda Young merecia uma edição especial, como a de três anos do site –data mais que simbólica– e também pela coragem dela expor seus poemas pela primeira vez, no recém-lançado “Dores do Amor Romântico”, também da Ediouro.

Nunca fui dado a idolatria, mas em entrevistas sempre tento me colocar no lugar de fãs e perguntar o que eles querem saber. Essa relação de confiança sempre me favoreceu a tirar, de meus entrevistados, frases de efeito e declarações sinceras. Com esta entrevista, não foi diferente. Desde o primeiro contato, Fernanda foi rápida, atenciosa, e demonstrou boa vontade conosco. Foi um flerte de três anos –mesmo que fosse platônico e não ela soubesse disso– com final feliz. Próximo passo? “Ainda agora, contra todas as minhas vontades, retorno ao meu novo livro. Essa força é maior do que o desejo de desistência. É a força do dharma, deve ser maior do que eu”. Com vocês, a grande estrela da literatura brasileira atual, lírica, dissecada e reveladora para, tal qual Sherazade, encantar a você pelo seu dom da palavra. 


Resenhando.com - O que diferencia a personagem, da mulher Fernanda Young? Qual a linha tênue que delimita o que é realidade e idealização?
Fernanda Young - Creio que parte do que é idealizado é minha responsabilidade. E mesmo o que não é real já me pertence. Uso de artimanhas cênicas para causar um ruído e, às vezes, sou mal-interpretada. Entendo que nem sempre sou capaz de ser clara nas minhas intenções, mas a burrice também tem péssima noção de ironia. O que posso dizer é: quem me conhece na intimidade sofre muito em ter que me defender dos burros. 


Resenhando.com - Escrever é exteriorizar alteregos, brincar de “querido diário” sem adesivos, meninices e sigilo total, ou necessidade vital? 
Fernanda Young - Necessidade vital. Mesmo sem publicar, eu escreveria. Escrever me salva da esquizofrenia.


Resenhando.com - Como, quando e por que você começou a escrever? Acreditava que iria tão longe?
Fernanda Young - Comecei a escrever por volta dos oito anos, logo que fui alfabetizada. Tive muita dificuldade de aprender a escrever. Diziam que eu era disléxica. Hoje em dia, eu sei que não podia aprender, só isso. Mas eu também sabia que seria uma escritora. Eu recitava os meus poemas, sem conseguir escrevê-los. Nunca achei que publicaria um livro. Mas tinha uma idéia romântica de ser descoberta depois de morta. 


Resenhando.com Por que você escreve outros livros dentro de um? Há ansiedade de dissertar sobre vários assuntos ao mesmo tempo, ou existe outro motivo? 
Fernanda Young - Porque não tenho fôlego, ou paciência, de manter uma história apenas.


Resenhando.com Seu programa na GNT é uma espécie de fake reality, com crônicas urbanas que mostram o quanto você pode ficar irritada quando sai de casa. Na real, o que irrita Fernanda Young?
Fernanda Young - Burrice. Burrice para mim é deficiência de caráter. Um burro é, na verdade, um preconceituoso preguiçoso.


Resenhando.com Escrever é visceral? Requer mais transpiração ou inspiração?
Fernanda Young - Transpiração. Inspiração eu tive só até os 17 anos.


Resenhando.com Até que ponto você permite se expor ao escrever? Em determinados momentos, você coloca um limite?
Fernanda Young - Não coloco limites. Posso não publicar. Não mostrar para ninguém. Mas jamais irei me censurar. Escrevo como quero e o que quero. Escrevo para mim. 


Resenhando.com O que é ficção, e o que é autobiografia em seus livros? Para quem escreve Fernanda Young?
Fernanda Young - A minha literatura é um jogo cheio de enigmas. Quando pensam que estou num personagem, estou num outro. Quando parece que é num acontecimento que me revelo, pode ter certeza que estou disfarçando; são nas sutilezas que me escancaro. Escrevo para mim, para a minha irmã, para o Alexandre e mais alguns amigos. Mas jamais me esqueço dos meus leitores. Parece que conheço cada um deles. Sinto-os, diria.


Resenhando.com Algumas pessoas criticam sua postura de apresentar programas, aparecer, dar opiniões polêmicas, porque consideram que a postura de um escritor deve ser de reclusão, envolta em mistério. O que tem a responder sobre isto?
Fernanda Young - Cafonas. São como aqueles que temem beber refrigerante. Há os que acham que celular dá tumores na cabeça. Os que acreditam que televisão seja um demônio. E que o bom escritor é triste, desleixado, magoado. Se eu fosse uma herdeira milionária, talvez ninguém nunca tivesse visto a minha cara. Poderia dar as minhas “opiniões polêmicas” só para os amigos. Mas preciso – e gosto – de fazer televisão.


Resenhando.com A maternidade mudou sua maneira de produzir?
Fernanda Young - Agora, demoro bem mais para escrever um livro. 


Resenhando.com Você disse que, ser bonita, atrapalhava sua vendagem nos livros, no entanto, é uma das escritoras mais vendidas no Brasil. Continua com este pensamento? Por que?
Fernanda Young - Vendo porque faço um “corpo a corpo” enorme. Vou a várias cidades divulgar o meu livro. Dou entrevistas – quando estou em lançamento – para qualquer mídia. Não tenho frescuras. Não sou exigente. Não faço gêneros. Pela literatura, me expus. Fiz tudo para chamar atenção para que lessem os meus livros. Se dependesse da mídia especializada, estaria vendendo exemplares em bares. Vendo muito porque escrevo bons livros e tenho leitores inteligentes. E porque luto por isso. Não tive nenhuma facilidade na vida. As pessoas podem ter a falsa impressão de que a minha vida profissional foi facílima, e foi o contrário. Só que sou determinada. Não estou brincando de ser escritora. Sou grata aos meus leitores. Preciso deles. Vou atrás deles. Então vendo bem. 


Resenhando De toda sua produção literária, qual de seus livros você considera o melhor? 
Fernanda Young - "Aritmética". Porque penei feito uma desgraçada para escrevê-lo.


Resenhando.com Como é o processo de montagem das personagens de seus livros? São inspiradas em pessoas que você conhece, ou frutos de sua imaginação?
Fernanda Young - Alguns personagens são inspirados, mas nunca totalmente. Sou uma escritora de ficção, não uma adolescente que escreve diários.


Resenhando.com O que levou uma escritora bem-sucedida de romances publicar o primeiro livro de poemas? Você sempre os escreveu? Como foi essa produção, a escolha de poemas?
Fernanda Young - Sempre escrevi poemas. Mas são cada vez mais raros. Decidi publicá-los porque tenho a minha carreira de romancista já bem definida. Não poderia deixar de fazer esse convite aos meus leitores. Acho que ler poesia salva um afogado – como bem disse Mário Quintana. Então, estou tentando ajudar e me salvar de ter esses poemas na gaveta, como fantasmas debaixo da cama. A edição foi feita por mim e pelo meu editor Paulo Roberto, o critério foi a qualidade e o tema: amor.


Resenhando.com É verdade que troca de computador quando vai escrever um novo livro?
Fernanda Young - Fico muito tempo com o computador. Esse que uso agora já está quase sem as letras das teclas. Bato com muita força. E preciso estar estimulada. É o meu trabalho. Adoro um novo Mac. E surgem lindas opções, convenhamos. Mas depois do nascimento das meninas tenho sido menos consumista. Esse em que estou escrevendo vem desde o Aritmética. Estou louca para trocá-lo.


Resenhando Que rituais você tem antes de escrever?
Resenhando.com - Tento estar bonita. Preciso acreditar em mim para escrever coisas belas. Somente de tarde. Nunca de manhã. Agora estou aproveitando as madrugadas. Escuto músicas-chaves. Só paro quando sei como continuar no dia seguinte.


Resenhando.com Por que você repetiu personagens de “As sombras das Vossas Asas”, em “Aritmética”?
Fernanda Young - Não sei bem porque, mas o Rigel Dantas me é muito atrativo. Gosto de fotografia, e ele é fotógrafo, talvez seja isso. 


Resenhando.com Qual a diferença entre escrever roteiros para o cinema e TV, e escrever livros?
Fernanda Young - Nos livros, sou totalmente livre.


Resenhando.com A qualidade dos textos literários pode ser levada para a televisão, ou cinema?
Fernanda Young - Sim. Tenho tentado fazer isso. Mas é preciso estar no meio de uma boa equipe.


Resenhando.com Você flertou com o folhetim em seu segundo livro, “A sombra das vossas asas” e declarou ter vontade e escrever uma telenovela. Como seria esta novela?
Fernanda Young - Já desisti. As novelas não me interessam mais – por enquanto. Gostaria de adaptar o “Aritmética” para uma minissérie.


Resenhando.com Qual a sensação de ver seu primeiro livro “Vergonha dos pés” adaptado para o teatro?
Fernanda Young - Acho que terei um treco no dia da estréia. Estou muito feliz. O José Possi Neto é uma realeza. E espero sobreviver a tamanha exposição.


Resenhando.com Como é ver seus livros traduzidos para outras línguas?
Fernanda Young - Só lancei em Portugal. E um trecho do “Aritmética” na Itália. É engraçado. Mas não me importo. Quero a minha língua. 


Resenhando.com Embora a crítica especializada seja cruel com você, seu último romance “Aritmética”, permaneceu semanas na lista dos mais vendidos da revista “Veja”. Como lida com críticas?
Fernanda Young - Acho que eles não são bem informados. Poderiam apontar deficiências, mas querem somente chamar a atenção do artista para eles, então os acho – na grande maioria – uns bobos invejosos. Mas, sinceramente, não me importo mais. Podem me esculhambar, que eu já criei casco. Acho que por isso, de uns tempos para cá, eles se fazem de cegos. Também não ligo. Os meus leitores continuam fiéis.


Resenhando.com O que explica a maioria dos resenhistas torcerem o nariz para você, e ser tão adorada pelos leitores?
Fernanda Young - Os leitores são muitos. O Brasil é enorme, não é somente Rio-SP. Os resenhistas são sempre os mesmos, sempre com a mesma burrice e rancor.


Resenhando.com Acredita que novos escritores tem tanto espaço na mídia quanto escritores de antigamente?
Fernanda Young - Sim. Até mais. É preciso lutar. Mas há os blogs e a internet. Antes era mais complicado.


Resenhando.com Jornalismo e literatura podem conviver? Ou seja, acredita que o jornalismo pode vaguear em qualquer linguagem?
Fernanda Young - Sim, acredito. Muitos dos meus autores prediletos eram jornalistas: Hemingway, Paulo Francis…


Resenhando.com Como uma das garotas-propaganda do jornal “O Estado de S. Paulo”, para você, o que é pensar “inho” e “ão”?
Fernanda Young - Inho é bobinho. Ão é coração.


Resenhando.com Em 2001, você foi anunciada como cronista do Jornal do Brasil, mas só publicou dois textos e a coluna foi suspensa, sem explicação. O que aconteceu?
Fernanda Young - Escrevi uma crônica que foi censurada. 


Resenhando.com Por que saiu do catálogo da editora “Objetiva” e foi para o da “Ediouro”?
Fernanda Young - Era necessária uma mudança. A Objetiva foi fundamental, mas eu precisava ser vista de maneira diferente, não mais como uma garota, e sim como uma escritora adulta.


Resenhando.com Você já disse que Madonna era sua mãe ideológica. Inclusive colocou parte do nome dela em sua filha, Cecília Madonna (gêmea de Estela May, com cinco anos). Como os atos dela influenciaram em sua vida?
Fernanda Young - Ela é ousada e profissional. Determinada. Doida. Livre. Simular masturbação num palco é libertador. Viver tão livremente, como ela faz, é um constante desafio a nossa própria noção de liberdade.


Resenhando.com Em entrevista para a revista Cláudia, você afirma que sempre detestou o termo "literatura feminina". Por quê?
Fernanda Young - Porque não sou só isso. 


Resenhando.com Qual o real motivo de sua saída do programa "Saia Justa"?
Fernanda Young - Estava de saco cheio. 


Resenhando.com O que falta para realizar você na arte?
Fernanda Young - Escrever mais romances.


Se a melhor maneira de celebrar a existência de um escritor é lê-lo, o Resenhando fez uma lista em ordem alfabética com os livros de Fernanda Young à espera de um leitor. 

"A Louca Debaixo do Branco" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"A Mão Esquerda de Vênus" (Globo Livros), de Fernanda Young. Compre neste link.

"A Sombra das Vossas Asas" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"As Pessoas dos Livros" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"Aritmética" (Ediouro), de Fernanda Young. Compre neste link.  

"Aritmética" (Editora Rocco, relançamento), de Fernanda Young. Compre neste link.  

"Carta para Alguém Bem Perto" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"Dores do Amor Romântico" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"Estragos" (Globo Livros), de Fernanda Young. Compre neste link

"O Efeito Urano" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"O Pau" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"Pós-F: Para Além do Masculino e do Feminino" (Editora Leya), de Fernanda Young. Compre neste link.

"Posso Pedir Perdão, só Não Posso Deixar de Pecar" (Editora Leya), de Fernanda Young. Compre neste link

"Tudo que Você Não soube" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link

"Vergonha dos Pés" (Editora Rocco), de Fernanda Young. Compre neste link.
 

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