sexta-feira, 29 de agosto de 2025

.: “Os Roses” devolve ao cinema a comédia sombria das separações


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com.

Quase quatro décadas depois de o público assistir, com fascínio e desconforto, à explosiva derrocada conjugal de Michael Douglas e Kathleen Turner em "A Guerra dos Roses" (1989), a Searchlight Pictures lança uma nova e ambiciosa releitura: "Os Roses: até Que a Morte os Separe" ("The Roses", no original, e com o título "Um Casal (Im)perfeito" em Portugal). O filme promete atualizar o olhar sobre os limites do amor, da competição e da sobrevivência emocional dentro de um casamento.

Dirigido por Jay Roach, conhecido por transitar da comédia escrachada de Austin Powers até o drama político de "Trumbo e O Escândalo", o longa-metragem conta com roteiro de Tony McNamara, aclamado por seu humor ácido e sua habilidade em expor, com sarcasmo, as falhas humanas em filmes como "A Favorita" e "A Bela e a Fera". Desta vez, McNamara revisita o clássico romance de Warren Adler, publicado em 1981, que inspirou o filme original de Danny DeVito. Mas o roteirista faz questão de frisar: não se trata de um remake, e sim de uma reinvenção - uma tragédia cômica que ressoa ainda mais no nosso tempo, marcado por disputas de ego e pela pressão do sucesso individual.

O coração da narrativa é o casal Theo e Ivy Rose, interpretados por dois gigantes do cinema britânico: Benedict Cumberbatch e Olivia Colman. Ele, um arquiteto de renome que vê sua reputação ruir após um projeto fracassado; ela, uma chef premiada que transforma um restaurante de caranguejos em verdadeiro império gastronômico. O que parecia ser a construção de um casamento sólido e admirável vai pouco a pouco se transformando em um campo de batalha, à medida que a ascensão de Ivy contrasta com a queda de Theo, abrindo espaço para ressentimentos antigos, ironias afiadas e uma guerra de poder que ameaça destruir não apenas a relação, mas também o mundo que construíram juntos.

Roach definiu o tom do filme como “uma tragédia quase shakespeariana disfarçada de comédia”, onde o riso funciona como faca de dois gumes: provoca catarse, mas também expõe a dor. “Esse filme explora como a linguagem do amor pode se transformar de uma provocação em um ataque. E, muitas vezes, é difícil distinguir uma coisa da outra”, afirmou o diretor em entrevistas recentes. Já McNamara observa que, em tempos em que o capitalismo fragmenta vidas e puxa casais em direções opostas, o casamento se torna ainda mais desafiador. Olivia Colman, por sua vez, diz que o roteiro “faz você rir e, em seguida, quebra seu coração”, enquanto Cumberbatch o descreve como “divertido, criativo e cheio de falhas humanas”.

O elenco de apoio reforça o caráter multifacetado da trama: Kate McKinnon e Andy Samberg vivem Amy e Barry, casal que personifica ironicamente a “liberdade” conjugal, mas sem deixar de expor as próprias fissuras; Jamie Demetriou e Zoë Chao dão vida a Rory e Sally, um par competitivo e igualmente disfuncional; Sunita Mani e Ncuti Gatwa aparecem como aliados de Ivy em seu restaurante; e a veterana Allison Janney, vencedora do Oscar por "Eu, Tonya", surge como a advogada implacável de Ivy. Juntos, eles criam um mosaico de relações que serve tanto de espelho quanto de contraponto ao colapso dos protagonistas.

Um detalhe interessante é que o lançamento do filme coincidiu com a reedição do romance "A Guerra dos Roses" no Brasil, pela editora Intrínseca, o que reforça a ponte entre passado e presente. O autor Warren Adler, falecido em 2019, descrevia sua obra como uma sátira sobre as ilusões do amor romântico, mostrando como os pactos matrimoniais podem esconder batalhas silenciosas. A nova versão cinematográfica leva essa crítica um passo adiante, mergulhando na contemporaneidade - em que o culto ao sucesso e a sobrecarga emocional muitas vezes transformam parceiros em rivais.

Com 1h45 de duração, "Os Roses: até Que a Morte os Separe" promete dividir opiniões, provocar debates e arrancar gargalhadas nervosas. Não há cenas pós-créditos, mas talvez não seja necessário: o verdadeiro impacto do filme está no incômodo que deixa após os créditos finais, lembrando ao espectador que, em certas guerras íntimas, não há vencedores.


O livro que inspirou o filme
Se você era fã de comédia nos anos 1980, é muito provável que conheça a história de um casal recém-divorciado que disputa a propriedade do casarão em que morava. Afinal, a icônica guerra entre Jonathan e Barbara Rose no clássico "A Guerra dos Roses", de Warren Adler, já encantou vários leitores e espectadores em 1989, com Kathleen Turner e Michael Douglas. Agora, o aguardado remake estrelado por Benedict Cumberbatch e Olivia Colman promete honrar as memórias dos fãs, além de propor uma releitura moderna da trama. 

Casados há 18 anos, os Roses parecem levar a vida dos sonhos. Pais amorosos de dois adolescentes, Jonathan é um advogado bem-sucedido e Barbara, uma mulher que dedicou a vida à família. O casal mora num lindo casarão com os filhos e animais de estimação, uma valiosa coleção de antiguidades e ainda tem uma bela Ferrari. Mas uma inesperada disputa se inicia logo após Jonathan ter um repentino e suposto ataque cardíaco, que desperta em Bárbara profundas reflexões sobre seu casamento.

Ao perceber que não se importa mais com o marido e deseja uma vida livre dele, ela inicia os trâmites do divórcio. Só que há um desafio para a separação: decidir quem fica com a casa, que representa a paixão de uma vida inteira para ambos. A propriedade se transforma, então, numa completa zona de guerra, já que o casal se recusa a deixar o imóvel e tenta expulsar um ao outro, custe o que custar.

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“Os Roses: até Que a Morte os Separe” | “The Roses” | “Um Casal (Im)perfeito” (em Portugal) | Sala Classificação indicativa: 16 anos | Ano de produção: 2025 | Idioma original: inglês | Direção: Jay Roach | Roteiro: Tony McNamara (baseado no romance "The War of the Roses", de Warren Adler) | Elenco: Benedict Cumberbatch (Theo Rose), Olivia Colman (Ivy Rose), Andy Samberg, Kate McKinnon, Allison Janney, Belinda Bromilow, Ncuti Gatwa, Sunita Mani, Jamie Demetriou, Zoë Chao | Distribuição no Brasil: Searchlight Pictures (Disney) |  Duração: aproximadamente 1h 45min (105 minutos segundo Letterboxd, mas AdoroCinema indica 1h 45min) | Cenas pós-créditos: não.


Sinopse resumida de “Os Roses: até Que a Morte os Separe”:
Theo e Ivy Rose formam um casal que aparenta levar uma vida ideal – ele, um arquiteto talentoso; ela, uma chef bem-sucedida. Quando o projeto de Theo fracassa e sua reputação despenca, enquanto o negócio de Ivy decola, antigas tensões vêm à tona, transformando amor em competição feroz e colocando em risco tudo o que construíram. 


Sessões legendadas
28/8/2025 - Quinta-feira: 15h40, 18h00 e 20h20
29/8/2025 - Sexta-feira: 15h40, 18h00 e 20h20
30/8/2025 - Sábado: 15h40, 18h00 e 20h20
31/8/2025 - Domingo: 15h40, 18h00 e 20h20
1°/9/2025 - Segunda-feira: 15h40, 18h00 e 20h20
2/9/2025 - Terça-feira: 15h40, 18h00 e 20h20
3/9/2025 - Quarta-feira: 15h40, 18h00 e 20h20

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

.: Cinema: Austin Butler engorda para viver bartender caçado em "Ladrões"


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com.

Darren Aronofsky, diretor conhecido por obras intensas como "Réquiem para Um Sonho", "Cisne Negro" e "A Baleia", sai da zona de desconforto e mergulha no universo caótico e delirante dos anos 1990 com "Ladrões" ("Caught Stealing"). Adaptado do romance homônimo de Charlie Huston - que também assina o roteiro cinematográfico -, o filme resgata o cinema policial com humor ácido e estilo ultraviolento, costurando referências a "Pulp Fiction", "True Romance" e mesmo a Elmore Leonard, autor de romances policiais e thrillers que foram adaptados para o cinema.

A trama se passa em 1998 e acompanha Hank Thompson (Austin Butler), uma ex-promessa do beisebol que agora leva uma vida de bartender alcoólatra em Nova Iorque. A rotina aparentemente pacífica - com uma namorada atenciosa, Yvonne (Zoë Kravitz) - é virada de cabeça para baixo quando ele aceita cuidar de um gato do vizinho punk Russ (Matt Smith) e, de repente, se vê perseguido por uma gangue de criminosos que disputam uma misteriosa chave escondida na mobília felina  Também integram o elenco Regina King (como uma policial implacável), Liev Schreiber e Vincent D’Onofrio como gângsteres excêntricos, Carol Kane como a sábia Bubbe, além de Bad Bunny.

Para fazer o filme, Austin Butler mergulhou no método e chegou a dormir nu no set, no apartamento de seu personagem, para garantir a imersão; ganhou cerca de 16 kg (35 libras) e consumiu muitas cervejas para encarnar alguém que já foi atleta de elite e agora está fora de forma, ao ponto de Darren Aronofsky pedir que ele relaxasse um pouco para deixar a performance mais solta. 

A estética do longa aposta no humor politicamente incorreto e no clima retrô, com referências explícitas ao final dos 90: uma jukebox tocando Smash Mouth, um televisor exibindo Jerry Springer, aparelhos antigos e celulares “tijolões”. "Ladrões" chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 28 de agosto de 2025, mesmo dia do lançamento na Austrália, um dia antes de estrear nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ele teve primeira exibição mundial em 7 de agosto, em Puerto Rico, num evento com presença de Aronofsky, Butler e Bad Bunny, aproveitando também a residência de shows do cantor na ilha.

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Ficha técnica
“Ladrões” | “Caught Stealing” | Sala 4
Classificação indicativa:
não recomendado para menores de 16 anos. Ano de produção: 2025. Idioma original: inglês. Direção: Darren Aronofsky. Roteiro: Charlie Huston. Elenco: Austin Butler (Hank Thompson), Zoë Kravitz (Yvonne), Matt Smith (Russ), Regina King, Liev Schreiber, Vincent D’Onofrio, Carol Kane, Griffin Dunne, Bad Bunny (Benito A. Martínez Ocasio), entre outros. Distribuição no Brasil: Sony Pictures. Duração: aproximadamente 107 minutos (1h 47m). Cenas pós-créditos: não.

Sinopse resumida de "Ladrões"
Hank Thompson, ex-jogador de beisebol do ensino médio e bartender alcoólatra, aceita cuidar do gato de um vizinho punk e, inadvertidamente, torna-se alvo de criminosos por causa de uma chave escondida na jaula do animal. Ele precisa lutar para sobreviver num submundo violento e absurdamente variado, enquanto busca entender por que está sendo caçado.


Sessão legendada
28/8/2025 - Quinta-feira: 16h00, 18h30 e 20h50
29/8/2025 - Sexta-feira: 16h00, 18h30 e 20h50
30/8/2025 - Sábado: 16h00, 18h30 e 20h50
31/8/2025 - Domingo: 16h00, 18h30 e 20h50
1°/9/2025 - Segunda-feira: 16h00, 18h30 e 20h50
2/9/2025 - Terça-feira: 16h00, 18h30 e 20h50
3/9/2025 - Quarta-feira: 16h00, 18h30 e 20h50

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

.: Cinco romances disputam a primeira edição do Prêmio Kindle Vozes Negras


Foram anunciados os cinco livros finalistas da primeira edição do Prêmio Kindle Vozes Negras, iniciativa que busca valorizar escritores negros independentes e ampliar a representatividade no mercado editorial brasileiro. As obras selecionadas apresentam diferentes perspectivas sobre identidade, memória, amizade, desigualdade e futuro. São essas:

“Amiga com Piscina”, de Daiana de Souza
O romance acompanha a trajetória de Leila e Marina, amigas desde o ensino médio, que enfrentam juntas vestibular, universidade e as transformações da vida adulta. A obra destaca como diferenças sociais podem afetar vínculos pessoais e questiona até que ponto uma amizade resiste às mudanças. Qual garota negra nunca teve uma amiga branca? A de Leila era rica, morava no melhor bairro da cidade, numa casa enorme e com piscina. A amizade começou na adolescência e foi pela vida afora, as duas trocaram sobre incertezas, sonhos e namorados. Até que precisaram se despedir uma da outra, para sempre. Daiana de Souza é escritora, roteirista e professora de História, é apaixonada pelo mar e pela palavra escrita. Pesquisa e escreve sobre as trajetórias de pessoas negras. De Macaé, interior do Rio de Janeiro, ela se conecta com o mundo pela literatura e pelo audiovisual. Redes sociais: @thenanadesouza. Compre o livro neste link.


“Borda Infinita”, de Tássia Nascimento
Narrado a partir das memórias de Ana Tereza, mulher negra e lésbica, o livro explora as relações familiares e afetivas da protagonista. O texto discute corpo, sexualidade e identidade, abordando contradições e limites que moldam sua subjetividade. O romance delineia o modo como cada experiência compõe a subjetividade da personagem. Os vínculos consanguíneos e as relações afetivo-sexuais são colocados a partir de suas contradições e limites e, de maneira minuciosa, a obra passeia por um acúmulo de vivências que constituem o corpo e a sexualidade da protagonista. Tássia Nascimento é pós-doutoranda em História da Arte pela Unifesp, doutora em Ciência da Literatura, mestre em Estudos Literários e licenciada em Letras. Atua como professora da rede pública e através de seus textos foi vencedora dos Prêmios Mulheres Negras Contam Sua História e Prêmio Palmares de Monografia e Dissertação. Em 2022, em parceria com a Editora Senac, lançou o livro"'Pesquisa, Tecnologia e Sociedade". Já publicou diversos artigos e ensaios sobre o tema da literatura afro-brasileira. Atualmente desenvolve projetos que dialogam com a linguagem audiovisual, incluindo a escrita de roteiros. Compre o livro neste link.


“Febre Inocente”, de J. Oliver Jr.
Ambientado em 2043, o romance de ficção especulativa apresenta o “Projeto Imáculo”, sistema que classifica crianças de 12 anos como “vidro”, “trigo” ou “joio”, definindo seus destinos de forma brutal. A trama questiona liberdade, controle social e sobrevivência. J. Oliver Jr. é graduando de Gestão Pública, profissional de licitações desde os dezesseis anos, além de compositor, roteirista e artista plástico. Escreve desde os oito anos, quando apresentou para sua professora de português, a história de um cachorrinho que salva seu tutor de um assalto. Em seu primeiro título, ele conta a história de um Brasil distópico, no qual crianças de doze anos, são condenadas a tirar a própria vida diante das câmeras de TV, com base em uma lei do ano 2000. Compre o livro neste link.


“Olhos Rubros de Sal”, de Márcia Moura
A narrativa traz a perspectiva de uma diarista que, ao acompanhar a vida de suas patroas, busca reconstruir a própria história após uma tragédia familiar. O livro aborda temas como perda, culpa e possibilidade de recomeço. Em meio à rotina de trabalho e enquanto acompanha de forma inevitável o desenrolar das histórias das suas patroas, uma diarista busca sentido ao tentar recomeçar sua vida após uma grande tragédia familiar. Márcia Moura nasceu em São Paulo e mora em Recife desde os 12 anos de idade. É médica, mãe de três garotos e professora de Ginecologia na Universidade Federal de Pernambuco e na Universidade de Pernambuco. É pós-graduada em Escrita Criativa pelo NESPE. Publicou, em 2023, sua primeira obra individual, "Como Dançam os Lírios-do-Mar" e foi uma das vencedoras do Prêmio Carolina Maria de Jesus. Em 2024, publicou "Neve Sobre Areia Quente", obra vencedora do prêmio Mar que Arrebenta, da Editora Arrelique. Compre o livro neste link.


“Via Pública”, de Tiago Costa
Ambientado em Salvador durante as comemorações da Independência da Bahia, o romance mistura política e cotidiano urbano. O contraste entre o desfile oficial e a escassez de água em algumas regiões da cidade serve de metáfora para as contradições sociais e históricas da capital baiana. Dois de Julho, Independência da Bahia: o governador desfila enquanto certas partes da capital passam o dia sem água. As pessoas vão às ruas de Salvador para viverem seus destinos nessa cidade que tem cor. Preta como seu povo, azul como seu mar, vermelha como pode se tornar quando o sangue de seus habitantes derrama sobre o asfalto. Transparente como a pergunta que se anuncia: desabastecida de tanto, haverá água suficiente na cidade para lavar essas manchas? Tiago Costa nasceu em Salvador, Bahia, no início dos anos 1990. Formado em medicina, especializou-se em psiquiatria em 2018 e trabalha desde então na rede pública e privada. Compre o livro neste link.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

.: Tudo sobre "Coração Sem Medo", o novo romance de Itamar Vieira Junior




Publicado pela editora Todavia, o livro que conclui a Trilogia da Terra, iniciada por Torto Arado e seguida por Salvar o fogo, já está em pré-venda

O novo e aguardado romance de Itamar Vieira Junior, um dos maiores autores brasileiros, já tem data de lançamento: "Coração Sem Medo" chegará às livrarias no dia 13 de outubro e já está em pré-venda. O terceiro e final volume da Trilogia da Terra é uma obra potente que enfeixa, com engenho narrativo e extrema sensibilidade, os principais temas desfiados em "Torto Arado" e "Salvar o Fogo". A capa é de Elisa v. Randow sobre a imagem de Aline Bispo

Enquanto o romance não chega às livrarias, a editora Todavia criou a Comunidade Coração sem Medo, grupo de whatsapp e newsletter por onde os leitores de Itamar recebem conteúdo exclusivo e benefícios, como desconto na pré-venda, acesso a clubes de leitura, entre outras ações. Para fazer parte da comunidade, basta se inscrever neste link. Para comprar o livro "Coração Sem Medo", de Itamar Vieira Junior, basta clicar neste link.


Sobre a Trilogia da Terra
Quando "Torto Arado" foi publicado, em 2019, Itamar Vieira Junior já anunciava que aquele romance daria o pontapé inicial naquilo que seria uma Trilogia da Terra: livros profundamente calcados na realidade e nas injustiças sociais brasileiras, em que seus personagens (descendentes de indígenas e escravizados) estariam às voltas com a luta pela dignidade assegurada por um quinhão de terra. Uma batalha que tem a ver com território - mas também com herança cultural, religiosidade afro-indígena e emancipação feminina.

Sobre "Coração Sem Medo"
Rita Preta, uma operadora de caixa de supermercado e mãe de três filhos, vê sua vida ser transformada quando um deles - o adolescente Cid - some sem deixar rastro na comunidade onde reside, em Salvador. Na sua jornada em busca de respostas, ela enfrenta as possibilidades de perder seu emprego, seu relacionamento amoroso, e até mesmo a própria vida, ameaçada pela atmosfera de violência que envolve o desaparecimento do primogênito.

Ao ter seu presente interrompido por esse evento inesperado, Rita se vê imersa nas memórias de seu passado: a saída precoce da casa da família no campo para trabalhar como empregada doméstica na cidade; a difícil relação com a avó Carmelita, a filha desaparecida de Donana; além da culpa que carrega por um trágico acidente envolvendo seus irmãos.

Se, por um lado, ela tenta reunir os fragmentos de sua história para se manter íntegra no presente, por outro, procura a chave para um recomeço. Forte e obstinada, Rita Preta é descendente direta de alguns personagens daquela Água Negra de "Torto Arado". Sua história, no entanto, parece espelhar a dor de muitas mães das periferias brasileiras, assoladas pela violência. Uma narrativa que, por isso mesmo, precisa ser contada, como percebe seu filho Cainho, espécie de alter ego do próprio autor: um jovem que passa a enxergar nas histórias do seu povo o alimento para a criação literária.

"Coração Sem Medo" é uma narrativa sobre o poder da imaginação contra o esquecimento: o novo romance de Itamar Vieira Junior é o testemunho literário sobre a força das histórias que precisam ser contadas, revelando o vigor inquebrantável do espírito humano. É, acima de tudo, uma história da gente brasileira.


Sobre Itamar Vieira Junior
Vencedor de prêmios no Brasil e no exterior, como o LeYa, o Oceanos e o Montluc, além de ter conquistado duas vezes o Prêmio Jabuti, Itamar Vieira Junior foi o primeiro brasileiro a chegar à final do International Booker Prize. O escritor, nascido em Salvador, na Bahia, em 1979, é doutor em estudos étnicos e africanos (UFBA) e autor da coletânea de contos "Doramar ou a Odisseia", de "Chupim", e dos romances "Salvar o Fogo""Torto Arado".  Esse último se tornou um dos maiores sucessos de crítica e de público da literatura brasileira nas últimas décadas. O livro foi traduzido para mais de trinta idiomas e inspirou adaptações para o teatro e um musical. Desde 2019, Itamar já vendeu, no Brasil, mais de um milhão de livros. Compre a Trilogia da Terra, de Itamar Vieira Junior, neste link.

.: Novo livro investiga a dupla natureza de eros a partir de Platão


Em tempos de relacionamentos líquidos e amor digital, o filósofo português João Constâncio resgata uma das questões mais fundamentais da existência humana: o que é o amor? Em "Três Discursos sobre Eros: meditação sobre o Fedro de Platão", lançamento da Tinta-da-China Brasil, o autor oferece uma investigação filosófica e literária sobre a natureza contraditória do amor que atravessa milênios e segue atual. A obra integra a coleção Ensaio Aberto, que une filosofia e literatura. 

Três discursos sobre eros parte do diálogo Fedro, de Platão, para investigar como a paixão amorosa pode ser, simultaneamente, uma forma de loucura e uma experiência do divino em busca da verdade. Para desenvolver essa investigação, Constâncio se vale da poesia, da literatura e da filosofia, desde a Antiguidade até os dias contemporâneos. Assim, o autor conecta as imagens poéticas de Platão aos versos de Safo e às Confissões de Santo Agostinho, e demonstra como pensadores e escritores vieram interpretando eros ao longo dos séculos, como Hegel, Nietzsche, Heidegger, Marcel Proust no Em busca do tempo perdido, Thomas Mann em A morte em Veneza e Anne Carson em Eros: o doce-amargo. 

O resultado é uma obra híbrida que une rigor filosófico e fluidez literária, explorando temas universais como ciúme, temporalidade do amor, ilusão e autocontrole - questões ainda centrais na experiência humana contemporânea. “O leitor tem em mãos um precioso tesouro, que pode frequentar com deleite, cuja leitura é capaz de produzir arrebatamento, isto é, aquela loucura ou mania extática, que é condição tanto da filosofia como da poesia, e que pode nos conduzir para o que verdadeiramente somos”, afirma Oswaldo Giacoia Junior, que assina a orelha do livro. Compre o livro de "Três Discursos sobre Eros: meditação sobre o Fedro de Platão", de João Constâncio, neste link.


Sobre o autor
João Constâncio
é professor catedrático do Departamento de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa (Nova FCSH), onde se doutorou, em 2005, com uma dissertação sobre imagens e concepções da vida humana em Platão, e onde exerce os cargos de diretor do Instituto de Filosofia da Nova (IFILNOVA) e coordenador do Doutoramento em Filosofia. É autor do livro "Arte e Niilismo: Nietzsche e o Enigma do Mundo" (Tinta-da-china, 2013), bem como coorganizador de cinco livros sobre Nietzsche — incluindo, com Maria João Mayer Branco e Bartholomew Ryan, "Nietzsche and the Problem of Subjectivity" (Walter de Gruyter, 2015). Tem escrito e lecionado igualmente sobre questões fundamentais da estética, da antropologia filosófica e da filosofia da história nas obras de Platão, Kant, Hegel, Schopenhauer e Heidegger. Os seus projetos mais recentes incluem a publicação de um opúsculo sobre "As Tentações de Sant’Antão", de Hieronymus Bosch ("Sobre o Absurdo, Documenta", 2024); a tradução e comentário - com uma introdução escrita em colaboração com Luisa Buarque - da peça Lisístrata, de Aristófanes (em curso de publicação); e a coorganização, com Simon May, de um volume de ensaios intitulado "Who Is Heidegger’s Nietzsche?" (Cambridge University Press, previsto para 2026).

"Três Discursos sobre Eros" é o quinto título da coleção Ensaio Aberto. Coordenada por Tatiana Salem Levy e Pedro Duarte, a coleção é resultado de uma parceria originada no âmbito do Programa de Internacionalização da Capes (Capes‑PrInt) entre a Universidade Nova de Lisboa e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Os livros são publicados pela Tinta-da-china, em Lisboa, e pela Tinta-da-China Brasil, em São Paulo, com apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT – Portugal).

“Na tradição ocidental, deu‑se por certa a separação entre Filosofia e Literatura, tendo‑se como consequência um entendimento histórico que cindia, de um lado, a mente, a reflexão ou a razão, e, de outro lado, o corpo, a criação ou a emoção. Perdia‑se, assim, a possibilidade de um conhecimento que, em vez de separar, aproximasse Filosofia e Literatura, perguntando‑se: mas escritores não filosofam, e filósofos não escrevem? Os Ensaios Abertos desta coleção surgiram da vontade de explorar como, apesar da conhecida crítica metafísica que a Filosofia dirigiu à Literatura, elas não cessaram de se aproximar”, explicam os coordenadores. Compre os livros da coleção Ensaio Aberto neste link.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

.: Pedro Süssekind coloca Shakespeare, Homero e Guimarães Rosa na conversa


Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação

Finalista da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, na categoria Letras, Linguística e Estudos Literários, o livro "O Mar, o Rio e a Tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare", publicado pela editora Tinta-da-China Brasil, confirma Pedro Süssekind como um dos mais inquietos intérpretes da relação entre filosofia e literatura no Brasil. Professor titular da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do CNPq e autor de obras como "Shakespeare, o Gênio Original" e "Hamlet e a Filosofia", Süssekind propõe em sua mais recente publicação um diálogo improvável - e ao mesmo tempo necessário - entre a "Odisseia", de Homero, "Rei Lear", de William Shakespeare, e "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa.

Com uma escrita que desafia fronteiras acadêmicas, o autor percorre desde a Grécia Antiga até o sertão mineiro, costurando filosofia, estética e crítica literária para revelar como essas obras ecoam entre si. Em entrevista exclusiva ao Resenhando.com, Süssekind comenta os riscos de colocar clássicos em confronto, o papel da filosofia como mediadora da literatura e até os dilemas do pesquisador que também escreve ficção. Compre o  livro "O Mar, o Rio e a Tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare", de Pedro Süssekind, neste link.


Resenhando.com - 
Seu livro aproxima Homero, Shakespeare e Guimarães Rosa - três universos culturais e históricos distintos. O que seria mais arriscado: reduzir Rosa a um “Homero do sertão” ou enxergar Shakespeare como um “dramaturgo de jagunços”?
Pedro Süssekind - Dizer que Guimarães Rosa é um “homem do sertão” não o reduz, se pensarmos a partir da perspectiva dele. Numa célebre entrevista que deu a um crítico alemão, ele concorda inteiramente com essa classificação e ainda acrescenta que não se trata só de uma afirmação biográfica, e sim de uma determinação essencial. Porque “o sertão é do tamanho do mundo”, como diz Riobaldo. Não é um lugar determinado, mas uma dimensão existencial. Isso tem a ver com um “super-regionalismo”, para usar um termo de Antonio Candido. Segundo a concepção que aparece na tal entrevista e que remete a "Grande sertão: veredas", Goethe também é do sertão, assim como Tolstoi, Flaubert e Balzac. Me parece que tanto Homero quanto Shakespeare entrariam nessa lista também. Agora, de fato falar de Shakespeare e de jagunços no mesmo livro pode ser estranho. Um trabalho de Literatura Comparada corre sempre o risco de forçar aproximações, ou estabelecer conexões arbitrárias, entre autores que pertencem a contextos culturais distintos. Penso que evitei esse risco no livro, por escrever ensaios dedicados a cada obra (dois sobre a "Odisseia", dois sobre "Rei Lear" e dois sobre "Grande sertão: veredas"), sempre com o cuidado de considerar o contexto histórico dos autores. As aproximações dizem respeito a temas (como por exemplo a errância, que é abordada nas três obras de modos diversos), ou à forma de narrar as histórias (por exemplo, a incorporação de elementos épicos e dramáticos na construção do romance de Guimarães Rosa).


Resenhando.com - Na sua análise, a filosofia funciona como ponte entre literatura e pensamento. Mas até que ponto a filosofia não corre o risco de engessar a força poética da literatura, transformando metáfora em tese?
Pedro Süssekind - Eu diria que o pensamento funciona como ponte entre a filosofia e a literatura. A relação entre as duas foi tradicionalmente carregada de tensão, desde a Antiguidade, quando a filosofia afirmou seu domínio como discurso verdadeiro, em contraposição ao discurso falso (ficcional) da poesia. Isso remete, claro, às críticas a Homero na República de Platão. Mas essa separação foi repensada e posta em questão muitas vezes, em especial desde o Romantismo, no final do século XIX. Em todo caso, concordo que a tentativa de extrair filosofia de uma obra literária pode levar a um engessamento, como se essa obra fosse a ilustração metafórica de determinadas ideias ou correntes de pensamento. Esse tipo de exercício não me interessa muito, ou me interessa só como um aspecto a ser usado a serviço de uma tentativa de entender o que você chamou de força poética da literatura. Podemos chamar isso também de criação literária de uma instância de reflexão. Certamente, como mostrei nos ensaios desse livro, Shakespeare e Guimarães Rosa dialogam com a filosofia, ou seja, incorporam elementos filosóficos em suas obras. Aliás, Riobaldo é um personagem altamente filosófico, à altura de Hamlet... Mas numa peça ou numa narrativa as questões que foram objeto de reflexão teórica por parte de filósofos são apresentadas e pensadas de outra maneira. Não basta identificar questões ou remeter a teorias. Isso é só um aspecto. O trabalho do crítico é discutir essa maneira de pensar da literatura, que muitas vezes põe em xeque teorias e questões do campo da filosofia.


Resenhando.com - "A Telemaquia", "Rei Lear" e "Grande sertão: veredas" podem soar, para muitos, como textos distantes do leitor comum. O que esse “diálogo erudito” oferece ao público que não vive na academia?
Pedro Süssekind - Por que ler os clássicos? Essa pergunta foi usada por Ítalo Calvino no título de um livro do qual gosto muito. Pensei nesse livro muitas vezes enquanto escrevia os ensaios de O mar, o rio e a tempestade. Até usei uma frase dele na orelha: “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer o que tinha para dizer”. Não considero que a literatura De Homero, de Shakespeare ou de Guimarães Rosa seja objeto de estudo acadêmico, assunto de eruditos, peça de museu. A erudição da leitura, no sentido de recorrer a um aparato crítico, tem a ver com a intenção de revelar as marcas das leituras precendentes, porque elas fazem parte de uma história da recepção que vai sendo incorporada a cada um desses livros. Mas esse tipo de erudição fica a cargo do crítico, ou do professor, e só faz sentido se enriquecer a descoberta que é feita numa primeira leitura: a descoberta de algo inédito, inesquecível, inesperado, que vai muito além do que se imagina conhecer por ouvir falar de um clássico. Então, penso que o leitor, qualquer leitor que se interessa por literatura, tem muito a ganhar ao dedicar seu tempo a livros como a Odisseia, Rei Lear ou Grande sertão: veredas. Quando escrevi sobre eles, ou quando dou aula sobre eles, também quero proporcionar um caminho de aproximação para leitores e alunos, tentando mostrar a riqueza, o encantamento e a atualidade desses livros.


Resenhando.com - Quando coloca Adorno e Horkheimer para “lerem” a Odisseia, você não teme que a filosofia crítica alemã se sobreponha a Homero - como um ruído moderno que silencia a oralidade arcaica?
Pedro Süssekind - Nesse caso específico, tomei como ponto de partida a leitura da Odisseia que esses autores fazem na Dialética do esclarecimento. Uma obra literária da Antiguidade lida numa obra de filosofia do século XX. Isso me pareceu um bom ponto de partida não só para pensar a relação entre filosofia e literatura, como também para discutir a atualidade de Homero de um ponto de vista contemporâneo. Mas eu não quis simplesmente adotar a leitura que esses filósofos fazem, para não perder de vista a leitura direta da Odisseia e a minha própria compreensão desse poema, que eu amo profundamente e releio sempre que posso. Explico as hipóteses de Adorno e Horkheimer, ligadas à Teoria Crítica, para discutir e problematizar alguns aspectos da intepretação deles, justamente porque, como você disse, ela silencia elementos importantes da epopeia, ligados à passagem da oralidade para a escrita. É isso que discuto no ensaio “As Sereias e o Narrador”.


Resenhando.com - Shakespeare, Guimarães Rosa e Homero são três autores “canônicos”. O que seria mais subversivo: retirar esses gigantes do pedestal ou recolocá-los em diálogo com vozes literárias marginalizadas?
Pedro Süssekind - Certamente esses autores entraram para o cânone, se pensarmos na História da Literatura, com maiúsculas. Mas essa ideia de um cânone literário me parece problemática por dois motivos. Primeiro, recuperando o que já discutimos, porque distancia as obras dos leitores, nesse sentido de posicioná-las num pedestal, como se só pudessem ser lidas por grandes eruditos, ou como se já tivessem seu lugar determinado e estivessem ali fechadas, prontas, definidas. Um livro fechado não tem vida, um livro já entendido não precisa ser relido. Em segundo lugar, porque o cânone não pode ser nunca definitivo. Uma tradição só continua a existir na medida em que continua a influenciar e alimentar o que é criado atualmente. Aliás, é isso que nos mostraram as vanguardas artísticas, ao criar suas próprias tradições e seus próprios cânones, muitas vezes tirando do esquecimento obras que não eram mais lidas e que se tornaram clássicas a seu modo. Nesse sentido, eu estava mais interessado no meu cânone pessoal de obras clássicas que li e reli ao longo da vida. Mas vou tomar como exemplo "Grande sertão: veredas", que se tornou um grande clássico da literatura brasileira. Como Silviano Santiago comenta em seu ótimo estudo Genealogia da ferocidade, a importância histórica desse livro tem a ver com o impacto destruidor que ele teve sobre o cânone literário: o quanto ele bagunçou as categorias da história da literatura, como regionalismo, modernismo etc. A cada vez que lemos esse romance - e o mesmo se pode dizer sobre obras de Homero ou de Shakespeare -, ele sai daquele pedestal e se torna uma coisa viva, em aberto, a ser interpretada segundo a perspectiva do leitor agora. O diálogo com vozes literárias marginalizadas, por exemplo, faz parte dessa experiência viva da leitura e da crítica.


Resenhando.com - Em sua trajetória, você também escreveu romances. O ficcionista Pedro Süssekind sente inveja da liberdade do filósofo Pedro Süssekind ou é o contrário? Há algum momento em que a filosofia atrapalha a literatura? Ou, ao contrário?
Pedro Süssekind - As formas de escrita da filosofia e a da literatura são muito diferentes. O jargão acadêmico e as exigências formais de artigos e teses atrapalham quem quer desenvolver uma forma própria de pensar, por isso tento escapar das fórmulas e do jargão quando escrevo ensaios. Mesmo assim, quando estou escrevendo teoria, tenho a impressão de que nunca poderia escrever ficção. Mas o contrário não se aplica, e acho meio difícil explicar o motivo. Tem a ver com a imaginação e a carga afetiva do texto de ficção... Por outro lado, meus interesses teóricos alimentam o trabalho ficcional, como aconteceu com meu último romance, "Anistia", que recria o enredo da primeira parte da "Odisseia", a chamada Telemaquia, no contexto brasileiro dos anos de chumbo da ditadura militar. Ou seja, o romance tem uma conexão com os ensaios da primeira parte de "O Mar, o Rio e a Tempestade". No fundo, eu gostaria de aproximar as duas formas de escrita, ficcional e teórica, ou escrevendo ensaios mais literários, ou escrevendo uma ficção ensaística. Mas até o momento me sinto sempre dividido, oscilando de uma forma para outra.


Resenhando.com - Grande parte da crítica insiste em fazer de Rosa um “enigma intraduzível”. O que a sua leitura revela: Rosa é realmente intraduzível ou os críticos é que têm medo de encarar a simplicidade por trás de algo complexo?
Pedro Süssekind - Não considero Guimarães Rosa intraduzível, de modo algum. E a fortuna crítica da obra dele é muito vasta e muito rica, composta por diversas abordagens: leitura sociológica, crítica genética baseada na pesquisa de arquivo, leitura mística e filosófica, discussão linguística. A coisa parece inesgotável. Não rejeito nem adoto em definitivo nenhuma dessas abordagens em particular, mas respeito cada uma delas e tento aprender com os trabalhos de críticos de diversas linhas, até porque me parece que a literatura de Rosa de fato abre a possibilidade de todas essas leituras. Aliás, ela não só está aberta para várias possibilidades, como também se mantém ambígua, inclassificável, desafiadora apesar de todas. Por isso, desconfio de críticas que procuram resolver tudo de uma vez e propõem interpretações definitivas, dogmáticas. Dogmatismo não tem nada a ver com Guimarães Rosa. Considero que os bons críticos lidam com a complexidade e a riqueza da obra dele sem medo.


Resenhando.com - O Prêmio Jabuti Acadêmico é recente e já começa a moldar um cânone acadêmico. Você acredita que prêmios desse tipo consolidam ou engessam o pensamento crítico no Brasil?
Pedro Süssekind - Acho iniciativas como essa importantes porque dão visibilidade ao trabalho acadêmico e contribuem para romper essa barreira entre o que é produzido nas universidades e os leitores que não pertencem a esse mundo. Mas no meu caso, como eu trabalho com literatura e não com uma área mais técnica ou mais árida das ciências, não faço muita distinção entre obras de divulgação (para leigos) e obras acadêmicas. Quando escrevo ensaios sobre literatura e filosofia, a serem publicados em livro, procuro usar uma linguagem clara, sem exigir conhecimento técnico prévio ou formação numa determinada área. Claro que o leitor precisa ter interesse no assunto, em literatura, em filosofia, em história, essas coisas. Sou professor universitário e pesquisador, então faço um trabalho dentro do mundo acadêmico, mas nunca quis ser um especialista. A forma do ensaio me dá liberdade para discutir questões literárias e filosóficas, propor comparações e recorrer a diferentes áreas do conhecimento.


Resenhando.com - Se Homero, Shakespeare e Guimarães Rosa entrassem em uma taberna imaginária, como profundo conhecedor dos três, o que eles discutiriam primeiro - política, poesia ou a tragédia de ser humano?
Pedro Süssekind - Homero, Shakespeare e Guimarães Rosa entram num bar. Talvez seja um bom começo de anedota para literatos... Aliás, Guimarães Rosa gostava muito de anedotas, como sabemos pelo prefácio de Tutaméia. Nesta, ele teria que fazer a tradução simultânea da conversa de um poeta cego da Grécia Arcaica (que não sabemos se existiu de verdade) com um dramaturgo elisabetano. Até porque ele é, dos três, quem leu e poderia reconhecer os outros dois. Mas essa conversa que você imaginou só poderia ser sobre poesia, eu acho. Porque a política, a tragédia e a comédia fazem parte da poesia. O encontro poderia ser no reino dos mortos, como aquele que Dante pôs em "A Divina Comédia". E talvez os três pudessem falar a mesma língua, uma língua original, anterior a todas as outras segundo o mito da Torre de Babel. Estou elaborando a cena porque não sou capaz de inventar uma tirada para encerrar a anedota... Mas um lado bom de autores serem considerados clássicos é que eles foram traduzidos para diversas línguas, por décadas (Rosa), séculos (Shakespeare) ou milênios (Homero), de modo que continuam a reverberar, a despertar interesse e a ter leitores em épocas, lugares e culturas diferentes. Isso me remete às ideias de Walter Benjamin sobre a tradução poética como tarefa que remete àquela língua original, adâmica, capaz de capturar a essência das coisas. Enfim, nem precisamos inventar uma conversa imaginária, já que o encontro entre os três autores existe, na verdade, por meio de suas obras. Como procurei mostrar nos meus ensaios, podemos ler essas obras e fazê-las dialogar.


.: "A Guerra dos Roses", que inspirou a comédia do cinema, volta às livrarias


Se você era fã de comédia nos anos 1980, é muito provável que conheça a história de um casal recém-divorciado que disputa a propriedade do casarão em que morava. Afinal, a icônica guerra entre Jonathan e Barbara Rose no clássico "A Guerra dos Roses", de Warren Adler, já encantou vários leitores e espectadores em 1989, com Kathleen Turner e Michael Douglas. Agora, o aguardado remake estrelado por Benedict Cumberbatch e Olivia Colman promete honrar as memórias dos fãs, além de propor uma releitura moderna da trama. 

A nova adaptação chega às telas do cinema em 28 de agosto, com direção de Jay Roach, responsável por "Austin Powers - Um Agente Nada Discreto", Trumbo e O Escândalo. Indisponível há anos, "A Guerra dos Roses", livro que inspirou os filmes, chega às livrarias pela Intrínseca em outubro, com tradução de André Czarnobai, e já está em pré-venda nas lojas on-line.

Casados há 18 anos, os Roses parecem levar a vida dos sonhos. Pais amorosos de dois adolescentes, Jonathan é um advogado bem-sucedido e Barbara, uma mulher que dedicou a vida à família. O casal mora num lindo casarão com os filhos e animais de estimação, uma valiosa coleção de antiguidades e ainda tem uma bela Ferrari. Mas uma inesperada disputa se inicia logo após Jonathan ter um repentino e suposto ataque cardíaco, que desperta em Bárbara profundas reflexões sobre seu casamento.

Ao perceber que não se importa mais com o marido e deseja uma vida livre dele, ela inicia os trâmites do divórcio. Só que há um desafio para a separação: decidir quem fica com a casa, que representa a paixão de uma vida inteira para ambos. A propriedade se transforma, então, numa completa zona de guerra, já que o casal se recusa a deixar o imóvel e tenta expulsar um ao outro, custe o que custar.

Compre "A Guerra dos Roses", de Warren Adler, aqui: amzn.to/47lwJcq


Sobre o autor
Warren Adler
foi um aclamado autor, dramaturgo e poeta norte-americano, conhecido principalmente por A guerra dos Roses, publicado pela primeira vez em 1981, livro que inspirou o icônico filme estrelado por Michael Douglas, Kathleen Turner e Danny DeVito. A produtora de Adler, Adler Entertainment Trust - administrada por seus filhos -, está adaptando sua extensa obra, que inclui cinquenta romances, inúmeras peças e centenas de contos, para a televisão, o cinema e o teatro. Em 2025, seu grande sucesso ganhou um remake, "Os Roses", com Olivia Colman e Benedict Cumberbatch. Adler faleceu aos 91 anos em 2019. Foto: David Adler.

As diferenças entre o clássico e a nova versão de “Os Roses”
Uma das principais diferenças entre as duas versões está no ponto de vista e na construção dos personagens. Enquanto o longa de 1989 abraçava o exagero e a caricatura para amplificar o absurdo da guerra conjugal, a nova adaptação aposta em um tom mais realista, ainda que temperado pelo humor ácido. 

A rivalidade entre os protagonistas surge menos da teatralidade e mais de pressões sociais contemporâneas, como a busca por sucesso profissional, a desigualdade de reconhecimento e o impacto da vida pública nas relações íntimas. Outro diferencial é que o roteiro de McNamara aprofunda a humanidade dos protagonistas, revelando momentos de fragilidade e conexão que tornam o embate ainda mais doloroso.

Uma curiosidade é que McNamara e Roach decidiram preservar a essência ácida e desconfortável que tornou o filme de 1989 inesquecível, mas substituíram os grandes gestos destrutivos por conflitos mais sutis, verbais e psicológicos, que espelham as formas modernas de desgaste conjugal. A estética também mudou: se o original usava uma casa luxuosa como palco para a guerra, aqui os ambientes refletem as conquistas profissionais e o estilo de vida atual, funcionando como extensão da disputa entre Theo e Ivy.

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As principais estreias da semana e os melhores filmes em cartaz podem ser assistidos na rede Cineflix CinemasPara acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SANO Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021.

.: Filme "A Marvada Carne" é relançado em circuito nacional nesta quinta-feira


"A Marvada Carne" - 40 anos depois, pelo olhar de André Klotzel e Cláudio Kahns, em versão remasterizada a partir de 28 de agosto em circuito nacional

Quarenta anos após emocionar e divertir plateias no Brasil e no exterior, a comédia "A Marvada Carne", de André Klotzel, volta aos cinemas em uma versão remasterizada que resgata o frescor visual, a sonoridade e a riqueza estética dessa fábula caipira que conquistou público e crítica. A partir desta quinta-feira, dia 28 de agosto, o longa será exibido em salas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Vitória, Florianópolis e Alagoas, permitindo que novas e antigas gerações vivam a experiência de assisti-lo na tela grande.

Para o diretor, o relançamento de "A Marvada Carne" não é apenas a celebração de um filme que se tornou clássico, mas também uma oportunidade para discutir a importância de preservar um tipo de produção que, segundo ele, está cada vez mais raro no Brasil: o cinema que nasce do produtor independente e dialoga com o grande público.

“Naquela época, havia um pouco mais de espaço para se fazer filmes originais, criativos e que ao mesmo tempo tinham a ambição de serem populares. Hoje, criou-se uma separação artificial entre o que é cinema cultural /autoral e o que é comercial. Todo cinema é as duas coisas. Mas infelizmente, vemos cada vez mais estímulo a filmes concebidos a partir da lógica do distribuidor, pensados para atender a um modelo de mercado já estabelecido, e poucas obras mais ousadas, com origem no realizador, que mirem também em um público amplo", comenta Klotz.

O diretor lembra que nos anos 1980, mesmo com problemas e desafios, havia uma estrutura que permitia mais alternativas: “A Embrafilme era a distribuidora do cinema brasileiro quase exclusiva, um modelo semelhante às grandes empresas americanas, que surgiram justamente da iniciativa de produtores para comercializar seus produtos. Isso acabou abruptamente no governo Collor, junto com o Concine”, diz.


A visão de Cláudio Kahns: memória, tecnologia e preservação da alma brasileira
O relançamento também concretiza um projeto acalentado por anos pelo produtor Cláudio Kahns, que sempre defendeu a necessidade de restaurar o filme com a melhor tecnologia disponível. “Tínhamos cópias em vídeo muito ruins, e a última matriz datava de 1999. Era absolutamente necessária esta refação. Graças ao apoio do Canal Brasil e de outros parceiros, conseguimos chegar a uma master muito boa. É a memória do país que está em jogo. Preservar 100, 200, 500 filmes é preservar a alma do Brasil”.

Para Kahns, a iniciativa não é apenas uma questão de qualidade técnica, mas de compromisso cultural. “Há muitos filmes excelentes feitos nas últimas décadas que precisam ser remasterizados. A Ancine deveria ter um programa específico para isso. É um tesouro que precisa ser preservado”. O produtor lembra que A Marvada Carne foi realizado com orçamento apertado, mas com uma somatória de talentos raramente reunida em uma mesma obra.

“O elenco é excepcional: o saudoso Adilson Barros, Fernanda Torres em seu primeiro papel premiado aos 19 anos, Regina Casé, Dionísio Azevedo, Lucélia Machiavelli, Geni Prado, a lendária dupla Tonico & Tinoco. A direção de arte de Adrian Cooper e a cenografia de Beto Mainieri, unidas à fotografia poética de Pedro Farkas, criaram um universo visual que continua belo e atual”.


Entre o mito e o real: a força atemporal da fábula caipira
"A Marvada Carne" conta a história de Nhô Quim, um homem que vive sozinho no mato e decide buscar dois grandes desejos: carne de boi e uma esposa que cuide dele. Carula, por sua vez, sonha com um marido e desafia “Santo Antoninho” a tornar o sonho realidade. Entre santos de olhar zombeteiro, diabos sedutores e figuras do folclore, o filme costura com humor e poesia as carências e desejos universais do ser humano.

Claudio Kanhs ressalta que a atemporalidade do filme está em sua capacidade de combinar ingenuidade e ironia. “O humor naif, o olhar afetuoso para o sertão e a inteligência do matuto continuam funcionando. É um humor que não se esgota porque fala de gente, de desejo, de identidade. E complementa: “Se você quiser ver o Brasil sob uma ótica caipira inteligente e lúdica, vai curtir tanto quanto o público de 40 anos atrás. É um filme que alimenta a alma e te faz sair do cinema mais leve e feliz”.


Bastidores e curiosidades
O papel de Carula foi inicialmente pensado para outra atriz conhecida, mas acabou com Fernanda Torres após indicação de Pedro Farkas. “A Fernanda já mostrava, aos 18 anos, a potência da atriz que se tornaria. E trazia também um espírito irreverente: às vezes, depois das filmagens em Juquitiba, pegava carona na BR-116 para voltar ao Rio. Era outro tempo”, recorda Kahns.

Outra história curiosa envolve a participação de Tonico & Tinoco, viabilizada pelo empresário Beto Carrero. Em troca, foi incluído no filme um discreto merchandising de um remédio da Vitasay, quase imperceptível, mas suficiente para custear a presença da dupla.

Legado e relevância para as novas gerações
Mais de um milhão de pessoas assistiram "A Marvada Carne" nos cinemas na época do lançamento, e o filme esteve por anos entre os VHS mais vendidos. No exterior, foi exibido em países como Canadá, Japão, Alemanha, França, Espanha, Portugal e Cuba, sendo lançado em Paris com o título Sacré Barbaque. Até hoje, versões piratas circulam na internet, algumas com mais de 500 mil downloads, prova da permanência do interesse.

Locais de exibição:

São Paulo
Belas Artes São Paulo
Cinesystem Belas Artes Frei Caneca
Cinesystem Pompeia
Cinesystem Morumbi

Rio de Janeiro
Cinesystem Belas Artes Botafogo
Cinesystem Américas

Florianópolis
Cinesystem Floripa

Brasília
Cinesystem BSB

Maceió
Cinesystem Maceió

Vitória
Cine Jardins Vitória


Ficha técnica
"A Marvada Carne" - Versão remasterizada
Direção: André Klotzel
Produção: Cláudio Kahns
Roteiro: André Klotzel e Carlos Alberto Soffredini
Fotografia: Pedro Farkas
Direção de arte: Adrian Cooper
Distribuição: Tatu Filmes
Coordenação de lançamento: Chrys Rochat e Cláudio Kahns
Elenco: Adilson Barros, Fernanda Torres, Regina Casé, Dionísio Azevedo, Lucélia Machiavelli, Geni Prado, Tonico & Tinoco

Prêmios
Festival de Gramado 1985
· Melhor Filme (júri oficial e júri popular)
· Melhor Direção – André Klotzel
· Melhor Atriz – Fernanda Torres
· Melhor Roteiro – André Klotzel e Carlos Alberto Soffredini
· Melhor Fotografia – Pedro Farkas
· Melhor Montagem – Alain Fresnot
· Melhor Cenografia – Adrian Cooper e Beto Mainieri
· Melhor Música – Rogério Duprat, Passoca e Hélio Ziskind
· Prêmio da Crítica – André Klotzel
· Menção Honrosa de Coadjuvante – Dionísio Azevedo
· Prêmio Kodak de Fotografia – Pedro Farkas
· Prêmio Vasp (Direção) – André Klotzel
· Prêmio Vasp (Atriz) – Fernanda Torres

.: Peças de Ariano Suassuna ganham leitura dramática no Sesc Bom Retiro


Figura central do Movimento Armorial, Ariano Suassuna dedicou-se a valorizar a cultura popular do Nordeste. Foto: Laura Rosenthal


"Um Natal Perfeito", "O Seguro", "O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna", "A Caseira e a Catarina" são quatro das peças curtas de Ariano Suassuna ganham leitura dramática nesta terça-feira, dia 26 de agosto, às 19h00, no Teatro do Sesc Bom Retiro. A programação é a quarta data do Ciclo 7 Leituras deste ano. Com direção de Marco Antônio Pâmio, o elenco conta com Agnes Zuliani, Ana Cecília Costa, Bete Dorgam, Fábio Espósito, Joaz Campos, Josemir Kowalick, Rafael Losso, Walter Breda.

 Desde 2024 as leituras acontecem no Teatro do Sesc Bom Retiro. Nesta edição, o 7 Leituras completa 19 anos de existência em ciclo todo dedicado à obra de Ariano Suassuna, apresentando alguns de seus textos mais populares. A concepção geral do projeto é da diretora Eugenia Thereza de Andrade. Ao longo desses anos, o projeto traz em seu histórico mais de 120 peças, dirigidas por 54 diretores, contando com a participação de 540 atores e atrizes, num projeto contínuo e longevo que já é tradição no calendário cultural da cidade.


Sobre o autor
Ariano Suassuna
(1927-2014) foi um profícuo dramaturgo, romancista e poeta brasileiro, nascido em João Pessoa, Paraíba. Figura central do Movimento Armorial, dedicou-se a valorizar a cultura popular do Nordeste. A obra mais aclamada do autor, "Auto da Compadecida" (1955), é uma peça teatral que mistura elementos da tradição popular, do barroco e da literatura de cordel, tornando-se um clássico do teatro brasileiro.

Além de "Auto da Compadecida", Suassuna escreveu outras peças importantes como "O Santo e a Porca" (1957) e "A Pena e a Lei" (1959). No campo da literatura, destacam-se os romances "A Pedra do Reino" (1971) e "O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta" (1971). Suas obras são marcadas pelo humor, pela crítica social e pela exaltação da cultura nordestina. Ariano Suassuna faleceu no Recife, Pernambuco, deixando um legado cultural imensurável para o Brasil.


Ficha técnica
Ciclo 7 Leituras - 19º Ano - Homenagem a Ariano Suassuna  
Concepção e direção geral: Eugênia Thereza de Andrade
Pesquisa e seleção de textos: Eugênia de Andrade e Marco Antônio Pâmio

“Entremeios” de Ariano Suassuna
Direção: Marco Antônio Pâmio
Elenco: Agner Zuliani, Ana Cecília Costa, Bete Dorgam, Fàbio Espósito, Joaz Campos, Josemir Kowalick, Rafael Losso, Walter Breda
Ambientação cenográfica e figurino: Equipe Jogo Estúdio
Iluminação: Luana Della Crist
Sonoplasta: Deivison Nunes
Fotos: Edson Kumasaka
Assistente de palco: Taci Glasberg
Produção: Messias Lima / Jogo Estúdio


Serviço

Projeto “7 Leituras – Homenagem a Ariano Suassuna – 19º Ano”  
Datas: 26 de agosto, 30 de setembro, 28 de outubro e 25 de novembro, terças, às 19h00.
Local: teatro (297 lugares). 12 anos.
Grátis, retirada de ingresso 1h antes.

Estacionamento do Sesc Bom Retiro (Vagas limitadas)
O estacionamento do Sesc oferece espaço para pessoas com necessidades especiais e bicicletário. A capacidade do estacionamento é limitada. Os valores são cobrados igualmente para carros e motos. Entrada: Alameda Cleveland, 529. Valores: R$8 a primeira hora e R$3 por hora adicional (Credencial Plena). R$17 a primeira hora e R$4 por hora adicional (Outros). Valores para o público de espetáculos: R$ 11 (Credencial Plena). R$ 21 (Outros). Horários: Terça a sexta: 9h às 20h. Sábado: 10h às 20h. Domingo: 10h às 18h. Importante: em dias de evento à noite no teatro, o estacionamento funciona até o término da apresentação.

Transporte gratuito
O Sesc Bom Retiro oferece transporte gratuito circular partindo da Estação da Luz. O embarque e desembarque ocorre na saída CPTM/José Paulino/Praça da Luz.
Consulte os horários disponíveis de acordo com a programação.
Fique atento se for utilizar aplicativos de transporte particular para vir ao Sesc Bom Retiro! É preciso escrever o endereço completo no destino, Alameda Nothmann, 185, caso contrário o aplicativo informará outra rota/destino.

.: “Leitura em Debate” acontece nesta quarta-feira, na Biblioteca Nacional


A literatura infantil e juvenil acaba de reconquistar um espaço importante: na próxima quarta-feira, 27 de agosto, a partir das 14h00, o projeto “Leitura em Debate” será retomado pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) - vinculada ao Ministério da Cultura (MinC). A série de encontros mensais promove o debate sobre a formação de novos leitores e a literatura infantil e juvenil em seus diversos aspectos.

Os eventos acontecem no Auditório Machado de Assis, na sede da Biblioteca Nacional, no Centro do Rio. A entrada é gratuita e há transmissão ao vivo pelo YouTube (@fundacaobibliotecanacional). Mediada pela escritora Anna Claudia Ramos, a mesa do dia 27 trará o tema “Qual a relação entre os autores, os mediadores de leitura e os leitores?”. Os convidados serão o escritor angolano Jose Eduardo Jagualusa (de forma remota) e a pesquisadora, professora e ensaísta Eliana Yunes.


Sobre os debatedores
Eliana Yunes é graduada em Filosofia, mestre em Letras, doutora em Linguística e Literatura, escritora e professora. Tem experiência na área de educação, políticas públicas, administração cultural e teologia, atuando principalmente na linha de formação de leitores em perspectiva interdisciplinar. Atuou como orientadora na UFRJ, na UERJ, na PUC-Rio (1975/2017); foi organizadora do Proler/Fundação Biblioteca Nacional; co-criadora da Cátedra Unesco de Leitura no Brasil e da RELER - Rede de Estudos avançados em Leitura. Dirigiu o Instituto Interdisciplinar de Leitura da PUC-Rio e participou como conselheira da Política Nacional de Leitura.

O escritor, jornalista e editor José Eduardo Agualusa nasceu em 1960, em Huambo - na então África Ocidental Portuguesa. Desde seu livro de estreia, o romance “A conjura” (1989), já lançou mais de 30 obras, entre romances, contos e novelas. Ao longo de sua carreira, já recebeu diversos prêmios, como o Grande Prêmio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens (2002), com o livro “Estranhões e Bizarrocos”. Em 2006 lançou, juntamente com Conceição Lopes e Fátima Otero, a editora brasileira Língua Geral, dedicada apenas a autores de língua portuguesa.


Sobre o programa “Leitura em Debate”
Realizado anteriormente por quatro anos consecutivos (2008/2011), o programa trouxe diversos convidados do Brasil e do exterior para debater temas ligados à literatura e à mediação de leitura, além de ter realizado algumas edições em Feiras do Livro. Ao longo desses anos, escritores, ilustradores, professores, editores, contadores de histórias, teóricos, psicólogos infantis e produtores culturais, com seus diversos olhares, colaboraram na busca por uma literatura de qualidade para crianças e jovens e pela formação de novos leitores. 

Em 2015, os encontros mensais converteram-se no livro “Leitura em debate: a literatura infantil e juvenil na Biblioteca Nacional”. O programa tem como público-alvo mediadores de leitura, educadores de um modo geral, bibliotecários, escritores, ilustradores e interessados no universo da literatura.


Serviço: Leitura em Debate “Qual a Relação entre os Autores, os Mediadores de Leitura e os Leitores?”
Quinta-feira, dia 27 de agostp.
Horário: 14h00 às 16h30.
Local: Auditório Machado de Assis.
Endereço: Rua México, s/n.º (entrada pelo jardim).
Transmissão ao vivo: https://www.youtube.com/watch?v=uXXxG80PrVg
*Evento gratuito

.: Cineflix abre pré-venda de "Invocação do Mal 4: o Último Ritual"


Com estreia marcada para o dia 4 de setembro, longa-metragem da Warner Bros. Pictures acompanha o caso mais perturbador da carreira de Ed e Lorraine Warren

Os fãs de terror já podem garantir seu lugar para testemunhar a conclusão de uma das franquias mais icônicas de terror nos cinemas. A rede Cineflix iniciou a pré-venda de ingressos para "Invocação do Mal 4: o Último Ritual". O aguardado longa estreia nos cinemas em 4 de setembro, encerrando de forma arrepiante a trajetória dos renomados investigadores paranormais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga).  

Inspirado em eventos reais, "Invocação do Mal 4: o Último Ritual" acompanha o caso mais perturbador e enigmático da carreira do casal, em um desfecho que promete trazer grandes sustos e mexer até com os espectadores mais corajosos. 


Sobre o filme
A New Line Cinema apresenta o nono filme do universo cinematográfico Invocação do Mal, que já arrecadou mais de 2 bilhões de dólares nos cinemas, Invocação do Mal 4: O Último Ritual, dirigido pelo veterano cineasta da franquia, Michael Chaves, e produzido pelos arquitetos do universo Invocação do Mal, James Wan e Peter Safran. 

"Invocação do Mal 4: o Último Ritual" é o mais novo eletrizante capítulo do icônico universo cinematográfico Invocação do Mal, baseado em eventos reais. Vera Farmiga e Patrick Wilson se reencontram, para trabalhar em um último caso, como os renomados investigadores paranormais da vida real Ed e Lorraine Warren, uma considerável e arrepiante adição à franquia sucesso mundial de bilheteria. 

Vera Farmiga e Patrick Wilson estrelam ao lado de Mia Tomlinson e Ben Hardy, nos papéis de Judy Warren, filha de Ed e Lorraine, e seu namorado Tony Spera. O elenco também conta com Steve Coulter, que retorna como Padre Gordon, além de Rebecca Calder, Elliot Cowan, Kíla Lord Cassidy, Beau Gadsdon, John Brotherton e Shannon Kook. 

Michael Chaves dirige "Invocação do Mal 4: o Último Ritual" a partir do roteiro de Ian Goldberg & Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick, com argumento de David Leslie Johnson-McGoldrick & James Wan, baseado nos personagens criados por Chad Hayes & Carey W. Hayes. Os produtores executivos são Michael Clear, Judson Scott, Natalia Safran, John Rickard, Hans Ritter e David Leslie Johnson-McGoldrick. 

Na equipe criativa atrás das câmeras, Chaves conta com o diretor de fotografia Eli Born; o designer de produção John Frankish; os editores Elliot Greenberg e Gregory Plotkin; o supervisor de efeitos visuais Scott Edelstein; o produtor de efeitos visuais Eric Bruneau; o figurinista Graham Churchyard; Rose Wicksteed e Sophie Kingston-Smith, responsáveis pelo elenco; e o supervisor musical Ian Broucek. A trilha sonora foi composta por Benjamin Wallfisch. 

A New Line Cinema apresenta uma produção da Safran Company/Atomic Monster, "Invocação do Mal 4: o Último Ritual", que será lançado e distribuído mundialmente pela Warner Bros. Pictures nos cinemas e salas IMAX de todo mundo.


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sábado, 23 de agosto de 2025

.: Crítica: “Memórias do Vinho”: duelo de talentos transforma palco em brinde


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: Roberto Setton

Em cartaz até dia 28 de setembro no Teatro Renaissance, o espetáculo “Memórias do Vinho” reúne diversas discussões em uma mesma taça. Com texto inédito de Jandira Martini - escrito em parceria com Maurício Guilherme e finalizado pouco antes da partida dela em 2024 - e direção precisa e sensível de Elias Andreato, a peça segue com as últimas apresentações com Herson Capri e Caio Blat em um verdadeiro duelo de talentos.

O enredo parece simples: pai e filho, distantes há anos, em um reencontro por necessidade. No entanto, a adega do patriarca, repleta de garrafas raras e um diário secreto de vinhos, abre espaço para revelações, mágoas não-verbalizadas e lembranças engarrafadas pelo tempo. No espetáculo, o vinho não é apenas bebida, mas metáfora da memória, do envelhecimento e do que se guarda, às vezes com zelo, às vezes por egoísmo. É justamente nessa simbologia que o espetáculo cresce.

A narrativa, que poderia descambar para o ressentimento, é transformada em uma crônica delicada sobre a passagem do tempo, a carência afetiva e a mágica de celebrar a vida em família, mesmo quando nunca se fala o que se tem a dizer. Herson Capri imprime a maturidade de quem coleciona experiências como quem coleciona rótulos raros; Blat, por sua vez, entrega a intensidade da juventude frustrada, mas ainda capaz de sonhar. O jogo de cena é bonito de se ver: não há vaidade, há partilha. Os dois passam a bola, provocam-se e se escutam - como se o palco fosse também uma mesa de jantar em que o brinde só faz sentido se for coletivo.

Elias Andreato conduz com a sobriedade de quem sabe que menos é mais. O cenário de Rebeca Oliveira é elegante sem exageros, deixando que os atores e o texto sejam a principal safra da noite. A iluminação de Cleber Eli contribui para a atmosfera intimista, quase etílica, em que o público se vê cúmplice daquele acerto de contas. “Memórias do Vinho” é um espetáculo agradável como um bom gole: provoca sorrisos, aquece a alma e convida à reflexão. Mais do que a história de um pai e um filho, é um brinde ao que fica - o amor, os gestos, os vínculos. No final, a peça deixa no ar uma pergunta saborosa: o que guardamos em nossas próprias adegas de lembranças? Nesse caso, cabe levantar a taça e brindar: à vida, ao vinho e ao teatro.

Ficha técnica
Espetáculo "Memórias do Vinho"
Autores: Jandira Martini e Maurício Guilherme
Direção: Elias Andreato
Assistente de direção: Rodrigo Frampton
Cenário: Rebeca Oliveira
Contrarregra: Tico (Agilson dos Santos)
Figurino: Mari Chileni
Camareira: Gisele Pereira
Iluminação: Cleber Eli
Operação de luz: Ian Bessa
Operação de som: Eder Soares
Trilha: Elias Andreato
Fotos: Nana Moraes
Design e identidade visual: Rodolfo Rezende / Estúdio Tostex
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção Executiva: Elisangela Monteiro
Direção de produção: Fernando Cardoso e Roberto Monteiro
Realização: Mesa2 Produções


Serviço
Espetáculo "Memórias do Vinho", de Jandira Martini e Maurício Guilherme
Temporada: de 5 a 27 de julho - sábados, às 21h00, e domingos, às 19h00
Teatro Renaissance - Alameda Santos, 2233 - Jardim Paulista / São Paulo
Ingressos: R$ 150,00 (inteira), R$ 75,00 (meia-entrada)
Lotação: 432 lugares
Venda on-line pelo Sampa Ingressos: www.sampaingressos.com.br
Bilheteria (sem taxa de conveniência): aberta 2 horas antes das sessões.
Classificação: 12 anos
Duração: 70 minutos
Capacidade: 432 lugares
Acessibilidade: Teatro é acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
Bilheteria (sem taxa de conveniência): aberta de sexta a domingo a partir das 14h até o início do espetáculo.
Acessibilidade: o teatro comporta 432 pessoas, sendo 412 poltronas numeradas e oito espaços para cadeirantes. Dentre os 412 lugares fixos, há oito poltronas “Assentos Obeso” e outras oito poltronas para deficientes visuais com espaço reservado para o cão guia.
* O comprovante de meia-entrada deverá ser apresentado na entrada do espetáculo.

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