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domingo, 21 de julho de 2024

.: Entrevista com Adriano Dolph, autor do livro "Fevereiro em Chamas"


"Durante anos uma lenda urbana foi divulgada até por veículos jornalísticos, de que teriam sido encontradas em um elevador, e que os corpos estavam carbonizados. Isso nunca ocorreu", comenta Adriano Dolph em entrevista exclusiva para o portal Resenhando.com.

Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. 

O livro “Fevereiro em Chamas” (compre neste link), do jornalista Adriano Dolph, é dramático e revelador, O autor percorre um longo caminho relembrando as três tragédias que abalaram o Brasil no mês de fevereiro: edifícios Joelma, Grande Avenida e Andraus. Com uma abordagem humana, sensível e jornalística, mostra a dor de familiares; ecos, cicatrizes e consequências dos incêndios. A partir daí, ele conta histórias de força e persistência. Dolph conduziu uma grande investigação sobre o tema, percorrendo arquivos de fóruns, jornais, corporações e até da ditadura militar.

Devido à abordagem documental, a obra literária ganhou uma segunda fase, agora em formato de audiovisual em um canal na internet. O documentário apresentado em série traz uma abordagem ampla e que abre espaço para novos registros, agora em audiovisual vídeos inéditos. “Fevereiro em Chamas” também está disponível no YouTube  (@fevereiroemchamas) e também no Spotify - Edifício Joelma - 50 anos em busca da verdade.

Nascido em 1975 em São Paulo, Adriano Dolph, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, com Pós-Graduação em Comunicação. A Iniciou em 2004 uma série de pesquisas e entrevistas para o livro “Fevereiro em Chamas”, contribuindo também para um trabalho acadêmico sobre narrativas midiáticas e opinião pública na cobertura dos incêndios do Edifício Joelma e da Boate Kiss. Atualmente, atua como comentarista esportivo na plataforma Brasileirão Play, além de ser apresentador, criador de conteúdo digital e mestre de cerimônias.


Resenhando.com - O que motivou você a escrever o livro "Fevereiro em Chamas"?
Adriano Dolph - Este assunto dos grandes incêndios na cidade de São Paulo sempre me chamou a atenção. Ainda jovem, buscava referências e textos, informações específicas sobre o tema, e era muito difícil encontrar reportagens apuradas e checadas. Como exemplo, cito a questão das 13 vítimas não identificadas que foram sepultadas no cemitério São Pedro. Ou então a questão dos réus que foram julgados. Resolvi arregaçar as mangas e correr atrás das informações. Foram 15 anos de trabalho checando mais de 10 mil páginas de documentos, fotos e arquivos.

Resenhando.com - Em que as tragédias do Edifício Joelma, Grande Avenida e Andraus - e também a tragédia da Boate Kiss, podem dizer a respeito da segurança contra incêndios e nas políticas públicas do Brasil?
Adriano Dolph - 
Importante salientar que nos incêndios do Andraus e Joelma, ainda estava em vigência um Código de Obras datada da década de 1930, ou seja, muito obsolete e que não atendia as demandas do crescimento vertical de uma cidade como São Paulo. Em 1972, por exemplo, não existiam noções de brigada de incêndio e primeiro combate ao fogo nas edificações, o que era um total absurdo para um prédio como o Andraus, com mais de 25 andares. Em 1981 ocorreu o segundo incêndio no Edifício Grande Avenida, onde foram constatadas diversas irregularidades nas obras de reconstrução após o primeiro incêndio, em 1969. Dezessete pessoas perderam a vida em decorrência, justamente, da falta de uma escadas com isolamento para o fogo. Mesmo neste século presenciamos diversas tragédias do relacionadas ao fogo, como na Boate Kiss. Todas tem como coincidência alguns pontos: o desleixo das autoridades ao fiscalizar edificações, ao exigir o cumprimento das regras e da lei. E a imperícia de funcionários ou responsáveis.

Resenhando.com - Essas tragédias poderiam ser evitadas - ou você acredita no poder imutável do destino?
Adriano Dolph - 
Em termos técnicos, de fiscalização e prevenção, com toda certeza. Infelizmente o Poder Público falhou, e obviamente, os responsáveis pelos edifícios, ao designar pessoas inabilitadas para desempenhar funções que exigiam conhecimento prévio.


Resenhando.com - Qual das tragédias pesquisadas por você o impactou mais?
Adriano Dolph - Todas tiveram um impacto muito forte, pois em todos os incêndios ocorreram histórias de dor e sofrimento. Mas é inegável que o incêndio do Edifício Joelma ocorre um impacto maior, especialmente pelo número de perdas elevado, e pela dimensão das imagens, fotos e videos.

 
O que podemos aprender a respeito sobre essas tragédias nacionais e o que fazer para evitá-las?
Adriano Dolph - 
Onde há prevenção, treinamento, e fiscalização, as chances de ocorrerem um grande incêndio diminuem consideravelmente. Seja o Poder Público, seja os responsáveis pelas edificações, fica a lição de que o desleixo pelas normas e regras pôde significar em uma grande tragédia.

 
Realizar as pesquisas para três tragédias arrebatadoras demanda tempo. Quando percebeu que era a hora de parar de pesquisar para começar a escrever o livro?
Adriano Dolph - O livro foi escrito e publicado, mas ainda há outras histórias sendo apuradas e checadas para uma futura edição revisada, ou um novo livro sobre o edifício Joelma. No caso de "Fevereiro em Chamas", o timing foi o marco dos 50 anos do incêndio do edifício Andraus. Costumo falar que o jornalista nunca deve parar de pesquisar e apurar. Essa é a função da profissão.

 
Na investigação sobre o tema, você percorreu arquivos de fóruns, jornais, corporações e até da Ditadura Militar. Como a ditadura militar pôde ajudar a contar essa história?
Adriano Dolph - 
Os três incêndios ocorreram em um período de perseguição a opositores, onde foram cassados direitos políticos, e havia restrição do que poderia ser ou não publicado. E obviamente tive muita atenção desse contexto em relação aos eventos. Na produção do livro descobri documentos sigilosos de que todos os incêndios chegaram a ser investigados como atentados subversivos, sem que nada tenha sido provado. Pessoas foram conduzidas a delegacias e órgãos repressores para depoimentos. Mas ainda há muito a ser desvendado especialmente no incêndio do edifício Joelma.

 
Há alguma informação que encontrou, durante as pesquisas, que o surpreendeu?
Adriano Dolph - 
A informação mais importante foi em relação aos 13 corpos não identificados que foram enterrados em Vila Alpina. Durante anos uma lenda urbana foi divulgada até por veículos jornalísticos, de que teriam sido encontradas em um elevador, e que os corpos estavam carbonizados. Isso nunca ocorreu. Através de uma intensa apuração e pesquisa, descobrir que estas pessoas faleceram em circunstâncias, dias e locais absolutamente diferentes. Jamais foram encontradas em tal elevador. E no livro apresento todos estes dados, com dez possíveis nomes destas pessoas.

 
Você lidou com um tema muito pesado. Logo, essas pesquisas mexeram emocionalmente com você? 
Adriano Dolph - É impossível em todo o processo não se emocionar. Obviamente, trabalhando na apuração, checagem, entrevistando, escrevendo, procurei sempre me distanciar para ser o mais neutro e imparcial possível. Mas em diversos momentos me emocionei. A dor de quem passou por uma tragédia destas é gigantesca. E todo contexto de arquivos, fotos e relatos é muito doloroso.

 
O que a série documental derivada de "Fevereiro em Chamas" complementa o livro, e o que há no livro que não tem na série?
Adriano Dolph - A série contextualiza o livro. Traz imagens inéditas que foram garimpadas nas redes sociais e na internet. E está sempre em apuração e checagem de novas informações. Por isso, considero que seja a primeira websserie de cunho jornalístico, com apuração e checagem, sem o ranço do sensacionalismo e das lendas urbanas.



.: Karine Asth conta detalhes sobre a escrita de "Dentro do Nosso Silêncio"


"S
into que o romance não existe sem a complexidade do ser humano", afirma escritora Karine Ash sobre "Dentro do Nosso Silêncio". Romance publicado pela editora Bestiário mergulha nas emoções intensas de um casal em busca da maternidade e da superação do trauma. Foto: Lucas Soares

No emaranhado de desafios e expectativas que envolvem o caminho para a maternidade, o livro "Dentro do Nosso Silêncio" (compre o livro neste link), lançado pela editora Bestiário, emerge como uma obra marcante, conduzida pela sensibilidade da escritora Karine Asth. Vencedor do Prêmio Jabuti de 2023 na categoria Romance de Entretenimento, o seu primeiro livro narra, através da história de Ana e Samuel, os pormenores emocionais daqueles que se autodenominam tentantes, pessoas que estão em busca do sonho da maternidade. 

"Dentro do Nosso Silêncio" lança luz sobre a dolorosa jornada enfrentada por casais que anseiam pela chegada de um filho, explorando cada reviravolta do processo com uma sinceridade tocante. Desde o primeiro teste negativo até as técnicas mais avançadas para a concepção, os leitores são levados a uma montanha-russa de emoções, onde cada página revela uma nova camada da experiência humana. Nesta entrevista, Karine Asth nos conduz pelos bastidores de sua obra, compartilhando seu processo criativo e o impacto da escrita em sua vida. 


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
Karine Asth - Os principais temas são o processo de tentar engravidar, o sonho da maternidade, a falta de controle sobre algumas escolhas, a frustração e os recomeços.


O que te motivou a escrever o livro?
Karine Asth - Eu havia passado recentemente pelo processo de tentante. Quando decidi escrever um livro, esse tema ainda estava muito forte na minha vida. Eu precisava falar sobre isso. O processo se deu por meio da escrita e reescrita. Sempre lapidando o texto. Em determinado momento, entendi que muitas vezes menos é mais e, por isso, exclui alguns capítulos inteiros. Por entender, que deixaria a minha narrativa mais forte. Criei uma rotina, e através dela procurei manter a disciplina e o foco, o que me ajudou muito. O processo de escrever o livro durou em torno de dois anos. Depois passei seis meses revisando meu texto. Só então o submeti à leitura crítica e revisão. 


Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?
Karine Asth - Acho que o livro pode impactar de duas formas diferentes. Àqueles que nunca tiveram dificuldade para engravidar, gera uma reflexão sobre o quanto é errado e inconveniente a pressão da sociedade sobre os casais para que tenham filhos. Sem respeitar o tempo ou a vontade mesmo do casal. E àqueles que passaram por esse processo, gera uma identificação com a história. 


Por que escolher o gênero adotado? 
Karine Asth - Porque meu desejo era ser escritora de romances ou novelas. Escrevo contos também, mas o que mais me motiva são as histórias longas, cheias de complexidade. Não que o conto não possa ser complexo, mas sinto que o romance não existe sem a complexidade do ser humano. 


O que esse livro representa para você? Você acredita que a escrita do livro te transformou de alguma forma? 
Karine Asth - Esse livro representa a maior decisão na minha vida, que foi me dedicar à escrita e poder dizer que eu sou uma escritora. Não porque ganhei o prêmio ou porque tenho um livro publicado, mas porque foi a partir dele que tudo começou pra mim. Com certeza esse livro me transformou de alguma forma sim. Passei a me sentir mais completa e mais feliz com o que faço. 


Quais são as suas principais influências artísticas e literárias? Quais influenciaram diretamente a obra?
Karine Asth - Tenho grande admiração pela escrita da Carol Bensimon e a do Ian McEwan. Pelo tema que escolhi, não tive influência de nenhuma outra obra. Mas pela escrita em si, volta e meia eu recorria ao livro de ambos para reler algum trecho que se assemelhava com o que eu gostaria de fazer.


Como você definiria seu estilo de escrita? Que tipo de estrutura você adotou ao escrever a obra?
Karine Asth - Acho que meu estilo é de uma escrita mais simples e direta. A estrutura do livro foi através de capítulos alternados entre presente e passado com a narração essencialmente da Ana. Em dois ou três capítulos, dei voz ao Samuel. 


Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Karine Asth - Desde os meus 11 anos, eu costumava escrever cartas. Poucos anos depois, comecei a escrever em diários. A escrita de contos e do romance veio só há poucos anos, quando entrei pela primeira vez numa oficina de escrita com Raimundo Carrero. 


Você tem algum ritual de preparação para a escrita? 
Karine Asth - Posso dizer que meu único ritual é ouvir música enquanto escrevo. Geralmente escuto instrumental. Comecei a ouvir Ludovico Einaudi e ele passou a ser essencialmente minha playlist. Não costumo colocar metas. Posso escrever dois parágrafos ou um capítulo inteiro.


Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Karine Asth - O projeto do meu segundo romance está pronto. Na verdade, estava definindo ainda alguns detalhes em torno de personagens e história. E agora pretendo me dedicar essencialmente a este projeto.

.: Giuliano Andreoli pela fantasia latino-americana: autor desconstrói narrativa


"Se J.R.R. Tolkien tivesse sido brasileiro, “O Senhor dos Anéis” não contaria com os elementos presentes no livro", afirma Giuliano Andreoli. Escritor de "Crônicas de Ruamu: O Destino de Eneim", Giuliano Andreoli debate sobre temas comuns à população da América do Sul, como escravidão, colonização e ditaduras. Foto: divulgação / Fabio Zambom


Talvez você esteja acostumado a livros de alta fantasia com reinos longínquos e brigas pelo trono porque, de fato, são temas importantes para a população europeia. Mas o que Giuliano Andreoli propõe em "Crônicas de Ruamu: o Destino de Eneim" (compre neste link) é a aproximação dos leitores latino-americanos de seus próprios contextos de vida. Na obra, não existem conflitos para definir quem vai ter a coroa, mas questões como escravidão, colonização, racismo, tensões políticas e ditaduras, - tudo isso em um continente multirracial -, são alguns dos assuntos abordados pelo autor entre as páginas do livro.

Para o escritor e professor universitário, o processo de colonização internalizou a ideia de que o hemisfério Sul, mais especificamente a América e a África, era lar de povos sem cultura antes da chegada dos europeus. “Eu creio que isso tem a ver com o fato de muitas vezes não olharmos para o nosso passado, a nossa mitologia e a nossa cultura como uma fonte também fértil para criarmos histórias de ficção”, explica o autor. 

Giuliano Andreoli é professor universitário, mestre em Educação e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Pedagogias do Corpo, tem uma formação multiartística nas áreas da dança, teatro, circo e artes marciais. É também pesquisador dessas artes em intersecção com a Educação, e possui diversas publicações de artigos em periódicos científicos na área dos estudos socioculturais.

Na literatura assina o livro “Dança, Gênero e Sexualidade: narrativas e Performances” (2019), pela editora Apris. Na área de ficção, publicou os contos “Os Espíritos do Deserto”, na Antologia “Guardião das Areias” (2023), e “Wendigo”, na Antologia “Sangue e Prata” (2024), ambos pela editora Medusa. Publicou ainda “Horror Noturno”, na Antologia “Chamado das Sombras” (2024), pela editora Dark Books. Nesta entrevista, confira mais reflexões sobre a importância da descentralização de narrativas e da busca por uma identidade latino-americana na literatura.


“Crônicas de Ruamu: O Destino de Eneim” constrói uma fantasia com elementos das mitologias de culturas latino-americanas. Que mitos você abordou com mais profundidade na obra?
Giuliano Andreoli - 
A história não é diretamente sobre os povos indígenas, mas sobre um continente multirracial (como o Brasil), com alguns povos de origem estrangeira e outros nativos, alguns vivendo em grandes cidades e outros em contato com a natureza. Mas a cultura indígena, sobretudo a tupi-guarani, foi a referência para alguns desses povos, com os quais os povos que vivem nas grandes cidades têm que lidar. Assim, primeiramente, o leitor perceberá referências aos mitos das cidades perdidas da Amazônia, que foram uma invenção dos colonizadores espanhóis e portugueses, vistas como fontes de grandes tesouros, mas que, nesta obra, são nações tecnologicamente avançadas que existiram no passado. Primeiramente, os nomes de algumas nações (Eneim, Manoa, Paititi, etc) foram inspirados nos nomes dados ao Eldorado, que eram nomes que os colonizadores tomaram de certas nações indígenas reais. Em segundo, a mitologia indígena aparece na figura dos Kurupis (derivado de Curupira), dos Quinametzins e dos Tupãs, que, na obra, são raças não-humanas, de grande sabedoria e poder, já dadas como extintas, mas cujos remanescentes ainda vivem nas florestas e nas matas.


Para você, qual a importância de aproximar a literatura fantástica dos aspectos culturais da América Meridional? Por que descentralizar essas narrativas eurocêntricas?
Giuliano Andreoli - 
A alta fantasia produzida por autores anglo-saxões bebe das fontes históricas e mitológicas de seus países. E nós, latino-americanos, consumimos muito esse tipo de histórias. Assim, temos o nosso imaginário povoado por elementos mitológicos ou históricos da Europa, mas muito pouco nas nossas próprias culturas e mitos.


Por que descentralizar essas narrativas eurocêntricas?
Giuliano Andreoli - 
Apesar de já haver algumas obras que fogem a essa regra, no geral, na América Latina, a alta fantasia me parece ainda muito referenciada nos autores canônicos europeus. Porém, isso não faz sentido, se pararmos para pensar bem, pois a função básica da fantasia é dar asas à imaginação. Então, por que ficar presa a um modelo? Eu creio que se J.R.R. Tolkien tivesse sido brasileiro, “O Senhor dos Anéis” não contaria com os elementos presentes no livro. Ele desenhou o seu universo dessa forma por ser europeu. Mas continuamos muito presos ao modelo de universo construído por ele. Uma questão que eu acho que influencia nisso é que a colonização impregnou em todos nós a falsa ideia de que, aqui no hemisfério sul (América e África), nós tivemos povos sem cultura e sem história, e que a história da Europa constituía a grande história universal da humanidade. Eu creio que isso tem a ver com o fato de muitas vezes não olharmos para o nosso passado, a nossa mitologia e a nossa cultura como uma fonte também fértil para criarmos histórias de ficção. Daí os Elfos, os Dragões, os Orcs e outros mitos europeus nos parecem sempre mais atrativos. Mas, através da ficção, eu acredito que é possível termos outro tipo de relação com o rico fundo cultural e mitológico latino-americano.


O que os leitores podem entender e aprender ao se aprofundarem nessas histórias que são mais próximas dos contextos em que vivem?
Giuliano Andreoli - 
Histórias de alta fantasia visam o lazer através do escape momentâneo da realidade concreta. Mas elas também representam em suas narrativas questões profundas sobre a vida, a natureza humana, a honra, a guerra etc. E a maneira como isso é feito, na narrativa, pode refletir aspectos do mundo social onde o autor e os leitores vivem. Por exemplo, na alta fantasia anglo-saxã um tema recorrente são as disputas entre linhagens de reis pelo direito ao trono. E isso acontece porque tem a ver com a história nacional dos países europeus. No Brasil, nós não temos uma história política ligada a isso, nem sequer a monarquia tem o mesmo peso para nós. No caso da minha história, eu abordo o tema da colonização, em sua articulação com o racismo, que me parece muito mais relacionado aos conflitos e tensões que constituíram alguns problemas da nossa sociedade atual. Outros temas que abordo são os conflitos políticos e a relação entre os povos que vivem nas cidades e os povos nômades (que são como os nossos indígenas) de Ruamu. E há também a questão da violência contra a mulher, que aparece no arco de uma das personagens secundárias. Essa personagem vive em uma nação que é representada com valores culturais mais retrógrados, e esse problema acaba aparecendo em sua vida. Esses são exemplos de temas bem próximos do contexto em que vivemos. Eles geram alguns dos conflitos que movimentam a trama. E os leitores podem refletir e aprender com os ensinamentos trazidos pelo destino a cada um dos personagens quando eles confrontam esses problemas.


Você utiliza o enredo para tratar sobre temas como violência, racismo e dogmatismo religioso. Como esses assuntos tão atuais podem ser encontrados entre as páginas?
Giuliano Andreoli - 
Nessa obra, eu procuro retomar algo que já foi feito por autores como Robert Howard ("Conan”) e J.R. Tolkien (“O Senhor dos Anéis”): criar mundos fictícios com grandiosas civilizações que existiram no passado longínquo. Assim, na minha obra, a América do Sul está povoada por imensas nações, com cidades e templos grandiosos, como em qualquer uma dessas obras de alta fantasia. E só isso já é importante para desfazer um imaginário que por muito tempo se fixou em nossas mentes: a ideia de que apenas o hemisfério norte teve a capacidade de desenvolver grandes civilizações. Na tradição dos mitos das civilizações perdidas, por exemplo, sempre foi muito comum elas serem representadas apenas como povos de raça branca. Isso aparece na literatura mundial nas histórias sobre Atlântida e outras. A minha história brinca um pouco com a subversão de tudo isso. A exemplo do nome da nação opressora estrangeira, Schwertha, retirada da obra Crônicas de Akakor, que compõe parte desse imaginário colonial que divulgou a ideia de povos de raça branca construindo civilizações avançadas no passado da América do Sul. Na história desse livro, Schwertha está ligada aos invasores do continente de Ruamu que pregam uma doutrina de superioridade racial – em referência ao nazismo. E eles procuram justamente tentar desacreditar que os povos ancestrais de Ruamu produziam tecnologias muito avançadas. O dogmatismo religioso, por outro lado, está ligado a outro eixo da história, que é uma instituição religiosa chamada susejismo, um dos ramos de uma religião milenar que existe no continente de Ruamu. Há muitos pontos de vista divergentes sobre a doutrina. E há debates entre os personagens susejistas mais fanáticos e os susejistas que seguem orientações mais progressistas ou pacifistas. Esses dois eixos constituem, por assim dizer, os principais antagonismos aos personagens centrais da trama e é o que gera os posicionamentos dos heróis e vilões.


Como as trajetórias dos personagens Lagnicté e Narsciti conseguem se aproximar dos contextos de vida dos leitores? O que é possível apreender da história deles?
Giuliano Andreoli - 
Cada personagem tem um arco que traz algum drama. A personagem central, Lagnicté, é uma figura política envolta no dilema de iniciar ou não iniciar uma guerra para tentar libertar o seu país. Dael é um dos melhores guerreiros do seu tempo, mas deseja viver uma vida de paz. Ambos vivem o dilema de terem que cumprir com aquilo que é colocado para eles como um dever, sem que eles tenham pedido ou desejado por essa demanda. Narsciti, por outro lado, é um personagem cujo arco está relacionado ao desejo por vingança. A morte de seus pais, na sua infância, justamente por aqueles contra quem ele agora luta, faz com que ele tenha que lidar com os limites entre a justiça e a vingança. Há personagens que são dotados de grandes poderes e precisam aprender a controlá-los. E há aqueles que são pessoas comuns, mas estão envoltas também em demandas de luta por justiça. Há uma reflexão permanente sobre o tema do poder, sobre como ser mais poderoso não torna alguém necessariamente melhor ou superior. Também há uma reflexão permanente sobre a guerra, de um ponto de vista humanístico.


Como foi o processo de pesquisa para a construção deste universo?
Giuliano Andreoli - 
A construção do universo contou com um amplo processo de pesquisa que envolveu a pesquisa sobre o contexto da pré-história sul-americana e dos mitos da América do Sul colonial. Contou também com a leitura de algumas fontes usualmente utilizadas por obras de ficção, como a teosofia de Helena Blavatsky, o mito tibetano de Agartha, o livro “O Continente de Mu”, de James Churchward, e “Crônicas da Akakor”, de Karl Bruguer, para criar o contexto cultural dos antagonistas. A religiosidade indígena (tupi-guarani), além de nomes indígenas e nomes de deuses compôs o universo dos povos nômades e das principais nações.Já para inspirar as reflexões espirituais e os debates políticos e religiosos entre os personagens, inspirei-me em autores como Gibran Khalil Gibran, Mikhail Naimy, Frantz Fanon, Friedrich Nietzsche e Piotr Kropotkin, além de referências ao cristianismo, budismo e taoísmo. Alguns acontecimentos verídicos serviram de inspiração para alguns acontecimentos do enredo: o incêndio da biblioteca de Alexandria, a perseguição aos heréticos cristãos, os Cavaleiros Templários e a Franco-Maçonaria, as revoluções camponesas na Alemanha, o nazismo e o surgimento da extrema-direita no Brasil. Para criar uma das personagens, eu me referenciei em Malala Yousafzai. Há, na obra, também uma referência a “Macunaíma”, de Oswald de Andrad e a “Crônicas de Atlântida: O Tabuleiro dos Deuses”, de Antônio Luiz M.C. Costa.

.: Escritor Luiz Gustavo Medeiros fala sobre dilemas, complexidades e tensões


"Espero conseguir colocar o leitor diante do contraditório, esticar os limites da sua percepção.", afirma o escritor Luiz Gustavo Medeiros. Foto: divulgação


Paulo é um rapaz de trinta e poucos anos lidando com tensões relacionadas ao emprego, ao passado familiar trágico, à herança negra e, sobretudo, aos impasses amorosos. Esse é o personagem principal do romance de duração “A União das Coreias” (compre neste link), escrito por Luiz Gustavo Medeiros e publicado pela editora Reformatório.

O  livro busca traçar um retrato das complexidades da vida e seus dilemas morais, embora temas como o amor, o sexo, a infidelidade, a política, os abismos sociais, ajudem a compor o cenário existencial por onde os personagem se movem. A obra, contemplada pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás em 2023, conta com orelha assinada por Noemi Jaffe e comentários na quarta capa de André Sant’Anna e Maria Fernanda Elias Maglio.

Luiz Gustavo nasceu no Rio de Janeiro, capital, passou a infância praticamente toda em Curitiba, no Paraná, e se mudou para Goiânia, em Goiás, no ano de 2002, onde vive desde então. Ele é graduado em Ciências Sociais e mestre e doutorando na área de Letras. O primeiro livro “O Corpo Útil” (compre neste link) foi vencedor do Prêmio Hugo de Carvalho Ramos de 2020 e publicado em 2021 pela editora Patuá.


Quais são os temas centrais de “A União das Coreias”?
Luiz Gustavo Medeiros - O romance se passa em um só dia e gira em torno de um personagem que, às vésperas do primeiro turno das eleições de 2018, retoma o passado enquanto avalia o presente e o futuro. À grosso modo, o livro trata de temas comuns como o amor, o sexo, a política, os costumes e os abismos sociais. O título surgiu a partir da leitura de uma tese de doutorado em psicologia chamada "Cartas sobre o Envelhecer", de Luciana de Oliveira Pires Franco. A tese é toda composta de cartas e, em uma delas, é citado um documentário chamado "A Vida em Um Dia", que registra um determinado dia na vida de várias pessoas pelo mundo. Um dos relatos é o de um homem que atravessa a Ásia de bicicleta sonhando com a união das Coreias. Gostei da imagem e achei que ela batizaria bem essa tentativa de captura, que é o livro, do percurso mental de um sujeito atormentado por forças contrárias em duelo constante.


Por que você escolheu esses temas?
Luiz Gustavo Medeiros - Não penso que a escolha dos temas, das tramas e subtramas, tenha uma motivação especial. Os conflitos do romance fazem parte da trajetória de muitas pessoas e podem servir como material pra boa literatura, onde mais importa como dizer do que o que dizer


O que motivou a escrita do livro?
Luiz Gustavo Medeiros - Lembro quando um estudante foi assassinado em Goiânia pelo próprio pai por participar das manifestações contra a PEC do teto de gastos durante o governo Temer. O pai se matou em seguida. Sou servidor do CREA e, pouco depois, acabei atendendo a mãe desse jovem, que foi lá apresentar a certidão de óbito do ex-marido, que era engenheiro, pra que o registro dele fosse cancelado. Lembro também de assistir a apuração das eleições de 2018 em um bar numa região de classe média alta de Goiânia e um homem sacar uma arma, depois que o resultado se confirmou, só pra exibi-la. E o livro começou a ser escrito quando a pandemia estourou e o país parecia ensaiar uma divisão entre os que queriam aderir às recomendações dos órgãos de saúde e os que não aceitavam qualquer mudança de comportamento. Quis examinar essa situação, esse afunilamento da tolerância, tentar me aproximar do convívio entre essas pessoas que não compactuam com as mesmas ideias, num momento em que elas ainda pareciam se suportar.


Como você chegou à escolha do formato narrativo da história?
Luiz Gustavo Medeiros - Eu queria uma narrativa que tentasse simular o ritmo da consciência, cheia de idas e vindas. Ao mesmo tempo, eu queria um narrador em terceira pessoa que fosse uma espécie de voz interior do personagem, exigente e debochada, e que fosse muito próxima dele a ponto dos dois se confundirem.


Como a bagagem do seu livro anterior ajudou na construção da obra?
Luiz Gustavo Medeiros - No meu primeiro livro, de contos, eu já vinha experimentando esse narrador em terceira pessoa muito colado no personagem, além dos diálogos diluídos no texto, em itálico. No mais, são livros bem diferentes.


O que você espera alcançar com a publicação de “A União das Coreias”?
Luiz Gustavo Medeiros - Espero alcançar leitores. Espero conseguir colocar o leitor diante do contraditório, esticar os limites da sua percepção.


E o que a obra significa para você? Ela te mudou de alguma maneira?
Luiz Gustavo Medeiros - É meu primeiro romance. Foi escrito ao longo de quatro anos, quatro anos e meio. Foi um desafio cujo resultado me agradou. Não vejo um poder de transformação imediato na escrita. Mas escrever - e ler - ajuda, pouco a pouco, a ampliar nosso horizonte de percepção, a ampliar o mundo e a fazer com que a gente se encaixe melhor dentro dele.


Quais são os seus projetos atuais?
Luiz Gustavo Medeiros - Tenho uma tese pra escrever, mas venho trabalhando devagar em um livro de contos e no esboço de um futuro romance.

.: Ator Cauã Martins fala sobre jogador prodígio de e-sports em nova série


Conheça "Dr4g0n", a primeira série de ficção do Globoplay ambientada na temática de e-sports. Daniel (Cauã Martins) é o protagonista da série.“Você nunca sabe o próximo passo dele”, afirma o ator em entrevista. Foto: Fabio Rebelo

Em "Dr4g0n", nova série Original Globoplay, o ator Cauã Martins dá vida a dois personagens que são um só. Daniel é o irmão mais novo de Ana Paula (Nanda Marques), e passa boa parte dos seus dias em frente ao computador. Sua família mal sabe que, no mundo virtual, ele é um habilidoso jogador, cujo codinome dá título à trama.  

Geralmente trancado no quarto jogando e esquecido pela família, Daniel acaba sendo elevado ao posto máximo de provedor da casa quando a empresa de seus pais entra em falência e sua irmã decide investir em sua carreira de jogador profissional de e-sports. Com isso, pela primeira vez, seus pais e irmã passam a conhecer sua personalidade manipuladora e um tanto quanto sádica.  

É só depois de conhecer Horang (Gabriel Kim), seu principal rival nos games, que Daniel vai aprender a importância do trabalho em equipe. “Cauã entendeu esse ar completamente blasé do Daniel. Ele se acha melhor que os outros, mas não fala sobre isso. Ele pode ser insuportável, mas todo mundo fica em torno dele: as garotas o desejam e os rapazes querem sua aprovação e amizade”, conta Ana Saki, roteirista da série. 


Daniel, ou "Dr4g0n", é um menino introspectivo e frio. Como você avalia a personalidade do personagem?
Cauã Martins -
Esse lado misterioso do Daniel é a síntese do personagem, você nunca sabe o próximo passo dele. Ele está sempre à frente. E tem muitos momentos na série em que mostramos isso, essa consciência dele, esse mistério. E isso se apresenta nas relações com os outros personagens. As pessoas têm um medo do Daniel, dessa nuvem em volta dele, que elas não conseguem ultrapassar, mas ele está vendo tudo claramente. 


Você já conhecia o universo dos jogos eletrônicos competitivos antes da série? Tinha alguma relação com essa temática?
Cauã Martins - 
Eu já gostava de jogar antes, mas nunca fui uma pessoa aficionada por esse universo, não conhecia tanto. Quando entrei no projeto, precisei pesquisar e estudar, além de jogar mais também. E o legal é que a gente tem dois craques dos e-sports no elenco, o Luigi Montez e o Gabriel Kim. A gente aprendeu muito com o Luigi, ele é uma bíblia do "Counter Strike". Perguntamos muito para ele sobre o que falar e como agir. Então, foi um processo de bastante estudo pré-gravações, mesmo já estando familiarizado com o universo dos games.  


O que você fez para se preparar para dar vida ao personagem?
Cauã Martins - 
Uma das primeiras coisas que comecei a pesquisar, assim que entrei no projeto, foi sobre pro players. Mas eu gosto muito também de buscar referências fora do tema do trabalho. Duas referências que eu busquei foram o Michael Jordan e o Kobe Bryant. No caso do Jordan, eu recém tinha assistido um documentário sobre ele e, pensando no "Dr4g0n", eles têm muito a competitividade super aflorada, ele cobra muito dos colegas e eu achei que ter essa figura em mente funcionaria muito nessa minha construção. Já o Bryant tem um lado mais frio, que combina muito com o Daniel.


Quais foram seus objetos de estudo? 
Cauã Martins - 
No mundo dos e-sports, foi muito legal pesquisar sobre o "FalleN", que é um pro player de "Counter Strike", e o "Coldzera", muito para entender o mundo dos e-sports no Brasil, para saber sobre o estilo de jogo, o comportamento deles ao longo de uma transmissão. Essas foram algumas referências que me ajudaram a construir o Daniel.

Vocês tiveram alguma imersão nesse universo juntos, como um time?
Cauã Martins - 
Durante o período de preparação a gente teve uma experiência muito divertida e que me ajudou muito nessa construção de personagem. Todo mundo foi, junto, para uma lan house, jogar uma partida de "Valorant". E fiquei no time vencedor, o que foi ótimo, pois começar perdendo talvez tivesse sido um balde de água fria nesse processo (risos). Nos bastidores, a gente jogou muita coisa para além desse mundo de e-sports, como jogos de tabuleiro. Isso nos ajudou a criar uma conexão e, claro, isso resulta na cena. 

Quais foram os principais desafios durante todo o processo de fazer "Dr4g0n"?
Cauã Martins - 
O primeiro desafio do projeto, para mim, foi pessoal. Eu já trabalho há bastante tempo, mas esse projeto é o meu primeiro depois de fazer 18 anos. Deixei de ser um ator mirim para ser um ator adulto, o que envolve mais responsabilidades. Mas está sendo muito bacana esse crescimento e esse novo momento. Outro desafio foi manter a concentração para segurar o personagem durante a gravação. O Daniel é um cara muito mais blasé e eu me empolgo, fico feliz, então precisei estar atento a isso, entre um take e outro. 

Você já tinha trabalhado com alguém do elenco antes?
Cauã Martins - 
Eu só tinha trabalhado com a Laura Luz uma vez, mas foi uma coisa rápida, a gente não conversou muito. Em "Dr4g0n", estou cheio de novos amigos. Todos tivemos uma conexão muito boa desde o início. 

Como foi, para você, abordar o abismo geracional entre o Daniel e seus pais?
Cauã Martins - 
Eu acho os personagens dos pais do Daniel incríveis. Desde as primeiras leituras de roteiro, as cenas deles têm o tipo de humor que eu mais gosto. Essa questão geracional entre eles e o filho é bem explícita, mas ela nunca tem um juízo de valor, do que seria certo ou errado. O filho fica isolado no quarto, os pais não fazem ideia do que está acontecendo naquele mundo. A Ana Paula também fica isolada no mundo dela e, mesmo morando dentro de uma mesma casa, eles não convivem nem conversam. 

Quais foram os outros temas tratados na série que você mais gostou de abordar em cena?
Cauã Martins - 
Um dos temas que eu acho mais legais que a gente trabalha na série é sobre como um time se comporta. Não necessariamente um time de e-sports, mas um time, formado por personalidades totalmente diferentes e como elas se comunicam e superam os desafios para chegar no objetivo final. Também tem a relação entre irmãos, da Ana Paula com o Daniel, que são pessoas muito diferentes. Ela, super ansiosa, prestativa; ele, indiferente e blasé. Os dois por tanto tempo não se conectavam e por causa do time se reconectam, numa relação que evolui ao longo da série. 


Criado por Tiago Rezende, o Original Globoplay "Dr4g0n" tem produção de Nora Goulart, da Casa de Cinema de Porto Alegre. A direção da obra é de Ana Luiza Azevedo e Tiago Rezende. A série é escrita por Tiago Rezende, Ana Saki e Tomas Fleck. A supervisão de texto é de Jorge Furtado. A direção de fotografia é de Rafael Duarte e a direção de arte é de Martino Piccinini. A montagem é de Giba Assis Brasil, Joana Bernardes e Jonatas Rubert.

.: "O curativo branco na orelha direita se tornou um símbolo", avalia especialista


Professor de Relações Internacionais do CEUB analisa momento político e destaca situação favorável a Trump após atentado. Foto: divulgação


O atentado contra Donald Trump nos Estados Unidos desencadeou impactos na política internacional. Renato Zerbini, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (CEUB), analisa o episódio e os desdobramentos para a política internacional após este episódio. O especialista chama atenção aos efeitos deste tipo de violência.


O atentado contra Trump era algo previsível?
Renato Zerbini -
A julgar pelo nutrido histórico de atentados contra candidatos e presidentes estadunidenses, a antropologia política dos EUA nos autorizaria a dizer que a factibilidade desse tipo de atentado sempre está presente em sua realidade eleitoral: Abraham Lincoln (1865); William Mckinley (1901); Theodore Roosevelt (1912); Franklin D. Roosevelt (1933); John F. Kennedy (1963); Robert F. Kennedy (1968); George Wallace (1972); Gerald Ford (1975); e Ronald Reagan (1981). Passados 43 anos desde a consubstanciação do último atentado, trata-se de uma chaga ainda marcante no meio político dessa grande democracia. Contudo, raízes históricas indicam que lá qualquer candidato ou presidente convive com a possibilidade real de atentados. 


Qual é a influência do acesso fácil a armas nos EUA em eventos como o atentado contra Trump?
Renato Zerbini - 
A influência é muito grande. Quanto mais fácil o acesso a armas, mais simples e sem obstáculos será para utilizá-las. Os estudos científicos assim indicam.


Quais foram as reações imediatas dos políticos ao atentado, e como isso pode ter influenciado a percepção pública?
Renato Zerbini - 
O atentado foi imediatamente condenado por todos os políticos. Nos EUA, Republicanos e Democratas, apressaram-se em condená-lo. O que foi muito importante, pois indicou que todos primam pelos pilares de eleições livres, inclusive da violência, em um Estado Democrático de Direito. Isso foi essencial para apaziguar os ânimos do público em geral. 


De que maneira o atentado contra Trump pode afetar a campanha eleitoral e a dinâmica política nos próximos meses?
Renato Zerbini - 
A maioria dos colegas analistas estadunidenses avaliam que Trump o utilizará favoravelmente a seu favor, opacando inclusive os processos e as condenações em seu contra no Judiciário. Trump vender-se-á como aquele que superou um momento de extrema crise, com vitalidade. E isso contrastaria com a imagem de pouca energia de seu oponente Biden. Tendo a concordar com essa avaliação.


Você vê paralelos significativos entre o atentado contra Trump e outros atentados políticos recentes, como o de Bolsonaro no Brasil?
Renato Zerbini - 
O paralelo é o de um atentado no seio de uma disputa eleitoral. No caso de Bolsonaro e de Trump, ambos foram alvejados por armas (facada naquele e rifle nesse). Em ambos os atentados, há uma história de superação eivada de contornos de um milagre divino capaz de sensibilizar o público religiosamente mais fanático. E, no caso de Trump, até de movimentar mais eleitores para as urnas no dia da eleição (nos EUA facultativa). O fato é que lá um grande curativo branco na orelha direita já se tornou um símbolo atualizado da campanha Republicana.


Como a retórica utilizada por Trump contribuiu para o atentado contra ele?
Renato Zerbini - 
Na política, como nas relações sociais em geral, violência tende a gerar mais violência. Logo, a retórica de Trump pode sim ter contribuído para o seu próprio atentado.


Quais podem ser as consequências a longo prazo desse atentado para a segurança dos candidatos presidenciais nos EUA?
Renato Zerbini - 
Falhas nas instituições e sistemas de segurança já foram detectadas. O próprio Presidente Biden já solicitou uma averiguação independente à do FBI sobre o atentado. Ajustes e reformulações nas instituições e sistemas de segurança certamente acontecerão em consequência dessas averiguações ainda em curso. 


Como vê a resposta de Trump ao atentado em termos de seu discurso político e suas possíveis estratégias de campanha?
Renato Zerbini - 
Como um homem de mídia, ex-presidente e um atual candidato com metade dos eleitores a seu favor, Trump aproveitou com muita estratégia esse brutal e fatídico acontecimento tratando de alavancar a sua imagem de candidato da superação e com muita vitalidade. Não à toa, um grande curativo branco na orelha direita já é um símbolo atualizado da campanha Republicana. 


Acredita que esse atentado pode influenciar a polarização e o clima de violência política nos EUA?
Renato Zerbini - 
Dependerá muito de como ambos os candidatos e seus partidos comportar-se-ão a partir de agora. A eleição pôs-se ainda mais incerta. Até agora, Trump e os Republicanos têm um tremendo fato novo a seu favor. Um antídoto para essa novidade pode ser a multicitada possível substituição de Biden por um candidato com vitalidade mais aparente. O cenário de polarização e o clima de violência política nos EUA é observado já a algum tempo. Ninguém, em sã consciência, imaginava uma invasão tão fácil ao Congresso estadunidense após a última eleição. Torcemos para que esse cenário já estabilizado não prospere novamente agora.


Quais são as implicações internacionais do atentado contra Trump, especialmente em termos de como outros países veem a estabilidade política dos EUA?
Renato Zerbini - 
A estabilidade política dos EUA é fundamental para a estabilidade mundial. Especialmente em uma quadra planetária tão conturbada quanto a atual. O reflexo de uma instabilidade no cenário político estadunidense pode significar catalisar as incertezas que pairam por todo o mundo, tornando-o ainda mais perigoso.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

.: Entrevista com Claudio Leal e Rodrigo Sombra, organizadores de "Cine Subaé"


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. Fotos: Erick Schons e Raphael Urjais

Claudio Leal e Rodrigo Sombra são os organizadores de "Cine Subaé - Escritos sobre Cinema (1960 –2023)", o novo livro de Caetano Veloso, publicado pela Companhia das Letras. O lançamento reúne críticas da década de 1960, publicadas no santamarense Archote e em periódicos da capital baiana, onde Caetano atuou na juventude como crítico e sonhava em dedicar sua vida à direção de filmes. Nesta entrevista exclusiva, eles falam sobre o livro, um poderoso testemunho que atesta o impacto que o Cinema Novo, as películas exuberantes norte-americanas, o neorrealismo italiano e o existencialismo das fitas francesas impactaram a formação cultural de Caetano Veloso. 


Resenhando.com - Como você poderia definir a relação do Caetano com cinema na época em que os textos foram escritos?
Claudio Leal - O livro abrange mais de 60 anos de produção crítica de Caetano. Nesse arco temporal, a relação dele com o cinema sofreu transformações, mas foi inalterável o interesse em acompanhar o meio cinematográfico. Numa síntese, posso dizer que ele partiu da posição de crítico, na juventude, para a de colaborador e interlocutor de cineastas, nos anos 1960 e 1970, quando realizou trilhas musicais, dentre as quais se destaca a de "São Bernardo" (1972), que repercute em seu disco experimental "Araçá Azul" (1973). Nessa fase, o imaginário do cinema também esteve presente em suas canções. A partir dos anos 80, essa relação tende a se aproximar de seu antigo desejo de ser cineasta. Ele dirige clipes e seu único longa, "O Cinema Falado", de 1986. Nos últimos anos seu vínculo tem sido semelhante ao dos anos 1960 e 1970, com a composição de trilhas e canções originais, além de dialogar mais frequentemente com cineastas como Cacá Diegues, Mauro Lima, Jorge Furtado e Guel Arraes. E houve o documentário "Narciso em Férias" com os diretores Renato Terra e Ricardo Calil.


Resenhando.com - É possível afirmar, hoje, que o artista suprimiu o crítico de cinema?
Claudio Leal - O artista nunca suprimiu o crítico em nenhuma fase de sua trajetória. O Caetano cancionista praticou o ensaísmo em seus discos e jamais abandonou o gesto de revisão crítica da cultura brasileira em canções, textos e entrevistas. "Cinema Novo", parceria com Gilberto Gil no álbum "Tropicália 2", de 1993, é um desses momentos em que o ensaísta dá as caras - e, neste caso, o crítico de cinema. 


Resenhando.com - Se pudessem fazer um filme sobre Caetano Veloso e fosse preciso escolher um recorte sobre a vida dele, qual seria?
Rodrigo Sombra - Eu faria um filme sobre sua adolescência em Santo Amaro. Em mais de uma ocasião, Caetano declarou que, não importasse a idade, continuava a se sentir um adolescente. Quando fez 70 anos, disse ainda sentir-se como um rapaz de 14.  Enquanto desvaloriza a infância, para ele uma experiência limitante, marcada por inúmeras restrições, mas que tendemos a idealizar, a adolescência revelou-se um território rico em possibilidades e maravilhamentos. A descoberta da sexualidade, o esboço de aspirações artísticas e intelectuais, as tensões entre um senso de pertencimento à origem interiorana, a Santo Amaro, e as seduções de um mundo transbordante que se anunciava nas imagens do cinema, nas canções no rádio, na literatura. Tudo isso permeia esse período de sua vida. Mais que um momento formativo distante no tempo, preso ao passado, a adolescência tem repercussões perenes em sua personalidade.


Resenhando.com - Quem seria o diretor ideal para dirigir esse filme idealizado por você?
Rodrigo Sombra - Escolheria a francesa Claire Denis. É na adolescência que testemunhamos as mais radicais mutações do corpo, e ninguém filma as nuances da carne como ela. Ninguém senão Denis olha as relações entre os corpos, e o lugar destes nos espaços, de modo a dotar cada imagem de igual naturalidade, erotismo e mistério. E ser adolescente é viver o mistério de descobrir-se outro, adulto, que essa fase da vida precipita.


Resenhando.com - Por que as pessoas precisam ler "Cine Subaé"?
Claudio Leal - Com o livro, pretendemos iluminar uma produção crítica que influenciou seu tempo, moveu as artes, produziu um diálogo fecundo entre música, poesia e cinema. Além disso, em vários momentos, Caetano entrelaça história e linguagem. Nas críticas e ensaios, ele observa a tradição e as ondas novas, sem temer a apreciação dos modismos. Tudo isso pode trazer ao leitor um percurso do desenvolvimento das artes nas últimas seis décadas, no Brasil e no mundo, da "nouvelle vague" ao cinema pernambucano de hoje. 


Resenhando.com - Há alguma faceta de Caetano Veloso, no livro, que o público não conhece?
Rodrigo Sombra - Caetano dirigiu um único longa, "O Cinema Falado", de 1986. O filme dividiu o público e a crítica, mas prevaleceram na memória social as reações negativas, sobretudo pela estridência dos ataques de alguns cineastas brasileiros inconformados em ver Caetano arriscar-se no ofício de diretor. O "Cinema Falado" conviveu assim, e desde a noite de estreia, com uma aura de filme “maldito”. Em textos e em entrevistas reunidos no "Cine Subaé", Caetano comenta extensamente as intenções estéticas por trás do seu único filme. Rememora a experiência no set e rebate um a um os ataques ao filme. Creio que a leitura do livro ajuda a dissipar a bruma de incompreensão que há anos envolve "O Cinema Falado". No mais, depoimentos reunidos no livro oferecem um vislumbre do cineasta que Caetano imaginou ser ao revelar detalhes de roteiros que ele rascunhou, mas jamais viria a filmar.


Resenhando.com - Como você definiria Caetano Veloso como crítico de cinema?
Rodrigo Sombra - Difícil dar uma definição estanque. O pensamento cinematográfico de Caetano passa por seguidas rupturas e transformações. Na juventude, temos um crítico algo sectário, interessado em “catequizar” as plateias santamarenses, exigindo-lhes que abandonassem o culto aos melodramas importados de Hollywood em favor do refinamento artístico do cinema de autor europeu. Mais adiante, seus textos revelam notável ecletismo, articulam o olhar sobre o cinema a questões envolvendo política, raça, identidade nacional, urbanismo. Na maturidade, sua mirada é mais abrangente e tolerante. Nas colunas publicadas no jornal O Globo na última década, blockbusters como "Rio" ou "Avatar" são merecedores da atenção crítica de Caetano.  


Resenhando.com - Em que os textos de "Cine Subaé" continuam atuais?
Claudio Leal - Nem todos os textos de "Cine Subaé" podem ser entendidos como atuais. Alguns deles são intervenções de época, sobretudo os escritos de juventude, publicados entre 1960 e 1963. A maioria dos textos do livro é de sua fase madura e pode atender a um desejo de atualidade porque essas críticas discutem filmes recentes ou de décadas mais próximas. O livro tem ainda fragmentos de entrevistas muito vivazes. Mas acredito que a questão da atualidade não importe tanto. Com o tempo, Caetano assumiu uma dimensão cultural que atrai leitores variados, desde os críticos e cinéfilos aos seus admiradores e não-admiradores curiosos, sem falar de estudiosos da história brasileira posterior aos anos 1960. Caetano tem um olhar livre diante de obras de arte e isso traz um interesse atual a textos à primeira vista atrelados a uma circunstância histórica. "Cine Subaé" incorpora ainda elementos novos à fortuna crítica de filmes como "Hiroshima, Mon Amour", "A Grande Feira", "O Bandido da Luz Vermelha", "Central do Brasil" e o próprio "O Cinema Falado", dirigido por Caetano.


Ficha técnica
Cine Subaé – escritos sobre cinema (1960 –2023), de Caetano Veloso
Claudio LealRodrigo Sombra (org.)
Lançamento: 28 de maio de 24
Páginas: 440
Compre o livro neste link.

domingo, 14 de julho de 2024

.: Elisa Marques: "Às vezes deixo de me expor como escritora para me expor"


"Eu às vezes deixo de me expor como escritora para me expor como pessoa". Em entrevista, a escritora Elisa Marques associa a escrita poética com os aprendizados de vivenciar o amor romântico. Foto: Wictor Cardoso


Formada em Jornalismo nos Estados Unidos, a escritora, roteirista e diretora audiovisual, Elisa Marques, acaba de lançar a autoficção "Minha Mão na Sua Boca e Um Verso sobre o Amor", que reúne 78 poemas sobre as complexidades do sentimento romântico na sociedade contemporânea. Nesta obra visceral, a autora imerge nas próprias emoções e resgata experiências amorosas para acolher todos aqueles que se identificam com a mesma forma intensa de amar.

Com referências da cultura do rock ao clássico, como inspirações na música “Mania de Você”, de Rita Lee, e as diferentes sensações evocadas pelas composições de Beethoven, este livro é uma ode ao amor sáfico, com declarações apaixonadas e desabafos às mulheres que a autora já se apaixonou. Mais que isso, é um resgate da poesia como forma de transbordar sentimentos universais, mas que muitas vezes passam despercebidos ou são silenciados com a rotina.

Elisa Marques é goiana, nascida em 1994, e cresceu em Goiânia. Estudou Jornalismo e Psicologia nos Estados Unidos e atualmente divide seu tempo entre literatura e cinema, sendo também roteirista e diretora. Elisa desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita inspirada pelas obras de seu falecido avô, a primeira referência que teve de escritor. “Até Minha Terapeuta Sente Falta de Você” é o primeiro livro da autora, que traz sentimentos profundos sobre fins de relacionamentos, e foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo da Secretaria de Estado de Cultura de Goiás como “Melhor Obra Cultural”, no ano de 2023. Agora, lança a publicação poética "Minha Mão na Sua Boca e Um Verso sobre o Amor", que ganhará uma adaptação para o audiovisual no segundo semestre de 2024. Em entrevista, a Elisa Marques comenta detalhes sobre este lançamento e as referências para escrever a obra, com um breve spoiler do que se pode esperar da adaptação para o audiovisual. Compre o livro "Minha Mão na Sua Boca e Um Verso sobre o Amor", de Elisa Marques, neste link.


O livro é descrito como uma ode ao amor sáfico. Como você vê a importância da representação do amor entre mulheres na literatura atual e quais desafios você encontrou ao explorar esse tema?
Elisa Marques - A pergunta me faz lembrar da primeira escritora a tratar do tema de forma natural: Odete Rios, através de seu pseudônimo Cassandra Rios, no final da década de 1940. Censurada de todas as formas pela ousadia em plena ditadura militar, Cassandra deu voz a mulheres que existiram. O cenário hoje é diferente, mas manter essa representatividade na literatura contemporânea através de escritoras como Angélica Freitas, Natalia Borges Polesso, Elayne Baeta e muitas outras que me inspiraram, é como dizer: eu sempre vou existir. Da minha parte, não houve desafios ao escrever sobre o amor entre mulheres, pois a Elisa escritora existe através da voz daqueles com quem me relaciono. E nos últimos tempos, tem sido sim uma vida/escrita mais voltada para mulheres.


Você aborda aspectos do amor no mundo contemporâneo, como a espera por mensagens de celular e as ambiguidades dos relacionamentos hoje em dia. Na sua visão, por que essas nuances chamam atenção na poesia?
Elisa Marques - Poesia é também uma relação com quem te lê. Se escrevo a partir dos amores que vivo ou desejo viver e o amor é um sentimento universal, a poesia chama atenção porque se relaciona com os leitores.


O livro combina referências da cultura do rock e do clássico, de Rita Lee a Beethoven. Como essas diversas inspirações impactaram a criação dos seus poemas e a estrutura do livro?
Elisa Marques - Costumo dizer que escrever é prestar atenção. O que me rodeia são minhas maiores inspirações. Foi em uma aula de filosofia que conversei sobre o tema: “A música de Beethoven é ou não é triste?”. Em contrapartida, foi ouvindo “Mania de Você” deitada na rede de casa em um dia qualquer que surgiu o poema cujo primeiro verso é “hoje fiz amor por telepatia”. Escrever é observar.


 A obra também mistura ficção e autobiografia. Quais experiências pessoais mais influenciaram a sua escrita e como foi o processo de transformar vivências reais em poesia?
Elisa Marques - Os potenciais amores inspiraram muito esse segundo livro. No primeiro eu falei sobre o fim de um relacionamento romântico que existiu. Nesse eu falo sobre vários inícios que nunca vingaram de fato e que, por motivos diferentes, terminaram ainda muito vivos em mim justamente pelo que podia ter sido. A escrita a partir de si é muito difícil. Eu às vezes deixo de me expor como escritora para me expor como pessoa. O que é de verdade e o que é ficção é uma linha muito tênue, e quando eu escolho dizer que escrevi uma obra de autoficção eu abro margem para os leitores especularem. Minha escrita vai te encontrar onde você quiser que ela te encontre.


"Minha Mão na Sua Boca e Um Verso sobre o Amor" será adaptado para o audiovisual. O que os leitores podem esperar dessa adaptação e como você está se preparando para transpor a poesia para as telas?
Elisa Marques - Os leitores podem esperar um show de performance de cinco grandes atrizes goianas em ascensão. A entrega de todos os profissionais envolvidos ultrapassou toda e qualquer expectativa que eu tinha criado. A equipe de produção abraçou o projeto como se eles mesmos tivessem o escrito. Só posso dizer que tenho me preparado para ver esse filme nas telas no mesmo lugar onde faço todas minhas preparações: em terapia (risos).


Garanta o seu exemplar de "Minha Mão na Sua Boca e Um Verso sobre o Amor", escrito por Elisa Marques, neste link.

.: Entrevista com Carla Guerson: "Percebi que havia mais a ser dito"


“Todo Mundo Tem Mãe, Catarina”: uma conversa com a autora capixaba Carla Guerson sobre seu novo livro. Foto: divulgação


Catarina, a protagonista do novo romance da capixaba Carla Guerson, “Todo Mundo Tem Mãe, Catarina" (compre neste link), lançado pela editora Reformatório, é uma garota de 14 anos que começa a sua jornada pelas descobertas da adolescência após uma infância marcada pela lacuna deixada pelos pais. Criada pela avó, uma servente de condomínio de classe média no interior do Espírito Santo, a personagem precisa desvendar a história familiar complexa e cheia de segredos para crescer.

Assim como sua personagem, Carla Guerson é natural do Espírito Santo, tendo nascido e sido criada em Vitória, onde ainda vive. A autora é formada em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), porém sempre separou momentos para a escrita literária entre sua rotina cheia de minutas jurídicas e relatórios. Começou a carreira literária em 2021, quando publicou o seu primeiro livro de contos, “O Som do Tapa”, publicado pela editora Patuá, que teve uma ótima recepção entre os leitores por tratar temas complexos e personagens mulheres fora do padrão. Em “Fogo de Palha”, da editora Pedregulho, a autora seguiu abordando temas como autoaceitação, maternidade, solidão, relacionamentos familiares e morte e foi premiada pelo edital de Cultura da Secult/ES.

Carla idealizou o Coletivo Escreviventes, que hoje conta com 600 participantes espalhadas pelo Brasil, e também se dedica à leitura de autoras contemporâneas e à mediação de clubes de leitura com foco em obras produzidas por mulheres, como o Leia Mulheres Vitória e o Clube Casa das Poetas. Compre o livro “Todo Mundo Tem Mãe, Catarina”, de Carla Guerson, neste link.

Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
Carla Guerson - Sexo, religião, ancestralidade, prostituição, adolescência. O romance parte da premissa de que a personagem principal não sabe nada de sua mãe e de seu pai, e esta necessidade de saber mais sobre seu passado vai levar Catarina, a personagem principal, a fazer muitas descobertas sobre quem ela mesmo é ou quer ser. Ela transita em meio a diversas possibilidades, tentando traçar um caminho próprio e o leitor acompanha essa trajetória lembrando de sua própria caminhada e de como essa fase é importante na definição de quem somos ou seremos.

Por que você escolheu esses temas?
Carla Guerson Eu tenho um interesse grande pela infância e pela adolescência, acho que são fases definidoras, intensas. Investigar esses processos me instiga e eu tinha vontade de escrever uma personagem nesta faixa etária dos 14 para os 15 anos, que foi uma fase bem importante no meu desenvolvimento. Eu também tinha vontade de ambientar uma história no meu estado, especialmente no interior, acho que é um ambiente ainda pouco retratado na literatura. Escolhido o personagem e o local, a história foi se desenvolvendo. Os temas retratados surgiram naturalmente, a partir do exercício de pensar minha adolescência e também de observar e consumir outras referências que se relacionem a esta etapa da vida, especialmente na vida das meninas, já que minha personagem é uma menina.

Como foi o processo de escrita?
Carla Guerson A primeira faísca do livro veio em 2021, quando eu ainda estava finalizando a escrita do meu primeiro livro, “O Som do Tapa”. Em uma das oficinas que fiz com a Aline Bei, ela trouxe uma provocação com a palavra “abandono”. A provocação me levou pra infância, me fez ter contato com as primeiras sensações de abandono ou de solidão que experimentei e a partir daí surgiu essa personagem que era, antes de tudo, uma sensação. Eu sentia a falta que enlaça a vida de Catarina, mesmo sem saber nomeá-la. Escrevi uma espécie de conto com esta história, onde aparecia a questão da menina guardada na "Bíblia" da avó, essa era a primeira imagem: uma menina que não tem mãe, que foi criada pela avó e que, quando pergunta pra esta avó sobre sua mãe é apresentada a uma fotografia antiga, de uma menina “que não tinha cara de ser mãe de ninguém”. Esta personagem, que ganhou o nome de Catarina, ficou me habitando, e percebi que havia mais a ser dito, que a história não se resumiria a um conto. Assim, deixei o conto de lado e guardei o projeto para desenvolvimento futuro. Em 2022 voltei a pensar sobre ela e passei cerca de 1 ano escrevendo a versão inicial. Em 2023 eu já tinha uma primeira versão e foi o ano que passei lapidando, trocando, mudando, voltando atrás, mudando tudo novamente… E também, enquanto isso, pensando e buscando ativamente uma editora que topasse o projeto como eu tinha imaginado. 


Quais obras ou autores influenciaram diretamente a obra?
Carla Guerson A primeira influência clara pra mim é Lygia Bojunga. Quando comecei a pensar em Catarina estava no meio de um projeto pessoal de ler a obra completa da Lygia, uma escritora que conheci ainda na infância, mas que só mais tarde descobri que tinha uma extensa obra também para o público adulto. A escrita da Lygia, simples e ao mesmo tempo densa, com diálogos marcados pela oralidade, a conversa com o leitor no final da obra, são influências fortes na minha escrita e acho que estão de alguma forma presentes neste primeiro romance, mesmo que de forma indireta. Como a personagem é adolescente, também fiz uma pesquisa direcionada aos livros narrados por personagens crianças e adolescentes, para encontrar o registro de Catarina. Cito como livros que li (ou reli) durante esse período e que também me influenciaram neste sentido: “O Pássaro Secreto”, da Marilia Arnaud; “A Vida Mentirosa dos Adultos”, da Elena Ferrante; “Pança de Burro”, da Andrea Abreu; “Se Deus Me Chamar Não Vou”, da Mariana Salomão; “Os Tais Caquinhos”, da Natércia Pontes e “Corpo Desfeito”, da Jarid Arraes. Além disso, especificamente na questão da falta, da ausência, que é um sentimento forte, uma sensação que parece permear a narrativa, cito como influências: os dois romances da Marcela Dantes (“Nem Sinal de Asas” e “João Maria Matilde”), os romances da Aline Bei (“O Peso do Pássaro Morto” e a “Pequena Coreografia do Adeus”), “Ponciá Vicêncio”, da Conceição Evaristo, entre outros.

Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Carla Guerson Costumo me definir como uma pessoa inquieta e isso resulta, obviamente, numa espécie de explosão de projetos, ideias, vontades. Com relação ao que farei em seguida, dentre meus 157 projetos paralelos, tenho dois bem adiantados. O primeiro é um novo livro de poesia, que acabou de ficar em primeiro lugar no edital de seleção de projetos literários do meu estado. Ainda estamos esperando a homologação e demais etapas, mas tudo indica que vem aí, algum dia, é um projeto já bem adiantado. O segundo projeto é um novo romance, em que eu investigo questões relacionadas ao corpo, pressão estética, transtornos alimentares e gordofobia. Este tem a primeira versão pronta, mas ainda estou num processo de entender melhor para onde vai, se é que vai. Acho que são meus dois projetos atuais, digamos assim.

Garanta o seu exemplar de “Todo Mundo Tem Mãe, Catarina”, escrito por Carla Guerson, neste link.

.: Lucas Pagani: "Suspenses instigam a própria natureza humana"


"Baile de Máscaras" é o romance de estreia de Lucas Pagani. Em entrevista, ele comenta detalhes sobre o lançamento e destaca a importância do gênero de suspense na literatura nacional. Foto: divulgação


Após um brutal assassinato repercutir nos noticiários na pacata e fictícia cidade de São Filipe, os moradores ficam em estado de alerta. Afinal, quem é o assassino? E quais as motivações? Agora, cabe à detetive Diana desvendar esse mistério e juntar as peças do quebra-cabeça. É neste contexto que surge o enredo de "Baile de Máscaras" (compre neste link), romance de Lucas Pagani

Muito além de um thriller com mentiras e mortes misteriosas, esse suspense aborda as nuances da existência humana. Por meio de uma narrativa visceral, que concilia investigação criminal, questões psicológicas intrínsecas e protagonistas da terceira idade, o autor apresenta a história de Rui Córdova, que durante 50 anos nutria um amor por Vânia. Mas, antes que a mulher pudesse lhe contar um segredo do passado, ela é brutalmente assassinada.

Lucas Pagani nasceu em Lages (Santa Catarina). Formou-se em Jornalismo pela Universidade do Planalto Catarinense e trabalhou como repórter no Correio Lageano até 2017. Atuou na redação do jornal impresso e on-line, além de rádio e redes sociais. Depois, concluiu o curso de Direito e duas pós-graduações na área. Atualmente, concilia a carreira de escritor com o cargo de servidor público no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. "Baile de Máscaras" é o romance de estreia do escritor. Em entrevista, ele comenta detalhes sobre o lançamento e as referências para a narrativa, destacando a importância do gênero de suspense na literatura nacional. Compre o livro "Baile de Máscaras", de Lucas Pagani, neste link.


Qual foi a sua principal inspiração por trás da produção de "Baile de Máscaras"?
Lucas Pagani - Costumo dizer que meus personagens nasceram antes do enredo, pois fui construindo-os ao longo dos anos até amarrar as subtramas numa história maior. As primeiras ideias surgiram ainda entre 2010 e 2011, nas aulas de redação do ensino médio.


Por que decidiu enveredar pelo suspense e o que mais te atrai neste gênero? 
Lucas Pagani - Sempre gostei muito de mistérios e o clássico "Whodunnit". Então foi uma escolha natural que meu primeiro romance trouxesse elementos de investigação. Desde muito novo, lia autores americanos como Dan Brown e Harlan Coben e imaginava escrever um livro que fizesse o leitor virar uma página atrás da outra, com cada capítulo terminando num gancho de curiosidade.  

Nos últimos anos, temos visto um crescimento significativo do gênero de suspense na literatura nacional. Como você vê essa tendência e de que maneira "Baile de Máscaras" se insere nesse movimento?  
Lucas Pagani - Suspenses sempre despertaram interesse, pois a busca pela solução de um enigma costuma instigar a própria natureza humana. Com o avanço do audiovisual, acredito que as produções do gênero tendem a engajar o público, que consome horas a fio desse conteúdo, além, é claro, da febre dos documentários sobre crimes reais. De modo geral, esta temática e os arquétipos do detetive e do assassino prendem a atenção das pessoas.  

No livro, você aborda temas complexos como abortos clandestinos e fraudes médicas. O que o motivou a incluir esses tópicos na trama e qual foi o processo de pesquisa para tratar desses assuntos de maneira próxima da realidade brasileira?  
Lucas Pagani - Não tive a intenção de trazer essa temática como a principal, mas sim como um elemento a mais que contribuiria para a revelação preparada para o desfecho da trama, que na verdade pretende gerar reflexões sobre a natureza humana, os dramas e traumas familiares, as mentiras, o luto, as amizades, os amores não correspondidos. A solução dos segredos guardados pelos personagens passa pelo tema do aborto (que no início é abordado de forma leve e só volta à tona nas últimas páginas) não como um julgamento moral da parte do autor, mas como um fato que na vida desses personagens foi definidor e trouxe consequências. Não se ignoram os muitos lados desse assunto na realidade, mas, na mentalidade e nas peculiaridades dos meus personagens, fazia sentido que essa ferida mudasse o rumo de suas vidas. Portando, eu a usei como catalisador dos acontecimentos que eu precisava que se desenrolassem na história, mas sempre com a intenção de explorar os sentimentos humanos, as dores, perdas, arrependimentos e o peso das escolhas, sejam elas quais forem.  


Os protagonistas do livro são majoritariamente idosos, que entrelaçam as vivências do momento atual da narrativa com o passado deles. Na sua perspectiva, qual a importância dessa visibilidade para pessoas da terceira idade, principalmente, em gêneros comumente consumidos pelo público jovem?  
Lucas Pagani - Sempre tive muito apreço pelos idosos. A cena de abertura do prólogo, por exemplo, brotou pronta na minha imaginação, e gosto do ar que ela transmite: o pátio de um asilo, idosos recebendo visitantes e tudo isso deixando um ponto de interrogação na mente do leitor - quando se vai ler sobre um assassinato num baile de máscaras, a última coisa que se espera é que essa história comece num asilo. Além do inusitado, o destaque de personagens idosos enriquece a trama por permitir as idas e vindas no tempo e por explorar como mudamos ao longo da vida, como resultado de nossas escolhas e dos outros. As irmãs octogenárias Josefa e Quieta, por exemplo, são muito queridas pelos leitores e funcionam como dois lados de uma moeda: a velhinha senil institucionalizada e a senhora cheia de vitalidade que pinta os cabelos de verde e joga pôquer.  

A narrativa entrelaça eventos passados e presentes. Quais os desafios do escritor em equilibrar essas duas linhas do tempo e garantir que ambas se complementassem, para garantir clareza e a sustentação do mistério até o fim?  
Lucas Pagani - Isso exige muito zelo. Um livro de 300 páginas tem muito mais que ficam de fora da versão final, incluindo as biografias de cada personagem e a linha do tempo, que no meu caso foi bem minuciosa. Como leitor, sempre torci o nariz para contradições e quebras de coerência, então cuidei para que até os dias da semana fossem fieis à realidade. A cena mais distante no tempo na minha narrativa é de algo entre seis e sete décadas antes da atualidade, por isso, é preciso planejar muito bem de onde se parte e quer chegar para que tudo se encaixe. Orgulho-me ao afirmar que não há furos nas marcações temporais da trama. 


Você se inspirou em grandes nomes da literatura de suspense para compor a sua obra de estreia, como Agatha Christie e o brasileiro Raphael Montes. O que você diria que tem de melhor desses autores na trama de "Baile de Máscaras"? E o que você tentou trazer de particularidade sua?  
Lucas Pagani - Eu mencionaria a possibilidade de a releitura ser uma experiência sempre nova. "Baile de Máscaras" é um livro de suspense, sim, mas a busca pela identidade do assassino e pela motivação do crime são ingredientes no meio de vários outros. Quem relê o livro fica surpreso com a quantidade de pistas que estavam plantadas desde o começo e a forma como tudo se encaixa, até os acontecimentos mais aleatórios. Raphael Montes, por exemplo, tem momentos mais excêntricos como os de "Jantar Secreto", mas também retrata traumas psicológicos com muita força, como no caso da Eva de "Uma Família Feliz".  Acredito que meu livro combina esses elementos, ou seja, as soluções criativas necessárias para mover a trama e os mergulhos na cabeça e nas emoções dos personagens que fazem a história acontecer.


Garanta o seu exemplar de "Baile de Máscaras", escrito por Lucas Pagani, neste link.


.: Marcelo Médici entra em novela: "Não é um poço de virtudes"


Pai de Guto e Chicão chega à trama. Leda (Grace Gianoukas) vai se envolver com Ubaiara/Youssef (Marcelo Médici). Foto: Globo/ Fábio Rocha


Um novo personagem entra em cena prometendo mexer com a vida de Leda (Grace Gianoukas) e a rotina da pensão de Furtado (Claudio Torres Gonzaga), na novela "Família É Tudo", de Daniel Ortiz. Com uma vida dupla, Ubaiara é interpretado por Marcelo Médici. Apresentando-se como Youssef, um descendente de árabes, o personagem vai jogar seu charme para a mãe de Júpiter (Thiago Martins), ao conhecê-la em um restaurante.

Pai de Chicão (Gabriel Godoy), a quem reverencia, e de Guto (Daniel Rangel), a quem destrata, Ubaiara é conhecido por aplicar golpes em mulheres maduras que estão à procura de amor. Depois do primeiro encontro com a executiva da Mancini, ele baixa na pensão na Zona Leste, onde se instalará. “Ubaiara é um personagem maravilhoso porque não é um vilão, mas não é um poço de virtudes, e acho que isso é do ser humano. Claro que ele tem pensamentos e atitudes que discordo, e isso torna tudo mais divertido para interpretá-lo. Acho que Leda pode passar de caça a caçadora”, comenta Médici, em entrevista disponibilizada abaixo.


⁠Quem é Ubaiara? Podemos considerá-lo um golpista ou Leda pode de alguma forma dobrá-lo?
Marcelo Médici - Ubaiara é um personagem maravilhoso porque não é um vilão, mas não é um poço de virtudes, e acho que isso é do ser humano. É claro que ele tem pensamentos e atitudes que discordo, e isso torna tudo mais divertido para interpretá-lo. E sim, acho que Leda pode passar de caça a caçadora (risos).

⁠O personagem é pai de Guto e Chicão, mas trata os filhos de maneira diferente. Acha que tem algum mistério por trás dessa relação?   
Marcelo Médici Tenho quase certeza que sim! E acredito que esse mistério inclusive pode resultar nesse comportamento errático do Ubaiara. Mas essa resposta, só o Daniel Ortiz pode dar.

 
Ubaiara vai ter um problema com Maradona e você ama cachorros. Como é isso?
Marcelo Médici Pois é. Daniel (Ortiz) quis me pregar uma peça. Eu sou louco por cachorros e o Ubaiara tem medo deles. A relação dele com Maradona vai ser engraçada. Eu já estou apaixonado pelos pets da novela.

 
Como foi o convite e o que te fez aceitar o papel?
Marcelo Médici Já faz um tempo que o Daniel Ortiz me falou que teria um personagem para mim na novela. Como já fizemos "Passione", em que ele era colaborador do Silvio de Abreu, e depois "Alto Astral" e "Haja Coração", fiquei muito feliz com a lembrança dele.

 
O fato de entrar com a novela em andamento é um diferencial?
Marcelo Médici Eu sabia que entraria depois, então deu para fazer meu espetáculo solo em São Paulo e vai dar para voltar depois que acabarem as gravações. Estou gravando ‘Família é Tudo’ junto com o "Vai Que Cola!".

  

"Família É Tudo" é uma novela criada por Daniel Ortiz e escrita por Ortiz com Flavia Bessone, Nilton Braga, Daisy Chaves e Claudio Lisboa. Com direção artística de Fred Mayrink e direção de Felipe Louzada, Mariana Richard, Augusto Lana e Naína de Paula. A produção é de Mariana Pinheiro, Claudio Dager e Lucas Zardo e a direção de gênero de José Luiz Villamarim.

.: Nanda Marques sobre personagem: “Carrega o peso do mundo nas costas”


Nanda Marques fala sobre a protagonista em "Dr4g0n", nova série do Globoplay: “Ela carrega o peso do mundo nas costas”. Foto: Fabio Rebelo


Nanda Marques, atriz paulistana, mal pode esperar para o público conhecer Ana Paula, a protagonista na mais nova série Original Globoplay, "Dr4g0n". Primeira trama da plataforma ambientada no universo de e-sports, a obra conta em oito episódios, disponibilizados no dia 18, a história de dois irmãos que passam a sustentar os pais formando um time de players profissionais, após a empresa da família entrar em falência.  

Ana Paula, estudante de administração, é a irmã mais velha de Daniel (Cauã Martins). Independente, boa em fingir confiança e proativa até o ponto de sucumbir ao estresse, ela também pode ser impulsiva e, por isso, está sempre correndo atrás do prejuízo das ideias megalomaníacas que inventa. Quando a empresa dos pais quebra, se sente responsável por achar uma solução e decide investir na carreira do irmão, ao descobrir que ele é um verdadeiro prodígio nos jogos eletrônicos.  

“Ana Paula tem um senso de humor bem específico, oscila entre uma super confiança e uma total falta de autoestima. Ao mesmo tempo em que precisa de proatividade e força, ela também mostra vulnerabilidade. É um papel muito difícil, e necessita de uma grande versatilidade do ator. O primeiro teste da Nanda mostrou tudo isso”, revela Tiago Rezende, criador da obra. 

Nanda Marques pode ser vista na novela "Um Lugar ao Sol" como Cecília, filha da personagem de Andréa Beltrão, disponível no Globoplay. A atriz foi destaque como a protagonista de dois projetos: a série "Colônia"(Globoplay), baseada no livro-reportagem "Holocausto Brasileiro", da jornalista Daniela Arbex, que virou o filme "Ninguém Sai Vivo Daqui", recém-lançado nos cinemas brasileiros, e o longa-metragem "Nas Mãos de Quem Me Leva", além de ter feito uma participação no drama "Marighella", longa de Wagner Moura. Em 2018, fez parte do elenco da série "Onde Nascem os Fortes", e a sua estreia na TV se deu no ano anterior, na série cômica "A Fórmula", dividindo uma mesma personagem com a atriz Cláudia Raia. No teatro, se envolveu com os espetáculos “Fala Comigo Doce Como a Chuva”, “Reunificação das Duas Coréias” e “Bang Bang: você Morreu”

Conte um pouco mais sobre a Ana Paula. Como você define a personagem? 
Nanda Marques -
Ana Paula é uma menina muito determinada, sempre querendo dar sua melhor versão para o mundo, para a família. Ela é tão competitiva que compete com ela mesma, querendo sempre se superar. E com isso ela esbarra em coisas como ansiedade, que me identifico bastante. Ela acaba se atropelando pela ânsia de querer salvar logo a questão financeira da família, carrega muito o peso do mundo nas costas. E por conta de os pais serem pessoas mais despreocupadas, mais relaxadas, ela acaba tomando responsabilidades que não são dela. O que ela pretendia ao entrar na faculdade de Administração era ampliar o negócio dos pais, transformar em algo maior e ser reconhecida por isso. Esse desejo dela de aprovação vem de um trauma da escola: ela sempre foi competitiva desde pequena e jogava futebol. Por conta de um treinador, ela se traumatizou e nunca mais jogou. Por isso tenta se superar em tudo. Ana Paula é determinada, ansiosa, competitiva, muito ativa e com o coração muito bom. 

Como foi, para você, abordar o abismo geracional entre pais e filhos na série?
Nanda Marques - 
Enxergo essa relação dela com os pais como uma hierarquia invertida, do filho ter que assumir um lugar que não pertence a ele, responsabilidades que não são dele e isso me atravessou muito. Na última semana de gravações, eu li de novo o roteiro do início ao fim. Isso fez eu criar mais uma camada para a Ana Paula, e entendi mais esse lado dela de querer tanto aprovação. Tem uma carência que me surpreendeu. 

 
Como foi sua relação com o restante do elenco nos bastidores da gravação?
Nanda Marques - 
O Cauã é maravilhoso, um ótimo ator, excelente profissional, está sempre pronto, sempre afim, admiro muito. O lado do carinho foi imediato, no primeiro teste já tinha certeza. Ele faz muito bem o personagem. A gente se deu muito bem desde o início. Ele é mais prático, eu sou mais sentimental e ele me ajudou muito. Viramos "manos". Durante as gravações, todos viramos superamigos, sempre juntos, brincando, trabalhando, virou uma família mesmo, uma surpresa muito boa, algo que não esperava. A gente se apaixonou pelos personagens e depois nos apaixonamos entre nós.  


A parceria com os diretores também foi marcante para você?
Nanda Marques - 
Foi maravilhoso trabalhar com o Thiago e a Ana, eles foram super atenciosos, desde a condução do teste. Sempre nos deram espaço para troca, para darmos opiniões, participarmos. Por conta de o Thiago ter escrito a série, além de dirigir, eu ficava preocupada que ele tivesse uma Ana Paula muito idealizada na cabeça dele, mas ele foi superaberto a contribuições. 

 
Você já conhecia o universo de e-sports? Fez alguma preparação especial para mergulhar na trama? 
Nanda Marques - 
Eu sempre fui, dos meus irmãos, a que nunca deu bola para o videogame, enquanto eles brigavam para ver quem ia jogar, eu nunca fazia questão. Sou bem Ana Paula nesse aspecto e fui me envolver mais com o tema por causa da série mesmo, quando comecei a entender o quanto é preciso ser dedicado e talentoso para ter sucesso nesse meio. Foi algo que me surpreendeu, como também o fato desse ramo ser, hoje, uma possibilidade de profissão para muitas pessoas. Assisti alguns documentários e, claro, já adorei torcer para alguns times que acompanhamos em competições. Isso eu adoro, quando tem time brasileiro participando, eu super vibro. 

 

Criado por Tiago Rezende, o Original Globoplay "Dr4g0n" tem produção de Nora Goulart, da Casa de Cinema de Porto Alegre. A direção da obra é de Ana Luiza Azevedo e Tiago Rezende. A série é escrita por Tiago Rezende, Ana Saki e Tomas Fleck. A supervisão de texto é de Jorge Furtado. A direção de fotografia é de Rafael Duarte e a direção de arte é de Martino Piccinini. A montagem é de Giba Assis Brasil, Joana Bernardes e Jonatas Rubert.

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