Da redação do portal Resenhando.com.
Há experiências teatrais que não se esgotam no palco. Elas atravessam o corpo, desafiam o silêncio e acompanham para fora da sala - ou, neste caso, para fora da capela. “Queda de Baleia ou Canto para Dançar com Minha Morte” está de volta a São Paulo a partir de 16 de janeiro de 2026, retomando temporada na capela do Cemitério do Redentor, no Sumaré, em São Paulo, espaço que não apenas abriga a encenação, mas a transforma em rito.
Solo da atriz, dramaturga e diretora Bruna Longo, indicada ao Prêmio APCA de Melhor Atriz por este trabalho, o espetáculo parte de uma experiência radicalmente íntima: a morte de seu pai. A partir desse acontecimento irreversível, Bruna constrói uma obra que recusa o melodrama e aposta na partilha sensível, no pensamento crítico e na fisicalidade como formas de elaborar o luto - esse processo cada vez mais apressado, higienizado e silenciado na vida contemporânea.
Em cena, a atriz imagina a própria morte. Morta, ela tenta viver aquilo que não nos é permitido empiricamente: o luto de si mesma. A partir desse gesto inaugural, o espetáculo se expande para discutir o tabu da morte nas sociedades capitalistas ocidentais, o esvaziamento dos ritos fúnebres, o medo que contamina o silêncio e a negação cotidiana da finitude. Não se trata de um discurso abstrato, mas de uma experiência encarnada, ritualística, que transforma o corpo em território de passagem.
A escolha do espaço não é mero impacto cenográfico. Encenar dentro de um cemitério recoloca a morte no centro da experiência coletiva, afastando-a da lógica do espetáculo fácil e da espetacularização midiática. O que se propõe ali é outra temporalidade: mais lenta, mais porosa, mais humana. Não à toa, críticos apontaram o trabalho como uma das experiências mais disruptivas do teatro paulistano recente.
A dramaturgia nasce diretamente da vivência da atriz, que relata como, após o falecimento do pai, foi lançada a um mundo de burocracias e prazos, sem qualquer convite real ao rito de passagem. Sem religião, sem respostas prontas, Bruna encontrou no teatro seu templo possível. Esse material autobiográfico não se fecha em si. Ao contrário, amplia-se para uma reflexão histórica e filosófica sobre a morte como origem da cultura, dos ritos, da arte e da linguagem. Ao negar esse contato, o mundo contemporâneo renuncia também a uma angústia metafísica essencial - aquela que lembra, a todo instante, da condição humana.
Com codireção de Vitor Julian e uma equipe que atua como provocadora estética, corporal e dramatúrgica, “Queda de Baleia” constrói uma cena de alta densidade simbólica. A maturidade corporal da atriz, a multiplicidade de estados físicos e emocionais e a construção de imagens fortes fazem do solo uma experiência que permanece ecoando muito depois do último gesto.
Serviço
Espetáculo "Queda de Baleia ou Canto para Dançar com Minha Morte"
Temporada: 16 de janeiro a 8 de fevereiro de 2026
Sessões: sexta a domingo, às 19h00
Local: Capela do Cemitério do Redentor - Av. Dr. Arnaldo, 1105 – Sumaré/São Paulo
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia-entrada)
Vendas on-line: Sympla
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Lotação: 20 lugares













0 comments:
Postar um comentário
Deixe-nos uma mensagem.