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quarta-feira, 3 de junho de 2020

.: O que Harry Potter ensinou sobre os relacionamentos amorosos


Por Carolina Ferraz, única consultora master do Brasil do método Marie Kondo.

Criados sob a cultura do “Felizes para sempre”, quando terminamos um relacionamento experimentamos a sensação de fracasso. Independentemente se vivemos momentos alegres ou de quem partiu o término.

Os objetos que trazemos dessa relação - cartas, presentes, lembranças de viagens - tornam-se amargos num primeiro momento porque representam “o que não deu certo” e escancaram a frustração, mas aos poucos - com a elaboração do sentimento - entendemos que são parte do nosso aprendizado.

Por isso, recomendo que ao término da relação retire os objetos de vista e coloque em uma caixa de difícil acesso. Não jogue fora porque a intensidade do sentimento atrapalha nosso poder de decisão e quando terminamos um relacionamento de muito tempo - ou muito intenso - precisamos de tempo para separar o nosso “eu” do “outro”. É um momento de revisão de rotinas, hábitos e até amizades.

Quando isso estiver estabelecido - geralmente umas semanas são necessárias - encare a caixa novamente. Primeiro avalie o que não faz mais sentido, desapegue de objetos que não gosta e mantenha objetos que te trazem apenas sentimentos bons. É importante dizer que só podemos desapegar do que é nosso. Itens compartilhados devem ser discutidos e os que são da outra pessoa, devolvidos.

É provável que você se desfaça de muita coisa nesse momento, já que as emoções não estão mais à flor da pele, mas às vezes, mais visitas são necessárias com o passar do tempo.

Claro, a decisão de manter ou não um objeto depende muito do tipo de relação que atravessamos. No caso das sadias, conseguimos desassociar, já em relacionamentos que envolvem abuso ou violência física ou mental os itens podem desencadear sofrimento psíquico e emocional.

Casos como esses muitas vezes precisam de um ritual de encerramento - algumas pessoas passam por experiências tão traumáticas que só a destruição do objeto é capaz de abrir caminho para o novo. Outras pessoas precisam dar um novo propósito a ele. É uma forma de entender que algo de bom foi tirado daquela relação. Nesse caso, a doação para projetos sociais é uma boa opção. Caso a pessoa seja acompanhada por um psicólogo ou psicanalista é interessante levar o assunto para o divã para entender o momento específico que ele simboliza.

Uma mulher que passou pelo processo comigo e vivenciou uma relação abusiva apelidou as coisas que encontrava do ex como Horcrux - uma referência à magia dos livros de Harry Potter, em que o bruxo do mal guardava sua alma em objetos - A analogia é ótima para entender que eles carregam e representam sentimentos e o que antes era alegre, pode não ser mais e muitas vezes assombrar o presente e o futuro.

Isso não significa que precisamos nos desfazer de tudo. Alguns presentes muitas vezes representam tanto nossa personalidade, experiências e anseios que o fato de ser dado por um ex não faz a menor diferença e cai no esquecimento frente à representação do nosso eu. Manter uma foto ou outra e até algum bilhete também não significa que estamos apegados ao relacionamento - pode ser só uma forma de ter uma memória física do que passamos.

Não é porque o relacionamento teve fim que conseguimos ou precisamos apagá-lo completamente da nossa história, afinal os aprendizados que tivemos com essa relação é o que aguça e lapida nosso olhar para que possamos nos encontrar ou encontrar alguém para partilhar o futuro.



domingo, 9 de fevereiro de 2020

.: Oscar 2020: Netflix em busca da estatueta de ouro


As premiações mais tradicionais do cinema têm reconhecido as produções de filmes da gigante do streaming Netflix. Podemos elencar aí uma série de razões – desde a diminuição de visitas do público às salas de cinema, passando pela eficiência do financiamento das produções da empresa, até os filmes de diretores ilustres, como Martin Scorsese (O Irlandês) e Fernando Meirelles (Dois Papas).

Quando estamos diante da tela, seja do cinema ou dos nossos dispositivos domésticos, ficamos impressionados e distraídos com os conteúdos que nos são exibidos a ponto de esquecer que a produção de cultura de massa é feita por uma indústria. Ou seja, os títulos que tanto gostamos são feitos a partir de complexos processos de produção, os quais envolvem um sem número de recursos humanos e materiais.

As transformações em campos como o da telecomunicação e do processamento de dados possibilitaram a criação dos serviços de streaming, revolucionando as formas de se produzir e consumir cinema. Antes, éramos restritos à programação das salas físicas de cinema, ao catálogo das locadoras de fitas VHS ou DVDs ou, ainda, a contar com a sorte de que algum canal transmitisse filmes de nosso interesse. Acima de tudo, todas essas opções para entretenimento eram caras em comparação ao que pagamos hoje.

As produções também eram restritas à grandes estúdios, que já estavam ficando enjoativas. Plataformas de streaming, por sua vez, já atingiram porte grande o suficiente para financiar produções de diretores e elencos consagrados, permitindo que experimentem facetas irrealizáveis nas produções tradicionais. Ao mesmo tempo, abrem espaço para filmes de equipes independentes ao redor do mundo.

Esta conjuntura faz com que a edição do Oscar de 2020 seja peculiar, com títulos ousados e concorrência bem equilibrada. Para os brasileiros, a boa surpresa é concorrer com dois títulos, ambos produzidos pela Netflix. Os "Dois Papas", dirigido por Fernando Meirelles (Cidade de Deus e Ensaio Sobre a Cegueira) recebe as indicações de Melhor Ator, com Jonathan Price, e Melhor Ator Coadjuvante, com Anthony Hopkins. O longa ainda foi indicado por Melhor Roteiro Adaptado (Anthony McCarten). Já "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, concorre como Melhor Documentário.

Na categoria de Melhor Filme, a empresa conta com duas indicações: O Irlandês (Martin Scorsese) e História de um Casamento (Noah Baumbach), concorrendo com títulos como Coringa (Todd Phillips) e Parasita (Bong Joon-ho). Na categoria de melhor ator, além de Jonathan Price, Adam Driver foi indicado pela sua atuação no longa de Noah Baumbach, concorrendo com Joaquim Phoenix e Leonardo Di Caprio.

Por um lado, a premiação este ano está mais equilibrada e diversa do que em qualquer outro. Por outro, a presença magnânima dos títulos, diretores, roteiristas e atores da Netflix na lista de indicados deixou qualquer cinéfilo sem saber em quem apostar.



Douglas Henrique Antunes Lopes é professor do Centro Universitário Internacional Uninter. Atua nos cursos de Filosofia, Serviço Social e Pedagogia, além do Curso de Extensão Cineclube Luz, Filosofia e Ação.

domingo, 29 de dezembro de 2019

.: Surdez em músicos: alto volume de som nos palcos e estúdios prejudica

Alto volume de som nos palcos e estúdios pode prejudicar a audição ao longo dos anos. Diversos astros da música brasileira e mundial sofrem de perda auditiva mas alguns conseguem driblar a deficiência sem abandonar a carreira



Eric Clapton. Foto: divulgação


O que seria da vida sem música? Com um microfone nas mãos ou tocando um instrumento musical, os músicos levam alegria e descontração às pessoas. Exercem seu dom nos palcos, na maioria das vezes em meio a altos volumes de som. E quando não estão nos palcos, estão em estúdios de som. Esquecem, muitas vezes, do risco que correm de sofrerem danos auditivos cada vez mais severos. Eric Clapton, considerado um dos melhores guitarristas da história do Rock, já anunciou que está perdendo a audição. O guitarrista, em entrevista para um documentário sobre sua carreira, falou sobre as sequelas; reflexo dos mais de 50 anos que passou em cima dos palcos.


Coldplay. Foto: divulgação


Além de Clapton, diversos músicos famosos têm perda auditiva. Chris Martin, vocalista da banda britânica Coldplay, foi diagnosticado com Tinnitus (Zumbido) há mais de dez anos. Phil Collins, Ozzy Osbourne, Bono Vox, o brasileiro Rogério Flausino, do Jota Quest, e até mesmo Ludwing van Beethoven tiveram que realizar mudanças ou rupturas em suas carreiras após uma perda de audição significativa.


Phil Collins. Foto: divulgação


"É importante que os músicos atentem para a importância de se prevenir de danos auditivos usando tampões durante os shows. E para quem já foi ao médico e detectou a perda auditiva, é recomendada a avaliação com uma fonoaudióloga para que se identifique o melhor aparelho auditivo. Além de não ouvir direito, perda auditiva em músicos pode causar perda emocional também. Por isso, é tão importante usar a prótese auditiva, que traz de volta não somente a audição, mas também a sensibilidade por meio da música e da criatividade", explica Marcella Vidal, fonoaudióloga da Telex Soluções Auditivas.

Atualmente, com as novas tecnologias, os aparelhos auditivos são discretos, têm design moderno e podem oferecer uma boa qualidade de vida, inclusive com a continuidade da carreira musical dos artistas. Estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) considera a perda de audição relacionada ao ruído musical a segunda maior causa de surdez no mundo. Por isso, Vidal recomenda o uso frequente de protetores auriculares.

"Os protetores não eliminam o som por completo e nem impedem que o músico ouça o seu instrumento ou o que acontece à sua volta. Eles apenas reduzem o volume excessivo que chega aos ouvidos, protegendo a cóclea e propiciando uma audição mais confortável do som ambiente", ressalta a fonoaudióloga, que é especialista em audiologia.

Existem vários tipos de protetores auriculares no mercado, como os da Telex, por exemplo, que são feitos em acrílico e moldados de acordo com a anatomia do ouvido de cada pessoa, e que diminuem o barulho ambiente em 15 ou 25 decibéis, conforme a necessidade do usuário.

sábado, 28 de dezembro de 2019

.: Artigo: fazer mais do que gosta, uma atitude saudável

Divulgação

Dia a dia corrido, contas, obrigações. Desde muito cedo, aprendemos que produzir é ser melhor, que o tempo livre é algo que nos afasta dos nossos sonhos, que progresso é sinônimo de sofrimento e muito, muito trabalho. O fisioterapeuta Sérgio Bastos Jr questiona: será que tem que ser mesmo assim?

O fisioterapeuta Sérgio Bastos Jr, que realiza um trabalho de Saúde Integrativa, que descobre as causas emocionais de dores e doenças físicas, enfatiza: “uma coisa que aprendemos em meus anos de clínica é que as pessoas felizes são as mais saudáveis. E que as pessoas felizes são aquelas que fazem mais do que gostam, realmente”. E Sérgio lembra: “quando falamos sobre esse assunto, é muito comum as pessoas terem uma reação muito radical, como se, para fazer o que gosta, fosse necessário largar tudo, sair do emprego, dizer adeus a toda e qualquer obrigação. Mas não precisa ser exatamente assim”.

Claro que, muitas vezes, estamos tão desconectados daquilo que amamos, que tudo parece errado, e pode ser que esteja mesmo. Ainda assim, o especialista ressalta que essa transição, pessoal e de carreira, precisa ser feita de uma forma tranquila, ponderando as possibilidades e construindo uma nova realidade, aos poucos. “Se não for esse o seu caso, incluir mais alegria ao seu dia a dia pode ser muito mais fácil do que você imagina. E, acredite, sentir-se bem consigo mesmo, sentir-se feliz, perceber que a sua vida é mais do que números e obrigações, faz uma diferença danada para a saúde integral, ou seja, emocional, mental e física”, lembra Sérgio.

“Perder estímulo pela vida é uma das principais causas primárias da depressão, por exemplo. A tristeza se instala quando nos sentimos impotente diante de alguma situação ou dificuldade, e quando percebemos que estamos sozinhos, que não temos com quem contar. Geralmente, estamos esperando que as respostas venham de fora, que alguém chegue e nos tire da situação estressante. Nós temos que ser essa mão, cabe a nós entender os processos que estamos vivendo e acarinhar a nós mesmos”, revela o fisioterapeuta.

A primeira coisa que precisa ser modificada é essa crença de que, para ser bem-sucedido, para “vencer” na vida, é preciso sofrer, é preciso lutar, é preciso “matar um leão por dia”. “Pensar assim já torna qualquer tipo de trabalho, emprego ou grupo social estressante. Quando notamos que a pessoa está muito condicionada por crenças, começamos a mudança por aí”, explica Sérgio.

O fisioterapeuta lembra que o PSYCH-K® funciona muito bem, como técnica que trabalha na mudança da frequência do pensamento, encontrando e modificando crenças limitantes que possam estar contribuindo para escolhas que não necessariamente estejam conectadas com a nossa verdade pessoal. “Quando entendemos quais são essas crenças, muitas vezes conseguimos compreender o caminho que a pessoa, inconscientemente, escolheu para si”, diz ele.

E Sérgio complementa: “a partir desse estudo do que é ou não condizente com o que realmente nos faz feliz, é possível começar a desenhar uma realidade diferente. Se eu gosto de esportes, incluir mais atividades físicas no dia a dia. Se gosto de passear, começar com passeios possíveis, próximos de casa, sem que seja preciso, por exemplo, gastar todo o cartão de crédito ou entrar no cheque especial”.

Nem sempre mudanças precisam ser grandiosas. Se dar um presente de vez em quando, uma refeição especial, um passeio com alguém cuja presença seja agradável, uma roda de amigos e risadas gratuitas podem fazer maravilhas com a nossa saúde emocional. É preciso, claro, descobrir o que faz bem para cada um, e aí, começar a pincelar os dias com um pouco mais de alegria.

Sobre a Biointegral Saúde: A Biointegral Saúde é uma clínica especializada no tratamento de memórias traumáticas e crenças limitantes, com foco na saúde integrativa e em tratamentos personalizados, que visem eliminar as causas primárias de dores e doenças crônicas. Utilizando técnicas como a Microfisioterapia, o PSYCH-K® e as Barras de Access, entre outros, os fisioterapeutas Frésia Sa e Sergio Bastos Jr buscam a integridade dos potenciais de seus pacientes. Entre aqueles que procuram por mais qualidade de vida e por um dia a dia mais pleno e saudável estão esportistas, influenciadores digitais, celebridades e outras pessoas que são atingidas diariamente por estresse, auto cobrança e síndromes e que retornam ao controle da própria vida e atingem estágios mais amplos da sua saúde física e emocional com o trabalho da Biointegral Saúde.

Acesse: biointegralsaude.com.br

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

.: Atributos indispensáveis para a convivência em qualquer esfera social



“Muita gente considera a generosidade, delicadeza e boas maneiras parecem conceitos ultrapassados. Acho que é por isso que as pessoas estão demonstrando cada vez mais intransigência e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. A maioria acha que a sua opinião deve prevalecer a qualquer preço, esquecendo-se do quanto é importante cultivar a gentileza no trato social”, diz Anna Bey, instrutora do curso da Escola da Elite, um treinamento para as “aspirantes” a um lugar nas altas esferas sociais.

Para aqueles que pretendem se diferenciar em qualquer ambiente, Anna recomenda a prática da generosidade e empatia com conselhos simples e indispensáveis:

Pense antes de falar: não uma, mas três vezes. Se as suas palavras puderem ser mal interpretadas, certamente serão. Portanto, reflita sobre o peso que as palavras terão para o seu interlocutor. Releia mensagens antes de enviar, evite controvérsias e termos ofensivos. É melhor errar por precaução do que magoar alguém;

Não julgue: procure se colocar no lugar do outro. Compreenda que as pessoas têm diferentes origens, perspectivas e experiências. Interaja de forma educada e não se ache superior a ninguém;

Ninguém é perfeito: nem você! Não seja exigente. Perfeição não existe, portanto, aceite os erros dos outros (e os seus);

Perdoe: não cultive ressentimentos, eles são atraso de vida. Se, em algum momento, você se sentiu ofendida por alguém, converse de forma assertiva, sem agressividade. Releve e siga em frente;

Nada de comentários negativos: guarde para si Não seja cruel achando que está sendo sincera. O seu comentário irá machucar alguém? Fique calada;
Foi magoada? Será que é necessário revidar no mesmo nível? Você precisa ser desagradável também? Na maioria das vezes, o melhor é ignorar ou ser gentil.
Anna citou uma série de atitudes que podemos tomar como mantras no nosso cotidiano, tornando a vida e os relacionamentos mais leves. Não é tão difícil e nem exige muito praticar a gentileza. Pense no outro e não queira impor as suas vontades o tempo todo.

sábado, 26 de outubro de 2019

.: Artigo: A importância da educação financeira na infância

*Por Peter Visser


Para quem acompanha os números do mercado, não há como negar: a ausência de uma educação financeira para as gerações anteriores foi bastante maléfica. Dados da Associação de Educação Financeira do Brasil -AEF-Brasil- revelam que existem hoje mais de 60 milhões de brasileiros com o nome negativado e um superendividamento dos aposentados, consequência de uma geração que não teve acesso e também pouco debatia temas que envolviam planejamento e organização familiar. Não por acaso o tema passou a conquistar destaque nos últimos anos, principalmente entre as escolas a partir de 2017, quando educação financeira foi incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da educação infantil e ensino fundamental. 

Por isso, até o início do ano letivo de 2020, as instituições de ensino precisam adequar os currículos e propostas pedagógicas, incorporando a educação financeira como uma disciplina transversal. Para entender o que há por trás desse conceito, vale salientar que ensinar finanças é ir muito além de guiá-los nas contas de adição e subtração na hora de receber o troco na padaria, mas sim, de maneira mais macro, compreender a importância dos números e saber contextualizar as informações, aplicando os conceitos no que concerne os juros e porcentagens, por exemplo. Por isso é importante dentro ambiente escolar criar situações que representem o mundo real, desenvolvendo métodos para que a educação vá além de se relacionar com a matemática, trafegando também por todas as áreas do conhecimento.

O tema já é recorrente em outros países e na Maple Bear é trabalhado a partir da Metodologia Canadense, que aborda as situações por meio de atividades, como jogos e brincadeiras, além de atividades extraclasses. É uma forma de engajar a partir de experimentações e descobertas, estimulando o raciocínio crítico e fazendo com que os estudantes entendam o conceito de valor na prática, mas em um ambiente controlado. Desta forma, a escola fomenta a criatividade, a autonomia e a capacidade de autoaprendizagem crítica de novos saberes, desenvolvendo habilidades.

A educação financeira, vista da ótica de integradora, é primordial na medida em que o dinheiro está inserido em praticamente todos os aspectos do cotidiano. Aprender a trabalhar com valores desde a primeira infância faz com que as crianças desenvolvam um maior senso de responsabilidade, e se tornem adultos que, mais do que saber como fazer a gestão financeira, também vão utilizar os recursos de forma inteligente. É válido também acrescentar que a educação tem um efeito multiplicador, uma vez que os estudantes, ao compartilharem com os pais os conhecimentos adquiridos em sala de aula, replicam e transferem para eles as noções adquiridas nos diferentes contextos, ensinando-os como se comportar diante das mais variadas condições encontradas no cotidiano.


*Peter Albert Visser é diretor acadêmico da Maple Bear Brasil. Graduado pela Universidade de Waterloo, possui também mestrado em educação  pela universidade de Ottawa.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

.: Como pintar um cheiro? - Por Oscar D’Ambrosio




Por Oscar D’Ambrosio*, em setembro de 2019.

Vi a frase “Como pintar um cheiro?” escrita em inglês em uma parede do bairro da Baixada do Glicério, em São Paulo, SP. Fiquei pensando como essa proposta de percepção de mundo nos ajudaria a construir uma sociedade melhor. Não se trata apenas de ver com outros olhos, mas de sentir com outros sentimentos.

E o que isso significa? Em primeiro lugar, em uma sociedade cada vez mais tecnológica, temos que abrir espaço para a emoção. Nada contra o mundo digital, muito pelo contrário, mas substituir avaliações qualitativas apenas pelas quantitativas está matando a possibilidade de realizar algo diferente.

Ver uma caixa inteira ultrapassa a soma das partes que a integram. Significa ver um novo organismo, que geralmente a estatística não contempla.

Em segundo lugar, há o estímulo à criatividade. Todos falam disso e se declaram a favor, mas, na prática... como dizem... a teoria é outra. Pensar fora da caixa é geralmente não olhar para a outra caixa, no lugar de encontrar naquela caixa o que outros não conseguem ver. E essa busca por uma nova forma de pensar pode não gerara simpatia.

Todos dizem que é bonito, mas poucos incorporam ideias que podem, de fato, ser transformadoras.

É fácil criar o discurso da inovação e, literalmente, vende-lo no mundo digital. O difícil é pintar o cheiro. Isso significa pintar de um novo jeito e cheirar de uma outra maneira. Mexe com, no mínio, esses dois sentidos. E outros também estão envolvidos. Essa é a mágica. Falar dela é obrigação. Praticá-la é desafio.

Oscar D’Ambrosio* é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

.: A atualidade de Macunaíma, o “herói sem nenhum caráter”

Por Oscar D’Ambrosio*, em agosto de 2019.

Há 50 anos, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade lançava “Macunaíma”, um marco da cinematografia nacional. Baseado no livro de Mário de Andrade, escrito em Araraquara, interior de São Paulo, o filme colocava concepções da estética tropicalista na telona de uma maneira criativa e engajada.

Talvez a cena mais marcante seja a transformação do protagonista de preto em branco. Inicialmente interpretado por Grande Otelo, o “herói sem nenhum caráter” que protagoniza a obra ganha vida com Paulo José. Ambos conseguem levar ao público visões complementares de facetas históricas da discussão do que significa ser brasileiro.

Se o livro de Mario de Andrade já é um fascínio antropológico pela fusão de mitos e detalhes que se articulam numa narrativa breve, mas que mergulha em portas e janelas de distintas facetas nacionais, o filme apresenta aspectos mais politicamente engajados, mas igualmente densos na compreensão do sentido, ou falta dele, da essência do Brasil.

A discussão de livro e filme talvez sejam mais essenciais do que nunca, pois existe uma mescla de possibilidades tão grande, que qualquer resposta, por ser, é claro, simplista, pode parecer inútil, o que está longe de corresponder ao que precisamos. Se não for mantida a chama acesa da pergunta, corremos o risco de recebermos respostas prontas, o que é ruim para a cidadania nacional. Indagar sempre deveria ser nosso lema, como o diretor de Macunaíma propunha há 50 anos.

Oscar D’Ambrosio* é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

.: Análise de duas metas do Plano Nacional de Educação

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em agosto de 2019*


A educação é um assunto muito debatido na sociedade brasileira, principalmente, a qualidade, que é reivindicada pela população e por políticos. Ao analisar duas metas do Plano Nacional de Educação para a atividade reflexiva da disciplina Prática de Ensino em Gestão Educacional, destaco a 4ª e a 17ª, pelo fato de haver certa fragilidade no ambiente escolar para a concretização destas até o ano de 2024, considerando que o enquadramento das escolas deverá acontecer em menos de 6 anos. 

Meta 4: "universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados."

Enquanto que a Meta 4 visa reduzir as desigualdades, valorizando a diversidade, a prática do que vemos atualmente nas escolas é outra. Desde a capacitação de professores ou a estrutura do ambiente escolar. Enquanto que a família enfrenta o dilema de a educação especial, da pública ou privada, que não contemplarem o ensino adequado, ou seja, deixando de desenvolver adequadamente as capacidades cognitivas do aluno ou a escola especializada em determinada deficiência que não garante ao aluno a inserção na sociedade fora do ambiente institucional. Estruturalmente, há escolas que ainda não oferecem rampas de acesso ou elevadores. Até dentro da sala de aula, há grandes falhas, tornando o aluno presente, sem inclui-lo. 

Por outro lado, com vontade e dedicação, principalmente dos governantes, tal objetivo tem mais chances de ser concretizado. Já a Meta 17 revela maior probabilidade de não ser realizada, uma vez que igualar o salário dos profissionais do magistério é muito complexo, tal qual a democracia, principalmente se considerarmos que nem todos os estados e municípios praticam as leis educacionais federais com firmeza.

Meta 17: “valorizar os profissionais do magistério das redes públicas de educação básica, de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE (2020).”

No site Observatório do PNE, Roberto Leão, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, destaca que “uma carreira bem estruturada tem uma virtude principal: permite que o profissional de Educação projete o seu futuro, tenha perspectiva de trabalho e de vida. Contudo, há ainda muito a avançar na construção de uma carreira, a começar pelo fato de que temos no Brasil uma estrutura educacional que permite 5.565 sistemas municipais de ensino, 26 sistemas estaduais, mais um do DF e mais um federal. Cada um deles tem autonomia para gerenciar seu pessoal.” 

Infelizmente, a Meta 17 está extremamente distante da realidade escolar, assim como as leis e práticas que regem o Brasil.


*Atividade realizada em 5 de setembro de 2018 para a disciplina Prática de Ensino em Gestão Educacional, do curso de Pedagogia, para a Universidade Cruzeiro do Sul Virtual.


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm

segunda-feira, 29 de julho de 2019

.: Entenda o porquê de o "Homem-Aranha" gerar tanto fascínio

Por Oscar D’Ambrosio*, em julho de 2019.

É muito interessante verificar como há super-heróis capazes de sempre conquistar nossos corações. O recente filme “Homem Aranha: Longe de Casa” encanta pela capacidade de mais uma vez colocar o protagonista em uma jornada contagiante que emociona. Difícil entender por que esse personagem consegue cativar tanto...

Desta vez, dois elementos são essenciais. Um deles está no amor adolescente do herói. Com 16 anos, seu plano de dar um beijo naquela que ama é de uma graça ímpar. Em época de muito sexo casual, essa atitude traz quase uma inovação (rs!). Torcer para que Peter Parker, o jovem de “grandes poderes e qrandes responsabilidades”, tenha sucesso, é encantador.

Outro fator é a presença do ilusionismo e dos drones. O primeiro mostra como, na sociedade do espetáculo, parecer ser terrível é mais importante do que ser. Portanto, contar ao mundo uma boa história é mais importante do que ter de fato uma narrativa verdadeira. Esse é o argumento do vilão do filme inclusive pouco antes da sua aparente derrota.

Os drones são as máquinas do mal, capazes – elas sim – de intensa destruição. A forma de direcioná-las, para combater o bem ou o mal, é que faz a diferença. É na índole dos líderes que está a sua força. Essa situação parece icônica num universo em que a tecnologia está onipresente e o seu uso, não a sua existência, é que deveria ser a questão central dos debates.

Por tudo isso, o filme mais recente do Homem-Aranha é obrigatório. A direção de Jon Watts colabora para instaurar uma atmosfera bem-humorada, em que a turma da escola que cerca o herói possui histórias paralelas sempre prontas a crescer. Assim, quando o “protetor do quarteirão” é obrigado a defender o mundo, cada desafio é uma etapa de amadurecimento. E nós o acompanhamos nessa jornada.

Oscar D’Ambrosio* é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.


sexta-feira, 26 de julho de 2019

.: Sabe o que é Transtorno Disfórico Pré-Menstrual? Descubra!

Até o início dos anos 1960, as mulheres com sintomas de síndrome pré-menstrual (SPM), recebiam atendimento por especialistas em ginecologia ou, em escala menor, por endocrinologistas. E mesmo que os sintomas emocionais estivessem evidentes, era raro que a elas fosse oferecido algum acompanhamento em Saúde Mental. Ao longo dos anos, entretanto, as características psiquiátricas da síndrome passaram a receber atenção, e ainda em 1985, quando da revisão DSM-III, foi organizada uma comissão da Associação Psiquiátrica Americana (APA), com o objetivo de avaliar a inclusão de um subgrupo ligado às alterações pré-menstruais, identificado pela recorrência de sintomas emocionais e de mudança de comportamento, significativos sob o ponto de vista clínico, e apresentando potencial para afetar as pacientes sob as perspectivas familiar, laboral e social.

Existem cerca de 150 sintomas identificados, entre físicos e emocionais, que podem afligir as mulheres no período pré-menstrual. E segundo a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), até 90% das mulheres brasileiras podem sofrer com um ou mais desses sintomas na segunda fase do ciclo menstrual. Esta condição é interpretada apenas como síndrome de tensão pré-menstrual. Ou, a já bastante divulgada: TPM.

A partir da quinta versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), publicada em 2019, o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) é identificado como doença mental. Caracterizado como uma manifestação recorrente nas duas últimas semanas do ciclo menstrual, observados na maioria dos ciclos menstruais pelo período de um ano. E tem os sintomas descritos como: alterações de humor, distúrbios do sono, ansiedade, irritabilidade, depressão, letargia e mudanças no apetite, entre outros.

Simplificadamente, SPM ou TPM e TDPM afetam as pacientes quase no mesmo período e apresentando alguns sintomas similares, mesmo que em intensidade distinta. Porém, o Transtorno Disfórico é mais complexo e exige acompanhamento especializado em longo prazo, enquanto para as primeiras, tratamentos paliativos, somente durante o período agudo, costumam ser suficientes.

Na SPM/TPM, que ocorre entre três e sete dias antes da menstruação, os sintomas são predominantemente físicos, tais como dores de cabeça, cansaço, sonolência, inchaço e sensibilidade nas mamas, mas também podem estimular estresse e alterações de humor, conforme as características de cada mulher. O TDPM se apresenta como um quadro de depressão cíclica maior (até 15 dias antes do ciclo menstrual / regredindo com o início da menstruação), que afeta diretamente a estabilidade emocional da mulher, gerando sintomas como tristeza, isolamento, irritabilidade, agressividade, indisposição e depressão.

Mulheres que sofrem com TDPM representam a parcela entre 3 e 7% da população, enquanto as que sentirão os desconfortos “rápidos” da TPM, regularmente, somam até 40% do universo feminino, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). As primeiras, infelizmente, ainda podem sofrer ou não com TPM também. Porém, devido ao transtorno, durante períodos cíclicos bem identificados, o seu cotidiano pessoal e profissional poderá ser severamente afetado, e na maioria dos casos, os tratamentos especializados figuram como recomendação inevitável.

Entre os métodos de tratamento usados para minimizar o sofrimento emocional e comorbidades advindas do TDPM, há programas para uso de contraceptivos, analgésicos, reorganização nutricional e sobre hábitos regulares - tais como: qualidade do sono, atividades físicas e exposição emocional – além de acompanhamento psicoterápico e, em diversos casos, tratamentos com antidepressivos e/ou ansiolíticos. Porém, é imperativo que todas as intervenções sejam empreendidas sob a supervisão de especialistas, não raro trabalhando em conjunto. E especificamente para os tratamentos com medicamentos, devem ser elaborados programas multidisciplinares, por períodos longos, para tratamento do transtorno / doença, e não apenas dos sintomas. Tomar medicamentos somente no período em que os sintomas aparecem é errado e, em muitos casos, poderá agravar o quadro.

Prof. Dr. José Toufic Thomé é Médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Psiquiatra e Psicoterapeuta Psicodinâmico especialista em situações de crises e transtornos da contemporaneidade. Presidente da Unidade Brasil da Rede Ibero-Americana de Ecobioética - Cátedra UNESCO de Bioética. Presidente da Secção Psiquiatria em Crises e Desastres da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA na sigla em inglês). Coordenador e Professor do Curso Psicoterapia e Intervenções em Crises no Instituto Sedes Sapientiae de SP.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

.: O cinema não pensa mais, artigo de Douglas Henrique Antunes Lope

Por Douglas Henrique Antunes Lope*


Ao assistir a um filme, você já teve a impressão de saber o final? Isso não ocorre somente pela sua capacidade dedutiva, mas porque existem determinados padrões de produção de roteiros que inundam os grandes estúdios com a finalidade de garantir os seus lucros. Ou seja, os enredos simples e os personagens com os quais o espectador já está habituado garantem grande público — o que explica porque a franquia Velozes e Furiosos está na produção do seu 9° filme e a Marvel já lançou mais de duas dezenas de títulos desde 2007.

Os filmes de franquia apresentam-nos os mesmos personagens em situações análogas, de modo que o maior atrativo para o público não é a narrativa, mas os efeitos especiais, quer seja a quantidade de explosões, os tiros ou malabarismos exibidos em tela da forma mais frenética possível. No entanto, nem sempre foi assim.

Quando o cinematógrafo foi criado pelos irmãos Lumière, os primeiros filmes registravam pessoas em situações cotidianas, antecedendo os documentários. As produções encomendadas por Thomas Edison eram filmadas em estúdios com atores provenientes do teatro, o que culminaria com as premissas do cinema ficcional, gênero que dominou as telas comercialmente em relação às obras documentais.

A partir daí, foi necessário aprender a contar histórias através das câmeras e dos processos de edição. O cineasta Jean Luc Godard chegou a dizer que “a câmera escreve”, o que torna possível aproximar o cinema das outras formas de contar histórias, tanto oralmente, como por meio da literatura. Nesse sentido, é possível apontar uma série de investigações provenientes das pesquisas literárias ou que dialogam com elas, influenciando as produções cinematográficas.

O livro "O Herói de Mil Faces" (por exemplo) do mitologista Joseph Campbell nos apresenta o conceito de “narratologia”, referindo-se ao estudo das narrativas de ficção e não ficção. Campbell identifica um padrão básico na composição das mitologias de diversas culturas, trazendo à tona a possibilidade de apoiar-se em determinados padrões para se contar uma história, o que influenciou os trabalhos de diretores como George Lucas e Francis Ford Copolla.  

Syd Field recorreu a ferramentas da narratologia para escrever livros como o Roteiro – Os Fundamentos do Roteirismo e Manual do Roteiro, apresentando à indústria fílmica o conceito de “paradigma”, que oferece certos padrões para se escrever um roteiro e definindo elementos essenciais, tais como a quantidade de atos e o tempo que o filme deve durar.

Agora sabemos porque somos capazes de saber o que acontecerá no final dos filmes a que assistimos. Minha crítica não está direcionada à narratologia, mas à falta de coragem de quem resiste em contar novas histórias ou contá-las fora dos moldes pré-estabelecidos, como fizeram o Cinema Novo no Brasil, o Neorrealismo na Itália ou a Nouvelle Vague na França.


Douglas Henrique Antunes Lopes é professor do Centro Universitário Internacional Uninter. Atua nos cursos de Filosofia, Serviço Social e Pedagogia, além do Curso de Extensão Cineclube Luz, Filosofia e Ação.

terça-feira, 23 de abril de 2019

.: Dia Mundial do Livro: vida longa ao objeto de democratização e cidadania

Por: Vitor Tavares*


O Dia Mundial do Livro é a ocasião perfeita para fazermos uma reflexão sobre a sua importância, sobre os desafios do setor, e também para celebrarmos as conquistas.

Antes de qualquer coisa, precisamos ter claro que o livro é um objeto de democratização e cidadania. Por isso, é fundamental que a leitura seja encarada com seriedade e responsabilidade.

O livro e a leitura se tornam fortes e permanentes em um ambiente economicamente saudável, de segurança jurídica e de liberdade de pensamento. Por isso, devemos aproveitar o momento para rever modelos, pensar em alternativas e fortalecer toda cadeia produtiva e criativa do livro.

Todos os setores da economia vivem um momento de transformação. Neste cenário, a atualização de modelos de negócios, em especial do livro, é urgente. O fato é que os diversos produtos da indústria criativa disputam o tempo das pessoas. Na última edição da pesquisa Retratos da Leitura (2016), o hábito da leitura fica em 10º lugar quando o assunto é o que gosta de fazer no tempo livre, atrás de assistir TV, ouvir música, acessar a Internet, entre outros.

O livro é em sua essência um objeto de várias possibilidades, ele pode chegar ao leitor em diversos formatos: no tradicional formato impresso, já tão querido e aceito pelos leitores, no formato digital, que facilita a portabilidade ou em audiolivro, que permite o acesso ao conteúdo do livro durante outras atividades. As possibilidades estão aí, mas é necessário entender o desejo do leitor e oferecer o livro da forma esperada.

O momento é instigante: Ao passo que devemos superar obstáculos, o terreno é fértil para criar novas oportunidades. Rever modelos tradicionais que temos praticado há muito tempo, repensar a consignação, ampliar os canais de distribuição, incentivar a criação de novos pontos de vendas e atualizar a experiência de compra nas livrarias é tarefa fundamental agora.

A situação pela qual o setor livreiro passa me faz lembrar uma antiga campanha das padarias de São Paulo: "Pão se compra na padaria". Claro que o comportamento do consumidor não é estabelecido por uma simples frase, acontece que juntamente com a frase quebraram-se vários paradigmas. A padaria passou a ser um local de convivência, com mais possibilidades e mais atenta às necessidades de seus clientes. Todo o varejo, em seus diversos segmentos tem buscado uma fórmula parecida, na qual o ponto de venda não fique restrito à venda do produto, mas se torne um ponto de contato com as pessoas, com atendimento ágil e qualificado, transformando-se em um amplificador de vendas. Para isso, é importante que o relacionamento entre loja e publico se dê de forma rápida e sem ruídos. Na experiência da loja, seja ela virtual ou presencial é que o cliente se tornará sua melhor propaganda ou seu pesadelo.

Temos uma grande missão: tornar o mercado forte e exigir do poder público a priorização da educação e a formação de leitores para quem sabe, no futuro, possamos ter um país que ofereça oportunidades para todos, repleto de profissionais preparados para o seu desenvolvimento.

Que o livro, instrumento para transformação de pessoas, nos inspire a transformar o mercado. 

Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro

segunda-feira, 15 de abril de 2019

.: A Catedral de Notre-Dame, por Mauricio Fronzaglia

Hoje, vendo o incêndio que continua e continua, parece que as chamas queimam e machucam a história, os sentimentos e todos que frequentaram, pela vida e pela literatura, a igreja de Notre-Dame de Paris

Por: Mauricio Fronzaglia*

Meu primeiro contato com a igreja Notre-Dame de Paris foi um exercício de imaginação. Foi uma construção através da leitura do livro de mesmo nome, de autoria de Victor Hugo, em uma edição em português publicada, se não me engano, pelo clube do livro. Li nos primeiros anos dos anos 1990; em um tempo em que as enciclopédias eram o Google, as imagens disponíveis eram raras.

As descrições feitas por Victor Hugo da cidade de Paris, da Ilê de la Cité e da catedral de Notre-Dame formaram a imagem que fiz da igreja e da cidade anos antes que tivesse a oportunidade de conhecê-las, nos últimos anos do século passado. Ter seguido, pela leitura, os passos, os sentimentos e as angústias de Quasímodo (o corcunda) foi uma das mais belas e intensas experiências de leitura que tive.

Quando entrei pela primeira vez em Notre-Dame, meus passos foram lentos, meus olhares curiosos e meus sentimentos de admiração. Foi um sentimento intenso de estar maravilhado e espantado por tantas coisas e sensações belas. Eu estava entrando em um templo religioso, histórico e literário. Era como se pudesse vivenciar as tramas contadas no livro e os próprios sentimentos do autor ao escrever.

Era como se eu pudesse vivenciar as experiências sagradas dos que estiveram ali. Aos domingos, antes da missa das 18h30, o antiguíssimo órgão de tubos da Catedral acompanha os fiéis nos cantos que precedem e ocorrem durante a cerimônia. E, terminada a missa que nos remete aos rituais da idade média, o órgão continua a ser tocado por alguns minutos acompanhando e dando memórias aos devotos e visitantes que deixam Notre-Dame.

Retornei à igreja muitas e muitas vezes nos meses que vivi em Paris e a visitei todas as outras tantas vezes em que estive na cidade. É um rito obrigatório que me faz reviver e refazer a minha história e as histórias do local.

Hoje, vendo o incêndio que continua e continua, parece que as chamas queimam a machucam a história, os sentimentos e todos que frequentaram, pela vida e pela literatura, a igreja de Notre-Dame de Paris.

*Maurício Fronzaglia é especialista em relações internacionais

domingo, 24 de março de 2019

.: Artigo: o fim do funcionário do mês, por Luiz Gaziri

Toda estratégia que separa as pessoas em ganhadoes e perdedores tem um final trágico. Na tentativa de reconhecer o trabalho dos favorecidos, as empresas esquecem que grande parte dos demais acabam desclassificados, o que pode gerar a pior performance nas vendas.

Em “A Incrível Ciência das Vendas”, publicada pela Editora Leader, o autor Luiz Gaziri, consultor, professor de pós-graduação na PUC-PR e FAE Business School, explica que o reconhecimento que a empresa confere para os funcionários do mês gera o mal justamente para as pessoas beneficiadas.

Estudos científicos já comprovaram que os colaboradores preferem se relacionar com pessoas parecidas com elas mesmas e, como nesse caso, a maioria estará em posições desfavoráveis, eles formarão um grupo que será diferente daquela pequena parcela favorecida. Pode parecer que não afetará o rendimento da empresa, mas quando existe essa forte separação, um grupo começa a boicotar o outro.

O autor também esclarece que a performance de um vendedor não depende apenas dele mas tem uma relação direta com a segurança financeira ou falta dela. A prática acaba intoxicando o ambiente de trabalho com a negatividade e a culpa são dos gestores.

O reconhecimento através de prêmios e outras ações que exaltam poucos, pode prejudicar ambos os lados, a falta de conhecimento científico fará que muitas companhias continuem boicotando a si mesmas. Uma equipe que recebe os prêmios certos, define suas próprias metas e não são avaliadas somente através de rankings certamente obterão resultados excelentes em longo prazo.

Sobre o autor: Luiz Gaziri fez a escolha feliz de deixar a sua carreira de quinze anos como executivo para ensinar pessoas e empresas a aplicarem comprovações científicas nas mais variadas situações do seu dia a dia. Gaziri, além de ser o autor de A Incrível Ciências das Vendas, possui formações acadêmicas nos Estados Unidos, Inglaterra e Brasil, é professor de pós-graduação na PUC-PR, FAE Business School e ISAE/FGV. Também atua com consultorias, treinamentos e palestras corporativas, atendendo clientes como Armani Casa, Cyrela, Unimed, Arauco, SBT, Sicredi, Consórcio Iveco, entre outros dos mais variados portes e segmentos.

sábado, 16 de março de 2019

.: Briga de gigantes: a corrida do streaming atrás do Netflix

Por Roney Giah


Em Hollywood, a expressão “produção Netflixiana” é quase tão comum como produção Hollydyana. Até Spielberg entrou em uma briga, recentemente, fazendo uma campanha para a retirada de filmes produzidos pelo Netflix no pleito ao Oscar. Perdeu, obviamente. Em uma guerra como essa é esperado muito dinheiro, know-howem produção, estratégia e tecnologia. Os velhos lobbies da indústria cinematográfica não serão suficientes para combater essenovo formato de entretenimento.

Enquanto a Netflix anuncia que vai investir, em 2019, US$ 15 bilhões em conteúdo original, e a Amazon – vice-líder na categoria investirá US$ 6 bilhões –,demais interessados no mercado de streamingcomo Facebook, YouTube, Apple, DC Universe e Disney, que prepara o lançamento de sua própria plataforma em 2020, estão demorando abrir as carteiras para entrar na corrida.

Entre elas, a que parece mais entender o tamanho do desafio é a Disney. Com anúncio de investimento em conteúdo original de US$ 16 bilhões para 2019 (US$1 bi a mais do que a Netflix), a recente aquisição da Fox e investimentos feitos em tecnologia – como a aquisição da BAMTech, que fará o back-end da sua infraestrutura streaming – a empresa do Mickey Mouse promete entrar para a corrida pelo primeiro lugar, o que beneficiará tanto os usuários como a indústria audiovisual.

Essa agressividade de investimento da Disney não é gratuita: qualquer um dos novos players que desejarem uma parcela de market sharedo streaming, deve ter em mente que a Netflix lidera o mercado com 137,1 milhões de usuários no mundo e detém 51% dos usuários de streaming nos Estados Unidos.

No Brasil, a Globo também se prepara, anunciando o aumento de investimento em 2019 na plataforma GloboPlay. Embora não revele números, a movimentação revela uma atitude de preocupação em se posicionar na corrida streaming no país.

Um fator que pode desestabilizar essa corrida – e que é pouco levado em conta em muitas análises – é a tecnologia, uma vez que os algoritmos terão uma parcela importante desse sucesso. Facebook, YouTube e Apple prometem usar um Big Data próprio para oferecer ao mercado produtos mais assertivos e uma divulgação mais eficiente a determinados targets. Resta, agora, esperar as próximas jogadas e preparar a pipoca.

Roney Giah é fundador da Doiddo Filmes. Formado em música pelo MIT de Los Angeles e em Engenharia de som pelo I.A.V., Giah trabalha desde 1996 como produtor de áudio & account director produzindo trilhas e coordenando o audio de campanhas para marcas como Colgate, HSBC, Pringles, Mattel, Zorba, Bank of America, AOC, Lojas Marisa para as principais agências do mercado. Em 2014, fundou a Doiddo Filmes expandindo sua atuação para a produção audio visual. Como diretor de cena e de animação, já trabalhou para agências como WMcCann, Young & Rubicam, Talent Marcel, Havas WW, Mullen Lowe Brasil para marcas como NET, Nestlé, ASICS, TNT Energy Drink, Kaiser, Telecine, Merck Sharp & Dhome e Shopping D. Em 2016, Giah conquistou dois Cannes: um Leão de Ouro e um Leão de Prata com o videocase “Parkinsounds” e com a mesma peça ganhou 3 Clio Awards (2 de ouro e um de prata). Em 2017, Roney ganhou mais um Cannes: Leão de Prata na categoria entertainment for music. Em 2018, foi escolhido pelo grupo Fox para dirigir a série “Escolinha dos Deuses”. 

sexta-feira, 8 de março de 2019

.: Ana Beatriz Brandão: lugar de mulher é na literatura e onde ela quiser!


Por Ana Beatriz Brandão*, em março de 2019 - entrevista com ela neste link.

Depois do lançamento dos meus livros “O Garoto do Cachecol Vermelho” e “A Garota das Sapatilhas Brancas”, recebi muitas mensagens e e-mails de leitoras contando que passaram por abusos como a personagem Melissa, e que se inspiraram na coragem da personagem para denunciar os agressores.

 “Eu senti medo, tive dúvidas se deveria denunciar. Só que, se eu o protegesse, com certeza ele faria aquilo de novo; se não comigo, com outra. E eu seria, de certa forma, cúmplice dessa violência”. (trecho do livro “O Garoto do Cachecol Vermelho”)

Todos os relatos me inspiraram a escrever esta crônica, principalmente para o Dia Internacional das Mulheres, pois me dei conta da força e da importância que a literatura tem na vida das pessoas. E do quanto é importante o autor ser consciente quando escreve suas histórias.

A violência contida nas histórias me emocionou e entristeceu, mas a coragem que essas leitoras tiveram de dar um basta em tudo o que estavam passando, me trouxe um alivio imenso, pois tive a certeza que consegui passar a mensagem certa, de que toda violência deve ser denunciada, que não devemos nos calar. Dá medo, mas calar é o mesmo que aceitar, permitir que o agressor faça o mesmo com outras mulheres.

Nós, escritores, somos formadores de opinião. Quem lê nossas histórias são sempre tocadas por elas de alguma forma, e devemos usar nosso amor pelas palavras para levar a mensagem certa. Não podemos romantizar nenhum tipo de abuso, seja ele de cunho físico ou psicológico. Não devemos tornar algo como um namorado batendo em uma mulher, ou um cara lindo e rico abusando emocionalmente de uma garota, em algo romântico.

 A submissão não salva e nem transforma ninguém em uma pessoa boa! 

Geralmente é isso que vemos em algumas histórias: essa mensagem de que se você for boazinha e submissa, aquele cara lindo e rico, que te xinga, bate, se aproveita de uma situação de poder para te humilhar, vai se transformar em um príncipe encantado e te amar para o resto da vida.

Ser mulher não é ser fraca, submissa, oprimida. Ser mulher deve ser significado de empoderamento. E já passou da hora de nós nos apossarmos disso!

O fato de tudo ser permitido na literatura não significa que tudo pode ser feito sem responsabilidade. Imagine se as leitoras dos relatos que recebi tivessem lido uma Melissa aceitando o abuso que sofreu? Qual teria sido a repercussão que isso teria tido na vida dela? Será que ela teria denunciado seu agressor?

Quem ama de verdade não faz sofrer, não abusa, não humilha, não maltrata, não espanca.

Já é passada a hora de nós nos unirmos para fazer deste um mundo melhor, com mais compaixão, respeito e aceitação. Devemos nos unir em prol de algo que vai muito além da busca por sermos lidos. Devemos nos unir para tornarmos a vida dos nossos leitores melhor. E tomo também para mim, minhas palavras.

Espero ver uma literatura nacional forte, com os autores recebendo o reconhecimento que merecem, tendo destaque nas livrarias de todo o país, e conquistando o mundo. Mas para isso, precisamos mostrar que não é “romântico” a violência. Coisas como: abuso, maus tratos, homofobia, transfobia, racismo, criminalidade e palavras preconceituosas por causa de características físicas não são aceitáveis. Devemos escrever sobre esses temas com a consciência de que também temos que mostrar que para toda ação, existe uma reação. Que atos como esses não são “bonitos e românticos”.

E deixo um recadinho para minhas anjinhas leitoras:

Você é especial, maravilhosa e poderosa. Ninguém pode tirar o brilho que você tem dentro do seu coração. Ele pode estar meio apagado, escondido pela dor, ou pelo sofrimento, mas ele está aí, só esperando que você o deixe sair. Ninguém pode te fazer sofrer ou te humilhar. Não aceite ser menosprezada ou subjugada por ninguém! Você merece ser amada, ser valorizada, ser respeitada!

E lembre-se: VOCÊ NÃO É OBRIGADA A NADA!

Que o Dia Internacional da Mulher as palavras de “parabéns pelo seu dia” sejam trocadas por atos de respeito e reconhecimento.

.: Capitã Marvel e os desafios a serem vencidos na ficção e na realidade


Por Efrem Pedroza*, em março de 2019.

Carol Danvers surgiu nas histórias em quadrinhos no ano de 1968. Criada por Roy Thomas e Gene Colan, que deu a Danvers o nome de Ms. Marvel, a opção ao “Ms.” tinha relação direta com um contexto da época. Nos anos 70 “Miss” (utilizado para mulheres solteiras) e “Mrs” (destinado às mulheres casadas) eram termos consolidados. Então, Gene Colan resolveu adotar o “Ms”, prefixo que representava a mulher independente e que elevou a super-heroína a um novo patamar, associando-a ao movimento feminista.

Durante anos, Carol Danvers ficou conhecida como Ms. Marvel, mas sua história de codinomes é bem maior. Seu início nas histórias em quadrinhos foi como Major Carol Danvers, da Força Aérea dos Estados Unidos, e que ao se tornar a super-heroína, assumiu a identidade de Ms. Marvel. Entre idas e vindas nas HQ’s, quando se transformou praticamente em uma entidade galáctica, adotou o nome de Binária e, por fim, voltou a usar Ms. Marvel que, na sequência, foi trocado pelo nome de seu mentor (Mar-Vell), adaptando a forma feminina de Capitã Marvel. 

História das histórias em quadrinhos a parte, o fato é que a figura da Capitã Marvel se tornou um ícone do feminismo e se mantém até os dias de hoje. Aproveitando o embalo de protagonistas femininas no cinema e na TV é importante ressaltar que, nas histórias em quadrinhos, Carol Denvers é grande amiga de Jessica Jones (sim, a da série cancelada recentemente pela Netflix). A decisão de incluí-la na websérie foi cancelada quando os estúdios da Marvel decidiram fazer um filme solo da Capitã.

Brie Larson, a atriz que viverá a personagem nas telonas, é declaradamente uma ativista da causa feminista. Mais do que isso, Larson luta não só pela igualdade de gêneros, como também pela diversidade e a inclusão no cinema e fora dele.

Recentemente, em entrevista dada à revista Marie Claire, Larson explicou que na divulgação de seus trabalhos anteriores sempre foi entrevistada pelo mesmo tipo de pessoa - no caso homens brancos - e que ela gostaria de ver entrevistadores mais diversos. Em suma, o que ela defendia era a diversidade e não a exclusão. Tirado desse contexto e transformado em fake news pelos famosos haters, começou um movimento brutal na internet para sabotar o filme da Capitã Marvel, negativando o longa no Rotten Tomattoes e IMDb, baixando sua média de qualidade antes do filme estrear nos cinemas. O Rotten Tomattoes inclusive desativou, temporariamente, a opção de antecipação do filme aos internautas.

O filme que inaugurou a era das super-heroínas no cinema, "Mulher-Maravilha" também levantou questões parecidas com grupos que pregam um discurso raivoso e que também atacaram filmes como "Pantera Negra" e "Star Wars: O Despertar da Força", mas que foram sucesso de crítica e público.

Fato é que "Capitã Marvel", de acordo com pesquisas recentes, aponta na direção de uma bilheteria de sucesso. Além de se juntar à figura icônica da Mulher-Maravilha nessa luta pelo protagonismo feminino em Hollywood, que aos poucos está aderindo a uma cultura inclusiva e diversa, a super-heroína vem com tudo para enfrentar Thanos e sacramentar mais um rompimento de paradigmas, não apenas a favor da mulher, mas a favor da humanidade na ficção e principalmente na realidade.

*Efrem Pedroza possui graduação em Letras - Tradutor e Intérprete (2006). Pós-graduado Lato Sensu em Administração de Empresas pela UNIFMU/FMU (2009). Pós-graduado Stricto Sensu em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC - SP (2014). Atualmente é professor do FIAM-FAAM - Centro Universitário e ministra aulas para o curso de Rádio, TV e Vídeo (graduação) e Cinema (pós-graduação) - curso idealizado e criado pelo próprio. Foi integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de graduação de Rádio, TV e Vídeo do FIAM-FAAM - Centro Universitário e um dos membros fundadores do Núcleo de Estudos de Histórias em Quadrinhos Álvaro de Moya do FIAM-FAAM - Centro Universitário. Além das atividades como professor é Crítico de Cinema e TV no programa "De Bem com a Vida" da Rede Gospel de televisão. Também é Crítico de Cinema e TV, locutor e radialista na Rádio Energia 97FM e tem um programa na webrádio BARUK FM, intitulado "CinemArte: A História do Cinema contada com toda Propriedade". Tem uma coluna de críticas de cinema no Jornal Rodonews (tiragem: 25.000 exemplares) e Jornal do Monotrilho (tiragem: 20.000 exemplares). Tem um canal no YouTube sobre cinema e cultura pop intitulado "Raio Ômega!" que é subsidiado pela rádio Energia 97 FM (97,7).

quinta-feira, 7 de março de 2019

.: Artigo: Século XXI demanda novas formas de pensar


Por Marília Cardoso*, em março de 2019.

"O que te trouxe aqui, não te levará até lá”. A célebre frase do coach norte-americano Marshall Goldsmith, que dá título a seu livro, sua como uma espécie de mantra que precisa ser recitado diariamente por todos os profissionais do século XXI. Contudo, a grande maioria parece preferir ignorar que as velhas receitas não têm mais surtido os mesmos efeitos. Estamos vivendo o século XXI com a mesma mentalidade do século XX.

Para entender melhor a necessidade latente de mudar a forma como pensamos, cabe refletirmos um pouco sobre a história da humanidade. A sociedade se organizou em grupos, trocando mercadorias que eram cultivadas por suas próprias famílias. Na era agrícola, que esteve vigente até 1750, tínhamos comunidades agrárias, que usava a terra como forma de sustento. Mais para o fim dessa era, foram criadas pequenas máquinas, onde o produtor possuía os meios de produção. Os artesãos conheciam todo o ciclo: da compra da matéria-prima até a venda. As famílias produziam juntas e as tradições eram transmitidas de geração para geração.

Logo após esse período, em torno de 1750, a humanidade viveu a chamada Revolução Industrial, dando sequência a uma nova era. Com o desenvolvimento da energia elétrica e das máquinas à vapor, tivemos a segmentação do trabalho e a larga escala. Cada trabalhador passou a fazer apenas uma parte do processo, não tendo conhecimento do todo. Dessa forma, era necessário desenvolver um raciocínio linear, segmentado, repetitivo e previsível. Quem apertasse o maior número de parafusos no menor período de tempo, seria eleito o melhor funcionário da fábrica.

Com o avanço das tecnologias, na década de 1990, entramos na era digital, ou era da informação. As distâncias diminuíram e vimos o mundo se globalizar. Muitas profissões deixaram de existir e outras foram criadas. Tivemos acesso ao trabalho remoto e compartilhado, onde o escritório pode ser em qualquer lugar. O raciocínio passou a ser não-linear, conectado, multidisciplinar e imprevisível. Passamos a viver múltiplas experiências simultâneas, recebendo informações de vários canais de forma instantânea. Novos modelos de negócios surgiram e vimos o nosso cotidiano se modificar drasticamente.

Apesar das imensas transformações que já duram quase três décadas e mostram que a mudança e a liquidez são a nova constante, algo parece continuar intacto em todo esse processo. Por mais incrível que pareça, continuamos com o mesmo pensamento linear, segmentado, repetitivo e previsível que aprendemos na era industrial. Muito dessa questão deve-se ao fato de que, embora a nossa rotina tenha se transformado tanto, a nossa forma de aprender se manteve praticamente intacta.

Em pleno século XXI, nossas crianças ainda vão para as escolas uniformizadas, são classificadas por idade e não por aptidões e interesses, ouvem um alarme para sinalizar o horário da entrada, do intervalo ou da saída. Tudo perfeitamente preparado para que elas saiam dali e estejam aptas a trabalhar em uma fábrica. As escolas surgiram na era industrial justamente para facilitar esse trabalho massificado e escalável. Quanto mais “dentro da caixa” uma pessoa estivesse, mais lucro traria para o dono da fábrica.

O fato é que hoje o mundo não funciona mais desse jeito. O setor de serviços só cresce. As novas tecnologias estão possibilitando a criação de negócios que seriam impossíveis em outros tempos. Sendo assim, fazer carreira em uma fábrica não é mais a única opção para um profissional. Existe um universo de possibilidades e, por mais que muitos temam que os robôs roubem nossos empregos, creio que eles vão apenas criar novas oportunidades de trabalho.

Agora, estamos entrando em uma nova era, a chamada GNR (Genética, Nanotecnologia e Robótica). Vamos ver cada vez mais novidades que vão impactar a nossa saúde, o nosso trabalho, as nossas relações sociais e o nosso jeito de viver. E, acredite, isso é muito bom! Quem teme um universo de escassez, onde a inteligência artificial dominará o mundo, está pensando de forma linear, com um olhar para o passado e não para o futuro. Sair da zona de conforto incomoda, dói, dá trabalho. Mas, se pensarmos bem, vamos ver que a humanidade só progrediu até hoje. As máquinas aliviaram o trabalho do homem e possibilitaram um mundo de descobertas.

Não imagino que pessoas que tinham como trabalho ascender lampiões no século XVII, tenham morrido de fome quando foi inventada a lâmpada, por Thomas Edison. O mesmo não deve ter acontecido com os cocheiros quando houve a substituição das charretes pelos automóveis. O que dizer então dos ascensoristas, que até pouco tempo atrás passavam a vida subindo e descendo de elevador entre os andares de um prédio? Por mais digna que todas essas profissões tenham sido, hoje elas não são mais necessárias. Muitas outras foram criadas. Tenha em mente que todo trabalho que a máquina faz melhor que o humano, é um trabalho desumano.

Estamos vivendo a era do propósito. O sentido do trabalho vai muito além de pagar as contas. Aliás, a vida como um todo precisa de sentidos mais profundos. Não tem muita lógica vivermos 60, 70, 80 anos trabalhando para pagar boletos e fazendo dietas para emagrecer. Precisamos ir em busca de significados e prazeres que vão muito além de estar em dia com as contas e a balança. Queremos construir uma história. Queremos ser protagonistas e não meros coadjuvantes. Queremos criar e não apenas consumir.

Nesse sentido, precisamos repensar nossas vidas e nossas carreiras. Mas, se fizermos isso usando a mesma cartilha que tivemos até aqui, entraremos em desespero e sofrimento, receosos pelo futuro. Como disse Goldsmith, o que nos trouxe até aqui não será suficiente para nos levar adiante. É hora de agradecer ao passado, aproveitar o que faz sentido e recomeçar. Estamos entrando em um momento onde é necessário divergir para convergir. Descontruir para reconstruir. Pode parecer estranho e muito desconfortável no começo, e de fato é mesmo, mas com o tempo isso se tornará um hábito. Logo, você estará pensando de uma forma diferente, muito mais coerente com os dias atuais.

Carl Jung, um dos maiores psiquiatras da história, disse que “todos nós nascemos originais e morremos cópias”. Quando crianças, somos espontâneos, inocentes e não nos preocupamos com as convenções sociais. Somos criativos, leves, fluidos. Mas, nossos pais logo tratam de nos moldar, impondo regras e ensinando boas maneiras. Depois, vamos para as escolas e o trabalho de formatação em caixas sólidas, rígidas e inflexíveis é concluído com maestria. Quando recebemos nossos diplomas, nos sentimos prontos para o mundo. Só que esse mundo simplesmente já não existe mais.

Num contexto em que a tecnologia terá ainda mais aplicações, eliminando o trabalho do homem, teremos que nos superar, sendo muito melhores naquilo que eles jamais conseguirão fazer. O Diretor do departamento de Educação e Competências em Educação da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Andreas Schleicher, diz que “a escola tem de conseguir produzir humanos de primeira, não pode continuar a originar robôs de segunda”.

Aquele velho dilema dos alunos decorarem dezenas de fórmulas, sem saber o verdadeiro sentido de suas aplicações, parece finalmente estar sendo questionado. Avaliações que levam em consideração apenas o erro e o acerto, deixando de lado conceitos como a estratégia, o esforço e o progresso de cada estudante começam a perder lugar. Uma educação focada em preparar pessoas para o vestibular e não para a vida, não faz mais o menor sentido na era GNR.

O século XXI requer o desenvolvimento das competências comportamentais, sociais e principalmente emocionais. Precisamos criar seres originais, inventivos, criativos e autênticos. Chega de retroalimentar aquele velho ciclo de trabalhar mais do que deve, para comprar o que não precisa, com um dinheiro que não tem, a fim de impressionar quem a gente nem gosta. É hora de recriar a nossa existência. Para isso, precisamos, antes de mais nada, buscar novas formas de pensar, projetadas para o futuro e não para o passado. Andar para a frente olhando apenas o retrovisor certamente não vai nos levar “até lá”.  

* Marília Cardoso é jornalista, com pós-graduação em comunicação empresarial e MBA em Marketing. É empreendedora, além de coach, facilitadora em processos de Design Thinking, consultora e professora de inovação. Ama aprender e é adepta do Growth Mindset.

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