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sábado, 30 de dezembro de 2023

.: Tudo sobre "Opúsculo Humanitário", de Nísia Floresta, livro cobrado pela Fuvest


Um dos livros cobrados pela Fuvest em 2026, "Opúsculo Humanitário" reúne textos da educadora, escritora e poetisa potiguar Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, pioneira na educação feminista no Brasil, com protagonismo nas letras, no jornalismo e nos movimentos sociais.

Em "Opúsculo Humanitário", publicado no Rio de Janeiro em 1853, encontra-se a síntese do pensamento de Nísia Floresta sobre a educação feminina. Trata-se de uma coletânea de 62 artigos publicados na imprensa carioca após a sua primeira viagem à Europa. Os textos iniciais traçam um histórico da condição feminina em diversas civilizações, desde a antiguidade clássica ao século XIX.

Para ela, o desenvolvimento material e intelectual de um país, está relacionado ao lugar ocupado pelas mulheres na sociedade. Sobre o Brasil, a educadora afirma que a instrução das meninas significaria o acesso da nação brasileira no rol das civilizações modernas. O antiescravismo de Nísia Floresta evidencia-se também em suas referências às relações no âmbito doméstico e o seu reflexo na educação de meninas. 

Segundo ela, o tratamento rude dado aos escravos e até às amas de leite por seus senhores era um péssimo exemplo de “revoltante ingratidão”. Ainda que brevemente, Nísia Floresta menciona no "Opúsculo Humanitário" o movimento de incentivo ao aleitamento materno. Na última parte do livro, a autora critica as escolas e o ensino no Brasil, valendo-se de dados oficiais, posicionando-se contrariamente ao governo sobre a falta de direcionamento educacional, sobretudo na educação de meninas.

Nesta coleção de artigos sobre emancipação feminina, que foi merecedor de uma apreciação favorável de Auguste Comte, pai do positivismo, a obra sintetiza o pensamento da autora sobre a educação feminina, além de abordar a pedagogia de forma geral e apontar críticas a instituições de ensino da época. A ideia de rompimento com a esfera privada, atribuída a Nísia, está diretamente relacionada com sua escrita. Compre o livro "Opúsculo Humanitário", de Nísia Floresta, neste link. 


Sobre a autora
Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, (Papari, 12 de outubro de 1810 - Rouen, França, 24 de abril de 1885) foi uma educadora, escritora e poetisa brasileira. Primeira na educação feminista no Brasil, com protagonismo nas letras, no jornalismo e nos movimentos sociais. Defensora de ideais abolicionistas, republicanos e principalmente feministas, posicionamentos inovadores na época, influenciou a prática educacional brasileira, rompendo limites do lugar social destinado à mulher. Capaz de estabelecer um diálogo entre ideias europeias e o contexto brasileiro no qual viveu, dedicou obras e ensinos sobre a condição feminina e foi considerada pioneira do feminismo no Brasil, além de denunciar injustiças contra escravos e indígenas brasileiros.

No cenário de mulheres reclusas ao casamento e maternidade, diante de uma cultura de submissão, foi a primeira figura feminina a publicar textos em jornais, na época em que a imprensa nacional ainda engatinhava. Dionísia Pinto ainda dirigiu um colégio para meninas na cidade do Rio de Janeiro e escreveu diversas obras em defesa dos direitos das mulheres, índios e escravos, envolvendo-se plenamente com as questões culturais de seu tempo, através de sua militância sob diversas vertentes. Garanta o seu exemplar de  "Opúsculo Humanitário", escrito por Nísia Floresta, neste link.


Fuvest 2026

"Opúsculo Humanitário" (1853) - Nísia Floresta Brasileira Augusta

"Nebulosas" (1872) – Narcisa Amália

"Memórias de Martha" (1899) – Julia Lopes de Almeida

"Caminho de Pedras" (1937) – Rachel de Queiroz

"O Cristo Cigano" (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen

"As Meninas" (1973) – Lygia Fagundes Telles

"Balada de Amor ao Vento" (1990) – Paulina Chiziane

"Canção para Ninar Menino Grande" (2018) – Conceição Evaristo

"A Visão das Plantas" (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida


terça-feira, 21 de novembro de 2023

.: Cinema: "A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes", o livro que inspirou o filme


Escrito por Suzanne Collins, o livro "Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes", que inspirou o filme em cartaz na rede Cineflix Cinemas, é uma história da série "Jogos Vorazes". O romance começa com a manhã do dia da colheita que iniciará a décima edição dos Jogos Vorazes.

Na capital, o jovem de 18 anos Coriolanus Snow se prepara para sua oportunidade de glória como um mentor dos Jogos. A outrora importante casa Snow passa por tempos difíceis e o destino dela depende da pequena chance de Coriolanus ser capaz de encantar, enganar e manipular seus colegas estudantes para conseguir mentorar o tributo vencedor.

A sorte não está a favor dele. A ele foi dada a tarefa humilhante de mentorar a garota tributo do Distrito 12, o pior dos piores. Os destinos dos dois estão agora interligados – toda escolha que Coriolanus fizer pode significar sucesso ou fracasso, triunfo ou ruína. Na arena, a batalha será mortal. Fora da arena, Coriolanus começa a se apegar a já condenada garota tributo... e deverá pesar a necessidade de seguir as regras e o desejo de sobreviver custe o que custar. Garanta o seu exemplar de "Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes", escrito por Suzanne Collins, neste link.


Um dos filmes mais aguardados do ano, "Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" está em cartaz no Cineflix Cinemas. A prequel da franquia de sucesso conta a história Coriolanus Snow, de 18 anos, anos antes de se tornar o presidente tirânico de Panem. Ele vê uma chance de mudar sua sorte quando se torna o mentor de Lucy Gray Baird, o tributo feminino do Distrito 12.

O longa-metragem,  dirigido por Francis Lawrence e baseado em mais um livro de Suzanne Collins, tem, no elenco, Rachel Zegler, Hunter Schafer, Tom Blyth, Peter Dinklage, Viola Davis, Kjell Brutscheidt, Jason Schwartzman e Irene Böhm. Compre o livro "Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes", de Suzanne Collins, neste link.

Assista no Cineflix
"Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes"  está em cartaz no Cineflix Cinemas. O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

.: Conceição Evaristo participa da série "Encontros com Autores"


Evento acontecerá no dia 23 de novembro no Theatro Municipal de São Paulo; último encontro será com o autor vencedor do Livro do Ano do Jabuti 2023. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil


A escritora Conceição Evaristo, uma das vozes mais expressivas da literatura afro-brasileira contemporânea, participará do próximo “Encontros com Autores” do Prêmio Jabuti, uma série de diálogos promovida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Theatro Municipal de São Paulo. Este penúltimo encontro será realizado no dia 23 de novembro, no Salão Nobre do Theatro Municipal de São Paulo, às 19h, e terá a mediação de Catita.

Conceição Evaristo, nascida em Belo Horizonte e radicada no Rio de Janeiro desde a década de 1970, traz em sua trajetória um profundo compromisso com a valorização das raízes afro-brasileiras, tanto em sua atuação como educadora como em sua produção literária. Com uma sólida formação acadêmica, que inclui mestrado em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutorado em Literatura Comparada pela UFF, Evaristo utiliza sua escrita como uma ferramenta de luta e expressão, contribuindo significativamente para o debate sobre raça, gênero e classe social no Brasil.

Seus textos, que transitam entre a poesia, a ficção e o ensaio, têm ganhado cada vez mais destaque no cenário nacional e internacional, com participações em publicações na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Além disso, seus contos são objeto de estudos em universidades brasileiras e estrangeiras, reafirmando a importância e a urgência de suas narrativas. Catita fará a mediação deste encontro. Ela é “escrivinhadora”, professora e pesquisadora e atuante no cenário literário brasileiro, cofundadora do Coletivo de Escritoras Negras Flores de Baobá e sócia na Editora Feminas.

Este evento se insere na programação da série "Encontros com Autores", iniciada em setembro de 2023, que já reuniu grandes nomes da literatura brasileira, como Pedro Bandeira, Aline Bei, Itamar Vieira Jr.Jeferson Tenório e Luiza Romão. E para encerrar o ciclo de encontros, a próxima conversa será feita com o autor vencedor do Livro do Ano de 2023, que será anunciado na 65ª edição do Prêmio Jabuti no dia 5 de dezembro. A conversa será mediada pelo curador do prêmio, Hubert Alquéres, e pela presidente da CBL, Sevani Matos.

 

Confira abaixo a programação completa
Programação da série de “Encontros com Autores 2023”, no Theatro Municipal de São Paulo:

23 de novembro, quinta-feira, 19h. Encontro com Conceição Evaristo - Mediação de Catita, “escrivinhadora” e professora
Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, em 1946, e migrou para o Rio de Janeiro, na década de 1970. Graduada em Letras pela UFRJ, trabalhou como professora da rede pública de ensino na capital fluminense. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação “Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade” (1996). Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense, com a tese “Poemas malungos, cânticos irmãos” (2011), na qual estuda as obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira, em confronto com a do angolano Agostinho Neto. Participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país, estreou na literatura em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na série Cadernos Negros. Escritora versátil, cultiva a poesia, a ficção e o ensaio. Desde então, seus textos vêm angariando cada vez mais leitores. A escritora participa de publicações na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Seus contos vêm sendo estudados em universidades brasileiras e do exterior, tendo, inclusive, sido objeto da tese de doutorado de Maria Aparecida Andrade Salgueiro, publicada em livro em 2004, que faz um estudo comparativo da autora com a americana Alice Walker. Em 2003, publicou o romance “Ponciá Vicêncio”, pela Editora Mazza, de Belo Horizonte. Catita, a “escrivinhadora” e professora, fará a mediação desse encontro. Ela também é pesquisadora, editora, e co-fundadora do Coletivo de Escritoras Negras Flores de Baobá, além de sócia na Editora Feminas (desde 2022). Compõe suas obras, os livros Morada (Ed Feminas, 2019 - poemas), Notícias da Incerteza (Ed. Desconcertos, 2021 - crônicas) e Das Raízes à Colheita, em co-autoria com o coletivo Flores de Baobá (Ed Feminas, 2022). Compre os livros de Conceição Evaristo neste link.


7 de dezembro, quinta-feira, 19h. Encontro especial com o autor(a) vencedor (a) do Livro do Ano de 2023. Mediação - Hubert Alquéres e Sevani Matos
O último encontro terá realização especial. Contará com a presença do autor contemplado com a premiação de Livro do Ano de 2023. A conversa será mediada pelo Hubert Alquéres, que foi presidente da Imprensa Oficial de São Paulo, de 2003 a 2011. Atuante nas áreas de cultura e educação há mais de 40 anos, tem uma história antiga com o mais importante prêmio do livro brasileiro: durante seis anos, coordenou a Comissão do Prêmio Jabuti na Câmara Brasileira do Livro (CBL). Iniciou sua carreira na área acadêmica como professor na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes. Foi secretário estadual e secretário executivo na Secretaria de Educação, além de ter presidido por quatro vezes o Conselho Estadual de Educação de São Paulo, do qual é membro desde 1998.​ Atua como vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro há 12 anos. Preside a Academia Paulista de Educação e o Conselho de Administração do Museu AfroBrasil, e é membro da Associação Amigos da Biblioteca Mário de Andrade. A presidente da CBL, Sevani Matos, também participa deste bate papo que compõem a série de Encontros com Autores. Com mais de 20 anos de carreira nas áreas administrativa e comercial, com passagens por empresas nacionais e multinacionais, ela também atuou no setor gráfico de livros. Formada em Comunicação Social, Sevani possui MBA em Administração e Gestão de Negócios, além de especialização em Marketing Digital. Já trabalhou na Artmed Editora e, há mais de 16 anos, atua como diretora-geral na VR Editora. Foi eleita em 28 de fevereiro de 2023 para a presidência da CBL integrando a chapa “O livro nos une”, para o biênio 2023-2025. Sevani já ocupava o cargo de diretora na CBL.

domingo, 19 de novembro de 2023

.: “A Palavra que Resta”, livro de Stênio Gardel, vence o National Book Award


"A Palavra que Resta"
, romance de estreia de Stênio Gardel lançado pela Companhia das Letras em 2021, venceu o National Book Award na categoria Literatura Traduzida. O prêmio foi entregue na última quarta-feira, dia 15 de novembro, em Nova Iorque para o autor e para a tradutora, Bruna Dantas Lobato, que traduziu o texto para inglês na edição da New Vessel Press, intitulada The Words That Remain.

É a primeira vez que um livro brasileiro vence o National Book Award, um dos mais importantes prêmios literários dos Estados Unidos, concedido anualmente aos melhores livros escritos ou traduzidos para o português. Na categoria vencida por "A Palavra que Resta", entre as indicações havia livros de Pilar Quintana, David Diop e Bora Chung.

Cearense de Limoeiro do Norte, Stênio Gardel trabalha no Tribunal Regional Eleitoral de seu estado natal, e é especialista em Escrita Literária. A palavra que resta é seu primeiro romance e foi escrito durante os Ateliês de Narrativa ministrados pela escritora Socorro Acioli em Fortaleza. O livro narra a trajetória de Raimundo, homem analfabeto que na juventude teve seu amor secreto brutalmente interrompido e que por cinquenta anos guarda consigo uma carta que nunca pôde ler.

Com uma narrativa sensível e magnética, o autor nos leva pelo passado de Raimundo, permeado de conflitos familiares e da dor do ocultamento de sua sexualidade, mas também das novas relações que estabeleceu depois de fugir de casa e cair na estrada, ressignificando seu destino mais de uma vez. "Alcançar tamanha realização, com meu primeiro romance, com essa história tão pedaço de mim, me deixa não apenas impressionado, mas com um imenso sentimento de realização”, diz Stênio Gardel. Em seu discurso de agradecimento após receber o prêmio, ele relembrou a infância no Ceará enquanto um homem gay no sertão do Nordeste. O discurso completo está no Blog da Companhia das Letras. Compre o livro "A Palavra que Resta", de Stênio Gardel, neste link.

domingo, 12 de novembro de 2023

.: Rafael Gallo: "Minhas histórias sempre são uma forma de lidar com questões"


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com. 

Rafael Gallo acaba de publicar uma nova versão de "Rebentar", romance vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2016. "O que motivou a nova versão foi uma vontade, já de alguns anos, de mudar certos aspectos do texto, que me pareciam inadequados e de colocar um pouco mais de sal nas personagens", ele explica. O livro, que narra o momento de reconstrução de uma mãe que decide parar de buscar seu filho desaparecido, tem texto de orelha do escritor João Anzanello Carrascoza.

Paulistano nascido em 1981, ele também é autor dos romances "Dor Fantasma"vencedor do Prêmio José Saramago 2022, w do livro de contos "Réveillon e Outros Dias", vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2012. Tem ainda diversos textos em antologias e coletâneas, incluindo publicações em países como França, Estados Unidos, Cuba, Equador e Moçambique. Nesta entrevista exclusiva, o premiado autor fala sobre o processo de reescrita do livro, criação artística e autobiografia. Garanta o seu exemplar de "Rebentar", escrito por Rafael Gallo, neste link.

Resenhando.com - Como foi reencontrar "Rebentar" e o que motivou a nova versão do livro?
Rafael Gallo - O que motivou a nova versão foi uma vontade, já de alguns anos, de mudar certos aspectos do texto, que me pareciam inadequados e, confesso, me davam um pouco daquela vergonha de ter escrito, e de colocar um pouco mais de sal nas personagens, digamos. E foi uma experiência ótima revisitar a história, que é tão importante para mim. Eu logo me senti em casa, ali.

Resenhando.com - O que representa a literatura em sua vida?
Rafael Gallo - Muitas coisas, desde uma possível distração em um tempo ocioso, até uma parte muito grande, e fundamental, da minha formação intelectual e emocional.

Resenhando.com - Na sua própria literatura, em que você se expõe mais, e por outro lado, em que você mais se preserva, em seus textos?
Rafael Gallo - É difícil dizer com precisão. Creio que minhas personagens, e minhas histórias, sempre são uma forma de lidar com questões que são muito importantes para mim, muito íntimas e que me tiram o sono. Se coloco essas questões para serem tratadas com personagens aparentemente distantes de mim, em seus tipos e características, não é para me preservar ou me esconder, mas porque acho que essas formas de construção podem representar melhor o que quero dizer.

Resenhando.com - Que conselhos você dá para as pessoas que pretendem enveredar pelos caminhos da escrita?
Rafael Gallo - O primeiro é o de sempre: ler muito. Não há outra maneira de aprendizado melhor do que estar imerso no que quer fazer. O segundo conselho tem a ver com essa parte de querer: pense no que você ama mesmo. Se for a história e a escrita, então importe-se com isso. E o terceiro e último: tenha paciência e saiba que terá de lidar com muito do imponderável.

Resenhando.com - Quais livros foram fundamentais para a sua formação enquanto escritor e leitor?
Rafael Gallo - Muitos. Para citar alguns: “Laços de Família”, da Clarice Lispector; “Várias Histórias”, Machado de Assis; “Final de Jogo”, Julio Cortázar; “Sinfonia em Branco”, Adriana Lisboa; “Cemitério de Pianos”, José Luís Peixoto; “Ensaio sobre a Cegueira”, José Saramago; “Primeiras Estórias”, João Guimarães Rosa, e muitos outros.


Resenhando.com - Como e quando começou a escrever?
Rafael Gallo - De certa forma, desde muito pequeno eu lido muito com a imaginação e com a criação de histórias. Desenhava histórias em quadrinhos, inventava histórias na minha cabeça e tudo mais. Depois, ao longo da vida, flertei com aqueles poemas de adolescente, escrita de letras de canções autorais, tentativas de prosa etc. Mas, escrever mais a sério, com um “projeto literário”, digamos, foi mais perto dos 30 anos de idade. A época de meu primeiro livro mesmo, “Réveillon e Outros Dias”.

Resenhando.com - Quais escritores mais influenciaram a sua trajetória artística e pessoal?
Rafael Gallo - Muitos, incluindo todos que citei na pergunta sobre livros da minha formação. Vou acrescentar mais nomes aqui, para aproveitar a chance: João Anzanello Carrascoza, Maurício de Almeida, Dulce Maria Cardoso, Milan Kundera, Inês Pedrosa, Mário de Andrade. E poderia citar alguns cancionistas, como Chico Buarque, Noel Rosa, Aldir Blanc, Tom Jobim, Caetano Veloso. Todas essas pessoas me ensinaram voos que a palavra pode erguer, para além do uso comum.

Resenhando.com - É possível viver de literatura no Brasil?
Rafael Gallo - Possível, é; só não é fácil e tampouco comum. Dá para contar nos dedos quem consegue isso, de verdade. Porque a gente não pode colocar nessa conta quem não tem outros trabalhos, porém, o dinheiro que paga as contas precisa ser garantido por outra fonte ou pessoa. O difícil é conseguir que, em um país onde a literatura está longe do centro da atenção, haja remuneração suficiente e duradoura.

Resenhando.com - O quanto para você escrever é disciplina? É mais inspiração ou transpiração? Por quê?
Rafael Gallo - Para mim, tem tudo a ver com disciplina. Porém, com uma ideia de disciplina que não é rígida; é uma questão de lembrar-se a si mesmo o que é que você quer, como ouvi, certa vez, de Gil Fronsdal. E, para mim, é bastante trabalhoso. Há a parte de ter ideias, que, no meu caso, costuma acontecer mais fora do ambiente de escrita diretamente. A parte de escrever é mais trabalhosa, no meu caso.

Resenhando.com - Quanto tempo por dia você reserva para escrever?
Rafael Gallo - Não há tempo definido. Em geral, tento ter o máximo que posso.

Resenhando.com - Você tem um ritual para escrever?
Rafael Gallo - Colocar música nos fones de ouvido, comer chocolate e ler algo bom antes.

Resenhando.com - Em um processo de criação, o silêncio e isolamento são primordiais para produzir conteúdo ou o barulho não o atrapalha?
Rafael Gallo - Eu gosto de ouvir música, porque é uma espécie de “som controlado” para mim. Silêncio mesmo não existe, então se eu não ouço música, me distraio com cada ruído que aparece (e eles sempre aparecem). Além do mais, a música me dá uma espécie de injeção de ânimo.

Resenhando.com - O que há de autobiográfico nos textos que escreve?
Rafael Gallo - Tudo, embora pareça que não haja nada.

Resenhando.com - Como começar a ler Rafael Gallo?
Rafael Gallo - Eu sugiro pelos romances, que acredito serem meus trabalhos mais bem acabados. Se for ler o “Rebentar”, garanta que é a nova versão, a de 2023, está escrito na capa, no canto inferior esquerdo.

Resenhando.com - Por qual de seus livros - ou personagem - você sente mais carinho?
Rafael Gallo - Isso é impossível responder. Tenho muito carinho por cada um deles. Talvez seja meu traço mais importante, na hora de escrever.

Resenhando.com - Que livro você gostaria de ter escrito?
Rafael Gallo - “Ensaio Sobre a Cegueira”, do José Saramago. Porque, na minha opinião, é uma história que mostra, da melhor maneira possível, os grandes nós da humanidade. É quase como se fosse a explicação definitiva do funcionamento dos seres humanos; em especial, nas relações coletivas. E, além disso, acho a condução narrativa desse livro perfeita.

Resenhando.com - Hoje, quem é Rafael Gallo por ele mesmo?
Rafael Gallo
O mesmo garoto que sonhava em criar histórias, só um pouco aprimorado.  

Compre o livro "Rebentar", de  Rafael Gallo, neste link.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

.: Itamar Vieira Junior fala sobre sucesso de suas obras em encontro literário


Itamar Vieira Junior fala sobre sucesso de suas obras no “Encontros com Autores” do Prêmio Jabuti 2023. Conversa com o autor acontecerá no dia 27 de outubro na Praça das Artes em SP; Jeferson Tenório e Conceição Evaristo serão os próximos convidados da série, que acontece até o início de dezembro. Foto: divulgação


O "Encontros com Autores 2023" continua surpreendendo os amantes da literatura com uma nova edição marcada para o dia 27 de outubro, na Sala do Conservatório da Praça das Artes, em São Paulo. Desta vez, o evento trará Itamar Vieira Junior, autor do aclamado romance"Torto Arado", que conquistou os prêmios Jabuti de 2020, LeYa de 2018, e Oceanos de 2020.

Itamar Vieira Junior, nascido em Salvador, Bahia, em 1979, é geógrafo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA. Seu romance "Torto Arado" é considerado um dos maiores sucessos da literatura brasileira das últimas décadas, cativando tanto o público quanto a crítica literária. A obra já foi traduzida para mais de vinte países e está prestes a ser adaptada para o audiovisual. Além de "Torto Arado", Itamar publicou outros trabalhos notáveis, como "Doramar ou a Odisseia: Histórias" e "Salvar o Fogo", pela editora Todavia.

O evento será mediado por Guilherme Sobota, editor-chefe do PublishNews. Com uma sólida formação em jornalismo pela UFPR e experiência no mercado editorial, Sobota mediará a conversa sobre o trabalho de Itamar Vieira Junior e sua contribuição para a literatura brasileira. O projeto "Encontros com Autores 2023" tem como objetivo proporcionar oportunidade aos leitores e fãs de se aproximarem de escritores talentosos, explorarem suas obras e discutirem temas literários. A série de eventos é uma iniciativa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Theatro Municipal de São Paulo. Mais informações sobre ingressos e detalhes do evento podem ser obtidas no site oficial do Theatro Municipal, pela busca de “Encontros com Autores 2023” na programação. Compre os livros de Itamar Vieira Junior neste link.


Próximos convidados
A série de eventos “Encontros com Autores 2023” continua até dezembro, e contará com participações de autores de peso da literatura brasileira, como Jeferson Tenório e Conceição Evaristo. Os encontros explorarão diversos temas literários, processos criativos e a jornada dos escritores nos distintos gêneros literários, culminando em um encontro especial em dezembro com o autor premiado com o Livro do Ano de 2023.


Confira abaixo a programação completa

Programação da série de “Encontros com Autores 2023”, no Theatro Municipal de São Paulo:

27 de outubro, sexta-feira, 19h. Encontro com Itamar Vieira Junior - Mediação de Guilherme Sobota
Itamar Vieira Jr.
é aclamado por seu notável romance "Torto Arado", que conquistou o Prêmio LeYa de 2018, o Prêmio Jabuti de 2020 e o Prêmio Oceanos de 2020. Nascido em Salvador, Bahia, em 1979, Itamar é geógrafo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA. Seu romance "Torto Arado" é considerado um dos maiores sucessos da literatura brasileira das últimas décadas, cativando público e crítica. A obra foi traduzida em mais de vinte países e está prestes a ser adaptada para o audiovisual. Além disso, pela Editora Todavia, Itamar publicou também "Doramar ou a Odisseia: Histórias" e "Salvar o Fogo". A mediação ficará por conta de Guilherme Sobota, editor-chefe do PublishNews. Jornalista formado pela UFPR, Sobota atuou como repórter do Estadão por sete anos, cobrindo mercado editorial e literatura, bem como música, cinema, TV e artes visuais. Também foi coordenador de comunicação da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e, depois, jornalista freelancer de jornais, revistas e clubes de leitura. Ele também já trabalhou como produtor cultural e em assessoria de imprensa política.


16 de novembro, quinta-feira, 19h. Encontro com Jeferson Tenório -- Mediação de Raquel Cozer
Jeferson Tenório
, autor nascido no Rio de Janeiro, em 1977, e atualmente radicado em Porto Alegre, é doutor em Teoria Literária pela PUC-RS e teve uma carreira literária rica e diversificada. Jeferson Tenório foi colunista dos jornais Zero Hora e Uol/Folha de S. Paulo, até abril de 2023. Além disso, ele foi professor visitante de Literatura na renomada Brown University, nos Estados Unidos. Sua obra literária inclui textos adaptados para o teatro e histórias traduzidas para inglês e espanhol. Ele é autor de obras como "Estela sem Deus" (2018) e "O Avesso da Pele" (2020), que não apenas ganhou o Prêmio Jabuti em Romance Literário de 2021, mas também teve seus direitos vendidos para países como Portugal, Itália, Inglaterra, Canadá, França, México, Eslováquia, Suécia, China, Bélgica e EUA. A mediação será feita pela jornalista e editora Raquel Cozer. Compre os livros de Jeferson Tenório neste link.


23 de novembro, quinta-feira, 19h. Encontro com Conceição Evaristo - Mediação de Catita, “escrivinhadora” e professora
Maria da Conceição Evaristo de Brito
nasceu em Belo Horizonte, em 1946, e migrou para o Rio de Janeiro, na década de 1970. Graduada em Letras pela UFRJ, trabalhou como professora da rede pública de ensino na capital fluminense. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação “Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade” (1996). Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense, com a tese “Poemas malungos, cânticos irmãos” (2011), na qual estuda as obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira, em confronto com a do angolano Agostinho Neto. Participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país, estreou na literatura em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na série Cadernos Negros. Escritora versátil, cultiva a poesia, a ficção e o ensaio. Desde então, seus textos vêm angariando cada vez mais leitores. A escritora participa de publicações na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Seus contos vêm sendo estudados em universidades brasileiras e do exterior, tendo, inclusive, sido objeto da tese de doutorado de Maria Aparecida Andrade Salgueiro, publicada em livro em 2004, que faz um estudo comparativo da autora com a americana Alice Walker. Em 2003, publicou o romance “Ponciá Vicêncio”, pela Editora Mazza, de Belo Horizonte. Catita, a “escrivinhadora” e professora, fará a mediação desse encontro. Ela também é pesquisadora, editora, e co-fundadora do Coletivo de Escritoras Negras Flores de Baobá, além de sócia na Editora Feminas (desde 2022). Compõe suas obras, os livros Morada (Ed Feminas, 2019 - poemas), Notícias da Incerteza (Ed. Desconcertos, 2021 - crônicas) e Das Raízes à Colheita, em co-autoria com o coletivo Flores de Baobá (Ed Feminas, 2022). Compre os livros de Conceição Evaristo neste link.


7 de dezembro, quinta-feira, 19h. Encontro especial com o autor(a) vencedor (a) do Livro do Ano de 2023. Mediação - Hubert Alquéres e Sevani Matos
O último encontro terá realização especial. Contará com a presença do autor contemplado com a premiação de Livro do Ano de 2023. A conversa será mediada pelo Hubert Alquéres, que foi presidente da Imprensa Oficial de São Paulo, de 2003 a 2011. Atuante nas áreas de cultura e educação há mais de 40 anos, tem uma história antiga com o mais importante prêmio do livro brasileiro: durante seis anos, coordenou a Comissão do Prêmio Jabuti na Câmara Brasileira do Livro (CBL). Iniciou sua carreira na área acadêmica como professor na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes. Foi secretário estadual e secretário executivo na Secretaria de Educação, além de ter presidido por quatro vezes o Conselho Estadual de Educação de São Paulo, do qual é membro desde 1998.​ Atua como vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro há 12 anos. Preside a Academia Paulista de Educação e o Conselho de Administração do Museu AfroBrasil, e é membro da Associação Amigos da Biblioteca Mário de Andrade. A presidente da CBL, Sevani Matos, também participa deste bate papo que compõem a série de Encontros com Autores. Com mais de 20 anos de carreira nas áreas administrativa e comercial, com passagens por empresas nacionais e multinacionais, ela também atuou no setor gráfico de livros. Formada em Comunicação Social, Sevani possui MBA em Administração e Gestão de Negócios, além de especialização em Marketing Digital. Já trabalhou na Artmed Editora e, há mais de 16 anos, atua como diretora-geral na VR Editora. Foi eleita em 28 de fevereiro de 2023 para a presidência da CBL integrando a chapa “O livro nos une”, para o biênio 2023-2025. Sevani já ocupava o cargo de diretora na CBL.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

.: Entrevista: André Souto fala sobre a construção da real condição do homem


André Souto
 é servidor do TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) e conhece bem as estruturas de segurança pública. “Sob a Luz Negra”, publicado pela editora Penalux, romance de estreia do autor, ambientado em Brasília, onde o escritor mineiro reside, apresenta um panorama do cárcere e violência urbana no país, provocando discussões sociais, políticas e existenciais. A obra está concorrendo ao Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional na categoria Romance - Prêmio Machado de Assis.

O assunto complexo é conduzido através da escrita descritiva de André em um livro que cerca um mundo negligenciado pela população – mas diretamente relacionado ao bem-estar comum. A leitura apresenta as "regras do jogo" entre policiais e bandidos, investigando a maldade humana, sem deixar a desejar no suspense e estabelecendo uma trama envolvente. Uma adaptação para o teatro está sendo preparada pela companhia “Fábrica Grupo de Teatro”, sob produção e direção de Wellington Dias, e será anunciada em breve. Confira a entrevista completa com o autor. Compre o livro "Sob a Luz Negra", de André Souto, neste link.


Se você pudesse resumir, quais são os principais temas da obra?
André Souto - Um casal vivendo em uma casa repleta de dispositivos de proteção e regras de comportamento angustiantes, mergulhados em relacionamento conturbado, no qual, apesar da obsessão para resguardá-los, ambos acabam obrigados a enfrentarem seus temores enquanto encaixam as peças de uma realidade assombrosa em uma mente perturbada. Em paralelo, seguindo o tema da condição humana que limita os indivíduos pelo medo das punições, a obra retrata o cotidiano dos agentes penitenciários (na época que se passa o livro; hoje são chamados de policiais penais) e dos mais temidos presos do Brasil, chefes de facções e outros, alocados nas unidades federais de segurança máxima brasileiras.


Por que escolher esses temas?
André Souto - Uma forma de retratar a partir do cotidiano de pessoas comuns os medos e anseios dos indivíduos dentro da organização do Estado e da sociedade conduzidos por punições que condicionam o comportamento em busca da pacificação e convivência necessária como uma forma de afastar os seres humanos de seus instintos selvagens que culminariam em conflitos constantes, chamado de estado de natureza pelo filósofo Thomas Hobbes, desencadeando a “guerra de todos contra todos”.

O que motivou a escrita de “Sob a Luz Negra”?
André Souto - Já tinha uma ideia sobre uma história na qual a selvageria humana e a sociedade fossem trabalhadas de forma ficcional aos moldes do pensamento de Thomas Hobbes a partir da citação: “O homem é o lobo do próprio homem” e todo o contexto de enfrentamentos disposto em "Leviatã". Desta motivação, tracei um drama psicológico (Thriller) em um enredo que permeia a tensão interna e externa de um casal, tentando se adaptar a um insólito protocolo de segurança, partilhando seus dias com os outros personagens que vivem sob as sombras claustrofóbicas da recém-inaugurada Penitenciária de Segurança Máxima de Brasília, enquanto encaixam as peças de uma realidade angustiante. A história, narrada por Oscar, um policial penal federal paranoico, que enxerga o mundo de uma maneira obscurecida que se estende para todos os lugares, é centrada no conturbado relacionamento entre o protagonista e Nina, uma jovem que luta contra um transtorno de saúde relacionado ao controle dos impulsos (tricotilomania que evolui para tricofagia). “Sob a Luz Negra” é, portanto, uma metáfora sobre verdades e evidências fora do espectro visível, onde nada é o que parece, descortinando até que ponto um ser humano é capaz de ir quando se torna uma ameaça à própria espécie, denunciando a atual tragédia da segurança pública brasileira e a saúde mental das pessoas.


Como foi o processo de escrita?
André Souto - O processo de escrita se deu acompanhado da preparação do original feita por Alba Milena e Mari dal Chico, ambas da Agência Increasy (onde o autor foi agenciado até 2020), as quais, após oferecerem um contrato de agenciamento literário ao autor em 2017, o auxiliaram a adequar o texto ao nível desejado pelas casas editoriais.


Que livros influenciaram diretamente a obra?
André Souto - "Leviatã", de Thomas Hobbes; "O Estrangeiro", de Albert Camus; "O Senhor das Moscas", de William Golding e "Ilha do Medo", de Dennis Lehane

Como você definiria seu estilo de escrita?
André Souto - Uma escrita realista em um ritmo envolvente, numa tentativa de alcançar uma eficiência narrativa cirúrgica, a qual surge somente após muita pesquisa sobre a temática e os cenários.


Como é o seu processo de escrita?
André Souto - Eu não tenho uma fórmula, mantenho uma rotina de escrita e pesquisa.


Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
André Souto - Como ritual é manter um lema: se estou escrevendo sobre uma temática, as leituras são sempre correlacionadas ao texto em produção. Por outro lado, não tenho metas diárias, mas procuro escrever sempre.


Quais são as suas principais influências literárias num geral?
André Souto - Machado de Assis; Augusto dos Anjos; Alvares de Azevedo; Milton Hatoum; Patrícia Melo e Ana Paula Maia.


Você escreve desde quando? 
André Souto - Desde a adolescência.


Como começou a escrever?
André Souto - Seriamente, a partir de 2017.


Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
André Souto - Lançar o e-book "Anjos do Haiti" para concorrer ao Prêmio Kindle de Literatura de 2023. Além disso, estou produzindo um outro romance também se passa em Brasília e um livro de contos que retrata os conflitos do interior do Centro-Oeste. Quanto ao livro “Sob a Luz Negra”, temos programado um evento de lançamento em Goiânia, em outubro, junto do anúncio da adaptação da obra para o teatro por uma companhia daquela cidade. Garanta o seu exemplar de "Sob a Luz Negra", escrito por André Souto, neste link.

.: Podcast “A Coach”, de Chico Felitti, investiga o caso de Kat Torres


A Wondery, estúdio de podcasts da Amazon, lança o novo podcast original “A Coach”, apresentado pelo jornalista, escritor e roteirista Chico Felitti, conhecido pelos sucessos de “A Mulher da Casa Abandonada” e “O Ateliê”. Os dois primeiros episódios do programa estão disponíveis em todos os serviços de streaming de áudio, mas quem quiser também já pode ouvir o terceiro e quarto episódios de forma gratuita e exclusiva no Amazon Music, que trará os episódios sempre em primeira mão.

“A Coach” narra a ascensão e a queda de Kat Torres, modelo, influenciadora e atriz que atualmente aguarda julgamento no presídio de Bangu, no Rio de Janeiro, após ser acusada de tráfico humano. Ao longo de nove episódios, Felitti traz detalhes das várias vidas de Kat, desde sua infância pobre no Brasil, até seu suposto relacionamento com Leonardo DiCaprio e sua ascensão como guru espiritual nos Estados Unidos. O podcast investiga a fundo as escolhas que levaram Kat a se tornar um dos assuntos mais comentados em novembro de 2022, quando ela foi presa.

Em 2022, a internet brasileira presenciou um fenômeno. Milhares de pessoas tentaram investigar por conta própria um mistério. E os trending topics tinham todos uma personagem central: Kat Torres, também conhecida pela alcunha Kat A Luz. “A Coach” é um podcast narrativo da Wondery que documenta a inacreditável vida dessa brasileira que saiu da pobreza e conquistou a fama com sete carreiras diferentes, para depois ser acusada de um crime.

Em uma investigação inédita que percorre o Brasil e os EUA em busca de contar uma história surreal, mas 100% real. A trajetória de Kat Torres é um conto sobre busca por fama e sucesso, a qualquer custo. “A Coach” é apresentado por Chico Felitti, criador de “A Mulher da Casa Abandonada” e “O Ateliê”. “A Coach” é um podcast Wondery produzido pela Pachorra Felitti Áudios, Livros e Filmes. Compre os livros de Chico Felitti neste link.


Sobre Chico Felitti
Chico Felitti
é repórter, ganhador dos prêmios Petrobrás e Comunique-se de jornalismo. Escreveu os livros "Rainhas da Noite", "Elke: Mulher Maravilha" e "Ricardo & Vânia", finalista do prêmio Jabuti 2020. Criou os podcasts "Além do Meme", "O Ateliê" e "A Mulher da Casa Abandonada", que foi um dos mais ouvidos da história do país. Garanta os livros escritos por Chico Felitti neste link.


Sobre Pachorra Felitti Áudios, Livros e Filmes
Produtora focada em contar histórias únicas, como no podcast “O Ateliê”, em livros como “Rainhas da Noite” e em programas de TV como “Angélica - 50 e Tanto”, que estreia ainda neste ano. Batizada em homenagem a Pachorra Felitti, cadela vira-lata que cedeu seu teto para Chico Felitti.

domingo, 15 de outubro de 2023

.: Entrevista: Fábio BeGi afirma que jovens podem aprender com a literatura


Depois de ter um sonho mágico e digno de um enredo fantástico literário, o autor Fábio BeGi recorreu à escrita para dialogar com os jovens sobre princípios. Para ele, a literatura precisa ser um refúgio seguro para que jovens possam aprender em um cenário repleto de desinformação. Na entrevista abaixo, o autor conta como construiu os personagens para levar ao público juvenil noções de amizade, respeito, empatia e bondade. Além disso, ele compartilha mais detalhes sobre o processo criativo da obra.

No livro de estreia, Fábio BeGi embarca em uma fantasia para lembrar o público juvenil que a literatura é um refúgio seguro para aprender. Foi o mundo onírico que inspirou o autor a escrever "Os Números de Ághora: Seven". Ele foi rememorando o que surgiu no inconsciente, sem pressa, com carinho e atenção aos detalhes, e assim deu vida aos personagens baseados na literatura fantástica e em pessoas da sua vida, para dialogar com os jovens.

Na história, a protagonista vai precisar contar com as características de cada um de seus amigos, como apoio, motivação e companheirismo, para vencer suas batalhas. Segundo o escritor, “é apenas na cooperação entre esses três que a aventura se torna uma jornada fantástica”. Nesse sentido, o enredo reforça os valores que Fábio deseja transmitir: amizade, empatia, respeito e bondade, em uma realidade cercada pelo mundo virtual, repleto de informação, mas também desinformação. O seu intuito com a obra é lembrar que a literatura é um lugar seguro para aprender sobre princípios. Confira a entrevista com o autor e compre o livro "Os Números de Ághora: Seven" neste link.


“Os Números de Ághora: Seven” conta a história de uma menina comum, que inicia uma aventura em um mundo fantástico. Como foi o processo de criação deste novo universo?
Fábio BeGi
 - Por vezes a criação de uma história surge das próprias experiências humanas, porém quando lidamos com a fantasia o caminho é quase sempre mágico. A inspiração surgiu de um sonho e, passo a passo, relembrando tudo o que me foi mostrado, as peças foram se encaixando e nascia Ághora. Para moldar os personagens me inspirei na literatura fantástica e suas personalidades emprestei de pessoas que fazem parte da minha vida. Nada foi feito às pressas, e cada pedacinho do todo foi tratado com muito amor e cuidado.

Você trata sobre valores humanos universais, como amor, amizade, empatia, bondade, respeito... Por que você decidiu abordar estes temas em uma obra voltada para o público jovem?
Fábio BeGi - 
A tecnologia nos fornece avanços fundamentais em muitas áreas, porém também pode ser um desastre se apenas utilizada para futilidades. Os mais novos têm acesso a um mundo tão amplo na internet hoje que muito dos aprendizados que guiam suas condutas de vida acabam vindo, em grande parte, de pessoas que só fazem “bobagens” no meio virtual. A leitura ainda é um refúgio seguro e inspirador para levar a todos os valores que realmente nunca mudam e são tão importantes. Se uma história puder atingir o maior número de pessoas possíveis, ela tem muito a repassar sobre todos esses valores fundamentais para a vida em sociedade.


Para salvar um reino fantástico de seus problemas, a protagonista conta com a ajuda de Chien, um pequeno guerreiro, e Sheeva, uma gata alada. Qual o papel desses personagens para a trajetória da personagem principal e também para o desenrolar da história?
Fábio BeGi - 
Costumo dizer que não vivemos isolados, mesmo que possamos nos sentir assim no dia a dia. A convivência é que nos molda e também nos transforma no que podemos ser, mas por outro lado pode nos afastar daquilo que poderíamos ter sido. Elaine é corajosa e inteligente, mas há em seus amigos peças fundamentais além de características próprias de cada um que são: confiança, companheirismo, apoio, motivação e o amor que os une. É apenas na cooperação entre esses três que a aventura se torna uma jornada fantástica e cheia de significado.


Esta obra é uma fantasia, mas que mensagens os leitores podem levar para seus cotidianos após a leitura?
Fábio BeGi - 
Que não estamos sozinhos e que podemos aprender muito com as diferenças que temos entre nós. Muitas pessoas não carregam uma mesma visão de mundo por diversas razões, porém mesmo as mais diferentes entre si podem ter muito em comum quando se permitem conviver com respeito e cooperação. A também jamais desistir mesmo quando tudo parece querer que você desista, quando a pressão parece insuportável e isso pode ser o final, mas com as pessoas certas ao seu lado o que parece ser um final é apenas uma pequena parte de uma longa história à frente.


No livro, uma mãe conta as histórias de Seven para os filhos antes de eles dormirem. Por que você optou por esta voz narrativa?
Fábio BeGi - 
A narrativa se dá em terceira pessoa e escolher alguém que viveu a aventura para contá-la é essencial para passar ao leitor o fato de que não é algo que fora inventado meramente para distrair as crianças. Mas a principal razão para a mãe passar aos seus filhos toda essa aventura só pode ser compreendida no final e não queremos dar nenhum spoiler antes da hora! Garanta o seu exemplar de "Os Números de Ághora: Seven", escrito por Fábio BeGi, neste link.

.: Mito tupinambá recriado por Alberto Mussa inspira Carnaval da Grande Rio


Em "Meu Destino É Ser Onça", publicado pela editora Civilização Brasileira, o consagrado romancista Alberto Mussa dá vazão ao seu lado acadêmico e nos coloca em contato com uma cultura determinante para a formação do povo brasileiro. A nova edição atualizada pelo autor inclui um caderno de imagens e um passo a passo do ritual antropofágico dos tupinambá. O livro inspirou o enredo da tradicional escola de samba Grande Rio, de Duque de Caxias, “Nosso Destino É Ser Onça”.

“Há 15 mil anos somos brasileiros”, escreve Alberto Mussa. Em "Meu Destino É Ser Onça", ele nos transporta para um dos momentos mais decisivos da formação do Brasil, uma cultura que sofreu reveses incalculáveis, mas, mesmo martirizada, foi capaz de moldar a brasilidade de maneira incontornável. Como brasileiros, somos, inevitavelmente, descendentes desse povo guerreiro que lutou por liberdade e sobreviveu, contra todas as probabilidades, para seguir contando sua história e honrando seu legado.

Após estudar os fragmentos de registros sobre a cultura indígena da Baía de Guanabara, feitos pelo frade André Thevet, em 1550, e cotejá-los com as demais fontes dos séculos 16 e 17, Alberto Mussa reconstitui o que teria sido o texto original de uma narrativa tupinambá. Esses escritos decifram o mundo construído pelas divindades Maíra e Sumé, além de informar sobre o surgimento desse povo nativo que se estabeleceu no litoral.

Vindos da Amazônia, onde viviam há pelo menos 11 mil anos, os tupinambá se constituíam em grupos diversos e autônomos, falantes do tupi-guarani, que se espalharam pelo país. Eles acumularam um conhecimento tão precioso sobre o território que  se tornou base para o estabelecimento de nossos primeiros centros coloniais do século 16. Influenciaram, assim, a língua falada, as trocas comerciais, o nomes topográficos, as disputas territoriais, a administração de aldeamentos e feitorias, a alimentação, e demais costumes dos brasileiros, entre eles, o banho e a depilação.

Aqui, conhecemos como esses indígenas influentes conceberam a criação do mundo e quais foram os acontecimentos míticos decisivos que fundamentaram sua cosmovisão. Principalmente, entendemos por que os tupinambá eram antropófagos e quais deidades os orientavam sobre o consumo da carne humana dos vencidos na guerra, cumprindo seu destino de ser onça. Compre o livro "Meu Destino É Ser Onça", de Alberto Mussa, neste link.


Sobre o autor
Alberto Mussa nasceu no Rio de Janeiro, em 1961. Além de contos, romances, ensaios e traduções, é autor do Compêndio mítico do Rio de Janeiro, série de cinco novelas policiais, uma para cada século da história carioca. Entre outras distinções, ganhou os prêmios Casa de Las Américas, Academia Brasileira de Letras, Oceanos, Machado de Assis e APCA. Estudada na Europa, nos Estados Unidos e no mundo árabe, sua obra está publicada em dezenove países e dezesseis idiomas. Garanta o seu exemplar de "Meu Destino É Ser Onça", escrito por Alberto Mussa, neste link.



Conheça também

O "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro" reúne em um box a história do Rio de Janeiro em cinco romances policiais de Alberto Mussa, um para cada século desde a fundação da cidade, trazendo um recorte que expõe as entranhas e a poderosa mistura de culturas e povos da capital fluminense. Com texto de livreto de Hermano Vianna. Compre o box do "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro", escrito por Alberto Mussa, neste link.

sábado, 14 de outubro de 2023

.: Nova versão do livro emocionante que foi vencedor do prêmio SP de Literatura


O corajoso e emocionante "Rebentar", vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2016, ganha nova versão, com redução de trechos, inclusão de um capítulo inédito e novos desdobramentos da história de alguns personagens. O livro, que narra o momento de reconstrução de uma mãe que decide parar de buscar seu filho desaparecido, foi totalmente reescrito por Rafael Gallo. Dono de uma escrita sensível, comovente e para um público diverso, o autor também venceu os prêmios José Saramago 2022 e o Sesc de Literatura 2012. A nova edição de "Rebentar" tem texto de orelha do escritor João Anzanello Carrascoza.

"Rebentar" conta a história de Ângela, uma mãe cujo filho desapareceu aos cinco anos de idade e jamais foi encontrado. Desde então, ela passa a viver em função da procura por Felipe: parou de trabalhar, juntou-se a instituições de busca por crianças desaparecidas, rompeu relações, não teve outros filhos e viveu um luto particular - “alguém que não é reencontrado nunca se perde em definitivo”.

Depois de 30 anos sem resultado, Ângela renuncia à busca, e a narrativa parte do momento em que sua decisão é anunciada. A protagonista, convivendo com os sentimentos de culpa, desamparo e dor causados por essa ausência que, agora, é definitiva, precisará desintegrar a própria casa, literal e metafórica, para reconstruí-la por dentro. “Um filho desaparecido é um filho que morre todos os dias”, escreve.

Publicado pela primeira vez em 2016, "Rebentar" ganha agora uma nova versão. Não se trata apenas de uma nova edição. “Este é um novo tratamento da história. O que faz dela, em algum grau, uma nova história”, explica o autor. A escrita arrebatadora de Rafael Gallo se reencontra consigo mesma para entregar desfecho e descanso definitivos à dolorosa trajetória de Ângela. Compre o livro "Rebentar", de  Rafael Gallo, neste link.


Sobre o livro
“A vida, como o mar e suas ondas, vaza das margens de Rebentar – bela e dolorida história que rebate, em nós, as águas da compaixão.” - João Anzanello Carrascoza, escritor.


Sobre o autor
Rafael Gallo
nasceu em São Paulo em 1981. É autor dos romances "Dor Fantasma" (vencedor do Prêmio José Saramago 2022) e "Rebentar" (vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2016); e, também pela editora Record, do livro de contos "Réveillon e Outros Dias" (vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2012). Tem ainda diversos textos em antologias e coletâneas, incluindo publicações em países como França, Estados Unidos, Cuba, Equador e Moçambique. Garanta o seu exemplar de "Rebentar", escrito por Rafael Gallo, neste link.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

.: Entrevista: Rafael Martins fala sobre o segredo do thriller "Além das Lantanas"


Natural do interior de São Paulo, Rafael Martins lançou recentemente pela editora Patuá o romance “O Segredo das Lantanas”, que acompanha Humberto, um personagem que, por uma série de motivos, não consegue dormir. Partindo dessa premissa aparentemente banal, o autor, com uma linguagem crua e direta, busca chocar o leitor com acontecimentos inesperados e, ao mesmo tempo, provocá-lo a participar da construção da história, através de um mergulho em suas diversas camadas. O resultado: uma curiosa experiência de retrogosto na pós-leitura.

Rafael nasceu em Campinas, em 1982, no interior do estado, onde desde menino escrevia diários e contos em folhas de fichário. Hábito que permaneceu de alguma forma adormecido até a vida adulta. Já formado em direito e atuando como Procurador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resolveu se desafiar e entrar no mundo literário. O autor revela que em 2018 escreveu o romance “Água Turva”, porém não o submeteu a análise de nenhuma editora, pois reconheceu que sua escrita precisaria passar por um processo de maturação.

A partir daí, na busca de refinamento da própria escrita, estudou as obras de Assis Brasil, James Wood e Prose e incorporou à sua rotina de leitura um olhar mais atento às técnicas e construções narrativas. Amparado em um certo repertório, em poucos meses concluiu “O Segredo das Lantanas”, fruto de um progresso técnico e de um meticuloso planejamento prévio. Este processo deu ao autor um novo senso de si como escritor, que já planeja outras obras para um futuro próximo. Leia a entrevista completa com o autor Rafael Martins.


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam? 
Rafael Martins - É um livro com muitas camadas de interpretação. Não há só um tema: ele passa por ressentimento, trauma, repetição de comportamento, recalque, abuso sexual. Em suma, diria que toca na complexidade humana. Imaginei que fossem temas que tivessem potencial de chocar, causar desconforto. Era o que eu queria.

O que motivou a escrita do livro?
Rafael Martins - 
Quis, em alguma medida, surpreender e chocar o leitor. Chocar com os temas abordados em suas diversas camadas e surpreender com um final, que exige uma certa perspicácia do leitor. É um livro que foi concebido para desafiar. Já assistiram "Clube da Luta" e "O Sexto Sentido"? O final desses filmes, geralmente, surpreende as pessoas. Fiquei tão boquiaberto que reassisti e tudo fez mais sentido. Quis fazer algo assim: tentei passar a perna no leitor. Alguns relatam que “ruminaram” o livro por dias, outros dizem que fizeram releitura… Enfim, é um livro que deixa um “retrogosto”. Ele fica na cabeça porque eu não entrega tudo. Creio que, até por uma questão neurológica, sei lá, ele persiste porque o leitor fica tentando buscar sentido, ligar as coisas… 

Como foi o processo de escrita?
Rafael Martins - 
Este livro foi todo planejado. Não tem nada por acaso, não é fruto de escrita espontânea, muito pelo contrário: é todo deliberado. Exemplo: quando digo que uma determinada personagem se cortava, usava roupa comprida, parou de jogar vôlei, etc, não é por acaso, tem motivo. O leitor pode perceber ou não, pois não se trata de um livro didático. O livro tem uma linguagem simples e fluida, e foi constituído para que o leitor compreenda, com facilidade, o que foi dito, mas, também, para que ele perceba um certo “não dito”. Ou seja, para que se leia o que não está escrito. As respostas não são dadas, mas sugestionadas.


Quais são as suas principais influências literárias?
Rafael Martins - 
Um pouco de tudo. Gabriel Garcia Márquez, Franz Kafka, Dostoiévski. E de brasileiros, Milton Hatoum, Sérgio Sant’Anna, Machado de Assis, entre muitos outros. Machado que particularmente foi algo que estudei para a escrita de O segredo das Lantanas.

Que livros influenciaram diretamente a obra?
Rafael Martins - 
Nenhum diretamente. Trata-se de uma narrativa ficcional, com arrimo na crueza da vida e nas observações do cotidiano. Mas, na construção do narrador, pensei no Machado de Assis. Tanto é que, com o avançar da leitura, o leitor passa a desconfiar do narrador.

Escreve desde quando? Como começou a escrever?
Rafael Martins - Nem sei precisar desde quando. Fui um menino muito tímido, então a escrita foi uma forma de expressão. Fazia diário, escrevia contos em folhas de fichário, essas coisas… Porém, tinha o péssimo hábito de começar um texto e não terminar. Já deixei muita coisa inacabada. No âmbito profissional, a escrita se tornou minha ferramenta de trabalho. Contudo, a elaboração de peças jurídicas, ao meu ver, se distancia do trabalho com literatura, seja na linguagem, nos mecanismos, nos objetivos… Isso, inclusive, foi uma questão que precisei me atentar. Por volta de 2018/2019 fui perseguido por uma ideia. Comecei a escrever, sem técnica, sem planejamento, sem muito compromisso. Fui até o fim, pela primeira vez, e concluí um romance intitulado Água Turva. Não conhecia nada sobre o mundo literário/editorial, aí recomendaram-me submeter o livro a uma leitura crítica. Foi o que fiz. O leitor fez tantas críticas negativas - e com razão - que abandonei o projeto. Depois desta experiência, senti necessidade de estudar escrita. Não fiz oficina, pois, na época, não encontrei nenhuma em minha cidade, mas li muita coisa, dentre elas, cito Assis Brasil, James Wood, Prose. Assim, o Água Turva foi um livro de transição, diria: transição de um leitor para um escritor e de uma escrita amadora para uma mais técnica. A partir dos apontamentos do leitor crítico, do estudo sobre escrita e da mudança da minha própria leitura (agora mais atenta à construção), consegui desenvolver um trabalho mais técnico, com preocupação com linguagem, enredo e personagens. Assim, em poucos meses, nasceu O Segredo das Lantanas.


Como você definiria seu estilo de escrita?
Rafael Martins - 
Difícil dizer. Mas tento trabalhar com uma linguagem simples, seca, sem excessos e sem censura. É meio paradoxal, mas escrever fácil é muito difícil. Em minha primeira experiência com escrita literária (Água Turva) esse foi um ponto destacado pelo meu leitor crítico. Em alguns momentos o texto ficou rebuscado, complexo, fruto do meu contato diário com o “juridiquês”. Trabalhei bastante isso: desde a escolha semântica até a construção da frase. O resultado foi um livro (O Segredo das Lantanas) complexo, mas com linguagem fácil e corrente. Leitores relatam que leem com muita facilidade, avançam no enredo até com certo prazer, espero que proceda (risos).

Como é o seu processo de escrita?
Rafael Martins - 
Este processo ainda está em desenvolvimento, claro. Mas, após formular a ideia inicial, procuro estabelecer qual será o objetivo do livro: chocar, emocionar, fazer rir? No caso de O Segredo das Lantanas, foi chocar (tenho um original guardado que o objetivo é emocionar, causar reflexão, por exemplo). Tendo o objetivo definido, a construção deverá manter coerência com a finalidade. Passo a desenvolver a ideia ainda numa fase mental, até ter noção do desfecho. Atualmente, nem começo a escrever se não souber aonde quero chegar. Pois, tendo ideia do final, o caminho para se chegar ao resultado fica mais fácil e coerente. Este processo de maturação da ideia não tem prazo determinado. Só quando a ideia está madura, dou início ao processo de escrita. Diria que perco mais tempo no planejamento do que na execução propriamente. Claro que, neste interregno, faço muitas anotações e áudios no celular, para não esquecer. É até uma forma de deixar a ideia sempre viva. Terminada a primeira versão, guardo o arquivo e inicio outro projeto de escrita. Isso gera um distanciamento, quase um “detox”. Após meses sem contato com o texto inicial, faço uma releitura (que não estará mais viciada), realizo correções, ajustes, cortes de excessos… Após a revisão, submeto o texto a uma leitura crítica e a leitores próximos. Se fosse para fazer uma metáfora, diria que parece com o processo de fermentação de pão. Às vezes precisamos ter paciência e deixar a massa crescer, para conseguirmos um resultado satisfatório.

Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Rafael Martins - Sem ritual e sem meta. O que faço é manter a constância. Escrevo todas as manhãs. Acordo muito cedo, às 4h50, vou para a academia e corro. Durante a corrida já vou pensando sobre o que escreverei. Faço, praticamente, uma construção mental. Quando chego em casa, não é raro sentar em frente ao computador (todo suado) com um parágrafo já pronto na cabeça. Aí é só questão de digitar. Meu tempo é curto, algo em torno de 45 minutos, pois logo na sequência vou para o trabalho. À noite não consigo escrever e por uma série de motivos: chego com a cabeça cansada, preciso dar conta das demandas domésticas e familiares: banho nas crianças, jantar, colocar para dormir, são três filhos, a coisa aqui funciona na “força-tarefa” (risos). Então, só tenho a manhã. Tem dia que sai uma página, em outros saem um parágrafo, mas pode ocorrer de não sair nada, no máximo a revisão de parágrafo do dia anterior. E assim vou construindo, aos poucos, mas com constância. Consigno que, em geral, não tenho problema de inspiração: o problema é a falta de tempo mesmo. Porém, acredito que é justamente esta correria que me inspira, que me serve de matéria prima. Talvez se eu tivesse muito tempo disponível a página em branco poderia me assustar.

Quais são os seus projetos atuais de escrita?
Rafael Martins - Tenho um romance engavetado (em processo de descanso e fermentação, aguardando releitura e ajustes), que tratará da relação complexa entre pai e filho. Atualmente, escrevo um livro de contos.

Adquira “O Segredo das Lantanas” através do site da Editora Patuá: https://www.editorapatua.com.br/o-segredo-das-lantanas-de-rafael-martins/p

.: "Salazar e os Fascismos": livro oferece três décadas de pesquisa sobre ditador


A editora Tinta-da-China Brasil apresenta o livro "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", do historiador português Fernando Rosas. O livro concentra três décadas de pesquisa sobre o ditador luso que estabeleceu a mais duradoura - e também a mais discreta - das ditaduras europeias, o Estado Novo português (1926-74). Salazar ainda é uma figura popular na memória portuguesa e permanece inspirando líderes autocráticos pelo mundo. Mapa do império português presente no livro “Salazar e os Fascismos” Foto: Divulgação


Todo ano chegam às prateleiras das livrarias brasileiras dezenas de obras sobre os regimes autoritários que mudaram a história do século 20. Afinal, é preciso lembrar para que o horror não se repita, e por isso pesquisadores e jornalistas se debruçam sobre o nazismo de Hitler, o fascismo de Mussolini e o franquismo. No entanto, a despeito da forte relação histórica e cultural entre o Brasil e seu antigo colonizador, ainda são poucos os livros publicados no país sobre a mais duradoura – e também a mais discreta – das ditaduras europeias, o Estado Novo português (1926-74).

Essa lacuna começa a ser preenchida com a primeira publicação no país de um dos principais especialistas no autocrata luso, o historiador Fernando Rosas, que escancarou para a população portuguesa os horrores da ditadura e do colonialismo no livro "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", lançada pela editora Tinta-da-China Brasil. Aguardado por estudantes, jornalistas e historiadores do fascismo, o livro concentra três décadas de estudos do professor da Universidade NOVA de Lisboa. Com seus livros, artigos na imprensa e intervenções na televisão, Rosas firmou-se como uma das principais vozes no debate público português sobre o pesado legado do salazarismo para o país. Em abril, Portugal começou a contagem regressiva de um ano para as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 2024.

Morto em 1970, em decorrência da queda de uma cadeira que o tornou inválido em 1968, Salazar ainda é uma figura popular na memória portuguesa e inspira líderes autocráticos nos dias de hoje. Ao receber o coração de d. Pedro I por ocasião da celebração dos 200 anos de Independência, em 2022, o então presidente Jair Bolsonaro evocou o lema cunhado pelo ditador português: “Deus, pátria e família”.

Mas de onde vêm os fascismos, e quais regimes podem ser corretamente qualificados como fascistas? Estas são as respostas que Rosas pretende responder, com clareza e rigor, em "Salazar e os Fascismos", de Fernando Rosas, lançado pela Tinta-da-China Brasil. Premiado pela Academia Portuguesa da História/prêmio Fundação Calouste Gulbenkian, Salazar e os fascismos consolida anos de pesquisa de Rosas, debruçando-se sobre a emergência e o estabelecimento dos governos de Adolf Hitler, Francisco Franco e Benito Mussolini durante o entreguerras.

Da comparação entre as diversas experiências europeias, Rosas extrai os elementos que permitem caracterizar um regime como fascista. Alguns exemplos desses traços são o mito de um “renascimento das cinzas”, associado a uma ideia mítica de raça ou ser nacional; a propaganda sustentada por ações no campo econômico e social, respondendo a crises do liberalismo. Violência, imperialismo e carisma por parte da autoridade são alguns dos elementos que podem caracterizar governos como fascistas.

Rosas demonstra que Salazar, ainda que discreto, foi o maior exemplo de um “fascismo conservador”. A arte suprema de Salazar a partir de 1928, diz o historiador, foi “saber durar”. Este é o tema de um outro ensaio de Rosas sobre o salazarismo, Salazar o poder: a arte de saber durar, a ser publicado em breve pela Tinta-da-China Brasil, no qual o historiador examina como o ditador viabilizou um governo tão longo.

António de Oliveira Salazar conduziu uma ditadura nacionalista e corporativista, antidemocrática, de partido único, apoiada em forças do sistema econômico, na fidelidade do Exército e da elite burocrática e na ação repressiva das polícias, com a bênção da Igreja Católica. Rosas sublinha a importância dos processos imperialistas e colonialistas. Ele demonstra que não é possível explicar o fenômeno da violência fascista no século 20 fora do contexto da violência ilimitada utilizada pelos colonizadores europeus contra os povos colonizados da África e da Ásia.

As guerras coloniais movidas pelo ditador em Angola, Moçambique e outros territórios colonizados por Portugal ajudaram a selar o fim do salazarismo e do Império de Portugal, que o ditador afirmava “não ser um país pequeno”. Uma das imagens reproduzidas no livro mostra a propaganda que o regime produzia: selos postais com mapas da Europa e dos Estados Unidos sobrepostos aos de Portugal, Angola, Moçambique e outras colônias, com os dizeres “Portugal is not a small country”.

Quem assina o texto da orelha do livro é Lira Neto, autor da celebrada trilogia sobre Getúlio Vargas e de biografias de outras importantes figuras da cultura nacional. “'Fascista' virou palavrão ideológico, para enxovalhar aquele com quem não concordamos? Faz sentido dizer que assistimos ao ressurgimento de novo tipo de fascismo? [...] Fernando Rosas, um dos principais historiadores portugueses contemporâneos, ajuda-nos a avançar na direção de possíveis respostas", escreve Lira Neto. A publicação de Salazar e os fascismos tem apoio do DGLab – Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas do Governo de Portugal.

António de Oliveira Salazar. Reprodução de acervo do Arquivo Nacional


Antifascismo e História
"Salazar e os Fascismos" vem se somar a outros títulos de diferentes gêneros literários da Tinta-da-China Brasil que mantêm aceso o debate sobre o fascismo, uma das questões políticas mais importantes da atualidade. A editora publicou uma coletânea de textos políticos de Fernando Pessoa, reunidos por José Barreto em "Sobre o Fascismo, a Ditadura Portuguesa" e "Salazar, os Diários da Prisão do Rapper Angolano Luaty Beirão (Sou mais eu aqui então)", as reportagens de "Racismo em Português", de Joana Gorjão Henriques, sobre o colonialismo luso na África, e a reunião de colunas "Diante do Fascismo", do jornalista Paulo Roberto Pires, sobre a ascensão da extrema direita no Brasil.


Em "O Caminho da Autocracia: Estratégias Atuais de Erosão Democrática", os pesquisadores do Centro de Análise do Autoritarismo e da LIberdade - LAUT Adriane Sanctis, Conrado Hübner Mendes, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto fazem um estudo comparativo sobre os regimes autocráticos no Brasil, na Turquia, na Índia, na Polônia e na Hungria.

Com o objetivo de atualizar a bibliografia brasileira sobre história de Portugal, a editora ainda vai publicar nos próximos meses outros ensaios e estudos de uma geração de autores ainda pouco publicados no Brasil: Morte e ficção do rei dom Sebastião, de André Belo, Assim nasceu uma língua, de Fernando Venâncio, e Agora, agora e mais agora, de Rui Tavares. Compre o livro "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", de Fernando Rosas, neste link.

Capa do livro "Salazar e os Fascismos", de Fernando Rosas. Imagem: divulgação.


Sobre Fernando Rosas
Um dos principais historiadores portugueses da atualidade, Fernando Rosas (Lisboa, 1946) não conheceu o salazarismo apenas na teoria. No volume Ensaios de abril, que acaba de sair em Portugal pela Tinta-da-china lisboeta, o historiador narra sua militância política a partir de fins dos anos 1960, às vésperas da Revolução dos Cravos, o 25 de Abril, que no ano que vem completa 50 anos.

“As cadeias políticas foram para mim uma experiência decisiva”, escreve ele. “Para um estudante oriundo da classe média lisboeta, movendo‑se basicamente na sua bolha social que o cortava das realidades que fora dela marcavam o Portugal do salazarismo, a prisão funcionou como um mergulho fecundo no país real”. Ele passou a conviver com operários de todas as regiões do país, com militantes de movimentos de libertação de Angola e Moçambique, perseguidos pela PIDE, a polícia política do regime.

Rosas é professor emérito da Universidade Nova de Lisboa. Fez seu doutorado em História Econômica e Social Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma universidade e lá é professor catedrático aposentado, do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. 

Foi membro do conselho de redação da revista Penélope - Fazer e Desfazer a História, e diretor da revista História. Entre as obras que publicou, estão: "Salazar e o Poder - A arte de Saber Durar" (Prémio PEN Ensaio 2012, será publicado no Brasil pela Tinta-da-China); "História a História - África; Lisboa Revolucionária"; "História e Memória"; "Estado Novo nos Anos Trinta"; coordenação de "Portugal e o Estado Novo (1930‑1960), vol. XII"; "Nova História de Portugal" (dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques); "Estado Novo (1926‑1974), vol. VII"; "História de Portugal" (dir. José Mattoso); "Portugal Século XX: 1890‑1976"; e "Pensamento e Acção Política". Tem livros e artigos publicados em Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos da América e Brasil. Em 2006, foi condecorado pelo presidente de Portugal com a Ordem da Liberdade. Garanta o seu exemplar de "Salazar e os Fascismos - Ensaio Breve de História Comparada", escrito por Fernando Rosas, neste link.


Sobre a Tinta-da-China Brasil
A Tinta-da-China Brasil é uma editora de livros independente, que publica o melhor da literatura clássica e contemporânea, além de livros de história, jornalismo, humor, literatura de viagem, ensaios, fotografia, poesia, a edição em língua portuguesa da mais importante revista literária da era moderna — a britânica Granta — e a mais bonita coleção de Fernando Pessoa em qualquer língua.Fundada em 2005 em Portugal, a editora aportou no Brasil em 2012 e desde 2022 é controlada pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão da cultura do livro.

domingo, 17 de setembro de 2023

.: Entrevista: Alexandre Gil França fala sobre o impacto da invisibilidade social


Destacando-se por sua escrita experimental e híbrida, "Terebentina", lançamento da editora Urutau, é o novo livro de contos do escritor Alexandre Gil França. Trazendo a ótica de personagens socialmente invisibilizados, especialmente artistas pequenos ou de pouco reconhecimento, o autor explora suas narrativas, angústias e, principalmente, seus afetos. A obra tem orelha assinada pelo prestigiado poeta, tradutor e ensaísta Guilherme Gontijo Flores, vencedor do Prêmio APCA em 2018, e está à venda no site da editora. 

Os 12 contos que integram a obra são protagonizados por essas subjetividades particulares, como, por exemplo, um dançarino de Tiktok, uma cantora de boteco ou um ator de comerciais. Tratando-se também de histórias que evocam pequenos e anônimos artistas, que ainda se veem distantes do mainstream, as temáticas do apagamento e da invisibilidade em "Terebentina" são atravessadas pela dicotomia do sucesso e do fracasso. Nas histórias, esses conflitos impactam e são impactados pelas relações afetivas construídas pelos personagens. 

Nascido em Curitiba, no Paraná, em 1982, Alexandre Gil França já trabalhou com música, poesia e teatro. É mestre em Artes Cênicas pela USP e doutorando em Teoria e História Literária pela Unicamp. Estreou na literatura em 2015, com o romance "Arquitetura do Mofo", lançado pelo selo Encrenca/ Arte e Letra.  Atualmente, é editor da Mathilda Revista Literária, ao lado da poeta Iamni.  Também trabalha em um novo livro de contos e promete uma nova peça de teatro para 2024.


Quais são as suas principais influências?
Alexandre Gil França - Tive contato com "Ulysses", de James Joyce, muitos anos atrás, nos meus 18 pra 19 anos. Nessa época, esse livro era um vulto difícil de atravessar. Fui ler “entendendo” somente no começo do doutorado na Unicamp, em que me debrucei pra valer sobre ele. Uma obra que parece locupletar os recursos narrativos de inventividade: mistura de campos semânticos, de estilos, épocas, a dessacralização do espaço, as coincidências ultra arquitetadas, todo o espírito de ruínas da modernidade nessa figura sem pátria ou religião que é o Bloom. Isso tudo me impregnou definitivamente, e está presente, de uma forma ou de outra em “Terebentina”. Considero os contos de Jorge Luis Borges como pequenas catedrais de sabedoria. Precisão na maneira de contar e no conteúdo. Seus labirintos de sentido também fizeram parte da minha formação literária, e influenciaram também os jogos de linguagens utilizados em “Terebentina”. Já o Gilles Deleuze é sem dúvida o filósofo que mais estudei na vida. Sua ideia de diferença, de sentido, de acontecimento, fazem parte da minha rotina, da minha forma de pensar. Eu tento enxergar o mundo de uma maneira deleuziana, ou seja, para além das imagens do pensamento, do senso comum fabricado pela sociedade forjada no metal duro das identidades e das categorias: na maioria das vezes, eu fracasso. Penso que “Terebentina” é, um pouco, a dramatização desses fracassos e dos raros acertos. Além disso, cito os cineastas Charlie Kaufman e Eduardo Coutinho. Os dois trabalham com a ideia de “pessoa comum”. Kaufman, de uma maneira, digamos, mais borgeana; Coutinho, de uma maneira documentarista, tentando pegar a verdade do depoimento. A ideia de “comum” tanto de um, quanto do outro, está bem presente no meu livro. 


O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita?
Alexandre Gil França - O livro foi motivado pelo enclausuramento da pandemia. Como minhas atividades artísticas estavam suspensas (a música e o teatro), a escrita foi um refúgio e ao mesmo tempo um momento de imersão em mim mesmo. Acho que, de certa forma, todos nós “fracassamos” com essa pandemia, seja perdendo pessoas próximas, seja suspendendo nossas atividades. Terebentina reflete, em parte, esse espírito da época. 


Escreve desde quando? Como começou a escrever?
Alexandre Gil França - Escrevo desde a adolescência. Acho que comecei com uns 15 anos de idade. Se bem que desde pequeno me fascinei pela ideia de livro — sempre quis fazer um livro; esse tipo de porta-histórias, porta-vidas. Um episódio marcante da minha adolescência foi uma tentativa de livro que mostrei, um dia, na praia, para a filha de um amigo dos meus pais. Ela criticou duramente o que eu havia feito (disse que faltava enredo, personagens consistentes etc.). Olha, eu devia ter uns 12 pra 13 anos: não sabia de nada! Aquilo me marcou bastante - como se, de certa maneira, a cada novo conto, eu precisasse completar aquele primeiro livro que não havia dado certo. Mais pra frente, um professor da graduação em comunicação, o Caibar, foi fundamental para que eu não parasse de escrever. Eu mostrava os contos pra ele, e ele me devolvia com comentários precisos sobre o que eu estava fazendo, e o que eu poderia melhorar. 


Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam? Por que escolher esses temas?
Alexandre Gil França - Como vivem esses artistas invisíveis que estão por aí, incrustados no ao redor que esquecemos às vezes de observar?  Penso que a descoberta do amor por essas pessoas invisíveis se configura como um território profundo de descobertas humanas. Minha intenção com o livro foi investigar justamente como o afeto pode circular por esses meios (como o set de filmagem de um comercial, o ensaio de uma coreografia viralizada no TikTok ou a apresentação de uma cantora de meia-idade em um botequim). É sobre isso, também, o título do livro – “Terebentina”: palavra usada para designar o solvente para pincéis, mas também um apelido popular para cachaça. Ou seja, apagamento e embriaguez andam juntas nessas histórias. 


“Terebentina” é estruturado como se fosse uma exposição artística. Poderia comentar um pouco sobre essa escolha e estilo de escrita? 
Alexandre Gil França - Acho que é um estilo múltiplo, que se utiliza de recursos diversos na construção de um cenário singular de leitura. A ideia é sempre dar a melhor possibilidade de imaginação e participação para o leitor. Vou utilizando recursos formais diferenciados, e, até mesmo, delirantes em alguns momentos. A linguagem dramatúrgica é misturada à poesia, à prosa e a um roteiro de cinema escrito por uma das personagens. Sobre a estrutura, remete à questão do artista e de sua exposição. Tem a abertura, o hall de entrada, o primeiro andar, onde são distribuídos alguns personagens, que seriam as “obras”. E esses personagens são indivíduos comuns e invisíveis que transitam, na minha opinião, em certos ambientes singulares onde podemos encontrar a maior concentração de humanidade possível. Acho que o livro vasculha justamente esses espaços e tenta dar carne e nervos para essas pessoas comuns. 


Como é o seu processo de escrita?
Alexandre Gil França - Geralmente, sento e escrevo até onde o fôlego aguentar. Não tenho uma preparação para a escrita. Mas, é um ato de recolhimento. Preciso estar sozinho para a coisa fluir bem. Para contos, a meta é sempre ir até a página dez, mais ou menos. Depois, vou cortando o que considero gordura. 


Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Alexandre Gil França - Não. Escrevo quando dá na telha. Geralmente, nos períodos sem muitas obrigações profissionais. 


Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí? 
Alexandre Gil França - Já estou escrevendo um novo, de contos. E, penso que para 2024, devo ter uma nova peça de teatro também escrita. São obras que estão ainda na primeira gestação: acho difícil detalhar sobre o que se trata, mas posso dizer que a temática do homem comum deverá estar presente nas duas. 

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