PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto:divulgação
O cantor e compositor Thomas Malherbe está lançando neste mês o seu primeiro álbum, “Garoto Tímido”, nas principais plataformas digitais. O trabalho reúne oito faixas autorais e inéditas, marcando o início oficial de sua trajetória na música. Nascido em Paris, filho de mãe francesa e pai brasileiro, Thomas cresceu em um ambiente musical intenso, influenciado pelo pai, o músico, compositor e arranjador Ricardo Vilas. Desde cedo, trocou o pátio da escola pelos livros e pelos instrumentos, desenvolvendo sua veia de compositor introspectivo e inspirado.
Longe dos pátios escolares e das partidas de futebol, o ‘garoto tímido’, mergulhava em livros e sons. As leituras da adolescência deixaram marcas profundas em suas composições, que revelam sensibilidade e maturidade artística. Desde cedo, também encontrou amigos com quem compartilhava acordes no violão, baixo e guitarra, cultivando a base de sua linguagem musical.
Thomas compôs um repertório autoral que deu um resultado na gravação de seu primeiro álbum. Em “Garoto Tímido”, o artista revela-se um cantor comunicativo e caloroso, ao mesmo tempo sensível e inspirado ao interpretar suas próprias canções. Entre suas referências, Thomas cita Renato Russo da Legião Urbana e rock internacional capitaneado pelos Beatles, principalmente. "Estou muito animado com este primeiro álbum da minha carreira. É um projeto no qual venho trabalhando há muito tempo e me sinto realizado de poder apresentá-lo. Espero que gostem!", diz Thomas.
Com produção musical e arranjos de Rodrigo Campello, que trabalhou com diversos artistas renomados como João Bosco, Moraes Moreira, Marisa Monte, Lenine, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros. Músicos de peso, como Lancaster Lopes, no baixo, que também tocou e gravou com diversos artistas e bandas, assim como Marcelo Vig, que toca bateria nesse álbum.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto:divulgação
Há 60 anos, os Beatles lançavam a trilha de seu segundo filme, "Help". O disco simbolizou uma mudança de postura na produção musical, com composições que exploravam mais os recursos do estúdio. Ainda que os hits que marcaram a beatlemania ainda estivessem presentes no repertório, era possível notar uma postura diferente dos Fab Four.
Em relação a trilha do primeiro filme, o "A Hard Day's Night" (que no Brasil se chamou "Os Reis do Ie-Ie-Ie"), e ao álbum "Beatles For Sale", os Fab Four estavam dando um passo adiante. A começar pela faixa título, considerada uma obra prima do período da beatlemania, com backing vocals colocados de forma genial em cima de um arranjo igualmente excelente.
John Lennon revelaria anos mais tarde que esse período da banda foi um dos mais difíceis para ele, em função da superexposição na mídia da época. E que a música era realmente um pedido de ajuda que ele procurou expor. Isso inclusive pode ser facilmente notado na letra: “When I was younger, so much younger than today/ I never needed anybody's help in any way/ But now these days are gone, I'm not so self assured/ Help me if you can, I'm feeling down”. ("Quando eu era jovem, muito mais jovem que hoje/Nunca precisei da ajuda de ninguém em nenhum sentido/Mas agora estes dias se foram, não sou seguro de mim mesmo/Agora descobri que mudei de ideia e abri as portas/Ajude-me se você puder, estou triste").
Outro momento brilhante desse álbum foi a balada "You've Got To Hide Your Love Away", também composta por John Lennon que foi inspirada no estilo de Bob Dylan. . Foi esse período que os Beatles conheceram Dylan pessoalmente. Eles se conheceram em 1964 e, desde então, desenvolveram uma relação de admiração mútua e colaboração, com trocas criativas e influências mútuas, apesar de algumas tensões ocasionais.
O disco segue com momentos de protagonismo de Paul McCartney nas faixas "The Night Bewfore" e "Another Girl". Lennon volta a solar o vocal nas faixas "You´re Going To Lose That Girl" e na incrível "Ticket To Ride", com um memorável trabalho de Ringo Starr na bateria. As demais faixas contam com duas ótimas composições de George Harrison ("I Need You e You Like Me Too Much") e dois covers, sendo um deles cantado por Ringo (a canção folk "Act Naturally") e o rock´n roll raiz de "Dizzy Miss Lizzy" (de Larry Williams) cantado por John Lennon.
Não poderia deixar de citar a balada "Yesterday", que foi gravada por Paul McCartney acompanhado por um quarteto de cordas, o que era uma novidade para o grupo na época. Essa canção se tornaria uma das mais regravadas do repertório dos Beatles nos anos seguintes. As faixas "It´s Only Love", "I´ve Just Seen" a "Face e Tell Me What You See" complementam o disco mantendo aceso o clima da Beatlemania na sonoridade da banda.
A trilha de "Help" simboliza o início de mudança de paradigma musical. Eles passariam a utilizar mais os recursos que tinham no estúdio de gravação na época, ampliando os horizontes da música e se consolidando como uma das referências da história do rock.
Vanessa da Mata lançou a versão deluxe do álbum “Todas Elas”. O álbum conta com uma gravação da mato-grossense para o clássico “Nada Mais”, música lançada em 1984 na voz de Gal Costa para o álbum “Profana”, que é uma versão brasileira da balada “Lately” de Stevie Wonder, de 1980. A versão em português é de Ronaldo Bastos.
Viralizou nas redes sociais um vídeo de Vanessa da Mata interpretando a música durante os bastidores da gravação do programa “Altas Horas”. Na época, o vídeo recebeu inúmeros compartilhamentos e muitos elogios para Vanessa. A cantora e compositora explica o porquê da escolha de “Nada Mais” para a versão de luxe de “Todas Elas”.
“Gal Costa sempre foi uma referência de uma das vozes mais lindas do mundo para mim, atitude feminina, coragem. Acho que qualquer homenagem a Gal Costa e de suas contemporâneas só reacendem uma tradição de qualidade da música brasileira que nos sustenta em uma admiração mundial até hoje! Isso deve sempre ser recuperado, relembrado na nossa mais sociológica pulsão cumulativa de troca entre gerações e seus representantes e admissão de quem somos nos pontos mais grandiosos”, afirmou Vanessa da Mata.
O disco apresenta 11 músicas autorais com participação de João Gomes, Robert Glasper e Jota.pê, nas faixas Demorou e Um Passeio Com Robert Glasper Pelo Brasil e Troco Tudo. Assim como no trabalho anterior, Vanessa da Mata assina a produção musical do álbum "Todas Elas". Os arranjos têm criação coletiva, envolvendo a banda formada por músicos como Marcelo Costa (bateria), Maurício Pacheco (violão e guitarra) e Rafael Rocha (trombone), entre outros instrumentistas. Gravado e mixado no estúdio Visom Digital, na cidade do Rio de Janeiro.
A sonoridade oscila entre o som mais dançante de faixas como "Maria Sem Vergonha" e "É Por Isso Que Eu Danço", com momentos mais suaves e introspectivos, como as ótimas faixas "Esperança" e "Troco Tudo". Trata-se de um trabalho onde Vanessa está bem à vontade interpretando suas canções acompanhada de um time experiente de músicos.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto:divulgação
Santos terá a oportunidade de conhecer um pouco da obra de Vannick Belchior, filha do consagrado cantor e compositor Antonio Carlos Belchior. Ela irá se apresentar no dia 14 de agosto a partir das 20h00 no Quintal da Veia (Rua Julio Conceição, 263 - Vila Mathias), trazendo o seu "Concerto a Palo Seco", com foco na rica obra autoral de Belchior.
Uma curiosidade: até 2020, Vannick Belchior estava muito certa de que seguiria o caminho do Direito e que cantar seria só um sonho de criança. Mas, faltando poucos meses para o mundo ganhar uma nova advogada, ela encontrou o músico Tarcísio Sardinha, velho amigo de seu pai e um dos mais experientes e admirados da cena cearense, que a convida para fazer um show. Foi o que bastou para mostrar o caminho da música para ela, que dois anos mais tarde lançaria o seu primeiro EP. Apresentações na televisão em programas como o "Altas Horas" do Serginho Groisman, serviram para mostrar que a cantora Vannick estava na área.
Nesse "Concerto a Palo Seco", Vannick traz um show mais acústico com releituras de composições consagradas, mescladas com outras canções menos conhecidas do grande público. Dessa forma ela inclui joias como "De Primeira Grandeza", que se mesclam com os conhecidos hits belchiorianos, como "Medo de Avião", "Paralelas" e "Divina Comédia Humana", entre outros. Direção musical e violões: Lu D'Sosa.
Vannick pretende levar o "Concerto a Palo Seco" em outras cidades no segundo semestre. Para 2026, ela prepara um novo projeto ainda com foco na obra de seu pai e depois pretende investir na carreira como autora, uma coisa que vem amadurecendo aos poucos. “Quando o meu pai faleceu, que eu vi outras pessoas incessantemente regravando e cantando aquela coisa toda. Eu fiquei feliz. Eu pensei: ‘cara, ele merece. Ele merece ser cantado, ele merece estar em cada esquina com alguém cantando mesmo a música dele, a obra dele. Ele merece esse reconhecimento”. Informações sobre o show da Vannick em Santos podem ser acessadas no link https://www.bilheteriaexpress.com.br/ingressos-para-um-concerto-a-palo-seco-com-vannick-belchior-quintal-da-veia-shows-444256910214118.html
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação
É impossível dimensionar a importância de Ozzy Osbourne na história do rock, que faleceu aos 76 anos no dia 22. Ele não só ajudou a moldar as bases do que se convencionaria chamar de heavy metal, como ainda se tornou um dos vocalistas mais emblemáticos do mundo do rock.
Como integrante fundador do Black Sabbath, Ozzy ajudou a produzir discos antológicos que até hoje influenciam roqueiros iniciantes. Após sair da banda, em 1979, iniciou um bem sucedida carreira solo, que também emplacou momentos antológicos, como o seminal álbum de estreia, "Blizzard Of Ozz".
É certo que sua saída do Black Sabbath não ocorreu de forma normal. Seus excessos no uso de entorpecentes e bebida alcoólica não podiam mais ser tolerados e por isso os demais integrantes decidiram demitir Ozzy. Mesmo na carreira solo, Ozzy dava sinais de que não havia abandonado a fama de maluco. Era chamado de "Madman".
Colecionou várias lendas e fatos verídicos, como a mordida acidental em um morcego, que ele pensou ser de mentira durante um show ao vivo. Esteve em 1985 na primeira edição do Rock In Rio e contribuiu para a solidificação do estilo heavy metal. Mas é preciso ressaltar a performance dele ao vivo. Tinha um incrível poder de interpretação vocal, que justificava a sua fama de "Príncipe das Trevas".
Nos últimos anos enfrentava sérios problemas de saúde, agravados pelo mal de Parkinson. No recente concerto "Back to The Begininng", que se tornou a última performance dele ao vivo, ele se apresentou sentado em uma poltrona.
Mas engana-se quem imaginou uma performance abaixo da expectativa neste show. O "Madman" foi simplesmente magnífico na sua performance, inclusive com os integrantes originais do Black Sabbath. Se era para ser uma despedida, ela foi feita com louvor. Ozzy deixa um legado importante e insuperável para as futuras gerações de músicos e admiradores do rock em geral.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Flora Negri
"Matriz Infinita do Sonho" é o nome do disco de estreia do músico pernambucano Beto Viana. Um trabalho de camadas interessantes e aparentemente simples nas composições, que traz novo frescor para a MPB. Segundo o autor, o trabalho é sobre como todos carregamos em nós a possibilidade e a necessidade de sonhar, a capacidade de criar mundos dentro do mundo, que é o ofício do compositor e do artista em geral. "Matriz Infinita do Sonho" é um verso de Joaquim Cardozo que se encontra no seu poema "Visão do Último Trem Subindo ao Céu", a quem o disco presta homenagem.
Para lançar seu álbum de estreia, Beto abriu a gaveta onde guardava, há anos, poemas, construções melódicas e boa parte das suas inspirações. Esse material foi a matéria prima com a qual ele começou a transformar, em parceria com Negro Leo, produtor do álbum, suas construções poéticas. Da palavra sentida e escrita para a palavra cantada. As nove canções de “Matriz Infinita do Sonho” são o resultado final de um processo de criação que já duram alguns anos e que mira a visão particular e peculiar de Beto sobre o sagrado e o sensível.
“Matriz Infinita do Sonho” conta com mais de 20 profissionais da música, num trajeto que une estúdios no Rio de Janeiro, Recife e Gravatá, no Agreste pernambucano. Nomes como o Junio Barreto, que divide os vocais com Beto na música “Dandara”, além do pianista Vitor Araújo, o percussionista Gilu Amaral, o baterista Thomas Harres, Pedrinhu Junqueira e Thiago Nassif, nas guitarras, e Pedro Dantas, no baixo.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação
Wanda Sá é daqueles casos raros de amor a primeira vista. Amor esse dividido com aquele estilo musical que nasceu no Rio de Janeiro e conquistou o mundo de ponta a ponta: a bossa nova. É impossível separar Wanda Sá desse requintado estilo musical e isso é fato.
Agora que está completando 80 anos, ela decidiu comemorar em grande estilo. Um disco com oito composições inéditas, oferecidas por nomes bem conhecidos do público: Carlos Lyra, João Donato, Roberto Menescal, Cristóvão Bastos, Abel Silva, entre outros, incluindo ainda os filhos Bebel Lobo e Bernardo Lobo. Jards Macalé participa na canção "A Voz de Sal", composta por ele em parceria com Romulo Fróes.
Apesar de ser uma intérprete, Wanda Sá também se aventura na composição, ao trazer uma valsa delicada feita em parceria com o filho Bernardo Lobo, bem no espírito da bossa nova. E a amiga Joyce Moreno divide gentilmente os vocais da faixa "Se Solta Coração", outro momento sublime desse disco.
Wanda Sá conseguiu reunir o veterano Marcos Valle com Nando Reis na canção "Só Desalento". Outra parceria inédita. E faz uma delicada releitura de "There Will Never Be Another You", do repertório de Chet Baker, um dos músicos que influenciaram os pioneiros da bossa nova.
Mas para mim a faixa que definiu de vez o conceito do álbum foi “Não Pergunte Demais”, parceria de Roberto Menescal e Abel Silva, com arranjo do mestre Antonio Adolfo, que abre o disco. Wanda Sá está simplesmente magistral nessa faixa com tom saudosista típico dos anos 60.
Wanda Sá contou que está esperando o disco sair em vinil, o que ocorrerá em agosto, quando ela começa a colocar o pé na estrada para divulgar o novo trabalho. E que não demore muito, pois quem curte música de qualidade merece ouvir esse seu novo trabalho.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Rodrigo Azevedo
"Campo Formoso" é um romance que tem como base, histórias sobre a família da autora Maria Victoria Oliveira. Através de personagens complexos e uma narrativa que alterna perspectivas e incorpora elementos de realismo mágico, o livro explora temas universais como família, identidade, superação e o peso do passado. Uma verdadeira saga, escrita ao longo de oito anos, que chega às livrarias pela Editora Lacre, com noite de autógrafos dia 8 de julho, terça-feira, a partir das 18h30, na Livraria Argumento.
A narrativa mergulha na complexa história da família Borges, em Campo Formoso, uma cidade no Planalto Central que espelha o interior do Brasil. A trama central gira em torno do Coronel Adauto Borges e sua esposa Maria Pia. O casamento é abalado pela chegada de Bento, filho ilegítimo do Coronel, personagem principal do livro. Ao longo de suas 460 páginas, a obra apresenta uma prosa rica, em que a autora alterna perspectivas para revelar as múltiplas faces da verdade: da rigidez do Coronel até a resistência silenciosa da esposa e a busca de identidade do filho bastardo. A trama é marcada por um ato simbólico de ruptura com o passado e celebração das transformações que o tempo impõe.
O romance é inspirado em histórias que Victoria escutou do seu pai, Benedicto, neto bastardo de um coronel em Goiás. Embora o livro seja uma obra de ficção, incorpora elementos verídicos, como a infância, a história da fazenda Fim do Mundo e sua viagem aos Estados Unidos. A autora criou personagens baseados em parentes, mas com características e experiências ficcionais..
Maria Victoria Oliveira é formada em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde foi revisora e tradutora no Instituto de Documentação, Maria Victoria Oliveira resolveu dar uma guinada em sua vida em 1994 e seguir o sonho de ser cozinheira profissional. Deu aulas, abriu um restaurante e trabalhou como chef executiva em redes de hotelaria, como Windsor Hotel. Ao todo, foram 26 anos dedicados à gastronomia.
Em 2017 começou a escrever o romance "Campo Formoso", e desde então, não parou mais. Victoria ingressou na Oficina Literária do professor Ivan Proença e hoje faz parte, também, da Oficina Literária do jornalista e cronista Eduardo Affonso. Como contista, participou de duas antologias comemorativas de aniversários da oficina. Em 2020, ano da pandemia da Covid-19, deixou de lado as panelas e resolveu se dedicar ao seu sonho antigo que é ser escritora. Em 2023, publicou o seu primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves, intitulado “Vestido Vermelho e Outras Histórias”.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Luisa Lambert
Skatista de rua há mais de 30 anos, atuante na cena nacional, Edu Lopes, também conhecido como apenasedu, fundou no final da década de noventa o grupo A FILIAL. E agora o grupo está lançando seu quinto e mais novo álbum chamado “Primeiro Disco”. Um trabalho em que se torna evidente o retorno à raiz do autêntico rap, com forte influência da “golden era” do hip hop e da cultura de rua.
A trajetória de Edu Lopes começou no início dos anos 90 quando em conjunto com BNegão criou o “The Funk Fuckers”, banda que integrou – assim como Planet Hemp, O Rappa e Black Alien – o núcleo que daria a cara da música produzida nas ruas do Rio de Janeiro durante os anos 90.
Com A FILIAL foram lançados quatro discos, tendo inclusive alcançado boas críticas na mídia do exterior. O quinto álbum do grupo se chama “Primeiro Disco”. À primeira vista pode parecer confuso. Porém, ao ouvir a abrangente reformulação na linguagem musical e a reaproximação dos fundamentos do seu berço, tudo começa a fazer mais sentido. O álbum tem uma cara evidente de “começo”, que para um projeto com vinte oito anos de estrada é realmente um posicionamento claro de recomeço artístico.
Edu Lopes entende que o momento é positivo para a consolidação do estilo hip-hop. “Quando comecei, era algo para a cena underground. Hoje em dia vejo ele inserido de vez na nossa cultura musical”. Ele reconhece os trabalhos de grupos pioneiros, como o Racionais MCs. “A Gravadora Trama também investiu em vários nomes do estilo, abrindo portas para vários deles”.
Com participações de Daniel Shadow, Matéria Prima e Old Dirty Bacon, A FILIAL traz uma bagagem consistente de décadas dedicadas às rimas e batidas que empurra passos à frente os fundamentos dessa cultura de rua, que se desdobrou em sub gêneros e ganhou enorme abrangência dentro do mainstream brasileiro na última década. Bagagem que se traduz numa espécie de “mapa da mina”, um fôlego que contribui no ancoramento de valores inegociáveis para o hip hop original.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.
Já está nas plataformas de streaming o novo álbum de Francis Hime, “Não Navego pra Chegar”. O projeto reúne apenas canções inéditas, além de convidados especiais, entre parceiros, intérpretes e músicos. Com 60 anos de carreira, Francis completou 85 de vida durante a gravação do álbum (em 31 de agosto de 2024), uma comemoração cercada de colaboradores dos quais o compositor é fã inconteste. Segundo ele, a linha musical deste disco remete a outros trabalhos seus, como o "Essas Parcerias", de 1984, e aos volumes 1 e 2 do "Álbum Musical". Nesse atual, ele trabalhou somente com músicas inéditas.
A parceria musical na melodia foi uma experiência nova e estimulante para Francis Hime. A partir da ideia inicial do parceiro compositor, ele seguiu compondo a sequência. Foi dessa forma que ele trabalhou com Ivan Lins na faixa “Imaginada”, com Maurício Carrilho na faixa título “Não Navego prá Chegar”, e com Zé Renato em “Imensidão”. Todas essas três contam com letras compostas por Olivia Hime.
Vale destacar os instrumentistas excepcionais que participam do projeto, como Paulo Aragão, Jorge Helder, Diego Zangado, Ricardo Silveira, Luciana Rabello, Maurício Carrilho, Kiko Horta, Marcus Thadeu, Aquiles, Dirceu Leite, Hugo Pilger e Cristiano Alves. Outros convidados surgem em duetos no álbum, reforçando o caráter coletivo de “Não Navego pra Chegar”. Simone, por exemplo, canta o ‘Samba pra Martinho’, enquanto Mônica Salmaso canta ‘Não Navego pra Chegar’, fazendo dela um choro-canção. Leila Pinheiro interpreta a salsa "Tomara que Caia"(Francis Hime e Moraes Moreira). Dori Caymmi empresta sua voz na faixa ‘Um rio’.
Desnecessário dizer que o resultado ficou acima da média. A verdade é que Francis Hime está totalmente a vontade, seja compondo, seja interpretando as canções com os convidados. A audição desse álbum é puro deleite para quem curte a nossa autêntica MPB.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.
Certa vez em uma entrevista, o filho de John Lennon, Sean Lennon, disse que as músicas dos Beach Boys transportavam o ouvinte para um mundo de felicidade, com harmonias vocais infinitas inspiradas pelo clima da California. E uma parcela significativa dessa genialidade se foi esta semana, com o falecimento de Brian Wilson, o principal líder musical do grupo e idealizador do clássico álbum "Pet Sounds", aquele disco que “virou do avesso” a mente de Paul McCartney e John Lennon nos anos 60, criando uma saudável rivalidade musical com os colegas americanos.
Brian Wilson tinha 82 anos e teve uma trajetória de vida marcada por problemas sérios de saúde. Na infância, teve problemas com a postura repressiva do pai, Murray Wilson. No auge dos Beach Boys, ele preferia ficar no estúdio compondo canções e arranjos vocais. A banda tinha em sua formação os dois irmãos de Brian (Carl e Dennis Wilson) e mais Al Jardine e Mike Love.
Tinha apena 24 anos quando cuidou da produção e dos arranjos do mítico álbum "Pet Sounds". A principal fonte de inspiração para Brian foi o álbum "Rubber Soul", dos Beatles. A ideia consistia em produzir algo tão bom quanto o que os ingleses fizeram. Ironicamente, o disco "Pet Sounds" também motivaria John Lennon e Paul McCartney a produzirem mais dois álbuns sensacionais ("Revolver" e "Sgt. Pepper´s Lonely Heart Club Band").
Nos anos seguintes Brian ficou mais afastado da música e acabou retomando com mais força nos anos 80 e 90, quando lançou ótimos álbuns solo. Recentemente havia sido diagnosticado com um distúrbio neurocognitivo similar a demência. De certa forma, a definição de Sean Lennon contrasta com os problemas físicos e emocionais de Brian. No entanto, sua música permanece relevante e atual nos dias de hoje.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: divulgação.
O arranjador, compositor, produtor musical Keco Brandão tem mais de 30 anos de carreira e um currículo respeitável, ao lado de artistas como Jane Duboc, Toquinho, Roberta Miranda, Fábio Júnior, Zizi Possi, Pedro Camargo Mariano, Gal Costa, Leila Pinheiro, Virgínia Rodrigues, Célia, entre outros.
Agora o músico trabalha no terceiro álbum do projeto "Keco Brandão Com Vida". Os dois primeiros singles estão sendo disponibilizados nas plataformas de música sendo uma das canções, uma parceria inédita com o compositor e instrumentista Toninho Horta.
Em entrevista para o Resenhando, Keco Brandão conta como foi sua trajetória, que inclui ainda a criação da identidade musical do canal Record News (entre 2007 e 2014) e trilhas de programas do SBT, além de abrir portas para os novos talentos. “O nosso País tem muita gente talentosa que merece ter um espaço na mídia”.
Resenhando.com - Nesses mais de 30 anos, quais os artistas que você considera fundamentais para consolidar a sua trajetória? Keco Brandão - Eu sempre serei muito agradecido a todos com quem pude trabalhar. Mas três tem um lugar especial na minha mente: Jane Duboc, Gal Costa e Zizi Possi. Eu cantei com a Gal em um de seus shows. Com a Zizi trabalho até hoje, como integrante da banda. Essas três cantoras foram muito marcantes para mim.
Resenhando.com - Como está a produção do terceiro volume do Keco Brandão Com Vida? Keco Brandão - Estou divulgando os dois primeiros singles. O primeiro é uma composição de Rafael Altério e Rita Altério. Nessa versão, o convidado para interpretar foi o instrumentista, compositor e cantor mineiro Felipe Bedetti. O segundo é a canção que se chama “Meu doce irmão”, uma homenagem aberta ao compositor mineiro Tunai, uma parceria poética em música de Toninho Horta. A convidada para interpretar a canção foi a cantora e compositora Diana HP, que atualmente vive na França e é sobrinha de Toninho e filha dos músicos instrumentistas Yuri Popoff e Lena Horta.
Resenhando.com - Há planos para novos singles? Keco Brandão - Sim. Já tenho algumas participações que devem ser concretizadas mais adiante. Nesse terceiro volume estou priorizando os novos talentos que estão buscando seu espaço. Tem a Graziela Medori, filha da cantora Claudya e do músico Chico Medori, que vai cantar um samba que compus com Moacir Luz. Eu gosto muito de abrir espaço para os novos talentos. Nosso país tem muita gente talentosa que merece esse espaço.
Resenhando.com - Você tem um trabalho forte também na música instrumental. Pretende retomar esse trabalho no futuro? Keco Brandão - Com certeza. Trabalhei como produtor musical na Rede Record de televisão, onde criei a identidade musical do canal Record News de 2007 à 2014. Ainda no ramo das televisões, sonorizei trilhas de programas e novelas do canal SBT, inclusive a recente produção "A Caverna Encantada". No futuro irei retomar meu trabalho conceitual na linha instrumental.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Thiago Dias.
Gravado, produzido e composto em um apartamento localizado no Centro da cidade de São Paulo, “Raio” é o terceiro álbum da banda Tagua Tagua, um projeto musical idealizado pelo músico Felipe Puperi. O trabalho apresenta novas nuances ao projeto que outrora apresentou o neo soul e a psicodelia como suas principais características. Sem esquecer de seus ídolos do passado, artistas como Tim Maia, Cassiano e Bill Withers, marcas registradas em sua obra, Tagua Tagua traz agora uma energia dançante renovadora menos presente em seus trabalhos anteriores com novas influências, como Daft Punk e os contemporâneos franceses L'Imperatrice.
Natural do Rio Grande do Sul, Puperi se mudou para São Paulo e desde então vem desenvolvendo o projeto musical sempre mesclando suas influências com elementos de música eletrônica e uma sonoridade dançante. Nesse trabalho, ele teve a colaboração da banda americana White Denim na faixa "Lado a Lado". A Tagua Tagua já tem agendadas apresentações pelo Brasil e no exterior, como show de abertura da turnê da White Denim pelos Estados Unidos. Em entrevista para o Resenhando.com, Puperi conta como se deu o conceito desse novo trabalho e comenta a atual fase do seu projeto. “Ele veio da vontade de ter essa energia nos shows”.
Resenhando.com - Em primeiro lugar, gostaria que você explicasse de onde veio o nome da banda (Tagua Tagua)? Felipe Puperi - Tagua Tagua é o nome de um lago no Chile. Descobri essa paisagem linda durante uma viagem que fiz há alguns anos nesse país. Pensei que seria uma ótima ideia dar esse nome ao projeto musical.
Resenhando.com - As influências dos anos 80 vieram mais fortes nesse seu terceiro disco. Foi intencional? Felipe Puperi - Esse álbum é diferente de tudo que já fiz, principalmente por ter esse caráter animado e dançante. Sinto que ele veio de uma vontade de ter essa energia nos shows, esse momento de curtição, onde as pessoas podem simplesmente aproveitar o momento e dançar, como se estivessem numa grande festa.
Resenhando.com - Fale sobre a participação da banda White Denim no disco. Felipe Puperi - Foi a faixa que se tornou o primeiro single, "Lado a Lado". É uma música um pouco mais urgente que as demais, com uma levada contagiante da bateria que funciona como um trilho. Gravei algumas ideias e fiz a melodia e letra, então James Petralli continuou com guitarras, flauta, vozes e percussões. Fala sobre as melhores sensações da vida.
Resenhando.com - Como a banda foi estruturada para os shows? Felipe Puperi - Eu toco guitarra e faço o vocal, amparado pela banda com bateria, baixo e teclados com guitarra. A banda tem dois músicos sergipanos de Aracaju. E essa troca de experiências foi muito positiva para todos. Estruturamos a banda para apresentar o som com o mesmo tipo de sonoridade do disco. Fomos convidados para fazer os shows de abertura da turnê americana da banda White Denim. Etambém vamos mostrar o nosso trabalho pelo Brasil.
Integrantes da formação original da banda The Who,Pete Townshend e Roger Daltrey anunciaram uma turnê de despedida dos palcos pelos Estados Unidos e Canadá no segundo semestre deste ano. Será provavelmente o epílogo final da trajetória de um dos mais influentes grupos da história do rock. Há diversos fatores que podem ter contribuído para essa decisão. O principal deles talvez tenha sido a idade. Os dois integrantes estão próximos da casa dos 80 anos. E a conta pelos anos de excessos nas outras décadas pode ter chegado.
Seja lá qual for a razão, é compreensível a decisão de parar com as turnês. Muitos entendem que a banda deveria ter encerrado as atividades em 1978, após a morte do baterista Keith Moon. Mais tarde, seria a vez do baixista John Entwistle sair de cena em 2002. A ausência desses dois músicos, responsáveis pela cozinha rítmica da banda, acabou fazendo falta seja nos shows ou na gravação de discos de estúdio.
A dupla remanescente (ou seria sobrevivente?) manteve a banda ativa com outros integrantes de apoio. Entretanto, os recentes incidentes que resultaram na demissão do baterista Zak Starkey, filho do ex-beatle Ringo Starr, mostraram que o ambiente interno da banda apresentava problemas de relacionamento. A exposição desse mal-estar interno em um dos shows da banda acabou pegando mal perante o público.
Creio que nada irá apagar ou diminuir a importância da banda dentro do contexto do rock como movimento musical. Nomes como Noel Gallagher do Oasis e Eddie Vedder do Pearl Jam, já deram declarações enaltecendo as canções de Pete Townshend e mostrando como a força da obra do The Who marcou as suas formações musicais.
A trajetória do The Who ficou marcada pelas operas-rock "Tommy" e "Quadrophenia", ambas com momentos geniais, além do emblemático álbum "Who´s Next", de 1971, que continha as canções "Baba O´Ryley" e "Won´t Get Fooled Again". Mas não ficam de fora de uma relação canções como "My Generation", "The Seeker", "Substitute" e "I Can´t Explain", entre outras que deixaram uma marca indelével dentro do rock.
Não acredito em uma aposentadoria integral da banda. Creio que tanto Townshend como Daltrey ainda têm plenas condições de continuar produzindo músicas novas em estúdio. Mas somente o tempo responderá essa questão.
Há 40 anos, a banda britânica Dire Straits atingia o seu auge de popularidade com o lançamento do álbum "Brothers In Arms". Um disco que revolucionou a forma de gravar e produzir música na época e que ainda deixou canções que se tornariam clássicos ao passar pelo teste do tempo.
A banda era liderada pelo guitarrista e vocalista Mark Knopfler, responsável pelo fato de insistir em gravar as canções em processo digital, ao invés do sistema mais convencional (analógico). A proposta de Knopfler estava certa. O disco ficou com uma qualidade técnica sonora sensacional e até hoje surpreende quem o coloca para ouvir em seu CD player ou mesmo nas plataformas de streaming. Foi gravado no antigo Air Studio, que ficava na Ilha de Monteserrat e pertencia ao produtor George Martin (dos Beatles).
Knopfler sempre foi o cara que definia o conceito dos discos, além de ser o principal compositor e um exímio guitarrista, capaz de criar riffs e solos mágicos. Era o vocalista, muito embora reconhecesse suas limitações como cantor. Sua voz não tinha um alcance como o de outros artistas pop da época. Mas era sob medida para a música que a banda produzia.
O disco abre com a etérea "So Far Away", uma balada com um riff mágico. Mas é na faixa seguinte, "Money For Nothing", que a banda se consagraria de vez como a banda da MTV. Knopfler revelou que teve a inspiração da letra em uma loja de departamentos, onde os funcionários falavam que deveriam aprender a tocar um instrumento para ganhar a vida de forma fácil.
O lançamento do clipe da canção aconteceu na MTV europeia. E a canção venceu o prêmio Grammy em 1985 na categoria de melhor performance no rock. Destaca-se ainda a participação de Sting, que faz um luxuoso backing vocal e chega a dividir os vocais com Knopfler, que por sua vez fez um riff matador que pontua todo o arranjo.
O disco segue com o rockabilly animado de "Walk Of Life" e mais duas baladas marcantes: "Your Latest Trick" (com um solo mágico de sax) e "Why Worry", fechando o primeiro lado do álbum de forma magnífica. Todas essas cinco faixas foram bem executadas nas rádios na época.
O lado B do álbum abre com a igualmente ótima "Ride Across the River", cujo solo parece ter sido inspirado no estilo do guitarrista mexicano Carlos Santana. As duas canções seguintes "The Man´s Too Strong" e "One World" seguem aquele padrão de qualidade do grupo. A balada que encerra o disco e deu o nome para o álbum também foi bastante executada nas rádios, apesar de sua longa duração (pouco mais de seis minutos).
A banda seguiria até 1995, quando Knopfler anunciou oficialmente o fim do grupo. Passaria a desenvolver uma carreira solo com menos obrigações contratuais e com mais tempo para curtir a sua família. Ainda não seria a tal da “vida fácil” que o funcionário daquela loja de departamentos nos anos 80 imaginara. Mas pelo menos o tempo passaria a ser melhor administrado.
PorLuiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. Foto: Igor de Melo
Com mais de 15 anos na estrada do rock, a banda Selvagens à Procura de Lei está divulgando seu terceiro disco, intitulado “Y”. Um trabalho que marca a nova fase do grupo e seus novos integrantes. Matheus Brasil, baterista, é ex-membro da banda Projeto Rivera, que tocou no Rock In Rio representando Fortaleza em 2018. Plínio Câmara, guitarrista, é ex-membro da banda Casa de Velho, fundada por ele. E Jonas Rio, baixista, é ex-membro da banda Left Inside, além de Gabriel Aragão, membro fundador da Selvagens a Procura da Lei. É ele quem define o conceito da produção musical.
Segundo ele a nova formação dos Selvagens à Procura de Lei carrega em si a representatividade de uma Fortaleza periférica, preta e jovem. Em entrevista para o Resenhando.com, Aragão conta como foi que surgiu o cenário para o rock em Fortaleza e as dificuldades que há para furar a bolha do eixo Rio-São Paulo para mostrar o trabalho da banda. “O Nordeste também tem espaço para produzir rock com qualidade e originalidade”.
Resenhando.com - Quais foram as referências musicais para o Selvagens à Procura de Lei? Gabriel Aragão - As bandas de rock dos anos 80 foram nossas principais influências. O nome do grupo veio do título do terceiro disco dos Paralamas do Sucesso (Selvagem). Mas não vou negar que tem inspiração naquele trecho da canção da Legião Urbana, Tempo Perdido (E tão sério/E selvagem/Selvagem/Selvagem...). No plano internacional as influências são muitas. Fui criado em um ambiente familiar altamente Beatlemaníaco. E atualmente ouço muito rock alternativo.
Resenhando.com - Passados 15 anos e agora com o terceiro disco, a banda conseguiu encontrar seu espaço no rock nacional? Gabriel Aragão - Não tenho do que reclamar. Tocamos em vários festivais, como o Lollapalooza, o Rock In Rio, o Planeta Terra...mas é fato que ainda tem público no Sudeste que se surpreende quando toma conhecimento do nosso trabalho e de onde nós viemos. Ainda há aquela imagem do Nordeste com o forró e a música de festa, que realmente é uma tradição que merece ser preservada. Mas no Nordeste também tem espaço para o rock e suas várias vertentes. Fortaleza tem um cenário muito forte nesse segmento. Nós fazemos hoje o que chamam de indie rock, ou rock alternativo, como você preferir.
Resenhando.com - Fale sobre o novo disco. Gabriel Aragão - Este foi um disco bem pessoal. Talvez o mais pessoal da banda e muito, muito rock. Gravado em Fortaleza em poucos meses, durante o hiato da banda, falamos sobre rupturas e sobre seguir em frente, assim é a vida. O nome do disco se chama “Y” por conta do desenho da letra, que se assemelha um caminho que se bifurca, ao mesmo tempo simbolizando uma separação e um seguir em frente. Escrever esse disco foi ao mesmo tempo natural e necessário, tendo sempre em mente o amor imenso à história da banda e a todos os fãs, sem exceção. Agora, com nova formação, seguiremos em frente nos palcos e em futuras canções.
Resenhando.com - O título tem a ver com a figura da capa? Gabriel Aragão - A capa ficou por conta de João Lauro Fonte, que já tinha trabalhado com a banda no single “Por Todo O Universo”. Para essa arte, tivemos a ideia de usar a folha da ginkgo biloba, que é uma planta que virou símbolo de resistência depois de sobreviver à bomba atômica de Hiroshima, renascendo do solo devastado. Assim como essa árvore, todos nós carregamos essa força dentro da gente. A figura lembra também a letra Y.
Resenhando.com - Como estão se estruturando para divulgar esse trabalho? Gabriel Aragão - Estamos iniciando uma turnê pelo País. Começaremos pelo Nordeste e depois seguimos para Minas Gerais. Mas vamos levar o show e as novas músicas para o Norte e para o Sudeste. Queremos levar a nossa música para todo o lugar que pudermos tocar. Isso inclui também o Litoral Paulista, que tem um público sempre muito caloroso.
Marina Baggio é um ser inquieto - pensadora, artista plástica, filmaker, fotógrafa, designer, cantora e compositora. Suas produções artísticas evocam itinerários e movimentos sensíveis em uma investigação estética que batizou de “Bahia oriental”. E agora ela está estreando em disco com o álbum autoral intitulado Kissila.
Nascida em 1996, Marina passou a infância em Salvador, próxima ao mar, ouriços, coqueiros e bananeiras, que tanto marcam seu trabalho na pintura e fotografia, e se tornou cidadã do mundo muito cedo ao se mudar para China para trabalhar como modelo aos 16 anos.
Depois, atuando nas artes plásticas e imagens, rodou meio mundo com exposições, rabiscando paredes, instalações e telas até fazer sua primeira exposição individual em Lisboa, Portugal, em 2023. Na volta ao Brasil abriu seu próprio ateliê onde há uma geladeira azul dos anos 50, sem o motor, que é recheada de tudo que é tipo de papel, tintas e materiais que gosta de usar. E agora abraçou de vez também a música.
“Kissila”, foi produzido por Dadi Carvalho (A Cor do Som). Com nove faixas, sendo oito autorais e um dueto com Roberto Mendes, o disco celebra a riqueza da música brasileira em uma sonoridade única e sofisticada. Para dar vida a esse trabalho, um verdadeiro time de músicos se reuniu: Cézar Mendes, Chico Brown, Marcelo Costa e Tomás Improta.
Marina Baggio por Nani Basso
O álbum funciona como uma colagem de linguagens e sonoridades que celebra a liberdade criativa e o poder dos encontros em suas diversas manifestações. É a materialização das inquietudes de Marina Baggio e tudo que inspira movimento.
“Kissila” traz “Agora Só Penso em Você” (Marina Baggio, Cézar Mendes e Chico Brown), a bossa nova “Delícia Demais” (Marina Baggio e Cézar Mendes) que conta com o assobio de Cézar, o samba cadenciado “Chave de Cadeia” recheado de violões, baixo, bandolins, teclados e guitarras de Dadi e mais o blues “Sujeita à Cobrança” com arranjo e piano de Tomás Improta, “Não Aperte Minha Mente”, com as percussões de Marcelo Costa, e “Jailbreak”, versão em inglês de “Chave de Cadeia”.
A canção “Kissila”, que dá título ao álbum, nasceu em Salvador há anos atrás, conta Marina. “Eu devia estar com a adrenalina muito alta ainda de um assalto na noite anterior para ter a ousadia e o impulso de convidar Caetano Veloso a escutar uma composição minha. Cantei pra ele, que foi super generoso em me ouvir, comentar e perguntou se eu tocava violão”.
O álbum vem acompanhado de um filme que faz junção dos clipes feitos para cada uma das músicas. Conforme explica Marina, o universo da música é uma novidade, mas também é a integração dos mundos, o poder de experimentar as múltiplas facetas de expressão.
Uma das vozes do mítico grupo vocal Quarteto em Cy por mais de 50 anos, Sonya Ferreira sempre se destacou pela sua voz afinada e suave. E agora ela se mostra por inteiro como solista em um álbum intitulado Da Saudade Boa, que já foi disponibilizado nas plataformas de streaming. Um repertório que mescla canções inéditas com releituras de canções que fizeram parte de sua formação musical em várias épocas. Em entrevista para o portal Resenhando.com, ela conta como se deu o processo de produção, que contou com arranjos do experiente Luiz Claudio Ramos e sua relação com a obra de George Gershwin, um dos maiores nomes da música internacional. “Passei um ano estudando a vida de Gershwin nos Estados Unidos”.
Resenhando.com - "Da Saudade Boa" é um álbum que passeia pelas suas memórias afetivas. Como foi o processo de escolher quais músicas fariam parte desse retrato tão pessoal da sua história? Sonya Ferreira - Dá Saudade Boa é um álbum que fala da minha memória afetiva com relação a todos os amigos, a todas as pessoas, sendo músicos, cantores que participaram desde o meu começo como cantora profissional. A ideia surgiu quando começou a pandemia. O maestro Luiz Cláudio Ramos, que foi sempre nosso arranjador no Quarteto em Cy, falou assim, “Soninha, você não pode parar não, você topa fazer um disco?”. Na hora topei, porque eu tinha um tempo, eu aceitei na hora, fiquei muito feliz com o convite dele. Então fui pedindo músicas a vários compositores, amigos e parceiros, uma das primeiras canções que chegou em minha mão, foi uma composição inédita do Miltinho, do MPB4, com o Magro. Aí eu pedi ao Sá, o “Samba da Aurora”, e foram surgindo as músicas.
Resenhando.com - João Donato deixou sua marca em “Gaiolas Abertas”, pouco antes de partir. Como foi trabalhar com ele e o que essa gravação representa na sua trajetória? Sonya Ferreira - João Donato eu já apreciava demais. Desde 1965, quando convivíamos em Los Angeles. Ele estava sempre com a gente e com todos os músicos. Foi maravilhoso gravar com o Donato, “Gaiolas Abertas”, porque os arranjos desse meu álbum, quem fez foi o Luiz Cláudio. Mas aconteceu algo mágico nessa faixa. O João Donato chegou no estúdio, se sentou no teclado e já começou a tocar. Então, dentro do estúdio, eu já comecei a cantar com ele, acompanhados pelos músicos. Mas, Donato, na hora, criou um arranjo com a marca dele e gostamos do arranjo feito por João Donato para “Gaiolas Abertas”, parceria dele com o Martinho da Vila.
Resenhando.com - Entre tantas regravações e homenagens, há também músicas inéditas. Como você equilibrou o novo com o nostálgico para manter a alma do disco? Sonya Ferreira - Foi uma coincidência. Por exemplo, “Ao Amigo Tom”, que é uma música dos irmãos Vale (Marcos e Paulo Sérgio), eu sempre amei desde a minha adolescência, quando eu a ouvia com a Claudette Soares, que é uma cantora que eu amo e sempre fui fã. Eu amava o arranjo da gravação da Claudete. Quando fui gravar, optei por um arranjo baseado no da Claudette, que é do Osmar Milito. Então, ficou bem assim, no estilo daquele arranjo que a Claudete gravou nos anos 60.´ É todo baseado no arranjo mais antigo, com o toque moderno do vocal. E tem o contraste com as músicas inéditas, como a do Ivan Lins com o Gilson Peranzzetta e Nelson Wellington na faixa “Doce Rotina”, que é muito bonita.
Resenhando.com - O título do álbum vem de uma canção de Miltinho e Magro Waghabi. Como essa amizade com eles influenciou não só esse disco, mas a sua carreira como um todo? Sonya Ferreira - Quando eu pedi a música ao Miltinho, eu vi essa música com o título “Dá Saudade Boa”, que completou tudo, fechou toda a ideia. Foi o que influenciou a minha escolha, nos compositores, nas pessoas, nos cantores que iam cantar comigo e das participações nas composições de cada um deles.
Resenhando.com - Você homenageia ídolos internacionais como Michel Legrand e Gershwin. Como essas influências estrangeiras dialogam com a sua formação musical? Sonya Ferreira - Esses dois compositores sempre me influenciaram. Michel Legrand, eu estive com ele na primeira vez quando ele veio ao Brasil. Eu já era fã, tinha discos, tinha vários álbuns. E era muito amiga do Pedro Paulo Castro Neves, o Pepe, irmão do Oscar Castro Neves, que foi nosso arranjador durante anos. Fomos assistir ao show do Legrand no Canecão. Era a primeira vez, e aí o convidamos. Pepe já conhecia Michel Legrand e aí eu os convidei para um almoço em casa na época em que morava no Leblon. Eles foram na minha casa almoçar. Eu tinha meus álbuns com as partituras de Michel Legrand. Ele assinou todos com dedicatória. E George Gershwin, sempre foi a minha paixão como pianista e compositor. Eu estive, inclusive, no centenário de George Gershwin, em 98, quando fui aos Estados Unidos. Passei um ano estudando sobre George Gershwin, sobre a vida dele. Estive em Nova York e fui à biblioteca do Congresso, em Washington, onde eu estive com o diretor do setor de música. Fiz uma grande pesquisa, trouxe vários álbuns de partituras, CDs, livros... Gershwin está aqui na minha casa, nas paredes, nos quadros, no piano. Tenho uma grande paixão, por esses dois, Michel Legrand e George Gershwin. Gravei a valsa de Michel Legrand com a versão do Ronaldo Bastos. E gravei do George Gershwin com Ira Gershwin, a faixa “Someone To Watch Over Me”.
Resenhando.com - Estar cercada por nomes como Luiz Claudio Ramos, Cristóvão Bastos, Jorge Helder... Como foi reunir esse time de músicos no estúdio e como isso contribuiu para a sonoridade do álbum? Sonya Ferreira - Graças à Deus sempre estou cercada por esses músicos fantásticos, sendo violonista, pianista, baixista... músicos de uma categoria fantástica que sempre fizeram parte das nossas apresentações, seja tocando ao vivo ou gravando com o Quarteto em Cy. Cristóvão Bastos, um pianista, que já tinha tocado várias vezes com o Quarteto em Cy, Jorge Helder, um baixista de uma categoria fantástica, Luiz Cláudio um grande produtor. Fiquei muito feliz em tê-los nesse meu álbum.
Na atividade como músico desde 1967, Paulinho Guitarra mantém um currículo invejável. Fundador (e padrinho) da célebre Banda Vitória Régia, que acompanhou Tim Maia, ele também fez trabalhos memoráveis com vários outros nomes, como Marina Lima, Ed Motta, Marcos Valle, Cassiano, Sandra de Sá, Cazuza e Paula Lima, só para citar alguns exemplos
E o veterano músico nem cogita uma aposentadoria. Seu elogiado trabalho instrumental segue em plena atividade. O seu último disco, o Baile na Suméria, mescla uma sonoridade soul com o jazz de forma singular. E ele desenvolve atualmente um projeto de show ao vivo com foco na sonoridade soul dos anos 70, além de participar do projeto em tributo ao músico Raul de Souza. Em entrevista para o portal Resenhando.com, Paulinho conta alguns detalhes dessa sua trajetória na música, incluindo seus projetos atuais.
Resenhando.com - Quais foram suas principais influências musicais? Paulinho Guitarra - Minhas influências vieram dos anos 60, com nomes como Eric Clapton (da fase das bandas Cream e Blind Faith), Jimi Hendrix, Leslie West (da banda Mountain), além de George Harrison dos Beatles. Posso citar ainda B.B. King e Freddie King, na área do blues. Já na área do jazz citaria nomes como John McLaughlin, Pat Metheny, Miles Davis e John Coltrane. Acrescentaria ainda as bandas de soul, como a Mar-Keys, que acompanhava os astros da gravadora Stax. É um universo bem amplo.
Resenhando.com - Como foi tocar na banda Vitoria Regia, que acompanhava o Tim Maia? Paulinho Guitarra -Foi um aprendizado e tanto. Eu participei das gravações dos discos da fase inicial do Tim, de 1971 até 1977. E um fato curioso é que eu acabei sendo o padrinho da banda. Naquela época, a banda ainda não tinha nome. Nós ensaiávamos em uma casa que ficava na rua Vitória Régia, no Rio de Janeiro. Um dia sugeri pro Tim nomear o grupo como a Banda da Rua Vitória Régia. Ele adorou a ideia. Mais tarde, para encurtar o nome, ele tirou a rua e passou a se chamar somente Banda Vitoria Régia. E ficou assim desde então. Foi uma escola para um músico como eu, tocar ao vivo e gravar em estúdio. Aprendi muita coisa.
Resenhando.com - Mais tarde você tocou com o Cassiano. Por que essa parceria não foi para frente? Paulinho Guitarra -Foi depois que saí da banda do Tim Maia. O Cassiano me chamou para participar de um disco dele. Fizemos vários ensaios mas o disco nunca chegou a ser lançado. Depois fui tocar com o Sidney Magal, que fêz um sucesso grande naquele período, além de tocar com Carlos Dafé, entre outros.
Resenhando.com - Nos anos 80 você integrou a banda da Marina Lima com um time de feras da música (Renato Rocketh, Jorjão Barreto, etc). Fale sobre essa experiência. Paulinho Guitarra -Depoisde tocar com vários nomes, veio o convite para participar do grupo que acompanharia a Marina Lima. Acabei ficando oito anos com ela. Era época dos discos "Fullgas", "Todas" e "Virgem". Foi um período muito produtivo. A banda dela teve várias formações até chegar na época do disco 'Todas" , que tinha o Rocketh no baixo, o Sérgio Della Monica na bateria, Jorjão Barreto nos teclados e Miguel Ramos no sax. Foi uma experiência bem marcante. Fizemos muitas coisas legais.
Resenhando.com - Conte como aconteceu o solo de guitarra da gravação de "Nada por Mim", com a Marina. Paulinho Guitarra -Eu tinha também uma banda com o Claudio Zoli nesse período. E quando surgiu a gravação para fazer, eu estava ainda esperando chegar uma guitarra nova, que eu havia comprado. Por isso, pedi emprestado a guitarra Fender Stratocaster do Zoli para gravar. O solo aconteceu praticamente ao vivo no estúdio. Sem parar de fazer a base, eu fiz o solo que saiu em um estilo meio blues e acabou ajudando a canção a fazer o sucesso que foi na época. Também marcou muito o solo da canção "Uma Noite e Meia", do Renato Rocketh, que virou um hit da Marina nos shows da época do álbum Virgem.
Resenhando.com - Na sequência você tocou na banda do Ed Motta. Como foi tocar com ele? Paulinho Guitarra -Um pouco antes toquei com o Claudio Zoli. E realmente depois toquei com o Ed Motta. Foram quase 22 anos tocando com ele, que é um cantor incrível. Um dos melhores, sem dúvida. E toquei ainda com Marcos Valle, que foi uma outra experiência incrível.
Resenhando.com - Fale sobre seu projeto autoral instrumental. Paulinho Guitarra -Tenho um selo musical, o Very Cool Music, pelo qual lancei quatro discos: Very Very Cool Band, Trans Space, Romantic Lovers e Baile na Suméria. E tenho mais um, o primeiro que foi pela Niteroi Discos, que leva o meu nome no título. Dos projetos atuais, tem o Superfly, um show com foco na sonoridade soul dos anos 70. E também faço parte do projeto Tributo ao Raul de Souza, que foi um dos maiores músicos do País. Continuo compondo e produzindo coisas novas nessa linha instrumental.