quarta-feira, 30 de abril de 2025

.: Por que mentimos? Os limites entre a autoilusão e a fraude

Especialista alerta para os impactos de viver em constante dissimulação — e os caminhos para retomar a autenticidade


O que acontece quando a mentira deixa de ser uma escapatória pontual e passa a reger a vida de alguém? Essas questões, que atravessam tanto a psicologia quanto a ética, ganham destaque no livro de Carlos Eduardo Simões, As mentiras que contam para você – O poder da autoilusão”, publicado pela Literare Books International. A obra parte de um ponto sensível, porém universal: a capacidade que temos de aceitar inverdades – contadas por outros ou, pior ainda, por nós mesmos – como verdades absolutas.

Segundo o autor, “muitas vezes, não é a mentira do outro que mais nos machuca, mas a que repetimos internamente até se tornar um muro invisível que nos impede de avançar”.

O livro é um convite à reflexão. Baseado em pesquisas, estudos e vivências pessoais, Carlos Eduardo mostra como essas falsas verdades moldam decisões, travam carreiras e minam relações. A mentira, nesse contexto, é mais do que um simples desvio ético – ela pode ser um mecanismo inconsciente de proteção, uma autoilusão.

Mas há um limite. E quando ele é ultrapassado, entramos em outro território: o da compulsão, da falsidade ideológica, da mitomania – nome clínico dado ao comportamento compulsivo de mentir. Nesses casos, a mentira passa a ser utilizada como instrumento de manipulação social, e os danos extrapolam o universo do indivíduo.

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Mentir pode virar doença?

A psicologia define a mitomania como uma condição em que a pessoa mente com frequência e sem necessidade aparente. Ao contrário da mentira “comum”, que geralmente tem um objetivo claro (evitar punições, agradar, conseguir vantagem), o mitômano constrói realidades paralelas, muitas vezes acreditando nas próprias narrativas.

Esse descolamento da realidade pode trazer sérias consequências – tanto emocionais quanto sociais – e, em casos extremos, envolver até crimes.


Um teatro de 40 anos

Exemplo emblemático dessa fronteira entre mentira e delírio socialmente estruturado é o do juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, revelado recentemente. Por mais de quatro décadas, ele viveu sob a identidade fictícia de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, alegando ser descendente de nobres britânicos.

Com essa falsa identidade, ele ingressou na USP, foi aprovado em concurso público e atuou como juiz no Tribunal de Justiça de São Paulo. Tudo começou com um RG falso em 1980 e só veio à tona em 2024, quando tentou tirar segunda via do documento.

A farsa caiu após análise das impressões digitais, revelando que os dois registros – o verdadeiro e o fictício – pertenciam à mesma pessoa. Investigações confirmaram que não há nenhum registro do nome britânico em sistemas oficiais do Reino Unido.

Carlos Eduardo comenta: “O mais impressionante nesses casos não é apenas a construção da mentira, mas o quanto o sistema – social, institucional, emocional – pode se adaptar à farsa. A mentira sustentada por anos deixa de ser apenas uma invenção: ela se institucionaliza.”


Entre a autoilusão e a fraude

O livro de Carlos Eduardo Simões não fala de fraudes judiciais ou escândalos criminais, mas nos ajuda a entender como pequenas distorções da realidade – muitas vezes inocentes ou bem-intencionadas – podem virar verdadeiros sistemas internos de autossabotagem. E, em escala maior, podem se transformar em mentiras com impacto coletivo.

“Mentimos por medo, por vergonha, por querer aceitação. Mas também mentimos porque não fomos ensinados a lidar com a verdade de forma madura”, afirma o autor.

No fim, a obra nos convida a um exercício difícil, porém libertador: rever a história que contamos para nós mesmos e identificar quais dessas narrativas são apenas véus sobre a realidade.

Afinal, como Carlos Eduardo resume, “enxergar a verdade pode doer. Mas viver uma mentira dói mais – e por muito mais tempo”.


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.: "A Hora do Mal": Warner Bros. Pictures lança primeiro trailer do longa de terror

Filme do aclamado diretor de "Noites Brutais" traz grandes mistérios e muita tensão


A Warner Bros. Pictures Brasil acaba de divulgar o primeiro trailer oficial de "A Hora do Mal", novo e intrigante título dirigido e roteirizado por Zach Cregger, cineasta responsável pelo aclamado Noites Brutais. O longa traz uma sensação sombria sem fim, por meio de desaparecimentos repentinos que desafia as leis da lógica e da realidade. 

O trailer apresenta Julia Garner (de Ozark e Inventando Anna) no papel da professora Gandy, a responsável turma de classe na qual os alunos desaparecem misteriosamente. A narrativa é construída com imagens predominantemente escuras, retratando crianças sempre sozinhas vagando sem rumo, além de uma trilha sonora tensa que intensifica o suspense. As cenas rápidas e fragmentadas contribuem para um clima misterioso, buscando exaltar a angústia dos familiares e da sociedade diante do sumiço inexplicável dessas crianças 

Sobre o filme: A trama começa em plena quarta-feira, quando todas as crianças de uma sala desaparecem misteriosamente — com exceção de um único jovem. Exatamente às 2h17 da manhã, todas elas acordaram e saíram no escuro por livre e espontânea vontade, sem qualquer sinal de violência, e nunca mais voltaram. Agora, todos buscam respostas do porquê apenas os alunos da professora Gandy  desapareceram. O que teria acontecido com as crianças e, mais importante, quem realmente estaria por trás desse evento? 

"A Hora do Mal" é estrelado por Josh Brolin (Vingadores e Duna) e a vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante, em série, Julia Garner (de Ozark e Inventando Anna). O elenco também tem os atores Alden Ehrenreich, Austin Abrams, Cary Christopher, Benedict Wong e Amy Madigan. 

Zach Cregger assina a direção, o roteiro do filme e atua como produtor, ao lado de Roy Lee, Miri Yoon, J.D. Lifshitz e Raphael Margules. A produção executiva é assinada por Michelle Morrissey e do próprio ator Josh Brolin. 

Já a equipe criativa do filme inclui o diretor de fotografia Larkin Seiple, o designer de produção Tom Hammock, o editor Joe Murphy e a figurinista Trish Summerville. A trilha sonora original é assinada por Ryan Holladay, Hays Holladay e pelo próprio Cregger. 

"A Hora do Mal" é uma produção da New Line Cinema e chega aos cinemas brasileiros em 7 de agosto de 2025. 

Trailer


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terça-feira, 29 de abril de 2025

.: Crítica: "Sobreviventes", de José Barahona, retrata a sede pelo poder

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em abril de 2025


A beira do mar e um horizonte. Um grupo de sobreviventes, brancos e negros, de um naufrágio são levados a uma ilha deserta para começarem a esticar o cabo da tensão pela luta da sobrevivência e saciar a sede de poder. "Sobreviventes", dirigido por José Barahona e co-escrito por José Eduardo Agualusa, retrata a disputa sedenta pelo domínio mesmo quando se está num grupo pequeno.

A produção luso-brasileira ambientada em meados do século 19 que começa numa ilha deserta no Oceano Atlântico, exibe na tela em preto e branco o retrato da sociedade que, por mais que evolua, ao trancos e barrancos, não consegue, de fato, mudar para o bem de todos, uma vez que o objetivo maior é da dominância. Assim, concentra-se nos personagens Gregório (Roberto Bomtempo), Mendes (Miguel Damião), Angelim (Hugo Azevedo) e Inês (Kim Ostras), às vezes, ambíguos, e outras transparentes. 

"Sobreviventes", em cartaz nos cinemas, é um filme que não entrega puro entretenimento, mas lança provocações reflexivas necessárias sobre como as raças se veem e veem as outras, esbarrando nos valores da identidade, memória e justiça. O longa com Miguel Damião, Alex Miranda, Anabela Moreira, Roberto Bomtempo, Paulo Azevedo, Kim Ostrowskij no elenco é o último trabalho de José Barahona, que faleceu em novembro de 2024.



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.: Eileen Dietz, o Rosto do Mal em "O Exorcista" estará na Horror Expo 2025

Atriz Eileen Dietz. Instagram: instagram.com/p/CHZ0jn9FdCt/


A Horror Expo 2025 confirma a presença histórica da atriz Eileen Dietz, conhecida mundialmente por interpretar o demônio Pazuzu e atuar como Regan possuída em algumas das cenas mais icônicas do clássico do terror, "O Exorcista". Esta será a primeira visita da atriz ao Brasil, prometendo momentos inesquecíveis para os fãs do gênero.

Responsável por cenas lendárias — como o infame vômito verde, a morte por levitação e a perturbadora sequência do crucifixo —, Eileen marcou gerações com sua performance visceral e seu rosto demoníaco, que até hoje assombra o imaginário coletivo.

Além de seu trabalho em "O Exorcista", a atriz construiu uma carreira de destaque no cinema e na TV, com participações em produções como Constantine, Creepshow III, Halloween II (de Rob Zombie), e em séries clássicas como Happy Days, Planet of the Apes e General Hospital.

Durante a Horror Expo, Eileen Dietz participará de:

Painel exclusivo no palco principal, compartilhando histórias dos bastidores de "O Exorcista";

Sessões de fotos e autógrafos com os fãs;

Encontros especiais para celebração do terror clássico.

A Horror Expo 2025 acontece nos dias 04 e 05 de outubro, no Centro de Eventos São Luís, em São Paulo.

Ingressos já estão disponíveis no Clube do Ingresso.


.: "Screamboat: Terror a Bordo" estreia nos cinemas de todo Brasil no dia 1º

Com 80% de aprovação da audiência do Rotten Tomatoes, o filme de terror traz uma adaptação sombria do rato mais famoso da cultura pop


"Screamboat: Terror a Bordo" estreia nesta quinta-feira, 1º de maio, nos cinemas de todo o Brasil com distribuição da Imagem Filmes. O que era para ser uma travessia comum de balsa se transforma em um verdadeiro pesadelo no novo filme de terror que promete causar gritos e risadas dos espectadores. A produção tem gerado grande expectativa entre os fãs do gênero por trazer uma versão sombria e sangrenta de um dos personagens mais icônicos da história da animação, inspirado no clássico curta “Steamboat Willie” (1928), dirigido por Walt Disney e Ub Iwerks. Até o momento, o terror conta com 80% de aprovação da audiência do Rotten Tomatoes.

Assista ao spot

Dirigido por Steven LaMorte, o filme acompanha um grupo de passageiros a bordo da última balsa da noite em Nova York, que se veem encurralados por um rato assassino em alto-mar. Cercados pela água e pelo medo, eles precisam encontrar uma forma de sobreviver aos ataques brutais da criatura. O vilão Willie é interpretado por David Howard Thornton, conhecido por seu papel como Art, o Palhaço, na cultuada franquia “Terrifier”.

Sobre a escolha do ator, o diretor comenta que “Ter David no papel de Steamboat Willie foi fundamental para o roteiro, porque sabíamos que: ‘Ok, David vai interpretar o papel, então a maquiagem, as próteses e o design da criatura precisam dar suporte ao tipo de atuação animada que ele vai fazer’. Mas isso também significava que não queríamos apenas ter Steamboat Willie gigante e assustador, parado ali — sabíamos que ele podia ser criativo e travesso, e fazer essas grandes atuações caricatas. David é como um personagem de desenho animado — ele não consegue se conter. Ele faz todas essas expressões faciais brilhantes. Nosso Vapor Willie tem vida, porque no coração dele está David Howard Thornton.

Gravado em um ferry real e desativado de Staten Island, o filme se destaca pela ambientação claustrofóbica e pela estética retrô de horror, com efeitos práticos, maquiagem carregada e um tom que mistura violência gráfica e humor ácido. A atmosfera é reforçada pela trilha sonora tensa e por uma fotografia que brinca com luzes piscantes e sombras grotescas.

Assista ao trailer

No elenco, nomes como Tyler Posey (Teen Wolf), Kailey Hyman (Terrifier 2), Allison Pittel (Stream) e Jesse Kove (Cobra Kai) se unem em um jogo de gato e rato (literalmente) com o vilão Willie, que surge como uma figura caricata, mas absolutamente letal. O personagem, que não fala, utiliza expressões exageradas, gestos teatrais e armas improvisadas para aterrorizar suas vítimas — sempre com um sorriso no rosto.

Produzido pelos mesmos responsáveis por Terrifier 2 e 3, Screamboat: Terror a Bordo promete agradar aos fãs de horror trash, slasher e sátiras visuais que misturam nostalgia e pesadelo. Screamboat: Terror a Bordo estreia nesta quinta-feira, 1º de maio, com distribuição da Imagem Filmes.

Sinopse: Na última balsa da noite em Nova York, passageiros e tripulantes são caçados por um rato impiedoso, e o que deveria ser uma travessia tranquila se transforma em um massacre sangrento. Parece o rato que você conhece, mas não se engane! Ele é muito mais perigoso. Cercados pela água e pelo medo, eles precisam encontrar um jeito de sobreviver antes que seja tarde demais.


Elenco:

David Howard Thornton; Allison Pittel; Jesse Posey; Amy Schumacher; Kailey Hyman; Mike Leavy; Jesse Kove; Brian Quinn; Joe DeRosa; Tyler Posey; Jarlath Conroy.

Ficha Técnica:

Direção: Steven LaMorte

Roteiro: Matthew Garcia-Dunn, Steven LaMorte

Produção: Steven LaMorte, Steven Della Salla, Martine Melloul, Amy Schumacher

Direção de Fotografia: Steven Della Salla

Trilha Sonora: Charles-Henri Avelange, Yael Benamour

Edição: Patrick Lawrence

País: Estados Unidos

Ano: 2025

Distribuição: Imagem Filmes


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domingo, 27 de abril de 2025

.: Antologias organizadas por neto de Graciliano Ramos celebram cães e gatos


Neto de Graciliano Ramos e apaixonado por animais, Rogério dedicou seus últimos anos à cuidadosa seleção dos textos que compõem todo o projeto


A Maralto Edições lança, neste mês de abril, as antologias "Histórias Brasileiras de Cães" e "Histórias Brasileiras de Gatos", organizadas pelo neto do escritor Graciliano Ramos, Rogério Ramos, falecido em agosto de 2024, pouco após concluir o trabalho. Durante anos, Rogério se dedicou meticulosamente à seleção dos textos e, ao perceber a proximidade da publicação, intensificou a revisão e edição. Nos momentos finais do projeto, já doente, contou com o apoio do irmão, Ricardo Ramos Filho.  O lançamento das antologias será dia 30 de abril, quarta-feira, a partir das 19h00, na Livraria da Vila. O evento contará com uma roda de conversa com Cristiane Mateus (publisher da Maralto Edições), Rosane Lima (fotógrafa responsável pelo ensaio dos livros) e Mariana Ramos (irmã de Rogério Ramos). A mediação ficará por conta de Ricardo Ramos Filho, também irmão de Rogério. 

As antologias reúnem narrativas que evidenciam a presença marcante de cães e gatos na literatura brasileira, em poemas, contos, crônicas e romances. Entre os autores reunidos estão grandes nomes da literatura nacional, como Carlos Drummond de Andrade, Carlos Heitor Cony, Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Domingos Pellegrini, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles, Rachel de Queiroz, Raul Pompeia, Ricardo Ramos, Ricardo Ramos Filho, Graciliano Ramos, Rubem Braga, Zélia Gattai, Cora Rónai, Otto Lara Resende, Ferreira Gullar, entre outros.

Rogério Ramos sempre sonhou em criar diversas coletâneas dedicadas exclusivamente aos animais. Começou reunindo textos sobre cães, depois voltou sua atenção aos gatos, mas seus planos iam muito além, imaginava coletâneas sobre cavalos, pássaros e tantos outros seres que povoavam seu afeto. “Meu irmão foi uma vocação perdida”, recorda Ricardo, “estudou Letras, foi editor, mas deveria ter sido veterinário. Adorava bichos de uma maneira geral. Desde os dinossauros, sabia tudo sobre eles. Em casa, quando éramos pequenos, trazia passarinhos (várias gaiolas), montou um grande aquário, cachorro, porquinho-da-índia, gato, papagaio, periquito, tartaruga. Talvez desejasse fazer de nossa residência um zoológico. Meus pais, desconfiados, permitiam.”

As obras contam com um ensaio fotográfico em preto e branco captado pela experiente fotógrafa Rosane Lima, que buscou retratar a essência dos animais por meio de registros espontâneos e sensíveis. “Estudei os textos selecionados e só depois busquei imagens e animais que pudessem dialogar com eles”, explica Rosane. “Tenho amigos tutores de gatos e cães, e tratei de visitá-los. Os encontros foram longos, marcados por muita conversa e observação. Era essencial identificar, nos animais visitados, o sentimento evocado em cada texto. Os bichos retratados já me eram familiares, assim como o vínculo que cada um tinha com seu tutor.”

Entre os textos selecionados por Rogério, destaca-se um trecho de uma crônica de Carlos Heitor Cony, publicada na Folha de S.Paulo em 31 de janeiro de 1994. Nele, o autor relata sua relação de cumplicidade com a cadela Mila e a reação do animal no dia da morte do pai. "Mila é mais sóbria, mais sólida e sábia. Na noite em que meu pai morreu, vim em casa tomar banho, fazer a barba, trocar de roupa, preparar-me para o dia que me aguardava. Sempre que coloco a chave na fechadura, por menos ruído que faça, ela se coloca atrás da porta e espera. Pula em cima de mim, seu hálito aquece meu pescoço, seus olhos procuram os meus e ela me lê, sabe como estou, como foi meu dia e como está a vida. Naquela noite não pulou, nem olhou meus olhos. Cabeça baixa, rabo entre as pernas, ela sabia. Eu não avisara a ninguém, mas a ela nada precisava dizer. Encostou-se aos meus joelhos, cúmplice e solidária. E ela, que do mundo lá fora esperava um pai, do mundo lá fora recolheu um órfão".

Para Ricardo Ramos Filho, administrar esse projeto editorial é também uma forma de homenagear a memória o irmão. Ele admite que a perda deixou um vazio imenso em sua vida. Eram muito unidos, com apenas dois anos de diferença de idade, e a ausência ainda é profundamente sentida. “O luto ainda está presente. Lidar com esse trabalho é pensar que ele ficaria feliz ao ver esses livros publicados. De certa forma, estamos perpetuando o legado de Rogério. Ele era tão importante para mim que, aos 71 anos de idade, tatuei no braço um verso de Drummond que representa minha dor: ‘A ausência é um estar em mim’”, finaliza Ricardo.

As antologias "Histórias Brasileiras de Gatos" e Histórias brasileiras de cães já estão disponíveis para compra no e-commerce da Maralto Edições e em livrarias parceiras. As obras também integram o Programa de Formação Leitora Maralto, iniciativa voltada para escolas em todo o país.


Organizador
Filho de Ricardo Ramos e neto de Graciliano Ramos, Rogério Ramos dedicou sua vida ao mundo dos livros. Como editor de obras didáticas e literárias, trabalhou para ampliar horizontes e imaginar uma São Paulo mais plural e menos urbana. Apaixonado por cães, gatos e cavalos, cultivava três grandes amores: a literatura, a cidade e os animais. Em 2000, colaborou na obra juvenil "Os Primos Ramos Amado em A Nave de Noé", escrita a dez mãos. Faleceu em 2024, aos 68 anos.


Fotografias
Rosane Lima construiu uma sólida trajetória como fotojornalista na mídia impressa catarinense, registrando com sensibilidade e precisão a realidade ao seu redor. Entre seus projetos de destaque estão a exposição Nossos trabalhadores (2014) e a colaboração no livro Ensaios para a liberdade (2002), produzido pela Fundação Arco-Íris, em Florianópolis.

"Histórias Brasileiras de Cães"
Páginas: 165

"Histórias Brasileiras de Gatos"
Páginas: 125


Organizador: Rogério Ramos
Fotos: Rosane Lima
Editora: Maralto Edições
Vendas: https://loja.maralto.com.br
Instagram: @maraltoediçoes


Lançamento
Data: 30 de abril, quarta-feira, a partir das 19h
Endereço: Livraria da Vila – R. Fradique Coutinho, Vila Madalena / São Paulo
O evento contará com uma roda de conversa com Cristiane Mateus (publisher da Maralto Edições), Rosane Lima (fotógrafa responsável pelo ensaio dos livros) e Mariana Ramos (irmã de Rogério Ramos). A mediação ficará por conta de Ricardo Ramos Filho, também irmão de Rogério.

.: Inédito no Brasil, espetáculo "Veneno" estreia no Teatro Estúdio nesta segunda


Estrelado por Cléo De Páris e Alexandre Galindo, espetáculo propõe uma reflexão sobre o luto a partir da história de um casal que se reencontra dez anos depois da morte de seu filho. Foto: Leekyung Kim


Montada em 30 países, a premiada peça "Veneno" ("GIF", em holandês), da dramaturga, escritora e roteirista holandesa Lot Vekemans, acaba de ganhar uma versão inédita dirigida por Eric Lenate e protagonizada por Cléo De Páris e Alexandre Galindo. O espetáculo tem sua temporada de estreia no Teatro Estúdio, de  28 de abril a 28 de maio, com sessões de segunda a quarta, às 20h30.

Considerada uma das autoras mais consagradas da Holanda, Lot Vekemans escreve para o teatro desde 1995 e já recebeu diversos reconhecimentos por seus trabalhos, como os Prêmios Van Der Vies por "Truckstop" (2005) e "Schwester von" (2005); Taalunie Toneelschrijftprijs por "Veneno"  (2010); e Ludwig-Mühlheim por sua dramaturgia (2016). “Veneno” também ganhou, em 2024, uma adaptação para as telonas, em um filme homônimo dirigido pela alemã Désirée Nosbusch e estrelado por Tim Roth and Trine Dyrholm.

Na trama da peça, um casal separado volta a se encontrar em um cemitério, dez anos depois da morte de seu filho. Eles receberam uma carta que anuncia que será preciso remover seu ente querido, ali enterrado, devido a uma contaminação de veneno no solo. Passado e presente se embaraçam num diálogo entre os personagens na busca pela possibilidade de ressignificar uma dor dilacerante. 

O texto questiona: “Qual o tempo para se elaborar um luto?”. É possível perceber nessa trama que essa resposta não existe, os personagens evidenciam os caminhos traçados por cada um para transpor esse abismo onde não há certo ou errado. As singularidades de cada um se escancaram nos questionamentos, confissões, nas memórias das mais ternas as mais impiedosas. A peça é sobre a reconciliação de um homem e uma mulher após a morte de seu filho.

Vekemans despeja essa tragédia universal em um cenário compacto e cristalino: dois ex-amantes choram a morte de seu filho, mas cada um o faz de uma maneira diferente. Ela sente falta dele, ele pensa nele todos os dias. Ele aceitou, ela abraçou sua dor e sente que tem todo o direito de fazê-lo.

Segundo o diretor Eric Lenate, embora a autora enfatize firmemente essas diferenças mútuas, ela toma cuidado para não tornar seus personagens muito nítidos ou diretos. “Suas emoções são expressas de forma confusa e contraditória, ambos são tão simpáticos quanto cruéis. Dessa forma, a dramaturga também descasca todas as camadas que estão abaixo da superfície do luto: desilusão, reprovação, arrependimento. Ela cria pessoas complexas de carne e osso, pelas quais você sente alternadamente compreensão e aversão, e que são, portanto, um grande desafio para os atores retratarem”, revela.

“O apelo universal de 'Veneno' não está apenas no que Vekemans escreveu, mas também em tudo o que ela conscientemente omitiu. Assim se desenrola um estudo meticuloso sobre perda e luto, por meio de duas pessoas que, em seu luto mútuo, tentam se abraçar mais uma vez, só por um momento", acrescenta.

"Veneno" alterna com muita precisão grandes emoções com conversas sóbrias e relativizadoras, para que o drama nunca se torne muito pesado. Entre confissões de cortar a garganta e repreensões incisivas, os personagens também falam sobre o clima ou a qualidade do café. “Ao injetar conscientemente ar e humor no diálogo, ela habilmente evita o melodrama que, inevitavelmente, espreita neste tema pesado. O efeito é que os momentos emocionais só nos atingem com mais força”, explica o encenador.


Sinopse do espetáculo "Veneno"
Uma carta anuncia que o filho de um casal precisará ser removido do cemitério onde fora enterrado, pois há veneno naquele solo. Um encontro entre esse casal, dez anos depois, escancara as dores de um luto ainda presente. O maravilhoso diálogo entrelaça o sofrimento de duas pessoas que perderam um filho, a si mesmas e uma a outra. Além de tocante e pungente, o espetáculo proporciona que momentos cômicos brilhem até mesmo nas tragédias mais profundas.


Ficha técnica
Espetáculo "Veneno"
Texto: Lot Vekemans
Tradução: Mariângela Guimarães
Direção: Eric Lenate
Elenco: Cléo De Páris e Alexandre Galindo
Figurinos: Fabiano Menna
Cenário, som, iluminação e programação visual: Eric Lenate
Direção de Produção: Alexandre Galindo
Produção Executiva: Lucas Asseituno
Assessoria de Imprensa: Helô Cintra e Douglas Picchetti (Pombo Correio)
Fotos: Leekyung Kim
Realização: Teatro Estúdio


Serviço
Espetáculo "Veneno"
Temporada: 28 de abril a 28 de maio, de segunda a quarta, às 20h30
Teatro Estúdio - Rua Conselheiro Nébias, 891 – Campos Elíseos / São Paulo
Ingressos: R$ 80,00 (inteira), R$ 40,00 (meia-entrada) e R$ 30,00 (ingressos populares)
Vendas on-line em https://bileto.sympla.com.br/event/104665
Bilheteria: aberta em dias de espetáculos, 03 horas antes do início
Telefone: (21) 99690-9699
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: drama
Lotação: 112 lugares

.: Trailer de "Lispectorante", baseado nas obras de Clarice Lispector, é revelado

 

Como o nome sugere, a escritora Clarice Lispector foi uma inspiração importante para a produção do filme brasileiro "Lispectorante". No entanto, engana-se quem pensa que Renata Pinheiro partiu de uma obra específica da autora, responsável por tantos clássicos da literatura brasileira. “'Lispectorante' surgiu de forma pouco usual, quando eu e Sérgio Oliveira estávamos no centro do Recife e vimos os escombros da casa onde ela morou. Uma casa que já tínhamos visto várias vezes, mas o destino colocou uma fresta na parede que bloqueia a visão do seu interior. Aí olhamos por aquela brecha… e a ideia do filme veio. Essa fresta-cinema foi o início de tudo”, lembra a cineasta. 

“Como já tínhamos um projeto sobre uma artista madura, que estava num momento de vida de renascimento, de mudança, de novos desafios, essa fresta e todo o significado que havia nela nos levou a essa personagem Glória Hartman (Cartaxo) e, por conseguinte, à Clarice e seus escombros.”, conclui a diretora.

Como Pinheiro e Oliveira, que assinam o roteiro de "Lispectorante", a protagonista encontra naquele edifício o mundo de possibilidades que ele ainda tem a oferecer. Com uma narrativa original e lírica, o filme convida o espectador a refletir sobre memória e desejo através do olhar doce, ávido e curioso de uma mulher madura. Além de Marcélia Cartaxo, o longa ainda é estrelado por Pedro Wagner, Grace Passô, Clara Pinheiro, Gheuza e Karina Buhr. Cartaxo protagonizou a clássica adaptação de “A Hora da Estrela”, como uma mulher com sede de viver, que encontra na fantasia uma maneira de encarar a dura realidade da vida. Com distribuição da Embaúba Filmes, "Lispectorante" estreia em 8 de maio nos cinemas.

 
Sinopse de "Lispectorante"
Glória Hartman, uma mulher madura que atravessa uma crise existencial e financeira, volta para sua cidade natal, que passa por um processo de abandono. Através de uma fenda nas ruínas de onde morou a escritora Clarice Lispector, Glória começa a ver cenas fantásticas que vão alterar sua vida.


Ficha técnica
Filme "Lispectorante"
Direção: Renata Pinheiro
Roteiro: Renata Pinheiro e Sergio Oliveira
Empresa Produtora: Aroma Filmes
Produção: Sergio Oliveira
Direção de Arte: Joana Claude e Ananias de Caldas
Fotografia: Wilssa Esser
Montagem: Renata Pinheiro e Quentin Delaroche
Elenco: Marcélia Cartaxo, Pedro Wagner, Grace Passô, Clara Pinheiro, Gheuza e Karina Buhr

.: Entrevista com Walcyr Carrasco: "Eu sou essencialmente tímido"


"Tributo" reverencia a genialidade de um dos maiores autores da televisão brasileira, o colecionador de sucessos Walcyr Carrasco. Leia a entrevista com o homenageado. Foto: Globo/ Daniela Toviansky

Se a telenovela ocupa um lugar central na cultura brasileira, Walcyr Carrasco é um dos protagonistas dessa missão de dar ao público as emoções que marcam vidas e fazem com que um país inteiro se enxergue através delas. Aos 72 anos, um dos autores mais importantes da televisão brasileira coleciona sucessos que arrebatam o público em todos os horários. Vencedor de um Emmy Internacional de Melhor Novela, é um autor de ofício: suas novelas vão de adaptações da literatura, como "O Cravo e a Rosa" e "Xica da Silva"", a temáticas atuais, como "Verdades Secretas" e "Terra e Paixão". “A matéria-prima do Walcyr é o sonho”, resume a atriz Juliana Paes, a Maria da Paz de "A Dona do Pedaço", sobre o homenageado do próximo episódio do especial "Tributo", que vai ao ar na TV Globo na sexta-feira, 2 de maio, depois do "Globo Repórter". O projeto original Globoplay e TV Globo chega à segunda temporada e busca reverenciar, aplaudir e manter vivo o legado de talentos que continuam brilhando nas telas, nos palcos e por trás das câmeras. 

Escritor, dramaturgo e roteirista, Walcyr Carrasco tem sua história revisitada no especial, desde os tempos na pequena cidade de Bernardino de Campos, em São Paulo, passando pelos caminhos trilhados ao longo de uma carreira exitosa na televisão, literatura, teatro e jornalismo, até sua consagração como um dos grandes autores brasileiros. “Esse ‘Tributo’ é centrado em mim, toca diretamente na minha vida. É muito significativo. Por outro lado, embora não pareça, à primeira vista, eu sou essencialmente tímido. Tive que fazer um esforço íntimo para me mostrar, abrir aquelas gavetas que um autor mantém sempre tão fechadas”, confessa Walcyr.

Na abertura dessas gavetas, Carrasco lembra de um emblemático presente que recebeu de seu pai quando criança: uma máquina de escrever. No horizonte do jovem sempre esteve o sonho de ganhar a vida e, mais que isso, conquistar corações por meio de sua escrita. Com uma carreira profissional que começou como jornalista, escrevendo em redações de grandes jornais e revistas, Walcyr publicou seu primeiro livro aos 28 anos. Como dramaturgo, assinou peças premiadas como "Êxtase", que o rendeu o Prêmio Shell de Melhor Autor. Mais tarde, Walcyr viu sua máquina de escrever, que guarda até hoje em casa, se “transformar” em um Emmy Internacional de Melhor Novela, coroando uma trajetória de grande reconhecimento, que também inclui uma cadeira na Academia Paulista de Letras e o Prêmio Jabuti de Livro Juvenil, entre outros. 

Na teledramaturgia, Walcyr coleciona diversos sucessos como "Xica da Silva" (1996), "Fascinação" (1998) "O Cravo e a Rosa" (2000), "Chocolate com Pimenta" (2003), "Alma Gêmea" (2005), "Caras & Bocas" (2009), "Amor à Vida" (2013), "Êta Mundo Bom!" (2016), "O Outro Lado do Paraíso" (2017), "A Dona do Pedaço" (2019), entre outros. É dele o pioneirismo de criar a primeira novela da Globo para o streaming, "Verdades Secretas II" (2021), continuação de "Verdades Secretas" (2015), premiada com o Emmy Internacional de Melhor Novela em 2016. Seu trabalho mais recente foi a novela "Terra e Paixão" (2023). Na literatura infantojuvenil, Carrasco publicou 58 livros, sendo responsável pela criação de episódios inéditos, inspirado na obra de Monteiro Lobato, para o "Sítio do Pica-Pau Amarelo" (2001). “É importante dizer que me entrego a cada obra, cada novela, livro ou peça que escrevo carrega um pedaço de mim, de minha emoção, de meu coração. Senão, não daria certo”, revela Walcyr.

Para contar essa história, além de um vasto acervo de imagens, fotografias e recortes da imprensa, o especial reúne atores, atrizes, autores e diretores parceiros de produções assinadas por Walcyr Carrasco. O autor, que antes da TV Globo passou pelo SBT e pela Rede Manchete, também mostra o lugar onde exerce seu ofício, nas palavras do ator Ary Fontoura, a sua “capacidade criativa extraordinária”.

Presente em inúmeras obras assinadas por Walcyr, no especial, Elizabeth Savalla também relembra a capacidade marcante do autor de transitar entre diferentes gêneros em uma mesma história. “A novela ‘Alma Gêmea’, por exemplo, tem humor e, ao mesmo tempo, drama. É uma novela que fala de amor, morte e pós-vida. Ele faz com que o brasileiro sonhe de alguma forma. Ele leva isso às pessoas”, reflete a atriz. Outra figura memorável em novelas do autor, Ary Fontoura, conta sobre a relação de parceria dele com os atores. “Tinha, da parte dele, uma certa autorização, não para mexer no trabalho em sua totalidade, mas para colaborar com um pouquinho aqui, uma coisinha ali. E, abraçando o trabalho como a gente abraçava, só podia dar certo. Walcyr é uma pessoa que faz com muito amor o nosso ofício”, conta o ator. “Ele sabe puxar o que cada um pode dar de melhor, tem essa bondade”, completa Savalla. Na entrevista abaixo, Walcyr Carrasco fala um pouco mais sobre o especial "Tributo". 


Como você se sentiu ao receber o convite para protagonizar um episódio de "Tributo"?
Walcyr Carrasco - Inicialmente, confesso, eu me senti surpreso! Depois, fiquei muito feliz ao perceber que minha contribuição à teledramaturgia tem esse peso. Tributo, eu? Tem tanta gente boa, será que mereço mesmo?
 

Em que este projeto se diferencia de outras justas homenagens que você já recebeu? Conte-nos um pouco sobre as gravações. 
Walcyr Carrasco - Bem, esse "Tributo" é centrado em mim, toca diretamente na minha vida. É muito significativo. Por outro lado, embora não pareça, à primeira vista, eu sou essencialmente tímido. Tive que fazer um esforço íntimo para me mostrar, abrir aquelas gavetas que um autor mantém sempre tão fechadas. 
 

De que maneira gostaria de ser lembrado pelas futuras gerações?
Walcyr Carrasco - Como um elo de uma corrente que começa com grandes autores do passado e, ao mesmo tempo, continuará depois de mim. Enfim, como alguém que deixou um pedacinho de si para quem veio depois.

 
Entre os trabalhos que fez na televisão, consegue escolher um ou mais favoritos?
Walcyr Carrasco - Não sou muito de ter preferidos! Mas sem dúvida, "O Cravo e a Rosa" (2000), "Chocolate com Pimenta" (2003), "Alma Gêmea" (2005), "Verdades Secretas" (2015) – com a qual ganhei o Emmy – e "O Outro Lado do Paraíso" (2017) vieram para ficar.

 
Gostaria de mandar um recado aos seus fãs? Por que eles devem assistir ao episódio de ‘Tributo’? 
Walcyr Carrasco - Amigos, assistam ao "Tributo" e conheçam o outro lado de mim, com algumas verdades secretas (risos). É importante dizer que me entrego a cada obra, cada novela, livro ou peça que escrevo carrega um pedaço de mim, de minha emoção, de meu coração. Senão, não daria certo.

.: Camila Morgado estrela peça Nelson Rodrigues na CAIXA Cultural São Paulo


Obra “A Falecida” é considerada uma das mais importantes do escritor brasileiro e tem curta temporada na capital paulista. Foto: Victor Hugo Cecatto


A CAIXA Cultural São Paulo apresenta, entre os dias 6 a 11 maio, a peça "A Falecida", escrita  por Nelson Rodrigues. Protagonizada por Camila Morgado e idealizada pelo diretor Sérgio Módena, o clássico traz no elenco Thelmo Fernandes, Stela Freitas, Gustavo  Wabner, Alcemar Vieira, Claudio Gabriel, Thiago Marinho e Alan Ribeiro. As  apresentações acontecem de terça a domingo às 19h, têm entrada gratuita com  distribuição de ingressos uma hora antes do espetáculo.  

Escrita em 1953, A Falecida narra o plano de Zulmira, portadora de tuberculose e  moradora do subúrbio carioca, que sonha em ter um enterro cheio de luxo e pompa.  Dessa forma, ela causaria inveja em sua prima e vizinha Glorinha, com quem, apesar  de não falar mais, mantém uma relação inexplicável de competição, tornando-a o  centro das atenções e das intrigas familiares.  

Segundo o diretor, a encenação propõe uma estética atemporal. No cenário, um  grande mausoléu (signo da ostentação social em meio aos mortos) é o espaço por  onde os diversos planos de ação irão ocorrer. Os figurinos não buscam a reprodução  histórica da década de 50. Ao contrário, parecem apenas evocar um tempo passado, atravessando diversas épocas. A trilha sonora explora o conflito entre o sagrado e o  profano.  

"Eu e Camila somos apaixonados por esse texto e pelo legado de Nelson Rodrigues.  E ela é uma atriz “rodrigueana” por excelência, assim como o Thelmo Fernandes. Esta  montagem marca a minha primeira direção de uma obra do Nelson. Estamos criando  uma encenação atemporal para a peça, que, originalmente, foi escrita em 1953 e se  passa no subúrbio do Rio de Janeiro. Mas Nelson vai além da crônica carioca. Ele  radiografa a miséria da alma humana, presente nos mais diversos lugares e épocas”,  comenta Sérgio Módena sobre a idealização do projeto.  


Sobre Nelson Rodrigues 
Nelson Rodrigues foi jornalista, cronista, romancista e um dos maiores dramaturgos  brasileiros. Nascido em Recife (PE), mudou-se em 1916 para o Rio de Janeiro (RJ).  Trabalhou no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai, Mário Rodrigues. Foi repórter  policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever  suas peças a respeito da sociedade.  

Sua primeira peça foi “A Mulher Sem Pecado”, que lhe deu os primeiros sinais de  prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso veio com “Vestido de Noiva” que trazia,  em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. Com seus  três planos simultâneos (realidade, memória e alucinação), as inovações estéticas da  peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro. A consagração se  seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no maior dramaturgo brasileiro  do século 20. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando  transparecer toda a sua paixão por futebol. Nelson morreu no Rio de Janeiro no ano  de 1980, deixando um legado literário reconhecido internacionalmente.  

Serviço
Espetáculo "A Falecida" 
Local: CAIXA Cultural São Paulo 
Endereço: Praça da Sé, 111, a 200m da Estação Sé do Metrô 
Datas: de 06 a 11 de maio de 2025 
Horários: de terça a domingo às 19h 
Sessão com Tradução em Libras: 09 de maio, sexta-feira, às 19h  Ingressos gratuitos: distribuídos 1h antes da peça, limitados a um ingresso por  pessoa, sujeito à lotação do espaço 
Classificação indicativa: 16 anos 
Informações: @caixaculturalsp | Site CAIXA Cultural SP 
Acesso para pessoas com deficiência 
Patrocínio: CAIXA e Governo Federal

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