quarta-feira, 13 de maio de 2015

.: "O Cupido", um conto de João Tavares Neto

João Tavares Neto
Em maio de 2015

Cansada de tanto sofrer, ela resolve mudar radicalmente de vida. Sem deixar rastro, Cristina abandona a cidade grande, troca também de Estado e fixa residência num pequeno vilarejo do interior. 

Neste pacato lugar, leva uma vida discreta. Arruma emprego como professora, na única escola que existe, e aos domingos, como a maioria dos 850 habitantes, ela vai à missa.

O foco de sua vida agora era apenas o trabalho, uma forma que encontrou para esquecer seu último romance. Nesse novo mundo, não tinha a menor intenção de fazer novas amizades e muito menos entrar num novo relacionamento, porque todas as lembranças precisavam ser esquecidas para que seu coração, no futuro, batesse acelerado outra vez.

Porém, o amor não escolhe hora, nem lugar. Um certo domingo, no final da missa, Nicole, sua colega de trabalho na escola, conta que vai lhe apresentar um rapaz.

— Oi, Cristina, quero que você conheça uma pessoa.

— Eu não quero conhecer ninguém, Nicole. Sabes que ainda não me recuperei da minha última história de amor.

— Bobagem, Cristina. Nada melhor que um novo amor para esquecer os traumas da última relação. E tem mais: ele é um gato, um tremendo pedaço de mal caminho. Você vai gostar dele, aposto.

Não houve tempo para a réplica negativa da Cristina.

Fernando, que também assistira a missa, morador do mesmo vilarejo, se aproxima e diz:

— Olá, tudo bem? 

Mesmo sem saber se era este o cara que a Nicole queria lhe apresentar, Cristina simpatizou de imediato com o seu jeito. Fernando tinha a pele morena jambo, olhos castanhos, cabelos encaracolados, mais preto do que noite sem lua, e dono de uma voz forte e ao mesmo tempo suave.

— Hoje à noite vai ter brincadeira de Reisado lá em Casa. Conto com a presença de vocês, professoras.

Nicole aproveitou o momento para fazer o que tinha prometido à sua amiga.

— Cristina, eu quero que você conheça o meu amigo Fernando, tocador de viola e cantador dos bons!

— Fernando, eu quero te apresentar minha amiga Cristina. Ela é nova aqui na cidade e quase não tem amigos.

— Prazer em conhecê-la - disse Fernando.

— O prazer é todo meu, Fernando - responde Cristina, com um sorriso no rosto.

E assim, quando menos se espera, o cupido acerta sua flecha no coração da moça que não tinha mais motivos para acreditar no amor.

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