terça-feira, 8 de setembro de 2015

.: Equipe do documentário sobre navio Raul Soares procura histórias

A equipe do documentário “Raul Soares - Histórias que Não se Apagam”, está à procura de pessoas que possuem ou conhecem história de pessoas que foram presas no navio Raul Soares à compartilhar conosco suas histórias.

Para participar, basta entrar em contato com a produção a partir de uma mensagem inbox na página “Raul Soares - Histórias que Não se Apagam”. ou pelo e-mail: ferreirafilmesprodutora@gmail.com

O documentário “Raul Soares - Histórias que Não se Apagam” é uma produção da Ferreira Filmes em co-produção com o Comitê Popular de Santos pela Verdade, Memória e Justiça, com Patrocínio da Prefeitura de Santos através do IV edital Facult 2014.

O Projeto
O documentário “Raul Soares - Histórias que Não se Apagam”, tem como objetivo revelar as atrocidades cometidas em Santos durantes os anos da ditadura militar. A partir de depoimentos de especialistas, vítimas, familiares e personalidades que vivenciaram tais momentos, os idealizadores do filme procuram revelar uma fase da história de Santos, que apesar de estar tão próxima temporalmente, é esquecida pela população. 

“Raul Soares - Histórias que Não se Apagam” é registro audiovisual que permite analisar e resgatar nossa história, e quem sabe assim, entendermos um pouco mais os caminhos que seguimos na atualidade. 

A História
Santos, antes de a ditadura militar cercear seus direitos políticos, era conhecida e temida como uma cidade tradicionalmente oposicionista, tanto que no início da década de 60, movimentos políticos ou trabalhistas levavam multidões às ruas e praças em forma de protesto. 

A participação e mobilização do povo era grande, vibrante e ativa, justificando a frase que estampa o brasão da cidade “Patriam Charitatem et Libertatem Docui”, que traduzida do latim significa “À pátria ensinei a caridade e a liberdade”. Tal rebeldia ante as imposições à cidade e sua força de oposição levaram Santos a ser conhecida como Cidade Vermelha e República Sindicalista. 

Alguns dos conspiradores do Golpe de 64 acreditavam que Santos era dominada pelos comunistas e que fuzis e metralhadoras eram armazenados nas sedes dos sindicatos, o que a categorizou como uma cidade extremamente perigosa.

Devido ao perigo iminente e as constantes greves que paralisavam Santos e colocavam em risco os planos da revolução, não só na cidade, mas também em todo o Estado, e talvez, até mesmo em todo o país, o Regime Militar decidiu aumentar a repressão, fazendo aportar no canal do Estuário, no dia 24 de abril de 1964, o navio Raul Soares, que veio a fim de suprir a falta de presídios na cidade.

Mais que um navio-prisão, o Raul Soares simbolizava uma agressão psicológica, uma forma de atingir o orgulho santista. Trazido à Santos por Bierrenbach, o navio-prisão era temido pela prática de torturas, em sua maioria psicológicas. Dentre as inúmeras torturas era comum os prisioneiros serem libertados, mas, ao chegarem à terra firme, terem suas prisões novamente decretadas. 

Esse tipo de tortura fazia com que sua estima e orgulho simplesmente desaparecessem. A sensação de finalmente saber que será libertado, após dias, semanas ou até mesmo meses de prisão e tortura por um crime que muitos ali não cometeram, e depois quando finalmente estiver livre ter sua prisão novamente decretada, era um jogo que humilhava os prisioneiros, acabando com suas esperanças e por vezes com sua resistência.

Eram utilizadas outras formas de tortura que além de desestabilizar o prisioneiro psicologicamente, o atingia fisicamente também. Dentre as principais, o prisioneiro era trancado na caldeira do navio, que chegava a 50º e depois levado ao frigorífico, realizando um choque-térmico, esse caminho do calor extremo ao frio extremo era feito diversas vezes, muitos prisioneiros saiam de lá fisicamente debilitados; outra forma de tortura era deixar o prisioneiro preso em uma sala constantemente alagada, onde eles ficavam com água gelada até a altura dos joelhos; e a principal tortura era prender o prisioneiro em uma cela onde eram jogadas suas fezes, esse tipo de tortura era feita aos mais resistentes, era considerada a tortura máxima. Também eram realizadas torturas especiais, destinadas a um prisioneiro específico, dentre as mais violentas, estava a tortura ao prisioneiro Tomochi Sumida.

Todas as sextas-feiras o tenente-coronel Sebastião Alvim ia ao navio para colocar Sumida dentro de uma geladeira. De duas em duas horas, soldados armados com metralhadoras abriam a porta durante dez minutos para entrar ar e a fechavam novamente. A coisa se repetia o dia inteiro. À noite, quando se retirava do imundo navio, o tenente-coronel do Exército ia de rosto alegre, satisfeito por ter cumprido sua gloriosa missão militar, o resfriamento do Sumida (ALEXANDRINO; SILVA, apud GATTO, 1988, p. 20)

Como forma de descontrair o ambiente, os prisioneiros compunham músicas para ironizar os guardas, o coronel e a repressão. Também apelidavam as celas de tortura, que recebiam nomes de El Maroco, Nigth and Day e Casa Blanca, famosas casas noturnas do cais.

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