quarta-feira, 30 de setembro de 2015

.: Lima Trindade e J. P. Cuenca: simplicidade e profundidade

Com produção literária rica em personagens multidimensionais, mas com linguagem simples, autores conversam sobre a temática "O Superficial da Profundidade"

A densidade do texto literário, narrado com simplicidade na linguagem é o tema da mesa literária "O Superficial da Profundidade" com participação dos autores João Paulo Cuenca e Lima Trindade. A mediação dessa conversa, que acontece às 15 horas do dia 15 de outubro, na Festa Literária Internacional de Cachoeira, na Bahia, será feita pelo poeta pernambucano, Cristiano Ramos. 

O texto literário deve ser simples, o contrário de cartas de amor rococós. Essa qualidade, a simplicidade, tem a palavra impressa de Lima Trindade e João Paulo Cuenca. Por outro lado, há que se preservar as multidimensões dos personagens, por vezes reveladas (ou relevadas) num retrato opaco, nu, um descritivo linear de fotografias do ser em movimento. O desencanto, paradoxalmente, é o espírito de um tempo de crendices novas e totalitárias. 

Espírito do tempo para poucos, para eleitos leitores de escritores bem eleitos. "Sarita, debruçada no parapeito da sacada do Othon, aguarda seu negão", conta Lima Trindade. "E os dias em Copacabana não param de nascer iguais, cada vez mais iguais", completa João Paulo Cuenca. O "Othon" de Lima não é o da avenida Atlântica, em Copacabana; é o de Ondina, em Salvador. Sarita teria aparentemente pouco em comum com o velho Alberto, personagem do parágrafo seguinte de Cuenca. Mas, como tudo é cada vez mais igual... Que resta contar?

Se nunca houve tantos crédulos em utopias bestas, resta o desencanto, ou talvez uma réstia de encanto emprestada pela literatura desses olhares ao mesmo tempo vivazes e cansados de Lima e Cuenca. Cansados das repetições, vivazes porque em meio a elas há réstias de vidas, esperanças, a de Alberto por um michê de 17 anos; a de Sarita por seu negão. 

Serão essas esperanças cansadas antídotos eficazes contra a credulidade galopante, contra a vertigem alardeada pelos que fogem ao destino trágico nas asas dogmáticas de uma utopia qualquer? Não se espere respostas. Nossos convidados para esta mesa não são assim tão crédulos, tão contaminados pelas febres dos que deliram coletivamente. Não, o foco deles é nas réstias de seres que ainda povoam de fato as pequenas tragédias e esperanças individuais.

Simples como o desencanto. Simples como os breves esperares de seus por vezes desesperados personagens. Simples como o romance e o conto, como a crônica e o olhar capaz de focar o indivíduo enquanto desfoca tudo em volta dele. Simples como os dias nascidos iguais, cada vez mais iguais.

Diante do fracasso de sua breve esperança, Sarita "disparou o seu sorriso mais atrevido". E o narrador de Cuenca passar a ter como principal objetivo "fazer Carmen ficar doce" na parte que mais lhe toca; tão doce, talvez, quanto o michê de Alberto. Multidimensões de vidas de pouco rococós, superficiais e, em contraste, muito profundas, porque os dias (e as utopias) nascem iguais, cada vez mais iguais. Se algo consegue mesmo assim se destacar, é literatura.

O Governo do Estado da Bahia apresenta a Flica 2015 e o projeto tem patrocínio da Coelba, da Oi e do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e apoio cultural da Oi Futuro, da Prefeitura Municipal de Cachoeira, do Sebrae e da Odebrecht.
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