quarta-feira, 16 de outubro de 2019

.: Fernanda Montenegro, 90 anos: ela encarna o melhor do Brasil

Foto: Bob Wolfenson

Neste dia 16 de outubro, celebramos o aniversário de Fernanda Montenegro. No marco de seus noventa anos, a Companhia das Letras publicou Prólogo, ato, epílogo, livro de memórias que traz o frescor de uma artista eternamente genial.

Você, que é estudante, venha participar do Radioteatro da Mocidade!”, anunciou o locutor da Rádio MEC. Aos quinze anos, Arlette Pinheiro cursava secretariado na Berlitz, e decidiu atender ao chamado. Saiu do subúrbio onde morava com a família e apresentou-se para a seleção no pequeno prédio da emissora, em frente ao Campo de Santana, no centro do Rio. Pouco depois de ingressar na rádio, ela adotaria o nome artístico que viria a se tornar sinônimo de excelência no teatro, no cinema e na televisão: Fernanda Montenegro.

Essa e muitas outras histórias da atriz estão reunidas, agora, em seu livro de memórias. Conhecemos a saga de seus antepassados lavradores portugueses, do lado paterno, e pastores sardos, do lado materno. Lidos hoje, são relatos que podem “parecer um folhetim. Ou uma tragédia” — gêneros que Fernanda domina com maestria. Na turma de jovens que circulavam pela rádio estava Fernando Torres, que ela reencontrou nos ensaios da peça Alegres canções na montanha , quando começaram a namorar. Fernando largou a Panair, Fernanda largou a Berlitz, e o casal se entregou de corpo e alma à arte, paixão de uma vida. Constituíram uma família e realizaram juntos um sem-número de peças, ao lado dos principais nomes do teatro brasileiro.

Em páginas de grande emoção, ela narra os desafios de criar os filhos sobrevivendo como artistas; a busca permanente pela qualidade; a persistência combativa durante os anos de chumbo; a capacidade de constante reinvenção; o padecimento de Fernando; o inesperado sucesso internacional nos anos 1990; a crença na terra que acolheu seus antepassados imigrantes e a devoção por este país.

Fernanda encarna o melhor do Brasil. Como disse Carlos Drummond de Andrade: “Não se sabe o que mais admirar nela: se a excelência de atriz ou a consciência, que ela amadureceu, do papel do ator no mundo. Ela não se preocupa somente em elevar ao mais alto nível sua arte de representar, mas insiste igualmente em meditar sobre o sentido, a função, a dignidade, a expressão social da condição de ator em qualquer tempo e lugar”.


"Com oito anos, participei de um dramalhão português chamado Os dois sargentos , que era muito representado nos circos. Fiz o papel, como menino, de um dos sargentos. Uma única apresentação. Foi a primeira vez que pisei num palco. Guardei para sempre na lembrança a sensação de levitar, envolvida numa luz cor-de-rosa e eu me sentindo fora de mim. Mas nem sequer suspeitei de que, um dia, aquele mistério seria o meu ofício. A minha vida."



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