segunda-feira, 21 de abril de 2025

.: "James", de Percival Everett, a releitura poderosa de um clássico da literatura


No romance "James", lançado no Brasil pela editora Todavia, Percival Everett reimagina o clássico "As Aventuras de Huckleberry Finn", escrito por Mark Twain e publicado em 1884, a partir da perspectiva de Jim, o homem escravizado que acompanha o menino na viagem pelo Rio Mississippi. Nesta releitura, Jim é James, um indivíduo inteligente e letrado que, por necessidade, esconde sua educação por trás de uma fachada de subserviência. 

"James" é mais do que a reimaginação de um clássico: ele recupera a identidade de um personagem marginalizado, confrontando verdades desconfortáveis sobre o passado e sobre as histórias que escolhemos contar. A tradução é de André Czarnobai e a capa, de Oga Mendonça.

A aventura se inicia quando James ouve a notícia de que será vendido e separado da mulher e da filha. Determinado a evitar esse destino, ele escapa para a Ilha Jackson, onde encontra Huck Finn, um garoto branco que está fugindo dos próprios problemas. Juntos, eles seguem em uma jornada pelo rio Mississippi, rumo a um estado onde James poderia ser um homem negro livre - e eventualmente trazer sua família para viver ali. 

Ao longo da viagem, James navega as águas traiçoeiras do rio e de uma sociedade preconceituosa e violenta, muitas vezes adotando um vernáculo apelidado de “filtro de escravo” para se proteger ao interagir com indivíduos brancos. Percival Everett mergulha fundo na psique do personagem, apresentando-o como um homem de vida interior complexa. Em debates filosóficos imaginários com figuras como Voltaire e Rousseau, James reflete sobre os dilemas morais e as escolhas impossíveis enfrentadas por aqueles submetidos à desumanidade da escravidão.

Everett enfatiza a agência de James em seus esforços para se libertar e reencontrar a família. A ironia e o deslocamento de ponto de vista ressaltam a brutalidade de uma sociedade racialmente dividida e ampliam as possibilidades de leitura de um grande livro. Linguisticamente inventivo e escrito com mão certeira, este romance é uma ode ao poder da perspectiva dentro da literatura. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.


Sobre o autor
Percival Everett
vive em Los Angeles e leciona na Universidade do Sul da Califórnia. Publicou mais de 30 livros desde "Suder", lançado em 1983. Foi finalista dos prêmios Pulitzer — com "Telephone", em 2020 —, Booker Prize e PEN/Faulkner Award — com "As Árvores", em 2022. Com James, venceu o National Book Award 2024. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

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