“Lemos e ouvimos histórias todos os dias de mulheres em situações de violência doméstica, mulheres que são abusadas, estupradas e assassinadas. Que mudança aconteceria no nosso imaginário se as histórias que ouvimos e contamos sobre violência não fossem apenas sobre a mulher que sofre e a mulher que morre, mas também sobre a mulher que responde à violência? A mulher que tem desejos violentos intrínsecos e viscerais?”, indaga a diretora Amanda Lyra ao explicar a perspectiva adotada pela peça.
Essas autoras exploram, por meio do horror, um olhar radical sobre o feminino e a violência de gênero, além de desafiar os arquétipos tradicionais da mulher em suas histórias. São personagens complexas, dúbias, que fogem dos padrões morais. Juuar, que também assina a direção da peça, elabora: “Ao revirar o material dessas autoras ficamos frente a frente com mulheres que agem e vão até as últimas consequências do desejo, o que nos coloca diante de um constante trânsito entre o assombro e a atração, o nojo e o tesão. Ao provocar em nós a habitação desses sentimentos aparentemente avessos, essas mulheres parecem nos libertar de qualquer julgamento moral e revelar, a partir de ações violentas e radicais, a possibilidade de debater e existir fora do campo de um desejo prescrito, aceito socialmente. Nesse sentido, o próprio gênero do horror nos apresenta a mesma questão ao abordar temas sociais que são constantemente evitados em debates públicos”.
A ideia da casa como cenário no espetáculo é contrapor o espaço doméstico - esse lugar historicamente destinado às mulheres, espaço familiar e de cuidado, normalmente associado à felicidade - às histórias terríveis que essas personagens contam. Na peça, é a casa que se assombra com essas histórias de amor, obsessão, delírio e vingança. A trilha sonora original (Azulllllll e Lello Bezerra), a cenografia (Valdy Lopes) e a iluminação (Sarah Salgado) são usadas para distorcer sua imagem convencional e, criando uma atmosfera assombrada, ajudam a transformar a casa em uma espécie de quinto personagem da peça. A equipe de criação conta, ainda, com Danielli Mendes (direção de movimento) e Diogo Costa (figurino).
O texto foi construído em uma residência ao longo de sete semanas no CPT (Centro de Pesquisa Teatral do Sesc-SP) em julho e agosto de 2024, em uma iniciativa em parceria com o Festival Mirada. Na ocasião, além de ler e discutir várias obras de escritoras latino- americanas contemporâneas, as artistas se debruçaram sobre os gêneros cinematográficos do terror e do horror.
Sobre as autoras
Mariana Enriquez (Buenos Aires, 1972) é conhecida por sua obra literária que explora temas de horror e violência. Seu estilo combina elementos do realismo com o sobrenatural, criando narrativas que revelam as tensões sociais e políticas da Argentina contemporânea. Ela é autora de vários livros de contos e romances, incluindo “As coisas que perdemos no fogo” e “Nossa parte da noite”. Seu trabalho tem sido reconhecido tanto em seu país natal quanto no exterior, e recebeu vários prêmios literários que destacam sua contribuição inovadora para a literatura contemporânea, como o Prêmio Herralde, o Prêmio da Crítica Argentina, entre outros.
María Fernanda Ampuero (Equador, 1976) explora temas de violência, opressão e desigualdade em sua obra literária. Seu último livro, “Briga de Galos”, foi um dos dez livros do ano do The New York Times em Espanhol e já foi traduzido para vários idiomas. É uma das escritoras latinoamericanas mais importantes dos últimos anos, de acordo com a revista Gatopardo. “Briga de Galos” recebeu o prêmio Joaquín Gallegos Lara 2018 como melhor livro de contos do ano.
Layla Martinez (Espanha, 1987) é escritora, cientista política e mestre em sexologia. Coordenou e ministrou oficinas de literatura, ciclos de cinema e palestras sobre a história das mulheres e dos movimentos sociais. “Cupim”, seu romance de estreia, lançado em 2021, tornou-se um fenômeno na Espanha, com direitos de publicação vendidos em mais de 15 países.
Ficha Técnica
Espetáculo "Estratagemas Desesperados"
Idealização: Amanda Lyra
Direção e dramaturgia: Amanda Lyra e Juuar
A partir dos textos: “Nada de Carne Sobre Nós” e “Onde Está Você Coração?”, de Mariana Enriquez; “Crias” de María Fernanda Ampuero; e trecho adaptado do romance “Cupim”, de Layla Martinez
Elenco: Amanda Lyra, Carlota Joaquina, Monalisa Silva e Stella Rabello
Direção musical e trilha sonora original: Azulllllll e Lello Bezerra
Direção de movimento: Danielli Mendes
Cenografia: Valdy Lopes
Figurino: Diogo Costa
Iluminação: Sarah Salgado
Assistente de direção e de produção: Vini Silveira
Assistente de cenografia: Cris Cortilio
Produção de cenografia: Marília Dourado
Cenotécnico: Pelé Leonarchick
Contrarregra: Cezar Renzi
Modelista: Edson Honda
Engenheiro e operador de som: Murilo Gil
Operação de luz: Pâmola Cidrack
Design gráfico: Estúdio M-CAU
Fotos: Mayra Azzi
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Coordenação geral e produção: Amanda Lyra | Troca produções
Direção de produção: Aura Cunha | Elephante Produções
Serviço
Espetáculo "Estratagemas Desesperados"
Dir. Amanda Lyra e Juuar
Temporada: 17 de julho a 10 de agosto de 2025
Quintas, às 19h00. Sextas, às 20h00. Sábados, às 17h00 e 20h00. Domingos, às 18h00.
*Sessões com interpretação em Libras nos dias 7, 8, 9 e 10 de agosto
Sesc 24 de Maio, Rua 24 de Maio, 109, São Paulo – 350 metros da estação República do metrô
Ingressos: https://www.sescsp.org.br/programacao/estratagemasdesesperados/ ou através do aplicativo Credencial Sesc SP a partir do dia 8/7 e nas bilheterias das unidades Sesc SP a partir de 10/7 - R$60 (inteira), R$30 (meia) e R$18 (Credencial Sesc).
Classificação: 14 anos
Duração: 90 minutos
Acessibilidade: espaço acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
Serviço de van: transporte gratuito até as estações de metrô República e Anhangabaú. Saídas da portaria a cada 30 minutos, de terça a sábado, das 20h00 às 23h00, e aos domingos e feriados, das 18h00 às 21h00.
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