Entre os filmes menos lembrados do Estúdio Ghibli, "Meus Vizinhos, os Yamadas" ("Hōhokekyo Tonari no Yamada-kun", 1999) , dirigido por Isao Takahata, é um dos mais surpreendentes e belos. Diferente da estética detalhada e quase pictórica que consagrou o estúdio, aqui o traço é propositalmente simples, quase como um cartum levado para a tela grande. Essa leveza, porém, esconde uma densidade rara: trata-se de uma obra que fala de crises familiares, da vida comum e das pequenas alegrias que muitas vezes passam despercebidas.
A família retratada poderia ser qualquer uma: pai, mãe, avó, um filho e uma filha. Nada de dragões, florestas encantadas ou feitiços. Apenas o cotidiano, mas visto com a lente poética de Takahata. O filme é construído em episódios curtos, pequenas histórias com começo, meio e fim, revelando que o extraordinário pode estar escondido nas rotinas mais banais. A surpresa está nos detalhes - no gesto inesperado, no humor leve, na quebra de expectativas e no lirismo que transforma um jantar ou uma discussão doméstica em momentos de contemplação.
Não é, definitivamente, uma animação voltada para crianças. A poesia proposta exige maturidade para ser absorvida, pois se conecta diretamente com as dores e delícias da vida adulta: a convivência em família, os conflitos entre gerações, as frustrações e as pequenas vitórias cotidianas. O traço solto e as cores delicadas funcionam como um convite ao espectador, que aos poucos percebe que o filme não está apenas sendo assistido, mas vivido.
Os desenhos se afastam do estilo clássico da animação japonesa e se aproximam de tirinhas de jornal e ilustrações aquareladas. As cores, suaves e leves, transmitem uma sensação de acolhimento e intimidade. Em muitos momentos, a paleta e a estética lembram antigas propagandas exibidas na televisão, aquelas animações simples que carregavam lirismo e doçura mesmo em mensagens corriqueiras. Esse recurso dá ao filme uma aura nostálgica, como se o espectador estivesse diante de memórias visuais já familiares, mesmo que nunca as tenha vivido.
Ao final, "Meus Vizinhos, os Yamadas" deixa no público uma sensação otimista, como se a vida - mesmo com crises, tropeços e contradições - fosse bela em sua simplicidade. É um dos melhores filmes do estúdio, embora injustamente pouco lembrado. Talvez por não ter dragões nem guaxinins mágicos, acabe ficando à sombra de títulos mais conhecidos. Mas é justamente nessa escolha minimalista, quase antagônica ao que se espera de uma “grande animação”, que reside sua genialidade.
Takahata lembra ao espectador que não é preciso atravessar mundos para encontrar poesia: ela pode estar logo ao lado, no quintal, na mesa de jantar, no sorriso de alguém da família. "Meus Vizinhos, os Yamadas" é a celebração discreta da vida comum - uma obra-prima que merece ser sempre revisitada. A surpresa está sempre nos detalhes: na pausa para observar um gesto, na ironia suave de uma situação familiar, no lirismo com que questões corriqueiras se transformam em reflexões universais. O público sai com a sensação de que a vida, apesar das dificuldades, é feita de momentos pequenos que merecem ser celebrados - e que o que vem pela frente sempre pode carregar novas possibilidades.
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