Por Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: redes sociais do crítico
Resenhando.com - Você foi montador, roteirista, crítico e professor de cinema. O que mais te emociona: o “corte seco” de uma edição bem-feita ou uma plateia que realmente entendeu um subtexto que o próprio diretor talvez não tenha percebido?
Inácio Araujo - Prefiro o primeiro, porque o segundo não existe, é um sonho.
Inácio Araujo - Acho que ainda não há tempo para julgarmos as redes sociais, nesse sentido. Me parece muito bom que muitas pessoas possam escrever, pensar, discutir sobre filmes. Claro, sempre haverá quem esteja mais bem preparado ou não para isso. Pessoalmente, quase não frequento redes sociais, mas não por ser contra. Fui formado em outra época. Mas não creio que redes sociais possam ser responsáveis pela banalização do que quer que seja. Talvez a nossa formação, brasileira, seja muito fraquinha. Isso, sim, é uma questão.
Resenhando.com - O curso "Cinema Moderno e Contemporâneo" fala de reinvenção. Qual cineasta contemporâneo você considera uma farsa elegante e qual é um gênio silencioso que ainda será descoberto?
Inácio Araujo - Cineasta farsa: Peter Greenaway. Ainda por ser descoberto: vários, mas André Novais Oliveira me parece especial.
Resenhando.com - . O crítico deve mesmo dizer quando cochila ou há um pacto de silêncio entre o tédio e a diplomacia?
Inácio Araujo - Acho que certas reações indicam o que sentimos. Tive um amigo que, quando gostava mesmo de um filme, não saía da sala para fumar (e era um grande fumante). Por vezes me parece justo, até saudável, reportar alguma reação desse tipo. Mas muito raramente. Não acho que haja pacto, e sempre é possível rever um filme... Só dormi (dormi dormido) em um filme na vida:Tommy, de Ken Russell. Vai passar numa retrospectiva da Cinemateca. Será que em 50 anos eu mudei, ou o filme mudou?
Resenhando.com - Você já foi acusado de escrever críticas “hostis” demais. Prefere a franqueza que machuca ou a gentileza que mente? Por quê?
Resenhando.com - Brian De Palma, David Lynch, Abbas Kiarostami: se os três estivessem em uma mesma sala e você tivesse que tirar um para conversar a sós, quem você escolheria - e por quê os outros dois ficariam de fora?
Inácio Araujo - Os três na mesma sala? Eu sairia. Deixa que eles se entendam. Quem sou eu para escolher um deles?
Resenhando.com - Seu texto sobre "Que Horas Ela Volta?" toca em um ponto sensível: a herança escravocrata brasileira. O cinema nacional está preparado para ser político sem virar panfleto?
Inácio Araujo - Está muito bem equipado. Essa geração que surge entre o fim dos 90 e o século XXI é ótima. Mas "Que Horas Ela Volta" é uma falsa boa ideia. Uma ideia traiçoeira...Mas se a mesma Anna Muylaert filmasse, digamos, a história de um cotista e o que ele sofre quando frequenta, por exemplo, a Medicina da USP... Como é hostilizado pelos riquinhos... Tenho certeza de que faria um bom filme. Ela é muito boa diretora… Mas talvez para fazer esse filme que estou propondo fosse melhor chamar o fantasma do Pasolini... O Pasolini do Salô, claro, só ele está à altura de mostrar a sordidez da riqueza nacional.
Resenhando.com - Aos 40 anos de carreira como crítico, qual foi o momento em que você pensou: “Agora entendi o cinema”?