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sábado, 14 de junho de 2025

.: Resenha crítica: "Síndrome da Apatia" é alerta cinematográfico que emociona

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em junho de 2025


Inspirado em fatos reais, o filme "Síndrome da Apatia", retrata a história de uma família composta por pai, mãe e duas filhas. Vindos da Rússia, os quatro que viviam bem na Suécia, após o pai, Sergei (Grigoriy Dobrygin) optar por sustentar sua ideologia, passa a lutar por asilo que lhes é negado -em sequência. Enquanto são pressionados a seguirem as regras da migração sueca -que exige sorrisos falsos e visitas-, o pior acontece com a filha mais nova, Katja (Miroslava Pashutina) que num dia comum na escola, vai ao chão, acometida pela "Síndrome da Resignação".

Sem saber o que se passa, de fato, com a garotinha, o pai, um professor que não pode mais trabalhar registrado, assume uma vaga na área de limpeza e a mãe Natalia (Chulpan Khamatova), antes também professora, fica em casa cuidando do lar. Diante da doença de Katja e a total necessidade de conseguirem asilo, em casa, os três veem a vida de refugiados que vinham levando ficar ainda mais de cabeça para baixo e sem uma possível solução. Afinal, a testemunha a ser usada para a permanência era a garotinha que aparentemente está em coma.

Precisando de ter uma efetiva testemunha para o caso vivido por Sergei, ele e a esposa tentam usar a outra filha, Alina (Naomi Lamp), interpretando o papel vivido por Katja. Emocionante, a produção dirigida por Alexandros Avranas ("Miss Violence", "Crimes Obscuros") também alerta a respeito de uma condição que induz um estado de consciência reduzida, condição psicológica que afeta, predominantemente crianças e adolescentes. Filme imperdível!


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN



"Síndrome da Apatia" (Quiet Life). Ingressos on-line neste linkGênero: dramaClassificação: 10 anos. Duração: 1h56. Direção: Alexandros AvranasRoteiro: Alexandros Avranas, Stavros PamballisElenco: Chulpan Khamatova, Grigoriy Dobrygin, Naomi Lamp. Sinopse: Em Síndrome da Apatia, um drama inspirado em eventos reais, a vida de Sergei (Grigoriy Dobrygin) e Natalia (Chulpan Khamatova), um casal de refugiados, desmorona quando sua filha mais nova, Katja (Miroslava Pashutina), desmaia e entra em um coma misterioso. Forçados a fugir de seu país natal após um ataque violento, Sergei e Natalia se estabeleceram na Suécia com suas duas filhas, buscando uma nova vida em segurança. Apesar de seus esforços para se integrar à sociedade sueca, trabalhando duro, aprendendo o idioma e seguindo as regras de imigração, seu pedido de asilo é rejeitado. Com a rejeição do pedido, Katja começa a se deteriorar rapidamente, a família é confrontada com um dilema moral e emocional profundo. A síndrome misteriosa que afeta crianças refugiadas começa a gerar preocupações entre médicos e políticos, e Sergei e Natalia devem lutar contra todas as adversidades para encontrar uma maneira de salvar sua filha e preservar a esperança em meio ao caos. Confira os horários: neste link

Trailer "Síndrome da Apatia"


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.: Live action de "Como Treinar o Seu Dragão" respeita o original e encanta

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em junho de 2025


O live action de "Como Treinar o Seu Dragão", mantém fidelidade ao original e garante encantamento visual. A produção com direção e roteiro de Dean DeBlois ("Lilo & Stitch", 2002) não cria ou corta situações para fazer a história render e se adaptar aos novos tempos -como foi feito com "Lilo  Stitch", também em cartaz nos cinemas e, originalmente, foi dirigido por DeBlois. Neste, a versão humana da animação de 2010 acontece magicamente na telona, repetindo o que fez há 15 anos, fisgando o público do início ao fim, agradando, inclusive, quem não curte a temática viking. 

Agora em live action, sem se apoiar no visual falso dos efeitos especiais, ainda que emplaque a fantasiosa história de amizade de um garoto com um dragão, "Como Treinar o Seu Dragão" entrega história boa e envolve tão bem, a ponto de passar a impressão de que toda aquela ficção está acontecendo diante de seus olhos. De fato, por vezes, tal relação remeta ao clássico "História Sem Fim", quando Arteiro e Bastian estabeleçam um forte elo com Falkor, um dragão da Terra da Fantasia.

A nova produção, adapta a animação com primor e respeito aos fãs que, fatalmente, esperam rever as cenas marcantes. Tudo está lá para o puro deleite dos que amam a história do jovem viking amigo do dragão Banguela. No elenco, como o protagonista Soluço (Mason Thames, de "Telefone Preto") convence o merecimento do papel de garoto que não se enquadra no seu povoado e também não quer matar um dragão, ainda mais depois de capturar com um verdadeiro Fúria da Noite e estabelecer um elo de amizade com uma espécie tão mal vista pelos vikings.

Com Gerard Butler, o eterno "Fantasma da Ópera" (2004), na pele do pai brutamontes de Soluço, a dobradinha em cena conquista com tamanha facilidade, tornando tão claras as diferenças na forma de pai e filho verem as formas de realizarem as coisas. A parceria de Soluço com a autêntica guerreira da ilha de Berk, Astrid (Nico Parker, de "Dumbo" e "Bridget Jones: Louca pelo Garoto") também flui na trama. 

Até os rivais de Soluço entregam veracidade na trama de ação e fantasia como Fishlegs interpretado por Julian Dennison (o jovem mutante de "Deadpool 2") ou a Cabeça Quente (Bronwyn James, de "Wicked") e seu irmão gêmeo Cabeça Dura (Harry Trevaldwyn, de "Agência"). Em tempo, "Como Treinar o Seu Dragão" é nitidamente uma produção para ser assistida na telona com muita pipoca e a certeza de sair satisfeito com o produto final, pois o longa está simplesmente impecável.


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN


"Como Treinar o Seu Dragão" (How To Train Your Dragon). Ingressos on-line neste linkGênero: fantasia, açãoClassificação: 10 anos. Duração: 1h56. Direção: Dean DeBloisRoteiro: Dean DeBloisElenco: Mason Thames, Gerard Butler, Nico Parker, Julian Dennison, Gabriel Howell, Hary Trevaldwyn, Bronwyn James, Nick Frost. Sinopse: Na ilha de Berk, um garoto viking chamado Soluço desafia a tradição ao fazer amizade com o dragão Banguela. No entanto, quando uma ameaça surge, a amizade de Soluço com Banguela se torna a chave para forjar um novo futuro.. Confira os horários: neste link

Trailer "Como Treinar o Seu Dragão"



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quarta-feira, 11 de junho de 2025

.: Entrevista com Paulo Scott: o poeta entre o desconforto e a estética


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com.. Foto: Morgana Kretzmann

Não é poesia para agradar: é para fisgar. Com essa energia crua e combativa, o escritor Paulo Scott lança pela editora Alfaguara o livro de poemas "Sanduíche de Anzóis". Ao revisitar 25 anos de produção poética, o autor do romance "Marrom e Amarelo" não só costura versos antigos - ele os rasga, remonta, corta fora o que já não sangra. O resultado? Um corpo novo, feito de amores esfolados, revoltas sem anestesia e loucura como linguagem-mãe.

Neste livro-reinvenção, Scott transforma o tempo em lâmina e a memória em anzol. Esqueça o lirismo gourmet de redes sociais: a poesia dele é músculo em espasmo, verbo que lateja, um soco lírico na caretice dos algoritmos. Entre versos indomáveis e um manifesto contra o novo fascismo, Scott reafirma que escrever no Brasil é - ainda - uma forma de risco, de raiva, de ternura. Nesta entrevista exclusiva ao portal Resenhando.com, o autor fala sobre o prazer de cuspir versos que não servem mais, a recusa às anestesias do mercado e por que prefere o desconforto à doçura. Prepare-se: esta conversa não é para os que esperam vinho chileno - aqui, a poesia vem quente e crua para fisgar. Apoie o Resenhando.com e compre a coletânea "Sanduíche de Anzóis", de Paulo Scott, neste link.


Resenhando.com - Você revisitou, reescreveu e reinventou poemas seus com mais de 25 anos. O que Paulo Scott cortou de si ao cortar os próprios versos? O que ficou indigesto nesse "Sanduíche de Anzóis" que você precisou cuspir fora?
Paulo Scott - 
Todo processo de releitura implica reinvenção. Essa reinvenção demanda riscos. Penso que admitir a possibilidade desse risco, considerando que talvez eu tenha me tornado um leitor melhor, mais acurado, mais sereno, é estabelecer uma tentativa de nova busca pelo simples, pela simplicidade, que é tão determinante na literatura e na arte em geral. Há uma acomodação de ritmo, um adensamento, um assentamento, que só a distância do tempo (o passar do tempo) poderia trazer. A supressão dos títulos, inclusive dos poemas inéditos, fez parte desse processo de corte – acredito na afetividade e na eficácia do cortar em relação ao texto, o tal lapidar, é diferente em relação à minha pessoa (e à minha persona de poeta também), com relação a ela há soma, sobretudo em relação à consciência do tempo que passou.


Resenhando.com - Em tempos de algoritmos suaves e poesia pasteurizada no Instagram, sua linguagem parece um soco de verbos crus. É possível fisgar leitores de hoje sem sedá-los primeiro com doçura?
Paulo Scott - A doçura traz a vertigem de curta duração, depois ela calcifica (é como um enigma que se resolve com facilidade). O que desacomoda está sempre em movimento; mesmo que diminua em grau de desconforto, está sempre acenando para a possibilidade de desafio. Penso que no “Luz dos Monstros” (Editora Aboio, 2023) cheguei a um lugar, a uma radicalidade, da qual não posso recuar. Mesmo que se reconheça no primeiro livro deste “Sanduíche de Anzóis”, o do amor, alguma acessibilidade maior, agrado, eu imagino que a estranheza, o martelar e o ruído estão sempre lá. Se eu abrir mão dessa dicção para me tornar mais palatável, mais, digamos, “vinho chileno” (aquele que nunca decepciona), estarei abrindo mão da própria poesia (da forma como leio e aprendo com a poesia buscando sempre sua incerteza). A liberdade que a poesia traz é imensa porque ela não demanda compreensão, ela demanda invenção, demanda leitura criativa (muito mais do que escrita criativa), penso que aí está a magia, aí está a potência, aí está o segredo. Faço como faço porque é o modo que possibilita o meu fazer, é como sei fazer; contornar a doçura fugir das referências, inclusive de mim, do verso que antecedeu o verso que está sendo escrito dentro próprio poema, é minha maneira de respirar, minha singularidade, minha voz única. Com o tempo a gente percebe que essa voz única é só o que podemos ambicionar, ela é um lugar, ele significa, mas, além de ser mais um grão de areia na imensa linha da tradição literária, não há nada de especial nele.


Resenhando.com - Você fala de amor, loucura e revolta como se fossem irmãs siamesas. Qual dessas três, se tivesse que amputar, deixaria você artisticamente amputado?
Paulo Scott - A loucura. Ela é o útero da minha linguagem, ela é a fonte, o duvidar que faz com que tudo se mova.


Resenhando.com - Em “Marrom e Amarelo”, você expõe feridas raciais do Brasil sem anestesia. Na sua poesia, que anestesia você deliberadamente se recusa a usar - mesmo sabendo que poderia facilitar a publicação ou aceitação?
Paulo Scott - Desprezar a inteligência e a criatividade de quem está lendo é formular anestesias que podem produzir resultados diferentes afetando, inclusive, a aceitabilidade comercial do livro (embora, como sabemos, não haja fórmula garantida). Tento não pegar (não ambicionar) esse atalho - meus romances não abrem mão do oculto, da entrelinha, da inquietude porque é minha forma de conseguir narrar. O que posso dizer é: minha prosa é assim porque minha poesia (minha respiração na poesia) é assim. Minha coragem de prosador vem da minha persona poeta, da sua loucura (do seu caos) que, embora menos prolifica, só aumenta em intensidade, vem da minha respiração de poeta, da segurança que, por sorte, consigo encontrar nela. Respondendo à pergunta de maneira mais objetiva: minha poesia é uma fuga, uma construção de exílio, de estrangeiridade e, nesse processo, há um atrito essencial e uma aspereza essencial que ditam o próprio fazer; manter esse movimento talvez seja meu modo de não ceder à tentação das anestesias.


Resenhando.com - Reescrever poemas antigos é como rever fotos ou reabrir cartas antigas? Você teve medo de reencontrar um Paulo Scott que já não é mais você?
Paulo Scott - Não tive medo. Sinto-me o mesmo adolescente tímido e gago buscando mais consistência nesta vida que se faz pela linguagem (e pela leitura dessa linguagem). Fotos e cartas são diferentes, poesia para mim é sempre aflição da busca, ela não cessa, encadeia e me faz, sem hiatos, perceber aqueles que já fui, dependo deles para ser o que sou hoje.


Resenhando.com - Se sua poesia é uma luta corpo a corpo com a linguagem, quem geralmente vence: o Paulo que escreve ou o verso que escapa?
Paulo Scott - Ótima pergunta. O verso que escapa sempre vence. Nele está a luz que instiga o meu perseguir.


Resenhando.com - Você já recebeu conselhos para “suavizar a escrita” ou “alinhar o tom ao mercado”? E, se sim, o que você respondeu - mentalmente ou em voz alta?
Paulo Scott - Sim, muitas vezes. Respondo em voz alta: é só assim que eu sei fazer.


Resenhando.com - Há um manifesto contra o novo fascismo dentro do livro. Como poeta, qual o risco maior: ser panfletário demais ou cúmplice por omissão?
Paulo Scott - Tentar ou arriscar, mesmo que haja falha, é o que importa. O engajamento está na leitura (ela determinará a importância de um texto literário). Não acredito em quem produz escoltado pela jura do engajamento, já justificando e explicando a própria relevância. Dizer que é um manifesto não me extrai da insignificância, não é mais do que uma simples nomeação. Registro que é manifesto porque um determinado tempo e um determinado Paulo Scott nos solicitou. Achei que valia a pena constar como um esforço nascido em um tempo de desespero (tendo por cenário a pandemia e sua incontornável ambiência apocalíptica) parte do grande desespero geral que é, em si, a existência.


Resenhando.com - Você se considera um poeta militante, um militante poeta ou um cara que escreve poesia tentando sobreviver ao país - e a si mesmo?
Paulo Scott - Sou poeta para abraçar da melhor maneira possível a solidão. Não penso em sobrevivência, penso em me aperceber da vida, penso, como já disse, em leitura, em ler mais e melhor o que nos determina e por vezes, nos permite alguma felicidade.


Resenhando.com - Se “Sanduíche de Anzóis” fisga, qual tipo de leitor você mais deseja capturar: o distraído, o indignado ou o que nunca se deixou morder por verso algum?
Paulo Scott - Não penso em quem me encontrará, penso em inscrever, do meu jeito, o que encontrei e repassar. E, nesse sentido, somar-me a uma ética que ainda não conseguimos definir, precisar.


Resenhando.com - O Paulo Scott dos versos é o mesmo que o da prosa e o do dia a dia? O que os aproxima e o que os diferencia?
Paulo Scott - Bom isso de focar nos versos. Mais do que os poemas, penso que existo nos versos, cada um deles é uma companhia irreplicada, um assentamento, um espelho que me dirá, sobretudo, para mim mesmo. Neles sou o tempo, o meu tempo, que não submete ao tempo cristão, ao tempo mercantil, ao tempo das expectativas, dos julgamentos (e, nos julgamentos, das condenações que na nossa maneira de viver o supremo deus capitalismo e suas eternas enfermidades, a atualidade de sua luz dos monstros, nos impõe).

terça-feira, 10 de junho de 2025

.: Literatura no volume zero: o universo íntimo de Bruno Inácio em entrevista


Por 
Helder Moraes Miranda, especial para o portal Resenhando.com. Foto: divulgação.

No livro de contos "De Repente Nenhum Som", o escritor Bruno Inácio transforma o silêncio em linguagem, em narrativa, em personagens. Colaborador de veículos literários importantes, como o Jornal Rascunho e o site São Paulo Review, o autor recorre ao não dito, à pausa, à ausência – e justamente aí encontra matéria-prima para narrativas que ecoam no lado mais profundo de algum leitor atento. Como ele mesmo diz: “Tem tudo aquilo que só cabe no silêncio” . Nesta entrevista exclusiva concedida ao portal Resenhando.com, Bruno revela como descobriu, quase sem perceber, que o silêncio era seu tema mais íntimo e recorrente - nos papéis de leitor e de escritor.

Com uma escrita concisa e emocionalmente densa, Bruno Inácio compartilha o processo de lapidar frases como quem escolhe palavras para preencher vazios. “Quando compreendi que prefiro escrever frases curtas, foi libertador”, afirma. E é nesse equilíbrio entre delicadeza e brutalidade, cotidiano e introspecção, que ele constrói personagens que, embora comuns, “dialogam com o silêncio” e tornam-se espelhos de quem o lê. Esta conversa é um convite para mergulhar não só na obra de Bruno Inácio, mas também na poética silenciosa que pulsa nas entrelinhas de um texto bem escrito.  Compre "De Repente Nenhum Som" neste link.


"De Repente Nenhum Som" apresenta o silêncio não como ausência, mas como protagonista. Em que momento da sua trajetória como escritor você percebeu que o silêncio podia ser um elemento narrativo tão potente?
Bruno Inácio - Isso aconteceu de forma bastante natural, na verdade. Escrevi um dos contos do livro, “Céu de Ninguém”, em 2018. Mais tarde, em 2022, durante uma oficina de criação literária com o escritor Carlos Eduardo Pereira, surgiram outras duas narrativas: “Alô, Alô, Freguesia” e “Seis Minutos de Análise no Novo Divã”. Percebi, então, que os três contos dialogavam entre si, já que abordavam o silêncio e as relações familiares. Foi quando me dei conta que aqueles eram os temas que mais me interessavam no momento - e não só como escritor, mas também como leitor. Sem perceber isso de forma consciente, eu já estava mergulhado em leituras que abordavam o silêncio há algum tempo.

"De Repente Nenhum Som" mergulha na solidão, nas pausas da vida e no que não é dito. Como você equilibra a escrita econômica com a profundidade emocional que seus contos transmitem?
Bruno Inácio - Quando compreendi que prefiro escrever frases curtas, foi libertador. Como se, enfim, eu estivesse mais próximo de encontrar o meu estilo literário e meus temas. No entanto, ao mesmo tempo descobri que uma palavra mal escolhida pode destruir um parágrafo inteiro. A partir daí, passei a procurar as palavras certas para cada cena, sentimento, ação e, principalmente, para cada silêncio. Não digo palavra perfeita, porque sei que ainda sou alguém que está começando sua jornada na literatura, em meio a erros e acertos. Mas confesso que gastei um bom tempo reescrevendo os contos de “De Repente Nenhum Som” para chegar a esse resultado que você apontou: o equilíbrio entre a escrita econômica e a profundidade emocional.


Você escolheu personagens comuns, mas com dilemas complexos e profundos. Como foi o processo de criação dessas figuras? Houve alguma preocupação em torná-las espelhos do leitor?
Bruno Inácio - Gosto muito do drama presente no cotidiano, dos dilemas e anseios das pessoas comuns. Algumas dessas personagens se baseiam em familiares, outras são projeções de traumas e desejos. A minha maior preocupação no momento de pensar sobre essas pessoas foi tentar entender como cada uma se relacionava com o silêncio. Torná-las espelhos do leitor não foi algo exatamente planejado, mas a literatura tende a se encarregar disso, de uma forma ou de outra.

Um dos contos mais marcantes, "Céu de Ninguém", tem origem em uma experiência real. Como a vivência pessoal impacta sua ficção? Existe um limite entre o vivido e o inventado para você?Bruno Inácio - Uma vez minha psicanalista disse algo que nunca esqueci: toda memória é ficcional. Nesse sentido, sei que os acontecimentos reais que inspiraram alguns dos contos de “De Repente Nenhum Som” já passaram por certos filtros, uma vez que correspondem às minhas versões dos fatos e, consequentemente, à maneira que essas memórias foram construídas e reconstruídas ao longo dos anos. Ainda assim, gosto de explorar experiências autobiográficas na ficção, porque é um jeito de olhar para o passado com novos olhos e, de certa forma, criar novas lembranças.


O livro alterna momentos de brutalidade e de delicadeza com naturalidade. Essa dualidade surgiu de forma intuitiva ou foi construída intencionalmente ao longo dos contos?
Bruno Inácio - Acredito que isso tenha relação com meu interesse pelo cotidiano. O dia a dia é repleto de delicadeza e brutalidade, ainda que não pensemos tanto sobre isso. Eu me considero uma pessoa muito sensível, atenta aos detalhes que justificam a existência. Mas, ao mesmo tempo, sou um pessimista e às vezes me vejo sem grandes perspectivas. Como esse é meu trabalho mais pessoal até agora, essa dicotomia apareceu nos contos de forma bem intuitiva.

A estrutura minimalista dos contos chama atenção: poucas palavras, mas muito significado. Como você chegou a essa forma de escrever? Foi uma escolha estética, técnica ou emocional?
Bruno Inácio - Devo muito ao escritor Marcelino Freire. Antes de fazer sua oficina de criação literária, eu tentava me forçar a escrever frases longas e transitar por diversos gêneros literários. No decorrer das aulas, percebi que era muito mais lógico tentar aprimorar o que eu já sabia minimante fazer, ao invés de tentar “fazer tudo”’. Depois que reconheci minha escrita como concisa, escrever se tornou algo muito mais natural.


A solidão, em suas várias formas, é um tema central no livro. Você acredita que o silêncio e o isolamento dizem mais sobre o nosso tempo do que as falas e os ruídos diários?
Bruno Inácio - Há uma pressa em nossos tempos que me angustia. Tudo é urgente no trabalho, nas redes sociais e nas nossas relações. Isso leva ao isolamento e à interpretação superficial de fatos complexos. Às vezes, isso vem acompanhado de silêncio. Mas o silêncio também pode ser afeto, aconchego e conforto. Seja como for, acredito que ruídos e silêncios nos afetam de formas diferentes e ambos dizem muito sobre os nossos tempos.


A recepção crítica foi bastante positiva, com elogios de nomes importantes da literatura brasileira. Como você lida com esse reconhecimento e que responsabilidade sente ao ser apontado como uma das vozes promissoras da nova literatura?
Bruno Inácio - Ainda parece surreal tudo isso que tem acontecido com o livro. É uma obra de uma editora independente, escrita por um autor iniciante e publicada fora do eixo Rio-São Paulo. Então, sinceramente, não esperava que “De Repente Nenhum Som” chegaria a ser elogiado pelos principais veículos literários do país e por alguns dos mais importantes nomes da literatura brasileira contemporânea. Ser lido por pessoas que são referências para mim é algo com que sempre sonhei. Confesso que ainda não aprendi a lidar com naturalidade com isso de ser apontado como um novo talento da literatura brasileira. Sempre que leio algum comentário nesse sentido, volto a ser aquela criança tímida que não sabia o que responder quando recebia parabéns no seu aniversário.


Como colaborador de veículos como o Jornal Rascunho e a São Paulo Review, você acompanha a cena literária de perto. Onde você posicionaria sua obra dentro do panorama atual da literatura brasileira?
Bruno Inácio - A literatura brasileira vive um ótimo momento, tanto em forma como em conteúdo. Todos os dias conheço autores e autoras que têm feito um trabalho de qualidade junto a grandes, médias e pequenas editoras, além dos que optam pela autopublicação. Estar no meio de tanta gente talentosa e fazer parte de uma geração que tem ficcionistas como Jarid Arraes, Monique Malcher, Andreas Chamorro, Carina Bacelar, Bethânia Pires Amaro, Vanessa Passos, Julia Barandier, Giovana Proença, Mateus Baldi, Paulo Henrique Passos, Marcela Fassy, Camila Maccari, Pedro Jucá, Mariana Basílio e Febraro de Oliveira é um privilégio e uma alegria.


Para quem ainda não leu "De Repente Nenhum Som", que tipo de experiência você espera provocar? O que gostaria que ficasse ecoando no leitor depois da última página?
Bruno Inácio - Tenho usado uma frase do livro nas dedicatórias desde que a obra foi lançada: tem tudo aquilo que só cabe no silêncio. Acho que é o que resume bem o tipo de experiência que quero provocar em leitores e leitoras. Essa percepção de que o silêncio é complexo, repleto de nuances e, às vezes, a síntese de toda uma dinâmica familiar.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

.: Crítica: "Bailarina" entrega heroísmo feminino, mas não supera John Wick

Por: Mary Ellen Farias dos Santos, editora do Resenhando.com

Em junho de 2025


O universo de suspense e ação neo-noir de John Wick dita o rumo da trama de "Bailarina", spin-off da franquia protagonizada por Keanu Reeves ("Matrix"), em cartaz na Cineflix Cinemas. Desta vez, embora o Baba Yaga marque presença -com direito a bons embates-, o holofote vai para Ana de Armas ("Blonde") na pele da jovem Eve Macarro que tem sede de vingança pela morte dos pais ainda quando criança -testemunhando até mesmo a morte do pai. 

Dirigido por Len Wiseman ("Anjos da Noite - Underworld"), a produção cai no genérico, ainda que dê destaque a uma mulher com sede de vingança e colocando a todos seus desafetos mortos ao chão. Enquanto que os outros filmes entregam arte visual capaz de encantar até mesmo o público que não gosta de pancadaria e sangue rolando -mesmo que tudo isso jorre pela tela. 

O longa de 2 horas e 5 minutos com roteiro de Shay Hatten entrega bons confrontos, porém alguns excessivos de tão longos. Mesmo incluindo Reeves, falta história, o que não cria um simples elo com o público. Outro problema é que tudo transparece a gamificação sempre lembrando o público de que está apenas assistindo a tudo, sem convite. De fato, há barreiras. Fica nítido de que Eve está vivenciando tudo, o público apenas testemunhando e nada mais. 

Com diversas cenas gravadas pelo saudoso Lance Reddick (falecido em 17 de março de 2023), no papel de Charon, que atende assassinos em busca de hospedagem e serviços no Hotel Continental, sendo também guarda-costas de Winston, o proprietário. Acontecendo entre o terceiro e o último filme de John Wick, "Bailarina" fica um tanto que solto nessa linha do tempo, muito por parte da falta de enredo. Outro erro está na identidade visual da franquia nitidamente perdida, e acaba flertando com a franquia "Anjos da Noite", de Wiseman.

Explosões, sequências frenéticas de lutas e a inexplicável força para lutar mesmo estando muito ferido, garante entretenimento perfeito aos fãs de filmes de ação. "Bailarina" ainda traz a diretora do grupo Anjelica Huston ("Família Addams"), insere o personagem Pine interpretado por Norman Reedus ("The Walking Dead"). Sem cenas pós-créditos ou superar a franquia "John Wick ", assim como o carisma do protagonista, com traços meigos e atitudes brutais, "Bailarina" é uma boa opção de entretenimento!


O Resenhando.com é parceiro da rede Cineflix Cinemas desde 2021. Para acompanhar as novidades da Cineflix mais perto de você, acesse a programação completa da sua cidade no app ou site a partir deste link. No litoral de São Paulo, as estreias dos filmes acontecem no Cineflix Santos, que fica no Miramar Shopping, à rua Euclides da Cunha, 21, no Gonzaga. Consulta de programação e compra de ingressos neste link: https://vendaonline.cineflix.com.br/cinema/SAN


"Bailarina" (Ballerina). Ingressos on-line neste linkGênero: ação e suspense neo-noirClassificação: 18 anos. Duração: 2h05. Direção: Len Wiseman Roteiro: Shay HattenElenco: Ana de Armas, Ian McShane, Anjelica Huston. Sinopse: Bailarina é um filme de ação e suspense neo-noir, dirigido por Len Wiseman e faz parte do universo expandido de John Wick. Com roteiro de Shay Hatten, a trama segue uma assassina habilidosa, interpretada por Ana de Armas, que foi treinada nas tradições da organização Ruska Roma. Ela busca vingança contra aqueles que assassinaram sua família. O filme se passa entre os eventos de John Wick: Capítulo 3 – Parabellum e John Wick: Capítulo 4, expandindo o conceito introduzido no terceiro filme da franquia. Além de explorar o mundo das assassinas de aluguel, Bailarina traz de volta Anjelica Huston como a mentora de uma academia de balé que funciona secretamente como uma escola de mercenários. A produção também conta com participações de personagens icônicos da franquia John Wick, incluindo Ian McShane, Lance Reddick e Keanu Reeves, que faz uma aparição como John Wick. Esse spin-off promete intensificar a mitologia de John Wick, com cenas de ação eletrizantes e uma protagonista determinada a fazer justiça.. Confira os horários: neste link

Trailer "Bailarina"




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