quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

.: #ResenhandoIndica: Valentine's Day com cupido esperto

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em fevereiro de 2018



Hoje é dia 14 de fevereiro e, para boa parte dos países do globo, é comemorado o  "Valentine's Day", ou seja, o Dia dos Namorados "gringo". E como os corações apaixonados estão em polvorosa, nada como relembrar a dupla britânica de synthpop, "Erasure" (Vince Clarke -teclado e guitarra- e Andy Bell -vocal), responsável por sucessos como "Little respect" e "Love to hate you".

Contudo, o segundo hit em questão, clássico dos anos 90, ganhou uma releitura no Vimeo. A fakedoll Bonnie Fiore, integrante da banda LOKI, anunciou a disponibilização do novo videoclipe. "Finalmente, estreando! Eu estava ansiosíssima para esse clip sair. Depois de muitos apertos, retomadas de decisões, dificuldades na produção, nosso equipe venceu e agora o vídeo está no ar. Espero que gostem!", comentou.

Sem dúvida essa é uma boa pedida para quem curte produções cheias de criatividade e talento. Assim, o #ResenhandoIndica, pois além da diversão será garantida, é fácil cair de amores pelo "replay". Curta também facebook.com/GLTVChannel e acesse gltvchannel.wordpress.com.

Assista:
*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

.: É oficial: Ryan Murphy assina contrato milionário com Netflix

Da Redação do Resenhando.com


Há algum tempo um burburinho envolvendo Ryan Murphy soprou que o responsável por séries como “Glee”, “American Horror Story” e “American Crime Story” estava flertando com a Netflix. Eis que tudo está confirmado e, a partir de 1º de julho de 2018, ele produzirá somente para a plataforma de streaming, após fechar um contrato milionário de exclusividade por cinco anos.

De acordo com o The New York Times, que noticiou o fato, o criador da série "9-1-1" receberá 300 milhões de dólares e terá a liberdade de fazer filmes ou documentários além de séries. Antes de o acordo ser selado, Murphy trabalhava em dois programas -um com Sarah Paulson e outro com Barbra Streisand- para a Netflix por meio do estúdio do canal Fox. Assim, Ryan Murphy deixará a Fox.

O jornalista e produto não é o primeiro criador de programas a ser contratado pela Netflix, pois, em agosto, Shonda Rhimes assinou contrato de exclusividade que fazem com que as novas produções sejam lançadas por lá, embora continue a trabalhar nas suas séries já existentes do canal ABC, como “Grey’s Anatomy” e “How to Get Away with Murder”.

“Tenho consciência da história deste momento. Sou um gay de Indiana que se mudou para Hollywood em 1989 com 55 dólares no bolso, então o fato dos meus sonhos terem se tornado realidade de uma forma tão grande é emocionante para mim”, comentou sobre a novidade.


Veja a repercussão do acontecido no Twitter:








.: Laila Garin canta Elis Regina no Teatro Porto Seguro

Laila Garin, que arrebatou público e crítica ao interpretar Elis Regina (1945-82) no teatro volta a cantar as músicas eternizadas pela Pimentinha no show Laila Garin e a Roda Cantam Elis, dia 6 de março, terça-feira, às 21h, no Teatro Porto Seguro.  O trio A Roda é formado por Marcelo Müller (baixo), Rico Viana (guitarra e violão) e Rick De La Torre (bateria). 

Em março Elis completaria 73 anos. O show é um revival em homenagem à grande intérprete considerada “a maior cantora brasileira”. No repertório, sucessos como Fascinação, Reza, Upa Neguinho, Dois pra lá, Dois pra cá, Arrastão, Como Nossos Pais e As Curvas da Estrada de Santos. “Elis foi uma pesquisadora, caçadora de pérolas, que sabia escolher repertório e lançar compositores. Essas músicas tem um significado muito forte e a resposta é uma comunhão com o público”, fala Laila.

Entre 2013 e 2014, a atriz Laila Garin viveu a personagem principal de Elis, a Musical, peça de Nelson Motta, dirigida por Dennis Carvalho, cuja atuação arrebatou vários prêmios como Shell, Cesgranrio, Bibi Ferreira, APTC, Reverência e outros. Diferente do espetáculo onde interpretava Elis, neste show, Laila empresta sua personalidade e revisita sua obra, sem figurino nem caracterização especial.

Natural de Salvador, filha de uma brasileira e um de francês, Laila Garin começou a estudar canto aos 13 anos em paralelo com o teatro e transita por várias vertentes. Formada pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, inclui em sua formação estudos de canto lírico e de Mímica Corporal Dramática (com o ator francês Etienne Decroux). Em São Paulo, trabalhou por 10 anos com o diretor Cacá Carvalho e sua Casa Laboratório, onde era responsável também pelo treinamento vocal dos atores.

Na TV Globo, esteve no ar na novela Babilônia de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes, em 2014. E na novela Rock Story, em 2017, em que interpretou uma cantora também chamada Laila.

Laila Garin no show Laila Garin e a Roda Cantam Elis
Dia 6 de março - terça-feira às 21h.
Ingressos: R$ 80,00 plateia / R$ 60,00 balcão/frisas.
Classificação: Livre.
Duração: 60 minutos.
Gênero: MPB.

TEATRO PORTO SEGURO
Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo.
Telefone (11) 3226.7300.
Bilheteria:De terça a sábado, das 13h às 21h e domingos, das 12h às 19h.
Capacidade: 496 lugares.
Formas de pagamento: Todos os cartões de crédito e débito (exceto Cabal, Sorocred e Goodcard).
Acessibilidade:10 lugares para cadeirantes e 5 cadeiras para obesos.
Estacionamento no local: Estapar R$ 20,00 (self parking) - Clientes Porto Seguro têm 50% de desconto.
Serviço de Vans: TRANSPORTE GRATUITO ESTAÇÃO LUZ – TEATRO PORTO SEGURO – ESTAÇÃO LUZ. O Teatro Porto Seguro oferece vans gratuitas da Estação Luz até as dependências do Teatro. COMO PEGAR: Na Estação Luz, na saída Rua José Paulino/Praça da Luz/Pinacoteca, vans personalizadas passam em frente ao local indicado para pegar os espectadores. Para mais informações, contate a equipe do Teatro Porto Seguro.
Bicicletário – grátis.

Gemma Restaurante:Terças a sextas-feiras das 11h às 17h; sábados das 11h às 18h e domingos das 11h às 16h. Happy hour quartas, quintas e sextas-feiras das 17h às 21h.

Vendas: http://www.tudus.com.br
Site: http://www.teatroportoseguro.com.br
Facebook: facebook.com/teatroporto
Instagram: @teatroporto

.: Pedro Mariano traz show "Piano e Voz" ao palco do teatro OPUS, em SP

Uma das mais belas vozes masculinas do Brasil apresenta show intimista, no dia 17 de março, no Teatro OPUS, em São Paulo

Crédito: Dani Gurgel

Após passar por diversas capitais como Rio de Janeiro, Brasília e Salvador, Pedro Mariano, um dos mais respeitados intérpretes da música brasileira, finalmente chega a São Paulo com uma proposta mais intimista. Acompanhado do pianista e diretor musical Marcelo Elias, o cantor apresenta, no dia 17 de março, no palco do Teatro OPUS, o elogiado show “Piano e Voz”.  Os ingressos já estão à venda. Confira o serviço completo abaixo.

O repertório traz músicas que marcaram a carreira e a vida do artista como “Caminhos Cruzados” (Tom Jobim e Newton Mendonça), “Acaso” (Abel Silva e Ivan Lins), “Dupla Traição” (Djavan), “Tem Dó” (Baden Powell e Vinícius de Moraes), Ventania (Jair Oliveira), “Um pouco mais perto” (Ana Carolina, Chiara Civello e Edu Krieger), entre outras.

Classificação: Livre.
Duração: 105 min.

PEDRO MARIANO – PIANO E VOZ
Dia 17 de março
Sábado, às 21h
Teatro OPUS (Av. das Nações Unidas, nº 4777 - Alto de Pinheiros/ 4o piso – Shopping VillaLobos) - www.teatroopus.com.br/

INGRESSOS:
Balcão Nobre
R$ 80,00 - Inteira
R$ 40,00 - Meia-entrada
Plateia Alta
R$ 100,00 - Inteira
R$ 50,00 - Meia-entrada
Plateia Baixa
R$ 130,00 - Inteira
R$ 65,00 - Meia-entrada

- 20% de desconto para clientes, funcionários e acionistas da Rede MERCURE/ACCOR, limitados a 50 ingressos por sessão, dois por CPF.

** Política de venda de ingressos com desconto: as compras poderão ser realizadas nos canais de vendas oficiais físicos, mediante apresentação de documentos que comprovem a condição de beneficiário. Nas compras realizadas pelo site e/ou call center, a comprovação deverá ser feita no ato da retirada do ingresso na bilheteria e no acesso à casa de espetáculo.

*** A lei da meia-entrada mudou: agora o benefício é destinado a 40% dos ingressos disponíveis para venda por apresentação. Veja abaixo quem têm direito a meia-entrada e os tipos de comprovações oficiais em São Paulo:

- IDOSOS (com idade igual ou superior a 60 anos) mediante apresentação de documento de identidade oficial com foto.

- ESTUDANTES mediante apresentação da Carteira de Identificação Estudantil (CIE) nacionalmente padronizada, em modelo único, emitida pela ANPG, UNE, UBES, entidades estaduais e municipais, Diretórios Centrais dos Estudantes, Centros e Diretórios Acadêmicos. Mais informações: www.documentodoestudante.com.br

- PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E ACOMPANHANTES mediante apresentação do cartão de Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social da Pessoa com Deficiência ou de documento emitido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que ateste a aposentadoria de acordo com os critérios estabelecidos na Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013. No momento de apresentação, esses documentos deverão estar acompanhados de documento de identidade oficial com foto.

 - JOVENS PERTENCENTES A FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA (com idades entre 15 e 29 anos) mediante apresentação da Carteira de Identidade Jovem que será emitida pela Secretaria Nacional de Juventude a partir de 31 de março de 2016, acompanhada de documento de identidade oficial com foto.

- JOVENS COM ATÉ 15 ANOS mediante apresentação de documento de identidade oficial com foto.

- DIRETORES, COORDENADORES PEDAGÓGICOS, SUPERVISORES E TITULARES DE CARGOS DO QUADRO DE APOIO DAS ESCOLAS DAS REDES ESTADUAL E MUNICIPAIS mediante apresentação de carteira funcional emitida pela Secretaria da Educação de São Paulo ou holerite acompanhado de documento oficial com foto.

 - PROFESSORES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL E DAS REDES MUNICIPAIS DE ENSINO mediante apresentação de carteira funcional emitida pela Secretaria da Educação de São Paulo ou holerite acompanhado de documento oficial com foto.

**** Caso os documentos necessários não sejam apresentados ou não comprovem a condição do beneficiário no momento da compra e retirada dos ingressos ou acesso ao teatro, será exigido o pagamento do complemento do valor do ingresso.

ATENÇÃO: Não será permitida a entrada após o início do espetáculo.

Capacidade: 751 pessoas
Acesso para deficientes

Estacionamento:

Self
Até 2h - R$13,00
2h a 3h - R$16,00
3h a 4h - R$19,00
4h a 5h - R$22,00
5h a 6h - R$28,00
6h a 7h - R$34,00
Demais horas: R$3,00

Valet
Até 1h - R$18,00
Demais horas: R$12,00

Horário de funcionamento:
Segunda a sexta: 10h às 22h (ou até o final do espetáculo)
Domingos e feriados: 10h às 22h (ou até o final do espetáculo)

Formas de pagamento: dinheiro e cartões de crédito e débito informadas no local de pagamento. Taxa de perda do cartão de estacionamento, será cobrado valor de estadia/ pernoite, conforme horas descritas nas tabelas. Tempo de tolerância de 15 minutos para self.

CANAIS DE VENDAS OFICIAIS:
BILHETERIA OFICIAL – SEM TAXA DE CONVENIÊNCIA

Local: Foyer do Teatro Opus - 4º andar - Shopping Villa-Lobos
Av. das Nações Unidas, 4777 - Alto de Pinheiros - São Paulo, SP.
De terça a domingo, das 12h às 20h

A Bilheteria do Teatro, no terraço do Shopping Villa-Lobos, abre somente em dias de espetáculos, a partir das 14h.

OUTROS PONTOS DE VENDA - COM TAXA DE CONVENIÊNCIA: www.uhuu.com

Formas de pagamento: Amex, Aura, Diners, dinheiro, Hipercard, Mastercard, Visa e Visa Electron

.: Resenha de "O peru de Natal e outros Contos", de Mário de Andrade

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em fevereiro de 2018



Mário de Andrade é o pioneiro na poesia moderna brasileira, além de escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista e ensaísta brasileiro. Contudo, alguns textos clássicos de Andrade receberam um novo brilho mais do que atraente para o público jovem. 

O volume de 80 páginas da Editora do Brasil, traz contos como "Vestida de preto" (extraído de "Contos Novos"), "Será o Benedito!" (publicado em um jornal da época) e "Caim, Caim e o resto" (extraído do livro "Os contos de Belazarte") em uma bela roupagem. A inteligente e eficiente mescla de imagem e texto, compõe as histórias em quadrinhos, com ilustrações de Francisco Vilachã.

Num colorido em tons escurecidos, as imagens agregadas ao texto solidificam as tramas que retratam, pelas palavras do mestre Mário de Andrade que retratam situações comuns do cotidiano. Um bom exemplo é o primeiro conto do volume, o qual intitula a publicação, ao narrar um Natal diferente e cheio de fartura, após a morte do pai, que era sovina.

"Quando acabei meus projetos, notei bem, todos estavam felicíssimos, num desejo danado de fazer aquela loucura em que eu estourara. Bem que sabiam, era loucura sim, mas todos se faziam imaginar que eu sozinho é que estava desejando muito aquilo e havia jeito fácil de empurrarem pra cima de mim a... culpa de seus desejos enormes. Sorriam se entreolhando, tímidos como pombas desgarradas, até que minha irmã resolveu o consentimento geral:


— É louco mesmo!..."

Além dos contos, há excertos dos mais variados gêneros produzidos pelo autor, todos com fundo em cores vibrantes -assim como na capa e contracapa da publicação. Entre os textos apresentados há um trecho de "Macunaíma". Além da leitura de prazer, o livro é uma excelente opção de apoio nas escolas.


Livro: O peru de Natal e outros Contos
Autor: de Mário de Andrade
Ilustração: Francisco Vilachã
80 páginas

*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

.: Crônica: Não seja escravo do que em nada lhe acrescenta

Ilustraçao de Banksy
Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em fevereiro de 2018



Nada é mais libertador do que refletir e escrever. Confessar pensamentos e pesadelos. Sempre no espaço adequado que não são, definitivamente, as redes sociais.

Distante desse mundinho "sugativo" tudo é muito mais saudável. Claro! Tudo porque a premissa do "use com moderação" acaba sendo ignorada e "quem nunca comeu melado, termina por se lambuzar".

Não se renda aos irritantes textões que só visam massagear o próprio ego. Há vida fora das brincadeiras insossas e as venenosas indiretas. Acorde! Aproveite o que ainda lhe resta. Não seja escravo do que em nada lhe acrescenta!


*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

.: Resenha crítica de "A Forma da Água", de Guillermo del Toro

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em fevereiro de 2018



Obsceno e infantil. Assim, a produção "A Forma da Água" pode ser resumida. O novo longa de Guillermo del Toro caminha pelas trilhas de "O Labirinto do Fauno" com a dose malvada do vilão torturador, a inocência da protagonista e a curiosidade alheia no comportamento de um ser vivo inusitado. Em contrapartida, a bela fotografia não usa da penumbra, pois se esbalda no esverdeado e seus tons, com um toque certeiro de abóbora e vermelho -tal qual a série "Pushing Daisies - Um Toque de Vida" (2007-2009).

Não há dúvida de que "A Forma da Água" é o perfeito presente de 2018 para o cinema. A bela homenagem esbarra com excelência na essência da cinematografia por meio da mudez -e não surdez- da protagonista, a seleção de programas televisivos acompanhados por ela e o amigo ou a maior mágica da trama que enfatiza a relação de uma humana com uma criatura única. Assim como nos antigos clássicos "Nosferatu" (1922) e "King Kong" (1933).

Como que uma versão moderna de "O Monstro Da Lagoa Negra" (1954), "A Forma da Água" transita com primor entre a realidade e fantasia. O enquadramento das câmeras, assim como a música de Carmen Miranda que está na trilha sonora, é um "Chica Chica Boom Chic" a mais que mostra o belo entre o erotismo e o conto de fadas -mesclados. 

A película de 121 minutos, ambientada em 1963, durante a Guerra Fria, apresenta Eliza Sposito (Sally Hawkins), faxineira de um laboratório de instalação militar onde um homem anfíbio (Doug Jones), tratado como um deus, originário do Brasil, é mantido em cativeiro para fins de estudo. 

Em estudo, o "monstro", como todo bom brasileiro não é de briga -somente revida a ataques- e até mostra estar aberto a amizade. Assim, Eliza que ouve, embora seja muda, estabelece uma relação camarada com a criatura. Enquanto toma conhecimento do risco de morte dele, Eliza acaba se apaixonando e termina por preparar um plano para ajudá-lo a escapar -contando com a ajuda dos amigos, claro!.

Octavia Spencer, interpretando a amiga da protagonista, Zelda, mais uma vez mostra o quão talentosa é. Aliás, nos momentos em que a trama deixa transparecer o excesso de fantasia e se perde, é a atuação de fibra do excelente elenco que toma as rédeas e consegue manter a atenção do público. "A Forma da Água" é uma excelente opção de entretenimento!


Filme: A Forma da Água (The Shape of Water, EUA)
Ano: 2017)
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 121 min.
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
Elenco: Michael Stuhlbarg, Sally Hawkins, Michael Shannon, Doug Jones, Octavia Spencer
Classificação: 16 anos
Estreia: 1 de Fevereiro de 2018


*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm






Trailer


*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura, licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos e formada em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Twitter: @maryellenfsm

.: Grupo LaMínima apresenta "Pagliacci" no Sesc Santos

Caixa de texto: Foto: Paulo Barbuto
Espetáculo criado especialmente para a comemoração dos 20 anos ininterruptos de trabalhos da La Mínima.


A Cia. La Mínima chega a Santos com duas apresentações do espetáculo Pagliacci, dias 17 e 18 de fevereiro, sábado, às 20h, e domingo, às 18h. O espetáculo é uma adaptação do entrecho básico da ópera "I Pagliacci", de Ruggero Leoncavallo, e foi criada especialmente para comemorar os 20 anos do Grupo LaMínima. Mistura números com fartas doses de comicidade e elementos líricos e melodramáticos, bem ao gosto da tradição do circo brasileiro. 

No espetáculo, um velho bufão começa narrando ao público como Canio, o chefe de uma tradicional trupe de palhaços, ambicionava tornar-se reconhecido e respeitado como artista de “bom gosto” e produtor de espetáculos “de nível”. Para isso, resolve abandonar os tradicionais números circenses de palhaçaria e concebe um espetáculo cujos números cômicos refinados não seriam mais do que a preparação para um requintado melodrama, uma peça que “expusesse no palco as grandes emoções humanas”. E, além disso, trouxesse o sucesso popular e o reconhecimento da crítica. 

Para isso, lança mão dos préstimos do velho bufão da companhia que começa escrever o dramalhão, não sem a interferência autoritária de Canio que quer ditar os rumos do texto encomendado. O bufão, então, resolve escrever uma peça à imagem e semelhança da companhia, expondo sua história, seus dramas, ciúmes, traição conjugal e vilanias. Durante a estreia do espetáculo fica evidente o fracasso da encenação do melodrama junto ao público, bem como a percepção de Canio de que ele está representando no palco a sua própria história. O chefe dos palhaços e da companhia se revela o palhaço de seu próprio melodrama.



Sobre a peça
"Pagliacci" foi desenvolvida especialmente para a comemoração dos 20 anos ininterruptos de trabalhos do LaMínima. O projeto foi aprovado em 2015 pelo edital Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo para apresentações nos CEUs da capital, em 2017. Em 2016, o Sesi São Paulo abraçou o projeto "LaMínima 20 Anos", promovendo uma temporada do espetáculo, mostra de repertório da Companhia e uma exposição sobre a história do grupo. Um projeto desenvolvido por dois anos para realização durante o primeiro semestre de 2017.

Tudo combinado e o inesperado aconteceu. A perda de Domingos Montagner, capitão dessa embarcação. Por ele, pelo público, pelo circo, pelo teatro, pela história do "LaMínima". Fernando Sampaio e Luciana Lima valentemente assumiram com sua equipe: “levantar âncora, içar velas, seguirem rumo ao 'Pagliacci'”. Arregaçaram as mangas, recompuseram a tripulação, corrigiram a velocidade e a rota certos de que nas noites da travessia iriam contar com a luz do querido amigo que virara estrela.

A adaptação do "Pagliacci" sob a batuta do velho parceiro Luis Alberto de Abreu inicia-se a partir do material cênico apresentado pelos atores no início de novembro de 2016. Assim, garantiram o DNA da companhia no que viria ser a moldura dramatúrgica que os direcionou na criação compartilhada do espetáculo. Uma trupe de palhaços em busca da renovação artística e sobrevivência financeira.

Palhaços que são, buscam o status de artistas respeitados encenando um grande drama. A corrida pelo sucesso, pelos prêmios e pela aprovação dos críticos levam a se distanciarem da alma ingênua e da natureza do palhaço para se aproximarem do ser humano e suas imperfeições e crueldades.

A partir desse conceito se desenvolve a montagem, livremente, inspirada na ópera, essa grande arte erudita, e o circo, essa grande e requintada arte popular. O desafio foi achar medidas corretas entre o circo e o teatro, a comédia e a tragédia, o passado e o presente, entre as diferentes formas de representações.

Como conciliar um melodrama sem o mínimo respiro cômico com um grupo teatral formado na tradição da palhaçaria circense como o LaMínima? Como olhar a moral do século XIX em pleno século XXI, sem cair no discurso? A resposta veio do material que fomos levantando com o grupo, o diretor, e outros criadores: números de circo, propostas da dramaturgia, discussão com os criadores, pessoal técnico e amigos que acompanharam o processo. E os elementos da dramaturgia foram buscados na própria linguagem teatral e circense: a narrativa, a farsa, o melodrama, o metateatro, a eliminação da linearidade, tão característica da linguagem circense e do teatro de variedades.

O espetáculo inédito Pagliacci celebra não só os 20 anos da Cia, como também o encontro de grandes artistas reconhecidos nacionalmente, como Luis Alberto de Abreu e Chico Pelúcio, que aceitaram o desafio de encenar esta ópera, além de grandes representantes da arte da palhaçaria, como Carla Candiotto (Le Plat DuJour) e Alexandre Roit. Alguns já trabalham com o LaMínima e outros chegaram para este projeto para promover uma obra potente e um presente para a cidade de São Paulo pelos 20 anos de acolhimento de história do grupo.

Grupo La Mínima
O destino quis assim... é o mínimo que se pode dizer dessa trajetória da Cia LaMínima. Repleta de tradição, a parceria de Domingos Montagner e Fernando Sampaio construiu, além do que uma série de espetáculos, uma maneira própria e, ao mesmo tempo universal, de contar histórias recheadas de poesia.

As artes da cena têm no La Mínima um aliado generoso e atento às singularidades do circo, do teatro e da dança. O grupo pisou esses territórios com integridade nos vinte anos que os trouxeram até aqui. São muitas as superações e também as alegrias colhidas na opção por criar, produzir e viver da arte e da cultura. A vocação gregária da trupe multiplica nos trabalhos linguagens como música, HQ, rádio, cinema e artes visuais, entre outras, bem como as parcerias com grupos-irmãos e criadores convidados de todos os quadrantes. 

Não é demais lembrar que os fundamentos e a solidez do pensamento e da prática que guiam o LaMínima derivam da força e da resistência ancestrais do picadeiro. Convicção transmitida pelos mestres Roger Avanzini (o “Picolino” do Circo Nerino); José Araújo de Oliveira, o “Maranhão”; e José Wilson Leite (ambos da formação no Picadeiro Circo Escola em São Paulo).

Ingressos custam de R$ 20 (inteira) a R$ 6 (credencial plena) e estão à venda nas bilheterias do Sesc SP e online no portal sescsp.org.br.

Serviço
Circo-Espetáculo "Pagliacci", da Cia, LaMínima
Teatro. Livre.
R$ 20. R$ 10 (meia). R$ 6 (credencial plena).
17 de fevereiro. Sábado, às 20h.
18 de fevereiro. Domingo, às 18h.

Ficha Técnica
Concepção: Domingos Montagner e Fernando Sampaio
Texto e adaptação: Luis Alberto de Abreu
Direção: Chico Pelúcio
Assistência de Direção: Fabio Caniatto
Direção musical e música original: Marcelo Pellegrini
Elenco: Alexandre Roit, Carla Candiotto, Fernando Paz, Fernando Sampaio, Filipe Bregantim e Keila Bueno
Iluminação: Wagner Freire
Cenografia: Marcio Medina e Maristela Tetzlaf
Figurino: Inês Sacay
Adereços: Cecília Meyer
Visagismo: Simone Batata
Direção de produção: Luciana Lima
Produção executiva: Priscila Cha
Coprodução: Nia Teatro
Assistência de produção e de administração: Chai Rodrigues
Supervisão geral: Fernando Sampaio e Luciana Lima
Produtor Original: Sesi/SP
Gênero do Espetáculo: circo / comédia
Classificação Etária: não recomendado para menores de 14 anos
Tema: amor, traição e humanidade
Conteúdo: ciúme e intriga
Duração: 90 minutos

.: Entrevista com Maurício de Almeida, escritor e roteirista

"...toda obra é autobiográfica na medida em que os autores doam aos personagens os sentimentos", Maurício de Almeida.

Por Mary Ellen Farias dos Santos com a colaboração dHelder Moraes Miranda, em fevereiro de 2018.


Jovem e talentoso, o paulistano Maurício de Almeida é antropólogo e escritor brasileiro, autor das obras "Beijando Dentes: Contos" (2008) - que lhe rendeu o Prêmio Sesc de Literatura (2007) - e "A Instrução da Noite" (2016) - que lhe rendeu o Prêmio São Paulo de Literatura (2017). Nós do Portal Resenhando.com o conhecemos pelo Twitter (@mauricioalmeida) e revelamos mais sobre esse roteirista nesta entrevista exclusiva. Confira!


RESENHANDO - Em 2007 você ganhou o Prêmio Sesc. Dez anos depois, você vence o Prêmio São Paulo de Literatura. O que separa, e o que une, o escritor de dez anos atrás e o atual?
MAURÍCIO ALMEIDA - O principal elemento que separa o escritor de 2007 do escritor de 2017 é uma consciência um pouco maior da literatura e do fazer literário. Em 2007, quando venci o Prêmio Sesc de Literatura na categoria contos com o livro “Beijando Dentes”, estava iniciando meu trajeto, experimentando formas e linguagens. Então, tanto a literatura (no sentido amplo, todos os elementos que compõem o campo literário) quanto o fazer literário (a escrita, o estilo, as soluções etc) estavam em processo de descoberta. É possível notar essa característica nos contos de “Beijando Dentes”, sobretudo no que diz respeito às questões formais: se, por um lado, funcionam enquanto projeto de livro, por outro lado explicitam também um autor em busca da experimentação, testando formas e estilos. Dez anos depois, após o lançamento de meu primeiro romance, “A Instrução da Noite”, que venceu o Prêmio São Paulo de Literatura 2017 (categoria autor estreando abaixo de 40 anos), acredito ter acumulado um conhecimento maior tanto do meio quanto do fazer literário. 


RESENHANDO - Chegou a publicar nesse período?
MAURÍCIO ALMEIDA - Apesar de não ter publicado nesse intervalo (mas participei de antologias, etc), esse período foi de intenso aprendizado, no qual pude conhecer melhor o funcionamento de editoras, publicações, festivais literários e outros elementos que rodeiam a literatura e, sobretudo, e um período no qual investiguei como fazer a literatura que gostaria de fazer. Trata-se não só de uma transição entre os contos e o romance, mas de descoberta e afirmação do escritor, naquilo que pode ser entendido por estilo e também no desenvolvimento de um projeto literário.


RESENHANDO - Que conselhos você daria para um escritor que tem por objetivo vencer esses prêmios?
MAURÍCIO ALMEIDA - O primeiro e único conselho que daria para um escritor que tem por objetivo vencer esses prêmios é não ter tal objetivo. Penso que o objetivo do escritor seja escrever o melhor livro que é capaz de escrever – o restante é consequência. Além disso, por mais importantes que sejam, prêmios não bastam à carreira de um escritor, são passageiros, facilmente esquecidos. Com sorte, o que restará são os livros, por isso penso que todo investimento do escritor deve ser na obra.


RESENHANDO - O que há de autobiográfico em sua obra?
MAURÍCIO ALMEIDA - Responderei com máxima mundialmente conhecida do escritor francês Gustave Flaubert: "Emma Bovary c'est moi". Ao afirmar ser Emma Bovary, Flaubert está dizendo que se doou integralmente à personagem e, no entanto, a adúltera Emma pouco tem da imagem (ou vida) de Flaubert. Quero dizer que toda obra é autobiográfica na medida em que os autores doam aos personagens os sentimentos, as experiências, e não necessariamente o nome, as características pessoais ou as situações. 


RESENHANDO - E no livro "A Instrução da noite"?
MAURÍCIO ALMEIDA - O narrador de “A Instrução da Noite” não sou eu e, ao mesmo tempo, não poderia ser mais eu, pois, da mesma forma que jamais vivi as situações descritas no livro, coloquei no livro minhas sensações e sentimentos (a solidão, o desespero, o medo, a necessidade etc). É por compartilhar essas sensações e sentimentos comuns a todos (todos nós já sentimos solidão, desespero, medo, necessidade etc) que o diálogo entre autor e leitor se torna possível, é nesse chão comum que nos encontramos. Afinal, se acaso eu descrevesse qualquer situação de minha vida, que identificação poderia ter com um leitor? Que impacto causaria um livro que descreve minha vida? Acredito que nenhum.


RESENHANDO - Nos seus textos, em que você mais se expõe e o que tenta esconder?
MAURÍCIO ALMEIDA - Tento expor os sentimentos que julgo comuns a todos, pois eles são a base que permite o encontro entre autor e leitores. Portanto, escondo aquilo que julgo inútil à literatura, isto é, o autor enquanto pessoa.



RESENHANDO - Você também é autor de peças de teatro e roteiros de curta-metragem. Quais são as diferenças entre escrever teatro, cinema e livros?
MAURÍCIO ALMEIDA - São gêneros muito distintos entre si. Em termos gerais, a dramaturgia está pautada no diálogo e na ação, o texto precisa caminhar apenas sobre aquilo que os personagens dizem e fazem; os roteiros de cinema são peças técnicas, voltadas a guiarem as filmagens. Cada um desses gêneros tem formas específicas de expressão e desafios. Gosto de transitar por essas áreas porque sempre aprendo algo que pode enriquecer a literatura, uma vez que me entendo muito mais escritor que dramaturgo ou roteirista. 


RESENHANDO - Quais aprendizagens resultaram do transitar entre gêneros?
MAURÍCIO ALMEIDA - As experiências que tive nesses outros gêneros me ajudam a superar dificuldades e desafios impostos pela escrita literária. Creio ser possível perceber essa relação no conto “Duelo” (do livro “Beijando Dentes”), que é basicamente um diálogo entre dois personagens marcado por rubricas de movimentações deles, ou no romance “A Instrução da Noite”, que, por vezes, se pauta exclusivamente na movimentação dos personagens ou nos diálogos que travam.


RESENHANDO - As questões familiares são muito comuns em seus textos. Por quê?
MAURÍCIO ALMEIDA - A família é o primeiro núcleo de pessoas com o qual temos contato – e são relações profundas, intensas, cheias de significados. As questões familiares são interessantes justamente por serem tão fortes e, ao mesmo tempo, serem tão contingentes quanto quaisquer outras relações. Por isso, creio que o tema família seja um terreno propício e muito fecundo para explorar sentimentos universais tais como a solidão, o desespero, o medo, a necessidade e assim por diante. Como um indivíduo pode lidar com a falta de resposta desse núcleo? Com o esfacelamento dele? Com a ausência desse núcleo? A solidão (e o desespero, o medo, a necessidade) implicada nessa situação é exemplar na busca daquilo que é humano – e talvez seja esse meu projeto literário – pois aquilo que é humano explicita-se por meio da solidão, do desespero, do medo, da necessidade.



RESENHANDO - Em qual autor você se inspira e por quê? Que nomes da literatura lhe influenciaram na escrita?
MAURÍCIO ALMEIDA - Tenho algumas referências fundamentais, autores que me formaram enquanto autor. Dessas referências, cito nominalmente Clarice Lispector, Lúcio Cardoso, Osman Lins e Raduan Nassar. Penso serem autores que investigaram o indivíduo a partir do universo interno. E, para tal, compuseram livros particulares e intensos, que se propõem pensar o ser humano a partir daquilo que há de mais terrivelmente humano em cada ser.


RESENHANDO - O que pode nos adiantar sobre seus novos projetos, o livro de conto e o romance?
MAURÍCIO ALMEIDA - Estou finalizando dois projetos, um livro de contos e um romance. O livro de contos se chama "Equatoriais" e pude arrematá-lo no período que fiz uma residência literária em Paraty, iniciativa concebida e realizada pelo Prêmio Off Flip de Literatura (ao qual agradeço a toda a equipe na figura de Ovídio Poli Junior e da Olga Yamashiro). Passei o mês de outubro do ano passado em Paraty exclusivamente dedicado ao livro de contos, que está praticamente pronto. 


RESENHANDO - Sobre o que vai tratar?
MAURÍCIO ALMEIDA - O tema que perpassa os contos de "Equatoriais" é viagens pelo Brasil. De modo geral, as personagens estão fora de seus lugares de origem e devem lidar com o estranhamento de estarem em locais que não conhecem e lidar com hábitos distintos. Alguns desses contos tiveram origem em viagens que fiz, por conta de minha formação como antropólogo e servidor da Fundação Nacional do Índio - Funai. 



RESENHANDO - E o romance?
MAURÍCIO ALMEIDA - Neste momento, estou me dedicando à conclusão do romance "Contudo, Setembro". O livro trata uma relação familiar e, de alguma forma, dialoga com “A Instrução da Noite”, embora se distancie pelo fato das personagens estarem dedicados a eventos externos a eles. Assim, ao contrário de “A Instrução da Noite”, no qual as ações são intensamente internas, "Contudo, Setembro" extrapola esse limite e coloca os personagens no mundo. O livro é sobre dois irmãos com rotinas e vivências completamente distintas que têm os caminhos distorcidos e são colocados em contato após uma situação limite interromper a rotina deles.


RESENHANDO - Como autor contemplado em prêmios cobiçados do mercado editorial brasileiro, responda: quais características devem ter um conto e um romance perfeito?
MAURÍCIO ALMEIDA - O conto ou o romance perfeito é aquele que mais se aproxima do conto ou romance que o autor tem na cabeça, o ideal que ele sonha e pretende concretizar. Quase sempre o desfecho dessa intenção é aquela frase do muralista do filme "Decameron", de Pier Paolo Pasolini, ao terminar o mural que pintava: “Por que criar uma obra de arte se sonhar com ela é tão mais doce?”. Tão mais doce porque mais completa, perfeita em relação àquilo que conseguimos concretizar. Além disso, quero dizer que o conto ou romance (ou poesia ou música ou tela) deve responder à demanda do autor, isto é, deve responder unicamente às regras e expectativas do autor e não a demandas externas.


RESENHANDO - O mundo de hoje - escancaradamente repleto de corrupção e imposição do politicamente incorreto - ainda pode ser inspirador para escrever? Por quê?
MAURÍCIO ALMEIDA - O mundo é sempre um desafio a ser encarado e creio que uma das expectativas dos escritores seja confrontá-lo para compreendê-lo. A inspiração (entidade na qual não acredito) é aquilo que provoca e, por incomodar, nos faz pensar. Um mundo repleto de corrupção, por exemplo, é algo potencialmente instigante por explicitar uma faceta do humano que instintivamente julgamos errado, repulsivo. Se é errado (por que é errado?) e repulsivo (por que causa ojeriza?), por que continua acontecendo? O que há de tão humano na corrupção que não conseguimos evitá-la? Pois corrupção é tanto o desvio de milhões de reais quanto não corrigir o troco errado da padaria ou estacionar em lugar proibido. Eis algo instigante aos escritores, pois deve ser explorado não apenas em termos legais, mas em termos humanos.



RESENHANDO - Você foi um dos autores convidados a participar de uma coletânea de contos inspirados nas músicas da banda Legião Urbana. Como foi essa experiência?
MAURÍCIO ALMEIDA - Foi incrível e pude voltar a um período importante de minha vida. Sempre digo que escrevo prosa porque sou um músico (e poeta) frustrado, pois minha história com a palavra começou com a música: feito todo adolescente (ao menos os adolescentes de minha época), eu tinha uma banda de garagem com meus amigos e resolvemos que escreveríamos nossas próprias canções. Assim foi minha primeira tentativa em escrever algo, de me expressar por meio da palavra. E a Legião Urbana era uma grande influência para mim, sobretudo as letras de Renato Russo. Quando fui convidado a participar da antologia, julguei ser uma forma de prestar homenagens a esse início de carreira. A música sempre esteve presente em minha vida literária. 


RESENHANDO - Foi convidado para  antologias semelhantes?   
MAURÍCIO ALMEIDA - Além da antologia “Como se não houvesse amanhã”, participei também das antologias “O Livro Branco” (contos inspirados por músicas dos Beatles) e “Cobain” (contos inspirados em músicas do Nirvana). De alguma forma, consegui contemplar mais ídolos musicais da adolescência: Renato Russo, John Lennon e Kurt Cobain.


RESENHANDO - Você tem um ritual na hora de escrever?
MAURÍCIO ALMEIDA - Não tenho muitos rituais. Na verdade, escrever não tem muito segredo senão ler e escrever. De qualquer forma, acho importante, na medida do possível, desligar os meios que convocam cada vez mais (telefone, redes sociais e afins) e escrever. Outra espécie de ritual é ler um autor que me sirva feito um diapasão, que me dê o tom e o ritmo da escrita. Não se trata exatamente de ler um livro, mas ler para pegar embalo, pois algumas leituras suscitam o ânimo para a escrita. O antropólogo francês Lévi-Strauss fazia algo parecido: muito mais pelo ritmo e pela poética do que pelo conteúdo propriamente dito, ele lia “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, de Karl Marx, para suscita tal ânimo e escrever.


RESENHANDO - Quando começou a escrever? 
MAURÍCIO ALMEIDA - Meu primeiro contato com a escrita enquanto forma de expressão foi por meio da música. Quando minha banda de garagem resolveu escrever as próprias canções, arrisquei algumas composições, que não eram boas. No entanto, esse primeiro exercício me levou à descoberta da poesia. Arrisquei então uma série de poemas, que também não eram muito bons. No entanto, esse trajeto me encaminhou à prosa, que comecei a praticar sem qualquer parâmetro, apenas escrevendo textos que não correspondiam a nenhum gênero. Tratavam-se, antes, de uma mistura de diários, sensações e uma forma ainda incipiente de ficção. Com posse desses textos, participei da oficina literária do escritor paulistano João Silvério Trevisan – e nesse momento a escrita se tornou algo ‘consciente’, comecei a escrever meus primeiros contos já pensando em forma, conteúdo, intenções, todos esses elementos que compõem a escrita ficcional. 


RESENHANDO - O que a literatura representa em sua vida?

MAURÍCIO ALMEIDA - Desde as primeiras composições até meus trabalhos mais recentes, a literatura representa minha forma de interpretar e lidar com a vida, uma forma de organizar o mundo. Uma tarefa tão bispo-rosariana assim só poderia contar com um instrumento tão potente quanto a expressão artística.



RESENHANDO - Um escritor também gosta de ler. Hoje, qual livro está lendo? Comente.
MAURÍCIO ALMEIDA - Estou lendo “Pai, Pai”, novo livro de João Silvério Trevisan (eis uma feliz coincidência nessa entrevista). Trata-se de um relato autobiográfico sobre o processo de compreensão (e perdão) da relação entre João, o filho, e José, o pai. Composto por fragmentos que seguem cronologicamente a vida do autor, “Pai, Pai” se organiza como uma espécie de diário de campo do autor, ao longo do trajeto de reconstrução e reelaboração da figura paterna, José Trevisan. A força do livro não está exatamente nas situações que descreve (apesar de serem fortes e exemplares), mas no impacto que causa no leitor, ser convocado a realizar o próprio processo. Talvez por lançar mão de situações, dilemas e dores elementares, “Pai, Pai” é capaz de enredar o leitor em vasculhar a própria história de vida. Ao menos, minha leitura está sendo dessa forma. Recomendo fortemente “Pai, Pai”.


RESENHANDO - Qual é o seu estilo literário preferido?
MAURÍCIO ALMEIDA - Embora escreva prosa e minhas grandes referências sejam prosadores, meu gênero literário preferido é a poesia. Os poetas estão entre minhas principais e mais intensas leituras. Creio que meus livros representem isso de alguma forma.



Visite a página do escritor: mauriciodealmeida.com.br


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

.: A raposa e as uvas, fábula de Esopo no #ResenhandoHistórias


#ResenhandoHistórias: Ouça e baixe a leitura de "A raposa e as uvas":


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A raposa e as uvas
Fábula de Esopo


Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar muita uva. A safra tinha sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a raposa lambeu os beiços. 

Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora, dizendo:

- Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não me servem. Se alguém me desse essas uvas eu não comeria.


Moral: Desprezar o que não se consegue conquistar é fácil.




Fábula: Composições literárias curtas, escritas em prosa ou versos em que os personagens são animais que apresentam características antropomórficas, muito presente na literatura infantil. 


Esopo: Escritor da Grécia Antiga a quem são atribuídas várias fábulas populares. A ele se atribui a paternidade das fábulas como gênero literário.




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