segunda-feira, 21 de abril de 2025

.: Chimamanda Ngozi Adichie e Taís Araujo juntas na Bienal do Livro Rio

Em ano em que o Rio de Janeiro ganha o título de “Capital Mundial do Livro” pela Unesco, a Bienal do Livro Rio 2025 receberá para sua abertura um grande nome da literatura mundial, a autora nigeriana feminista Chimamanda Ngozi Adichie, reconhecida como uma das mais importantes escritoras do mundo que lançará, na ocasião, o livro "A Contagem dos Sonhos", publicado no Brasil pela Companhia das Letras. 

Nesta edição especial, a Bienal promove ainda um encontro inspirador que atravessa fronteiras: a escritora best-seller participará de uma conversa com a atriz, apresentadora, jornalista e defensora das mulheres negras pela ONU Brasil, Taís Araujo - que interpreta a personagem Raquel, no remake da novela “Vale Tudo”, em exibição na TV Globo. “Estou em êxtase de ter a oportunidade de entrevistar uma das autoras que mais mexeram comigo, com muitos livros incríveis. A Chimamanda está vindo para a Bienal para lançar o novo livro dela e vale a pena ouvi-la, ela é incrível. Estou muito feliz e honrada com esse convite”, exalta Taís.

O romance "A Contagem dos Sonhos" traz uma narrativa polifônica sobre a diversidade de vivências de jovens mulheres africanas em seus movimentos pelo mundo. A obra é centrada no diálogo entre tradição e contemporaneidade, abordando as relações de cada uma das personagens com sua ancestralidade, seu território de origem e o desejo de habitar sua própria vida com coragem.

A nigeriana também é autora dos romances “Hibisco Roxo”, “Meio Sol Amarelo”, e “Americanah”; da coletânea de contos “No Seu Pescoço”; dos ensaios “Sejamos Todos Feministas”, “Para Educar Crianças Feministas” e “Notas Sobre o Luto”; e do livro infantil “O Lenço de Cetim da Mamãe”, escrito como Nwa Grace-James. Ela vive entre a Nigéria e os Estados Unidos, e toda sua obra é publicada pela Companhia das Letras.

Multitalentosa, Taís Araujo tornou-se um dos nomes mais potentes dentro e fora das telas ao longo dos 30 anos de carreira. Possui um extenso currículo acumulando 14 novelas, 10 peças de teatro, 10 filmes, cinco séries, além de ter apresentado três programas de televisão. Foi eleita duas vezes pelo MIPAD - Most Influential People of African Descent, na Universidade de Columbia, com apoio da ONU, em Nova York, como uma das 100 negras mais influentes do mundo. Também recebeu o prêmio de melhor atriz no 49ª Festival Sesc (2023) por sua personagem em “Medida Provisória”, uma das maiores bilheterias recentes do cinema nacional, longa dirigido por Lázaro Ramos, seu marido e curador do Café Literário da Bienal do Livro Rio. Venda de ingressos aberta para a maior Bienal de todos os tempos

Realizada pela GL events Exhibitions e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o maior festival de literatura, cultura e entretenimento acontece entre os dias 13 e 22 de junho, no Riocentro, na Barra Olímpica, e deve reunir mais de 600 mil pessoas durante dez dias. Os ingressos já estão à venda.

 Nesta edição de 2025, que promete ser a maior Bienal de todos os tempos, o evento se reinventa e apresenta o conceito inédito de Book Park — um verdadeiro parque de diversões literário, onde as histórias ganham vida por meio de experiências imersivas e sensoriais, e que serão inesquecíveis. A Shell Brasil é a patrocinadora na cota Apresenta.

Entre as novidades, estão a Roda Gigante Leitura nas Alturas Light, com cabines personalizadas com personagens e áudios relacionados aos livros; o Labirinto de Histórias Paper Excellence convida o visitante a mergulhar em um espaço interativo onde os livros ganham vida de forma lúdica e sensorial. Para os fãs de mistério, o Escape Bienal Estácio é uma atração imperdível. Com quatro cenários literários desenvolvidos em conjunto com editoras, o espaço traz enigmas e desafios inspirados em thrillers de sucesso. E com um olhar voltado para a convivência e a troca literária, a nova Praça Além da Página Shell surge como um espaço vibrante onde as comunidades leitoras se encontram para viver a literatura de forma plural e criativa. Apoie o Resenhando.com e compre o livro "A Contagem dos Sonhos" neste link.


.: "O Retrato de Janete", a comédia que marca os 12 Anos da Cia Bendita


Com Jackie Obrigon e Bruno Garcia, comédia para todos os públicos comemora os 12 anos da Cia Bendita. Foto: Ronaldo Gutierrez

O Teatro Sérgio Cardoso recebe o espetáculo "O Retrato de Janete" no dia 27 de abril, domingo, às 11h00. Escrito e dirigido por Marcelo Romagnoli, a peça teatral conta a história de Maristela, uma atriz de mais de 200 anos que vive em um teatro abandonado. Sua única companhia é uma vespa de estimação que sonha em escapar. A narrativa aborda temas como a importância de laços familiares saudáveis, liberdade e memória como força vital. 

No palco, Jackie Obrigon interpreta Maristela, enquanto Bruno Garcia executa as músicas ao vivo. Esquecida em um camarim cheio de truques, sua única companhia é uma vespa de estimação que sonha em fugir. As músicas, efeitos sonoros e sonoplastia são executados ao vivo. A história exalta a importância de laços familiares e emocionais saudáveis, a liberdade e a memória como força de vida.


O Grupo
A Cia Bendita é um premiado grupo de São Paulo com sólida trajetória na produção teatral para a infância e juventude. Seu repertório inclui os espetáculos "Terremota" (2012), "Gagá" (2017), "Elagalinha" (2019) e "Fábula" (2021). Com "O Retrato de Janete", o grupo comemora também os 30 anos de carreira de sua cofundadora, Jackie Obrigon.


Ficha técnica
Espetáculo "O Retrato de Janete". Texto e direção: Marcelo Romagnoli | Com: Jackie Obrigon e Bruno Garcia | Assistente de direção: Fausto Franco | Desenho de luz: Marisa Bentivegna | Figurinos: Chris Aizner | Cenário: Marcelo Andrade | Músicas: Morris e Bruno Garcia | Adereços: Ivaldo de Melo | Estudo de texto: Cris Lozano | Operação e montagem: Nicolas Sadoyama | Diretor de palco: Mauro Felles | Costureira: Judite de Lima | Visagismo: Simone Batata | Fotos: Ronaldo Gutierrez | Identidade visual: Andrea Pedro | Produção: Corpo Rastreado/Nathália Christine | Direção de produção: Jackie Obrigon | Idealização: Cia Bendita


Serviço
Cia Bendita em “O Retrato de Janete”. Dia 27 de abril, domingo, às 11h00. Duração: 50 minutos. Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno - Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista/São Paulo. Classificação: 12 anos. Ingressos: gratuito, com retirada de ingressos na bilheteria a partir de 1 hora antes da sessão. Capacidade da sala: 143 lugares + 6 espaços de cadeirantes.

.: Dos palcos do mundo para o Sesc Santos, "Transfiguration" desafia limites

Misturando argila, tinta e o próprio corpo como tela, o artista Olivier De Sagazan desconstrói e reconstrói sua identidade em cena, Foto: Didier Carluccio


Criada em 1998, a aclamada peça-performance "Transfiguration" já foi apresentada em mais de 25 países e, apresentada pelo renomado artista Olivier De Sagazan, chega ao Sesc Santos na quarta-feira, dia 30 de abril, às 20h00, no auditório. É um espetáculo que desafia os limites entre pintura, escultura e performance em uma impressionante transformação ao vivo.

Misturando argila, tinta e o próprio corpo como tela, o artista desconstrói e reconstrói sua identidade em cena, levando o público a uma jornada hipnótica entre o humano e o monstruoso, o efêmero e o eterno. Um trabalho único e imperdível, que já percorreu os principais palcos do mundo.

A performance representa o desejo não realizado do escultor de incutir vida na sua criação. Em um gesto desesperado, penetra no barro, esculpe no próprio corpo enterrando-se no material, erradicando a sua identidade e tornando-se uma obra de arte viva. Em um movimento incessante de busca, o corpo atuante se auto esculpe, enterrando-se no material primitivo, erradicando sua identidade e tornando-se a própria obra de arte viva. No entanto, esse material cega, esse corpo é forçado a ter contato com as profundezas de si mesmo. 

Em uma performance fascinante, Sagazan muda identidades no palco, de homem para animal e de animal para várias criaturas híbridas, ele perfura, oblitera e desvenda as camadas em seu rosto em uma busca frenética por nova essência e forma. Em "Transfiguration" Sagazan dá um novo significado à noção de vida, oferecendo um vislumbre cativante, perturbador e estimulante de uma individualidade alternativa totalmente livre de inibição.  A partir de 16 anos. Ingressos: R$ 12,00 (credencial plena) a R$ 40,00 (inteira).


Sobre o artista
"Indulgente, alienante e bastante hediondo às vezes, mas genuinamente surpreendente". Foi assim que o The Guardian tentou descrever Olivier De Sagazan. Nascido em 1959 no Congo, África, o cidadão francês busca em seus trabalhos, captar a essência existencial do homem combinando fotografia, pintura, escultura e performance em suas obras. A percepção artística de Sagazan se verticaliza após sua vivência na República dos Camarões, na África Central, para onde foi depois de estudar biologia e filosofia na universidade. 

A experiência e o tempo que passou lá, o lança em uma série de questionamentos em pontos filosóficos, religiosos, sociais e artísticos, e esse salto de consciência abre os horizontes de Sagazan para retornar e redescobrir suas próprias raízes. Da sua paixão por dar vida à matéria surgiu a ideia de cobrir o próprio corpo com barro para observar o “objeto” resultante. 

Esta experiência deu origem à criação do solo cênico "Transfiguration", em 1998, no qual é possível ver um homem a desfigurar-se gradualmente. Este meio homem, meio besta, procura por baixo de suas máscaras e de forma incessante a sua real identidade. Ele é autor dos livros "Le Fantôme dans la Machine", "Transfiguration", "Quand le Visage Perd sa Face", "La Violence en Art", "Carnet d'atelier d'Olivier de Sagazan" e "Propos sur la Violence de l'art"


Ficha técnica
Peça-performance "Transfiguration"
Diretor e intérprete: Olivier de Sagazan
Production Manager (FR): Gaelle Le Rouge
Produção Artística (BR): Alex Bartelli
Agenciamento e Produção Brasileira: Azayah


Serviço
Peça-performance "Transfiguration"
Sesc Santos - Auditório
Dia 30 de abril, quarta-feira, às 20h00
Duração: 50 minutos
Classificação indicativa: 16 anos


Sesc Santos
Rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecida - Santos / SP. Telefone: (13) 3278-9800. Site do Sesc SP.  Instagram. Facebook. @sescsantos. YouTube /sescemsantos.

.: Últimos dias para visitar "Anne Frank: deixem-nos Ser" na Unibes Cultural


Um dos grandes destaques é a recriação do Anexo Secreto – feita com materiais cedidos pela Anne Frank House de Amsterdã – que pela primeira vez é apresentada ao público com tamanho nível de detalhes. Na imagem, Anne Frank, 1939_Coleção de fotos da Anne Frank Stichting (Amsterdam)


Em cartaz desde agosto de 2024, a exposição “Anne Frank: Deixem-nos Ser” entra em sua fase final e segue aberta ao público até 27 de abril - uma última oportunidade para vivenciar arte, história e reflexão no cenário cultural de São Paulo

Com mais de 33 mil visitantes em apenas três meses e uma temporada estendida devido ao sucesso de público, a exposição "Anne Frank: Deixem-nos Ser" se aproxima do encerramento na Unibes Cultural. Idealizada e produzida pela Inspirar-te, a mostra segue em cartaz somente até 27 de abril de 2025 e oferece uma última oportunidade para o público conhecer um projeto inovador, com impacto histórico, educativo e cultural.

A proposta é inédita: por meio de obras de arte contemporâneas originais, a exposição conecta o legado de Anne Frank aos desafios do mundo atual, abordando temas como empatia, diversidade, combate à intolerância e respeito aos direitos humanos. Um dos grandes destaques é a recriação do Anexo Secreto – feita com materiais cedidos pela Anne Frank House de Amsterdã – que pela primeira vez é apresentada ao público com tamanho nível de detalhes. O resultado é uma experiência imersiva que une história, arte e educação de forma sensível, lúdica e transformadora.

A curadora e idealizadora do projeto, Priscilla Parodi, destaca a importância de levar essas reflexões adiante: “A história de Anne Frank, contada pela arte, se torna um espelho para os dilemas contemporâneos. É isso que torna essa exposição tão única.” A mostra também conta com visitas guiadas, roteiros personalizados para escolas e atividades educativas que ampliam a vivência do público, reforçando o caráter transformador da proposta. Devido à grande procura, os horários foram ampliados: de quarta a sexta, das 13h30 às 20h00, e aos sábados, domingos e feriados, das 11h00 às 20h00. Realização: Inspirar-te, Unibes Cultural e Ministério da Cultura. Com materiais cedidos pela Anne Frank House Amsterdam.

Durante a visita, é possível acessar conteúdos acessíveis complementares, idealizados e produzidos pela Inspirar-te, como áudio guia na Plataforma Musea. Assim, recomendamos baixar o aplicativo no celular para aproveitar ao máximo a exposição. A exposição é indicada para todas as idades e os ingressos podem ser adquiridos pela Plataforma Sympla. Mais informações no site.


Serviço
Exposição “Anne Frank: Deixem-nos Ser”
Em cartaz até 27 de abril de 2025
Quarta a sexta: das 13h30 às 20h00 |Sábados, domingos e feriados: das 11h00 às 20h00 | Última entrada às 19h00.
Local: Unibes Cultural (1º e 2º andar)
Endereço: R. Oscar Freire, 2500 - Sumaré / São Paulo
 WhatsApp: (11) 3065-4333
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) | R$ 10,00 (meia-entrada)
Plataforma de compra: Sympla
Entrada gratuita às sextas-feiras, com reserva antecipada de ingresso (liberados às segundas-feiras)
Classificação indicativa: livre
Aberto ao público de todas as idades, como o legado de Anne deve ser.

.: "James", de Percival Everett, a releitura poderosa de um clássico da literatura


No romance "James", lançado no Brasil pela editora Todavia, Percival Everett reimagina o clássico "As Aventuras de Huckleberry Finn", escrito por Mark Twain e publicado em 1884, a partir da perspectiva de Jim, o homem escravizado que acompanha o menino na viagem pelo Rio Mississippi. Nesta releitura, Jim é James, um indivíduo inteligente e letrado que, por necessidade, esconde sua educação por trás de uma fachada de subserviência. 

"James" é mais do que a reimaginação de um clássico: ele recupera a identidade de um personagem marginalizado, confrontando verdades desconfortáveis sobre o passado e sobre as histórias que escolhemos contar. A tradução é de André Czarnobai e a capa, de Oga Mendonça.

A aventura se inicia quando James ouve a notícia de que será vendido e separado da mulher e da filha. Determinado a evitar esse destino, ele escapa para a Ilha Jackson, onde encontra Huck Finn, um garoto branco que está fugindo dos próprios problemas. Juntos, eles seguem em uma jornada pelo rio Mississippi, rumo a um estado onde James poderia ser um homem negro livre - e eventualmente trazer sua família para viver ali. 

Ao longo da viagem, James navega as águas traiçoeiras do rio e de uma sociedade preconceituosa e violenta, muitas vezes adotando um vernáculo apelidado de “filtro de escravo” para se proteger ao interagir com indivíduos brancos. Percival Everett mergulha fundo na psique do personagem, apresentando-o como um homem de vida interior complexa. Em debates filosóficos imaginários com figuras como Voltaire e Rousseau, James reflete sobre os dilemas morais e as escolhas impossíveis enfrentadas por aqueles submetidos à desumanidade da escravidão.

Everett enfatiza a agência de James em seus esforços para se libertar e reencontrar a família. A ironia e o deslocamento de ponto de vista ressaltam a brutalidade de uma sociedade racialmente dividida e ampliam as possibilidades de leitura de um grande livro. Linguisticamente inventivo e escrito com mão certeira, este romance é uma ode ao poder da perspectiva dentro da literatura. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.


Sobre o autor
Percival Everett
vive em Los Angeles e leciona na Universidade do Sul da Califórnia. Publicou mais de 30 livros desde "Suder", lançado em 1983. Foi finalista dos prêmios Pulitzer — com "Telephone", em 2020 —, Booker Prize e PEN/Faulkner Award — com "As Árvores", em 2022. Com James, venceu o National Book Award 2024. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.

domingo, 20 de abril de 2025

.: Mozart em montagem circense: ópera "Don Giovanni" chega a São Paulo


Com abordagem que retoma a origem cômica que a inspirou, "Don Giovanni" contará com elementos do circo e da palhaçaria, colocando o protagonista como uma espécie de ilusionista de seus interesses românticos. A ópera terá direção cênica de Hugo Possolo, conhecido por sua assinatura como mestre do picadeiro, e direção musical de Roberto Minczuk, maestro titular que fará a regência da Orquestra Sinfônica Municipal. Ela será apresentada em sete récitas de 2 a 10 de maio. Fotos: Stig de Lavor/ Larissa Paz


Conhecido como um drama jocoso, fruto da parceria profícua entre Wolfgang Amadeus Mozart e o libretista Lorenzo Da Ponte, a ópera "Don Giovanni" retorna ao palco do Theatro Municipal de São Paulo. Com direção cênica de Hugo Possolo, conhecido por sua assinatura como mestre do picadeiro, e direção musical de Roberto Minczuk, maestro titular que fará a regência da Orquestra Sinfônica Municipal, além da participação do Coro Lírico Municipal, que terá regência de Hernán Sánchez Arteaga. A obra será apresentada em sete récitas: dias 2, 3, 4, 6, 7, 9 e 10 de maio. A classificação é não recomendada para menores de 12 anos, duração aproximada de 190 minutos (com intervalo) e ingressos de R$ 33,00 a R$ 210,00 (inteira).

Em "Don Giovanni", o “libertino declarado que não oculta sua imoralidade”, como definiu o filósofo Mladen Dolar, temos um protagonista que vive em uma saga de seduções frustradas e acertos de contas com seu passado. Essa trama construída por Da Ponte remonta histórias anteriores de autores como Tirso de Molina, G. Bertati e Molière, o último responsável por Dom Juan, ou Le Festin de Pierre, de 1665.

O impacto do escritor de Don Juan será a inspiração mais direta para nova montagem do Theatro Municipal. “Molière fundamental para essa e todas as suas versões. Ele próprio já é crítico à postura do protagonista. Em Da Ponte e Mozart acaba sendo um pouco mais controverso. Mas uma abordagem com o humor do Molière foi o que mais me interessou. É um retorno à origem”, explica o diretor cênico Hugo Possolo.

 Quando estreou em Praga, em outubro de 1787, "Don Giovanni" foi aclamada pelo público e pela crítica. Além do texto afiado, a obra recebeu destaque pelo modo como Mozart cria camadas de expressão dramática com recursos musicais únicos. Entre os destaques, a célebre ária do catálogo de conquistas, entoada por Leporello, e a celebração hedonista de Don Giovanni em Fin ch’Han dal Vino, além das feitas pelas protagonistas femininas: Mi Tradì quell’Alma Ingrata, por Donna Elvira, Vedrai, Carino, cantada por Zerlina, e Or Sai Chi l’Onore, interpretada pela personagem da Donna Anna.

Nos dias 2, 4, 7 e 10, o elenco será composto por Hernán Iturralde (Don Giovanni), Camila Provenzale (Donna Anna), Anibal Mancini (Don Ottavio), Luisa Francesconi (Donna Elvira), Michel de Souza (Leporello), Carla Cottini (Zerlina), Savio Sperandio (Comendador) e Fellipe Oliveira (Masetto). Já nos dias 3, 6 e 9, os intérpretes serão Homero Velho (Don Giovanni), Ludmilla Bauerfeldt (Donna Anna), Jabez Lima (Don Ottavio), Monique Galvão (Donna Elvira), Saulo Javan (Leporello), Raquel Paulin (Zerlina), Sérgio Righini (Comendador) e Rogério Nunes (Masetto).

Nesta montagem, para além da amoralidade com que o protagonista trata a paixão, estarão centrais em cena as mulheres: Donna Anna, uma figura romântica que acredita em Don Giovanni, Donna Elvira, que promete vingança mas fica presa ao protagonista, e Zerlina, personagem de origem popular e é “enfrentativa”. Essas personagens revelarão uma força singular que tanto desafia quanto enquadra Don Giovanni.

“Há algo tragicamente patético na figura quase arquetípica do conquistador serial, seja ele o Casanova histórico (contemporâneo e amigo de Lorenzo Da Ponte, libretista da ópera) ou o Don Juan da ficção, criado pelo espanhol Tirso de Molina no início do século XVII. Pelas mãos de Hugo Possolo, Piero Schlochauer, Vera Hamburger, Elisa Faulhaber, Miló Martins e outros integrantes da equipe criativa, Don Giovanni escapa das chamas do inferno, mas não da punição terrena”, explica a Superintendente Geral do Complexo Theatro Municipal, Andrea Caruso Saturnino.

Para o diretor cênico Hugo Possolo, Don Giovanni tem um protagonista que permite um paralelo direto com os “poderosos machistas, que nos mostram que evoluímos muito pouco”. A ópera ressalta nuances cômicas contrasta com as tragédias reais, ganhando uma versão em parte em português, em parte no original italiano, que busca dialogar diretamente com o público e expor, com ironia e crítica, o fracasso do patriarcado.

“A palavra ópera quer dizer uma obra que reúne várias linguagens, como drama e música, além de abrir espaço para outras linguagens da arte cênica como circo”, explica o diretor Hugo Possolo. “Foi muito natural trazer esses elementos festivos e de espetacularidade que combinam com o espírito da criação de Mozart. A dupla Don Giovanni e Leporello tem a ver com as duplas cômicas, que permite uma linguagem popular mais acessível”, pontua.

 Além disso, a obra contará com trechos recitativos em português. O diretor explica que essa decisão foi tomada a partir de uma abordagem que já foi feita em ópera de diversas línguas e em várias montagens ao redor do mundo. “Optamos por um diálogo direto e teatral. Como venho do teatro popular, essa linguagem mais direta pode deixar a história mais evidente para o público. A ópera não é elitista, tem que ser para todos”, finaliza.

 
Uma obra incontornável na programação operística
Grande parte do repertório operístico em todo mundo, segundo dados do OperaBase, "Don Giovanni" está entre as dez mais apresentadas. Seu tema e personagens foram de grande impacto para a cultura, inspirando diversos escritores e filósofos. Ela teve sua primeira montagem em São Paulo em 1956 como parte das comemorações do bicentenário de Mozart.

Depois disso, "Don Giovanni" só voltou a ser apresentada no Theatro Municipal de São Paulo nos anos 1990. Nessa década aconteceram três montagens diferentes da ópera: em agosto de 1992 em montagem dirigida por Bia Lessa, cuja estreia aconteceu em Fortaleza em janeiro do mesmo ano; em 1995, com direção cênica da italiana Maria Francesca Siciliani, direção musical e regência do maestro Isaac Karabtchesvsky, cenografia de J.C. Serroni e figurinos alugados do Teatro Colón de Buenos Aires; por fim, em 1999, numa montagem que contou com a participação da Orquestra Experimental de Repertório, regida pelo maestro Jamil Maluf, e do Coro Lírico Municipal.

A montagem mais recente do drama jocoso mozartiano no palco do Theatro Municipal de São Paulo aconteceu em 2013. O espetáculo foi trazido do Teatro Municipal de Santiago do Chile e foi dirigido por Pier Francesco Maestrini. Contou com participação da Orquestra Municipal de São Paulo, sob regência do maestro Yoram David, e do Coral Paulistano, sob regência de Bruno Greco Facio.

 Nesta montagem, a proposta do diretor foi levar "Don Giovanni" e "Drácula" ao palco, traçando paralelos entre os dois personagens a partir do ensaio publicado pelo escritor e musicólogo Alessandro Baricco, intitulado "Drácula, Sósia de Don Giovanni". Os cenários de Juan Guillermo Nova e figurinos de Luca Dall’Alpi contribuem para criar o clima sombrio da montagem.

 
Serviço
Ópera "Don Giovanni"
Theatro Municipal - Sala de Espetáculos
Drama jocoso em dois atos de Wolfgang Amadeus Mozart e libreto de Lorenzo da Ponte
Coro Lírico Municipal
Orquestra Sinfônica Municipal
Sexta-feira, 2 de maio, 20h00
Sábado, 3 de maio, 17h00
Domingo, 4 de maio, 17h00
Terça-feira, 6 de maio, 20h00
Quarta-feira, 7 de maio, 20h00
Sexta-feira, 9 de maio, 20h00
Sábado, 10 de maio, 17h00


Ficha técnica
Roberto Minczuk, direção musical
Hugo Possolo, direção cênica
Hernán Sánchez Arteaga, regente do Coro Lírico Municipal
Vera Hamburger, cenografia
Fernando Passetti, cenógrafo assistente
Elisa Faulhaber, figurino
Miló Martins, design de luz
Jorge Garcia, coreografia
Westerley Dornellas, visagismo
Piero Schlochauer, assistente de direção cênica

 
Dias 2, 4, 7 e 10
Hernán Iturralde, Don Giovanni
Camila Provenzale, Donna Anna
Anibal Mancini, Don Ottavio
Luisa Francesconi, Donna Elvira
Michel de Souza, Leporello
Carla Cottini, Zerlina
Savio Sperandio, Comendador
Fellipe Oliveira, Masetto


Dias 3, 6 e 9
Homero Velho, Don Giovanni
Ludmilla Bauerfeldt, Donna Anna
Jabez Lima, Don Ottavio
Monique Galvão, Donna Elvira
Saulo Javan, Leporello
Raquel Paulin, Zerlina
Sérgio Righini, Comendador
Rogério Nunes, Masetto


Ingressos: R$ 33,00 a R$ 210,00 (inteira).
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos. Pode conter histórias de agressão física, insinuação de consumo de drogas e insinuação leve de sexo.
Duração aproximada: 190 minutos (com intervalo)
Patrocínio: a récita do dia 6 de maio tem patrocínio de IGC. A récita do dia 7 de maio tem patrocínio de Bradesco.

.: As primeiras informações de "Quarteto Fantástico: primeiros Passos"

O aguardado filme "Quarteto Fantástico: primeiros Passos", da Marvel Studios, tem lançamento previsto para dia 24 de julho na rede Cineflix e nos cinemas brasileiros. A produção apresenta uma nova abordagem para a equipe de super-heróis, ambientando a história em um universo alternativo com estética retrofuturista dos anos 1960 .​

No elenco, estão Pedro Pascal, como Reed Richards / Senhor Fantástico, Vanessa Kirby, como Sue Storm / Mulher Invisível, Joseph Quinn, como Johnny Storm / Tocha Humana e Ebon Moss-Bachrach, como Ben Grimm / O Coisa. O elenco também conta com Julia Garner interpretando a Surfista Prateada (Shalla-Bal) e Ralph Ineson no papel do vilão cósmico Galactus. Outros nomes confirmados incluem Paul Walter Hauser, John Malkovich, Natasha Lyonne e Sarah Niles, cujos papéis ainda não foram divulgados .​

Diferentemente das versões anteriores, o filme não reconta a origem dos personagens. A trama inicia com o grupo já estabelecido como heróis, enfrentando a ameaça iminente de Galactus, um ser cósmico que pretende consumir a Terra. A Surfista Prateada surge como mensageira desse perigo, alertando a equipe sobre a destruição que se aproxima .​ Um elemento inédito na narrativa é a gravidez de Sue Storm, sugerindo a introdução de Franklin Richards, filho do casal nos quadrinhos, conhecido por seus poderes extraordinários. Essa adição promete explorar dinâmicas familiares mais profundas dentro do contexto heroico .​

A direção fica por conta de Matt Shakman, com roteiro de Eric Pearson. A produção é liderada por Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, e conta com Louis D’Esposito, Grant Curtis e Tim Lewis como produtores executivos .​ Embora ambientado em um universo paralelo, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos está inserido no multiverso da Marvel, abrindo possibilidades para futuras interações com outras franquias do MCU. A introdução de personagens como Galactus e a Surfista Prateada pode sinalizar conexões com eventos de grande escala, como os previstos em Vingadores: Dinastia Kang e Guerras Secretas.

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.: “Piano”, o novo álbum de Zeca Baleiro, acompanhado por Adriano Magoo


Acompanhado do pianista Adriano Magoo, artista coloca em destaque sua faceta de intérprete, em repertório que reúne inéditas parcerias entre releituras de músicas próprias e de nomes como Cake, Charlie Brown Jr., Geraldo Azevedo, Letrux, Mercedes Sosa e Sérgio Sampaio


Músico e escritor, Zeca Baleiro libera nos aplicativos de música o álbum “Piano", que lança acompanhado por Adriano Magoo. “Há pouco mais de dez anos fiz uma pequena turnê com o Magoo. Uma temporada de 12 shows em que passamos por 9 cidades. Era um show que juntava músicas autorais e de outros artistas que fazem parte do meu repertório afetivo. Ano passado ouvi uma gravação do show e, quando encontrei Magoo para alguns trabalhos, falei ‘vamos reeditar aquele show e fazer um disco?’. Ficamos animados com a ideia, o parceiro Sergio Fouad quis produzir e então começamos a gravar no Estúdio Midas. Gravamos em 4 dias de novembro, praticamente ao vivo”, relembra Baleiro.

Com produção de Fouad, o álbum é uma parceria do selo de Baleiro, Saravá Discos, com o Midas Music, que é o selo de Rick Bonadio. “Rick adorou o projeto, que é basicamente um disco de piano e voz, gravado ao vivo, com poucas intervenções e apenas uns vocais e synths discretos de overdubs. Toco violão em uma música só, a tônica é piano e voz mesmo”, conta Baleiro, que já retomou o show “Piano” e está em turnê nacional.

O repertório do show embrionário foi renovado mas algumas canções foram mantidas, caso de “Não Adianta” (Sérgio Sampaio), “Espinha de Bacalhau” (Severino Araújo e Fausto Nilo), “Me Deixa em Paz” (Monsueto e Airton Amorim), “Dia Branco” (Geraldo Azevedo e Renato Rocha) e “Canção no Rádio”, composta com Fagner e lançada inicialmente em dueto dos dois em 2009, que faz parte do duplo single que anunciou o álbum em fevereiro.

O álbum também inclui a releitura de “Zás”, parceria com Wado, e duas inéditas autorais: “Tem Algo Lá”, com o pernambucano Juliano Holanda, e “Tarde de Chuva”, com Eliakin Rufino, poeta e músico de Roraima. 

Artista plural, Zeca Baleiro sempre colaborou com artistas de diversas tribos e gerações. E “Piano” destaca essa vocação, assim como sua faceta de intérprete. Entre as releituras de seu repertório afetivo estão um clássico de Mercedes Sosa (“Alfonsina y el mar”), um hit da banda Cake dos anos noventa (“Frank Sinatra”), “Ninguém perguntou por você”, sucesso da cantora Letrux e “Céu azul", canção da banda Charlie Brown Jr. já apresentada no duplo single. “Céu azul" também ganhou um single em versão afro house, uma dobradinha de Baleiro com Rick Bonadio. Ouça o álbum neste link.


​"Piano" | Zeca Baleiro

1. "Céu Azul" - Charlie Brown Jr.

2. "Não Adianta" - Sérgio Sampaio

3. "Espinha de Bacalhau" - Severino Araújo / Fausto Nilo

4. "Zás" - ZB / Wado

5. "Tem Algo Lá" - ZB / Juliano Holanda

6. "Me Deixa em Paz" - Monsueto / Airton Amorim

7. "Alfonsina y El Mar" - Ariel Ramírez / Félix César Luna

8. "Ninguém Perguntou por Você" - Letrux

9. "Canção no Rádio" - Fagner / ZB

10. "Frank Sinatra" - John McCrea - releitura da banda Cake

11. "Dia Branco" - Geraldo Azevedo / Renato Rocha

12. "Tarde de Chuva" - ZB / Eliakin Rufino


Ficha técnica de "Piano"
Zeca Baleiro – voz, violão e kazoo
Adriano Magoo – piano, synths e acordeon
Arranjos: Adriano Magoo, Sérgio Fouad e Zeca Baleiro
Gravado em Midas Estúdio, por Sérgio Fouad
Assistentes de gravação: Gabriel Galindo/Bernardo Tavares/Rafael Bissacot
Mixado por Sérgio Fouad
Masterizado por Rick Bonadio
Produzido por Sérgio Fouad
Projeto gráfico: Andrea Pedro
Lançamento Saravá Discos / Midas Music


.: Músicas icônicas de Rita Lee são revisitadas no álbum “Revisita Rita”


Sob o comando de Moogie Canazio, clássicos da rainha roqueira foram regravados por IZA, Criolo, Duda Beat, Carol Biazin e Roberto Frejat em “Revisita Rita”, que chega aos players

Eterna, Rita Lee tem um legado musical gigante e enorme impacto na música. E foi pensando nisso que o produtor musical Moogie Canazio - amigo de Rita e Roberto de Carvalho e que fez parte da produção de alguns álbuns da discografia do casal - decidiu fazer sua releitura de canções de Rita. “Essa ideia já existe há muito tempo, a Rita ainda estava com a gente quando eu criei esse projeto”, conta Moogie sobre “Revisita Rita”. “Conheci os dois em 1985 e tenho um carinho e uma admiração enormes por eles”.

A partir da ideia, ele começou a difícil tarefa de selecionar as músicas. Como são muitas, Moogie partiu para uma primeira lista: escolheu 20 entre dezenas de clássicos. Então, começou a pensar nos intérpretes. “Eu imaginava quem seriam essas pessoas que poderiam interpretar aquelas canções de forma que a Rita ficasse satisfeita de ouvir. Desde o início, minha vontade foi fazer algo que a Rita e o Roberto curtissem”. Da lista de 20 canções, Moogie escolheu algumas, dentre elas: “Ovelha Negra” (Rita Lee), que ficou com IZA; “Flagra” (Rita Lee e Roberto de Carvalho), com Criolo; “Chega Mais” (Rita Lee e Roberto de Carvalho), com Duda Beat e Carol Biazin, e “Mamãe Natureza” (Rita Lee), com Roberto Frejat.

“Eu recebo essa influência dela energicamente. E Roberto foi um queridaço: me deu total liberdade para escolher as músicas e, sobretudo, para escolher os artistas”, diz Moogie. “Por mais que o Roberto não esteja envolvido diretamente no projeto, ele me deu muita força. Primeiro por minha admiração por ele como pessoa, meu grande amigo. Segundo, como artista, produtor e compositor que é. É muito difícil você pegar algo que foi feito pelo Roberto e refazer”. Pensando nisso, Moogie partiu para um plano. “O meu ‘refazer’ é no sentido de trazer de volta, pois é necessário levar em conta como Rita e Roberto pensaram e produziram aquelas canções originalmente. A músicas deles assume uma forma tão contundente: o arranjo, as ideias, os rifes...  Então, por mais que estejamos revisitando esses clássicos, as pessoas vão reconhecê-los”.

Moogie destaca o apoio da Universal Music no processo. “O catálogo da Rita está praticamente todo na companhia, portanto, é o melhor lugar para esse projeto”. “Revisita Rita” chega aos players no dia 18 de abril. “Eu me sinto privilegiado por fazer essa homenagem para uma pessoa tão especial”, finaliza.

“Rita Lee é uma força da música brasileira que transcende gerações. Reunir esses artistas tão talentosos para revisitar algumas das músicas do seu vasto repertório é a nossa forma de celebrar sua genialidade e manter vivo seu imenso legado. Com novas vozes e novas leituras, mas com o mesmo espírito livre e irreverente que sempre marcou a obra da cantora, este EP é uma homenagem e também um convite: redescobrir Rita Lee sob novas luzes”, diz Paulo Lima, presidente da Universal Music Brasil.

.: Um resumo detalhado de "Caminho de Pedras", obra cobrada pela Fuvest


Por Helder Moraes Miranda, editor do portal Resenhando.com.

O romance "Caminho de Pedras" retorna às prateleiras, reconhecido como a obra mais politicamente comprometida de Rachel de Queiroz. A narrativa, escolhida como leitura obrigatória para os vestibulares da Fuvest em 2026 e 2027, se passa em Fortaleza nos anos 1930, no contexto da Era Vargas. O protagonista, Roberto, recebe a incumbência de angariar trabalhadores para integrar uma nova célula de esquerda. 

Entre os interessados está Noemi, mãe de Guri e casada com um homem por quem já não nutre sentimentos. Em busca de um propósito que a faça sentir-se viva, ela passa a frequentar os encontros do partido. A partir daí, surge uma forte afinidade intelectual com Roberto - laço que rapidamente se transforma em um envolvimento amoroso. A partir daí, Noemi começa a explorar novas fronteiras morais e éticas, tanto no amor quanto no ativismo político.

Expressão de um socialismo libertário raro na trajetória literária de Rachel de Queiroz, "Caminho de Pedras" é amplamente considerado seu livro mais ideológico. A obra antecipa o surgimento de um estilo mais reflexivo e psicológico, fundamentando cenas marcadas por grande carga emocional. Com inteligência narrativa, a autora constrói a história de uma paixão proibida alimentada pelo idealismo político.

Ao longo do romance, Rachel de Queiroz destaca a força de uma mulher que escolhe seguir os próprios desejos - mesmo que isso significasse enfrentar o divórcio. Em um contexto social onde se esperava da mulher apenas os papéis de mãe, esposa e dona de casa, Noemi surge como uma transgressora e, ao mesmo tempo, protagonista corajosa da própria trajetória. A punição social que sabia que enfrentaria não foi suficiente para dissuadi-la de romper com um casamento sem afeto. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.


Casamento, perdas e prisão: os bastidores da criação de “Caminho de Pedras”
Após o sucesso de "O Quinze", romance de estreia, Rachel de Queiroz fez diversas viagens para divulgar a obra. Durante esse período, conheceu o poeta José Auto da Cruz Oliveira, conhecido como Zé Auto, com quem se casaria em 14 de dezembro de 1932. No ano seguinte, em Fortaleza, nasceu Clotilde, a única filha do casal. 

Contudo, tragicamente, a menina faleceu aos um ano e meio de idade, em apenas 24 horas, vítima de meningite aguda. Pouco tempo depois, Rachel enfrentaria outra dor: a morte do irmão mais novo, Flávio, aos 18 anos, devido a uma septicemia causada por uma infecção em uma espinha no rosto. Esse período mergulhou a autora em um profundo estado de luto e desolação.

Nos anos seguintes, com o endurecimento do regime de Getúlio Vargas, o Nordeste passou a ser alvo de uma repressão intensa contra movimentos de esquerda. Durante esse clima político tenso, Rachel foi presa sob acusação de envolvimento comunista, ficando incomunicável nas instalações do Corpo de Bombeiros de Fortaleza. Foi justamente durante esse período de reclusão que ela iniciou a escrita do terceiro romance - sendo que o segundo, "João Miguel", só seria publicado em 1937 - o qual receberia o título de “Caminho de Pedras”.

A obra é frequentemente apontada por estudiosos como o romance mais politicamente comprometido de sua longa trajetória literária, marcado por um socialismo libertário que raramente voltaria a aparecer em seus escritos. Com uma prosa concisa e direta, o livro mergulha na psicologia dos personagens, narrando a história de um amor proibido entre Roberto e Noemi - esta, esposa do ex-militante comunista João Jaques e mãe de um bebê chamado apenas de Guri. A narrativa tem como pano de fundo o cenário de luta social dos anos 1930, com duras críticas ao Integralismo e ao autoritarismo do Estado Novo. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.


Resumo Detalhado de "Caminho de Pedras", de Rachel de Queiroz

Contexto histórico e político
Publicado originalmente em 1937, "Caminho de Pedras" se passa em Fortaleza, nos anos 1930, durante a Era Vargas, um período de forte repressão política, especialmente contra movimentos de esquerda. A narrativa se insere nesse cenário turbulento, trazendo à tona discussões ideológicas, sociais e morais - tudo isso atravessado por uma trama afetiva intensa.


🧍‍♂️ Personagens principais 
de "Caminho de Pedras"
Roberto - Jovem idealista, envolvido com o movimento de esquerda. A missão dele é organizar uma nova célula comunista em Fortaleza. Inteligente, sensível e politicamente comprometido, representa o engajamento da juventude com as causas sociais.

Noemi - Mulher casada, mãe do pequeno Guri, vive presa a um casamento sem amor com João Jaques, um ex-militante comunista agora desencantado. Noemi é uma personagem complexa, dividida entre o papel que a sociedade lhe impõe e o desejo de viver algo mais verdadeiro e intenso.

João Jaques - Marido de Noemi. É um homem desiludido, que abandonou a luta política. Seu afastamento do idealismo o coloca em contraste com Roberto, que ainda acredita na transformação social.

🧩 Enredo de "Caminho de Pedras"
A história de "Caminho de Pedras" gira em torno da chegada de Roberto a Fortaleza com o objetivo de reunir trabalhadores e formar uma nova célula comunista. Durante essa missão, ele conhece Noemi, uma mulher inquieta, frustrada com sua vida familiar e emocionalmente distante do marido. Ela se interessa pelas ideias políticas de Roberto, mas principalmente por ele como pessoa.

Noemi começa a frequentar reuniões políticas e estabelece com Roberto uma conexão que extrapola o campo ideológico: nasce entre os dois uma relação amorosa intensa, carregada de paixão, mas também de dilemas morais. Noemi vive um conflito interno profundo - entre os valores conservadores que a cercam (e que ela internalizou) e o desejo de se libertar de uma vida sem sentido.

Ao se envolver com Roberto, Noemi começa a experimentar uma forma de liberdade até então desconhecida para ela, questionando seu papel de esposa e mãe tradicional. Essa libertação, no entanto, tem um custo: o julgamento social e as consequências afetivas e políticas que envolvem sua escolha.

🔍 Temas principais de "Caminho de Pedras"
Conflito entre o desejo e o dever - 
Noemi personifica esse embate, sendo pressionada pelos papéis sociais atribuídos à mulher, mas ansiando por uma existência mais autêntica.

Militância e desilusão política - Roberto representa o entusiasmo revolucionário; João Jaques, a descrença e o abandono da luta.

Emancipação feminina: Noemi tenta trilhar um "caminho de pedras" rumo à autonomia emocional, intelectual e amorosa.

Moralidade e transgressão - A obra questiona os limites éticos impostos pela sociedade, colocando em foco o preço da liberdade individual.

💬 Estilo e linguagem de "Caminho de Pedras"
A escrita de Rachel de Queiroz em "Caminho de Pedras" é marcada por uma linguagem enxuta, direta e sensível, com forte carga psicológica e introspectiva. A narrativa avança com diálogos intensos e passagens de grande densidade emocional, revelando a complexidade interna dos personagens.


📝 Importância de "Caminho de Pedras" na obra de Rachel de Queiroz
Considerado por muitos críticos o romance mais engajado politicamente de Rachel de Queiroz, o romance "Caminho de Pedras" também marca o início de um estilo mais maduro da autora, com profundas análises existenciais e emocionais. É também uma das raras ocasiões em que ela explora, de maneira direta, temas ligados ao socialismo libertário. Apoie o Resenhando.com e compre o livro neste link.


Esquema por capítulos de "Caminho de Pedras" (resumo da narrativa)

Capítulo 1 - Chegada e missão
Roberto chega a Fortaleza com a missão de organizar uma célula comunista. É introduzido o contexto político da Era Vargas e o clima de tensão no Nordeste. Roberto começa a se aproximar de operários e trabalhadores para formar uma base ideológica.

Capítulo 2 - Primeiros contatos
Noemi aparece como personagem secundária nas reuniões políticas. Aos poucos, mostra-se interessada não só nas ideias, mas em Roberto. Introdução do núcleo familiar de Noemi: João Jaques e o filho, Guri.

Capítulo 3 - A aproximação
A conexão entre Roberto e Noemi se fortalece. O ambiente doméstico opressivo de Noemi é descrito, revelando seu desgaste emocional. Cresce o clima de tensão e desejo entre os dois.

Capítulo 4 - Início do romance
Noemi e Roberto se envolvem amorosamente. A relação desafia as convenções da época: adultério, militância e desejo de liberdade. Roberto é dividido entre seu idealismo político e o sentimento por Noemi.

Capítulo 5 - Conflitos internos
Noemi entra em crise: culpa, desejo, medo da repressão social. João Jaques começa a desconfiar.. Roberto tem dificuldades com o avanço da célula revolucionária.

Capítulo 6 - Queda e consequências
O relacionamento é descoberto ou se torna insustentável. Noemi enfrenta o julgamento da sociedade e o colapso do casamento. Roberto sofre repressão ou precisa fugir.

Capítulo 7 – Escolhas e liberdade
Noemi decide romper com as expectativas e padrões sociais. O final é melancólico, mas libertador: há perda, mas também consciência de si. A metáfora do "caminho de pedras" é consolidada como o percurso árduo da mulher em busca de autonomia.

Análise temática aprofundada de "Caminho de Pedras"

1. Amor e transgressão
O romance aborda o amor extraconjugal entre Noemi e Roberto, desafiando as normas sociais da época. Essa relação é retratada com profundidade emocional, explorando os conflitos internos de Noemi entre desejo e culpa.

2. Militância política
A obra está inserida no contexto da Era Vargas, destacando a repressão aos movimentos de esquerda. Roberto representa o idealismo revolucionário, enquanto João Jaques simboliza a desilusão com a política.

3. Emancipação feminina
Noemi busca romper com os papéis tradicionais de esposa e mãe, em busca de autonomia e realização pessoal. Sua jornada reflete as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que desafiam as expectativas sociais.

4. Conflito entre vida pública e privada
A narrativa explora como as escolhas pessoais de Noemi estão intrinsecamente ligadas ao contexto político e social, mostrando a interdependência entre o íntimo e o coletivo.


🧠 Perfil psicológico dos personagens principais de "Caminho de Pedras"

Noemi
Conflitos internos:
luta entre o desejo de liberdade e o peso da culpa por trair as expectativas sociais. Evolução: passa de uma mulher submissa a uma figura que busca ativamente sua autonomia, mesmo enfrentando consequências dolorosas.

Roberto
Conflitos internos:
 dividido entre o compromisso com a causa socialista e o amor por Noemi. Evolução: a relação com Noemi o humaniza, mas também o coloca em risco dentro do contexto político repressivo.


O que disseram sobre o livro "Caminho de Pedras"

“Caminho de pedras é uma história de gente magra, uma história onde há fome, trabalho excessivo, perseguições, cadeia, injustiças de toda a espécie, coisas que os cidadãos bem instalados na vida não toleram.” ― Graciliano Ramos

“A mesquinhez pulha dos indivíduos, a amargura sofrente de todos, a incapacidade como que por fatalidade, a dedicação por um ideal mais sonhado que entendido, o ambiente parado das cidades nordestinas (com exceção do Recife), a quantidade inflexível de sol que está no livro, a pureza da linguagem natural, sem a menor pesquisa: é a Rachel de Queiroz grande romancista.” ― Mário de Andrade

“A trilogia 'O Quinze', 'João Miguel' e 'Caminho de Pedras' marca claramente um momento da obra de Rachel. A afirmação de seu compromisso com a linguagem clara, de dicção moderna, a preocupação com o social, seus conflitos políticos, sua raiz nordestina. Marca ainda sua habilidade no desenho de personagens femininas cujo desempenho desafia invariavelmente a lógica patriarcal desta primeira metade do século XX.” ― Heloisa Teixeira


Fuvest 2026

"Opúsculo Humanitário" (1853) - Nísia Floresta Brasileira Augusta

"Nebulosas" (1872) - Narcisa Amália

"Memórias de Martha" (1899) - Júlia Lopes de Almeida

"Caminho de Pedras" (1937) - Rachel de Queiroz

"O Cristo Cigano" (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen

"As Meninas" (1973) – Lygia Fagundes Telles

"Balada de Amor ao Vento" (1990) – Paulina Chiziane

"Canção para Ninar Menino Grande" (2018) – Conceição Evaristo

"A Visão das Plantas" (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida

sábado, 19 de abril de 2025

.: Livro “Memórias do Cacique”: Raoni Mêtyktire na autobiografia arrebatadora

Entrelaçando passado, presente e futuro em uma narrativa única, Raoni Mêtyktiretece sua concepção sobre a vida, a floresta e o mundo atual. Em "Memórias do Cacique", publicação da Companhia das Letras que está em pré-venda neste link, os leitores podem conhecer mais profundamente a trajetória de um dos mais influentes líderes indígenas contemporâneos, registrada em suas próprias palavras. A história dele é um testemunho inigualável de resistência, sabedoria ancestral e compromisso com a terra. 

Nas páginas "Memórias do Cacique" — que chega às livrarias em 24 de junho —, Raoni tece sua concepção sobre a vida, a floresta e o mundo atual e compartilha de maneira única a cultura, a cosmologia e a luta do povo Mẽbêngôkre. Compre o livro "Memórias do Cacique" neste link.

Sobre o autor
Ropni, aportuguesado como Raoni, pertence ao povo Mẽtyktire-Mẽbêngôkre, também conhecidos como Kayapó e Txukarramãe. A aprendizagem parcial do português, sua autoconfiança, orgulho e ambição habilitou Raoni a atingir respeito e projeção internacional com sua defesa imbatível da Floresta Amazônica e de seus habitantes milenares.


A edição
O livro foi construído a partir de entrevistas inéditas realizadas pelos tabdjwy de Raoni, seus netos, entre 2020 e 2023. Falando sempre em mẽbêngôkre, e rodeado de parentes, Raoni gravou durante dezenas de horas, em diversas sessões, as histórias e mitos que resultaram neste relato. O material foi traduzido para o português por meio de um trabalho meticuloso e extenso de uma equipe de tradutores Mêbêngôkre, sob a coordenação do antropólogo Fernando Niemeyer, que também supervisionou a redação e edição do manuscrito. A publicação de "Memórias do Cacique" tem o apoio do Instituto Socioambiental, do Instituto Sociedade, População e Natureza e do Instituto Raoni. Garanta o seu exemplar de "Memórias do Cacique" neste link.


A história de Cacique Raoni é um testemunho inigualável de resistência, sabedoria ancestral e compromisso com a terra. 
Fotos de Bob Wolfenson

.: "Futuro da Terra": série original em cartaz gratuitamente na IC Play


Assinada por Alberto Alvares, artista da etnia Guarani Nhandewa e um dos principais nomes do cinema indígena do Brasil, e pelo jornalista Claudiney Ferreira, a produção se destaca por apresentar para os não-indígenas a cultura de etnias de diferentes regiões do país. A primeira temporada que entra na plataforma tem três episódios temáticos: "Território", "Revivências da Mãe-Terra" e "Terra e Corpo, Natureza e Espiritualidade". Ailton Krenak participa da série

Em cartaz na Itaú Cultural Play – plataforma de streaming gratuita de cinema brasileiro – a série documental "Futuro da Terra", que explora diferentes aspectos da cultura dos povos originários brasileiros de vários estados do país. Realizada pelo Itaú Cultural, Futuro da Terra é uma das primeiras séries dirigidas por uma pessoa indígena, Alberto Alvares, cineasta da etnia Guarani Nhandewa e um dos principais nomes do cinema indígena do Brasil. Ele compartilha a direção com o jornalista Claudiney Ferreira.

Na plataforma, os espectadores podem assistir à primeira temporada, com três episódios. Gravados no Distrito Federal, em Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, os capítulos têm depoimentos de líderes indígenas como Ailton Krenak, Cacique Raoni Metuktire, Daniel Munduruku, Célia Xakriabá, Olinda Tupinambá, Denilson Baniwa, entre outras lideranças.

O lançamento de "Futuro da Terra" acontece em sinergia com o Dia da Terra, comemorado em 22 de abril. A produção-executiva é da Filmes de Quintal, associação responsável, entre outras ações, pelo forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema, importante festival do gênero. O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast.


Sobre a série
Hoje, o Brasil soma mais de 305 etnias indígenas, falantes de cerca de 270 diferentes línguas. Apesar de numerosos, estes povos ainda são pouco conhecidos e compreendidos na sociedade brasileira. Em depoimento ao primeiro episódio, Ailton Krenak ressalta: “Se fôssemos contar que os povos nativos são todos ‘índios’, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Unesco e a Organização Mundial da Saúde (OMS), nós seríamos uma população estimada de 400 milhões de pessoas, espalhadas pelo mundo. Talvez isso seja uma garantia para a gente continuar vivendo. Não estamos mais enclausurados em um lugar, aonde alguém pode ir e nos aniquilar. Estamos no mundo”.

Nesse contexto, "Futuro da Terra" pretende ser uma ponte entre a cultura, os costumes e as cosmologias dessa riqueza humana e os não-indígenas. Para isso, dentro de um recorte temático, cada episódio cruza os pontos de vista e as vivências de vários povos, moradores de locais distintos, mostrando suas semelhanças e divergências no modo de pensar e sentir o mundo.

“O futuro da Terra não tem como ser separado das nossas histórias. Um dos objetivos centrais da Itaú Cultural Play é justamente mostrar os muitos modos de ser, ver e sentir as diferentes histórias de cada um e imaginar outros mundos que possam continuar sendo possíveis”, diz André Furtado, gerente do núcleo de Criação e Plataformas do Itaú Cultural. “A necessária série 'Futuro da Terra' se une, agora, a outros filmes e documentários do nosso catálogo que ecoam territórios e povos diversos, lembrando que contar histórias é também uma forma de cuidar da Terra”, conclui.

Além das estreias frequentes, a IC Play possui duas coleções permanentes dedicadas ao tema, "Um Outro Olhar: cineastas Indígenas" e "Sob o Olhar delas: novas Perspectivas do Cinema Indígena", que traz títulos recentes dirigidos por mulheres. Outro destaque de "Futuro da Terra" é que todas as entrevistas são feitas somente com pessoas indígenas, boa parte delas nas línguas originais de cada etnia. A produção também dá voz às lideranças femininas, como Jerá Poty Mirim, moradora da Terra Indígena Tenondé Porã, na capital paulista, e a deputada federal Célia Xakriabá.

“'Futuro da Terra' nasce como uma urgência para mim, para o meu povo e para outros povos indígenas brasileiros. É uma forma de salvaguardar nossas memórias”, diz Alberto Alvares. “Muitos filmes e séries sobre povos indígenas tratam de apenas uma etnia. Nesta série, cada episódio traz histórias e depoimentos de vários povos”, completa Claudiney Ferreira, roteirista e parceiro de Alvares na direção.

Alvares também assina a direção de fotografia e a série conta com desenhos exclusivos do artista visual Wapichana Gustavo Caboco, um dos nomes mais representativos da arte indígena contemporânea – o catálogo da IC Play oferece uma animação dirigida por "Caboco, Kanau'kyba" (Roraima, 2021).

A primeira temporada foi gravada no Acampamento Terra Livre, no Distrito Federal, e em território Guarani, em São Paulo; Xingu, no Mato Grosso; e Krenak e Maxacali, em Minas Gerais. O primeiro episódio, Território, retrata justamente a noção de território entre esses povos, que ultrapassa o simples conceito de espaço físico, englobando a relação com corpo, língua e diversidade étnica.

“No estado de São Paulo, por exemplo, nós gravamos em aldeias diferentes, mas habitadas pelas mesmas etnias, caso dos Guarani. É impressionante ver como o conceito de território muda de acordo com o local onde o povo está, do quão próximo está do meio urbano”, conta Júnia Torres, diretora de produção e uma das idealizadoras de Futuro da Terra.

Para o cineasta Takumã Kuikuro, morador da aldeia Ipatse, no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, por exemplo, a terra pertence a todos os humanos, indígenas ou não. “Nós não pensamos em mercadoria como os não-indígenas, que disputam a terra. Não transformamos a terra, a água e os peixes em dinheiro, mas sim em sustento da vida, para todo mundo”, diz em entrevista, no episódio.


Perspectivas sustentáveis
Tanto o segundo quanto o terceiro episódio abordam um tema que, segundo Júnia, se impôs durante as gravações e a captação de material: a sustentabilidade. O segundo, intitulado "Revivências da Mãe-Terra", retrata, principalmente, as iniciativas de preservação e recuperação ambiental dos povos originários, como o projeto de reflorestamento em aldeias Maxacali, em Minas Gerais, além da restauração de sementes e abelhas nativas pelos Guaranis. De acordo com ela, esses dois povos são os únicos do Sudeste que ainda falam sua língua originária.

"Terra e Corpo, Natureza e Espiritualidade", o terceiro episódio, por sua vez, debate a sustentabilidade de um modo mais amplo, aludindo às noções de manutenção do corpo, da alimentação, das culturas e tradições, da língua e da espiritualidade.

Esse episódio guarda uma das cenas mais emocionantes da série: o momento em que Vitorino, pajé de uma aldeia Maxacali, que é cercada por fazendas, lamenta o incêndio criminoso que varre a floresta próxima. “Naquele momento, enquanto olhávamos a mata devastada pelo fogo, ele não demonstrava, mas estava chorando por dentro. Para os Maxacali, não era apenas uma terra sendo queimada, era um corpo”, lembra Alvares.


Serviço
Série original "Futuro da Terra", de Alberto Alvares e Claudiney Ferreira
Na Itaú Cultural Play www.itauculturalplay.com.br


Sinopses dos episódios

T1:E1 | "Território" | "Futuro da Terra"
De Alberto Alvares e Claudiney Ferreira (60 min, Distrito Federal, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, 2023)
Classificação indicativa: AL – livre (drogas lícitas)
Sinopse: a concepção indígena de território transcende a simples noção de espaço físico, engloba a relação com corpo, língua, diversidade étnica e cosmovisões. A partir deste conceito, são abordados neste episódio a relação com a natureza, a estrutura do cotidiano nas aldeias, o papel dos pajés e caciques, das lideranças e a importância da educação formal para as novas gerações indígenas.


T1:E2 | "Revivências da Mãe-Terra" | "Futuro da Terra"
De Alberto Alvares e Claudiney Ferreira (60 min, Distrito Federal, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, 2023)
Classificação indicativa: AL – livre (drogas lícitas)
Sinopse: o episódio apresenta a percepção da sustentabilidade e da questão ambiental para os povos originários, que estão relacionadas à ideia de compartilhamento entre toda a aldeia do que se tira da terra. Juntos, com participação importante das mulheres, defendem e tentam proteger as terras-florestas das invasões, protegendo a vida.

T1:E3 | "Terra e Corpo, Natureza e Espiritualidade" | "Futuro da Terra"
De Alberto Alvares e Claudiney Ferreira (55 min, Distrito Federal, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais, 2023)
Classificação indicativa: AL – livre
Sinopse: para os povos originários, não se vive das várias naturezas, mas sim com as naturezas. A partir desta perspectiva, o episódio aborda a sustentabilidade de modo amplo, as noções de manutenção do corpo, da alimentação, das culturas e tradições, da língua e da espiritualidade.


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