terça-feira, 27 de maio de 2025

.: Novo livro propõe jornada pelo pensamento do filósofo Michel Foucault


Michel Foucault, um dos filósofos mais importantes e influentes da contemporaneidade, deixou uma obra vasta, complexa e multifacetada, cujo impacto continua a reverberar em diversas áreas do saber - da sociologia e da história ao direito e à teoria literária. Seus cursos no Collège de France, ministrados entre 1970 e 1984, constituem um material rico de ideias e reflexões que não apenas complementam, mas também aprofundam as temáticas desenvolvidas em seus livros. Com o objetivo de ampliar a compreensão desse pensamento, a PUCPRESS - editora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) -, acaba de lançar “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura”, da pesquisadora Inês Lacerda Araújo.

O livro se propõe a navegar pelas mais de quatro mil páginas de transcrições dos cursos ministrados por Foucault, oferecendo um roteiro acessível para estudiosos e interessados na obra do pensador francês. Assinado por uma das vozes mais experientes no campo dos estudos foucaultiano no Brasil, a obra oferece uma síntese rigorosa e abrangente de cada curso, destacando os temas centrais, os conceitos-chave e as nuances argumentativas que marcam a singularidade do pensamento do filósofo.

O livro está organizado em quatro capítulos, que percorrem os principais eixos de investigação desenvolvidos por Foucault ao longo de sua trajetória intelectual. A primeira parte, intitulada "Discurso, Saber, Poder Judiciário e Punição", examina a relação entre verdade e poder, desde as narrativas míticas da Antiguidade até as complexas engrenagens da sociedade moderna. Conceitos como ilegalismo e as múltiplas formas de manifestação da ilegalidade são analisados à luz da genealogia foucaultiana, revelando as estratégias de controle, vigilância e normalização que atravessam as instituições sociais.

O segundo capítulo, "Psiquiatria e Anormalidade", mergulha no universo da loucura e da razão, analisando o papel do discurso médico na construção da fronteira entre o normal e o patológico. A partir da crítica foucaultiana, questionam-se os fundamentos epistemológicos da psiquiatria e evidenciam-se as formas de poder disciplinar exercidas sobre os indivíduos classificados como desviantes. Essa reflexão é ampliada pela genealogia da sociedade disciplinar e pela análise do poder soberano, oferecendo uma leitura crítica dos mecanismos de controle e exclusão que moldam as práticas sociais e institucionais.

Na terceira parte, "Poder sobre a Vida", Inês Lacerda Araújo conduz o leitor através de um dos conceitos centrais da obra de Foucault: o biopoder. A análise da transição do poder soberano para o biopoder revela a emergência de novas formas de governamentalidade, que visam a gestão da vida e da saúde da população. A discussão sobre a diferença entre governar território e governar população, bem como a introdução do conceito de segurança como elemento fundamental da gestão populacional, lançam luz sobre os dilemas e contradições que atravessam as formas contemporâneas de poder.

O último capítulo. “Governamentalidade, Discurso Verdadeiro, Experiência Ética e Política nas Práticas de Si”, é dedicado ao exame da dimensão ética e política da obra de Foucault, com foco na noção de cuidado de si. A análise da filosofia antiga, em particular da estilística dos gregos e latinos, revela a importância da reflexão sobre a subjetividade e a busca por uma vida virtuosa. A discussão sobre a parrhesía, ou coragem de dizer a verdade, e a investigação sobre a constituição do sujeito ético complementam essa reflexão, oferecendo ferramentas conceituais para a análise das práticas de resistência e da luta por autonomia.

Com erudição e paixão pela filosofia, Inês Lacerda Araújo oferece aos leitores uma chave de acesso privilegiada ao complexo e fascinante universo do pensamento foucaultiano. “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura” se estabelece como uma obra de referência indispensável para a compreensão de uma das produções intelectuais mais influentes do século XX. Apoie o Resenhando.com e compre o livro “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura” neste link.


Sobre Inês Lacerda Araújo
Doutora em Estudos Linguísticos pela UFPR, Inês Lacerda Araújo possui vasta experiência como professora e pesquisadora na área da Filosofia. É autora de diversas obras de referência, como Foucault e a crítica do sujeito e Curso de teoria do conhecimento e epistemologia. Apoie o Resenhando.com e compre o livro “Os Cursos de Foucault no Collège de France: um Guia de Leitura” neste link.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

.: Clássico, "Dicionário da Bruxaria" de Doreen Valiente chega ao Brasil


Mais do que um simples livro, "O Dicionário da Bruxaria" é uma verdadeira viagem pelo universo místico e simbólico da bruxaria tradicional. Escrito por Doreen Valiente, uma das figuras mais importantes da wicca moderna, o livro, publicado originalmente em 1973, chega pela primeira vez ao Brasil em edição especial da Editora Goya, do Grupo Editorial Aleph. Com tradução de Carolina Candido, a obra conta com 512 páginas que exploram temas variados, da adivinhação à astrologia, passando por sabás, amuletos, deuses e perseguições históricas.

Doreen não fala no livro apenas como pesquisadora, mas como praticante. “Este livro está do lado das bruxas”, diz ela já na introdução da obra. “Trezentos anos atrás, essa afirmação poderia me levar à forca. Mas os tempos mudaram.” Essa postura corajosa e apaixonada é o que dá força e autenticidade a cada capítulo do livro, muitos deles ilustrados com referências históricas, imagens antigas e relatos pessoais da autora.

A estrutura do livro em formato de dicionário facilita o acesso a temas que muitas vezes são tratados de forma dispersa em outras publicações. De A a Z, a autora compila conhecimentos ancestrais e modernos sobre a bruxaria, resgatando práticas como o uso do athame, os rituais lunares, a astrologia e a relação com a natureza e os deuses.  Na nota de edição, a editora informa que manteve os termos e conceitos originais da autora, ainda que alguns possam soar desconhecidos ao leitor contemporâneo. Essa escolha reforça o caráter histórico e documental da obra, permitindo ao público brasileiro ter acesso direto ao pensamento de uma das maiores vozes da espiritualidade neopagã do século XX.

Além dos conteúdos informativos, "O Dicionário da Bruxaria" é um convite à reflexão sobre espiritualidade, liberdade religiosa e a resiliência de práticas perseguidas ao longo da história. “A bruxaria tem a ver com os poderes ocultos da mente humana”, escreve Valiente. 

Ideal para estudiosos, praticantes da bruxaria, curiosos e interessados em espiritualidades alternativas, o livro também se apresenta como ferramenta de combate ao preconceito e à desinformação sobre o universo esotérico. Nas palavras da autora: “Se o leitor ou leitora se interessar ou se deixar seduzir pelo aroma do que preparei neste caldeirão, com tantos e tão variados ingredientes, ficarei contente.”

Com uma edição luxuosa, o livro tem capa dura com relevo, vem com dois fitilhos e com belas ilustrações feitas por Mateus Acioli e Luis Aranguri, além do projeto gráfico assinado por Juliana Brandt, "O Dicionário da Bruxaria" é um convite ao conhecimento e à história das bruxas. Apoie o Resenhando.com e compre "O Dicionário da Bruxaria" neste link.


Sobre a autora
Doreen Valiente foi uma das fundadoras da wicca moderna, iniciada em quatro ramos diferentes da Antiga Religião na Grã-Bretanha. Estudou o ocultismo por mais de trinta anos e é uma das figuras mais conhecidas no universo da bruxaria, tendo participado de vários programas de rádio e TV para elucidar o tema. Seu profundo conhecimento de folclore, misticismo e magia cerimonial, combinado com talento literário, fez dela protagonista no ressurgimento das tradições pagãs no século 20. Faleceu em 1999. Apoie o Resenhando.com e compre "O Dicionário da Bruxaria" neste link.

.: Quem foi Gene Wolfe, o escritor que reinventou a ficção científica?


Poucos autores impactaram tanto a ficção especulativa quanto Gene Wolfe. Nascido em Nova Iorque em 1931, desafiou as narrativas tradicionais do gênero de ficção durante toda sua carreira. Dono de uma prosa densa, repleta de simbolismos e a habilidade de construir universos complexos, foi referência para George R. R. Martin, Ursula K. Le Guin e outros escritores contemporâneos.

Agora, sua obra-prima chega ao Brasil pela primeira vez em edição completa: "A Sombra do Torturador", primeiro volume da tetralogia "O Livro do Novo Sol", pela editora Morro Branco. Nesta obra, ele conduz os leitores por uma jornada de identidade, redenção e poder, em um mundo onde passado e futuro colapsam em um só. A tradução brasileira é assinada por Fábio Fernandes.


Clássico ganha edição inédita no Brasil
Referência para autores como Ursula K. Le Guin e George R. R. Martin, tetralogia "O livro do Novo Sol" será publicada (de forma completa) pela editora Morro Branco. Vencedor do prestigiado prêmio World Fantasy Award e considerado um dos melhores livros de fantasia científica já escritos, "A Sombra do torturador abre a saga "O Livro do Novo Sol", de Gene Wolfe. Composta por quatro volumes, a série chega ao Brasil por meio da editora Morro Branco pela primeira vez em edição completa.

Publicada originalmente em 1980, a obra apresenta Severian, um órfão criado pela misteriosa Guilda dos Buscadores da Verdade e da Penitência – os torturadores. Embora tivesse um futuro promissor como algoz, a trajetória do protagonista muda radicalmente quando se apaixona por uma das prisioneiras. Por demonstrar misericórdia à mulher ao invés cumprir seu papel como carrasco, ele é expulso e forçado ao exílio na longínqua cidade de Thrax, tendo como única companhia a lendária espada Terminus Est.

Durante o percurso da viagem até o exílio, o personagem encontra aliados improváveis, enfrenta inimigos implacáveis e se depara com relíquias enigmáticas de uma civilização perdida – entre elas, uma joia que desperta ainda mais perseguições. Cada passo dessa jornada faz com que Severian questione não apenas o mundo ao redor, mas a própria identidade e propósito. Será possível um aprendiz de torturador se tornar um homem bom? Diante de todo o mal que já fez, ele conseguirá se tornar melhor para a humanidade?

“Não sabemos em que ano a história se passa, mas somos informados de que, apesar do cenário de aparência medieval, estamos num futuro distante, provavelmente um milhão de anos à nossa frente. A Terra é um mundo que, social e politicamente, se reverteu a uma condição mais ‘primitiva’, embora os soldados possuam armas de raios e alienígenas caminhem entre os humanos”, contextualiza Fabio Fernandes, tradutor e prefaciador da obra.

O enredo é contado pelo ponto de vista do protagonista, que se mostra um narrador não-confiável logo no início. Embora Severian afirme ter uma memória perfeita, sem esquecer qualquer detalhe já vivido em toda a sua existência, seus relatos são repletos de omissões, contradições e interpretações pessoais que desafiam o leitor a montar o quebra-cabeça por conta própria.

Ao combinar fantasia, ficção científica e filosofia, Gene Wolfe constrói uma narrativa enriquecida por referências históricas, dilemas morais e símbolos religiosos. Com uma prosa densa e envolvente, o autor conduz os leitores por um mundo em ruínas, onde passado e futuro se entrelaçam em uma jornada sobre compaixão, identidade e transformação. Não por acaso, A sombra do torturador é reverenciada por autores como Ursula K. Le Guin e George R. R. Martin e considerada leitura essencial para quem busca fantasia de alta complexidade literária.


Sobre o autor
Gene Wolfe
foi um premiado escritor estadunidense de ficção científica e fantasia. Conhecido por sua prosa densa e alusiva, bem como pela forte influência de sua fé católica, Wolfe foi um prolífico escritor de contos e romancista, vencedor de diversos prêmios como Nebula, World Fantasy e Locus.

domingo, 25 de maio de 2025

.: Livro "A Argentina" é sobre território, identidade e o que fazer com a paixão


Uma história sincera e visceral sobre identidade, território e desejo em "A Argentina", romance de estreia de Rodrigo Natividade, publicado pela Imã Editorial. Narrativa visceral em autoficção (ou não) trata do intenso e transitório relacionamento entre o narrador, um jovem negro do Rio de Janeiro, e uma mulher branca argentina em visita à cidade.

Habituado às dinâmicas fugazes do sexo entre os jovens cariocas, o protagonista não sabe lidar com a paixão que o vai atando àquela mulher de outra língua, outra cultura, outra cor. O romance acentua os contrastes sociais e raciais tanto entre Brasil e Argentina quanto nas fronteiras invisíveis no próprio Rio - entre subúrbio e zona sul, entre o que se quer e o que se pode ser. Mais do que uma história de amor, "A Argentina" é um retrato arrebatador das relações contemporâneas, marcadas por desencontros e o choque entre os desejos profundos e a efemeridade das relações líquidas.


Trecho do livro
"Escrevo sem pensar nas consequências. Não escrevo para ela; lhe dedico estas páginas, mas este livro não é uma carta de amor [ainda que ridículo]. Não sei o que é este livro. Às vezes, parece que tudo o que faço é transcrever para o papel, com a mesma honestidade e paixão como a que vivemos. Escrever o livro que se escreveu sozinho enquanto vivíamos. Talvez, para a Argentina, meu nome seja ‘Rio’."


Sobre o autor
Rodrigo Natividade
, estudante de Letras e roteirista, estreia na literatura com maturidade rara e uma voz marcada pela inquietação e pela entrega. Filho do escritor e biógrafo Tom Farias, ele já desponta como uma das vozes mais potentes de sua geração.

.: Sucesso de "Raul Seixas - O Musical" prorroga temporada em São Paulo


Sucesso de público e crítica no Rio de Janeiro, musical estreou em 10 de abril e vem encantando o público. Foto: Dalton Valério


Raul Seixas completaria 80 anos em 28 de junho próximo, e homenageando o cantor, o original musical com dramaturgia e direção de Leonardo da Selva e Bruce Gomlevsky como protagonista prorroga temporada até dia 29 de junho. Raul Seixas, o pai do rock nacional, foi um artista que transcendeu sua época, desafiou normas sociais e culturais e cravou sua marca na história com composições inesquecíveis. Trinta e cinco anos após sua morte, sua obra segue atual e inspiradora, provando que sua filosofia e suas músicas resistem ao tempo e continuam a ecoar em diferentes gerações. A metamorfose ambulante que marcou para sempre a música brasileira está de volta ao palco do Teatro-D-Jaraguá com o espetáaculo "Raul Seixas - O Musical"

O musical arrebatou mais de 15 mil espectadores em temporadas no Rio de Janeiro, e desde que estreou em 10 de abril no Teatro-D-Jaraguá vem lotando as sessões. Com absoluta fidelidade ao artista, a peça é estrelada por Bruce Gomlevsky. Como destacou Claudia Chaves, do jornal Correio da Manhã, o musical é "de absoluta fidelidade à alma do músico".

Com um roteiro baseado em manuscritos originais do cantor, cedidos pela família, a dramaturgia assinada por Leonardo da Selva traz um olhar único e pessoal sobre a vida e a obra do gênio do rock brasileiro. Como definiu Pedro Bial, "um espetáculo que nos deixa inspirados para encarar o Brasil."


Sinopse de "Raul Seixas - O Musical"
"Raul Seixas - O Musical" mergulha na essência de um dos artistas mais autênticos da nossa música, e se desenrola durante uma noite insone, onde Raul revisita sua história, compõe, reflete sobre sua arte e questiona os rumos do Brasil. Num tom confessional e emocionalmente intenso, o espectador é conduzido pelos bastidores da mente inquieta de Raul, sobre a liberdade, a arte e a sociedade por meio de 21 canções, como os clássicos "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás", "Maluco Beleza", "Tente Outra Vez" e "Gita".

Em um contexto social ainda marcado por polarizações, o espetáculo resgata a essência da "Sociedade Alternativa" de Raul Seixas, onde liberdade e autenticidade são valores fundamentais. Para os mais jovens, é uma oportunidade de conhecer um ícone que continua extremamente atual. Para aqueles que viveram a época de Raul, é um reencontro emocionante com um legado que segue pulsante. Mais do que uma homenagem, o musical é um convite à reflexão e um manifesto sobre a força transformadora da arte. Afinal, como Raul nos ensinou, a verdadeira revolução começa dentro de cada um de nós.


Ficha técnica
"Raul Seixas - O Musical" | 
Com Bruce Gomlevsky | Direção, Dramaturgia e Produção Leonardo da Selva | Direção Musical Gabriel Gabriel | Assistência de direção Tassia Leite | Cenário Nello Marrese | Figurino Maria Calou | Iluminação Gabriel Prieto | Realização Teatro-D-Jaraguá


Serviço
"Raul Seixas - O Musical"
De 30 de maio a 29 de junho de 2025 | Sextas e Sábados, às 20h00, e domingos, às 19h00
Duração: 90 minutos | Gênero: musical | Classificação Indicativa: 12anos
Local: Teatro-D-Jaraguá Rua Martins Fontes, 71, Centro Histórico (metrô Anhangabaú)
Fone: 11-2802-7075 @teatrodjaragua | Capacidade: 260 lugares | Bilheteria: quinta a domingo a partir das 17h ou diretamente no link Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/103689 | Ingressos: sextas e domingos R$ 100,00 (inteira) e R$ 50,00 (meia), sábados R$ 150,00 (inteira) e R$ 75,00 (meia) | Estacionamento: ESTAPAR na entrada principal do hotel com valor reduzido ao teatro de R$ 20,00 (vinte   reais) por até 4h (quatro horas), valorizando a experiência do Bar do Clóvis+teatro+restaurante do hotel nacional inn jaraguá

sábado, 24 de maio de 2025

.: "Freshwater", de Virginia Woolf, é o livro de estreia do selo Inglesa


A literatura produzida por mulheres em língua inglesa encontra um novo espaço no Brasil com o lançamento do selo Inglesa, uma iniciativa da Degustadora Editora. Criado para trazer ao público brasileiro obras pouco conhecidas ou inéditas no país, o selo tem curadoria da escritora, tradutora e ensaísta mineira radicada na Inglaterra Nara Vidal, que, além da seleção, também é responsável pela tradução de alguns dos títulos.

A primeira obra publicada pelo selo é "Freshwater", a única peça teatral escrita por Virginia Woolf. O texto, um exercício modernista e irônico, ambientado na baía de Freshwater, onde ficava a casa de sua tia-avó, Julia Margaret Cameron, traz uma crítica a elite intelectual britânica da época. A obra lançada pela Inglesa apresenta duas versões da peça, datadas de 1923 e 1935, permitindo ao leitor acompanhar a evolução da escrita de Woolf.

"Traduzir esse texto foi uma experiência fascinante. Freshwater é repleto de humor e sagacidade, com muitas piadas internas e referências que mostram uma Virginia Woolf surpreendentemente leve e divertida", destaca Nara, vencedora do prêmio de melhor romance literário pela APCA, em 2024, com o livro Puro.

A edição de "Freshwater" chega ao mercado em um formato pocket de luxo em 124 páginas, com capa dura e guarda personalizada, além de tradução, notas e prefácio assinados por Nara Vidal. A identidade visual do livro também é assinada pela curadora, enquanto o trabalho gráfico é de Alexandre Guidorizzi. A capa utiliza um detalhe da pintura "The Red Book", do artista irlandês John Lavery.

A criação do selo Inglesa reflete o desejo da Degustadora Editora em expandir o acesso à literatura de autoras que, apesar de sua relevância, ainda não possuem circulação ampla no Brasil. Sob a direção de Melissa Velludo, a editora também busca promover o trabalho de tradutoras e escritoras brasileiras por meio da produção de textos de apoio, aumentando as oportunidades na área editorial. O livro Freshwater está à venda pelo site da Degustadora Editora, no link https://www.degustadoraeditora.com.br/freshwater/p

.: Manolo Rey dirige a dublagem de "Missão: Impossível - O Acerto Final"


A versão brasileira do longa conta com direção de dublagem de Manolo Rey, profissional de destaque no mercado audiovisual, com mais de quatro décadas de atuação. Foto: divulgação

Em cartaz na rede Cineflix e nos cinemas brasileiros, "Missão: Impossível – O Acerto Final" chega às telonas com grandes expectativas, reunindo cenas eletrizantes, reflexões sobre os perigos da inteligência artificial e o retorno de personagens marcantes. Sob direção de Christopher McQuarrie e estrelado por Tom Cruise no papel do agente Ethan Hunt, personagem que interpreta desde 1996, o oitavo longa da franquia reafirma seu lugar entre as produções mais impactantes do cinema de ação.

A versão brasileira do longa conta com direção de dublagem de Manolo Rey, profissional de destaque no mercado audiovisual, com mais de quatro décadas de atuação. Reconhecido por sua versatilidade, precisão técnica e compromisso, Manolo já havia assumido anteriormente a direção de dublagem nas produções "Missão: Impossível – Efeito Fallout" e "Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte Um", também pertencentes à franquia.

“Dirigir a dublagem de 'Missão: Impossível – O Acerto Final' foi uma jornada desafiadora e recompensadora. Já tendo trabalhado nos filmes anteriores da franquia, foi possível aprofundar ainda mais o entendimento da linguagem e da proposta da série. Produções dessa magnitude exigem um alto nível de atenção aos detalhes e comprometimento com a qualidade. Nosso foco foi entregar uma versão brasileira fiel ao original, respeitando o ritmo e a intensidade das cenas, sem perder a carga emocional das interpretações”, comentou Manolo Rey.

Além de seu trabalho como diretor, Manolo Rey possui um currículo notável como dublador. Entre os personagens mais emblemáticos que interpreta estão Sonic e Gaguinho nas produções de Looney Tunes, personagens que dubla há mais de 30 anos, Tobey Maguire na trilogia "Homem-Aranha" dirigida por Sam Raimi, Will Smith na clássica série "Um Maluco no Pedaço", Michael J. Fox, Seth Cohen em "The O.C.", Joaquim (Michel Gurfi) na telenovela mexicana "Rebelde", e Robin/Dick Grayson em diversas animações da DC, incluindo "Batman: The Animated Series", "Os Jovens Titãs" e "Os Jovens Titãs em Ação".

Mais uma vez, Manolo também teve a oportunidade de dirigir um grande amigo e colega de longa data, Philippe Maia, que dá voz a Tom Cruise no Brasil desde 2001 e, na franquia "Missão: Impossível", desde o terceiro filme, lançado em 2006. “Dirigir o Philippe é sempre uma experiência muito gratificante. Somos parceiros há muitos anos e temos uma sintonia que faz toda a diferença na hora de entregar um trabalho consistente, fiel e que preserve toda a essência do original. Ele entende perfeitamente quem é o Ethan Hunt e quem é o Tom Cruise, e isso reflete diretamente na qualidade da versão brasileira”, afirma Manolo Rey.

Outra parceria de longa data na carreira de Manolo é com a Paramount Pictures. Além da direção em grandes produções do estúdio, ele também dá voz a um dos personagens mais queridos do público: o Sonic. Manolo é a voz oficial do ouriço azul no Brasil há mais de 30 anos. Na trama, Ethan e sua equipe da IMF (Força Missões Impossíveis), embarcam em uma missão perigosa para recuperar uma arma que representa uma ameaça à humanidade. Além disso, o agente enfrentará um poderoso inimigo ligado ao seu passado, em um desafio que testará seus limites e sua lealdade. O elenco conta com nomes como Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Vanessa Kirby, Henry Czerny, Nick Offerman, Hannah Waddingham e Angela Bassett.

Sobre Manolo Rey
Ator, dublador, youtuber e diretor de dublagem, Manolo Rey  iniciou carreira após um curso de teatro entre 1982 e 1984.  Seu primeiro trabalho como dublador foi em "Os Aventureiros do Bairro Proibido", em 1986.  Entre os destaques, Manolo possui no currículo ser o dublador oficial de Sonic the Hedgehog e também a voz de  Tobey Maguire na trilogia de filmes de "Homem-Aranha" dirigidos por Sam Raimi, Will Smith na série "Um Maluco no Pedaço", "Gaguinho" nas produções de Looney Tunes, Michael J. Fox, Seth Cohen em "The O.C.",  Joaquim (Michel Gurfi) na telenovela mexicana "Rebelde", e Robin/Dick Grayson em várias animações - incluindo "Batman: The Animated Series", "Os Jovens Titãs", e "Os Jovens Titãs em Ação".

.: “ReNASCIMENTO”, inspirado em trilha sonora, chega às plataformas digitais


O álbum “ReNASCIMENTO”, inspirado na trilha sonora do documentário “Milton Bituca Nascimento”, chega às plataformas digitais. Nas vozes de artistas de novas gerações, álbum revisita parte da grandiosa e atemporal obra de Milton Nascimento. Fotos: Flavia Moraes


Chega às plataformas de streaming o álbum “ReNASCIMENTO”,  inspirado na trilha sonora do recém-lançado documentário “Milton Bituca Nascimento”, dirigido por Flavia Moraes, que acompanhou Milton Nascimento por dois anos durante sua turnê de despedida, “A Última Sessão de Música”.

Distribuído pela Universal Music Brasil, o álbum “ReNASCIMENTO”, dirigido por Victor Pozas, que também assina a direção musical do documentário, apresenta 12 regravações de canções imortalizadas por Bituca, eleitas e cantadas por um elenco eclético de vozes da nova geração da música brasileira: Sandy (feat Mateus Asato), o duo OUTROEU, a portuguesa Maro, Os Garotin, Clarissa, Agnes Nunes, Lucas Mamede, Analu Sampaio, Liniker, Tuca Oliveira, Tim Bernardes, Zé Ibarra, Dora Morelembaum, Johnny Hooker e Kell Smith. Alguns desses artistas também participaram no documentário com depoimentos e performances.

Nas vozes de artistas de novas gerações, álbum revisita parte da grandiosa e atemporal obra de Milton Nascimento. Antes do lançamento do álbum, no dia 15 de abril, foi disponibilizado o primeiro single do projeto, “Travessia”. A emblemática canção ganhou uma nova versão de Sandy, que é acompanhada pelo guitarrista Mateus Asato. A faixa também ganhou um lyric video. Assista aqui:
 


A música “Bola de Meia Bola de Gude”, interpretada pelo trio Os Garotin e produzida por Pepê Santos, Uliliam Pimenta e Julio Raposo, foi eleita a faixa foco do projeto. Sobre a canção, Cupertino, integrante do trio, disse: “O canto de Milton é a natureza ostentando seu potencial máximo, e o melhor é que ele faz isso com a maior naturalidade, como uma criança brinca. Foi incrível pra nós regravar ‘Bola de meia, bola de gude’, canção que explica o significado do nosso nome melhor do que todas as nossas explicações quando somos perguntados. Fica pra nós o ensinamento de que, sempre que chegar a hora de cantar, nos tornemos crianças como Milton Nascimento.”

Também presentes no repertório do álbum, Liniker escolheu “Encontros e Despedidas” e a cantora portuguesa Maro interpreta “Cais”. Clarissa veio com “A Festa”, Agnes Nunes trouxe “A Lua Girou” e Analu Sampaio apresentou “Canção do Sal”. O duo OUTROEU interpreta “Clube da Esquina nº2”, enquanto Johnny Hooker e Kell Smith elegeram “Paula e Bebeto”. Já Tuca Oliveira faz nova leitura de “Canção da América” e Lucas Mamede escolheu o medley “Ponta de Areia / Tudo que Você Podia Ser”. Um trio composto por Tim Bernardes, Zé Ibarra e Dora Morelenbaum interpreta a canção “Ânima”, cuja gravação, ao lado de Milton, também foi registrada no documentário. As canções “Anima”, “A Lua Girou” e “Encontros e Despedidas” ainda contaram com a participação da Tallin Studio Orchestra, da Estônia, onde Pozas gravou a trilha sonora do filme.

“Se Milton é uma frondosa árvore da floresta encantada da música brasileira, gerou frutos e sementes e, aqui, ouvimos os ecos deste vasto legado. Vejo essas canções e seus intérpretes como germinadores dessa obra inigualável”, diz Victor Pozas, que também foi o idealizador do projeto que acabou se transformando no documentário.

“Personificação da riqueza cultural do Brasil, o Milton Nascimento é um ícone da música brasileira reverenciado também mundialmente. Sua arte transcende fronteiras e gerações, e segue influenciando, inspirando e encantando. Bituca construiu um legado imensurável. E isso é retratado no documentário. Uma honra para a Universal Music Brasil lançar o álbum ‘ReNASCIMENTO’, que enaltece sua obra atemporal e sua contribuição à música", afirma Paulo Lima, presidente da Universal Music Brasil.


Sobre o filme “Milton Bituca Nascimento”:
Em cartaz nos cinemas desde o dia 20 de março, o documentário “Milton Bituca Nascimento” já foi assistido por mais de 30 mil espectadores e é, até o momento, o filme mais visto do ano nesta categoria. Dirigido pela cineasta Flavia Moraes, “Milton Bituca Nascimento” é um road movie documental que acompanhou, entre 2022 e 2023, as apresentações da turnê de despedida de Bituca, “A Última Sessão de Música”, e registrou a emoção dos fãs de diferentes gerações e a dimensão mundial de um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos.

Ficha Técnica do álbum “ReNASCIMENTO”:

1 - “Travessia” – Sandy feat Mateus Asato
Produzido por: Victor Pozas e Daniel Lopes
Produção da voz: Lucas Lima

2 - “Clube da Esquina nº 2” – OUTROEU
Produzido por: Pepê Santos, Uliliam Pimenta, Julio Raposo e Victor Pozas

3- “A Lua Girou” – Agnes Nunes
Produzido por: Victor Pozas e Daniel Musy
Produção da voz: Juan Lacerda

4 - “Bola de Meia, Bola de Gude” – Os Garotin
Produzido por: Pepê Santos, Uliliam Pimenta, Julio Raposo

5 - “Cais” – Maro
Produzido por: Maro e Victor Pozas

6 - “Encontros e Despedidas” – Liniker
Produzido por: Fejuca, Pepê Santos, Uliliam Pimenta, Julio Raposo e Daniel Musy

7 - “A Festa” – Clarissa
Produzido por: Pepê Santos, Uliliam Pimenta, Julio Raposo e Victor Pozas

8 - “Ponta de Areia – Tudo o que Você Podia Ser” – Lucas Mamede
Produzido por: Victor Gran e Victor Pozas

9 - “Canção do Sal” – Analu Sampaio
Produzido por: Fi Maróstica

10 - “Canção da América” – Tuca Oliveira
Produzido por: Pepê Santos, Uliliam Pimenta, Julio Raposo e Victor Pozas

11 - “Ânima” – Tim Bernardes, Zé Ibarra e Dora Morelembaum feat Milton Nascimento
Produzido por: Victor Pozas e Rafael Langoni

12 - “Paula e Bebeto” – Johnny Hooker feat Kell Smith
Produzido por: Victor Pozas, Daniel Lopes, Daniel Musy e Ricardo Moreira

.: “O Amor que Sinto”, com direção de Elias Andreato, volta em sessão única


Peça inspirada em cartas de amor reais dos anos 1990 traz o ator Mário Goes de volta ao papel. Foto>: divulgação


Após temporada de estreia em 2023, o monólogo “O Amor que Sinto” retorna para uma apresentação única no dia 29 de maio de 2025, às 20h, no Teatro D-Jaraguá, em São Paulo. Protagonizado pelo premiado ator Mário Goes e dirigido por Elias Andreato, o espetáculo oferece uma delicada e intensa viagem pelo tempo e pelas emoções do amor.

Baseado em cartas de amor reais, escritas ao longo de cinco anos nos anos 1990 e jamais entregues ao destinatário, o texto do autor Egbert Mesquita foi adaptado para monólogo a partir de uma versão inicial para três atores. Em cena, o homem confronta seu passado e presente, dialogando com a pessoa amada que ora se manifesta, ora se ausenta - um verdadeiro “respiro” para o amor sentido.

“Tudo é eterno enquanto dura, e nós permanecemos sempre sonhando. A vida gira em torno do amor e isto basta”, afirma o diretor Elias Andreato, ressaltando a profundidade e a urgência do tema. A ideia de montar a peça nasceu durante a pandemia, quando Mário Goes se apresentava em sua varanda para os vizinhos no projeto “Arte na Varanda”. A experiência inspirou a adaptação do texto para um monólogo, revelando uma obra sensível e universal. “Eu gosto de falar de amor! Além de universal, é urgente e base para qualquer outra luta”, comenta Mário Goes.


Ficha técnica
Espetáculo "O Amor que Sinto"
Texto: Egbert Mesquita
Elenco: Mário Góes
Direção: Elias Andreato
Desenho de luz: Kleber Montanheiro
Figurinos: Rosângela Ribeiro
Trilha sonora: Rafael Thomazini
Direção: Palco Agnes Bordin
Produção: Cia Paradóxos E Neila Camargo
Realização: Teatro-D-Jaraguá


Serviço
Espetáculo "O Amor que Sinto"
Dia 29 de maio de 2025, quinta-feira, às 20h
Duração: 60 minutos | Classificação Indicativa: 12anos
Local: Teatro D-Jaraguá – Rua Martins Fontes, 71, Centro Histórico, São Paulo (Metrô Anhangabaú)
Capacidade: 260 lugares
Fone: 11-2802-7075 @teatrodjaragua
Bilheteria: quinta a domingo a partir das 15h ou diretamente no link SYMPLA: https://bileto.sympla.com.br/event/106341
Ingressos: R$ 100 (inteira) / R$ 50 (meia)
Estacionamento: Estapar na entrada principal do hotel, com preço especial para o teatro — R$ 20 por até 4 horas, valorizando a experiência teatro + restaurantes do hotel.

.: "Ela me achou antipático", diz Roberto de Carvalho, no "Provoca", sobre Rita Lee


Além da parceria com Rita, Roberto também é um dos instrumentistas e compositores mais respeitados e bem-sucedidos do Brasil. Foto: Ana Paula Santos

Na próxima terça-feira, dia 27 de maio, Marcelo Tas recebe Roberto de Carvalho no "Provoca". Na entrevista inédita, o multi-instrumentista e compositor, parceiro de Rita Lee na música e na vida por quase 50 anos, conta sua versão do primeiro encontro com a Rainha do Rock, fala do novo documentário sobre a vida de Rita e comenta sobre sua formação musical. O programa vai ao ar a partir das 22h, na TV Cultura.

“Ela me achou antipático, (...) mais especificamente blasé” - é assim que Roberto de Carvalho descreve o que ouviu dizer sobre a primeira impressão de Rita Lee a seu respeito. O encontro aconteceu num show da banda de Ney Matogrosso, em 1976, da qual Roberto fazia parte. Os dois ainda se esbarraram no Festival de Saquarema, no mesmo ano, antes do próprio Ney entrar em ação como cupido do casal.

Eles se conhecerem de vez num jantar na casa de Rita, para o qual Ney foi convidado. A cantora pediu que ele "levasse um músico" - e Ney entendeu a deixa. Roberto conta: “Eu me sentei, ela sentou do meu lado, e eu estava com uma meia de lurex, que é um material brilhante. A meia apareceu, e ela disse: ‘Nossa, que meia legal!’. Aí eu falei: ‘Gostou? Então é sua!’. Tirei a meia, dei para ela e falei: ‘pode usar, que eu não tenho chulé’. (...) Dali, iniciou-se uma dialética interminável, que durou 48 anos. Uma dialética em todos os níveis: nível conversacional, no nível de troca de ideias, de música, de amor, de sexo, de filhos, enfim, tudo era muito intenso. Mas começou ali”.

Sobre o documentário "Rita Lee: mania de Você", recém-lançado na plataforma de streaming Max, Roberto comenta: “Eu assisti duas vezes. (...) [a primeira] eu estava em Londres, e o Guito – que foi o diretor do documentário – me mandou para assistir. Eu estava lá, assim, tentando oxigenar as ideias. Foi a primeira viagem que eu estava fazendo depois que aconteceu tudo. E aí veio aquela pedrada. Eu assisti no IPhone, eu estava na casa de um amigo meu, no andar de baixo. E eu comecei a chorar, chorar, chorar. Aí eu subi a escada, e quando ele me viu [perguntou]: ‘Roberto, o que está acontecendo!?’... Aquilo me pegou de um jeito...”.

Além da parceria com Rita, Roberto também é um dos instrumentistas e compositores mais respeitados e bem-sucedidos do Brasil. A relação com a música começou logo cedo, aos três anos de idade, muito por conta da influência da mãe e da avó, que tocavam piano. Roberto logo descobriu um talento muito específico, mas que vinha a certo custo: “eu tinha muita dificuldade para ler partitura, e ao mesmo tempo eu tinha bom ouvido”. Tas lembra que Roberto tem o chamado “ouvido absoluto”, que o músico explica: “você tem um computador interior que te dá a nota”.

.: Os impasses das migrações expostos na peça "eXílio", do Coletivo Comum


Trabalho documental, com direção de Fernando Kinas, faz temporadas no Teatro de Paulo Eiró e no Galpão do Folias. O espetáculo tem canções em vários idiomas, incluindo purepecha e tamazight, línguas do atual México e do norte da África, respectivamente, além de músicas brasileiras. Foto: Fernando Reis

Para o Coletivo Comum, os deslocamentos forçados de pessoas por conta de guerras, violações de direitos humanos, condições climáticas e perseguições de qualquer tipo são um dos principais temas da atualidade, envolvendo questões individuais e coletivas, políticas e subjetivas. O grupo decidiu, então, fazer desses deslocamentos o seu material de pesquisa para construir o espetáculo "eXílio", que fica em temporada no Teatro Paulo Eiró entre 30 de maio a 15 de junho de 2025, com sessões de quinta a sábado, às 20h30, e, aos domingos, às 18h.

Na sequência, a peça segue para o Galpão do Folias, entre 19 e 30 de junho, com apresentações de quinta a sábado, às 20h30, domingos, às 18h e, segunda-feira, dia 30 de junho, às 20h30. Mantendo a tradição de fazer teatro documental, o Coletivo Comum estruturou 30 cenas para dar conta da multiplicidade de abordagens referentes ao tema do exílio. São quadros independentes, nos quais o elenco formado por Fernanda Azevedo, Maria Carolina Dressler, Ícaro Rodrigues, Renata Soul e Roberto Moura narra diferentes dimensões que envolvem migração, refúgio e exílio. 

"Optamos por deixar o 'X' em caixa alta no nome do espetáculo para reforçar o tema da encruzilhada, do conflito e das oposições", afirma o diretor Fernando Kinas, acrescentando a relevância dos debates diante dos conflitos na Palestina e na Ucrânia, e da posse de Trump nos Estados Unidos. Assim, a obra "eXílio" é mais um capítulo na ampla investigação do grupo sobre os desafios civilizacionais contemporâneos.

Ao se debruçar sobre a temática das migrações, a companhia decidiu ampliar a discussão, incluindo exílios dentro do próprio país, descrito pelo crítico literário Antonio Candido como o sentimento que algumas pessoas têm de não se sentirem representadas pelo seu país ou regime político, como no caso das ditaduras militares.  Outro tema abordado é o exílio interno, já destacado por Ovídio no primeiro século da era cristã.

"Estamos discutindo também o sentimento de não pertencimento a uma comunidade, mesmo dentro da sua própria cidade ou país. Há pessoas que se sentem exiladas de seu próprio corpo. Neste sentido procuramos fazer uma discussão ampla, incluindo questões que envolvem, por exemplo, a população LGBTQIAP+, que sofre todo o tipo de preconceito e violências", completa Kinas. 


Sobre a encenação
Para a construção da dramaturgia, foram utilizados muitos materiais, como o livro "Conversas de Refugiados", escrito por Bertolt Brecht durante seu exílio na Finlândia e nos Estados Unidos nos anos 1940 por conta do nazismo. O livro foi traduzido e comentado por Tercio Redondo, professor da USP que participa como consultor do projeto. Também são utilizadas notícias veiculadas na imprensa, cartas de migrantes, documentos de órgãos oficiais, entre outros materiais. 

De acordo com o ACNUR (Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), atualmente, mais de 110 milhões de pessoas estão vivendo, de forma não voluntária, fora dos seus locais de origem. Nesse contexto, elas estão sujeitas a violências anti-imigração, como estupro, discriminação e humilhação. 

E, em meio a tantas informações, o grupo se inspirou em algumas personagens reais para criar as cenas, como o imigrante congolês Moïse Kabagambe, espancado e morto do Rio de Janeiro após cobrar duas diárias de trabalho atrasadas; a militante brasileira Dorinha, exilada durante a ditadura militar no Brasil que acabou tirando sua própria vida no exílio; e o crítico literário palestino Edward Said, que aborda o conceito de orientalismo como criação do ocidente. 

O trabalho busca o compartilhamento entre atores, atrizes e público. Por isso, o coletivo apostou em um dispositivo cênico circular, apoiado pelo uso de barreiras, evocando campos de refugiados e de deportação. "Estamos chamando nosso espaço cênico de campo, já que essa expressão está intimamente ligada ao refúgio. Campo de averiguação, de concentração, de triagem... No nosso caso, é também um campo de batalha, em que a memória e a resistência também estão presentes. E, de certa forma, quando o elenco está mais perto do público, ele está exilado da cena", conta Beatriz Calló, que assina a assistência de direção e colaborou no roteiro ao lado de Fernando e do grupo. 

A trilha sonora ganhou muita importância na encenação. Tanto que duas pessoas da área musical fazem parte do elenco, Renata Soul e Roberto Moura, este último também assina a direção vocal. Além das canções executadas pelo elenco, uma cuidadosa trilha sonora evoca os temas da migração. 


Sinopse de "eXílio"
Atualmente, mais de 110 milhões de pessoas no mundo, segundo dados oficiais, foram obrigadas a se deslocar por causa de guerras, violações de direitos humanos, condições climáticas e perseguições de todo tipo (políticas, religiosas, étnicas, por orientação sexual). Elas estão sujeitas a violências anti-imigração, como estupro, discriminação, humilhação. Muitas perderam suas vidas. A experiência do exílio também pode ser vivida dentro do próprio país, como no caso das ditaduras e nos processos de desumanização. eXílio é um trabalho teatral, proposto pelo Coletivo Comum, que parte desta atualidade brutal, mas também da perspectiva de que as fronteiras são criações históricas e que, portanto, podem ser alteradas e suprimidas.


Ficha técnica
Espetáculo "eXílio"
Roteiro: Fernando Kinas, com a colaboração de Beatriz Calló e elenco
Direção: Fernando Kinas
Elenco: Fernanda Azevedo, Maria Carolina Dressler, Renata Soul, Ícaro Rodrigues e Roberto Moura
Assistência direção: Beatriz Calló
Cenografia: Julio Dojcsar
Iluminação e operação de luz: Dedê Ferreira
Figurino: Beatriz Calló, com a participação do Coletivo Comum e pessoas em condição de migração e refúgio
Treinamento e direção vocais: Roberto Moura
Pesquisa musical e trilha: Fernando Kinas, com a colaboração de Eduardo Contrera
Assessoria dramatúrgica: Tercio Redondo (Bertolt Brecht e o exílio)
Interlocução crítica: Clóvis Inocêncio (Berna), Beatriz Whitaker, Leneide Duarte-Plon, Dominique Durand e Cimade (Paris), Organon Art Cie (Marseille), Jean-Michel Dolivo (Lausanne), Rabii Houmazen (Marrocos e São Paulo), Museu da Imigração do Estado de São Paulo, Arro (Afeganistão e São Paulo), Padre Assis (Cabo Verde e São Paulo)
Desenho e operação de som: Lienio Medeiros
Programação visual: Casa 36|Camila Lisboa
Fotografia: Fernando Reis
Serralheiro: Fernando Lemos (Zito)
Assessoria de imprensa: Canal Aberto|Márcia Marques, Daniele Valério e Carol Zeferino
Produção: Patricia Borin
Realização: Coletivo Comum


Serviço
Espetáculo "eXílio"
Duração: aproximadamente 140 minutos
Classificação indicativa: 14 anos 


Teatro Paulo Eiró
Temporada: 30 de maio a 15 de junho de 2025, de quinta a sábado, às 20h30, e, aos domingos, às 18h00.
Endereço: Av. Adolfo Pinheiro, 765 - Santo Amaro, São Paulo - SP
Ingresso: gratuito
Sessão com intérprete de libras: 13 de junho


Galpão do Folias
Temporada: 19 a 30 de junho de 2025, de quinta a sábado, às 20h30, domingos, às 18h00, e, segunda-feira, dia 30 de junho, às 20h30
Endereço: R. Ana Cintra, 213 - Campos Elíseos, São Paulo - SP
Ingresso: gratuito
Sessão com intérprete de libras: 27 de junho
Reservas: circulacaoexilio@gmail.com / IG: @coletivocomum 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

.: Crítica musical: Dire Straits e os 40 anos de "Brothers in Arms"


Por Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico cultural. 

Há 40 anos, a banda britânica Dire Straits atingia o seu auge de popularidade com o lançamento do álbum "Brothers In Arms". Um disco que revolucionou a forma de gravar e produzir música na época e que ainda deixou canções que se tornariam clássicos ao passar pelo teste do tempo.

A banda era liderada pelo guitarrista e vocalista Mark Knopfler, responsável pelo fato de insistir em gravar as canções em processo digital, ao invés do sistema mais convencional (analógico). A proposta de Knopfler estava certa. O disco ficou com uma qualidade técnica sonora sensacional e até hoje surpreende quem o coloca para ouvir em seu CD player ou mesmo nas plataformas de streaming. Foi gravado no antigo Air Studio, que ficava na Ilha de Monteserrat e pertencia ao produtor George Martin (dos Beatles).

Knopfler sempre foi o cara que definia o conceito dos discos, além de ser o principal compositor e um exímio guitarrista, capaz de criar riffs e solos mágicos. Era o vocalista, muito embora reconhecesse suas limitações como cantor. Sua voz não tinha um alcance como o de outros artistas pop da época. Mas era sob medida para a música que a banda produzia.

O disco abre com a etérea "So Far Away", uma balada com um riff mágico. Mas é na faixa seguinte, "Money For Nothing", que a banda se consagraria de vez como a banda da MTV. Knopfler revelou que teve a inspiração da letra em uma loja de departamentos, onde os funcionários falavam que deveriam aprender a tocar um instrumento para ganhar a vida de forma fácil.

O lançamento do clipe da canção aconteceu na MTV europeia. E a canção venceu o prêmio Grammy em 1985 na categoria de melhor performance no rock. Destaca-se ainda a participação de Sting, que faz um luxuoso backing vocal e chega a dividir os vocais com Knopfler, que por sua vez fez um riff matador que pontua todo o arranjo.

O disco segue com o rockabilly animado de "Walk Of Life" e mais duas baladas marcantes: "Your Latest Trick" (com um solo mágico de sax) e "Why Worry", fechando o primeiro lado do álbum de forma magnífica. Todas essas cinco faixas foram bem executadas nas rádios na época.

O lado B do álbum abre com a igualmente ótima "Ride Across the River", cujo solo parece ter sido inspirado no estilo do guitarrista mexicano Carlos Santana. As duas canções seguintes "The Man´s Too Strong" e "One World" seguem aquele padrão de qualidade do grupo. A balada que encerra o disco e deu o nome para o álbum também foi bastante executada nas rádios, apesar de sua longa duração (pouco mais de seis minutos).

A banda seguiria até 1995, quando Knopfler anunciou oficialmente o fim do grupo. Passaria a desenvolver uma carreira solo com menos obrigações contratuais e com mais tempo para curtir a sua família. Ainda não seria a tal da “vida fácil” que o funcionário daquela loja de departamentos nos anos 80 imaginara. Mas pelo menos o tempo passaria a ser melhor administrado.


"Money for Nothing"

"So Far Away"

"Walk of Life"
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